Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE Avaliação espacial da evolução do Uso e Cobertura da Terra no município de Santa Cruz do Sul - RS Caroline Kist da Silva¹ Emanuel Araújo Silva¹ Laura Camila de Godoy Goergen¹ Juliana Marchesan¹ Matheus Mesquita da Costa Nunes¹ Daiana Iris Soto Brites¹ Rudiney Soares Pereira¹ ¹Universidade Federal de Santa Maria – UFSM Caixa Postal 97050-590 – Santa Maria – RS, Brasil [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Abstract. The aim of this work was to study the gradual development of the Use of Land and Surfaces during 1993 and 2011 in Santa Cruz do Sul - a municipality located in the Central region of Rio Grande do Sul – in order to understand its dynamics so that an appropriate plan for use can be established. The images were sourced through the Thematic Mapper sensor of the Landsat 5 satellite, available from the website of INPE, at 80 and 81 points/222 orbits, and processed using Spring 5.2.1 software. Bhattacharya was the algorithm used in supervised classification where the following classes were shown: native forest, planted forest, field, exposed soil, agricultural use and water. A programming in Spatial Language of Algebric Geoprocessing (LEGAL) was also used, where it has been possible to quantify the transitions of thematic classes sampled over the years, focusing on the dynamics between forest and agricultural use. With the generation of thematic maps it was concluded that only the class corresponding to the native forest had shown a decrease - around 30% - whilst the areas used for agriculture were less significant in growth (18%). It is noticed that the limited increase of areas intended for agricultural use is being offset by forest plantations – which supply firewood to tobacco farmers- by forest inspections, urban growth and redevelopment of areas previously used for agriculture and pasture (fields). Palavras-chave: Landsat 5, Spring, dynamics, transitions, forest, dinâmica, transições, floresta. 1. Introdução Santa Cruz do Sul está localizada na região da Depressão Central do Rio Grande do Sul. A cidade está compreendida entre os biomas Pampa e Mata Atlântica, numa área de aproximadamente 743 km², IBGE (2010). A economia da cidade tem forte estímulo da cultura do arroz e pecuária, mas principalmente das plantações de fumo, que trouxeram para o município fabricantes de cigarro e distribuidoras de fumo, como a Universal Leaf Tabacos, Philip Morris, Souza Cruz, Associated Tobacco Company e Alliance One, entre outras. No momento, a produção de fumo é a principal fonte de renda para os agricultores locais, sendo industrializadas, segundo IBGE (2010), cerca de 10 toneladas de fumo/ano. A crescente demanda dos recursos naturais e o aumento demográfico tem afetado a paisagem no decorrer dos anos; áreas de vegetação nativa como campos e principalmente florestas cedem espaço para novas áreas de uso agrícola, pecuária e urbanismo. Segundo Novo (2008), é importante caracterizar a Terra e seu uso, pois assim possibilitará o planejamento e a orientação à tomada de decisões através do sensoriamento remoto. Com o mesmo pensamento, Moreno (1972), revela que a identificação de diferentes paisagens 1579 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE geográficas permite prever a ampliação de áreas agrícolas, determinando áreas adequadas para esse fim. Dessa forma, o sensoriamento remoto, aliado a técnicas de Geoprocessamento e Sistema de Informações Geográficas (SIGs), admitirá avaliar a evolução da cobertura e o uso da terra no município de Santa Cruz do Sul nos anos de 1993 e 2011, quantificando áreas de transição de florestas e agricultura para assim entender a sua dinâmica e poder realizar planejamento adequado. 2. Metodologia de Trabalho 2.1 Localização e caracterização da área de estudo O município de Santa Cruz do Sul localiza-se na região conhecida como Vale do Rio Pardo, na encosta inferior do nordeste do estado do Rio Grande do Sul – Depressão Central. (Figura 1). Possui coordenadas geográficas de 29º43'59" Latitude Sul e 52º24'52" de Longitude Oeste, IBGE (2010). Seu relevo compõem-se de áreas levemente onduladas ao Sul, vales, morros e elevações maiores, apresentando altitude média de 122m do nível do mar. O clima é subtropical temperado, com temperaturas médias de 19ºC e chuvas bem distribuídas no ano precipitações de 1300 a 1800 mm, FEE (2006). Figura 1. Localização do município de Santa Cruz do Sul – RS. 2.2 Material Foram utilizadas imagens do sensor TM (Thematic Mapper), do satélite Landsat-5, bandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7, referentes à órbita 222 e pontos 80 e 81 dos anos de 1993 e de 2011 (Tabela 1), solicitadas a partir do catálogo de imagens do site do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE). As imagens foram processadas e analisadas no software livre Spring (Sistema de Processamento de Informações Georreferenciadas) 5.2.1. e a geração dos mapas temáticos no Scarta 5.2.1. 1580 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE Tabela 1. Descrição das imagens obtidas. Satélite Landsat 5 Landsat 5 Landsat 5 Landsat 5 Sensor TM (Thematic Mapper) TM (Thematic Mapper) TM (Thematic Mapper) TM (Thematic Mapper) Órbita-ponto 222 - 080 222 - 081 222 - 080 222 - 081 Data 02/11/1993 02/11/1993 04/11/2011 04/11/2011 2.3 Metodologia As imagens obtidas do satélite foram convertidas para o formato *.spg no módulo Impima 5.2.1, para serem importadas no programa Spring 5.2.1. Para o georreferenciamento, que foi feito por meio de outra imagem georreferenciada, foram adotados 10 pontos de apoio, onde o erro de controle situou-se dentro dos limites de aceitação. Posteriormente as imagens foram mosaicadas, já que o município situa-se dentro dos limites de duas áreas imageadas. Delimitou-se a área de interesse, fazendo-se posteriormente o contraste linear das 6 bandas e a composição colorida falsa-cor RGB (Red, Green, Blue) 5, 4 e 3 para a identificação dos alvos na tomada de amostras de treinamento para a classificação. A seguir, aplicou-se a segmentação, onde a imagem é dividida em regiões espectralmente homogêneas, constituindo em rótulos. Para esse processo, foram usados valores de 10 para similaridade e 20 para área de agrupamento de pixels. Com isso, foi possível realizar a classificação das imagens por PDI (Processamento Digital de Imagens), que é a manipulação das imagens através da associação de cada pixel desta a uma classe temática, Moreira (2011). A classificação realizada foi supervisionada, a qual constitui a fase de Treinamento, onde o operador determina amostras representativas de cada classe de uso da terra. O algoritmo classificador utilizado foi o Bhattacharya a 99,9% com limiar de aceitação, com um número em torno de 50 amostras para cada classe. Segundo este mesmo autor, esse algoritmo usa as amostras de treinamento para estimar a função densidade de probabilidade para as classes apontadas no treinamento. Para avaliar a eficiência da classificação, tomou-se como parâmetro a tabela proposta por Landis e Koch (1977), segundo o coeficiente Kappa (Tabela 2). Tabela 2. Qualidade da classificação segundo intervalos do coeficiente Kappa. Valor Kappa <0,00 0,00 – 0,20 0,20 – 0,40 0,40 – 0,60 0,60 – 0,80 0,80 – 1,00 Qualidade da classificação Péssima Ruim Razoável Boa Muito Boa Excelente Fonte: Landis e Koch (1977). As classes identificadas foram as seguintes: Floresta nativa (compreendendo as formações arbóreas nativas), Floresta plantada (plantações de Pinus sp. e Eucalyptus sp. principalmente), Uso agrícola (culturas de fumo e arroz predominantemente), Solo exposto (áreas urbanas, manchas de solo exposto), Campo (formações de vegetação de baixo porte e pastagens) e Água (rios, açudes e demais corpos d’água). Ao final do processo de classificação, foram obtidos mapas de uso e cobertura da terra para as duas datas. Realizou-se uma programação em LEGAL (Linguagem Espacial de Geoprocessamento Algébrico), sendo possível a consulta e manipulação espacial das imagens. Segundo Câmara 1581 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE (1995), são utilizados esquemas conceituais para definir espacializações das classes do modelo de dados. Com isso, foi gerado um mapa contendo as transições/mudanças das classes temáticas no decorrer dos anos amostrados, enfocando a dinâmica entre floresta e o uso agrícola. Após foram construídos mapas temáticos no módulo Scarta 5.2.1. 3. Resultados e Discussão Através do processamento digital e classificação supervisionada das imagens dos anos de 1993 e 2011, pode-se avaliar a evolução do uso e cobertura da terra (Figuras 2 e 3), juntamente com sua quantificação (Tabela 3). Obtiveram-se também os mapas temáticos (Figuras 4 e 5). Para esses mapas, a eficiência da classificação obtida foram os seguintes valores de Kappa, respectivamente: 0,9987 (99,87%) e 0,9984 (99,84%); enquadrando-se na qualidade “excelente” da Tabela 2. 1993 Floresta nativa Floresta plantada Solo exposto Utilização agrícola Água Campo 2011 Floresta nativa Floresta plantada Solo exposto Utilização agrícola Água Campo Figuras 2 e 3. Evolução do Uso e Cobertura da Terra nos anos de 1993 e 2011 no município de Santa Cruz do Sul – RS. 1582 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE Tabela 3. Quantificação da evolução do Uso e Cobertura da Terra nos anos de 1993 a 2011 no município de Santa Cruz do Sul – RS. Classes Área (Km²) Área (Km²) Temáticas 1993 2011 Floresta nativa 516.690.000 366.996.600 Floresta plantada 2.869.200 6.858.000 Solo exposto 11.935.800 31.100.850 Utilização agrícola 123.211.800 144.965.250 Água 3.605.400 11.684.700 Campo 85.480.200 182.187.000 TOTAL 743.792.400 743.792.400 Figura 4. Mapa do Uso e Cobertura da Terra no município de Santa Cruz do Sul – RS no ano de 1993. 1583 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE Figura 5. Mapa do Uso e Cobertura da Terra no município de Santa Cruz do Sul – RS no ano de 2011. Através da análise em Linguagem Espacial de Geoprocessamento Algébrico (LEGAL) para as referidas imagens, pode-se quantificar as áreas de: manutenção de floresta nativa, de floresta plantada e de uso agrícola; transições de floresta nativa - floresta plantada, floresta nativa - uso agrícola, floresta plantada - uso agrícola, floresta plantada – floresta nativa, uso agrícola - floresta nativa e uso agrícola - floresta plantada (Tabela 4). Inclusive, obteve-se o mapa temático (Figura 6). Tabela 4. Transição das classes temáticas de 1993 à 2011 no município de Santa Cruz do Sul – RS. Classes Manutenção Floresta nativa Floresta nativa_Uso agrícola Floresta nativa_Floresta plantada Manutenção Uso agrícola Uso agrícola_Floresta nativa Uso agrícola_Floresta plantada Manutenção Floresta plantada Floresta plantada_Floresta nativa Floresta plantada_Uso agrícola Área (Km²) 311.247.000 78.350.400 4.037.400 44.847.900 34.842.600 1.492.200 196.200 1.040.400 594.000 1584 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE Figura 6. Mapa das transições do Uso e Cobertura da Terra de 1993 a 2011 no município de Santa Cruz do Sul – RS. No decorrer dos 18 anos (de 1993 a 2011), as áreas de floresta nativa sofreram uma redução de 28,97%, sendo que 41,84% mantiveram-se. Da redução, 10,53% da vegetação passou a ser utilizada como agricultura e apenas 0,54% para floresta plantada. Esse fato explica-se pela crescente urbanização, expansão das áreas de solo exposto – incluídos nesta classe, agricultura em épocas de pousio – e áreas de campo – intensificadas pela pastagem extensiva. As florestas plantadas, as quais não tinham grande expressão no município, tiveram um aumento de 139,02%, onde pequena fração (0,02%) se manteve. Apresentou pequena transição para floresta nativa (0,14%) e para agricultura (0,8%). Com esses dados, extrai-se que esse progresso está aliado às oportunidades de diversificação da renda dos produtores (abastecimento de lenha para os secadores de fumo) com o incentivo fiscal de recomposição em áreas de preservação. As áreas de uso agrícola apresentaram um aumento de 17,66%, onde 6,03% se mantiveram. Dos usos, 4,68% da área foi transformada em floresta nativa e 0,2% em floresta plantada. Os campos acresceram em 113,13%. Essa grande contribuição justifica-se pelo possível abandono e consequente restabelecimento da vegetação natural de áreas antes utilizadas para agricultura e pastagem. Inclusive, esse fato corresponde também pela intensificação de fiscalizações ambientais em áreas ocupadas inapropriadamente. A classe Solo exposto apresentou um aumento de 160,57%. Isso se deve à intensa urbanização do município no decorrer destes anos; da migração de pessoas do meio rural e pelo processo de industrialização. 1585 Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE A classe água, compreendendo todos os tipos de corpos d’água, apresentou um acréscimo de 224,09%. Esse acontecimento justifica-se pela construção de açudes e lagos artificiais, inclusive pelas áreas de cultivo de arroz, as quais se apresentaram alagadas nas imagens. 4. Conclusões A análise do Uso e Cobertura da Terra no município de Santa Cruz do Sul no período de 1993-2011 foi processada de maneira satisfatória pela metodologia empregada. Pelas imagens do satélite Landsat 5, foi possível analizar as transformações ocorridas no período com relação à florestas, campo, uso agrícola, solo exposto e água. A partir dos dados obtidos, inferiu-se que somente a classe correspondente à floresta nativa apresentou decréscimo, ao passo que as áreas utilizadas para agricultura foram as menos expressivas em crescimento. Com isso, constata-se que o limitado acréscimo das áreas destinadas ao uso agricola está sendo compensado por plantações de floresta – a fim de abastecer os secadores de fumo com lenha e pelas fiscalizações florestais -, crescimento demográfico e regeneração de áreas antes ocupadas por agricultura e pastagem (campos). Agradecimentos Quero agradecer aos colegas do laboratório LABSERE pelo apoio neste meu primeiro trabalho. A todos que de alguma forma colaboraram no meu aprendizado, sempre com atenção e carinho. E principalmente ao professor Rudiney, quem me concedeu a oportunidade de fazer parte do grupo. Referências Bibliográficas Câmara, G. Modelos, Linguagens e Arquiteturas para Bancos de Dados Geográficos. 1995. 282 p. Tese (Doutorado em Computação Aplicada) – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos. 1995. Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE). 2006. <http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/capa/index.php>. Acesso em: 01, nov. 2012. Disponível em: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 17, out. 2012. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Disponível em: <http://www.inpe.br>. Acesso em: 15, out. 2012. Landis, J.; Koch, G. G. The measurements of agreement for categorical data. Biometrics, Washington, v. 33, n. 3, 1977. 159-179 p. Moreira, M. A. 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