Notas sobre a Academia das Ciências de Lisboa SALÃO NOBRE | Antiga Biblioteca do Convento de Jesus O advento de D. Maria I permitiu o regresso a Portugal de personalidades que haviam sido compelidas a instalar-se no estrangeiro. Entre elas o (2.º) Duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança, após longos anos em que, apesar de solicitações suas nesse sentido, nunca foi autorizado a voltar. Circulou, entretanto, em diversos países (Grã-Bretanha, França, estados alemães e italianos, Áustria, Rússia, etc.). realçar a parceria com o Convento de Nossa Senhora de Jesus, da Ordem Terceira de S. Francisco, o qual, apesar dos elevados prejuízos em resultado do evento dramático que foi o terramoto de 1755, desenvolveu notável obra de reconstrução e desenvolvimento de atividades diversas. Desde logo lhe foram facultados meios de ação, incluindo a criação de uma tipografia. As Memórias da Academia, entre muitas outras publicações, espelham o estado de desenvolvimento científico, literário e económico do País através dos tempos. É no âmbito do Convento que o Padre José Mayne fundou (1792) a Aula Maynense (com aulas que decorriam numa sala ainda hoje utilizada): estava a nascer Ensino de qualidade, abrangendo nomeadamente as Ciências Naturais, Física, Química e Astronomia, em Lisboa, apesar de obstáculos ativos. Para mais, foi aí criado o ensino da Língua Árabe, este em relação com outro vulto eminente, o depois Arcebispo de Évora Frei Manoel do Cenáculo. Vários membros do Convento o foram também da Academia. Concorreu para o apoio do Ensino a criação de uma Biblioteca particularmente rica, a qual veio depois a ser incorporada conjuntamente com a da Academia. Foi inaugurada em 1795 pelo futuro D. João VI e pela Princesa Carlota Joaquina. Ficou instalada num acrescento do Convento construído no decurso de um período de reparações necessárias em resultado do Terramoto de 1755. São inumeráveis as ações que a Academia desenvolveu através da atuação de muitos dos seus sócios. Além de apresentar resultados de Investigação, há que assinalar ações de caráter pedagógico. É de A História da Academia decorreu com sobressaltos. Um foi, sem dúvida, o retiro do Presidente, o Duque de Lafões, para o seu Palácio do Grilo, e morte subsequente (1806). Depois, toda a crise resultante O gosto do Duque pelo conhecimento resultou. Liderou a constituição, consumada em 24 de dezembro de 1779, da Academia Real das Ciências de Lisboa, acolitado por um cientista de mérito, o abade Corrêa da Serra, entre outros. Pretendeu-se criar uma instituição votada ao cultivo da História e das Letras, mas pondo ênfase nas Ciências, incluindo as suas aplicações, e na Economia. Deve sublinhar-se que encontrou constante apoio por parte da Rainha. 57 LAZER SALA DAS SESSÕES | mostrando a mesa da Presidência, o busto do 1º Presidente, D. João Carlos de Bragança, 2º Duque de Lafões, assinado por Machado de Castro, e o retrato de D. Maria I. da Invasão comandada por Junot, que pretendeu ser eleito Presidente; a Academia, apesar de pressões colaboracionistas e ameaças, teve a coragem de não o satisfazer, limitando-se a elegê-lo Sócio Honorário. desempenhou papel decisivo na criação de instituições. Presidiram membros da casa Real, senão mesmo o Rei, enquanto a Presidência de facto era exercida por Académicos, na qualidade de VicePresidentes. A Academia veio a sofrer com as mudanças de política que se seguiram, apesar de algumas intervenções favoráveis. Continuou após a Proclamação da República, apesar dos ataques, decerto com motivações pessoais, movidos por Teófilo Braga, que extinguiu a Tipografia, não obstante os relevantes serviços que prestou, além de tentar a destruição da Academia das Ciências através da criação de uma instituição paralela, que aliás não vingou. Em 1834, com a extinção dos conventos, o de Jesus foi outorgado por D. Maria II à Academia das Ciências, resolvendo o problema da instalação após uma sucessão de alojamentos provisórios. Mesmo assim, a transferência, concluída uns dois anos depois, não foi isenta de problemas, o pior dos quais terá sido a ocupação parcial por uma unidade da Guarda Municipal, que inclusivamente fazia exercícios e permitia a entrada de pessoas várias. Em 1838 aderiu à revolta dos Arsenalistas, que viria a ser derrotada pelas forças leais à Rainha e ao Governo; após combates com pesadas baixas, um dos quais aqui decorreu. A atividade prosseguiu e desenvolveu-se com apreciáveis resultados e intenso intercâmbio com instituições de outros países. A Academia POTE DE BOTICA, séc. XVII | Relíquia do Convento de Jesus 58 A Academia das Ciências possui um Património particularmente rico, quer quanto a instalações, quer no que concerne ao Museu e à Biblioteca. Dá testemunho de duas histórias: a sua própria e a do Convento, o que, no conjunto, remonta ao século XVI. Enfim, continua ativa, apesar das dificuldades. MIGUEL TELLES ANTUNES Académico Efetivo Director do Museu Maynense TATU | Museu da Academia das Ciências de Lisboa: tatu, proveniente da grande expedição ao Brasil (1783-1792) liderada por Alexandre Rodrigues Ferreira.