TESTEMUNHA, ATOR, LUTADOR
Revisitei na internet as páginas do Centro de Memória e Documentação Histórica da
UNIVALI e tive a grata surpresa de ali encontrar um testemunho filial de amor e de
gratidão ao Professor Nestor Cesar de Carvalho. Li e reli várias vezes o texto da Margareth.
A cada linha voltava um pouco no tempo e podia observar aquela cabeça branca que,
literalmente, flutuava em meio à maré jovem que enchia corredores e salas. Lá vinha ele,
passo rápido e firme, apesar da idade, cruzando pelas pessoas, cumprimentando-as a todas,
parando de vez em quando, sorrindo, brincando.
Ler o texto da Margareth e lembrar do Professor Nestor foi muito bom, foi uma
maneira de trazê-lo de volta ao nosso meio de revê-lo e, sobretudo, de rememorar seus
ensinamentos e sua experiência.
Enquanto lia e relia o texto e me enternecia com a lembrança do Professor Nestor
fui estabelecendo dentro de mim um paralelo entre o nosso velho Nestor e o velho Nestor
da Ilíada e da Odisséia gregas. Entre o herói de lá e o herói de cá.
O Novo Dicionário Aurélio define “Nestor” como rei de Pilos, o mais velho dos
príncipes gregos que sitiaram Tróia. Define a palavra nestor como substantivo masculino,
que significa velho prudente e experiente. Na minha fantasia comecei a ver os dois
nestores.
O Nestor que era filho de Neleu, o rei de Pilos e de Clóris, o Nestor que se tornou
rei depois que Héracles matou seu pai. Foi durante um banquete no palácio de Nestor, com
outros reis da região, que surgiu a idéia e a decisão de os reis aqueus se unirem em uma liga
para lutar contra Tróia.
Vi o Nestor que era Secretário da SIES, a antiga UNIVALI e somente passou ao
comando da Instituição depois da morte do Prof. José Medeitos Vieira. Foi por obra e força
de Nestor que surgiu a idéia e a decisão de alguns valentes itajaienses se unirem e darem os
primeiros passos em direção ao ensino superior de Itajaí.
Fui voando e vi o Nestor que foi Argonauta, um daqueles tripulantes da nau Argo
que, segundo a lenda grega, foi até a Cólquida, com seus dois filhos, em busca do Velocino
de Ouro, o fantástico talismã que dava prosperidade e poder a quem o possuísse. Nestor
bateu-se contra os Centauros e participou na caça ao Javali da Caledônia.
Por aqui vi o Nestor, um valente, um cidadão e um lutador. Foi um dos tripulantes
da antiga nau da FEPEVI; com seus filhos e filhas também andou em busca do véu de ouro,
do benfazejo talismã da educação e da cultura, que outorga prosperidade e poder a quem o
possui.
Embora grego Nestor fosse bastante velho quando a guerra de Tróia começou, ele
era famoso por sua coragem e por sua eloquência. Na Ilíada, Nestor aconselha os guerreiros
mais novos; é ele, por exemplo, quem aconselha Aquiles e Agamenón a fazerem as pazes.
Nestor era muito velho para combater, mas era ele quem liderava as tropas de Pilos,
guiando, ele próprio, o seu carro de combate; um dos seus cavalos, inclusive, foi morto por
uma flecha de Páris, o príncipe troiano. Ele era protegido um grande escudo de ouro.
O nosso Nestor envelheceu na batalha e participou em todas as lutas de criação,
manutenção e condução da Universidade do Vale do Itajaí. Lutou em todas as fases, em
todas as frentes, esteve presente em todas as etapas da batalha, acompanhou tudo bem de
perto. O que sua força física não lhe permitia alcançar, o conseguia com sua coragem e
eloquência. Nestor era um conselheiro por excelência, acolhendo e encorajando os mais
novos; sempre desempenhou o papel fundamental do sábio ancião, que edificava a todos
com sua palavra. Quantos conflitos resolveu Nestor! Quanta paz semeou entre nós! Mesmo
sendo demasiado velho para o combate, nunca abdicou de sua liderança, conduzindo seu
carro de guerra até ao final. Nosso Nestor, também, sempre foi protegido por um enorme
escudo de ouro: seu grande coração.
Nestor, tanto lá, quanto cá, foi um honorável guerreiro, um testemunho vivo do mito
e da saga da educação superior em nosso município e em nosso estado. Nestor César de
Carvalho, um elo entre dois ciclos da história da educação superior em Itajaí e detentor de
valiosas informações, assimiladas no passado, sedimentadas no tempo e transmitidas ao
futuro. Este era o segredo de sua incontestável autoridade.
A autoridade de Nestor, porém, não veio somente de sua velhice, ainda que fosse
preciso ser velho para ostentá-la. Para nós, seu poder vinha pela evocação de um passado
glorioso e guerreiro. Homero, na Ilíada, utilizava expressões como “eu vi”. Nosso velho
Nestor também dizia “eu vi”. Era testemunha ocular, não ouviu dizer. Este era outro forte
pilar de sua autoridade.
Nestor foi um homem do passado. Ele não apenas viu os heróis da história da nossa
educação, mas também lutou ao lado deles. E como a história se revela e desabrocha como
as flores, em dado momento, Nestor deixa de ser a testemunha ocular e passa a ser o
lutador, aí, então, o verbo ver dá lugar ao verbo lutar, e este é o maior pilar de sua
autoridade. Testemunha, ator, lutador.
E hoje, orgulhosos, nós fazemos coro com a Margareth: “Meu pai, o inesquecível
Nestor Cesar de Carvalho, muito obrigado por tudo! Nós te amamos demais!”
Prof. Jonas Tadeu Nunes (Ex-colaborador da Univali. Foi vice-reitor da Instituição,
professor e consultor na área de Direito Educacional).
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