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A população mundial
As perspectivas de elevação populacional do mundo sempre geraram
polemicas (Por quê? Problemas estão relacionados ao número de pessoas – que se
tivéssemos menos pessoas, os problemas seriam menores). Por causa disso
surgiram várias teorias a respeito dos problemas que um crescimento populacional
incontrolável poderia criar na Terra.
Uma das questões mais discutidas fundamenta-se na teoria de Thomas
Robert Malthus (sec. XVIII), que defendia idéias sobre “leis naturais de crescimento
populacional”. Segundo essas leis, o crescimento da população acontecia num ritmo
geométrico(1,2,4,8,16,32...), enquanto o da produção de alimentos se dava em ritmo
aritmético (1,2,3,4,5,6,7...). De acordo com Malthus, a forma mais adequada de
enfrentar esse descompasso seria a adoção de políticas de controle da natalidade. A
teoria defendida enfocava principalmente famílias das classes mais pobres da
sociedade européia, pois eram essas que tinham mais filhos. Malthus classificou as
ações que poderiam diminuir o crescimento populacional em três tipos:
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a) As epidemias, as doenças, as guerras e a fome;
b) O uso de métodos contraceptivos (Malthus, apesar de protestante, defendia
os métodos anticoncepcionais em nome do equilíbrio populacional);
c) A sujeição moral, que preconizava que o homem deveria casar somente
quando tivesse recursos financeiros.
Apesar de Malthus saber que a relação entre a falta de alimentos e o
crescimento populacional não é diretamente proporcional, foi essa a forma que ele
encontrou para sensibilizar o Estado sobre o que poderia acontecer caso a
população aumentasse.
Essa relação entre número de habitantes e quantidade de alimentos ainda
hoje é utilizada para justificar o controle da natalidade, que, muitas vezes, aparece
camuflado pelo termo “planejamento familiar”. Os argumentos fundamentam-se no
fato de que a quantidade de terra para o plantio é limitada e que a produção agrícola
não poderia acompanhar o crescimento populacional justamente por causa dessa
limitação. Até hoje várias organizações governamentais e fundações que se
preocupam em difundir o planejamento familiar fazem recomendações aos governos
dos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos para controlar a taxa de
natalidade.
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Observe agora alguns argumentos que se contrapõem às ideias propostas
por Malthus:
- O crescimento populacional está relacionado a aspectos políticos, sociais, culturais
e econômicos referentes às características de cada país.
- No momento histórico em que a teoria foi elaborada, o crescimento populacional
era fruto da Revolução Industrial. As relações de trabalho estavam se alterando
tanto na cidade quanto no campo, e a introdução de novas tecnologias modificava a
vida da população. Naquela época, era conveniente ter vários filhos para que eles
logo entrassem no mercado de trabalho. Os filhos eram, portanto, um investimento,
já que a mão-de-obra era utilizada nas indústrias têxteis e minas de carvão.
- Houve um processo de desenvolvimento e modernização do trabalho no campo, o
que aumentou a produtividade agrícola, como, atualmente, o desenvolvimento de
sementes resistentes a pragas.
Durante o século XX, a temática do crescimento populacional foi discutida de
várias formas. Ainda hoje, algumas teorias apontam o subdesenvolvimento como
decorrência do excessivo número de habitantes, da agricultura manual e da baixa
produtividade. Essas teorias foram denominadas neomalthusianas. Para os
neomalthusianos, se houvesse controle de natalidade nos países subdesenvolvidos
e em desenvolvimento, o problema da fome acabaria. Além disso, como o aumento
da população implica investimentos sociais – educação, saúde e habitação –, seriam
destinados menos recursos para o setor produtivo. Com base nesse raciocínio,
muitos governos incentivam o controle da natalidade, reafirmando a visão de
Malthus.
Karl Marx e o contraposto a Malthus
Karl Marx foi um economista que, fundamentado no materialismo histórico,
levantou diversos pontos contrários à teoria de Malthus. Ele afirmava que a fome, a
carência social e o crescimento populacional são causados pela má distribuição de
renda e pelas diferenças de classes sociais. Para Marx, as condições de vida do
trabalhador estavam diretamente relacionadas aos meios de subsistência.
Segundo Marx, a superpopulação contribuiria para o fortalecimento do
sistema capitalista, cuja principal fonte é o lucro daqueles que detêm os meios de
produção, e não as necessidades da maioria da população. O aumento populacional
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favoreceria a disponibilidade de mão-de-obra, contribuindo para uma maior
rotatividade de trabalhadores nas fábricas e levando ao rebaixamento salarial e
consequente aumento dos lucros. O excedente populacional, portanto, resultava no
aumento do nível de desemprego, em um grande número de jovens com poucas
perspectivas de conseguir trabalho e no crescimento da miséria e da pobreza,
enquanto uma minoria acumulava capital. Para os seguidores da teoria de Marx, o
Estado é o responsável pela melhoria das condições de vida da população.
A partir do século XX, iniciou-se uma lenta diminuição das taxas de
crescimento populacional nos países industrializados em consequência da queda
das taxas de natalidade. A mudança do padrão de crescimento da população
mundial é decorrente do aumento da renda média da população, do acesso a
métodos contraceptivos e da mudança do papel da mulher na sociedade.
Apesar de ter havido mudanças na dinâmica populacional, principalmente nos
países industrializados, o número de habitantes no século XX chegou a
aproximadamente 6 bilhões, e a estimativa é de que chegue, em 2025, a mais de 8,5
bilhões de habitantes.
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O consumo de alimentos
Independentemente do aumento da população mundial e da alimentação das
áreas agrícolas destinadas ao cultivo de alimentos, um dos problemas mais graves
do mundo contemporâneo é a má distribuição da comida – 80% de tudo o que é
produzido no mundo é consumido por apenas 20% da população mundial.
Nos últimos 20 anos, a produção mundial de alimentos cresceu mais de 3%,
enquanto o aumento demográfico situa-se próximo dos 2%. Portanto, é falsa a ideia
que preconiza o controle do crescimento demográfico para vencer a fome.
A geografia da fome é um dos indicadores para separar os países ricos dos
pobres. Parte da população dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
ainda passa fome, apesar do aumento da produção.
Se a população do chamado mundo subdesenvolvido consumisse os
alimentos produzidos em seu território, não haveria desnutrição nem morte por fome
nesses países. As organizações governamentais, para saldar dívidas contraídas
junto aos bancos internacionais, atrelam o pagamento dos empréstimos aos
produtos agrícolas que serão exportados. No momento de decidir sobre o que
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produzir, o quanto produzir e para quem vender, não são consideradas as
necessidades alimentares da população local.
Muito se fala também sobre a falta de terras para se produzirem os alimentos
necessários para toda a população do planeta. Analise os esquemas a seguir.
Calcula-se que existe menos de 1,5 bilhão de hectares de terras aptas para a
agricultura no mundo. Apenas menos da metade dessa área, 700 milhões de
hectares, é utilizada para a produção de alimentos. Mesmo assim, tudo o que é
colhido no mundo seria suficiente para alimentar mais de sete bilhões de pessoas.
Apesar de a tecnologia e a modernização da agricultura proporcionarem
aumento na produção, as promessas de acabar com a fome estão longe de ser
cumpridas. Isso porque, atualmente, regiões de terras férteis vêm sendo
transformadas em áreas urbanas e também porque parte da produção agrícola de
alimentos é usada como ração para animais.
A produção de cereais para exportação dos países do chamado mundo
subdesenvolvido aumentou muito nos últimos anos. Já em 1976, a quantidade de
grãos consumida pelos países considerados desenvolvidos para alimentar animais
superava os 251 milhões de toneladas – mais de seis vezes a quantidade calculada
pela ONU como necessária para eliminar a fome no mundo.
Nos últimos 30 anos, a combinação de mecanismos políticos e econômicos
sustentados pelo modelo de desenvolvimento dos países ricos contribuiu para que a
fome se tornasse mais aguda. A modernização da agricultura, em vez de pôr fim à
fome, encareceu a produção de alimentos.
O número de habitantes não é o problema principal do planeta. Quando as
sociedades alcançaram níveis de vida mais elevados, a opção pelo controle do
número de filhos passa a ser uma decorrência natural, sem que haja necessidade de
intervenções oficiais. A questão fundamental a ser resolvida é a manutenção da
vida, porém vida com dignidade. Para que isso ocorra, é necessário que se adotem,
em nível global, outras maneiras de pensar, produzir e consumir.
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