ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS DESENVOLVIDAS NA MONITORIA DE QUÍMICA II PARA MELHORAR O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NA UAST/UFRPE José Cícero Alves da Silva1 (IC) e Andréa Monteiro Santana Silva Brito2 (PQ) 1 2 Aluno do curso de Licenciatura Plena em Química na Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). Monitor da disciplina de Química II. E-mail: [email protected] (Bolsista de Monitoria/UFRPE) Professora da área de Química da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE). E-mail: [email protected] RESUMO Uma grande parte dos alunos do curso de Licenciatura em Química da Unidade Acadêmica de Serra Talhada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UAST/UFRPE) apresenta dificuldades na disciplina de química II, resultando em altos níveis de reprovação. Assim, a monitoria foi uma ferramenta implantada na disciplina de química II para desenvolver estratégias didáticas que melhorassem o processo ensino-aprendizagem na UAST/UFRPE e que diminuísse o índice de reprovação na mesma. A metodologia empregada consistiu, além das aulas de resolução de listas de exercícios, na preparação de experimentos demonstrativos em sala de aula e em laboratório e ainda, na seleção de vídeos apresentados em sala. Ao final de cada semestre foram contabilizados os dados referentes à evolução da disciplina com o índice de aprovação dos alunos. Observamos com os dados, que no último semestre letivo do ano de 2008, quando ainda não existia a monitoria, o índice de aprovação verificado ao término do período foi de 32,4%. Nos semestres seguintes, até 2010.2, foi possível observar um avanço no índice de aprovação que se manteve em torno de 50%. Esse fato corrobora com a proposta apresentada de oferecer mais uma ferramenta para auxiliar os alunos na construção do conhecimento. Palavras Chave: ensino de química, aprendizado, monitoria. 1. INTRODUÇÃO Uma importante barreira a ser transposta na educação nacional é a falta de professores na educação básica, sobretudo, professores da área de ciências, como física e química. Por isso, cada vez mais tem sido criados novos centros de formação de professores, visando diminuir esse quadro e desse modo buscar a melhoria da educação, já que é comum na rede pública do país encontrar professores lecionando disciplinas diferentes de sua formação, o que pode comprometer a qualidade de formação daqueles que se encontram nas séries da educação básica. O curso de Licenciatura em Química da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) teve início no primeiro semestre de 2007, com o programa de interiorização do ensino superior. A implantação desse curso deveu-se à necessidade de se amenizar o déficit de professores de química na educação básica, no âmbito municipal, regional e nacional. A propósito, os dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) de 2003 indicavam que seria necessário formar 25.397 professores de química entre 2002 e 2010, embora tal número não fosse atender à carência de profissionais na área.1 Outro importante ponto a ser destacado, é a dificuldade de formação, pois grande parte dos alunos que ingressam nos cursos de Química no Brasil, não consegue terminar.2 Assim, além de oferecer o acesso aos cursos, é necessário proporcionar mecanismos que possam de alguma forma, auxiliá-los na aprendizagem e com isso contribuir para o êxito dos alunos em busca da sua formação profissional. Em particular, na disciplina de química II do ciclo básico do curso de Licenciatura em Química da UAST, no segundo semestre do ano letivo de 2008, cursavam a disciplina 77 estudantes, uma quantidade quase que igual ao dobro de alunos que entram por semestre (na Instituição por ano ocorrem duas entradas de alunos, sendo 40 no primeiro semestre e outros 40 no segundo), o que evidencia um alto índice de retenção. A disciplina aborda, em sua ementa, os conteúdos: termoquímica, cinética química, equilíbrio químico e eletroquímica. Todos esses conteúdos envolvem cálculos matemáticos, para os quais os alunos não conseguiam visualizar aplicação, levando à reprovação de muitos discentes logo no segundo período de curso, onde esta é obrigatória. Existem algumas estratégias possíveis de serem adotadas para melhorar o ensinoaprendizado. Nestas, é importante sempre buscar a aproximação do conteúdo teórico com atividades que evidenciem o caráter real da química e sua aplicabilidade no cotidiano, levando o aluno a não ser apenas um mero espectador. Entre elas, tem-se destacado a atividade experimental. A experimentação no ensino de química tem sido defendida por diversos autores, pois constitui um recurso pedagógico importante que pode auxiliar na construção de conceitos.3-5 Então, o objetivo do trabalho foi usar a monitoria de química II para desenvolver estratégias didáticas que melhorassem o processo ensino-aprendizagem na UAST/UFRPE e que diminuísse o índice de reprovação na disciplina trabalhada. 2.METODOLOGIA Para a seleção das estratégias didáticas que poderiam ser utilizadas nas aulas noturnas da disciplina de química II, utilizou-se como critérios: conceitos trabalhados, tempo de atividade, custo e periculosidade. Além das atividades normais de uma monitoria, como resolução de listas de exercícios em encontros semanais, foram pesquisadas e desenvolvidas algumas estratégias didáticas: - Experimentos demonstrativos em sala de aula: antes de cada conteúdo novo, na própria sala de aula era apresentado um experimento simples, como forma de despertar o interesse para o conteúdo que se seguiria durante a aula; - Vídeos didáticos: foram selecionados vídeos referentes à temática dos conteúdos, de modo a relatar fatos importantes da história para o desenvolvimento dos assuntos; - Montagem e realização de aulas práticas: como a disciplina não comporta uma carga horária grande de práticas, somente para alguns conteúdos foram realizadas aulas experimentais, tais como termoquímica, equilíbrio químico e cinética química. Para cada prática montada, foi criado um roteiro, que consistia em introdução, objetivo, procedimento experimental, questões referentes às observações e indicação de referências. Depois de cada atividade prática, os alunos tinham um questionário para responder de acordo com suas observações. Desde 2008.2, no final de cada semestre letivo, são contabilizados os dados referentes ao número de aprovação de alunos na disciplina, de modo a identificar se houve evolução na disciplina a partir das estratégias trabalhadas. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO Para as estratégias didáticas desenvolvidas, obtivemos os seguintes resultados: - Demonstrações em sala de aula: mais de 6 demonstrações motivadoras para iniciar os conteúdos da disciplina foram montadas em forma de kits. Por exemplo, para o tema termoquímica, foram apresentados processos endotérmicos e exotérmicos, utilizando reações de neutralização (HCl e NaOH), dissolução de sais (NH4Cl) e ionização de base (NaOH). Para cada sistema apresentado, foram utilizadas garrafas PET, que eram tampadas e passadas para os alunos na sala de aula. Assim, os mesmos poderiam perceber sistemas que liberavam calor e sistemas que absorviam calor. Para o estudo da cinética química, levamos para sala de aula um estudo de como a concentração pode influenciar na velocidade de uma reação. O bicarbonato de sódio (fermento) reagindo com ácido acético (vinagre) em diferentes concentrações, pode representar esse efeito, anexando uma bexiga ao sistema e verificando a velocidade de desprendimento de gás carbônico. Durante a demonstração de equilíbrio químico, alguns indicadores foram apresentados em diferentes meios e uma solução aquosa diluída de Ca(OH)2, contendo gotas de fenolftaleína, foi neutralizada quando o ar foi soprado suavemente em seu interior com um canudo plástico. O desaparecimento da coloração rosa ilustra o caráter ácido do CO2 presente no ar que respiramos e várias discussões foram iniciadas em sala. Para o tema eletroquímica, apresentou-se o caráter oxidante e redutor, utilizando soluções eletrolíticas e alguns eletrodos, mostrando que uma reação espontânea ocorre num único sentido e determinando o poder oxidante dos cátions Ag+, Cu2+ e Zn2+ . Também foi construída uma pilha de Daniell e uma pilha de frutas, onde todos os alunos puderam testar diferentes meios. - Vídeos didáticos: foram apresentados vídeos nas aulas introdutórias de Termoquímica, onde foram mostradas implicações do estudo da energia envolvida em reações, com destaque para a energia nuclear e como esta causou danos a humanidade (Hiroshima) e os cuidados que se requer mundialmente com seu desenvolvimento. E, nas aulas de Eletroquímica, foram exibidos vídeos que tratavam dos processos de oxidação e redução, com animações que demonstravam a perda (doação) e ganho de elétrons por espécies químicas (zinco e cobre) e como estes processos passaram a ser usados no aproveitamento prático da energia transferida pelos elétrons, quando se tem um sistema fechado. - Montagem e realização de aulas práticas: dentro das práticas montadas, iremos destacar a atividade desenvolvida no tema cinética química. Esta prática objetivou determinar os parâmetros cinéticos, usando diferentes concentrações de alumínio e ácido clorídrico. Tendo o alumínio como reagente limitante, o aluno media o tempo necessário para o desaparecimento da fase sólida de alumínio. Assim, realizando vários ensaios, teria como calcular a concentração de ácido clorídrico e de alumínio presente e com este fator, determinar os parâmetros cinéticos. Os discentes ao realizarem o experimento anotaram os valores referentes ao tempo gasto para a decomposição completa de diferentes massas do alumínio por diferentes concentrações de ácido clorídrico, como expresso na Tabela 1. Tabela 1: Variação do tempo de decomposição do alumínio em solução de ácido clorídrico. TUBO [HCl] mol/L A B C D 6,00 6,00 6,00 3,00 Volume da Sol. Ácido Clorídrico (mL) 3,00 3,00 3,00 1,50 ENSAIOS Alumínio (papel cortado no mesmo tamanho) Gramas [Al] mol/L Água destilada (mL) Tempo (segundos) 0,0010 0,0020 0,0030 0,0010 0,0123 0,0247 0,0370 0,0123 1,50 23,9 27,5 29,5 165,7 Fonte: Dados obtidos por um aluno no laboratório de Química da UAST/UFRPE, durante a aula. Como mostra os dados obtidos na Tabela 1, o experimento possibilitou o monitoramento da reação através da decomposição da massa de alumínio em quatro ensaios. Os alunos realizaram os cálculos cinéticos utilizando seus próprios dados. Assim, obteve-se uma maneira de facilitar a manipulação matemática necessária ao estudo cinético, de modo a ser um fator de interesse dos alunos, pois eles tinham que encontrar a lei da velocidade da reação que investigaram. Com essa atividade, os alunos puderam observar na prática o fenômeno da velocidade de uma reação e questionar os fatores que influenciaram essa. Verifica-se então, através desse tipo de ação o quanto é importante buscar desenvolver atividades que impliquem no melhoramento da compreensão dos conteúdos pelos alunos e com isso alavancar o processo de ensino-aprendizagem. Desde o início das atividades da monitoria, 2009.1, é possível verificar a contribuição das estratégias didáticas desenvolvidas para melhorar o processo ensino-aprendizagem na disciplina, Figura 1. Figura 1. Índice de aprovação na disciplina de Química II após as estratégias didáticas desenvolvidas na monitoria. É possível observar através do índice calculado – Índice de Aprovação – que no último semestre letivo do ano de 2008, quando ainda não existia a monitoria, o índice de aprovação verificado ao término do período foi consideravelmente baixo, 32,4 %. Nos semestres seguintes, já foi possível observar um avanço no índice de aprovação. No primeiro semestre de 2009, o índice foi de quase 51%; uma elevação de mais de 18% em relação ao número de alunos aprovados na disciplina. Observamos uma pequena queda do índice referente ao segundo semestre de 2009, onde foi registrado um percentual de quase 48% de aprovações. Ainda assim, o índice se manteve claramente acima do obtido quando não se tinha a monitoria. Com o contínuo trabalho desenvolvido, observa-se um aumento significativo no número de aprovações do primeiro semestre de 2010, onde o índice superou 70%, no semestre seguinte (2010.2), houve uma queda em relação ao anterior, mesmo assim o número de aprovados ficou acima dos 50%. Para os semestres que se seguiram, sempre foi obtido uma alta acima de 15% em relação ao acompanhamento feito em 2008. O que corrobora a importância das estratégias desenvolvidas na monitoria como ferramenta para auxiliar os discentes na disciplina. 4.CONCLUSÃO Como apresentado nos resultados, houve um aumento significativo no índice de alunos aprovados após a inclusão da monitoria e do desenvolvimento das estratégias didáticas. Fato importante a se destacar foi a inserção de atividades que impulsionaram os alunos a desenvolver seu pensamento crítico diante dos conteúdos químicos abordados, como foi avaliado na realização da prática de Cinética Química, onde foi possível perceber a evolução dos alunos no trato matemático dos dados obtidos e de modo muito importante, na relação entre o procedimento experimental e a abordagem teórica. A monitoria conseguiu executar seu papel de contribuir para melhorar o ensino de graduação, e, ainda alcançou seu objetivo maior, que foi contribuir em específico para melhorar a aprendizagem dos alunos da disciplina de química II. As estratégias didáticas desenvolvidas na monitoria foram de grande importância também para o aluno monitor, pois o mesmo pode desenvolver um pouco o lado acadêmico, permitindo uma experiência inicial e promovendo uma melhor integração com outros alunos através da experiência ensino-aprendizagem da disciplina de química II. 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Estatísticas dos Professores no Brasil, 2003. Disponível em http://www.inep.gov.br/estatisticas/professor2003. Acessada set. 2010. 2.CUNHA, A. M.; TUNES, E.; da SILVA, R. R. A Evasão do Curso de Química da Universidade de Brasília: A Interpretação do Aluno Evadido. Química Nova; Vol. 24; n. 24, pg.. 262-280,2001. 3. FERREIRA, L. H.; HARTWING, D. R. & OLIVEIRA, R. C. Ensino Experimental de Química: Uma Abordagem Investigativa Contextualizada. Revista: Química Nova na Escola; Vol. 32; n. 2, pg. 101-106; 2010. 4.GUIMARÃES, C. C. Experimentação no Ensino de Química: Caminhos e Descaminhos Rumo à Aprendizagem Significativa. Revista: Química Nova na Escola; Vol. 31; n. 3, pg. 198-202; 2009. 5.LIMA, J. F. L.; PINA, M. S. L.; BARBOSA, R. M. N. & JÓFILI, Z. M. S. A Contextualização no Ensino de Cinética Química. Revista: Química Nova na Escola; n. 11, pg. 26-29; 2000. 6. AGRADECIMENTOS UAST/UFRPE pela concessão da bolsa de monitoria.