descoberta chapada das mesas Esta você ainda vai conhecer As chapadas Diamantina, dos Veadeiros e dos Guimarães já são destinos tradicionais entre os ecoturistas. Os aventureiros começam agora a explorar o quarto integrante desse grupo: a Chapada das Mesas, no sul do Maranhão por Leo Nishihata Fotos Alexandre Cappi Portal da chapada, um dos destaques da região 106 REVISTAGOL REVISTAGOL 107 descoberta chapada das mesas No fim de uma sequência de pequenas quedas, a recompensa: o poço Azul Bendito seja o arenito. Graças a ele, ao movimento das placas tectônicas e a milhões de anos de polimento natural, surgiram lugares como as chapadas dos Guimarães, dos Veadeiros e Diamantina. Esse grupo de platôs regados por cachoeiras possui na fronteira entre o Maranhão e o Tocantins um quarto integrante que é, por enquanto — mas certamente não por muito tempo —, o mais inexplorado de todos. Boa parte da chapada das Mesas foi durante séculos privilégio dos índios timbiras e dos donos de terra da região, descendentes de europeus que transferiam suas propriedades de pai para filho. Muitos deles até há pouco tempo nem sequer sabiam dos tesouros ecológicos escondidos atrás de suas cercas. O dono da fazenda onde fica o poço Azul, um poço de água translúcida no fim de uma sequência de pequenas quedas, só foi conhecer o local depois de tomar posse do terreno, há cerca de 15 anos. Perto dali, a poucos minutos de caminhada, descobriram outras três cachoeiras, entre elas a maior da região: a Santa Bárbara, uma joia de 76 metros de altura batizada por causa do formato de santa que o véu d’água adquire ao se chocar contra uma pedra. Quando um dos guias do poço Azul tentou ampliar ainda mais as trilhas acabou no Encanto Azul, uma fonte cristalina subterrânea, perfeita para flutuação. Coisa parecida aconteceu no primeiro conjunto de cachoeiras explorado na chapada, a Pedra Caída, que desde os anos 70 recebe turistas locais. Certo dia de 2004, um guia seguiu além dos limites conhecidos, começou a ouvir o barulho da água e terminou de cara com o Capelão, uma queda suave banhada por águas mornas, em torno de 22º, menos geladas que as de outras chapadas. Os arredores da Pedra Caída hoje abrigam nada menos que 26 cachoeiras conhecidas. “Dentro do parque existem 400 nascentes, então pode haver muita coisa a ser descoberta”, diz Izabel Lieber, uma goiana pioneira na exploração do ecoturismo local. 108 REVISTAGOL Cachoeira do Santuário: por voltaamanhece do meio-dia, a luz A serra cria desenhos nas paredes coberta de brumas REVISTAGOL 109 descoberta chapada das mesas Em sentido horário, a partir do alto: vista panorâmica das formações rochosas; os morros dos Testemunhos; e uma das quedas que formam o poço Azul Em 2006, o governo federal estabeleceu a criação do Parque Nacional da Chapada das Mesas em uma área de 164 mil hectares concentrada ao redor de três municípios: Carolina, Estreito e Riachão. Um milhão e 640 mil metros quadrados é equivalente a quatro vezes o território da Holanda, mas mesmo assim a reserva deixou de incluir lugares incríveis. O próprio complexo da Pedra Caída está fora dela. Ali, a partir de trilhas de madeira construídas sobre o frágil solo de arenito, o visitante desce até o fundo de um cânion espremido entre paredes de pedra, com água translúcida brotando suavemente por todas as partes. Parece cenário de ficção científica tropical — e, acredite, é só o começo. Seguindo pelo corredor surge Santuário: 46 metros de queda-d’água ornados por um silo de pedra que concentra a força da natureza em uma pequena zona de impacto. Câmera fotográfica, aqui, só com caixa estanque. Mas vale a pena. Por volta do meio-dia, a luz incidente cria desenhos e arco-íris nas paredes. A geóloga maranhense Letícia Franco, autora de uma tese de graduação sobre o potencial turístico da região, não tem dúvidas em apontar Santuário como uma das cachoeiras mais bonitas do Brasil. 110 REVISTAGOL descoberta chapada das mesas Em sentido horário: gruta atrás da queda da cachoeira de São Romão, onde as andorinhas fazem seus ninhos; fachada da pousada dos Candeeiros; e o pôr do sol no rio Tocantins, com a Torre da Lua no horizonte Voos para Imperatriz (IMP) — GOL * origem saída chegada Brasília (BSB) 20h59 23h00 São Paulo (CGH)** 18h25 23h00 São Luís (SLZ) 05h58 07h00 Rio de Janeiro (GIG)** 18h04 23h00 Acesse www.voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu agente de viagens * Voos sujeitos a alteração sem aviso prévio. **Conexão em Brasília. 112 REVISTAGOL Entre todas as cidades da chapada, a simpática Carolina oferece o melhor equilíbrio entre distâncias. Fica a 227 quilômetros de Imperatriz (onde está o aeroporto) e a 110 quilômetros de Riachão, onde está o poço Azul. Suas duas principais opções de hospedagem servem de base para o início dos passeios: a espaçosa pousada do Lajes, cerca de 1 quilômetro afastada do centro, e a pousada dos Candeeiros, num casarão antigo próximo à igreja matriz. Para cumprir os roteiros as agências locais dispõem de veículos 4X4. Chegar até a cachoeira de São Romão, por exemplo, demanda mais de 60 quilômetros de areia e terra a partir de Carolina. Deixe o volante por conta do guia e aprecie as mudanças súbitas de paisagem pela janela. Cânions, planícies abertas, plantações de babaçu, mata fechada de verde intenso e trechos de capim do cerrado preenchem os espaços entre formações rochosas curiosas: algumas lembram animais (galinha, tartaruga), outras disparam para cima como se fossem dedos. São Romão, o destino desta jornada, tem 50 metros de largura por 19 de altura com barulho e intimidação. Para nadar, só na praia natural, uns 100 metros distante da queda. Se você seguir pelas pedras do lado direito consegue entrar por trás das águas, em um trecho com spray tão forte que chega a tampar a visão. Ao ultrapassá-lo, surge uma gruta onde as andorinhas fazem ninho e onde o trovoar das águas soa diferente, como descoberta chapada das mesas Por cima do Complexo da Pedra Caída está uma das maiores tirolesas do país GUIA CHAPADA DAS MESAS CAROLINA ONDE FICAR • Pousada do Lajes BR -230, km 2. Tel.: (99) 3531-2452. www.ciadocerrado.com.br/pousada. Pousada dos Candeeiros Av. Getúlio Vargas, 1.167. Tel.: (99) 3531-2243. www.pousadadoscandeeiros.com.br. ONDE COMER • Lamparina Av. Getúlio Vargas, 1.256. Tel.: (99) 3531-2518. K-Funé R. José Augusto dos Santos, 90. Tel.: (99) 3531-2468. Espaço Gourmet Pça. José Alcides de Carvalho, 44. Tel.: (99) 3531-8440. Tio Pepe Pizzaria Pça. José Alcides de Carvalho, s/n. Tel.: (99) 3531-3222. Restaurante Rio Lajes BR- 230, km 2. Tel.: (99) 3531-2764. se estivéssemos dentro — e não apenas perto — de uma imensa caixa de som. Quem sai de lá com os olhos e o sorriso escancarados é porque acabou de sentir algo como a terra em transe. Na volta, programe um rápido pit stop na cachoeira da Prata, acessível por uma bifurcação no caminho até São Romão, e chegue ao Portal da Chapada por volta das 16h30, no começo do pôr do sol. O Portal é uma abertura em formato de chama no topo de uma rocha, um mirante de onde se contemplam os principais platôs da região, todos próximos e fotogênicos: os dois morros dos Testemunhos, a serra da Cangalha e o morro do Chapéu, um maciço de pedra com 360 metros de altura a partir da base. A trilha até o topo do Chapéu é íngreme e conhecida pelos locais, mas ainda faltam equipamentos para garantir a segurança da livre visitação. Despertar turístico À noite, o melhor a fazer nas ruas e praças tranquilas de Carolina é comer e relaxar. Pode ser uma moqueca de filhote (peixe amazônico) acompanhada de tambaqui frito inteiro no Lamparina, um bife à parmegiana no K-Funé, o restaurante mais antigo da cidade, com 44 anos, ou uma galinha caipira no restaurante Rio Lajes. Em Riachão, o prefeito, Edmar Alves, organiza um festival de música anual que já trouxe para a cidade de pouco mais de 20 mil habitantes shows de bandas como Detonautas e Biquíni Cavadão e do roqueiro Roberto Frejat. Quem gosta de um forró pé de serra ou um sertanejo mais tradicional não terá dificuldade de achar lugares para se divertir. Há também um festival de paraquedismo que reúne skydivers do Norte e do Nordeste no mês de julho. Encontramos vários deles numa manhã, na longa subida para uma das maiores tirolesas do Brasil. Ela passa por cima do complexo da Pedra Caída e tem 1.200 metros de comprimento e 392 metros de queda vertical percorridos em 50 segundos vertiginosos. Até os paraquedistas acostumados com saltos a quilômetros de altura dão uma leve refugada na hora de se jogar no abismo de pedra. Tirolesas menores e atividades como arvorismo e rapel também são organizadas pelas operadoras da região. Outras modalidades relacionadas ao ecoturismo, como roteiros de trekking mais longos, ainda precisam ser exploradas melhor. A chapada das Mesas é um destino com estrutura em desenvolvimento, que ainda está longe do turismo de massa, mas que por isso mesmo pode propiciar muitas descobertas aos aventureiros. 114 REVISTAGOL AONDE IR • Complexo da Pedra Caída BR 010, Km 69. Tel.: (99) 3531-2426. Complexo do Poço Azul Estrada de terra sem nome a partir da BR -230, Riachão. Tel.: (99) 3531-0337. QUEM LEVA Cia do Cerrado Pça. José Alcides de Carvalho, 236). Tel.: (99) 3531-3222. www. ciadocerrado.com.br/cia. Torre da Lua Ecoturismo Av. Getúlio Vargas, 1.188. Tel.: (99) 3531-2166. www.torredalua. com.br. Piscina da pousada do Lajes, em Carolina; e, abaixo, moqueca do restaurante Lamparina