XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. AVALIAÇÃO DO USO DADO ÀS CINZAS PRODUZIDAS NA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA Franklin Pires Santos1, Jéssica Melo Tibúrcio Cavalcante2, Maria Monize de Morais3, Yenê Medeiros Paz4, Natália Vitória Ramos5, Romildo Morant de Holanda6 Introdução De modo geral o manufaturamento de matérias primas é lapidado ao longo de seu processo produtivo gerando subprodutos, que a priori não possuem a mesma gana do produto final e geralmente são descartados. O crescimento da economia aduzida pela demanda de produtos industrializados a nível mundial intensificam a produção de refugo e a destinação final desses rejeitos de modo descabido tem acentuado o dolo ao meio ambiente (Pereira et al., 2011). Na área da construção civil o volume dos recursos, dispêndio energético e geração de resíduos tem um caráter exploratório, mais expressivo do que aquilo que é produzido devido às perdas no fluxo produtivo, e consequentemente afetando a qualidade do meio ambiente. O emprego agrícola dos resíduos pode ser uma forma apreciada de restituir parte do que é extraído tanto na ótica agronômica, quanto ambiental e econômica (Ramalho & Pires, 2009). A indústria da cerâmica vermelha, por sua atividade, promove a geração de passivos ambientais decorrente do uso de áreas para extração de recursos minerais e combustíveis. As matérias vegetais são as mais utilizadas como insumo energético para a decomposição e cristalização dos componentes minerais da argila, conferindo resistência e conformidade das peças cerâmicas. Os derivados vegetais utilizados na queima são: lenha, pós de serragem, palha, restos de madeira, bagaços e celulose (FEAM, 2012, apud Cavaliere et al, 1997). Assim os resíduos minerais são perdidos por veiculação do ar ou lixiviação em deposito, aderência na maquinaria, tombamento em esteira, sobras no corte da massa, eventuais quebras e deformações. As cinzas provenientes da queima dos derivados vegetais nos fornos são classificadas como material não perigoso e inerte, pois seus constituintes solubilizados em água podem acarretar apenas mudanças de cor, turbidez, sabor e aspecto, portanto podem ser dispostas no solo (Marcos et al, 2011). Segundo Pires & Mattiazo, 2008, o descarte é a ação de desvencilhar-se de algo que não tem serventia, enquanto que a disposição é a atribuição de uma serventia para algo de forma sistêmica. Deste modo esse estudo visa investigar a realidade de uma empresa de cerâmica vermelha em relação à geração e disposição dada às cinzas produzidas nos fornos pelo processo de queima de biomassa. Material e métodos O trabalho foi resultante de uma pesquisa qualitativa referente à destinação dos resíduos de uma indústria de cerâmica vermelha, em etapa inicial foi realizado o levantamento bibliográfico para aproximação ao tema e na etapa seguinte foi realizada visita à Indústria de Cerâmica Vermelha para obtenção de dados primários, utilizando-se entrevistas e registro fotográfico como instrumento. As entrevistas consistiram em perguntas direcionadas a alta administração. O local da visita foi a Cerâmica Bom Jesus localizada no município de Paudalho, no estado de Pernambuco, onde se encontra localizado um aglomerado cerâmico. A empresa em questão é de referência nos quesitos: tecnológicos, ambientais e sociais, e atualmente está associada ao Sindicato da Indústria de Cerâmica para Construção no Estado de Pernambuco (SINDICER-PE). 1 Discente do Programa de Pós-graduação em Engenharia Agrícola (PGEA) do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Menezes, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]. Discente de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Menezes, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 3 Discente de Graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Menezes, s/n, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 4 Discente do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PEAMB) do Departamento de Tecnologia Rural, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Menezes, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 5 Discente de Graduação em Engenharia Ambiental pela Universidade Católica de Pernambuco. Rua do Príncipe, 526, Boa Vista, Recife, PE, CEP 50050-900. E-mail: [email protected] 6 Professor adjunto do Departamento de Tecnologia Rural (DTR) e Coordenador do programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PEAMB) pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmãos, Edifício Manoel Ronaldo, Laboratório de Materiais de Construção, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 2 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Resultados e Discussão Em particular a cerâmica em questão está se direcionando para ser sustentável em seu processo produtivo, com utilização de água captada em reservatórios, realiza o reflorestamento para a produção de material vegetal, utilização de madeira certificada, reaproveitamento das frações de argila que se perdem ao longo do ciclo produtivo e pretende utilizar energia solar para transmissão elétrica das máquinas. Os combustíveis utilizados para a queima do corpo cerâmico podem interferir na composição química das cinzas. As cinzas provenientes da queima de combustíveis fósseis são classificadas como resíduos não inertes, através de elementos químicos de cadeia longa de difícil degradação, que podem reagir de forma negativa no solo produzindo respostas indesejáveis às plantas. Em relação à utilização da lenha para a queima nos fornos esta possui uma representatividade de mais da metade da biomassa florestal consumida mundialmente somente para a atividade industrial cerâmica e a produção de cinzas corresponde em média a 5 kg por milheiro produzido (FEAM, 2012 apud Brito et al., 2004). Como a produção média diária de blocos cerâmicos de oito furos é de 70.000 unidades, pode-se inferir que o total médio de cinzas produzido é de 350 kg diários, que é utilizado para correção de solo na área plantação de eucalipto. Esta área vem sendo cultivada para utilização da madeira como combustível para os fornos, configurando-se como matriz energética sustentável evitando o desmate da mata nativa, contribuindo para o sequestro de carbono e gerando empregos locais, conforme Figura 1. Os nutrientes constituintes das cinzas estão em proporções desbalanceadas para a nutrição vegetal, porém já é um incremento. Segundo o próprio entrevistado os resíduos vegetais atuaram como condicionantes do solo, dispensando os tratos culturais de implantação como, por exemplo, a calagem, uma vez que os resíduos possuem cátions trocáveis é evidente que haja a elevação do potencial de hidrogênio (pH). Esta característica é conveniente, pois como a maioria dos solos da região se caracteriza como solos tropicais e possuem muitos óxidos, há uma redução do pH, o que dificulta a implementação de certas culturas ou requer tratos corretivos dispendiosos. As cinzas ainda são utilizadas na Indústria na vedação dos fornos contínuos, misturando-se esse material a argila. Dessa forma consegue-se dar uma destinação para este resíduo. Além de se utilizar na vedação, seu uso é feito também no traço do cimento para obras internas. A destinação agrícola dos resíduos da indústria da cerâmica vermelha, como é o caso da Cerâmica Bom Jesus, configura numa tendência ao ecociclo, onde a indústria se espelha nos ciclos biogeoquímicos que ocorrem na natureza, evitando a geração exacerbada de resíduos e quando desta sua destinação ambientalmente adequada e/ou uso em outros processos. Agradecimentos Ao SINDICER-PE pela oportunidade, a FIEPE pela assistência, ao Prof. Dr. Romildo Morant de Holanda pela excelente orientação e aos colaboradores que tornaram este trabalho possível. Referências Feam, Fundação Estadual do Meio Ambiente. Plano de ação para adequação ambiental e energética das indústrias de cerâmica vermelha no estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, 2012. Osaki, F.; Darolt, M.R. Estudo da qualidade de cinzas vegetais para uso como adubos na região metropolitana de Curitiba. Revista Setor Ciências Agrárias. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, 1991. Pires, A.M.M.; Matiazzo, M.E. Avaliação da viabilidade de uso de resíduos na agricultura. Circular Técnica 19, Embrapa Meio Ambiente, SP, 2008. Ramalho, A.M.; Pires, A.M.M. Viabilidade do uso agrícola de resíduo da construção civil e da indústria cerâmica: Atributos químicos, Campinas, SP, 2009. Vargas, R. de; Pereira, E.; Ozorio, V.L.; Santos, E. de. Uso de cinzas de lenha da indústria cerâmica como condicionante do solo. III Congresso de Engenharia Ambiental, Foz do Iguaçu, PR, 2001. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. A B C Figura 1. Matriz energética para a queima dos corpos cerâmicos. Fig. 1A. Combustível oriundo de Biomassa. Fig. 1B. Forno do tipo Túnel. Fig. 1C. Aproveitamento energético do calor dissipado pela queima nos fornos para pré-secagem do produto.