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Economia
Desenvolvimento sustentável
Barrageiros na Amazônia
É imperioso dar andamento às hidrelétricas no Norte e Centro-Oeste, respeitando as leis ambientais e os
indígenas
por Delfim Netto — publicado 23/04/2012 09:58, última modificação 23/04/2012 09:58
Organismos oficiais responsáveis pelo planejamento
do setor energético estimam que mais de dois terços (70%, aproximadamente) do potencial ainda inexplorado para a produção de
energia hidrelétrica no Brasil está na Amazônia. É nessa imensa região, onde “a terra brota das águas” (na feliz descoberta do
jornalista Juan de Onis, veterano correspondente da imprensa europeia entre nós), que os brasileiros vão consolidar a autonomia
energética que ajudará a garantir prosperidade, a integração econômica e um lugar no primeiro escalão das nações que vão dar
as cartas neste mundo do século XXI.
O aproveitamento desse potencial recebeu um forte impulso em janeiro de 2011 com o início das obras das hidrelétricas de Santo
Antônio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, que terão capacidade de acrescentar 6 mil megawatts à matriz energética
brasileira. A primeira tem geração prevista para 2015, enquanto Jirau já está com 70% da obra em andamento e deve iniciar os
testes operacionais no primeiro trimestre de 2013. Com menos de dois anos de trabalho – enfrentando as difíceis condições da
Amazônia Oriental – a GDF Suez, empresa líder do consórcio Energia Sustentável do Brasil, preparava-se para começar os testes
de geração no segundo semestre de 2012. Teve de reprogramá-los por causa dos conflitos trabalhistas que interromperam as
atividades em duas ocasiões, já retomadas por sinal.
Na construção da Usina de Santo Antônio trabalham hoje 15 mil funcionários, a maioria ocupada nas obras civis. As obras da
Usina Hidrelétrica de Jirau geraram 25 mil empregos diretos no auge dos trabalhos de construção da barragem. Na fase atual são
16 mil, com a diminuição do volume das obras civis. Um número expressivo desses trabalhadores foi contratado após rápido
aprendizado, proporcionado pelas próprias empreiteiras. Dois aspectos importantes foram ignorados, de modo geral, nos relatos
da mídia quando da divulgação dos incidentes nos canteiros de obras.
O primeiro diz respeito às dificuldades das empreiteiras para encontrar trabalhadores com experiência nesse tipo de obra, os
chamados barrageiros, pelo simples fato de que entre 1985 (quando terminou a gigante Itaipu) e 2005 (quando o governo Lula
conseguiu derrotar a oposição à construção de usinas na Amazônia), o planejamento das hidrelétricas foi abandonado no Brasil.
Quem não se lembra do “apagão” energético de 2001? Em duas décadas sem obras importantes no setor, os barrageiros se
dispersaram. Um capital humano precioso foi desperdiçado.
Outro aspecto é a falta de referência às barreiras naturais representadas pela distância dessa região dos centros urbanos, onde o
trabalhador encontra o conforto a que está acostumado, com os problemas agravados pela necessidade de ficar longe da família,
dos amigos. Os antigos barrageiros tinham adquirido um know-how valioso que lhes permitia superar os desconfortos da vida
meio nômade.
No seu livro A História das Maiores Obras do País e dos Homens Que as Fizeram, Wilson Quintela, um executivo de grande
valor que presidiu a Construtora Camargo Corrêa, descreve os barrageiros: “Trata-se de alguns milhares de homens e mulheres,
de peões a engenheiros, de mestres de obra a cozinheiros que, à maneira dos antigos exércitos, se deslocam de barragem em
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barragem ao longo dos rios brasileiros, construindo as usinas que mantiveram o País aceso, com energia limpa, durante meio
século”.
Impõe-se observar a natureza desses problemas quando persiste entre nós uma forma de oposição retrógrada, que tem
encontrado meios de retardar (e até impedir) a exe-cução das obras projetadas para iluminar os povos amazônicos e possibilitar a
produção de manufaturas, inclusive para exportação. Há novos caminhos para chegar aos portos peruanos no Pacífico e aos
mercados do Caribe.
É imperioso dar andamento às obras das hidrelétricas de Belo Monte, no Xingu, no Rio Teles Pires, em Mato Grosso, e insistir na
liberação dos licenciamentos para o complexo de usinas em São Luís do Tapajós, em território paraense. E é importante manter
ocupados os novos barrageiros com o treinamento e a capacitação técnica que estão absorvendo na construção das usinas
pioneiras do Rio Madeira.
Os brasileiros querem o cum-primento das leis de proteção ambiental e a audiência autêntica dos povos indígenas, mas não têm
por que aceitar a chantagem de organizações financiadas com capital externo, cujo desejo, obviamente, não é o bem-estar dos
naturais da Amazônia.
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