1 2 3 CATALOGAÇÃO NA FONTE DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO N335d Nazareth, Joamar Zanolini Família: Laboratório das Almas : abordagem temática em linguagem simples segundo o pensamento espírita / Joamar Zanolini Nazareth. - Araguari, MG : Minas Editora, 2012. 256 p. ; 15,5x22,5 cm. ISBN 978-85-87538-83-7 1. Espiritismo. 2. Família. I. Titulo. CDD-133.9 © by Minas Editora DIREITOS DE CÓPIA RESERVADOS 1ª EDIÇÃO - NOVEMBRO/2012 DO 1º AO 5º MILHEIRO IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL REVISÃO MINAS EDITORA CAPA Ary Dourado COMPUTAÇÃO GRÁFICA Públio Carísio de Paula MINAS EDITORA TELEFAX: 34-3246.0093 R. Wenceslau Bras, 276 - Centro - CEP 38440-216 - ARAGUARI - MG site: www.minaseditora.com - mail: [email protected] 4 Elementos tão diferentes podem reunir-se no lar. A FAMÍLIA, por isso, torna-se um fabuloso Laboratório das Almas! JOAMAR Z. NAZARETH 5 6 SUMÁRIO Palavras do editor 09 Palavras do autor 13 01 - A formação da família antes da reencarnação 17 02 - Exemplo 22 03 - Os Hábitos no Contexto Educativo 29 04 - Convivência com os demais Parentes 37 05 - Relacionamento de Pais e Jovens no Lar 42 06 - Desafio dos Pais: Educar-se para Educar 48 07 - Humildade dos Pais na Educação 53 08 - Os Adversários no Ambiente Doméstico 63 09 - Ante os filhos: Limite ou Liberdade? 68 10 - A Internet na Rotina Familiar 73 7 11 - Mídia x Educação 83 12 - Perda de Pessoas Amadas - Separação pela Morte 90 13- Afastamento dos Entes Queridos 99 14 - Nova União dos Pais 106 15 - Amparar os Pais - Dever dos filhos 114 16 - Quando os avós é que educam 124 17 - Pais sem tempo para os filhos 131 18 - Ante a Criança Obsediada 137 19 - Pais Espíritas ante a impossibilidade de F. N. 145 20 - Educando as Emoções e os Sentimentos 151 21 - Doença no Lar - Momento de Fé 158 22 - Paternidade Inesperada 165 23 - Palmada: Recurso Educativo ou Violência? 175 24 - Filhos do Divórcio e a Alienação Parental 191 25 - Inseminação artificial, embriões e células tronco 207 26 - Bullying e a responsabilidade de pais e professores 225 Notas e Referências Bibliográficas 241 8 Palavras do Editor A primeiro livro intitulado Um Desafio Chamado Família, cuja abordagem foi baseada nas orientações de Iluminados Espíritos da Codificação Espírita, na vivência doméstica e docente, na experiência do gabinete advocatício, fez Joamar Zanolini Nazareth preparar outro trabalho com os mesmos quesitos. GRANDE REPERCUSSÃO DE SEU Aqui, apresentamos este seu segundo livro perfeitamente sintonizado com a realidade vivida pela sociedade brasileira. É no lar que experimentamos as orientações preparatórias para as transformações de caráter essencial à vida, munindo-nos com os equipamentos necessários para a trajetória existencial e seus bons e nobres resultados. 9 Ne m sem pre agrad áve is, ‘a re açã o’ d os acontecimentos domésticos nos constrangem a comportamentos e atitudes tantas vezes deplorados mais tarde, repletando as consciências de remorsos e lixo psicológico prejudicial à tão desejada felicidade. Por isso, entregamos às suas mãos e em nova roupagem, estes temas, revisados e acrescentados, indispensáveis ao abalizamento de opiniões e comportamentos que sejam ideais no dia a dia, com consequências saudáveis e enobrecedoras para a sua vida e a vida de sua família. Araguari(MG), julho de 2012 Públio Carisio de Paula 10 A família, conquanto sofra alterações no padrão estrutural na atualidade, não deixa, por isso, de continuar com sua finalidade intrínseca e definitiva de ser o ambiente ideal e formulador do ser integral. Joamar Z. Nazareth 11 12 Palavras do Autor O TEMPO DEMONSTRA QUE O estudo e o aprofundamento dos temas relacionados à Educação não são e nem nunca farão parte de modismos. A vida atual exige uma capacidade de transformação para a solução de dificuldades que põem em cheque o homem e a civilização. A educação, para professores, terapeutas, pesquisadores, entre outros, é o instrumento transformador mais eficaz ao alcance de todos. Tratamos aqui da educação do caráter, da educação que acontece na família, a célula principal da sociedade humana, de onde o indivíduo se lança para as conquistas da vida social. Jamais nos cansaremos de pensar e convidar a pensar, refletir e convocar à reflexão, escrever e conclamar à leitura, provocando o envolvimento direto de quantos consiga com a educação no lar. 13 Em nosso primeiro livro UM DESAFIO CHAMADO FAMÍLIA, elegemos temas que transitam pelas experiências domésticas do mundo de hoje, tão invadido pelos meios de comunicação e por hábitos globalizados. Em face dos desafios multiplicados entendemos que o lar é um verdadeiro Laboratório de Almas onde se realizam grandes transformações com repercussão direta na vida da sociedade. As reações entre os seus elementos tão diversos – pais, mães, filhos, parentes - provocam alterações radicais nas estruturas psicológicas originais da personalidade individual e do grupo, um fenômeno cada vez mais tentador em razão do emaranhado em que se configura. Valores morais e éticos são aí aprendidos e consolidados ou desprezados e esquecidos. A família, conquanto sofra alterações no padrão estrutural na atualidade, não deixa por isso de continuar com sua finalidade intrínseca e definitiva de ser o ambiente ideal e formulador do ser integral. Por isso, renovamos nosso compromisso com a causa educativa, convidando o leitor a juntos abraçarmos essa causa, a da família estruturada e em paz, defendendo e resgatando os valores familiares. Nosso esforço diminuto soma-se ao de inúmeros estudiosos e propagadores da luz do conhecimento e da experiência sob a ótica do Cristo e do Espiritismo, exaltando o lar como o Instituto preparador das criaturas para a vida, elaborando uma razão esclarecida e um sentimento iluminado. Seja uma pequena vela acesa se somando à luz que verte do Mais Alto. 14 Espiritismo é educação; educação é o convite a retomarmos o rumo da luz. Receba, caro leitor, este segundo trabalho, revisado e acrescido com nossa contribuição, de modo que possa ser-lhe útil promovendo reflexão e conclusões nobres e sadias, e, se, alcançado esse objetivo, sentir-nos-emos realizados por havermos sido irmãos no caminho, na trajetória de sua família mais harmoniosa e feliz. Continuem contando sempre com este pequeno e perseverante servidor. Uberaba (MG), julho de 2012. Joamar Zanolini Nazareth 15 16 01 A FORMAÇÃO DA FAMÍLIA antes da reencarnação “Quando deixa a Terra, o Espírito leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e se aperfeiçoa no espaço, ou permanece estacionário, até que deseje receber a luz”(AGOSTINHO/KARDEC, 1991, p.249) A MAIORIA DAS PESSOAS IMAGINA a formação da família somente a partir da relação afetiva que desagüa no casamento e no nascimento dos filhos. O Espiritismo abre novos horizontes e mostra os princípios sagrados das Leis Divinas a funcionar em todos os mecanismos da vida. Em relação à convivência das criaturas a reencarnação se apresenta como a principal lei a reger-nos as experiências, movimentando companheiros espirituais na planificação do futuro de luz a que todos devemos alcançar. O novo lar se inicia, na realidade, quando nossas necessidades espirituais são identificadas ao deixarmos o corpo físico pela morte, promovendo novo planejamento relativo aos passos futuros. Avaliando e colhendo o resultado de nossos atos, aferimos os pontos de luz e de sombra, os afetos e desafetos amealhados, as virtudes e vícios que marcaram a recém terminada existência física. 17 Após o período de adaptação à vida espiritual, passamos a nos preparar para a nova reencarnação, onde daremos continuidade aos projetos evolutivos para libertação de nossa consciência, processo inerente à grande massa de habitantes terrenos. Necessitamos, ainda, de muitas reencarnações para expurgar os erros e solidificar o caminho do acerto espiritual, sem as quais não conseguiremos galgar degraus mais altos antes de resolver problemas somente solucionáveis no retorno à vida física. Primeiro o remorso, em seguida o arrependimento, depois o desejo de reparação dos erros e a multiplicação das vitórias nos estimulam a vontade de voltar à vida física. Vislumbramos nos projetos do futuro o reencontro com almas amadas e com outras por nós prejudicadas ou, nossos algozes. A princípio recebidos e educados por nossos pais, posteriormente assumindo a postura de educadores de nossos filhos. Os recursos educativos indispensáveis à empreitada nos são oferecidos, para juntos superarmos os obstáculos e desenvolvermos nossos sentimentos, todos ocupando papéis fundamentais para o êxito da nova experiência. As leis do Criador mantém a porta da renovação sempre aberta aos que desejam retificar seus passos, oferecendo todos os recursos para a renovação de seus filhos, entre eles os recursos terapêuticos da reencarnação. O sábio servidor (EMMANUEL/XAVIER, 1986, p.39) nos orienta:”No clima nutriente do lar, aquietam as próprias ânsias, refazendo-se à luz do entendimento e da prece, para combate consigo mesmo na estrada redentora”. 18 PREPARAÇÃO PARA O NOVO LAR Sob tais auspícios integramos a programação de um novo lar, onde seremos recebidos por “herdeiros do amor” de nossos pais, assim como programaremos outro lar onde, mais tarde, de coração jubiloso, chamaremos de filhos(as) outros espíritos ligados a nós com suas necessidades de acolhimento e diretriz. O medo das provas a enfrentar e a fragilidade ainda natural a muitos, acomete ao candidato à reencarnação. As promessas dos futuros pais, o carinho hipotecado, a ternura e desvelo constituem-se-lhe sustentáculo a convencê-lo da solicitude desses anjos tutelares encarnados, para a superação dos óbices da nova vida. Escolhida a família, são traçados os planos de lutas e amparo para que o futuro lar que aí se inicia esteja apto a cumprir a determinação divina: a de ser escola do espírito, laboratório das almas, onde ascenderão novos degraus de luz. Assim, antes mesmo da concepção, já teremos traçado os mapas reencarnatórios e estaremos preparando-nos para a nova experiência física, expressando nossa vontade sob a orientação de amigos espirituais. A preparação inclui a escolha de nossos parceiros de luta doméstica, a escolha do corpo físico adequado à tarefa a desempenhar, os recursos para o sucesso esperado, com maior liberdade ou maior imposição por parte dos que nos tutelam, em conformidade com nossa necessidade iluminativa e mérito espiritual. 19 É muito grande o investimento espiritual feito para que cada lar da Terra seja um pronto-socorro e um núcleo de irradiação da paz e da harmonia. O papel de tutores caberá sempre aos pais que deverão ter em mente a inolvidável exortação de Santo Agostinho: “a cada pai e a cada mãe perguntará Deus: que fizeste do filho confiado à vossa guarda?” (AGOSTINHO, 1991, p.251). O Espiritismo, na atualidade, proporciona o esclarecimento indispensável a pais e mães acerca da maravilhosa oportunidade ofertada pela reencarnação. Quantas vezes encontramos jovens a enfrentarem a lição da paternidade-maternidade com imaturidade, outros buscando no aborto ignominioso a fuga de suas responsabilidades, outros ainda abandonando seus filhos como quem se desfaz de fardo indesejável? Reflitamos na gravidade dos deveres para com a instituição da família em nosso planeta jamais esquecendo que Deus nos confia a tutela de seus filhos, tão preciosos tesouros, aguardando de nós os cuidados e esforços por melhorá-los no rumo do porvir. A Espiritualidade Superior dedica especial atenção ao lar, portador da missão de renovar os homens e conseqüentemente o mundo, transformando os panoramas da Humanidade para o Terceiro Milênio. Pais e mães! Abram os olhos do espírito para as realizações de seus filhos, observando-lhes as tendências e auxiliando-os a tirarem os pés do pântano da ilusão e do vício e a alçarem o vôo do aprimoramento no bem e na virtude, sem desânimo nem inércia, pois dia virá em que sentiremos o calor da satisfação por cada grama de 20 luz por eles obtida com nossa ajuda ou, sentiremos o frio da culpa por cada miligrama de sombra que carreguem por nossa inépcia. Contemos com o auxílio do Mais Alto! Saibamos que planejando a nova família nunca estaremos a sós, contando com uma legião de testemunhas e tutores espirituais a nos inspirar e insuflar-nos a fé e o ânimo necessário: Pais amigos, guardai convosco, ante o berço terrestre, a oração e o carinho, a caridade e a paz, porque sois responsáveis, na luz da reencarnação, por aquele que volta, em nome do Senhor, a rogar-vos abrigo, a fim de burilar-se e servir, ofertando-vos, ao mesmo tempo, as mais nobres oportunidades de elevação.( EMMANUEL/ XAVIER, 1986, pp.39-40). Com tamanhos recursos, só nos resta aos pais realizarmos a tarefa que nos compete. 21 02 EXEMPLO o mais importante mecanismo educativo — Educar não é fácil! - exclamam alguns... — A vida moderna conspira contra os pais! expressam outros... — É impossível encaminhar as crianças, como gostaríamos! - arriscam outros mais... Indagamos nós: — Em alguma época educar a prole foi tarefa simples? A dificuldade estará dentro das paredes domésticas ou fora delas? Ao formar uma família os cônjuges devem refletir acerca da Instituição Sagrada que estão iniciando. Em geral, relacionam - à guisa de metas conjugais - a responsabilidade necessária à condução do trabalho profissional; as de algum cargo que ocupam; a administração dos recursos financeiros, entre outras. Entretanto, esquecem-se de que o lar é a base de onde 22 sairão diariamente para a luta existencial e onde haurirão energias e recursos afetivo-morais para vencê-la. Assim sendo, comumente, falta-lhes preparo e amadurecimento para encarar os desafios da família como uma instituição una onde todos são interdependentes, mais no sentido afetivo que no sentido material. Por estar reunidos sob o mesmo teto, vivendo experiências comuns, têm motivo de sobra para daremse as mãos e ampararem-se mutuamente, cabendo aos mais maduros compreender além... repartindo o fardo dos mais frágeis e inexperientes. ORIENTANDO FILHOS Cabe aos pais a tarefa de entender e mostrar mais amadurecimento pois os filhos seguem desenvolvendo gradativamente o senso de responsabilidade e de experiência. A entidade familiar se constitui da estrutura baseada em um homem e uma mulher unidos por livre opção de ambos para planejar e determinar o momento de acolher os filhos, recepcionando-os com amor e alegria a fim de prepará-los para a existência. Em tese, os pais ou responsáveis ensinam, protegem e educam: tal a lei da vida... O que efetivamente cansa os educadores domésticos é o fato de ser uma tarefa para vinte e quatro horas ao dia, consumindo atenção e cuidados. 23 Educar não é atividade automática, mas, sobretudo, missão essencial para o desenvolvimento ético-moral da humanidade. Ao abraçar a terna presença de um filho estão assumindo nobre e iluminado ministério, no qual são convidados a renúncias pessoais contínuas. Em síntese, não bastará usar de palavras, será necessário movimentar todas suas possibilidades, implicando em melhorar o comportamento individual: alijar de suas personalidades nuanças desagradáveis; ser melhores, abrir as portas do coração, arrancando o ferrolho do comodismo. Motivo de preocupação verdadeiro: a obrigação de se melhorarem para desempenhar com eficiência a tarefa educativa dos filhos. Nos primeiros anos da infância as crianças observam atenciosamente o comportamento dos pais criando paradigmas e modelos a serem seguidos. Esta é a fase dos pais heróis, alimentando na mente infantil o desejo de copiar os genitores. Mesmo mais tarde, quando a adolescência costuma carrear consigo a vontade de quebrar os modelos paternos, continuam os filhos a imitar os pais – inconscientemente - repetindo posturas combatidas e reprovadas anteriormente. Sirva de alerta esta ocorrência, pois, quem imita o positivo, também imita o negativo: Os pais humanos têm de ser os primeiros mentores da criatura. (...) Só um espírito que haja compreendido a paternidade de Deus, acima de tudo, consegue escapar à lei pela qual os filhos sempre imitarão os pais, ainda quando estes sejam perversos. (EMMANUEL/XAVIER, 1983, pp.39-40) 24 Se anseiam por um tratamento cordial e respeitoso no lar entre os componentes da família, respeitem-se mutuamente, cultivando a liberdade e o direito comuns. Se aspiram que seus jovens não sejam vítimas do vício, da violência, dos alcoólicos, dos tóxicos, comportemse com responsabilidade apresentando modelos vivos no ambiente doméstico. Se os maus hábitos da maledicência e calúnia são indesejados para os padrões pessoais cuidem de erradicá-los da prática comum do dia-a-dia. Sem essas atitudes de base, não adiantará qualquer insurreição contra o modo de vida adotado pelos jovens, pois a censura será válida, em primeira instância, aos pais por desavisados e irresponsáveis que semearam no coração dos filhos tais comportamentos. Esclarecedora a assertiva de que teu filho será amanhã teu retrato e que nele estamparás teus próprios ideais e teus próprios impulsos, plasmandolhe o novo modo de ser. (EMMANUEL/ F. C. XAVIER, 1986, p.32) EXEMPLO DOS PAIS Ao planejar o futuro dos filhos será necessário não levar em conta apenas a boa universidade, os bons locais de lazer, os programas de férias agradáveis, as roupas da moda, os aparelhos eletro-eletrônicos e tantas outras facilidades compradas pelo dinheiro. Será necessário, sim, projetar a cada manhã as melhores orientações, como melhor prepará-los para o mundo que enfrentarão ao se verem responsáveis por si próprios, 25 quais os tesouros depositaremos em seus corações para superarem os óbices da estrada, com quais valores morais e virtudes estarão equipados para perseguirem seus sonhos e ideais, quais os perigos a serem evitados e transpostos, a bagagem a ser levada do lar equilibrado para tornarem-se vitoriosos na grande batalha da existência. Tal projeção somente será possível sob esforço, luta, dedicação, renúncia, amor, boa vontade e profunda convicção da importância das tarefas paterna e materna. Quando apontamos o exemplo como o mais importante mecanismo educativo, muitos se preocupam afirmando-se imperfeitos, carregados de falhas, cometendo erros na condição de humanos. No entanto, o exemplo não nasce somente da conduta perfeita de alguém; o exemplo nasce, também, do esforço de alguém ainda imperfeito, consciente de suas limitações, buscando crescer para melhor orientar aos que lhe estão sob a influência. Os filhos, ao observarem os pais sob esta ótica, entenderão que são pessoas normais, que erram, que trazem seus conflitos íntimos, porém, se reerguem e lutam por ser melhores a cada dia, o que lhes transmitirá gigantesca força, consolidando entre genitores e tutelados uma maior cumplicidade na vida. O esforço de superação pessoal - alterando diretrizes e comportamentos - dos que se identificam com os caminhos da auto-iluminação, provoca nos que convivem à sua volta uma admiração natural e verdadeira, decorrente do pé de igualdade humana entre si. Esses esforços são significativos e contagiantes, realizando o grande papel educacional, verdeiros exemplos promovendo uma humanidade mais justa e feliz. 26 Não constranger-se em criar um clima de cumplicidade no ambiente doméstico, mostrando-se tal qual é, evitando a máscara da onipotência e da onisciência junto aos descendentes diretos, é recurso valioso, instalando um ambiente de proximidade agradável e respeitoso, evitando a humilhação e a rebeldia. A educação será o conjunto de todas as ações com o fito de ensinar, esclarecer e orientar os filhos, sedimentadas no amor, na boa vontade e na sinceridade. Não olvidar jamais que os filhos observam, captam as palavras e o modo de ser, os atos, as vibrações, os sentimentos, o ambiente formado na rotina diária do lar e a maneira de ver a vida - nada lhes escapa aos sentidos. Sendo o exemplo o mais forte de todos os instrumentos educativos, a vida convida os pais e responsáveis a não meramente exercer mais uma função, mas, a exercer a função de educar, desafio do qual somente se desincumbirão a contento mantendo um ideal de crescimento e elevação pessoal. Pais que crescem psicológica e moralmente conseguem estimular seus filhos a crescerem também. Seguindo a recomendação do sábio Chico Xavier, “o exemplo há de começar em casa, a demonstração há de iniciar-se pelo pensamento, pela palavra, pela atitude, pela vivência”. (XAVIER apud BACCELLI, 2000, p.46) 27 28 03 OS HÁBITOS NO contexto educativo A ESCRAVIDÃO À ROTINA É UM DOS itens responsáveis pelo tédio e o estresse tão em voga na atualidade. Reclamar dela é algo que se torna comum. Todavia, algumas ações que denominamos rotina são importantes e saudáveis: acordar no mesmo horário, escovar os dentes, pentear os cabelos, tomar o mesmo desjejum, dirigir-se à escola ou ao trabalho pelo mesmo caminho, encontrar os mesmos colegas, os mesmos professores, a mesma sala... O que torna a rotina difícil e insuportável é o comportamento que se adota diante dela. Na repetição diária, o homem e a mulher optam por hábitos em que demonstram as suas personalidades. Os hábitos exteriores manifestos na vida de relação refletem hábitos íntimos decorrentes da visão que o indivíduo possua da vida e dos sentimentos que acalenta. 29 As qualidades e defeitos que compõem a personalidade são o resultado de práticas construídas ao longo dos dias, e, repetidas, cristalizam-se na intimidade do ser. Avaliando o próprio mundo interior, a maneira de encarar a vida, os valores do coração, vislumbra-se o patrimônio moral de que se é portador. Identificado esse patrimônio, deve-se preservar e estimular os tesouros, enquanto deve-se expurgar o lixo psicológico ajuntado no decorrer dos anos. Diante disto, será necessário sair da postura de comodismo - conseqüência da rotina mórbida – para se identificar quais e tais valores carecem ser modificados, a bem da continuidade da vida. O ser humano para mudar de hábitos necessita de paciência e perseverança consigo próprio. Sábio mensageiro asseverou “o hábito é uma esteira de reflexos mentais acumulados, operando constante indução à rotina”. (EMMANUEL/XAVIER, 1982, P.95) O reflexo, conforme o nome diz, representa a imagem do eu profundo a se exteriorizar de modo automático como impulso instintivo alheio à razão, manifestando estados primitivos de comportamento que exigirá esforço pessoal a fim de superá-lo e moldá-lo. REFLEXO CONDICIONADO Tudo o que fazemos ou é fruto da repetição de velhos hábitos ou respostas a situações presentes consagradas pelo uso. De qualquer modo, tais atitudes 30 se fundamentam, invariavelmente, no material intelectual e moral de que dispõe o indivíduo. A alteração dos condicionamentos arraigados em si, requer a utilização da força motriz da vontade, com a qual pode-se alcançar verdadeiros milagres na superação dos automatismos psicológicos. O insucesso na mudança dos antigos padrões atrasará a construção de uma personalidade mais sadia e equilibrada, o que não pode desmotivar a novas e insistentes tentativas de mudança. A cristalização de hábitos – sejam positivos ou negativos – é melhor explicada com a tese reencarnacionista, pois, havendo a alma vivido antes do berço, terá conquistado muitos de seus atuais condicionamentos em anteriores experiências carnais. Com ela - reencarnação - explicar-se-á a intensidade de emoções, sentimentos e valores acentuados decorrentes de incontáveis episódios vividos. Esse conjunto de vivências forma o arquivo das características pessoais chamado inconsciente, de onde brotam os impulsos e automatismos. A CRIANÇA E SEUS REFLEXOS A criança, na condição de espírito imortal, traz consigo um manancial inesgotável de experiências e valores, e mesmo que exteriormente ostente singeleza no raciocínio quanto à vida, reage aos estímulos de que se vê objeto a cada instante. Expressa-se aí, com todo o vigor da Sabedoria Divina, a individualidade e particularidade de cada criatura. 31 Ninguém é exatamente igual a outro alguém; e cada filho merecerá análise, acompanhamento, esforço e aplicação específicos às suas necessidades e padrão de comportamento. Observando os filhos, suas reações e respostas aos eventos da vida, os pais aprenderão a identificarlhes os aspectos construtivos ou prejudiciais da personalidade, o que se constitui em material de trabalho no laboratório do lar, para a edificação do homem e da mulher do futuro. Não se pode esquecer, ao atentar para a simplicidade e ingenuidade da criança, que ali está alguém rico de reflexos mentais e hábitos acumulados – confundindose o passado e o presente, de onde se ensejará a construção do futuro. OS HÁBITOS NA EDUCAÇÃO É de essencial importância a análise do tema reflexo condicionado e hábitos no contexto da educação, pois, educar, é, entre outras coisas, adubar os bons sentimentos no coração dos filhos e trabalhar com denodo para detectar e substituir os maus sentimentos que demonstrem. Entendendo que os filhos agem, assim como nós, em resposta a estímulos da vida, não se pode desprezar a incessante influência do meio, donde capta, informações que lhes enriquecem ou deslustram a intimidade – cuja aprendizagem nunca se encerra. Isto quer dizer que o homem não é fruto apenas do passado, mas também do dinamismo do presente; ou 32 seja, ao automatismo espontâneo soma-se o aprendizado e ensinamentos do momento atual. Daí, a opção - a cada instante - de modificar o rumo dos passos, evitando que nos constituamos em meros reagentes, utilizando do livre arbítrio, chave para reajustar o roteiro e sair do círculo de reincidência em velhos erros. Identificar pontos bons e ruins na personalidade dos filhos ou na própria, tem uma importância fundamental, pois sabe-se ser possível e necessário auxiliálos a se melhorarem, dotandolhes de recursos morais e éticos, firmes e decisivos, que, em contato com os impulsos instintivos, permitam-lhes elemen tos suficientes para elaborarem hábitos que os levem a um modo de vida saudável e feliz. Eis a tarefa educativa dos pais e tutores da infância. A VIDA FAMILIAR A convivência no ambiente doméstico representa uma das mais ricas fontes de estímulos às mentes que nele habitam. Aí, dada a intimidade de convivência, e, mediante a permuta de sugestões mútuas inerentes a cada familiar, cria-se um circuito de forças, onde influenciase e se é influenciado. 33 Aos pais, pela autoridade de que estão investidos e pela maior bagagem de experiências, cabe a orientação, esclarecimento e educação de seus filhos, cuja responsabilidade por futuros enganos e desatinos lhes recai inevitavelmente. A influência sobre os petizes é manifesta, psicológica e materialmente, de tal sorte que comportamentos e reações dos pais são repetidos pelos filhos. Aqueles, inteligentemente, podem, inclusive, opor sugestões mentais construtivas e sadias, em contraposição às manifestações infelizes encontradas, alterando o panorama futuro dos mesmos. Por isso, “via de regra, a maioria esmagadora de Inteligências encarnadas retrata psicologicamente aqueles que lhes deram o veículo físico, transformando-se, por algum tempo, em instrumentos ou médiuns dos genitores, à face do ajustamento das ondas mentais que lhes são próprias, em circuitos conjugados, pelos quais permutam entre si os agentes mentais de que se nutrem”. (LUIZ/ XAVIER, 1983, P.116) Devido aos mecanismos naturais da vida, na fase infantil os tutelados estão mais receptivos aos ensinamentos e esforço educativo dos pais, que devem aproveitar ao máximo tal etapa para incutir em suas mentes os valores mais concordes com uma conduta reta e pensamentos elevados, de maneira idêntica ao semeador aproveitando a boa terra nela lançando boas sementes para uma farta e feliz colheita no amanhã. 34 CONSTRUINDO NOVOS HÁBITOS Verifica-se, desse modo, que educar é renovar hábitos, expurgando más tendências e construindo boas, valendo-se do patrimônio íntimo da criança, não meramente inserindo dados, porém, estimulando-lhes a asfaltar a própria estrada e edificar o próprio futuro. Os pais não são proprietários dos filhos, mas, sim, companheiros amadurecidos nas trilhas da vida, aptos a melhor auxiliá-los na escolha dos passos futuros. Estejamos atentos “os métodos na experiência educacional devem ser consentâneos às condições mentais e emocionais do aprendiz. Em vez de lhe impingir, por meio do processo repetitivo, os conhecimentos adquiridos, o educador há de motivá-lo às próprias descobertas...” (ÂNGELIS/ FRANCO, 1987) Trabalhar com perseverança os hábitos dos filhos e jovens, consciente de que essa é a contribuição na construção das gerações futuras. Os pais e educadores têm essencial responsabilidade nesse mister, do qual devem se desincumbir com alegria e amor. 35