Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 O CUIDADO DE ENFERMAGEM AOS USUÁRIOS COM ESTOMIA – RELATO DE EXPERIÊNCIA The Nursing care to users with ostomy - experience report Sandra Ost Rodrigues Martins CARVALHO1 Marluce Érbice MALAVOLTA2 Roselaine Boscardin ESPÍNDOLA3 Gabriela Fávero ALBERTI4 RESUMO Este estudo consiste em um relato de experiência de prática assistencial desenvolvida na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago, no período de março a junho de 2012. Teve por objetivo desenvolver ações de cuidado de enfermagem aos usuários com estomia cadastrados no Programa Municipal de Estomias do município de São Francisco de Assis, bem como implantar as consultas de enfermagem e visitas domiciliárias aos mesmos, retomando a realização do grupo de convivência. Esta prática ocorreu na Unidade Básica de Saúde Central e nos domicílios dos sujeitos, que foram os usuários de estomia intestinal cadastrados no programa do município e seus familiares. Sendo um total de 13 pacientes, destes, 7 mulheres e 6 homens. Acredita-se ter se alcançado os objetivos propostos, proporcionando a estes, momentos de troca de saberes e experiências, sendo possível visualizar a satisfação dos usuários e seus familiares no desenvolvimento das atividades. Percebe-se a importância do trabalho do enfermeiro que ao prestar um cuidado integral, acaba sendo um grande colaborador para reinserção dos usuários com estomia no meio social, o que favorece muito na recuperação e reabilitação destes. Palavras-chave: estomia, cuidado de enfermagem, enfermeiro ABSTRACT This study consists in a report of assistance practice experience developed in the discipline of Course Conclusion Work, from Graduation in Nursing Course of the Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (Regional Integrated University from High Uruguay and Missions) , Santiago Campus, from March to June of 2012. It had by objective develop actions of nursing care to the users with ostomy registered in the Programa Municipal de Estomias (Municipal Ostomies Program) from the city of São Francisco de Assis, as well implant the nursing consults and home visits to them, resuming the realization of Grupo de Convivência (Conviviality Group). This practice occurred in Unidade Básica de Saúde Central (Central Health Basic Unit) and at the users’ homes, who were the users of intestinal ostomy registered in the municipal program and their relatives. Being a total of 13 patients, 7 women and 6 men. It is believed to have achieved the objectives proposed, providing them moments of knowledge and experiences exchange, being possible to visualize the users and their relatives’ satisfaction during the activities development. It is realized the importance of nursing job, that providing an integral care, ends up being a great Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 58 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 collaborator to users with ostomy’s reintegration in social environment, what really favors their recovery and rehabilitation. Key Words: ostomy, nursing care, nurse. INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida, a industrialização e os efeitos da urbanização fizeram com que a população brasileira estivesse mais exposta a inúmeros problemas de saúde, dentre os quais se destacam o câncer, traumatismos, doenças crônico-degenerativas. Dessa forma, ajudam a ocasionar alterações em órgãos, necessitando muitas vezes de recursos tecnológicos como implantes de próteses e órteses, visando salvar ou proporcionar ao paciente melhor qualidade de vida (CESARETTI, 1996). As patologias do trato gastrointestinal levam, muitas vezes, à realização de uma cirurgia radical, resultando em uma estomia (colostomia/ileostomia) de caráter temporário ou, na maioria das vezes, definitiva. Essa indicação ocorre em grande parte por conseqüência de patologias crônicas, como, doença de Chagas, doença de Chron, câncer colorretal, dentre outras. Cascais Martini e Almeida (2007) referem que as patologias do sistema gastrointestinal podem resultar na realização de uma cirurgia mutilante e traumatizante, a qual acarreta alterações profundas no modo de vida das pessoas afetadas. Os pacientes estomizados, ao se depararem com o estoma, passam a lidar com esta nova realidade, estando suscetível a vários sentimentos, reações e comportamentos diferentes e individuais. O impacto da experiência estar estomizado afeta não somente o paciente, mas toda a sua família e amigos mais significativos. O sentimento de inutilidade, desgosto, depressão, repulsa, perda da autoestima, do status social e da libido, além de reforçarem as alterações na dinâmica familiar, causam impacto em nível emocional e psicológico (CASCAIS; MARTINI e ALMEIDA, 2007). Silva e Shimizu (2006) sinalizam que esse processo ocorre porque todo ser humano constrói, ao longo de sua vida, uma imagem de seu próprio corpo que se ajusta aos costumes, ao ambiente em que vive, enfim, atende às suas necessidades para se sentir situado em seu próprio mundo. Além das alterações causadas no modo de vida, os pacientes estomizados têm de adotar inúmeras medidas de adaptação e reajustamento às atividades diárias, como o autocuidado, bem como a manipulação dos dispositivos. A estomização para um paciente representa uma agressão a sua integridade com severas repercussões em relação a sua imagem corporal e ao seu autoconceito. O paciente estomizado, assim, precisa adaptar-se à nova situação em busca da harmonia e da restauração das suas forças. Esses pacientes necessitam de cuidados específicos para conseguirem sua reinserção social (FARIAS, GOMES, ZAPPAS, 2004). Pacientes submetidos a tal procedimento têm sua perspectiva de vida alterada, principalmente pela imagem corporal negativa, devido à presença do estoma associado a bolsa coletora. Além das mudanças nos padrões de eliminação, dos hábitos alimentares e de higiene, precisam adaptar-se ao uso do equipamento, resultando em autoestima diminuída, sexualidade comprometida e, muitas vezes, em isolamento social (NASCIMENTO et al, 2011). A enfermagem caracteriza-se como uma profissão de ajuda, conforme salienta Waldow (1995), na qual o conceito de cuidado é genuíno, pois o enfermeiro ao cuidar de pacientes deve valorizar a fragilidade física e emocional relativa à faixa etária e ao processo de doença. Sendo Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 59 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 assim, O enfermeiro apresenta-se como um profissional capaz de auxiliar o paciente na busca de seu equilíbrio. A compreensão das alterações causadas pela estomia torna-se importante no sentido de propiciar o planejamento de um cuidado mais efetivo, humano e de qualidade (FARIAS, GOMES, ZAPPAS, 2004, p.31). Os serviços e os profissionais de saúde, através de um adequado planejamento do cuidado que inclua o apoio psicológico, a educação para a saúde e que desenvolva as aptidões da pessoa para o autocuidado, podem ter um papel decisivo na adaptação fisiológica, psicológica e social do usuário com estomia, contribuindo assim para a melhoria significativa da qualidade de vida destas pessoas e de suas famílias, servindo como parte de sua rede social de apoio (RODRIGUES, 2013). Nesse contexto, Nascimento et al (2011) evidencia que cabe ao enfermeiro, como profissional de saúde, a compreensão dessas alterações, para que possa desenvolver um plano de cuidados adequado ao preparo do paciente para o convívio com a estomia. O cuidar implica em uma interação entre o cuidador e quem está sendo cuidado, para troca de conhecimentos e experiências, proporcionando um resultado positivo de cuidado. A atuação de enfermagem é de grande relevância, pois além de dar suporte no período que antecede à cirurgia, é uma ação de aprendizado em que o enfermeiro e o paciente interagem em uma relação empírica, buscando solucionar problemas por meio do diagnóstico de enfermagem. É também através da consulta de enfermagem que se tem um acompanhamento direto do paciente, prevenindo complicações relacionadas ao estoma, e ajudando-o a enfrentar as dificuldades ocasionadas pelas mudanças ocorridas após a estomização. Faz-se necessário destacar que a educação em saúde é indispensável e fundamental para o processo de cuidado, resultando em uma assistência de qualidade, pois o enfermeiro, além de cuidador é um educador, não apenas em relação aos demais membros da equipe de enfermagem, mas para o paciente, seus familiares e cuidador informal (REVELES, TAKAHASHI 2007). Diante disso, a visita domiciliária também deve ser considerada no contexto de educação em saúde por contribuir para a mudança de padrões de comportamento e, conseqüentemente, promover a qualidade de vida através da prevenção de doenças e promoção da saúde. Garante atendimento holístico por parte dos profissionais, sendo, portanto, importante à compreensão dos aspectos psicoafetivo-sociais e biológicos da clientela assistida (BECHARA, 2005). Tendo em vista a importância da estomia na vida de uma pessoa, as alterações que a mesma causa, a partir de algumas vivências acadêmicas e leituras e reflexões sobre o assunto, realizou-se este trabalho de conclusão de curso, através desta prática assistencial, que teve por objetivo desenvolver ações de cuidado de enfermagem aos usuários com estomia cadastrados no Programa Municipal de Estomias do município de São Francisco de Assis, bem como implantar as consultas de enfermagem e visitas domiciliárias aos mesmos, retomando a realização do grupo de convivência. MÉTODOS Este é um estudo descritivo e consiste em um relato de experiência, vivenciado a partir de uma Prática Assistencial desenvolvida na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de graduação em enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus de Santiago. Foi desenvolvida na Unidade Básica de Saúde Central, localizada no município de São Francisco de Assis – RS, tendo como cenários a Unidade referida e os domicílios Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 60 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 dos usuários, sob a supervisão da Enfermeira responsável pela entrega de material e cadastros dos pacientes Estomizados do município e com a orientação da docente enfermeira da Universidade no período de março a junho de 2012, totalizando 300 horas. Foram sujeitos da prática assistencial os usuários de estomia intestinal cadastrados no programa do município e seus familiares. Sendo num total de 13 pacientes, destes, 7 eram mulheres e 6 homens. As consultas de enfermagem e o grupo de convivência foram desenvolvidos na Unidade, conforme agendamento prévio com os usuários e com acompanhamento da enfermeira responsável. As visitas domiciliárias foram realizadas acompanhadas dos Agentes Comunitários de Saúde da microárea do território de abrangência em que o paciente reside, de acordo com a disponibilidade dos pacientes para nos receber. Cabe ressaltar que para o desenvolvimento desta prática assistencial, apesar de não configurar uma pesquisa, respaldou-se na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) referente às questões que envolvem trabalhos com seres humanos (BRASIL, 1996). Dessa forma, o critério utilizado para participação destas atividades foi a leitura e aceite do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice A), mediante assinatura do mesmo que garante informações e esclarecimentos de dúvidas referentes à estratégia de intervenção deste trabalho. O ENFERMEIRO E AS AÇÕES DE CUIDADO AOS USUÁRIOS COM ESTOMIA Dos 13 pacientes, 10 tiveram que realizar a cirurgia devido ao câncer (CA) de intestino. Um dos pacientes é portador da doença de Chagas, outra tem CA de útero e apresentou metástase no intestino e outro devido à dificuldade de locomoção por causa da tetraplegia acabou desenvolvendo uma úlcera por pressão na região anal, ocasionando uma fístula, tendo que realizar o desvio intestinal. CUIDADOS DE ENFERMAGEM A estomia independentemente de ser temporária ou definitiva, acarreta uma série de mudanças na vida do paciente e sua família, requerendo assim um cuidado diferenciado. Os cuidados de enfermagem com paciente com estomia não podem voltar-se somente para o estoma, mas também para o estado físico, emocional, psicológico e social, além de atentar para seus familiares e cuidadores (RODRIGUES, 2013). Waldow (1995) refere que o cuidar em enfermagem consiste em envidar esforços transpessoais de um ser humano para outro, visando proteger, promover e preservar a humanidade, ajudando pessoas a encontrar significados na doença, sofrimento e dor, bem como, na existência. E ainda, ajudar outra pessoa a obter o autoconhecimento, controle de autocura, quando então, um sentido de harmonia interna é restaurada, independentemente de circunstâncias externas. Em relação às pessoas com estomia, os cuidados devem começar desde o momento em que o mesmo recebe o diagnóstico e a indicação para a realização de cirurgia, amenizando o sofrimento e buscando uma melhor reabilitação. Os cuidados de enfermagem com os pacientes com estomia e seus familiares foram trabalhados conforme foi se observando as dificuldades relatadas pelos mesmos, tanto com o estoma, como também com o modo de lidar com as novas experiências vivenciadas por eles. Durante a realização das consultas de enfermagem (CE), das visitas domiciliárias e grupo, manteveVivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 61 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 se um cuidado atento com o estoma, bem como com o usuário e o contexto em que ele encontra-se inserido. As consultas de enfermagem foram realizadas na Unidade Básica de Saúde, exceto com alguns usuários, que, por dificuldades de locomoção não puderam ir à unidade, logo, estas foram desenvolvidas durante a visita domiciliária. Essas proporcionaram relatar individualmente sobre o projeto aos pacientes com estomia, bem como conhecer sua história de vida, o motivo pelo qual levou os mesmos a usarem a bolsa de colostomia, hábitos e crenças do usuário, modos de enfrentamento e aceitação da bolsa, diferentes maneiras de cuidados com a estomia, sendo benéfico, assim, para a criação de um vínculo, uma proximidade com os mesmos. Segundo Vanzin e Nery (1996, p.53): A consulta de enfermagem compreende uma série de ações realizadas numa seqüência ordenada, desde a recepção do cliente até a avaliação geral de todo o atendimento prestado, pois o enfermeiro coleta informações, observa, examina para conhecer, compreender e explicar a situação de saúde antes de decidir sobre o diagnóstico de enfermagem e terapêutica do enfermeiro. Nas consultas foram avaliados o estado geral do paciente, o estoma, a integridade da pele peri-estoma e as trocas das bolsas de colostomia. Os usuários foram orientados quanto aos cuidados em geral com sua saúde, à higiene com o estoma, a limpeza e as trocas da bolsa de colostomia. Alguns usuários ressaltaram as dificuldades que encontraram para aceitar o novo modo de vida. Muitos referiram o medo, o constrangimento, a vergonha, como sentimentos presentes no seu dia-dia, privando-se de sair, trabalhar, de levar a vida que levavam antes, como se vê nos relatos dos mesmos a seguir: [...] Quando recebi a notícia que teria que usar a bolsa foi um choque. Por mais que sabia que não era permanente, mas deixei de sair, não conseguia entender por que comigo? Eu que sou uma pessoa religiosa, por que Deus? No começo não conseguia olhar para meu esposo, meus filhos, tinha muita vergonha deles, tinha a impressão que todo mundo ia ficar me olhando, que meu corpo tava diferente, não ia mais à igreja, até que um dia, fui à igreja comecei a rezar e encontrei força pra seguir em frente, hoje eu saio, vou à festa, baile etc. não como antes, mas já não sinto tanta vergonha, já troco a bolsa sozinha, faço a limpeza. Ainda tenho minhas recaídas, choro, mas penso que existe coisas piores, e que Deus está comigo, então ergo a cabeça e sigo em frente. E o que me conforta é que em agosto deste ano vou poder fazer a cirurgia de reversão [...] (S 1); [...] Faz 1 ano e 5 meses que uso a bolsa de colostomia, e desde então não saio mais como antes, tenho muita vergonha, fico constrangido com medo de que vai fazer “barulho” e que as outras pessoas vão ouvir e perceber que é de mim [...] (S 2); As alterações e preocupações relacionadas com o estado físico referem-se às modificações fisiológicas gastrointestinais, nomeadamente a perda do controle fecal e da eliminação de gases, complicações relacionadas com a estomia e a realização do auto-cuidado com o estoma e com a Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 62 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 troca de bolsas (TRENTINI et al, 1992). Já para outros, foi diferente, seguiram trabalhando, levando a vida como antes, com algumas restrições, mas não se privaram da vida social. Como se percebe no relato a seguir: [...] Quando descobri que tinha câncer de intestino fiquei um pouco assustado, então o médico me disse que teria de fazer um desvio e que passaria a usar uma “bolsinha”, de inicio até eu me adaptar foi um pouco difícil, mas desde o início sempre fui eu quem realizou a higiene da bolsa de colostomia, e nunca parei de trabalhar, faço uso da bolsa há 13 anos, sou pedreiro e nunca deixei de trabalhar, atualmente estou construindo a minha própria casa [...] (S 3); As pessoas submetidas a esse tipo de intervenção enfrentam várias modificações no seu diaa-dia, as quais ocorrem não só em nível fisiológico, mas também em nível psicológico, emocional e social (SONOBE et al, 2002). Durante as consultas de enfermagem foram implantados os prontuários de cada paciente, onde ficam registrados os dados dos pacientes, bem como as consultas de enfermagem, visitas domiciliárias, a participação do paciente em atividades realizadas, sendo que todo e qualquer procedimento devem ficar registrado no prontuário do paciente. Segundo Novaes (1998), o prontuário trata-se de um documento de extrema relevância que visa, acima de tudo, demonstrar a evolução da pessoa assistida e, subseqüentemente, direcionar o melhor procedimento terapêutico ou de reabilitação, além de assinalar todas as medidas associadas, bem como a ampla variabilidade de cuidados preventivos adotados pelos profissionais de saúde. As visitas domiciliárias foram realizadas acompanhadas pelos Agentes Comunitários de Saúde e conforme disponibilidade de datas e horários dos pacientes. Através das visitas, pode-se perceber de maneira mais clara, o modo de vida que o paciente e seus familiares encontram-se, pois podemos avaliar as condições físicas, ambientais que vivenciam, além de conhecer as relações familiares deles. Compreendendo assim, até o porquê de muitas pessoas com estomia não procurarem atendimento na unidade, não irem retirar o material, transferindo essa tarefa para seus familiares e cuidadores. O Ministério da Saúde, em seu Manual de condutas de Enfermagem em Saúde da Família conceitua de visita domiciliária como: Uma atividade utilizada com o intuito de subsidiar a intervenção no processo saúde-doença de indivíduos ou o planejamento de ações visando à promoção de saúde da coletividade. Onde sua execução ocorre no local de moradia dos usuários dos serviços de saúde e obedece a uma sistematização prévia (TAKAHASHI; OLIVEIRA, 2001, p.43). Percebeu-se ainda que a maioria dos pacientes com estomia possuem dependência de seu familiar ou de seu cuidador, além de terem que fazer mudanças para se adaptar melhor, sendo a maioria dessas mudanças no banheiro devido à troca e higienização da bolsa. As visitas foram de grande importância, pois foi um dos meios que proporcionou uma maior aproximação dos pacientes com estomias e seus familiares, podendo assim conhecer melhor a vida de cada paciente, bem como as preocupações e dificuldades enfrentadas no dia-dia pelos mesmos. Durante as visitas domiciliárias foi comentado com os usuários sobre a realização de grupos, nos quais os mesmos referiram que teriam interesse em participar, sendo assim, logo, fez-se o convite para este primeiro contato, que foi o 1o Grupo realizado na Unidade Básica de Saúde Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 63 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Central (UBS) aos usuários, familiares e seus respectivos cuidadores. No dia 31 de maio de 2012, foi realizado o grupo com duração de 1 hora e meia, onde participaram os usuários com estomia, seus familiares e cuidadores, bem como a Enfermeira Supervisora e responsável pelo Programa e a Agente Comunitária de Saúde responsável pela área que abrange a UBS. Conforme pesquisa realizada por Silva e Shimizu (2007), foi constatada que o apoio social é extremamente importante para a reabilitação da pessoa estomizada, pois norteia decisões a respeito da doença e do tratamento e ampara o usuário no sentido de enfrentar a doença e suas novas condições físicas. Ainda, segundo as autoras, é importante que haja um espaço compartilhado entre os iguais, onde possam expor mais livremente suas angústias e sentimentos, são compreendidos por seus pares e acolhidos. A realização do grupo proporcionou que eles pudessem se conhecer melhor, trocar experiências e sentirem-se acolhidos por pessoas que se encontram na mesma condição de vida. O grupo é um fator importante para reabilitação do usuário estomizado, bem como de seus familiares e cuidadores, que passam a interagir, trocar experiências entre si, conhecer e aprender novas formas de lidar e tratar com o mesmo. No caso dos usuários de estomia, o grupo se propõe a fornecer também uma vivência ao mesmo, no sentido de ajudá-lo a lidar com a doença apartir da experiência e do conhecimento dos participantes do grupo. Na ocasião, foi proposta uma dinâmica de apresentação, assim, eles apresentaram-se falaram um pouco da sua trajetória, como foi à aceitação da estomia, o porquê de ter de usar estomia. Durante as falas percebeu-se o quanto o depoimento deles foi revelador para eles próprios, e principalmente dos familiares que relataram como foi para eles enfrentarem esse novo modo de vida. Segundo Souza e colaboradores (2004), o usuário de colostomia sofre impacto físico e psicológico, bem como uma súbita destruição de sua imagem corporal. O estado emocional do paciente anteriormente e logo após a cirurgia pode ser caracterizado por sintomas de ansiedade e depressão que contribuem de forma negativa no estabelecimento de novas relações sociais, além de exacerbar o medo, a dor e o sofrimento. Após apresentação dos pacientes, surgiram perguntas, dúvidas, questionamentos em relação à bolsa de colostomia, que foram sendo esclarecidas e discutidas com eles aos poucos. Foram mostrados todos os tipos de bolsa que vem para o município. Conforme os mesmos o grupo foi de muita importância e contribuiu para que eles se conhecessem e pudessem realizar trocas de experiências e vivências, sendo que muitos são usuários há pouco tempo. [...] Eu sou usuária há 5 meses, não imaginava que existisse aqui no município tantas pessoas que também usam bolsa de colostomia, pra mim foi uma surpresa [...] (S 4); [...] Eu não sou usuário, mas minha mãe usa, e tenho vergonha de dizer que tenho certo medo de lidar com ela, quando a enfermeira chega lá em casa eu procuro sair para não ter de responder alguma coisa, mas hoje eu levo daqui uma lição de vida, tudo que escutei, e presenciei a aqui neste grupo me fizeram ver as coisas de outro modo [...] (S 5); Para Tatagiba e Filartiga (2002, p.13) “a vida em grupo oportuniza um universo de experiências para o desenvolvimento e crescimento das pessoas a partir da descoberta de si mesmo e dos outros”. Pensando nessas questões levantadas, entende-se a influência desse processo grupal Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 64 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 na vida dos pacientes com estomia. Como podemos perceber através das falas dos pacientes e familiares o grupo foi de grande incentivo e ajuda para os mesmos e seus familiares. A participação em grupos permite uma interação positiva, uma vez que essa metamorfose humana propicia que cada um se veja no outro, considerando que todos possuem problemas semelhantes. Esse processo interativo os liberta da solidão e lhes faculta o companheirismo que é de grande valor terapêutico (PEREIRA; PELÁ, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho desenvolvido foi satisfatório e alcançou os objetivos, pois pode-se desenvolver um cuidado integral a estas pessoas que se encontram em uma situação delicada. A realização dessa prática, junto aos usuários foi de grande valor, pois apesar das dificuldades encontradas, pode-se fazer com que a maioria dos usuários e seus familiares começassem a buscar mais informações, adquirindo assim, mais conhecimento sobre o Programa de Estomizados e seus direitos, promovendo assim, a promoção da saúde dos mesmos. Percebe-se que o enfermeiro tem um importante papel para os pacientes e que o mesmo pode ser um grande colaborador para a recuperação e inserção dos usuários com estomia no meio social, prestando um cuidado de enfermagem qualificado, indo de encontro com as reais necessidades destes usuários. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECHARA, R. N. et al. Abordagem multidisciplinar do ostomizado. Revista Brasileira de ColoProct, v.25, n.2, p. 146-149, 2005. CASCAIS, A. F. M. V; MARTINI, J.G; ALMEIDA, P. J. S. O impacto da ostomia no processo de viver humano. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n.1, p. 163-163, jan-mar, 2007. CESARETTI I. U. R. Novas Tecnologias e Novas Técnicas no Cuidado dos Estomas. Rev. Bras. Enfermagem, Brasília, v.49, n.2, p.183-192, abr/jun., 1996. FARIAS, D.H.R; GOMES, G.C; ZAPPAS, S. Convivendo com uma ostomia: Conhecendo para melhor cuidar. Cogitare Enfermagem. 2004 Jan/Mar; 9 (1): 25-8 NASCIMENTO, C.M.S. et al. 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Eu, ...................................................................................., declaro que estou ciente concordo em participar das atividades da Prática Assistencial, com o título acima mencionado, desde que os meus dados pessoais sejam mantidos em sigilo, sendo que poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, tendo a garantia de que minha saúde e meu tratamento não serão colocados em riscos em momento algum. Fui esclarecido de que não haverá remuneração financeira pelas informações por mim fornecidas à acadêmica do IX semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da URI Campus/Santiago, nomeada como autora da Prática Assistencial, a qual estará devidamente identificada, podendo ir ao meu domicílio se assim decidirmos conjuntamente, desde que minha residência não seja identificada. Também, poderá divulgar o trabalho somente para fins acadêmicos, registrar falas e fotografar desde que seja garantido meu anonimato e houver respeito aos princípios contidos na resolução número 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. São Francisco de Assis___de___________2011. __________________________ Assinatura do Participante Vivências. Vol. 9, N.17: p. 58-67, Outubro/2013 67