O SR. WILSON SANTIAGO (PMDB-PB) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, é com grande satisfação que trago a palavra do PMDB à oportuna sessão que esta Casa hoje realiza em homenagem à promulgação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel. A lei que libertou os escravos pôs fim à iniqüidade contra os negros após três séculos de escravidão, durante os quais foram importados cerca de 3 milhões de africanos. Hoje a Lei Áurea é criticada por vários segmentos de nossa sociedade com o argumento de que ela somente libertou os escravos mas não os integrou à sociedade, tornando-os cidadãos de segunda classe. Isso é verdade, Senhor Presidente, Senhores Deputados, mas por outro lado o que não podemos deixar de ter em mente é que estes movimentos históricos são 2 muito lentos, e a promulgação da Lei Áurea foi um primeiro marco no sentido de integrar o negro à sociedade. Podemos até afirmar que todas as conquistas do negro contemporâneo tiveram início naquele gesto da Princesa Isabel. A destinação de cotas para negros nas universidades, o fim do mito de democracia racial e a valorização do negro no material didático das escolas são a repercussão contemporânea do gesto da Princesa Isabel ao terminar oficialmente com a escravidão no Brasil. Os próprios abolicionistas já sabiam que, após a libertação dos últimos escravos, “ainda seria preciso desbastar, por meio de uma educação séria e viril, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo, de superstição e de ignorância”, como dizia Joaquim Nabuco. 3 Pode-se dizer que esta tarefa está bem encaminhada. Antes da promulgação da Lei Áurea, qualquer negro em trajes humildes que caminhasse sozinho pela rua corria o risco de ser parado pela polícia e submetido à humilhante verificação de sua condição, se era homem livre ou fugitivo. Hoje, a discriminação por motivo de cor é motivo de prisão, e os negros, organizados, têm ocupado cada vez mais espaço na sociedade, respaldados por leis que, ao longo das décadas, vieram complementar a Lei Áurea. Desde 1951 temos uma lei que considera o racismo uma contravenção, e a Constituição de 88 transformou a discriminação racial em crime inafiançável. O processo de emancipação dos negros ganhou força nos últimos trinta anos, principalmente com atitudes como o ataque ao mito da democracia racial. Este mito, que perdurou por décadas, afirmava que o Brasil era um grande paraíso de fraternidade racial, a despeito da óbvia 4 constatação de que raros negros ocupavam os estratos superiores da pirâmide social . A derrubada do mito da democracia racial foi uma importante conquista do movimento negro, que durante anos se empenhou em provar e divulgar, com dados e números irrefutáveis, a evidente segregação sofrida pela população negra no Brasil. Nada disso estaria acontecendo, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, se no dia 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel não tivesse assinado a lei que libertou os escravos no Brasil. É por isso que é forçoso reconhecer a importância desta data, sem rancor contra aquela que iniciou o processo de emancipação dos negros no Brasil, um início imperfeito, sem dúvida, mas necessário. 5 Quero, portanto, em nome do PMDB, saudar a memória da nossa cara Princesa Isabel e faço votos de que os negros conquistem cada vez mais espaço na sociedade, até que nos transformemos numa autêntica democracia racial. Obrigado. 2005_4968_Liderança do PMDB_169