REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA
ISSN 1519-5228
Volume 11 - Número 2 - 2º Semestre 2011
Levantamento de briófitas do distrito Bananal, município de Governador Edison
Lobão, Maranhão, Brasil
Ladisneyde Freitas Varão1; Iane Paula Rego Cunha2; Denilson Fernandes Peralta3
RESUMO
O Estado do Maranhão possui uma grande diversidade florística, porém apresenta poucas pesquisas
em relação á brioflora. O referido trabalho realizou o levantamento e a identificação taxonômica
das espécies de briófitas ocorrentes no distrito Bananal, município de Governador Edison Lobão,
estado do Maranhão. Foram identificadas 22 espécies e 19 gêneros distribuídos em 13 famílias. Em
se tratando da brioflora, é significante á realização de levantamentos como este, pois os dados de
registros contribuem para ampliar o conhecimento para a região.
Palavras-chave: Maranhão; taxonomia; briófitas.
Survey of bryophytes species from Bananal district, municipality of Governor Edison
Lobão, Maranhão, Brasil
ABSTRACT
The State of Maranhão has a great diversity of flora, but has little bryophytes researches. This work
is a survey of bryophytes species from Bananal district, municipality of Governor Edison Lobão,
Maranhão state. We identified 22 species and 19 genera in 13families. In the case of bryophytes, it
is significant to carry out surveys like this, because the data records contribute to increase
knowledge for the region.
Keywords: Maranhão; taxonomy; bryophytes.
1 INTRODUÇÃO
As briófitas lato sensu constituem o
segundo maior grupo de plantas terrestres
seguindo-se às plantas vasculares (BUCK,
2000), é um grupo taxonômico relativamente
grande, que se caracteriza por um ciclo de vida
com marcada alternância de gerações, das quais
a gametofítica é a fase duradoura e a
esporofítica apenas efêmera, isto é, exatamente
o contrário das pteridófitas (YANO, 2006).
As briófitas “lato sensu” têm grande
importância na flora brasileira, contribuindo
significativamente para a biodiversidade do
planeta. Estão intimamente relacionadas com a
dinâmica da maioria dos ecossistemas terrestres,
pois são importantes no balanço hídrico,
contribuindo na captação e manutenção da
umidade atmosférica, na prevenção da perda de
água, na retenção da umidade do solo, na
ciclagem de nutrientes e nas interações
ecológicas, fornecendo habitat para outros
organismos (LOPES, 2005).
88
Com a publicação dos catálogos de
musgos, antóceros e hepáticas (YANO, 1981;
1984; 1985; 1989) a distribuição das briófitas
nos estados brasileiros foi resumida e assim o
conhecimento sobre a ocorrência nos diferentes
estados do Brasil ficou mais rápida.
Estes catálogos muito contribuírem para
o conhecimento das espécies de briófitas e a
distribuição das mesmas no Brasil e dessa
maneira foi estimulada a intensificação dos
estudos taxonômicos e florísticos nas áreas
pouco conhecidas, sendo que estes trabalhos
sempre trazem um número significativo de
novas ocorrências de briófitas para diversos
estados e de novas citações para o país
(PERALTA; BORDIN; YANO, 2008).
O Brasil apresenta rica brioflora, com
cerca de 78% das espécies de briófitas
ocorrentes no neotrópico e 24% das espécies
que ocorrem no globo terrestre (YANO, 1996).
No Brasil, a maioria dos estudos sobre
briófitas é de caráter florístico, que registram
novas ocorrências e atualizam a distribuição
geográfica dos táxons. Para o Nordeste a mais
recente avaliação sobre a briologia foi feita por
Pôrto (1996).
De acordo com Shepherd (2003), os
estudos de briófitas para as diferentes regiões do
Brasil ainda são muito escassos. Praticamente
todos são de áreas muito restritas, não
permitindo um bom embasamento para discutir
a riqueza de espécies entre diferentes regiões
com detalhes.
Atualmente, já foram documentados a
ocorrência de 3.125 táxons para o Brasil, as
revisões taxonômicas globais de Bryophyta têm
reduzido ligeiramente esses números, em razão
principalmente de sinonimizações (GIULIETTI
et al., 2005).
Segundo os dados apresentados pela
Lista de Espécies da Flora do Brasil (2010),
atualmente são apresentados um total de 1.521
espécies de Briófitas. Conforme mostra a
Tabela 1.
Tabela 1 - Distribuição de espécies de briófitas no Brasil.
Divisão
Espécies
Distribuição em Gêneros
885
257
Musgos
625
132
Hepáticas
11
6
Antóceros
As briófitas são historicamente pouco
estudadas e coletadas, tornando-se fundamental
a divulgação das informações deste importante
acervo para o conhecimento da diversidade
(YANO; BORDIN; PERALTA, 2009).
Tendo como base os trabalhos já
realizados e observando a deficiência de estudos
taxonômicos sobre brioflora, este trabalho visou
realizar um levantamento das espécies
ocorrentes no Município de Governador Edison
Lobão – MA, além de contribuir de maneira
precisa para o conhecimento da brioflora,
incentivando cada vez mais a exploração do país
em relação às briófitas, com a ampliação da
distribuição geográfica brasileira, em locais de
pouquíssimos resultados como o estado do
Maranhão.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de trabalho
A pesquisa foi realizada no Distrito
bananal, ao qual este pertence ao município de
Governador Edison Lobão, região central do
estado do Maranhão (IBGE 2005) .A sua
extensão é de 615,85 km2. Este município
limita-se ao Norte com o município de
Davinópolis, a Leste com os municípios de
Buritirana e Montes Altos; a Oeste com o
Estado de Tocantins e ao Sul com os municípios
de Ribamar Fiquene e Montes Altos.
O local de coleta apresenta vegetação
típica de cerrado, formado por árvores tortuosas,
pequenas e de aparência secas isoladas ou
agrupadas de folhas grossas e apresenta uma
grande diversidade de flora.
2.2 Métodos
Foram
realizadas
6
coletas
aleatoriamente em pontos situados a áreas de
cerrado aberto, apresentando variável vegetação
alterada por ações antrópicas, próximo a riachos
e chácaras, sendo principalmente realizadas em
períodos chuvosos de fevereiro a setembro de
2010, as amostras foram coletadas seguindo a
metodologia descrita por Lisboa (1993). De
diversos substratos como: solo, rocha, muro,
tronco de árvore viva ou em decomposição,
folhas e rio, sendo assim classificadas de acordo
89
com o substrato em corticícolas, epíxilas,
epífitas, rupícolas e terrícolas.
Quando
muito
aderidas,
foram
removidas com parte do substrato para melhor
preservação e evitar possíveis perdas de
estruturas. Em seguida os materiais foram
acondicionados em sacos de papel, onde foram
anotadas informações prévias como: coletor,
número de coleta, data, local e substrato. Todo
material foi seco dentro dos sacos em
temperatura ambiente. No caso de materiais
muito úmidos, os exemplares foram postos na
estufa em temperatura de 40-60C°. E
depositadas no Herbário “Maria Eneyda P.
Kauffman Fidalgo” (SP).
Dos materiais coletados foram retiradas
porções e separados, sendo re-hidratados sobre
lâmina de vidro com água e as estruturas foram
observadas e montadas em lâmina e lamínula
para uma análise detalhada morfológica e
anatômica. As análises taxonômicas das
espécies foram realizadas no Laboratório de
Biologia do Instituto de Ensino Superior do Sul
do Maranhão – UNISULMA\IESMA, e
confirmação por especialistas.
A identificação foi realizada com auxílio
de chaves de identificação e descrições em
literatura especializada. Os trabalhos utilizados
nas identificações foram: Lisboa (1993), Peralta
(2005), Bordin (2008), Yano (1981, 1992) e
Moraes (2006).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante as coletas realizadas obteve-se
um total de 139 amostras das quais foram
identificadas 13 famílias, 19 gêneros e 22
espécies listadas na Tabela 02. Sendo o grupo
melhor representado dos musgos, com 10 e com
predominância em relação às hepáticas com 3.
As famílias mais representadas de musgo foram
Sematophyllaceae com 4 espécies e Bryaceae
com 3 espécies, do grupo das hepáticas a
Lejeuneaceae com 2 gêneros e 4 espécies. As
famílias Bryaceae e Sematophyllaceae estão
entre as 15 principais encontradas em
inventários florístico de briófitas no neotrópico
(MORAES, 2006). As espécies mais freqüentes
representadas na família Sematophyllaceae
foram
Sematophyllum
subsimplex
e
Trichosteleum subdemissum, das quais estas
podem ser consideradas cosmopolitas. O grupo
das hepáticas teve como destaque a família
Lejeuneaceae com as espécies Acrolejeunea
torulosa, Lejeunea laeta, Lejeunea trinitensis.
Em relação à colonização das espécies, nos
campos de coletas foram encontradas
colonizando vários tipos de substratos sendo
assim classificadas de acordo com os mesmos,
sendo o número mais relevante de corticícolas,
visto que a disponibilidade desse substrato é o
mais frequente nos locais de coleta.
Tabela 2 - Listagem das espécies de briófitas encontradas no distrito bananal, município de Governador Edison Lobão
– MA. Arranjo taxonômico segundo Buck e Goffinet (2000).
Famílias
Bryaceae
Fissidentaceae
Hypnaceae
Jubulaceae
Lejeuneaceae
Leucobryaceae
Pilotrichaceae
Pottiaceae
Ricciaceae
Stereophyllaceae
Sematophyllaceae
Espécies
Brachymenium globosum A. Jaeger
Bryum caespiticium Hedwig.
Bryum apiculatum Schwägr.
Fissidens zollingerii Mont.
Isopterygium tenerifolium Mitt.
Frullania gibbosa Ness
Acrolejeunea torulosa (Lehm & Lindenb.) Schiffn.
Lejeunea glaucescensGottsche
Lejeunea laeta (Lehm & Lindenb.) Lehm & Lindenb.
Lejeunea trinitensis Lindenb.
Octoblepharum albidumHedw.
Callicostella pallida (Hornsch.) Angstr.
Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeger
Hyophiladelphus agrarius (Hedw.) R.H. Zander
Riccia stenophylla Spruce
Entodontopsis leucostega (Brid.) W.R. Buck
Pilosium chlorophyllum (Hornsch.) Müll. Hal.
Acroporium estrellae (Müll. Hal.) W.R. Buck & Schäf.-Verw.
Sematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt.
Material examinado
Varão 17
Varão 41
Varão 46
Varão 10
Varão 19
Varão 27
Varão 22
Varão 63
Varão 58
Varão 02
Varão 68
Varão 81
Varão 39
Varão 36
Varão 121
Varão 31
Varão134
Varão 132
Varão 54
90
Thuidiaceae
Taxithelium planum (Brid.) Mitt.
Trichosteleum subdemissum (Schimp. ex Besch.) A. Jaeger
Cyrtohypnum involvens (Hedw.) W.R. Buck & Crum.
Varão 12
Varão 51
Varão 132
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bryophyte Biology. Cambridge: Cambridge
University Press, 2000.
Com a realização do levantamento
brioflorístico, pode-se confirmar que há uma
grande diversidade na área estudada. Este
trabalho apresenta uma relevância significativa
no que se refere à brioflora, uma vez que a
realização da pesquisa possibilitou o registro de
09 novas ocorrências para o estado do
Maranhão, sendo estas: Acroporium estrellae
(Müll. Hal.), Brachymenium globosum (A.
Jaeg.),
Bryum
caespiticium
(Hedwig.),
Callicostella pallida (Hornsch.) Ångstr.,
Pilosium chlorophyllum (Hornsch.) Müll. Hal.,
Frullania gibbosa (Ness), Lejeunea glaucescens
(Gottsche), Lejeunea laeta (Lehm & Lindenb.),
Lejeunea trinitensis (Lindenb.).
Com base nos resultados obtidos, pode
se ressaltar que apesar do pouco conhecimento
relacionados a briófitas do cerrado é um número
minimo relevante se comparados com outros
trabalhos, visto que há carência de mais estudos
briofloristicos nesta área para dar maior
embasamento. Entre os trabalhos relacionados
às briófitas de cerrado de outras regiões do país
podem ser citados o de Vilas Bôas-Bastos &
Bastos (1998), que pertence a uma área de
cerrado de Alagoinhas, Bahia; o de Visnadi &
Vital (2001) e Visnadi (2004), que se referem à
Reserva Biológica e Estação Experimental de
Mogi-Guaçu, São Paulo.
Portanto faz-se
necessário levantamentos como este, visto que a
taxonomia é uma ciência essencial da qual
outras necessitam e os novos dados contribuem
para ampliar o conhecimento da diversidade
local e para a região.
Forzza, R.C.; Leitman, P.M.; Costa, A.F.;
Carvalho Jr., A.A.; Peixoto, A.L.; Walter,
B.M.T.; Bicudo, C.; Zappi, D.; Costa, D.P.;
Lleras, E.; Martinelli, G.; Lima, H.C.; Prado, J.;
Stehmann, J.R.; Baumgratz, J.F.A.; Pirani, J.R.;
Sylvestre, L.; Maia, L.C.; Lohmann, L.G.;
Queiroz, L.P.; Silveira, M.; Coelho, M.N.;
Mamede, M.C.; Bastos, M.N.C.; Morim, M.P.;
Barbosa, M.R.; Menezes, M.; Hopkins, M.;
Secco, R.; Cavalcanti, T.B.; Souza, V.C. 2010.
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Disponível
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acesso
04/10/2011.
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______________________________________
[1] - Ladisneyde Freitas Varão
Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pelo
Instituto Superior de Ensino do Sul do Maranhão (Iesma)
([email protected])
[2] - Iane Paula Rego Cunha
Doutoranda em Botânica pela Universidade Federal de
Pernambuco, mestre em
Ciências Biológicas (Unesp/Botucatu), graduada em
Ciências, professora de Botânica
Criptogâmica
e
Fisiologia
Vegetal
([email protected])
[3] - Denilson Fernandes Peralta
Doutor pelo Instituto de Botânica, IBT, Brasil. Mestre
pelo Instituto de Botânica, IBT, Brasil, Graduado em
Licenciatura em Ciências Biológicas, pesquisador do
Instituto
de
Botânica
de
São
Paulo
([email protected])
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1996
92
89
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