Euclides Oliveira
Uruaçu
O Ministério Público (MP) e o Departamento de Meio Ambiente e Turismo (Dematur) da
Prefeitura de Uruaçu estão no aguardo de um posicionamento oficial da Agência Ambiental
de Goiás, para que sejam conhecidas as reais causas da proliferação de uma espécie de
vegetação aquática, num trecho de seis quilômetros do Rio Passa Três, principal afluente da
cidade. A impressionante ‘cobertura vegetal’ deixou a água do rio praticamente invisível
nas proximidades das tubulações da Estação de Tratamento de Água da Saneago na cidade,
localizada abaixo de uma ponte na rodovia BR-153, nas proximidades do Laticínio
Leitbom.
“Nossa preocupação, nesse primeiro momento, é conseguir retirar todas essas plantas nas
proximidades das tubulações de captação de água, para tentar minimizar o problema. Com
os exames em mãos, poderemos buscar os responsáveis para que nos garantam uma ajuda
efetiva para resolver a questão. Vamos tentar fazer isso de todas as formas, em prol da
qualidade da água dos córregos que cortam a cidade”, explicou o diretor do Dematur,
Rogério Pacheco.
A ação de retirada parcial da vegetação suspeita contou com a participação de uma
força-tarefa, reunindo integrantes da Associação de Barqueiros do Lago Serra da Mesa
(Acbalse); da Associação dos Guias de Turismo de Uruaçu; da Saneago; do Dematur; das
secretarias de Obras e de Saúde da prefeitura; do Consórcio Intermunicipal de
Desenvolvimento Integrado Serra da Mesa/Cidisem); e da ONG Geo Ambiente, de
Campinorte. Os vereadores Edílson Bispo da Silva, o sargento Bispo (PR); Alacir Freitas
Carvalho (PTB); e João Aparecido de Souza (PMDB), o João da Saúde, que preside a
Comissão de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos da Câmara Municipal de Uruaçu;
além do gerente da Saneago de Uruaçu, Valmy Custódio Freitas, também estiveram no
local.
Na manhã de sexta-feira (15), o Diário do Norte esteve no local. Com o auxílio de uma
das duas canoas motorizadas utilizadas para a limpeza emergencial em parte do rio, a
reportagem percorreu vários trechos do Rio Passa Três e registrou imagens desoladoras. De
acordo com Pacheco, a prefeita Marisa dos Santos Araújo (PMDB), tão logo foi informada
do problema, acionou todos os órgãos que cuidam das questões relativas ao meio-ambiente,
nas esferas estadual e federal; e também o promotor do MP em Uruaçu, Afonso Antonio
Gonçalves Filho.
A Agência Ambiental, segundo o diretor do Dematur, enviou dois técnicos a Uruaçu, para
coletar amostras das plantas. O resultado, entretanto, ainda não ficou pronto. O promotor,
por seu turno oficiou a Saneago para que realizasse uma análise da qualidade da água e do
tipo de alga existente no leito do rio. Na sexta-feira (8), em Goiânia, a concessionária
emitiu um “Parecer Hidrobiológico” sobre a situação do Rio Passa Três, que foi assinado
pela supervisora do Laboratório de Água da Saneago, Dijanir do Espírito Santo; e pela
bióloga Cristina Monteiro dos Santos. A coleta das amostras havia sido feita no dia 30 de
maio.
No documento, as profissionais atestam que as plantas encontradas no rio são ‘macrófitas
aquáticas’ (denonimação técnica) da variedade salvínia, do grupo das pteridófitas. Segundo
a Saneago, a planta é de rápido crescimento, mas não possui capacidade tóxica. “(...) A
preocupação com esta planta está relacionada à capacidade de entupimento da canalização,
danos à bomba e entupimento nos filtros. Ao completaram seu ciclo de vida e morrerem,
devolvem matéria orgânica à água, contribuindo para o aumento dos níveis de nitrogênio e
fósforo. Alem disso, faz sombreamento no corpo de água, levando à morte da vida aquática,
desencadeando desequilíbrio ecológico (...)”, atesta o parecer.
O laudo ainda recomenda que as salvínias sejam retiradas mecanicamente e depositadas em
áreas que não sejam as margens do próprio manancial, solicitando também a realização de
um monitoramento físico-químico dos níveis de turbidez e de pH (Potencial
Hidrogeniônico, que varia numa escala de 0 a 14, sendo que o índice 7 representa a absoluta
neutralidade e é considerado o PH ideal para o organismo).
A resposta da Saneago representou alívio para Rogério Pacheco, inicialmente preocupado
com a suposta existência de algas azuis em Uruaçu. Essa variedade é encontrada mais
comumente em locais onde há grande concentração de indústrias e população elevada,
resultando na produção de maior quantidade de poluentes orgânicos.
O promotor do MP também esteve no local na manhã da última sexta-feira, acompanhando
o trabalho. Em entrevista exclusiva ao DN, Afonso relatou que também fez uma requisição
ao escritório central de Furnas Centrais Elétricas, no Rio de Janeiro, para que a empresa
(que integra o consórcio responsável pela construção da UHE Serra da Mesa) faça um
acompanhamento da proliferação das macrófitas no Rio Passa Três, a partir de agora.
“Num primeiro momento, essa solicitação não foi de caráter forçado, mas no sentido de
conseguirmos apoio de pessoal ou mesmo logístico-financeiro. Há certa suspeita de que
essa proliferação imensa esteja sendo causada por um processo de putrefação de capim e de
madeiras que ficaram submersas com o enchimento do Lago Serra da Mesa. Por isso,
estamos esperando esses resultados técnico-periciais (da Agência Ambiental) para que
possamos direcionar um procedimento judicial à Furnas, se for o caso”, afirmou o
representante do Ministério Público.
Fora isso, o promotor também solicitou que o escritório regional do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Uruaçu fizessem uma
vistoria in-loco no sistema de tratamento de efluentes da empresa Leitbom, que também foi
fotografado pelo Dematur. Segundo Afonso, os levantamentos apontaram que o sistema
está em perfeitas condições, funcionando em caráter regular.
Todavia, o promotor determinou a suspensão do escoamento dos resíduos do laticínio para
o leito do Rio Passa Três, até que os estudos totalmente concluídos. A hipótese, nesse caso,
ainda de acordo com Afonso, trata da possibilidade de que esse resíduo (uma espécie de
soro) estaria servindo como nutriente para as algas, ‘alimentando’ as plantas aquáticas e
facilitando a proliferação das mesmas.
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(MP) e o Departamento de Meio Ambiente e Turismo (Dematur)