Grupo faz alerta sobre perdas na Maria da Penha PÁGINA 6 nacional Ação do governo contra o crack não tem adesão A GAZETA - 5B CUIABÁ, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2012 PÁGINA 6 DOENTE TERMINAL Objetivo é melhorar qualidade de vida de pacientes que chegam a esse estágio da doença Governo deve adotar políticas ALINE LEAL BRASÍLIA-ABR abordagem, que inclui a melhoria da qualidade de vida para os pacientes, é discutida há 60 anos no Reino Unido, país que o ocupa primeiro lugar no ranking. No Brasil, o tema é discutido há cerca de 12 anos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a área de cuidados paliativos é considerada uma abordagem que serve para promover qualidade de vida para pacientes que tenham alguma doença que o ameace de morte. No Brasil, a área ainda está muito ligada a pacientes terminais, principalmente com câncer. No entanto, para a Organização Mundial de Saúde, essa área não deve se restringir apenas a doentes terminais, mas também a pessoas que recebem diagnóstico de doenças crônicas e, até, para pacientes vítimas de acidentes. Os cuidados paliativos devem envolver uma equipe multiprofissional formada Especialistas que lidam no cotidiano com a iminência da morte defendem que o governo desenvolva uma polícia pública para melhorar a qualidade de vida de pacientes terminais. De acordo com a diretora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Dalva Yukie Matsumoto, a dor é sintoma predominante nos pacientes terminais no Brasil e falta formação para amenizá-la. “A grande maioria dos médicos no Brasil não tem formação para tratar de dor, não sabe prescrever uma morfina, um opióide [substâncias naturais ou sintéticas derivadas do ópio] de forma adequada. Existe um tabu por acharem que morfina é para quem está morrendo. O mito é reforçado pelo mau uso. Esse é um grande desafio para gente [médicos paliativistas]”, disse Dalva, que coordena a Hospedaria de Cuidados Paliativos do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Pesquisa realizada pela consultoria Economist Intelligence Unit e publicada pela revista inglesa The Economist, em 2010, coloca o Brasil em 38º lugar em um ranking de 40 países quando o assunto é qualidade de morte. O país fica à frente apenas de Uganda e da Índia. Esse dado indica que o brasileiro em estado terminal ainda sofre Arquivo muito no seu processo de morte. De acordo com Dalva, essa Levantamento aponta que maioria dos médicos que trabalham no Brasil não tem uma formação para tratar de dor dos pacientes PALIATIVOS ALINE LEAL Desde o ano passado, o Brasil elevou os cuidados paliativos na área de atuação médica ligada às especialidades de clínica médica, cancerologia, anestesiologia, pediatria, geriatria e medicina de família. Já há esboços de uma residência na área que pode começar em 2013. De acordo com a diretora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Dalva Yukie Matsumoto, o foco desta área de atuação é o controle primoroso de sintomas como dor, falta de ar, fadiga e náusea. Os cuidados, no entanto, devem abranger mais sintomas. “A equipe multiprofissional deve saber abordar os aspectos emocionais, sociais, espirituais porque a gente en- tende que o paciente é um todo e se você não cuidar de cada pedacinho você não consegue melhorar a qualidade de vida e minimizar o sofrimento”, disse Dalva. Pesquisa realizada pela consultoria Economist Intelligence Unit e publicada pela revista inglesa The Economist em 2010, coloca o Brasil em 38º lugar num ranking de 40 países quando o assunto é qualidade de morte. O país fica na frente apenas de Uganda e da Índia. Esse dado indica que o brasileiro em estado terminal ainda sofre muito no seu processo de morte. São cerca de 80 instituições médicas que dispõem dessa área de recurso no Brasil, o que é considerado pouco pelos especialistas, já que todo paciente terminal deveria ter acesso a esses cuidados. “No Reino Unido [primeiro colocado no índice de qualidade de morte da pesquisa] há um sistema de saúde pública bastante abrangente. Toda a medicina é regionalizada e socializada. Todo paciente tem acesso a esses cuidados. As equipes de assistência domiciliar são regionalizadas, bastante abrangentes e podem oferecer os cuidados no domicílio do enfermo. Existe ainda uma política publica que dispensa o medicamento. Todos os pacientes têm direito a equipe multiprofissional para acompanhá-los em casa. As enfermeiras têm poder maior do que os enfermeiros no Brasil. Tem um categoria [de enfermeiros] que pode prescrever opióides inclusive. Isso facilita muito essa assistência ao paciente”, explica a médica. Brasil é 38º lugar no ranking quando o assunto é qualidade de morte MORTE TRANQUILA Faculdades não ensinam cuidados BRASÍLIA-ABR por médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais que tratam das dores físicas do paciente e também das dores emocionais por estarem tão perto da morte. A abordagem também se estende à família do enfermo para que todo o processo seja aceito com a maior naturalidade possível e com o mínimo de sofrimento. “Tudo isso tem que se estender para a família, entender que quando alguém adoece todo o núcleo familiar adoece junto e, se eu não cuido dessa família, que também adoece não só emocionalmente, mas às vezes fisicamente, eu não estou oferecendo esse atendimento global efetivo e extensivo para todos os componentes para esse núcleo familiar e afetivo”, disse Hélio Bergo, chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. “Uma vez que há cuidados paliativos, a qualidade de morte melhora sensivelmente. Morrer, nós vamos morrer de qualquer jeito. Morrer de uma doença crônica em sofrimento é algo triste, inadmissível. Os cuidados paliativo cumprem essa missão de melhorar a qualidade de morte”, disse Hélio Bergo. Valter Campanato-ABr A médica Anelise Buschken, coordenadora da Enfermaria de Cuidados Paliativos em Brasília Cuidado com família é essencial ALINE LEAL BRASÍLIA-ABR Valter Campanato-ABr Especialistas das faculdades de medicina do país já começam a voltar atenção para o tema Rosana Castro tem 24 anos e há dois meses acompanha, seis dias por semana, seu marido, Aparecido, de 28 anos, na Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio do Distrito Federal. Ele tem câncer e os médicos informaram ao casal que não há mais procedimentos a serem realizados para a cura. Receber o encaminhamento para a unidade, vista como o último estágio antes da morte, foi uma notícia difícil para Rosana Castro. “No outro hospital entendi que ele não tinha mais tratamento. Só quando chegamos aqui entendi que a gente vinha para aliviar o sofrimento dele”, diz Rosana castro, que no começo não aceitou muito a notícia por considerar que seu marido é um homem jovem, mas, depois de muita conversa com os profissionais, foi se fortalecendo sobre o assunto. “Aqui tenho visto coisas que jamais pensei que veria com calma. Agora eu aceito mais. O que eu posso fazer eu faço. Todo mundo junto [equipe da enfermaria], a gente consegue passar por essa fase. Aqui é tão aconchegante que a gente se sente em casa, não parece hospital”. Para a médica Anelise Pulschen, coordenadora da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Apoio do Distrito Federal, este trabalho deve ser estendido à família porque ela também passa pelas fases de negação, barganha, raiva, depressão e aceitação pelas quais passa um doente terminal. “Nós como equipe podemos ser facilitadores desse processo para que eles possam sair e entrar em cada fase dessas e chegar na aceitação, que é a esperada por todos nós. Aceitação plena, e não apenas resignação. Às vezes a família vive mais essas fases do que o paciente. Às vezes o paciente já está até em paz, tranquilo, mas a família ainda não. A partir do momento em que a família é acolhida, também é escutada, também recebem a permissão pra viver todas as fases”, disse a médica Anelise.