Programa Ambiente e Saúde 2006/2008 Concurso para financiamento de Projectos de Investigação INSTITUTO DE BIOLOGIA MOLECULAR E CELULAR Investigadora responsável: Paula Tamagnini Remoção de iões metálicos de águas contaminadas utilizando polímeros extracelulares produzidos por cianobactérias A acumulação contínua de metais pesados nos cursos de água acarreta um risco considerável para a saúde pública e para o ambiente. Na remoção destes iões são correntemente utilizados métodos físico-químicos com limitações técnicas como a baixa eficácia para concentrações diminutas do metal e custos elevados. Estas dificuldades têm levado à procura de soluções alternativas como a utilização de polímeros extracelulares (EPS) produzidos por microrganismos. Neste contexto distinguem-se as cianobactérias que produzem EPS constituídos essencialmente por polissacarídios ricos em ácidos urónicos com cargas negativas o que lhes confere a capacidade de quelatar catiões metálicos tóxicos a pH neutro. A utilização de EPS apresenta como vantagens em relação aos métodos tradicionais a rápida cinética de remoção do metal, a capacidade de remover os iões metálicos quando presentes em concentrações baixas, e a possibilidade de tratar águas contaminadas simultaneamente com vários metais. Os EPS de cianobactérias possuem uma maior variedade de monómeros quando comparados com os de outros microrganismos. Esta característica aumenta o número de conformações possíveis, elevando assim as possibilidades de obter um polímero com características adequadas ao efluente a tratar. O objectivo do nosso projecto é optimizar a produção e as características dos polímeros extracelulares de cianobactérias de modo a estabelecer um sistema viável, baseado em cianobactérias ou nos EPS isolados, para a remoção de metais pesados de águas poluídas. Para estudos iniciais escolhemos como organismo modelo a cianobactéria unicelular Gloeothece sp. PCC 6909/ATCC 27152, cuja estrutura colonial se deve à existência de uma bainha bem definida de EPS em redor das células, e para o qual existe um mutante sem bainha (produzido por mutagénese química por S. Shestakov, Moscovo e cedido por L. Stal, NIOO-KNAW, Holanda). Quer a estirpe selvagem, quer o mutante foram avaliados no que diz respeito à capacidade de remover iões cobre em solução aquosa. Inesperadamente, o mutante mostrou-se mais eficaz na remoção do metal. Estudos de microscopia óptica e electrónica revelaram que a estirpe selvagem produz quer uma cápsula amorfa quer uma bainha, enquanto que no mutante estas estruturas estão ausentes. Verificou-se, no entanto, que o mutante é capaz de sintetizar e excretar maior quantidade de polissacarídios com propriedades ácidas do que a estirpe selvagem. Estes resultados preliminares sugerem que os grupos carboxílicos são, muito provavelmente, os principais locais de ligação do metal. A análise dos perfis de proteínas da estirpe selvagem e do mutante mostrou que o mutante é deficiente em, pelo menos, uma das enzimas envolvidas na síntese de EPS, a dTDP-glucose 4,6-desidratase, o que pode explicar a ausência de uma bainha estruturada