REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 183 Apresentando a Cartografia e o Ensino de Geografia RIBEIRO, Eduardo A. Werneck1 No ano de 2007, tive a oportunidade de ministrar a disciplina Cartografia e o Ensino de Geografia, no 4° ano matutino e noturno, do curso de Licenciatura em Geografia, da Unesp de Presidente Prudente, como bolsista doutorado. Ao estudar a ementa, percebi que a disciplina tinha como objetivo discutir a relação do ensino de cartografia nas aulas de Geografia. Ora, estava diante de um grande desafio, pois, é muito comum (infelizmente) entre os colegas docentes de Geografia, a não adoção do uso do Atlas ou mesmo de conceitos básicos da Cartografia. Agora, a responsabilidade era criar um ambiente de discussão chamando atenção para a questão do saber ensinar Cartografia e como poderíamos atingir estes objetivos. Um primeiro passo, neste sentido, foi apresentar a Cartografia como um conhecimento interdisciplinar. Um componente do conhecimento que poderia estar discutindo tanto linguagens conceituais como visuais. A literatura que discute o tema é bastante clara ao abordar criticamente as linguagens visuais no processo de ensino-aprendizagem. Essa prática cria uma mediação entre o fazer e o refletir que o aluno, mesmo fora da universidade, conseguirá desenvolver. Como ensina Vygotsky, os processos de funcionamento mental do homem são fornecidos pela cultura, através da mediação simbólica. E a cartografia tem a possibilidade de desenvolver este papel. Temos uma visão parcial do mundo, pois a nossa percepção da realidade é limitada. O que permite diminuir essa limitação, ou o que nos possibilita obter a percepção é o conhecimento do real e das maneiras que as representações podem ser propiciadas. A escala, o símbolo, a cor, a textura, as formas geométricas, enfim, são mediação ou um conjunto de ações que possibilitam a relação entre o real e a representação desse real em um papel. Os meios para se atingir isto estão exatamente no conhecimento interdisciplinar. Este foi o nosso “norte” da disciplina. O desenvolvimento da disciplina foi articulado em três partes. A primeira parte, discutimos os conteúdos das competências e habilidades exigidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A segunda parte, destacamos as práticas e as formas de atividades voltadas para o ensino de Cartografia, ou seja, como fazer e como agir. Neste SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 184 momento da discussão foi possível o uso de recursos tecnológicos digitais como ferramentas de ensino. E, por fim, na última parte, estabelecemos um rico debate de como a Cartografia é abordada nos livros didáticos das escolas públicas e privadas e se eles dão suporte necessário para enfrentar um vestibular de grande renome nacional. Foi muito prazeroso o desenvolvimento da disciplina. O que estamos publicando na Revista Saber Acadêmico são os ensaios finais para a disciplina, que por sinal, fiquei surpreso pelo volume apresentado e o grau de discussão abordado. Assim, o relato O livro didático e o professor de geografia: algumas considerações sobre a cartografia no ensino de Geografia e no vestibular escrito por Bruno Alberto dos Santos Cyriaco e Natalya Dayrell de Carvalho aborda a questão de como o saber cartográfico é tratado nas escolas do dia de hoje. Já A técnica na construção dos mapas nos vestibulares da Unicamp (19962007): uma análise crítica de André Loppi Goulart aplica uma metodologia de análise das figuras e mapas abordados nos vestibulares. As relações entre ensino, vestibular e utilização da cartografia integram os textos redigidos em conjunto por Antonio E. Monteiro Laurente e Cleber Ferreira dos Santos, assim como aquele produzido por Vanessa de Souza Paloma. Acredito que os alunos apreenderam a importância do tema, não apenas para a sua formação acadêmica, mas também, como cidadão, pois ao longo da disciplina percebemos que esta prática pode ser compartilhada por diferentes campos do saber, não ser exclusivamente da Cartografia e Geografia, mas de todas aquelas que utilizam informações e precisam ser representadas, daí mais uma vez, seu caráter interdisciplinar. Espero que os relatos possam contribuir para todos aqueles que apreciem a temática abordada. 1 Doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Docente da Faculdade de Presidente Prudente (UNIESP) SABER ACADÊMICO - n º 05 - jun. 2008/ ISSN 1980-5950