TÍTULO: ATENÇÃO À SAÚDE DAS FAMÍLIAS DA COMUNIDADE MORRO DOS
CABRITOS, RIO DE JANEIRO.
AUTORES: Maria Helena do Nascimento Souza, Rosane Harter Griep, Elizabete Araújo
Paz Malveira, Olinda Paula Medeiros, Paola Santa Galafassi.
E-Mail: [email protected]
RESUMO
O presente estudo desenvolvido na Comunidade Morro dos Cabritos é do tipo
descritivo e tem como objetivos: caracterizar as famílias quanto às condições: sócioeconômicas, ambientais e de saúde; determinar a prevalência de indivíduos com risco
para hipertensão, identificar os recursos de saúde utilizados pela população e avaliar o
estado nutricional das crianças que freqüentam a Creche Comunitária. O trabalho foi
desenvolvido por acadêmicos de enfermagem, supervisionados por docentes da Escola
de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. Os resultados mostraram que: os domicílios eram de
alvenaria, com 4 a 5 cômodos; contavam com condições relativamente adequadas de
saneamento básico. 80% das famílias possuíam até dois salários mínimos. O índice de
indivíduos com história de hipertensão ou com pressão arterial acima de 140x90 mm
Hg na ocasião da entrevista foi elevado. Os moradores geralmente procuram o Centro
Municipal de Saúde ou o Hospital público próximo à comunidade, quando apresentam
algum problema de saúde. Com relação ao estado nutricional das crianças que
freqüentam a Creche, verificou-se que das 130 crianças 20% apresentam déficit de
peso para a sua idade. Com este trabalho, observou-se que é de fundamental
importância o conhecimento do contexto familiar, ambiental e de saúde das famílias
residentes em comunidades carentes, pois este possibilita o planejamento de medidas
de intervenção bem como a melhoria da qualidade da assistência prestada a essa
população.
I - INTRODUÇÃO
1
O ponto de partida para qualquer informação de saúde é um bom conhecimento da
população do distrito sanitário e o número total de pessoas que estão sob risco de
necessitar um atendimento.
Em saúde comunitária são necessárias habilidades epidemiológicas para examinar a
população como um todo e selecionar os indicadores diagnósticos mais apropriados para
descrever os problemas de saúde existentes e explicar sua determinação. Assim, os
diagnósticos de saúde da comunidade subsidiam a decisão implantar programas mais
efetivos para melhorar a situação de saúde da população (VAUGHAN &
MORROW,1997).
No campo da epidemiologia, a principal tarefa da enfermagem é a redefinição da
sua prática assistencial e de ensino, principalmente no que concerne ao ancoramento das
mesmas na pesquisa epidemiológica. Neste sentido, investigar os principais problemas de
saúde referidos pela comunidade, pode ser útil no que diz respeito à discussão e
implementação de propostas de intervenções de saúde que busquem transformar o
conteúdo das práticas sociais na saúde, bem como suas articulações nas sociedades ou
grupos específicos (FONSECA & BERTOLOZZI, 1997).
A prática do enfermeiro em comunidade está integrada em todos os níveis de
assistência. Assim sendo, deve prestar assistência complementar, preventiva e terapêutica
não só ao indivíduo isoladamente, mas dentro de seu contexto familiar e da comunidade.
Para tanto, faz-se necessário a análise de necessidades, a planificação e aplicação de
medidas necessárias e a evolução da eficácia da assistência prestada (NERY e col, 1994).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS,1985), numa proposta de trabalho
comunitário, o enfermeiro deve estimular a participação da comunidade ativamente no
desenvolvimento e aplicação dos programas educativos, ajudar as famílias a assumirem a
responsabilidade por sua própria saúde, ensinando os princípios básicos necessários e
técnicos do auto-cuidado, dar orientações e apoio a agentes de saúde existentes na
comunidade.
1.2. Justiticativa/Relevância
Nos recentes trabalhos de saúde comunitária, nas Unidades Básicas de Saúde,
constata-se a necessidade de um melhor conhecimento do perfil epidemiológico e da
realidade da população local. A dificuldade em conhecer a freqüência, o tipo e a magnitude
da morbidade, nos coloca, muitas vezes, como executores de tarefas sem respaldo do
conhecimento da realidade.
2
Desta forma, acredita-se que o conhecimento do perfil epidemiológico de uma
comunidade pode favorecer a produção de conhecimento em saúde coletiva, permitindo
conhecer realidades que nem sempre seriam possíveis no atendimento da população dentro
das Unidades de Saúde. Propicia ainda, uma visão mais holística da realidade vivida pelos
indivíduos, bem como a compatibilização de plano de assistência de enfermagem à família
a partir de suas reais necessidades.
Diante do exposto, verifica-se que outro aspecto relevante nesta investigação é o
conhecimento do próprio sistema de serviços de saúde da localidade, sua efetividade, bem
como aspectos estruturais do mesmo.
1.3. Objetivos
♦ caracterizar as famílias quanto às condições: sócio-econômicas, ambientais
e de saúde;
♦ determinar a prevalência de indivíduos com risco para hipertensão,
♦ identificar os recursos de saúde utilizados pela população e
♦ avaliar o estado nutricional das crianças que freqüentam a Creche
Comunitária
II – METODOLOGIA
2.1. Tipo de estudo
Trata-se de inquérito domiciliar de morbidade referida. Neste tipo de estudo fator e
efeito são observados num mesmo momento histórico (Rouquayrol, 1993 p.169). Segundo
esta autora, o inquérito epidemiológico é um método de grande valia para se estimar a
prevalência de doenças em determinada região.
2.2. População do estudo
O presente trabalho foi desenvolvido na Comunidade: “Morro dos Cabritos”,
situada em Copacabana, em 183 domicílios, num total de 639 moradores e na Creche
Comunitária “Cantinho da Natureza”, que possuía 130 crianças.
2.3. Instrumento de coleta dos dados
Foi utilizado formulário de perguntas fechadas, contendo questões referentes às
condições do domicílio, situação sócio-econômica, composição familiar, morbidade
3
referida, utilização de serviços de saúde, entre outras. E para a coleta dos dados das
crianças da creche utilizou-se um formulário contendo dados sobre as condições de saúde
infantil, bem como valores de peso e estatura das mesmas.
2.4. Coleta de dados
Os dados foram coletados em 2001 e 2002, pelos alunos do Curso de Graduação em
Enfermagem que desenvolvem atividades relacionadas aos Projetos de Extensão
desenvolvidos na Comunidade. Os alunos foram previamente treinados para a coleta dos
dados, identificação de problemas, plano de assistência de enfermagem, bem como para
verificação dos níveis de pressão arterial dos adultos e aferição de peso e estatura das
crianças.
2.5 Tratamento dos dados
Após a coleta, os dados foram digitados em computador, utilizando-se software
Epi-info (versão 6.0), sendo então distribuídos em tabelas e gráficos, permitindo sua
visualização e discussão dos achados.
III - RESULTADOS
A partir do trabalho realizado na comunidade, foi possível o conhecimento das
condições sócio-econômicas, ambientais e de saúde das crianças e adultos que residem
neste ambiente, bem como a utilização de serviços de saúde, por estes.
Quadro 1 - Características sócio-demográficas e ambientais das famílias estudadas na
comunidade Morro dos Cabritos, Copacabana.
_________________________________________________________
Características
Frequência (%)
_________________________________________________________
Tipo de construção
madeira
1,1
alvenaria
97,8
mista (madeira e alvenaria)
1,1
No. de cômodos
≤3
5-6
>7
21,0
61,0
18,0
4
Saneamento básico
rede de esgoto
rede de água
92,0
100,0
Tratamento da água
filtra
fervura
cloro
nenhum
78,7
3,4
4,5
13,5
Renda percapta (sm)
1,0 a 2
45,4
2,1 a 3
23,0
> 3,1
32,0
__________________________________________________________
Com relação ao material utilizado para a construção do domicílio, verificou-se que
havia um predomínio de casas construídas de alvenaria, 97,8%, sendo que estas possuíam
de cinco a seis cômodos (Quadro 1). Tal fato pode ser decorrente de uma maior
estabilidade da favela na região, o que leva essa população a investir na melhoria das suas
condições de vida, mesmo habitando em locais de risco ou condições precárias.
O quadro 1 mostra ainda, que os domicílios estudados possuíam uma cobertura
adequada das redes públicas de água e esgoto. No entanto, SIGULEM & SOLYMOS
(1992), estudando a população moradora em favelas verificaram que neste ambiente,
muitas vezes as ligações de água e esgoto ocorriam de maneira clandestina. Assim, as
condições precárias de encanamento possibilitam o contato dos dejetos com a rede de água,
ou mesmo com os moradores na ocasião de enchentes. Desta forma, nota-se que é de
extrema importância o tratamento da água utilizada para beber, o que ocorre em apenas
78,7% dos domicílios estudados. SOUZA (1992), afirma que as condições satisfatórias do
saneamento domiciliar exercem uma influência significativa na determinação do estado de
saúde de uma população.
Com relação à renda per capta observou-se que cerca de 45% das famílias
possuíam uma renda de 1 a 2 salários-mínimos, representado as precárias condições de
vida de grande parte desta população.
Tabela 1 – Distribuição da população estudada quanto aos valores de pressão arterial.
Valor da Pressão Arterial (mmHg)
%
< 140 x 90
68,1
5
> 140 x 90
31,9
Total
100,0
A tabela 1 mostra o alto índice de indivíduos que apresentaram pressão arterial
elevada na ocasião da aferição no domicílio. Segundo dados do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2001) a prevalência estimada de hipertensão arterial no país é de 20%,
constituindo um importante problema de saúde pública.
Tabela 2 – Distribuição da população estudada quanto a utilização de serviços de saúde,
na ocorrência de algum problema de saúde.
Serviço de saúde
%
Centro Municipal de Saúde
40,0
Hospitais públicos
55,0
Plano de Saúde ou particular
5,0
Total
100,0
Quanto a procura de serviço de saúde, observou-se que a maior parte da população
utiliza os hospitais públicos ou o Centro Municipal de Saúde. Vários estudos apontam para
a importância da implementação dos diversos níveis de atenção do Sistema Único de
Saúde, especialmente o nível primário de atenção, uma vez que a grande maioria dos casos
que aparecem na emergência hospitalar poderiam ter sido resolvidos na rede básica
(BRASIL, 2001).
Tabela 3 – Distribuição das crianças atendidas na Creche Cantinho da Natureza quanto o
estado nutricional, dezembro 2001.
Estado nutricional
%
normal
80,0
desnutrida (P/I < 90,0%)
20,0
Total
100,0
Com relação ao estado nutricional das crianças que freqüentavam a creche, notou-
se uma alta taxa de crianças com déficit de peso para a idade. De acordo com a Pesquisa
Nacional sobre Demografia e Saúde - PNDS (BRASIL, 1996) a prevalência de desnutrição
entre as crianças da região Sudeste, menores de 5 anos era de 25%, e era considerada
6
elevada. Tal fato, aponta para a necessidade de um maior acompanhamento destas crianças
até a recuperação do estado nutricional, visando a melhoria da sua qualidade de vida.
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho, observou-se que é de fundamental importância o conhecimento
do contexto familiar, ambiental e de saúde das famílias residentes em comunidades
carentes, pois este possibilita o planejamento de medidas de intervenção bem como a
melhoria da qualidade da assistência prestada a essa população.
V- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARCHER, Sarah Ellen. Enfermeria de Salud Comunitária. Califórnia. OPAS/MS,1997
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE - Pesquisa Nacional sobre Demografia e
Saúde.Brasília. Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, 1996b.
BRASIL, Ministério da Saúde. Hipertensão arterial sistêmica e Diabetes Mellitus –
protocolo. Cadernos de Atenção Básica n 7. Brasília, 2001.
BRASIL, Ministério da Saúde. Programa de Saúde da Família, Brasília, 1996.
ELSEN, Ingrid, e col. Marcos para a prática de enfermagem com famílias.
Florianópolis, Ed. da UFSC, 1994.
FONSECA,R.M.G.S. da & BERTOLOZZI,M.R. A epidemiologia social e a assistência
Hucitec, 1997.
KAWAMOTO, E.E. e col. Enfermagem Comunitária. São Paulo, EPU, 1995
Luzzatto Ed.,1994
NERY, M.H. da S. e col. Enfermagem em Saúde Pública. Porto Alegre. Sagra-DC
ROUQUAYROL, Maria Zelia. Epidemiologia & Saúde, MEDSI, 4ª ed., 1993.
SIGULEM, D.M. & SOLYMOS - Relatorio 2: Projeto Favela de Vila Mariana. São
Paulo, Escola Paulista de Medicina, 1992 (mimeo)
SOUSA, F.J.P. - Pobreza, desnutrição e mortalidade infantil - condicionantes sócioeconômicos. Fortaleza: IPLANCE/UNICEF, 1992.
7
VAUGHAN,J.P. & MARROW, R.H. Epidemiologia para Municípios. Série Didática –
Enfermagem no SUS, ABEn, 1997.
8
Download

atenção à saúde das famílias da comunidade morro dos