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PUBLICADA NO DPL DO DIA 08/11/13
TRIGÉSIMA QUARTA SESSÃO ESPECIAL DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA SÉTIMA LEGISLATURA, REALIZADA EM 29 DE OUTUBRO DE 2013.
ÀS DEZENOVE HORAS E TRINTA E TRÊS MINUTOS O SENHOR DEPUTADO DOUTOR
HÉRCULES OCUPA A CADEIRA DA PRESIDÊNCIA.
O SR. CERIMONIALISTA – (FRANCIS TRISTÃO) – Senhoras e Senhores, Deputados presentes,
telespectadores da TV Assembleia, boa noite. É com satisfação que a Assembleia Legislativa do Estado do Espírito
Santo recebe todos para a Sessão Especial para discutir e debater o trabalho dos motoristas de ambulância.
Já se encontra à Mesa o Senhor Deputado Doutor Hércules, para os procedimentos regimentais de abertura
desta sessão.
O SR. PRESIDENTE - (DOUTOR HÉRCULES) – Invocando a proteção de Deus, declaro aberta a
sessão e farei a leitura de um versículo da Bíblia. (Pausa)
(O Senhor Deputado Doutor Hércules lê João, 14:6)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) - O Presidente, de ofício, dispensa a leitura da ata da
sessão anterior. (Pausa)
Informo aos Senhores Deputados e demais presentes que esta sessão é especial, para discutir e debater as
condições de trabalho dos motoristas de ambulância.
O SR. CERIMONIALISTA – (FRANCIS TRISTÃO) – É convidado a compor a Mesa o Senhor Daniel
Francisco da Silva, presidente do Sindicato dos Motoristas e Condutores de Ambulância do Estado do Espírito
Santo; o Senhor Alex Douglas dos Santos, presidente da Associação Brasileira dos Motoristas e Condutores de
Ambulância, Abramca; o Senhor Delson de Carvalho Soares, representando o Corregedor do Conselho Regional de
Medicina do Estado do Espírito Santo; e o Senhor Tenente-Coronel Adeilton Pavani, representando o Senhor
Coronel Edmilton Ribeiro Aguiar Junior, Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito
Santo. (Pausa)
(Tomam assento à Mesa os referidos convidados)
O SR. CERIMONIALISTA – (FRANCIS TRISTÃO) - Convido todos para, de pé, ouvirmos a execução
do Hino Nacional Brasileiro. (Pausa)
(É executado o Hino Nacional)
O SR. CERIMONIALISTA – (FRANCIS TRISTÃO) – Agradecemos a todos a presença e informamos
que as fotos da sessão de hoje estarão disponíveis nos seguintes locais: facebook - facebook.com/DoutorHercules;
na fan page - facebook.com/deputadoestadual.doutorhercules; no twitter - @drhercules; e no site
www.drhercules.com.
Neste momento passo a palavra ao proponente desta sessão e presidente da Comissão de Saúde da
Assembleia Legislativa, o Senhor Deputado Estadual Doutor Hércules, que após o seu pronunciamento conduzirá
os trabalhos desta sessão especial.
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – (Sem revisão do orador) – Boa noite a todos. Um
abraço no nosso querido Daniel Francisco da Silva, do Sindicato dos Motoristas Condutores de Ambulância; no
Alex Douglas dos Santos, Presidente da Associação Brasileira dos Motoristas e Condutores de Ambulância, com
quem estivemos juntos no HPM, há meses; no Tenente-Coronel Adeilton Costa Pavani, representando o
Comandante do Corpo de Bombeiros Militar; no meu colega e grande amigo Doutor Delson de Carvalho Soares,
Corregedor do Conselho Regional de Medicina.
Boa noite a todos os telespectadores do Canal 12, TV Assembleia, e do Canal 02, TV Educativa.
É com muita felicidade que realizamos esta sessão especial. Estamos nesta sessão para debater os direitos
dos motoristas de ambulância e pensar alternativas para melhorar o trabalho desses importantes profissionais.
Antes de entrar nesse tema, tenho que contar uma história para vocês. Um dos maiores orgulhos da minha
vida foi ter atuado como motorista de ambulância, ainda em Cachoeiro de Itapemirim, no ano de 1965, no tempo
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que era o Samdu – Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência. Os pacientes eram atendidos em casa
com a maleta de medicamentos e seringa.
Os médicos gostavam muito quando eu dirigia para eles, porque médico não sabe aplicar injeção, não é
Delson. Eu aplicava injeção para eles e era uma coisa muito interessante. Como é preciso mostrar a prova, está aqui
minha carteira profissional, assinada como motorista nível oito, em 1965, no Samdu de Cachoeiro de Itapemirim.
Esta é a carteira original. Tirei cópia aumentada para a televisão mostrar a foto, ainda muito cabeludo. É
verdade, tem gente que não acredita, mas é verdade. Está aqui a prova: esta carteira, de 1965.
Sendo assim, tenho muito orgulho de hoje estar nesta sessão falando de uma categoria tão importante que é
a de motorista de ambulância. Não é Zezinho taxista? É Zezinho taxista, mas também é motorista de ambulância do
Hospital Antônio Bezerra de Faria.
Atendíamos as pessoas em casa. A importância do trabalho do motorista de ambulância é fundamental para
salvar a vida de todos nós e o tratamento deste profissional deve ser respeitado e valorizado como membro da
equipe de socorro médico. Costumamos falar equipe médica, ou profissional paramédico, mas não existe esse
profissional. Somos todos para o paciente. Não tem ninguém mais importante nesse contexto. O médico faz o
diagnóstico, faz a indicação, os tratamentos, mas, na verdade, ele não é a figura mais importante no contexto da
saúde. Somos todos nós, um bloco: atendente, técnico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, enfim, todos os
profissionais de saúde são importantes nesse contexto. Assim como o motorista que transporta carga, desculpemme por usar o termo carga, mas transporta a carga mais importante que existe, o ser humano.
Contudo, não estamos nesta sessão somente para destacar a importância do trabalho dos motoristas e
condutores de ambulância, mas, sobretudo, para reivindicar melhores condições de trabalho, melhor remuneração,
mais atenção e mais respeito dos gestores da saúde, tanto do serviço público ou da iniciativa privada.
Fomos procurado pelos representantes do Sindmaes – Sindicato dos Motoristas Condutores de Ambulância
do Espírito Santo –, e nos foram relatadas as condições adversas que os Senhores estão enfrentando de trabalho
duro no dia a dia.
Desde logo, coloquei-me à disposição para atuar perante o Governo do Estado, Departamento Estadual de
Trânsito do Espírito Santo, Detran, Associação dos Municípios do Estado do Espírito Santo, Ministério Público do
Trabalho e demais entidades, para que todas as normas e portarias que regulam a atividade de motorista condutor
de ambulância sejam respeitadas na prática, pois não podemos aceitar ambulâncias sem técnicos e carros fora do
padrão.
É inadmissível que o motorista condutor de ambulância trafegue sozinho. Preciso abrir parênteses: em certa
ocasião, no Município de Cachoeiro de Itapemirim, no bairro Valão, o plantonista mandou-me buscar uma gestante
em casa, em um lugar em que não havia luz na época, e fui sozinho. Após ter chegado ao local, enquanto estava
retornando, a paciente começou a gritar dentro do carro. Parei o carro. A luzinha do teto da ambulância também
não funcionou. E o nenê começou a nascer. Tive que fazer um parto dentro da ambulância. Mas como fazer o
parto? A única coisa que fiz foi orientar a criança a sair, pegar a criança e colocar em cima do colo da mãe e com o
cordão umbilical ainda agarrado à placenta, tive de correr aproximadamente centro e quarenta quilômetros por
minuto para chegar ao Hospital e o médico acabar de fazer o parto. É isso que o motorista de ambulância faz. E faz
até hoje, infelizmente. Estamos falando da saúde e da integridade física das pessoas.
Dirigir e cuidar do paciente são duas funções importantes que não podem ser exercidas ao mesmo tempo. O
motorista deve dirigir. O enfermeiro, o médico ou o técnico deve acompanhar o paciente dentro da ambulância.
Não é possível bater o escanteio e fazer o gol ao mesmo tempo, comparando essa situação ao futebol.
Outra situação incômoda é a cobrança de estacionamento de hospitais filantrópicos e a necessidade de
pagamento de pedágio. Mesmo com paciente em estado grave, deve-se parar no pedágio para pagar e poder passar.
Não podemos aceitar que o motorista seja obrigado a ficar parado no pedágio, enquanto o paciente agoniza dentro
da ambulância. Isso é um absurdo e deve mudar o quanto antes.
Também destaco como pauta de trabalho a questão da pontuação da Carteira Nacional de Habilitação,
CNH, dos condutores de ambulância, pois os mesmos dirigem sob a excludente de ilicitude, ou seja, no estrito
cumprimento do dever legal que possuem de dirigir, visando a salvar vidas humanas. As eventuais infrações de
trânsito cometidas são afastadas pela própria lei, conforme o teor do artigo 23, inciso III, do Código Penal.
Aproveito a oportunidade para fazer um comentário: é bom quando se fala e se tem a propriedade e o
testemunho da experiência de vida, conforme o que se passou. Sei que há três tipos de veículos que podem andar na
contramão. Um dos veículos é a ambulância; o segundo, o carro do Corpo de Bombeiros e o terceiro é o carro do
Presidente da República. Mas, certa vez, recebi advertência do médico, chefe do Posto do Serviço de Assistência
Médica Domiciliar e de Urgência, Samdu, do Município de Cachoeiro de Itapemirim, porque ultrapassei o carro em
que seguia um senhor, levando o Bispo. Naquela ocasião, fui advertido por excesso de velocidade. Mas como
sempre fui muito cricri, no que se refere a procurar meus direitos e de lutar...
Devo falar aos Senhores que faltando um mês apenas para terminar o Tiro de Guerra, no Município de
Cachoeiro do Itapemirim, um sargento encrencou comigo. O sargento era o dono da Cidade, obrigava inclusive
soldado a limpar peixes para sua mulher. Insurgia-me em relação a isso. Tive um problema com o sargento. Li o
Regulamento Disciplinar do Exército, RDE, e fui punido. Mas não aceitei a punição. Por esse motivo fui para o Rio
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de Janeiro. Fiquei no Exército mais um ano por causa desse atrevimento de não baixar a cabeça quando eu tinha
razão. Dessa advertência que recebi do chefe do posto recorri em Brasília. Ganhei e foi retirada da minha carteira
essa advertência. Eu era estudante de Direito na época e fiz a defesa alegando que a ambulância não tem tipo de
velocidade, não podemos estabelecer a velocidade que ela deve andar, e não será o motorista que fará isso, mas sim
a necessidade de salvar a vida.
Contei essa história porque fui advertido, entrei na Justiça; recorri e ganhei. Assim como sofri mais um ano
no Exército - no Batalhão de Guarda, em 1959 –, saí do Tiro de Guerra, em Cachoeiro de Itapemirim, e fui para o
Rio de Janeiro, porque não aceitei a imposição absurda de um comandante do Tiro de Guerra.
Estou ao lado do Sindicato nesta luta. Vamos ao diretor do Detran e, se preciso for, vamos ao Governador
do Estado para acabar com esse absurdo.
Aproveito a oportunidade para lembrar nossa participação no 1.° Encontro dos Motoristas de Ambulâncias
do Espírito Santo, realizado no Hospital da Polícia Militar, em Vitória, em setembro deste ano. Lembro-me disso
perfeitamente.
O evento contou com a participação do Senador Paulo Paim, do Rio Grande do Sul; do Senhor Alex
Douglas, presidente da Associação Brasileira dos Motoristas Condutores de Ambulâncias; do Senhor Daniel
Francisco da Silva, presidente do Sindicato dos Motoristas e Condutores de Ambulância do Espírito Santo; e do
Senhor Fabiano Contarato, delegado da Delegacia de Delitos de Trânsito da Polícia Civil do Espírito Santo, que
tem sido um grande inspirador dos projetos de lei que apresentamos nesta Casa com relação, principalmente, ao
álcool e à direção.
Na oportunidade a categoria pediu respeito com a legislação e a regulamentação da profissão de motorista
de ambulância. Sobre essa questão, temos uma boa notícia. Foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e
Cidadania da Câmara Federal, no último dia 25 de setembro, o Projeto de Lei n.° 7.191/2010 que regulamenta a
profissão de motorista de ambulância.
Falta muito pouco para que a Lei seja sancionada e o motorista de ambulância conquiste mais essa vitória,
que estabelece, entre outros pontos, salário de mil e duzentos reais e jornada de doze horas de trabalho.
Acompanharemos de perto a sanção dessa Lei. Lutaremos pelo cumprimento dos direitos dos motoristas de
ambulância no Espírito Santo, atuando na Comissão de Saúde, sempre ao lado da categoria. Essa é a nossa
persistência.
É de minha autoria o projeto de lei que cria o Dia do Motorista de Ambulância. O projeto foi apresentado
por mim e agora aguardo sua aprovação.
Esse projeto foi inspirado pelos senhores, que nos solicitaram para que façamos um dia por ano para
debater essa questão.
O motorista de ambulância vive sob muita pressão e estresse. Vamos lutar em prol dessa categoria, ajudar
da melhor forma possível. Podem contar conosco!
Viva o motorista de ambulância! (Muito bem!) (Pausa)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) - Convido para compor a Mesa os Senhores Josué
José Celírio e Josiel Rodrigues Leonora, Vereadores pelo Município de Brejetuba e, também, o Senhor Antonio
Coutinho, presidente do Conselho Regional de Enfermagem – Coren/ES, sempre conosco. (Pausa)
(Tomam assento à Mesa as referidas autoridades)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) - Vamos ouvir agora a palavra do nosso querido
presidente do Sindicato dos Motoristas de Ambulância do Espírito Santo, o Senhor Daniel Francisco da Silva.
O SR. DANIEL FRANCISCO DA SILVA – (Sem revisão do orador) – Senhores e Senhoras, boa-noite!
Cumprimentamos o Tenente-Coronel Adeilton Costa Pavani, representante do Corpo de Bombeiros Militar; o
Senhor Alex Douglas dos Santos, presidente da Abramca; o Senhor Antônio Coutinho, representante do Conselho
Regional de Medicina; os Vereadores de Brejetuba, com os quais sempre mantenho contato por telefone, que estão
nos honrando com suas presenças; o Senhor Fábio Amaral, vice-presidente do Sindmaes; o Senhor Fábio Amaral; o
Senhor Gessi de Souza, o nosso tesoureiro; e o Senhor Secretário Uélito Márcio.
Senhores, sabem como me sinto neste exato momento? Realizado, por mais um dia de trabalho! Hoje, pude
acordar às três e meia da madrugada, pegar uma equipe médica e levar para uma captação de órgãos, onde um
paciente com aproximadamente vinte e oito anos foi a óbito, seus órgãos foram doados e vidas foram salvas em
Vitória, no Estado do Espírito Santo.
Cansativo? É, mas sinto-me realizado. Hoje tenho orgulho de falar que represento essa categoria de
motorista de ambulância. Não é fácil, Senhores! O pessoal do Corpo de Bombeiros mantém parceria conosco, o
pessoal do resgate têm feito um excelente trabalho.
Para o profissional médico dar sequência e terminar de fazer um bom trabalho, se o motorista de
ambulância e o socorrista não fizerem aquele trabalho inicial, com certeza, esse médico terá dificuldade em dar
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sequência a um bom trabalho, na chegada ao hospital. Acredito, Senhores, que o procedimento para um paciente
ser bem-atendido começa desde onde ele sofreu o acidente até à chegada ao hospital, onde o médico dará sequência
ao tratamento, seja cirúrgico, seja qual for.
Infelizmente, no Estado do Espírito Santo, vemos uma situação de descaso com o profissional motorista de
ambulância, seja com veículos, com cursos, com treinamentos; é o que tenho presenciado no meu Estado, o Estado
do Espírito Santo.
Quanto à questão de treinamentos, para um profissional conduzir uma ambulância tem que ter o curso de
APH, Atendimento Pré-Hospitalar, curso de direção de veículo de emergência e carteira D.
Nas minhas visitas ao interior do Estado, vejo que esses profissionais têm custeado esse curso do próprio
bolso, sendo que a prefeitura, Senhor Deputado Doutor Hércules, usa esses profissionais e não tem sequer a
preocupação de ver a qualificação dos mesmos.
A nossa intenção como sindicato é de buscar o apoio desta Casa de Leis. Na última vez que estive aqui,
falei sobre isso, pedi aos Senhores Deputados.
É um trabalho que não é fácil; um trabalho formiguinha. O prefeito quer sempre dar um jeitinho brasileiro,
quer se livrar do paciente. Até entendo o caos da saúde pública.
Isso acontece no Brasil inteiro. O prefeito e o secretário de Saúde, querem se livrar, digamos assim, ou
atender de imediato esse paciente. No Interior não tem recurso, então querem mandá-lo, transferi-lo para buscar
recurso na Capital.
O SR. PRESIDENTE - (DOUTOR HÉRCULES) – Senhor Daniel Francisco da Silva, permita-me um
aparte? Chamamos isso de rebocoterapia, quer dizer, faz-se o tratamento rebocando o paciente, tirando-o do seu
município de forma que essa carga fica sobre o motorista de ambulância, que não tem hora para almoçar, para
parar, nem para dormir.
O SR. DANIEL FRANCISCO DA SILVA – Sim, Doutor Hércules, o prefeito quer fazer, o secretário de
Saúde quer se livrar do paciente de imediato e nem com a qualificação desses profissionais querem ter trabalho.
Sou profissional do Samu 192 e acho que tenho alguma coisa em comum com o Doutor Hércules, porque
fui injustiçado do Samu 192.
Com o termômetro que medimos a temperatura do paciente, medi no painel da ambulância e deu quarenta e
oito graus. Isso, Senhores, com a remessa de ambulância 2004, as primeiras ambulâncias Samu 192, que chegaram
a Vitória, no Estado do Espírito Santo. Estávamos de macacão, um calor tremendo, os Senhores não têm noção. Ia
para o atendimento e abaixava o macacão para preservar minha saúde. Meu chefe me chamou e questionou isso.
Disse ao chefe que para eu trabalhar com uma ambulância, tenho que ter um conforto, ar condicionado. Isso é
prejudicial, Senhores, até para um paciente hipertenso, porque quando se coloca um paciente dentro de uma
ambulância com quarenta e oito graus, a tendência é sua pressão arterial elevar mais ainda.
Doutor Hércules, no Samu 192, até esperávamos alguém do Ministério Público porque estamos tomando
algumas atitudes. Desse sofrimento falo no Brasil todo. Temos uma carga horária de doze horas de trabalho a ser
cumprida. Segundo o Ministério do Trabalho é irregular, é excessiva. Cumpri com minha carga horária, no dia 02
de outubro desse mês. Dei uma tolerância de quinze minutos e falei à técnica de enfermagem da noite, que já havia
assumido a unidade, que eu estava largando o plantão. Ela me pediu para esperar avisar à central; avisou e, depois
de quarenta minutos, apareceu uma rendição para mim.
Estava com meu filho, um garoto de nove anos, fui pegá-lo na escola. Na semana seguinte, recebi uma
advertência por abandonar a ambulância. Senhores, o que é mais importante? A vida na rua de um motoqueiro, por
exemplo, ou do meu filho na escola? Abandonar incapaz é crime e é meu filho.
Então, os Senhores veem o serviço do Samu funcionando direitinho, mas existe muita coisa por trás,
Doutor Hércules. A sociedade precisa saber disso: os trabalhadores do Samu trabalham sob pressão. Não só no
Samu. Não quero fugir à ética, mas tenho reparado isso também em outros lugares. Fui visitar um município em
que o motorista de ambulância foi remanejado da saúde porque se filiou ao sindicato. Mas isso, Doutor Hércules,
trataremos na reunião com as lideranças dos municípios e prefeitos. Pediremos o apoio de V. Ex.ª para fazermos
isso de forma bem transparente, orientando os prefeitos, orientando o secretário de Saúde. Isso terá sucesso para o
Sindmaes, o Sindicato dos Motoristas Condutores de Ambulâncias do Espírito Santo.
Agradeço de coração ao Doutor Hércules. Tivemos nossa plenária nacional em Belo Horizonte e adotamos
o Deputado Federal Onofre Santo Agostini, como o pai dos motoristas de ambulância. E vejo as características de
V. Ex.ª no Estado do Espírito Santo, principalmente V. Ex.ª que conduziu um veículo de emergência, uma
ambulância. V. Ex.ª não foge aos padrões.
V. Ex.ª agiu mais do que um pai abraçando o Sindmaes, a diretoria, e vendo as nossas necessidades. E
aquela situação que V. Ex.ª disse sobre a ambulância no interior, tenho me deparado com isso. Bato nessa tecla. É
um trabalho incessante, cansativo? É. Mas bato na tecla: os carros de emergência, os veículos básicos,
intermediários e veículos de UTI, os prefeitos estão criando uma nova modalidade fora dos padrões de trânsito.
O veículo básico é o motorista de ambulância com o técnico de enfermagem; o intermediário, o carro dois,
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é o enfermeiro e o motorista; a UTI, o médico, o enfermeiro e o motorista de ambulância. Aí os prefeitos e os
secretários de Saúde, no jeitinho brasileiro, estão criando a ambulância com motorista e um celular, para ficarem
vinte e quatro horas de plantão nos municípios do interior do Estado do Espírito Santo, Senhor Alex Douglas. Não
sei se no Município de Brejetuba tem isso, Senhores Vereadores. Mas a coisa está virando moda.
Pergunto aos Senhores e ao Senhor Deputado Doutor Hércules: como essa pessoa vai ambuzar, massagear
e dirigir ao mesmo tempo? Senhores, parada cardíaca não tem hora para acontecer. Esse motorista está no interior,
na sua base com um celular, que quando toca de madrugada, ele socorre e vai atender o paciente. Ele pode se
deparar com qualquer situação. Quando o meu telefone toca e estou no meu plantão durante doze horas, estou
parado para dirigir, para fazer qualquer tipo de atendimento, seja ele de baleado, de esfaqueado, queda da própria
altura ou de dez ou onze metros, e aí, é claro, dependendo a gravidade a UTI chegará primeiro. Assim, Senhores,
essa é a realidade do profissional motorista de ambulância. E não entrarei em detalhes na questão de salários, de
horas extras, Senhor Deputado Doutor Hércules.
Há empresas que dão uma hora de almoço para o trabalhador e só querem remunerar, ou seja, o trabalhador
só será remunerado se ele tiver atendimento. Se não tiver atendimento... Isso é chamado de hora intrajornada. E
nós, como sindicato, nossos advogados, Doutor Ozielson Santos Souza, por motivo de força maior não compareceu
ainda, o trânsito estava ruim e disse isso quando me ligou e mandou mensagem, estamos de olho nessa situação.
O Sindmaes está situado à Avenida Vitória, n.º 2.590, à disposição dos Senhores para quaisquer
informações, pois trabalhamos com estatísticas e com números. Agradeço aos parceiros, ao Corpo de Bombeiros, à
Defesa Civil, e sabemos que cada um ocupa o seu papel. Numa colisão com encarceramento, o Corpo de
Bombeiros desencarcera e passa para o Samu. E se alguma ambulância estiver passando é obrigação dessa
ambulância fazer o atendimento. Mais uma vez, Senhores, muito obrigado e boa noite. (Muito bem!)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – Antes de chamar o próximo orador, faço um
esclarecimento. O Senhor Daniel Francisco da Silva falou sobre ambuzar e, naturalmente, tem muita gente que não
conhece o termo, e algumas pessoas em casa também. Ambu é um aparelho de ressuscitação, é aquela máscara com
um balão que se põe no rosto. E aí se tem o que se chama de ambuzar. Assim, para que as pessoas não façam
confusão de ambuzar com abusar, esclareço isso, porque nem todos têm a obrigação de saber.
Convido para fazer uso da palavra o Senhor Alex Douglas, presidente da Associação Brasileira dos
Motoristas e Condutores de Ambulância.
O SR. ALEX DOUGLAS – (Sem revisão do orador) – Boa noite às Senhoras e aos Senhores, à Mesa, ao
Senhor Deputado Doutor Hércules. Obrigado pela oportunidade.
O que está acontecendo hoje na Assembleia Legislativa é um momento único para os motoristas e
condutores de ambulância do Estado do Espírito Santo.
Estive conversando hoje à tarde com o nobre pai nacional dos condutores de ambulância, Deputado Federal
Onofre Santo Agostini, e S. Ex.ª me autorizou a falar muito obrigado a V. Ex.ª, Senhor Presidente Doutor Hércules.
V. Ex.ª está sendo o pai dos motoristas e condutores de ambulância do Estado do Espírito Santo. Muito obrigado.
Obrigado mesmo, de coração, e falo um obrigado dos setecentos mil condutores que representamos em âmbito
nacional, uma vez que a Abramca – Associação Brasileira dos Motoristas e Condutores de Ambulância –,
representa vinte e seis estados. Está faltando apenas o Amapá para fechar o trabalho em âmbito nacional.
Meus amigos, boa-noite! Meu nome é Alex Douglas dos Santos, presidente da Associação Brasileira dos
Motoristas e Condutores de Ambulância. Sou presidente do Sindicato dos Motoristas de Ambulância do Estado de
São Paulo, que possui cento e trinta e cinco mil condutores na base.
Desenvolvemos esse trabalho como o meu amigo Fábio Amaral, que sempre está me acompanhando.
Depois do Fábio conheci o Senhor Daniel Francisco da Silva e também sua diretoria. Doutora Rose, muito
obrigado pela presença.
Vou contar um pouquinho da história. Estou viajando pelo Brasil com dificuldade, com deficiência. A
realidade de um motorista e condutor de ambulância é grave, gravíssima. São poucos os que estão como V. Ex.ª,
pela causa do trabalhador condutor de ambulância, como o Senhor Deputado Onofre Santo Agostini, que está pela
causa. Agradeço mais uma vez a V. Ex.ª, Senhor Presidente Doutor Hércules.
Quando eu comecei a conduzir ambulância, em 1994, conduzia uma Caravan, com maca cachorrinho. O
condutor da época se lembra, acho que o Fábio Amaral se lembra, de que pegávamos atadura e amarrávamos na
mão para puxar essa maca com o paciente para dentro do hospital, daí por que o condutor tem aquele problema de
coluna, e eu também tenho problema de coluna. É o que ganhei da profissão, o rompimento da hérnia discal. Hoje,
só durmo à base de calmante porque não consigo dormir por causa dessa dor insuportável. Tem cirurgia? Não. Tem
que suportar a dor. Essa é a condução do condutor de ambulância; ao futuro dele se não tomarmos conta disso.
Senhor Presidente Doutor Hércules e convidados, trabalhei por muito tempo na rua, depois entrei no
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de São Paulo. Qual o motorista hoje ganha, há quatro meses ganhava
quatrocentos e quarenta reais e trinta e um centavos para socorrer uma vida? Dentro da cidade de São Paulo o
condutor ganhava isso. Aí o pessoal falava que o motorista da ambulância do Samu ganhava dois mil reais. Eu
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dizia: É? Então vou lhe mostrar o contracheque. E nisso o condutor se conduz a cair no alcoolismo, nas drogas,
não tem humanização, não tem qualificação e não tem a humanização da categoria – não só em São Paulo como no
resto do Brasil.
Eu trabalhei por seis anos no Samu e vi que a coisa estava fugindo do controle. Essa coisa foi me
inspirando, dando-me muita raiva. Ouvia: Ah, eu te represento, eu te ajudo! Mas nunca ajudou em nada. Eles só
queriam o nosso apoio uma vez por ano, para outros movimentos, os quais nem quero falar o nome, porque se não
descompensa. Todo mundo falava que defendia o condutor de ambulância, mas até então ninguém defendia nada.
Sendo assim, resolvi levantar uma bandeira, que é defender o condutor de ambulância.
O Projeto de Lei n.º 7191/2010 foi escrito juntamente com o Deputado Federal Doutor Ubiali, que fez
questão de protocolar o projeto conosco. Descrevemos tudo direitinho e o deputado então protocolou o projeto. Só
que esse projeto ficou vagando, não foi dado vazão. Até respeito o deputado, agradecemos S. Ex.ª, esteve no nosso
terceiro seminário nacional, mas esse projeto não foi à frente.
Graças a Deus, Senhor Deputado Doutor Hércules e convidados, apareceu um homem quando eu estava
com meia dúzia de papel rolando pela Câmara dos Deputados pedindo: Pelo amor de Deus, o projeto não pode
parar! Somos desprezados e execrados não somente no Estado de São Paulo, mas em nível nacional, pois o
condutor é a última bolacha do pacote.
Apareceu o Deputado Federal Onofre Santos Agostini para dar essa força. O projeto acabou perdido. O
Deputado Federal Onofre Santos Agostini fez outro projeto, o Projeto de Lei n.° 611/2011 e o apensou, para
trabalhar o Projeto de Lei n.° 611/2011, com o Projeto n.° 7.191/2010. Esse Deputado Federal prosseguiu
trabalhando o projeto. O Projeto de Lei n.° 611/2011 chegou à Comissão de Finanças e Tributação na Câmara dos
Deputados. E, conforme o Senhor Deputado sabe, pertence à Comissão de Saúde. A Comissão de Finanças e
Tributação avalia o impacto orçamentário e dificilmente o projeto seria aprovado.
Conforme o Senhor leu, fazemos uma correção e falamos ao Senhor que esse projeto apresentava salário,
insalubridade, aposentadoria especial e a quantidade de folgas que o motorista de ambulância necessitava, que seria
doze horas por sessenta de descanso obrigatório. Esse projeto causou impacto, foi barrado e seria arquivado.
Articulamos com o Deputado Federal Alexandre Leite para que o projeto não fosse arquivado. Esse projeto não foi
arquivado. Tiramos tudo que dá impacto orçamentário e seguimos com o texto sem o impacto. Assim, o projeto
seguiu e deu certo. O projeto ficou quase um ano na Comissão de Finanças e Tributação. Por quê? Esse projeto não
tinha o entendimento dos nobres Deputados, porque S. Ex.as achavam que o motorista de ambulância era um
motorista comum. Falei: É um absurdo! Ligaram para mim, falando: Alex, o projeto vai para a gaveta. Falei: Por
quê? O projeto vai para a gaveta, por quê? Disseram: Porque os Deputados Federais não têm o entendimento. Os
Deputados Federais têm o entendimento que vocês são motoristas comuns, como qualquer motorista. Perguntei:
Somos como qualquer motorista comum? Isso quer dizer que os anos que trabalhei não estão compensando nada e
o pessoal que está na rua também não tem importância por salvarem vidas.
Senhor Deputado e Senhores convidados, a história que estou contando é verídica. Falei a meu pai: Pai,
arrume um dinheiro para eu ir a Brasília, porque não tenho e vão arquivar nosso projeto. Meu pai falou-me: Não.
Para de defender o projeto. Ninguém está ligando para você. Falei: Pai, somente quero dinheiro para ir a Brasília.
Há como arrumar, pai?
Senhor Deputado e Senhores convidados, fui a Brasília, porque meu pai emprestou o dinheiro. Cheguei a
Brasília com três reais no bolso: dinheiro para pegar o ônibus. Cheguei à Câmara dos Deputados às 7h30min, o
Deputado Federal Onofre Santos Agostini estava me esperando e me explicou que os Deputados Federais não
tinham entendimento sobre o projeto. Após a conversa, entendi, liguei para o Senhor Marco Antônio Montuanelli,
Secretário-Geral, e falei: Marco Antônio, faça um ofício explicativo para todos os Deputados da Câmara dos
Deputados, titulares e suplentes da Comissão. O Senhor Marco Antônio fez o texto. Expliquei que auxiliamos a
equipe de socorro, médico e enfermeiro, conforme determina a Portaria n.° 2048. Expliquei as Resoluções n.° 151,
285 e 168 e os artigos 222 e 29, inciso VII, do Código Brasileiro do Trânsito. Inclusive meu amigo presente pode
me corrigir, dizendo se estou certo ou não. Colocamos no texto tudo o que respondemos e nossas obrigações,
porque temos obrigações. Nossos direitos legados e justificados são poucos. Colocamos esses no texto. Saí às
8h30min, fui de gabinete a gabinete, Comissão a Comissão, reunião a reunião, e consegui protocolar, no mesmo
dia, todos os ofícios dos Deputados Federais. Expliquei a cada Deputado Federal quem era o condutor de
ambulância. Assim, dia 23 de maio de 2012, esse projeto foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Finanças
e Tributação da Câmara Federal.
Esse projeto seguiu para a Comissão de Justiça e Cidadania que, graças a Deus, tinha como membro o
Deputado Federal Onofre Santos Agostini, e S. Ex.ª soube defender o projeto fielmente. Depois do dia em que foi
aprovado na Câmara dos Deputados, dia 22 de agosto de 2012, seguiu ao Senado Federal, graças a Deus. Foi outra
luta o trabalho dos Senhores Fábio Amaral e Daniel Francisco da Silva. Conversamos com o Senadores Magno
Malta, Ana Rita e Paulo Paim, que o Senhor Deputado teve o prazer de conhecer.
Começamos a articular o projeto no Senado, foi aprovado com o relato do Senador Paulo Bauer, da
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania; foi para o CAS, onde teve um probleminha de acordo, pois o
pessoal do Ministério do Trabalho disse que se não fosse daquele jeito não poderia aprovar. Falei: está bom,
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tiramos, pois precisamos da profissão regulamentada. Tiramos tudo que foi pedido e o ajustamos.
O projeto saiu do Senado, voltou para a Câmara, passou por todas as Comissões novamente. Contudo, o
projeto hoje não tem salário, não tem aposentadoria especial, ele não tem nada. O que está acontecendo? Iremos
com esse projeto pedir... Está no ajuste final, passou pelas sessões para ver se alguém ou algum partido se
manifestaria contra o projeto – graças a Deus não teve ninguém contra – e agora ele está no CCJ para ajustá-lo e
dar seguimento para encaminhá-lo à Casa Civil, para sanção da Presidenta Dilma Rousseff. A categoria aguarda
ansiosamente.
Na semana passada, estávamos no 3.° Encontro dos Condutores de Ambulância do Estado de Minas
Gerais, onde estava setenta por cento do Brasil reunido. Os condutores, Senhor Deputado Doutor Hércules, estão
todos esperando ansiosamente, porque os gestores judiam do condutor, tripudiam em cima do motorista de
ambulância. É um absurdo o que fazem com os condutores de ambulância em nível nacional.
Para o Senhor ter um relato - inclusive até pedi ao pessoal do Coren que está presente – o pessoal está
passando a nos respeitar de fato. Na ambulância, o pessoal do sul do Pará indo para Belém, viaja doze horas. Chega
momento em que o paciente chega ao Estado em óbito, pois o motorista não tem condições de dirigir e atuar ao
mesmo tempo. O pessoal da área da saúde está colocando o paciente dentro da ambulância e falando: Leva! Leva,
leva, leva, leva e pronto, acabou! Se você não levar será mandado embora. É assim que somos tratados.
O condutor de ambulância pega a marmita dele, põe dentro do motor da ambulância para esquentar, pois a
central não nos deixa parar para comer. Assim, o pobre coitado tem que parar, e se ele estiver com a enfermagem
fala: Você vai lá dentro, deixa o paciente, e eu irei comer dentro da ambulância contaminada. Dentro da
ambulância contaminada! É um absurdo o que fazem com o condutor da ambulância.
O condutor de ambulância em nível nacional não tinha voz, e uma coisa está mudando, Senhor Deputado,
graças a pessoas como V. Ex.ª que dá oportunidade e dá voz aos condutores. Ainda falo e reclamo que há
vereadores que são condutores de ambulância e não legisla pelo condutor e isso é grave, gravíssimo. Mas são
poucos os que estão vendo o nosso trabalho e o nosso reconhecimento.
O condutor de ambulância sofre muito, ele tem seis atribuições: tem que dirigir, cuidar do acompanhante,
cuidar do paciente, cuidar da equipe e cuidar do munícipe e cuidar do bem material, pois ele não pode ser a
próxima vítima.
Até na rua mesmo, no nosso contato no dia a dia, somos discriminados. O pessoal não quer saber do
crescimento. O pré-hospitalar no Brasil cresceu muito, e de uma forma desordenada, mas o pessoal não tá sabendo.
Tem a demanda que está ficando dificultosa.
Em São Paulo, esses dias estavam reclamando de falta de ambulância. Concordo, mas é a falta da gestão
que não está fazendo a coisa correta. É isso que precisa mudar. Não só em São Paulo, mas no Brasil todo.
Ambulâncias têm, só que estão com pneu careca, com documento vencido, e em más condições de uso. Não é só
no Espírito Santo, mas no Brasil todo. Andamos por aí e tem ambulância sem freio. O motorista de ambulância tem
que ser mágico, para salvar uma vida ele anda com ambulância sem freio, o que é um absurdo. E isso é um absurdo
em todo o território nacional. O pessoal tem descaso conosco.
Então, acredito meus convidados, Senhor Deputado, que a esperança venceu o medo. Temos que acabar
com esse medo do condutor de ambulância, temos que vir e falar o que é real, o que é surreal; é sub-humana a
forma como o condutor de ambulância vive em todo o Brasil. Não têm condições de ficar, não descansa, entendeu?
E pergunto: Onde está o trabalho psicológico que o pessoal faz conosco? Nenhum. Porque ninguém vem
nos perguntar: Como foi o seu atendimento? Foi bom? O que aconteceu no seu atendimento?
Tem que haver um trabalho psicológico para o condutor? Tem. Porque todo condutor de ambulância tem
família. E numa cena, num acidente grave, se depara com uma mãe para lá, um filho para lá, um pai despedaçado.
Como fica a cabeça de um condutor de ambulância após um chamado? Ninguém nos pergunta, porque estamos ali
para auxiliar, para colocar o colar cervical, para colocar a prancha, para colocar a tala; mas ninguém pergunta.
Mas temos em nossa veia a missão de salvar vida, independentemente do salário que ganhamos,
independentemente das condições de trabalho, está em nosso sangue o pré-hospitalar. Temos na veia esse trabalho
de salvar a vida humana. Independe de qualquer um.
Em São Paulo, é fato. Chega-se em um hospital e logo dizem: Lá vem lá o samulambo! Quer dizer que
aquele cara que está na rua, um morador de rua, é diferente de você? Não! É ser humano como qualquer um. Então,
tem que pegá-lo sim e dar o melhor tratamento, entendeu? Para aquele ser humano.
Quem é do Samu ou particular trabalha com o coração, com a alma; não trabalhamos como quem trabalha
por causa própria, trabalhamos para o ser humano, de coração aberto. Isso é o mais importante; isso é bonito na
categoria em todo o País.
Se o Senhor andar comigo pelo Brasil, verá que o Daniel reclama do ar-condicionado, mas se for para
Cuiabá, onde faz quarenta e cinco graus, o pessoal não tem ar-condicionado, o paciente sofre.
Então o seu pedido para o Espírito Santo, Senhor Daniel Francisco da Silva, é válido. E o pessoal dos
outros Estados? Como vamos fazer? Temos que trabalhar em cima disso e temos que ter o apoio da base do
Governo para que possamos apoiar os outros companheiros, porque aqui é litoral, esquenta; nos outros lugares é
pior ainda. Más condições. As ambulâncias são uma aberração total, são sucatas. É um lixo o que fazem conosco.
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Convidados e Senhores Deputados, quero agradecer, primeiramente, ao Senhor Deputado Doutor Hércules
por se tornar o pai dos condutores de ambulância do Espírito Santo, aos convidados que estão ouvindo um relato do
que é o condutor de ambulância. Obrigado a todos, à Assembleia Legislativa do Espírito Santo, e obrigado a
Vitória. (Muito bem!)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – Muito obrigado, Senhor Alex Douglas dos Santos.
Concedo a palavra ao Senhor Antônio Coutinho, presidente do Conselho Regional de Enfermagem.
O SR. ANTÔNIO COUTINHO – (Sem revisão do orador) – Boa-noite, Senhoras e Senhores!
Cumprimento o Senhor Deputado Doutor Hércules, grande lutador, batalhador pelas causas da saúde do nosso
Estado, que está dando a oportunidade dessa discussão e apresentação do trabalho dos motoristas de ambulância,
um tema importante e empolgante para todos.
Cumprimento o Senhor Alex Douglas dos Santos, da Associação; o Doutor Delson de Carvalho Soares; os
Vereadores pelo Município de Brejetuba; o presidente do Sindicato; o representante do Corpo de Bombeiros
Militares; e o Senhor Raimundo de Assis Martins, técnico de enfermagem, socorrista, prestigiando o evento,
conselheiro do Conselho Regional de Enfermagem.
A minha palavra é muito simples e muito rápida. Senhor Deputado Doutor Hércules, a enfermagem e os
motoristas de ambulância têm tudo a ver. São duas categorias com profissionais que trabalham numa atividade de
muito estresse. E, muitas vezes, de pouco reconhecimento. Tudo isso que o Senhor Alex Douglas dos Santos falou
realmente é verdade.
Durante dez anos, a enfermagem lutou para que pudesse haver dentro das ambulâncias também a presença
do enfermeiro. O Ministério da Saúde havia desrespeitado a nossa lei desde 2003, com sua portaria que instituía o
programa Samu e, no mês de abril deste ano, a nova Portaria n.º 356 estabeleceu a presença do enfermeiro dentro
das ambulâncias de suporte básico de vida.
Senhor Presidente Doutor Hércules, temos agora o motorista socorrista, o enfermeiro e o técnico de
enfermagem. Tanto o enfermeiro quanto o técnico de enfermagem têm que ter o curso de socorrista.
Na verdade quem ganha com isso é a população, porque teremos o motorista da ambulância com o técnico
de enfermagem. Muitas vezes o motorista tem que fazer o trabalho na maca, ajudar e ter todos aqueles cuidados.
Agora temos três pessoas dentro da ambulância básica. Nas ambulâncias avançadas temos a presença do enfermeiro
e do médico, mas o motorista socorre também.
O trabalho que os motoristas de ambulância fazem é tudo isso que foi falado. É necessária atenção maior
para essa categoria. Não é fácil ser motorista de ambulância neste País, onde não se reconhece as grandes
profissões; o trabalho daqueles que labutam no dia a dia de forma firme.
Muito recentemente, há uns quatro ou cinco meses, um motorista de ambulância estava apenas com uma
técnica de enfermagem em uma ambulância sem condições de trafegar, no Município de Guaçuí. Essa ambulância,
por incrível que pareça estava com a porta traseira amarrada praticamente com esparadrapo, sem condições
nenhuma de uso. Essa deve ser a realidade que muitos motoristas de ambulância vivenciam no dia a dia. Um
paciente em crise acabou empurrando a técnica de enfermagem contra a porta, que se abriu. A técnica caiu, teve
traumatismo craniano, ficou dois meses internada no CTI e veio a óbito. Essas são as péssimas condições de
trabalho em que se colocam as ambulâncias para o motorista e o profissional de enfermagem trabalhar.
Precisamos ter outro olhar para essa categoria, essa profissão. Muitas vezes nos deparamos com essa
situação, na qual o motorista de ambulância precisa fazer muitas coisas. Percebemos que no dia a dia está sozinho
para dizer um não.
Doutor Hércules, se esta Casa de Leis tiver de estabelecer uma lei em favor dos motoristas de ambulância e
porque não dos profissionais de enfermagem, que também estão nessa ambulância, temos que dar a garantia ao
motorista de dizer não. Na hora em que forem transportar esse paciente, têm que dizer não: Essa ambulância não
oferece condições, não conduzirei esse carro. A omissão de socorro será por quem? Pelo motorista de ambulância
que não quer colocar a vida em segurança e daquele paciente, que se estiver mal, ficará pior ainda ou a omissão de
socorro é por parte do gestor, que não está dando condições para que o motorista conduza esse veículo.
Temos que fazer esse debate, porque na hora da crise, na hora da dor, na hora da angústia, quem resolverá o
problema será o motorista de ambulância. Submetem esse motorista a péssimas condições de trabalho; colocam o
profissional de enfermagem sob péssimas condições de trabalho. E o gestor fica numa posição de que não resolveu
um problema antes e uma hora chegará alguém grave na porta do hospital, alguém com dor ou precisando ser
transferido. Por que não resolveu isso? Agora, na hora da crise, vamos resolver com o motorista da ambulância?
Ele resolverá o problema? Existem situações previsíveis e outras imprevisíveis.
Em um pronto atendimento, num hospital com portas abertas, é previsível que alguém chegará grave em
algum momento, e que, naquele hospital, o pronto atendimento pode não dar o suporte necessário para aquela
vítima, o cuidado necessário, e tem-se que se transferir para outro local de referência. O gestor sabe que isso pode
acontecer e quando acontecer, quem resolverá o problema? É o motorista de ambulância? Precisamos ter outro
olhar para essa situação.
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Assim, um Projeto de Lei, uma lei que vir a ser aprovada tem que prever também a responsabilidade do
gestor e não recair sobre o motorista de ambulância e muito menos sobre o profissional de enfermagem a culpa.
Essa é a minha contribuição e digo aos membros do Sindicato dos Motoristas de Ambulâncias e da
Associação que o Concelho Regional de Enfermagem está à disposição. Sofremos também, porque temos muitas
reclamações dos nossos técnicos de enfermagens e dos enfermeiros socorristas em relação à situação e às péssimas
condições de trabalho, principalmente do veículo que é conduzido pelos motoristas de ambulância para prestar um
bom atendimento a nossa população. Colocamo-nos à disposição de todos. Muito obrigado. (Muito bem!)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – Obrigado, Senhor Antônio Coutinho. Aviso,
também, que estamos nesta luta para as trinta horas do enfermeiro. A luta não é só de vocês, pois estamos ajudando
e encampando-a também, porque vocês merecem isso.
Agradeço a presença do Professor Josemar Amaral, especialista em trânsito. Uma salva de palmas para S.
S.ª. (Palmas!).
Concedo a palavra ao Senhor Delson de Carvalho Soares, representante do Conselho Regional de
Medicina.
O SR. DELSON DE CARVALHO SOARES – (Sem revisão do orador) – Boa-noite! Serei bem breve.
Agradeço ao Senhor Deputado Doutor Hércules, em nome do Conselho Regional de Medicina o convite honroso
para estar presente nesta sessão.
Cumprimento a Mesa dizendo que pode não parecer, mas farei quarenta anos de formado. Sou mais antigo
que o Senhor Deputado Doutor Hércules na profissão. Muito bem! E em grande parte da minha vida passei dando
plantão no Samu. Fiz parte da equipe do Samu e a equipe fazia muitos atendimentos nos bairros. Nunca sofri um
acidente.
Não há a menor dúvida para nós, do Conselho Regional de Medicina, de que o condutor de ambulância é
parte de uma equipe multidisciplinar de saúde de atendimento médico. Ele faz parte disso e a responsabilidade dele
é muito grande, porque precisa conduzir com segurança não só o paciente, mas todo o restante da equipe.
Digo para o presidente do sindicato nacional que o condutor de ambulância não é um motorista comum. O
motorista comum sou eu, que pega o carro, vai ao hospital e atende; vai à clinica, e atende. Não tenho a
responsabilidade de conduzir dentro do meu veículo outros profissionais ou pacientes, que se tenha que levar.
Vocês são muito mais do que isso e prestam um serviço de grande dignidade para a comunidade e merecem todo o
respeito do sistema de saúde.
Faço uma homenagem ao colega, Senhor Deputado Doutor Hércules, e digo que o Conselho Regional de
Medicina tem uma admiração profunda por S. Ex.ª, pelo médico, pelo ser humano e pelo Deputado que é. S. Ex.ª
não só apoia os condutores, mas apoia os médicos, todo o sistema de saúde e onde precisar de S. Ex.ª, S. Ex.ª está
presente. Muito obrigado a todos e boa-noite! (Muito bem!).
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – Obrigado, Senhor Delson de Carvalho Soares, pelas
palavras. Essa tem sido a nossa luta, porque cansamos de falar nesta Casa, toda semana, que saúde não é feita
somente pelo médico. É um conjunto, é um bloco monolítico, uma engrenagem muito bem-feita em que cada um
dá sua contribuição muito importante para aliviar a dor daquele que nos procura.
Concedo a palavra ao Senhor Josué José Celírio, Vereador pelo Município de Brejetuba.
O SR. JOSUÉ JOSÉ CELÍRIO – (Sem revisão do orador) – Cumprimentamos a Mesa na pessoa do
Senhor Presidente Doutor Hércules. Boa-noite! Cumprimentamos o Plenário, em nome de dois colegas de
Brejetuba, o Quinzim e o Ladir, também condutores de ambulância no nosso Município.
Parabenizamos o Senhor Presidente Doutor Hércules por esta sessão em reconhecimento ao trabalho do
condutor de ambulância; parabenizamos o Senhor Daniel Francisco da Silva, pela luta à frente do Sindicato; o
Senhor Alex Douglas dos Santos, representante nacional dos condutores de ambulância; e os demais membros.
Estou há nove anos motorista de ambulância, no Município de Brejetuba. Venho na Grande Vitória duas
vezes durante um plantão de vinte e quatro horas; estou na porta do Hospital São Lucas, do Hospital das Clínicas e
do Hospital Santa Rita. Somos oito motoristas no nosso Município. Nosso município não tem hospital, tem um
P.A. A referência é Vitória e temos essa responsabilidade de transportar os nossos pacientes até a Capital. Vemos e
vivemos alguns momentos em que a categoria não era lembrada, não era reconhecida.
Senhor Alex Douglas dos Santos, leve um abraço ao Senhor Deputado Federal Onofre Santo Agostini,
colega de partido, pois também sou do PSD – estou vereador pelo PSD –, um deputado federal que comprou esta
causa em prol dos condutores.
Senhor Presidente Doutor Hércules, parabéns por esta luta no Estado também nos apoiando.
Nós,
condutores, só temos a ganhar, porque, muitas vezes, Senhor Alex, os municípios, os gestores encontram algumas
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dificuldades. Diretamente, eu e o meu colega Vereador Josiel, encaminhamos ofício ao prefeito, ao secretário,
sobre as dificuldades que encontramos em transportar um paciente. Quantas vezes saímos de Brejetuba até a
Capital somente com o paciente? Motorista e o paciente. Não temos um técnico, não temos um enfermeiro. Temos
informado isso ao prefeito, ao secretário, e eles respondem o ofício com uma justificativa que sabemos não ser
verídica, que não deveria ser aquilo; mas pedem uma oportunidade dizendo: Dá um tempo que a gente vai
acertando. Estamos aguardando, mas pode saber que depois de hoje, Senhor Alex, pegaremos mais firme,
cobraremos mais do nosso prefeito, do nosso secretário, para que isso não continue a acontecer. Sabemos disso.
Nós, motoristas, Senhor Presidente Doutor Hércules, principalmente os do interior, rodamos cento e
cinquenta e cinco quilômetros para chegar ao Hospital São Lucas. Fazemos essa viagem, algumas vezes com o
médico junto, de acordo com a gravidade do paciente, com uma hora e vinte, uma hora e trinta minutos; ou seja,
temos também um compromisso, uma responsabilidade muito grande. O motorista, Senhor Presidente Doutor
Hércules, muitas vezes é pastor, é padre, é médico, é técnico, é enfermeiro. Às vezes é banco, porque quantos de
nós que transportamos pacientes, ao chegarem em Vitória não têm um real no bolso para tomar um café? Nós,
motoristas, temos esse compromisso e temos feito isso para ajudá-los.
A nossa luta é grande. Parabéns a todos que estão empenhados em resolver esse problema e o
reconhecimento da categoria. Parabéns a cada um e muito obrigado pelo convite. (Muito bem!)
O SR. PRESIDENTE – (DOUTOR HÉRCULES) – Senhor Vereador Josué José Celírio, ficamos
satisfeito com sua fala porque pode complementar as angústias que o motorista condutor de ambulância vive. Além
do sofrimento, porque ele se envolve com o paciente, com a família, tem esse lado financeiro, porque muitas vezes
não tem um dinheiro para comprar um pão, para tomar um café.
Esse é o motorista de ambulância, que não é um motorista comum, não é aquele que carrega a carga, com o
máximo de respeito a todos os motoristas que carregam, nas estradas, em nossas tristes estradas do Brasil, o
progresso da Nação.
De 1960 até os dias atuais, foram sucateando as ferrovias. O modelo americano entrou e foram
incentivando as rodovias, para que ficássemos, cada vez mais dependentes dos Estados Unidos, com o sistema de
petróleo e de veículos, enfim, de todos os insumos relacionados ao transporte, um dos mais caros que há, o
transporte rodoviário. O transporte mais barato é o naval. O segundo, o transporte ferroviário, totalmente sucateado.
Ficamos triste quando ouvimos falar em trem-bala, enquanto o povo não tem ônibus para pegar.
Percebemos a missão que os motoristas condutores de ambulâncias têm de chegar rápido; correr. Ás vezes
frear a ambulância ouvindo os gritos do paciente, atrás. Isso tudo sofremos. Os Senhores sofrem ainda. Nosso
imenso respeito e gratidão ao motorista condutor de ambulância, razão pela qual fazemos esta sessão.
As pessoas, em casa, estão assistindo a esta sessão, que será reprisada várias vezes na programação da TV
Assembleia e na TV Educativa, ocasião em que todos conhecerão as angústias desses verdadeiros missionários: os
condutores de ambulância, sempre desconhecidos por seu trabalho.
Agradecemos a Deus esse trabalho. Agradecemos a todos os presentes, à nossa Assessoria, aos
funcionários da Comissão de Saúde, aos servidores desta Assembleia e aos servidores da TV Assembleia.
Senhor Antonio Coutinho, quanto a essa luta que não é somente do Senhor, a respeito das trinta horas dos
enfermeiros, certamente estamos engajado nessa falta de reconhecimento do trabalho do enfermeiro.
Senhor Delson de Carvalho Soares, falamos sobre a Saúde, que não é feita somente por nós, médicos; a
Saúde é feita por um conjunto de abnegados missionários, a quem homenageamos hoje, reconhecendo seu trabalho:
o motorista condutor de ambulância.
Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente sessão. Antes, porém, convoco os Senhores Deputados
para a próxima, ordinária, dia 30 de outubro de 2013, para a qual designo
EXPEDIENTE:
O que ocorrer.
ORDEM DO DIA: anunciada na centésima primeira sessão ordinária, realizada dia 29 de outubro de 2013.
Está encerrada a sessão.
* Encerra-se a sessão às vinte horas e quarenta e oito minutos.
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1 publicada no dpl do dia 08/11/13 trigésima quarta sessão especial