1 Créditos Organização: Thomas Magnum Editoração gráfica: Eder Ragassi Arte de Capa: Eder Ragassi Colaboradores: Morgana Mendonça, Thiago Oliveira, Bruno Rafael Souza de Melo, Luciana Barbosa, Fred Lins. Revisão Gramatical: Thomas Magnum, Thiago Antunes, Kelly Gleyssy Revisão Teológica: Thomas Magnum Publicação: Cristianismo Simples 1ª Edição: Junho 2014 1. Calvinismo; Teologia Reformada; 2014. 2 Índice Apresentação................................................................................................... 04 Agradecimentos.............................................................................................. 05 Os Cânones de DORT..................................................................................... 06 Thomas Magnum A Depravação Total......................................................................................... 08 Morgana Mendonça Eleição incondicional...................................................................................... 13 Thiago Oliveira Expiação Limitada.......................................................................................... 17 Bruno Rafael Souza de Melo Graça Irresistível............................................................................................. 23 Luciana Barbosa A Perseverança dos Santos.............................................................................. 28 Fred Lins O Calvinismo e a Piedade Cristã..................................................................... 32 Thomas Magnum Doxologia .......................................................................................................... 37 3 Apresentação A razão central deste trabalho de fato é a Soberania de Deus. Por muito tempo teólogos de várias linhas discutem no que concerne a Salvação do homem. No entanto é importante destacar que a Tulip (Os cinco pontos do Calvinismo) se trata de uma teologia absolutamente centrada na Palavra de Deus, cuidadosamente analisada ao longo da história da igreja. Quando digo analisada não me refiro de uma forma mecânica ou controladora no tocante a Palavra de Deus, mas sim no desejo, nos decretos do Nosso Senhor. Enquanto os Arminianos creem que o homem é livre pra escolher o seu destino eterno (Salvação) nós os Calvinistas cremos na Soberana vontade de Deus, segundo os seus propósitos. Esta Obra retrata através de homens e mulheres o quão Magnifico é o Senhor dos exércitos. Fiel é esta palavra e digna de inteira aceitação. 1 Timóteo 1.9 Eder Ragassi – Junho de 2014 Editor do Site: http://www.cristianismosimples.net/ Facebook.com/page/Cristianismo-Simples 4 Agradecimentos Nós do CS - Cristianismo Simples agradecemos a todos os irmãos que contribuíram com este trabalho. Mais do que nunca todos os irmãos Reformados de Todo o Brasil podem se sentir participantes desta obra. Obrigado a todos que com muito carinho e dedicação nos ajudaram! Deus abençoe a Todos! Equipe, Cristianismo Simples – www.CristianismoSimples.Net Facebook.com/page/Cristianismo-Simples Junho de 2014 5 Os Cânones de Dort por Thomas Magnum Muitos crentes tem pavor do termo calvinismo, muitos nunca sequer leram nada, mas, sabem que não são calvinistas. É interessante como a igreja no decorrer da história abandonou suas raízes doutrinárias e abraçou uma série de pensamentos que estão distantes dos ensinos das Escrituras Sagradas. Nossa história começa no século XVI com os documentos produzidos por consequência da Reforma Protestantes essas confissões iniciadas pelo catecismo de Heidelberg até chegarmos ao século XVII. Os cânones de Dort são de especial importância a igreja reformada no século XVII, mais precisamente em 1619. Em 1588 Jacó Armínio que tinha estudado com Teodoro Beza, começou a questionar e discordar da doutrina da predestinação ensinada pelo calvinismo. Em 1602 se tornou professor em Leyden, onde encontrou um oponente chamado Francisco Gomaro. A polêmica prolongou-se até 1609 quando Armínio morreu de tuberculose. No ano que seguiu sua morte seus seguidores escreveram um documento chamado Remonstrância. Vejamos o que diz Duane Edward Spencer: Pelo fato de as igrejas dos Países Baixos, em comum com as principais Igrejas Protestantes da Europa, subscreverem as Doutrinas Reformadas da Bélgica e as Confissões de Heidelberg, os arminianos resolveram fazer uma representação ao Parlamento Holandês. Este protesto contra a Fé Reformada, cuidadosamente escrito, foi submetido ao Estado da Holanda, e, em 1618, um Sínodo Nacional da Igreja reuniuse em Dort para examinar os ensinos de Arminius à luz das Escrituras. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, Os Cinco Pontos do Arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistente com as Escrituras, e formularam aquilo que é hoje 6 conhecido como Os Cinco Pontos do Calvinismo (em honra do grande teólogo francês, João Calvino). [1] Os cinco pontos do Arminianismo são: Vontade Livre Eleição condicional Expiação universal A graça pode ser impedida O homem pode cair da graça A resposta aos argumentos arminianos estudadas no sínodo e Dort formam o acrostico TULIP. Apresentados como os cinco pontos do Calvinismo: T U L I Total Depravity Unconditional Election Limited Atonement Irresistible Grace P Perseverance of Saints Depravação Total Eleição Incondicional Expiação Limitada Graça Irresistível Perseverança dos Santos Dessa refutação aos ensinos arminianos surge os cânones de Dort . Nesse pequeno ensaio estaremos abordando biblicamente os cinco pontos do calvinismo, demonstrando a diversidade de textos bíblicos que dão suporte a teologia reformada e que o arminianismo está errado em sua teologia que diminui a glória da graça de Deus e centraliza o homem e seu “livre arbítrio”. __________________________________ [1] Os cinco pontos do Arminianismo, Duane Edward Spencer. http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/cincopontos_arminianismo.htm 7 Depravação Total por Morgana Mendonça Santos A Total Depravação antes de ser o primeiro ponto da TULIP, é um ensinamento bíblico, uma verdade que contrasta efusivamente com a visão que a grande maioria tem do ser humano. A visão influenciada pela ideia (Pelagiana) de que o homem precisa de uma receita apenas, pois o problema dele é temporário ou remediável, vem nos forçar a ir contra as Escrituras. Uma enfermidade moral resultando uma parcialidade corrompida, isto é, podendo ainda ser “ele” responsável pelas suas escolhas e decisões. Estamos convictos que esse pensamento é uma heresia, não pós-moderna, pelo contrário, bem antiga. “A expressão ‘pecado original’ não significa que o pecado faça parte da natureza humana como tal, pois ‘Deus fez o homem reto’ (Ec 7.29). Mais exatamente, ‘pecado original’ significa que a pecaminosidade marca a cada um desde o nascimento, na forma de um coração inclinado para o pecado, antes de quaisquer pecados de fato cometidos. Essa pecaminosidade íntima é a raiz e a fonte desses pecados atuais. Ela nos foi transmitida por Adão, nosso primeiro representante diante de Deus. A doutrina de pecado original nos diz que nós não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores, nascidos com uma natureza escravizada ao pecado.” [2] Segundo o autor Gise Van Baren [1]: O que nós devemos entender por 'depravação total'? 'Depravação' significa perversidade, corrupção, o mal inato do homem não regenerado. Adicionar a palavra 'total' a depravação, é enfatizar sem nenhuma sombra de dúvida, a verdade que não há absolutamente nenhuma bondade no homem natural, no homem que é nascido do Adão caído. As Escrituras Sagradas afirmam com clareza a condição humana caída: Efésios 2.1 "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”. Colossenses 2.13 "e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos”. 8 O Apóstolo Paulo é claro, oferecendo a realidade do nosso estado antes da regeneração ou novo nascimento. Estávamos mortos, isto é, mortos por conta dos nossos pecados, corrompidos totalmente, de fato, depravados. Todavia, esse homem foi criado à imagem (Ec 7.29) e semelhança de Deus (Gn 1.26-27). Deus deu uma ordem (Gn 2.16-17) ao homem e através dessa obediência o homem poderia obter vida. De forma consciente o homem falhou desobedecendo a Deus (Gn 3.6), rebelando-se contra o seu Criador. Pecado esse conhecido como a "Queda do Homem", trazendo uma trágica realidade: o homem está morto espiritualmente e sofreu uma ruptura na ligação da sua alma com Deus o que mais adiante resultou em morte física. Romanos 5.12 "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”. Adão como representante de toda a raça humana, afetado pelo pecado e pelo pecado a morte, condicionando assim toda a humanidade a um estado de destituição para com o Criador. Com isso tornando o homem objeto da justa ira de Deus, e por conta desse pecado a morte passa a todos os homens. A humanidade recebeu essa herança da culpa do pecado e por isso todos nascem totalmente depravados e espiritualmente mortos. Significando uma natureza má, não de forma intensiva e sim extensiva, no que se define todo o nosso ser, isto é, intelecto, emoções e vontades, no qual, estão corrompidos pelo pecado. Romanos 3.10-18 "Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos". Eclesiastes 7.20 "Pois não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque”. Salmos 14.1-3 “Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Os homens têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras; não há quem faça o bem. O Senhor 9 olhou do céu para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento, que buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um”. Compare com o salmo 53 e perceba que é o único Salmo que se repete, Gerando uma inabilidade total para reconciliar-se com o Seu Criador, esse homem depravado, por si só, é completamente incapaz de crer em Cristo verdadeiramente. Vejamos o que mais uma vez Paulo diz: Romanos 3.23 "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Esse estado "destituído" do homem para com Deus o torna eternamente morto, se Deus não tomar a iniciativa de salvá-lo, ele continuará assim. Impossível ao homem fazer algo de si mesmo que contribua para a sua salvação. Essa doutrina chamada por alguns da incapacidade humana ensina que de fato, torna-se impossível que um pecador escolha a Deus. Devendo isso preceder a obra vivificadora e regeneradora do Espírito Santo. O próprio Cristo afirma que a eleição é incondicional, a graça é irresistível. João 6.44 “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. Essa obra chamada "regeneração" antecede o arrependimento, confissão e crença genuína no Evangelho. O próprio Espírito Santo cumpre a sua função de convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. (João 16.8) Na Confissão de Fé de Westminster [3], encontramos a seguinte afirmação: O homem, por sua queda em um estado de pecado, perdeu completamente toda a capacidade de desejar qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; portanto como homem natural inteiramente contrário ao bem e morto em pecado, ele não é capaz, por sua própria força, de converter-se ou mesmo preparar- se para isso. Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado, e somente por Sua graça, Ele permite que ele livremente deseje e faça o que é espiritualmente bom [...]. No Catecismo de Heidelberg [4] observamos: Somos então tão corruptos ao ponto de sermos totalmente incapazes de fazer qualquer bem que seja, e inclinados para todas as perversidades? Resposta: Certamente nós somos, exceto se formos regenerados pelo Espírito de Deus. Na Confissão Belga [5] há uma declaração: 10 "Tornando- se ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons excelentes, que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes dons, senão pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem desculpa." As Escrituras Sagradas, inerrante e suficiente, afirma fazendo assim das confissões e catecismo relevante: Tito 3.3-5 "Porque também nós éramos outrora insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias paixões e deleites, vivendo em malícia e inveja odiosos e odiando-nos uns aos outros. Mas quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para com os homens, não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo." Ao declarar a depravação em sua totalidade, queremos afirmar três coisas: 2. Primeiro, todos os homens, exceto Cristo, são depravados e transgressores (Sl 142-3; Sl 53.2-3) 3. Segundo, em cada parte, são depravados. Seus atos, emoções, vontades, corações, pensamentos são comprometidos pela sua condição diante de Deus. 4. Terceiro, de forma completa em cada parte, os homens são depravados. Não há uma parcialidade, cada parte do homem é totalmente depravada e não há nenhum bem em parte alguma. Com isso veremos a necessidade da Cruz, revelação da Sua Graça, que impossibilita o homem a fazer qualquer coisa para concertar sua real situação para com o Criador de todas as coisas, para a Sua Glória. _________________ NOTAS: [1] BAREN, Gise Van. Depravação Total. FirelandMissions: janeiro de 2013 [2]Bíblia de Estudo de Genebra, Editora: Cultura Cristã. [3] Confissão de Fé de Westminster - Capítulo IX: III-IV. 11 [4] As três formas de Unidade das Igrejas Refromadas – A Confissão Belga, O catecismo de Heidelberg e Os Canones de Dort. Editora: Puritanos, 2009. (Parte 1, Dia do Senhor 3, Pergunta 8. Ref.: Gn6.5; Jó 14.4; Is 53.6; Jó 3.3-5.) [5]As três formas de Unidade das Igrejas Refromadas – A Confissão Belga, O catecismo de Heidelberg e Os Canones de Dort. Editora: Puritanos, 2009. (Confissão Belga artigo XIV.) 12 ELEIÇÃO INCONDICIONAL Por Thiago Oliveira Lutero, Calvino, Knox, Owen, Edwards, Spurgeon e muitos outros cristãos reformados ensinaram que a salvação é uma ação soberana de Deus e que o LivreArbítrio não existe. As Escrituras deixam isso claro: Efésios 1: 3-5 –“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.” Gostaria de reiterar o posicionamento reformado que tem sido ao longo dos séculos um mergulho na Palavra afim de que o Deus Trino revelado nos escritos sagrados seja glorificado entre os homens. O ponto central de toda controvérsia é a Predestinação ou Eleição Incondicional. Segundo a Bíblia, e não Calvino, como muitos pensam, Deus elegeu aqueles que seriam salvos antes da fundação do mundo. Ao aceitarmos tal ensinamento admitimos que nada feito por nós gerou algum resultado capaz de nos levar a Cristo e adquirir a bendita salvação. Nada! Toda boa dádiva provém do Pai das Luzes que de maneira soberana e irresistivelmente graciosa, trouxe os Seus de volta para Si. As correntes contrárias dizem que o homem tem participação no que tange a salvação. Será mesmo? Vamos um pouco mais fundo. Para elucidar essa questão precisamos entender que lá no Éden o homem pecou ao ser induzido pela serpente a comer do fruto proibido. Esse evento é chamado de “Queda”. Os arminianos, isto é, aqueles que defendem o Livre-Arbítrio, precisam entender que ao cair a humanidade morreu, e não apenas se machucou. O homem não quebrou uma de suas pernas e mesmo manquejando ou se arrastando consegue ir até a presença de Deus e lá O adora. Efésios 2: 1 é taxativo: Estávamos mortos em nossos delitos e pecados. Todos nós temos que concordar num ponto: Morto não toma decisões, é impossibilitado de fazer escolhas. No entanto, e se o homem tornar a viver? É possível isso? Para Deus sim. Como está escrito: Ele nos vivificou (Ef 2:5). Não é à toa que quando Jesus é interrogado por Nicodemos sobre o que fazer para herdar a vida Eterna, o Messias responde: Necessário é nascer de novo (leia o capítulo 3 do Evangelho de João e medite sobre essa conversa entre Cristo e o Mestre da Lei). Novo Nascimento é reviver transformado pela atuação sobrenatural do Espírito. É como na visão do profeta Ezequiel que viu Deus dar vida ao vale de ossos secos. Louvado seja o Senhor! Quando falamos em Queda, estamos nos referindo ao evento mais trágico da história da humanidade, pois, a partir dele surgiram os males que nos assolam até o presente momento. O relato dessa desgraça se encontra em Gênesis 3 e, sobre ele, o já citado reformador - Calvino¹ - escreve: 13 Neste capítulo, Moisés explica que o homem depois de ter sido enganado por Satanás se rebelou contra o seu Criador, tornouse totalmente mudado e degenerado, a ponto de a imagem de Deus, no qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Ele, então, declara que o mundo inteiro, que tinha sido criado para o bem do homem, caiu junto com ele da sua posição primária, e que neste estado muito de sua excelência natural foi destruída. O Apóstolo Paulo em Romanos 3:23 sentencia: Todos pecaram! E o pecado nos destituiu da Glória de Deus. O que isso quer dizer? Que fomos derribados de Sua presença. Expulsos de convivermos com Ele no Paraíso. Só que o apóstolo Paulo não acaba aqui a sua explanação e agora nos apresenta a boa notícia: Romanos 3:24-26- “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” A redenção da Cruz nos torna justos e assim escapamos da Ira e da condenação. Isso não nos dá nenhum mérito. Tudo fez parte da Providência, não dando espaço para nos vangloriarmos de coisa alguma. O texto de Romanos segue: Romanos 3:27-28- “Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” No céu ninguém vai te abordar dizendo: “Fui salvo por orar 5 horas todos os dias e pelo sopão que entregava toda sexta. E você?” Esqueça a meritocracia e aceite a sua condição miserável de não achegar-se a Deus sozinho. Essas são as palavras de Jesus (Jo 6:44): “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” Mesmo correndo o risco de ser redundante, quero aqui elencar os seguintes pontos: 5. POR QUE NÃO ESCOLHEMOS A DEUS? a) Porque estávamos mortos espiritualmente. Quem nos revela essa condição terrível é a própria Escritura. Anteriormente falamos da tragédia que foi a Queda e o seu resultado tenebroso. Não reconhecer essa condição de “mortos espiritualmente” não é uma refutação endereçada aos calvinistas, mas sim um agravante erro teológico, além de ser fruto de um coração obstinado e orgulhoso que se rebela contra a soberania divina no ato de salvar (Ef 2:1 e 5; Gn 2:17). b) Nosso estado era de depravação total. Nossa consciência estava cativa aos desejos carnais. Vivíamos acorrentados pelos prazeres mundanos e não dávamos um passo sequer na direção de Deus. Estávamos imundos e nos sujávamos ainda mais. O Altíssimo em Sua Glória olhou para a humanidade e não encontrou ninguém capaz de 14 fazer o bem. Entre milhões de milhões e milhares de milhares não havia um único justo (Ef 2:3; Rm 3:12; Jo 8:34). 6. POR QUE DEUS NOS ELEGEU? a) Porque Ele é rico em misericórdia. O ato de eleger e salvar pecadores depravados é uma atitude graciosa. Graça é receber aquilo que não merecíamos. A Ira e o Inferno eram nosso devido pagamento, só que ao invés disso recebemos de Cristo o Perdão e o Céu (Ef 2:4 e 5; Rm 9:16). b) Porque Ele é Soberano. Quem é o homem para questionar a Deus? Onde ele estava quando tudo foi criado? Que conselhos deu o homem a Deus? Tudo que o Senhor faz é perfeito. Ele em Sua infinita sabedoria planejou todas as coisas e não há nada que escape do Seu senhorio. Não devemos esquecer que Deus é onipotente, onisciente e onipresente e nós não passamos de verme (Jó 25:6; Rm 9: 18; Fl 2:13). c) Ninguém tem motivos para se orgulhar diante Dele. Paulo é bem claro quando diz que a salvação não é por obras para que ninguém se glorie. Quando chegarmos perante o Justo Juiz, nada poderemos dizer que seja favorável a nossa sentença. Na Eternidade não vai haver alguém dizendo: Eu fui salvo por orar 3 horas por dia e distribuir “sopão” toda sexta-feira. E você, fez o que para estar aqui? Não fizemos nada para merecer o status de co-herdeiros com Cristo. Toda honra seja dada a Jesus. Porque d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas (Rm 11:36; Ef 2:9; Rm 3:27). A dificuldade em aceitarmos a Predestinação é a nossa natureza caída e totalmente inflada. Queremos porque queremos ter algum mérito, todavia a Palavra nos diz que só vão até a Cristo aqueles a quem o Espírito Santo revelar. Se você ainda não está convencido de que essa é uma doutrina genuinamente bíblica, e objeta que esse é um conceito paulino, vejamos que ela está presente no ensino de Cristo e dos apóstolos: João 6:65 – “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” João 15:16 – “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” Atos 13:48 –“E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.” 2 Tessalonicenses 2:13 – “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade.” Tiago 1:18 –“Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.” 15 1 Pedro 1:1 – “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia.” Jesus, Lucas, Paulo, Tiago e Pedro estão afinados quanto ao ensino da EleiçãoIncondiconal. Mas caso alguém ainda tenha objeções a fazer, me adianto respondendo as más comuns: E para que serve então os Mandamentos? Resposta: Para nos revelar a condição do pecado (Rm 3:19-20). E a responsabilidade humana? Resposta: No Éden, o homem feito à imagem e semelhança de Deus, no exercício de sua liberdade, escolheu pecar (Rm 5:12). Seria injusto? Resposta: Não. Pois, Deus não escolhe dentre inocentes, mas dentre pecadores culpados e indesculpáveis. Se não fosse a Eleição, todos pereceriam, pois todos merecem a Ira, ou seja, a punição por seus delitos (Ef 2:3). Tudo me foi dado por Cristo. Sou justo, remido, Filho, co-herdeiro, mais-que-vencedor e nenhuma dessas qualidades me conferem honra. A única coisa que sei é que morri na queda e fui ressuscitado pelo Senhor Jesus. A iniciativa parte d’Ele, em amor. Louvado seja Deus. Finalizo aqui com uma citação de Martinho Lutero²: “Não existe tal coisa como mérito humano aos olhos de Deus, sem importar se esse mérito é grande ou pequeno. Ninguém merece ser salvo. Ninguém pode ser salvo através das obras. Paulo exclui todas as supostas obras do “livre-arbítrio”, estabelecendo em seu lugar apenas a graça divina. Não podemos atribuir a nós mesmos a menor parcela de crédito para nossa salvação; ela depende inteiramente da graça divina.” ______________ NOTAS: CALVINO, João. Commentaryon Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html). 2. LUTERO, Martinho. Nascido Escravo.Editora Fiel. 1. 16 Expiação limitada por Bruno Rafael Souza de Melo Introdução Quando falamos sobre o tema expiação limitada, temos pensar que primeiramente no seu conceito que é trabalhado em toda a escritura, de Gênesis a Apocalipse. Não podemos simplesmente defini-lo e jogá-lo dentro dos textos bíblicos, como se ele fosse uma conclusão de dois ou três argumentos tirados de versos isolados que vemos na bíblia. Claro, depois que analisarmos o conceito de expiação na progressão da revelação, temos como tirar conclusões lógicas, usar boa dialética para defender essa sentença tão fundamental da Escritura. Os cinco pontos do calvinismo sistematizam com perfeição cirúrgica a situação pecaminosa da humanidade, a eleição, a expiação limitada, a graça irresistível e a perseverança dos santos. Eles são excelentes norteadores quando queremos demonstrar a lógica vinda da revelação de Deus. Com esse pensamento queremos trabalhar o tema expiação limitada na perspectiva da progressão da revelação, ou seja, usando o escopo de análise da teologia bíblica que vê a escritura com seus temas específicos percorrendo toda a história da salvação do AT ao NT.Também veremos a importância do tema, até seu cume na chegada de Cristo. Depois disso, trataremos a questão da expiação limitada com textos próprios dos teólogos sistemáticos (Aula do Seminário Presbiteriano do Norte – Prof. de Teologia sistemática Daniel Carneiro), e por fim, refutar com alguns argumentos lógicos a tentativa frustrada dos arminianos em atacar essa doutrina. O livro usado será soberania banida de R. K. Mcgregor Wright. Definição do termo Expiação: É a obra de Deus em favor de pecadores para reconciliá-los consigo mesmo. Resolvendo o pecado humano, para proporcionar a comunhão com Deus. Sendo Cristo crucificado o centro da reconciliação com Deus e sua misericórdia. Sabendo que 17 o homem está separado de Deus, a ira dele disferida sobre todos, observamos que este é um tema que se desenvolve em toda a escritura, logo, essa problemática na história da redenção remete o trabalho de Deus trazendo o sacrifício vicário desde os tipos aos antítipos. Quando falamos o temo “limitado” é que sabemos que Cristo morreu especificamente e eficazmente por um número de pessoas, ou seja, por um povo. O conceito de expiação no AT Quando partimos do AT para entender o conceito expiação, temos que admitir que Deus é quem garantia a eficácia expiatória do ritual prescrito. Qualquer sacrifício no AT não perdoava pecados, o sacrifício era a expressão de um coração contrito que apelava pela misericórdia de Deus (Sl 51.17), esse ponto progride até Cristo que cumpre toda a exigência divina. No AT (Lv 16) o sacrifício de expiação, o rito do sacerdote no dia da expiação tinha um simbolismo vicário, a vítima do sacrifício sofria o castigo de Deus em lugar do pecador. Isto libertava o transgressor satisfazendo a ira justa de Javé. (Ez 18.4, Gn 2.17, Dt 12.23). A expiação no NT O NT mostra que a progressão da revelação caminhou para seu ápice, que é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o qual, cumpriu os tipos do AT, ou seja, toda a gama de sacrifícios expiatórios do AT eram figuras que apontavam para Cristo em sua morte sacrificial expiatória que trazem em seu bojo o justo pelo injusto, resgatando a MUITOS (1 Pe 3.18, Mc 10.45). Pensemos assim: Jesus paga o preço pelo pecado (Rm 3.25-26, Gl 3.13). Morre no lugar de pecadores (2 Co 5.21), redimindo os pecadores pelo seu sangue (Ef 1.7), liberta pecadores (1 Co 6.20, Gl) 5.1, nos deu a vitória (1 Co 15.55-57), por suas feridas fomos curados (1 Pe 2.24). O NT define cruz e expiação como quase idênticos. A importância da expiação Devido a aproximação do juízo de Deus sobre os seres humanos e seus atos de injustiça como citamos, Jesus morre e expia o pecado eliminando a condenação, mas também faz propiciação que é o desvio da ira de Deus. Em resumo Deus prometeu 18 condenar pecadores que não tivessem suas transgressões expiadas. A importância disto é fundamental, pois imagine que a ira de Deus não foi aplacada por um sacrifício perfeito? O que isso causaria? A conclusão é simples, estaríamos debaixo da ira de Deus, sem termos o preço dos nossos pecados pagos. Logo, caminharíamos para a condenação do inferno. Queremos enfatizar aqui que o Mitter, o centro, ou o fio que passou em toda escritura do AT ao NT desaguando em Ap 13.8: “Cordeiro morto desde a fundação do mundo”, é que Deus expia o pecado mediante sacrifício em prol de um povo específico, portanto, a importância do termo expiação é basilar para nossa compreensão da salvação. A doutrina da expiação limitada numa visão sistematizada Entendemos o tema dentro da história da salvação, vemos que ele existe, que foi paulatinamente e pedagogicamente explanado na escritura até Cristo. Agora, vamos apontar textos prova, só que de uma forma sistematizada o que chamamos de limitação da expiação. Isto, para termos uma maior facilidade no entendimento da doutrina. Faremos como um fotógrafo que foca em textos relevantes concernentes ao assunto, diferentemente do que executamos acima, quando filmamos o movimento do conceito expiação do AT ao NT sem levarmos em conta o aspecto da limitação dessa expiação. Queremos começar com a pergunta clássica: Cristo comprou a salvação para todos os homens? Segundo os arminianos sim, segundo os calvinistas não. Diante disso, podemos citar Arthur Pink, teólogo calvinista escreveu o seguinte sobre o assunto: “... Se Cristo levou em seu próprio corpo, no madeiro, os pecados de todos os homens, sem exceção, nenhum deles perecerá. Se Cristo se fez maldição em favor de todos os membros da raça de Adão, ninguém sofrerá a condenação final... Mas Cristo não saldou a dívida de todos os homens sem exceção, porquanto há alguns... que “perecem no seu pecado!” (Cristo) não foi feito maldição pela totalidade da raça de Adão, porque há aqueles aos quais ainda dirá: “Apartai-vos de mim malditos.” 19 Um outro ponto da escritura que corrobora bem com nosso raciocínio é o texto de Paulo que descreve a morte de Cristo deixando claro que é um cancelamento de dívida (Cl 2.14). Devemos Perguntar então: O mundo inteiro está com sua dívida cancelada diante de Deus? É claro que não, caso contrário ninguém seria mandado para o inferno. A escritura deixa evidente que Cristo Morreu por Suas Ovelhas, Por Seu Povo, Por Sua Igreja, ela distingue ou divide a humanidade, metaforicamente, como ovelhas e cabritos (Mt 25.32,33, 34,41). As ovelhas são os crentes em Cristo e os cabritos são os incrédulos. Os cabritos são atirados no inferno, lugar preparado para o diabo e seus anjos. Eu pergunto: Cristo morreu pelos cabritos? É claro que não. As ovelhas resplandecerão como o sol no reino que lhes foi preparado desde a fundação do mundo. Por suas ovelhas Cristo deu sua alma (Jo. 10.14,15,26,27). Jesus tem um rebanho que é composto pelos que creram Nele, e foi por eles que Ele deu Sua vida. Observe o conselho que Paulo dá aos presbíteros de Éfeso em Atos 20.28 e o que ele escreveu em Efésios 5.25. A oração de Jesus pelos escolhidos limita a expiação a um grupo A oração sacerdotal de Jesus não foi um pedido de salvação pelo mundo, mas única e exclusivamente pelos Seus escolhidos, pelo Seu povo. Não faria sentido Cristo morrer pelo mundo e se negar a orar pelo mundo. Cristo não orou pelo mundo porque não morreu pelo mundo. Cristo orou por aqueles por quem daria Sua vida (Jo. 17.69,12,15-17,19-26). Em suma, respondendo o que propomos na sentença: Por quem Cristo Morreu? Por “Seu Povo”, Por “Suas Ovelhas”, Por “Sua Igreja”. Por ninguém mais. Este é o ensino bíblico e evidente desde o AT leiamos Is 53.11,12. Considerações finais e lógicas do teólogo McGregor White O livro soberania banida é contundente quando se trata do assunto expiação, ele fomenta e argumenta não deixando dúvidas quanto a limitação da mesma. Vejamos alguns pontos irrefutáveis desse belíssimo trabalho: Argumentações que refutam textos aparentemente arminianos: 20 1- Um texto clássico usado pelos arminianos é João 3:16 que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Embasado nesse texto eles dizem que quem quiser vir a Cristo vem livremente. Refutação: O problema é que mesmo que o ser humano venha, ocasionaria a expiação universal. Onde Cristo morreria por todos os homens, logo, mesmo sendo incrédulo ao próprio Cristo a pessoa seria salva. 2- Um outro texto é: Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo. 1 Timóteo 2:3-6 Eles afirmam que “todos os homens” e “todos” devam significar todos os seres humanos existentes. Refutação: O texto se refere a todos os tipos de pessoas, ou seja, Reis e autoridades. Refere-se ao verso 1 e 2 e não todos os homens. Cairíamos novamente no universalismo. 3- Passemos agora a brilhante defesa da expiação limitada ou particular, na visão de John Owen. 3.1 Cristo morreu por alguns pecados de todos os homens. Não por todos os pecados de homens específicos. Refutação: Todos os homens tem alguns de seus pecados pagos, mas ninguém será salvo. 3.2 Cristo pagou o preço na cruz por todos os pecados de todos os homens. Refutação: Por que então todos não são libertos da punição do pecado? Possível resposta do arminiano: Por causa da incredulidade deles; eles não crerão. 21 Perguntamos: Mas essa incredulidade é pecado ou não? Se não, por que deveriam ser eles punidos por ela? Perguntamos novamente: Se ela (incredulidade) é um pecado, então Cristo sofreu a punição devida por ela ou não? Ainda respondemos: Se ele não morreu por esse pecado de incredulidade, então ele não morreu por todos os pecados deles. 3.3 Os argumentos dos calvinistas são lógicos e não bíblicos. Refutação de McGregor citando J. I. Packer: Ninguém tem o direito de desprezar a doutrina da limitação da expiação, como se ela fosse uma monstruosidade da lógica calvinista, até que tenha refutado a prova de Owen de que ela é parte da apresentação bíblica uniforme da redenção, claramente ensinada em passagem após passagem. E ninguém fez isso ainda. Concluímos que a prova bíblica da expiação limitada é irrefutável. Demonstramos ela na linha da história da salvação, dentro do escopo analítico da teologia bíblica. Apontamos evidências na progressão da revelação, que gradativamente trabalhou o conceito do AT ao NT alcançando a plenitude em Cristo. Ainda provamos que os argumentos dos teólogos sistemáticos são suficientes para qualquer mente equilibrada crer na particularidade da expiação. Finalizamos com a bela exposição de argumentos fortíssimos do livro Soberania banida de McGregor. Ele utiliza John Owen, que despedaça qualquer tentativa dos arminianos em ir de encontro a expiação limitada. Presbítero e seminarista do SPN-PE – Bruno Rafael Souza de Melo. Bibliografia: MCGREGOR WRIGHT, R. K. Soberania Banida: Redenção para a cultura pós moderna. 2 0 Edição. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2007. ALEXANDER, T. Desmond. ROSNER, Brian S. Novo dicionário de Teologia Bíblica. 1 0 Edição. São Paulo – SP: Editora Vida, 2009. Aulas ministradas no SPN com Professor de Teologia Sistemática: Daniel Carneiro. 22 GRAÇA IRRESISTIVEL OU VOCAÇÃO EFICAZ Por Luciana Barbosa Você algum dia deve ter pensado e se perguntado: Nem todos os que ouvem o convite do evangelho, aceitam e chegam à salvação, por que? A principio destacaremos duas correntes de pensamento que respondem a esse questionamento. Uma corrente vai dizer: O Espírito chama internamente todos aqueles que são externamente chamados pelo convite do Evangelho. Ele faz tudo que pode para trazer cada pecador à salvação. Sendo o homem livre, pode resistir de modo efetivo a essa chamada do Espírito. O Espírito não pode regenerar o pecador antes que ele creia. A fé (que é a contribuição do homem para a salvação) precede e torna possível o novo nascimento. Desta forma, o livre arbítrio limita o Espírito na aplicação da obra salvadora de Cristo. O Espírito Santo só pode atrair a Cristo aqueles que O permitem atuar neles. Até que o pecador responda, o Espírito não pode dar a vida. A graça de Deus, portanto, não é invencível; ela pode ser, e de fato é, frequentemente, resistida e impedida pelo homem.( Arminianismo ou semipelagianismo). A outra corrente vai dizer: Além da chamada externa à salvação, que é feita de modo geral a todos que ouvem o evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos uma chamada especial interna, a qual inevitavelmente os traz à salvação. A chamada externa (que é feita indistintamente a todos) pode ser, e, frequentemente, é, rejeitada; ao passo que a chamada interna (que é feita somente aos eleitos) não pode ser rejeitada. Ela sempre resulta na conversão. Por meio desta chamada especial o Espírito atrai irresistivelmente pecadores a Cristo. Ele não é limitado em Sua obra de aplicação da salvação pela vontade do homem, nem depende, para o Seu sucesso, da cooperação humana. O Espírito graciosamente leva o pecador eleito a cooperar, a crer, a arrepender-se, a vir livre e voluntariamente a Cristo. A graça de Deus, portanto, é invencível. Nunca deixa de resultar na salvação daqueles a quem ela é estendida, ou seja, graça irresistível. (Calvinismo). Vejamos algumas razões porque devemos concordar com a graça irresistível. Antes de tudo é importante saber o que se entende por “graça irresistível”. Existem pessoas – equivocadas - que acreditam que essa “graça irresistível” é como se Deus não desse outra escolha e o obrigasse, mesmo contra sua vontade, ao arrependimento. Entretanto, na verdade, graça irresistível não significa isso. Graça Irresistível significa que Deus, através da Sua graça, retira as escamas dos nossos olhos, retira os tampões 23 dos nossos ouvidos, e assim conseguimos ver a maravilhosa, excelente, excelsa, magnífica graça e amor de Deus e podemos ouvir o maravilhoso evangelho do Seu filho, a saber, Jesus Cristo, e desse modo, não temos outra escolha a não ser abraçar esse Deus que é maravilhoso e agora viver para sempre glorificando. Isso é o que significa graça irresistível. Imagine comigo um cego e um morto. Ambos num encontro com Jesus. O cego sendo curado passa a ver. Ele não fez nada, não mereceu e não comprou a cura. Simplesmente Jesus venceu sua doença e incapacidade física. Ele não teve como resistir à cura. Tudo agora que ele podia fazer era ver e se alegrar nisso. Agora ele poderia ver a verdade e contemplar a Jesus. Duvido que ele pedisse para ser cego novamente. Agora vamos ao morto. Esse mais semelhante a nós. Ele não faz absolutamente nada para viver. Não percebe Jesus chegando. Nada. E de repente está de pé, respirando e com sangue correndo nas veias. Nova vida, nova chance. Sem merecer, pedir e muito menos querer. Jesus simplesmente venceu a morte e o trouxe a vida. Graça! Não o imagino triste ou pedindo para ser um morto de volta. Para Deus e sobre nossa salvação, graça não é somente aquilo que recebemos sem comprar. É aquilo que recebemos sem comprar, merecer, conseguir, roubar ou achar. Ela faz tudo! Ela me achou, me alcançou, me chamou e salvou. Graça não é um evento isolado, é uma corrente diária que flui do alto para nós. Ela continua me achando, alcançando, chamando, salvando, sustentando, consolando, alegrando, fortificando e amando. Não por mim, mas para a glória de Deus que decidiu concedê-la a mim. A graça vence todos os meus problemas e pecados porque ela me venceu primeiro. ALGUMAS BASES BIBLICAS DA GRAÇA IRRESISTIVEL A condição dos seres humanos naturais é descrita com palavras devastadoras em Efésios 2.1-2: “ Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”. Nossa condição natural não é somente enfermidade espiritual- uma doença que pode ser curada com algum esforço nosso. Não, nossa condição é de morte espiritual. E como um morto pode responder favoravelmente a um chamado ou convite do evangelho? João 1.12-13: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." João 3.3-8: "Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não 24 nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." João 5.21,25: "Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer [...] Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão." João 6.37,44,45: "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora [...] Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim." Romanos 9.18-24: "Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem tem resistido à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?1 Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?" I Coríntios 4.7: "Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glórias, como se não o houveras recebido?" II Coríntios 3.5-6: "Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica." Permita-me uma ilustração. Suponhamos que você esteja se afogando e seus amigos estejam na praia a uma distância em que você possa ser ouvido. Você não sabe nadar. Desejando respeitar sua integridade pessoal, e querendo capacitá-lo a ajudar-se o máximo possível, um de seus amigos na praia, um excelente nadador, grita dizendo que você nade imediatamente para a praia. O conselho, mesmo que dado com boa intenção, é mais que inútil, uma vez que você não sabe nadar. O que você precisa desesperadamente é que seu amigo se lance às águas e leve-o a praia com poderosas 25 braçadas, para que sua vida seja salva. O que você precisa nesse instante não é só de um conselho, um bom conselho, você precisa ser resgatado! Essa é nossa condição natural; somos pecadores perdidos, mortos no pecado e não podemos reviver a nós mesmos. Nossos ouvidos estão surdos ao convite do evangelho, nossos olhos estão cegos à sua luz, precisamos de um milagre que só o Espirito Santo tem o poder para nos conceder tão maravilhosa graça. Diante de tudo isso que foi dito, o que pensarmos então sobre o APELO após as pregações: A prática do Apelo afronta a incapacidade do homem de ir a Deus. A doutrina da depravação total é inequívoca. Efésios 2.1 nos ensina que o homem está “morto em seus delitos e pecados”. Isto é, um homem-morto espiritualmente não possui a capacidade de ir a Deus ou até manifestar desejo por Deus, a não ser que este o queira e o convença mediante o Espírito Santo do pecado do juízo e da justiça. Além disso, as Escrituras também ensinam que “Ninguém pode ir a Cristo se o Pai, não o enviar.” Em outras palavras isso significa que nenhum homem pode ou tem poder para ir até Cristo por vontade própria. A prática do apelo geralmente é feita num clima sensacionalista, manipulativo e extremamente emocional. É comum ao final dos sermões encontrarmos os pregadores num clima extremamente emotivo convidando os ouvintes a decidirem por Cristo. Em momentos como esses, o que importa é sensibilizar o pecador levando-o a decidir por Cristo. Caro leitor, uma decisão movida por emoções não aponta de forma efetiva para uma conversão a Cristo. Na verdade, a maioria daqueles que responderam um apelo para aceitar Jesus não permaneceram na Igreja, na verdade, acredita-se que 90% daqueles que com lágrimas disseram sim a Cristo, não continuaram a trilhar a estrada da fé. O apelo contradiz o que a Bíblia dá como a ordem na salvação. João 3.3 nos ensina que se o homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Regeneração antecipa conversão. É o novo nascimento que habilita o homem a confiar e crer em Cristo, portanto, querer que o homem decida por Cristo antes de ser convencido pelo Espírito Santo dos seus pecados, bem como regenerado pelo Senhor afronta as verdades bíblicas. 26 Sola Gratia, Soli deo gloria! ¹Retirado e traduzido de um trecho de What We Believe About The Five Points of Calvinism, Desiring God. (via Monergismo) Hoekema, Anthony; salvos pela graça 3°edição renatovargens.blogspot.com/.../03-motivos-basicos-porque-nao-faco.htm 27 A perseverança dos santos por Fred Lins Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. (II Tm 2.19) “Uma vez salvos, salvos para sempre!”. A máxima mais conhecida entre os reformados define em poucas palavras, mas essencialmente a Doutrina da Perseverança dos Santos. O texto Bíblico citado chama-nos atenção para uma doutrina que se encontra dentro da TULIP (cinco pontos calvinistas). A perseverança dos santos é uma doutrina que nos transmite segurança e produz alento em meio às incertezas e adversidades deste mundo (II Tim 1.12). Então alguns que andam em uma vida libertina podem achar precedente para continuar em uma vida pecaminosa? Jamais! Como diz Paulo: “De modo algum. Agora, porém transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação, e por fim, a vida eterna...” (Rm 6.15,22). A verdadeira Doutrina da Perseverança dos santos também nos incita e desafia à fidelidade, e à consagração pessoal por meio da palavra, da oração, da comunhão, do exercício da disciplina cristã, enfim, todos os meios cooperam para que os fins sejam indubitavelmente alcançados (apresentados diante de Deus íntegros e irrepreensíveis). Em razão de profundo amor e Justiça em Cristo, temos este decreto fundamental e tão amplamente difundido nas Escrituras Sagradas. Trata-se da união inseparável dos remidos em Cristo, da contínua intercessão de Cristo por eles, e do Espírito e da semente de Deus habitando nos eleitos. Jamais poderão de maneira definitiva, cair deste estado, mas estão conservados em Deus por meio de Cristo, mediante a Fé para salvação. Perguntas mais frequentes acerca da doutrina da Perseverança dos santos: É muito comum entre os cristãos das mais diferentes linhas doutrinárias e confessionalidades, fazerem determinados comentários ou despertarem algum tipo de dúvida em relação ao tema. Pensando nisso tentaremos responder a algumas das mais frequentes perguntas entre os cristãos e embasaremos todas as respostas em textos que fundamentam tal Doutrina. 7. A quem é garantida a conservação (perseverança dos santos) por meio de Deus em Cristo Jesus? 28 É garantida somente a todos aqueles que foram eficazmente chamados por Deus e em Cristo santificados. Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo(Fil. 1.6). E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará.(I Tes. 5.23-24). 8. O eleito pode cair do estado de Graça? É impossível para aqueles que um dia foram eleitos em Deus na Eternidade e chamados segundo a sua boa vontade caírem do estado de Graça. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso; alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.(I Pe.1:3-9) E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.(Jo. 10.28-29) 9. Qual o papel da Trindade no desenvolvimento da conservação dos eleitos? A ação da trindade na conservação dos eleitos é evidente, a saber: 4- O livre e imutável amor de Deus o pai Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade. (Fp 1.4-5) 29 Mas fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno. E confiamos quanto a vós no Senhor, que não só fazeis como fareis o que vos mandamos. Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo. (II Tes. 3.3-5) 5- A eficácia do mérito de Jesus Cristo e a sua intercessão Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles. (Hb 7.25) Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção. Porque, se o sangue dos touros e bodes, e a cinza de uma novilha esparzida sobre os imundos, os santifica, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. (Hb 9.1215) 6- A permanência do Espírito e da semente de Deus neles. Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.(I Jo 3.9) E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.(Jo. 14.16-17) 10. A perseverança dos santos é coerente com a natureza do pacto e da Graça? À medida que somos completamente passivos para a salvação e entendemos que [esta] é fruto da Graça de Deus e da sua misericórdia, por conseguinte modo todos os demais processos envolvidos na obtenção da salvação também são frutos da Graça. Somente um Deus que é capaz de salvar, também é capaz de conservar em salvação, logo, tanto a salvação quanto a sua conservação são produtos da Graça. E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim. (Jr. 32.40) Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as 30 escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo; e não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. (Hb. 8.10-12) 11. O salvo pode ser tentado? O Eleito não pode cair total e finalmente da Graça, ou seja, voltar ao estado de não-regenerado, mas poderá à medida que negligencia as disciplinas eclesiásticas se submeter a um estado temporário de pecado. O salvo até pode pecar, contudo, [uso de muitas palavras repetidas no texto] jamais o pecado terá domínio sobre a vida dele. Pelas tentações de Satanás e do mundo, pela força da corrupção neles restante e pela negligência dos meios de preservação, podem cair em graves pecados e por algum tempo continuar neles; incorrem assim no desagrado de Deus, entristecem o seu Santo Espírito e de algum modo vêm a ser privados das suas graças e confortos; têm os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas; prejudicam e escandalizam ou outros e atraem sobre si juízos temporais.(confissão de Fé de Westminster 17:3) 12. Caso o salvo ceda a tentação o que acontece com o mesmo? Ele não perderá a salvação, mas com certeza sofrerá as consequências temporais do deslize, tais como: 789101112- Desagradar a Deus; (Is. 64.19). Entristecer o Espírito Santo; (Ef. 4.30). Ser privado da Graça; e do conforto de Deus (Sl 51. 8,10,12) Experimentar o sofrimento; (Sl 32.3, 4; 51.8) Prejudicar e escandalizar outros; (II Sm 12.14) Atrair sobre si juízos temporários; ( II Sm 12.10, 14, 15; Sl 89.30-33) Bibliografia utilizada: Calvinismo – As antigas Doutrinas da Graça – Paulo Anglada. Estudos Doutrinários – Eneziel Peixoto de Andrade – Cultura Cristã. Teologia sistemática – WineGruden. 31 O Calvinismo e a Piedade Cristã por Thomas Magnum É comum ouvirmos algumas indagações acerca do calvinismo, acusações descabidas e sem fundamentação Bíblica ou histórica. Uma delas é que o calvinismo promove em sua defesa da predestinação esfriamento espiritual, ou seja, o cristão não precisa cultivar uma vida piedosa. Veremos aqui, que tal acusação é infundada e desonesta com a história da Reforma protestante. A contribuição da teologia reformada em várias camadas da sociedade são provas claras da piedade do pensamento de João Calvino. É notório que Calvino defendeu e ensinou a doutrina da predestinação com evidente ardor e temor, sua base foi as Escrituras, é evidente também que não foi Calvino quem inventou a doutrina. Ao lermos as Epístolas de Paulo, vemos claramente o ensino do Apóstolo sobre a eleição, as doutrinas da graça estão presentes nas Escrituras de Gênesis ao Apocalipse, qualquer cristão que se propor a realizar um estudo sério das Escrituras Sagradas, não negará essas doutrinas. No entanto essas doutrinas não nos levam a uma indiferença ou esfriamento espiritual, mas, o contrário o povo remido e chamado por Deus vive como disse Paulo: “Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”. Tito 2.12 Abordaremos o pensamento de Calvino sobre a piedade cristã, depois os cinco pontos do calvinismo e suas implicações práticas para vida do crente. Com isso demonstraremos que a teologia da vida cristã no calvinismo está embasada nas Escrituras e não na justiça dos homens. Calvino e a Vida Cristã Comumente ouvimos falar de Calvino como um homem implacável e carrancudo que não tinha sensibilidade com o próximo e que reduziu o homem a nada. 32 Isso não era verdade João Calvino foi criado por sua mãe de forma piedosa, sua genitora o conduzia pela mão nos caminhos e no temor do Senhor. Steve Lawson diz: Conhecido como um dos grandes homens de todos os tempos, ele era uma força motriz tão expressiva que influenciou a formação da igreja e da e da cultura ocidental de modo como nenhum outro teólogo ou pastor conseguiu fazer. Sua exposição habilidosa das Escrituras possuía características doutrinárias da Reforma Protestante, tornando-o, indiscutivelmente, o principal arquiteto da causa protestante. Sua impetuosa abordagem da teologia definiu e articulou as verdades essenciais daquele movimento que alterou a história da Europa no Século dezesseis. [1] A Piedade Cristã nos Escritos de Calvino Quando lemos Calvino, descobriremos logo a primeira vista um homem santo que tinha por base de sua teologia as Escrituras Sagradas, a teologia de Calvino era radicalmente bíblica. Ao lermos principalmente seus comentários bíblicos notaremos seu fervor e paixão pelas coisas divinas, a espiritualidade ensinada pelo reformador como uma vida dedicada a Deus e seu reino é um ensino claro em seus escritos. Quando lemos Calvino falando das disciplinas espirituais podemos perceber como isso era importante em sua teologia e em seus comentários bíblicos (E ele comentou quase toda a Bíblia), são suas Institutas aplicadas de forma prática na vida da igreja. Para Calvino a piedade cristã está alicerçada no conhecimento de Deus: “A piedade está sempre fundamentada no conhecimento do verdadeiro Deus; e isso requer ensino”. [2] Para Calvino a base para uma correta vida piedosa era o correto conhecimento da verdade bíblica. Como lemos em Tito 1.1: “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus, e o conhecimento da verdade, que é segundo a piedade”. A nossa salvação se materializa em nosso conhecimento intensivo e qualitativamente completo da verdade. Contudo, este conhecimento da verdade, longe de ser arrogante e autossuficiente, está relacionado com a piedade: “segundo a piedade”. O verdadeiro conhecimento de Deus é cheio de piedade. Piedade caracteriza a atitude correta para com Deus, englobando temor, reverência, adoração e obediência. Ela é a palavra para a verdadeira religião. [3] 33 Calvino entendia que o conhecimento do verdadeiro Deus traria uma vida piedosa e santificada. ...deve observar-se que somos convidados ao conhecimento de Deus, não àquele que, contente com vã especulação, simplesmente voluteia no cérebro, mas àquele que, se é de nós retamente percebido e finca pé no coração, haverá de ser sólido e frutuoso.[4] ...Jamais o poderá alguém conhecer devidamente que não apreenda ao mesmo tempo a santificação do Espírito. (...) A fé consiste no conhecimento de Cristo. E Cristo não pode ser conhecido senão em conjunção com a santificação do seu Espírito. Segue-se, consequentemente, que de modo nenhum a fé se deve separar do afeto piedoso. [5] Ainda em seu comentário da epístola de Tito 1.1, Calvino nos diz: A frase, que é segundo a piedade, qualifica a verdade de uma forma especifica, da qual ele esteve falando, e ao seu tempo recomenda sua doutrina a partir de seu fruto e propósito, visto que seu alvo único é promover o culto divino correto, e manter a religião genuína entre os homens. E assim ele livra sua doutrina de toda e qualquer suspeita de vã curiosidade, como ele fez diante de Félix (Atos 24.10) e igualmente diante de Agripa (Atos 26.1). Visto que todos os questionamentos supérfluos que não se inclinam para edificação devem ser com toda razão suspeitos e mesmo detestados pelos cristãos piedosos, a única recomendação legitima da doutrina é que ela nos instrui na reverência e no temor de Deus. E assim aprendemos que o homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo, e o único homem que deve ser tido na conta de genuíno teólogo é aquele que pode edificar a consciência humana no temor de Deus. [6] As Implicações Práticas dos Cinco Pontos do Calvinismo Ao tratarmos da resposta reformada aos remonstrantes nos cânones de Dort, não temos apenas cinco pontos de teologia engessada teoricamente. Os cinco pontos do calvinismo nos levarão através da Escritura a uma compreensão Bíblica de mundo, ética, espiritualidade, sociedade, igreja e as demais instituições que envolvem a igreja de Deus. Ao observarmos o desenvolvimento e involução de nossa geração, percebemos claramente que a única explicação biblicamente coerente é a depravação total: Assassinatos, violência, corrupção, destruição dos valores familiares, abandono das verdades Bíblicas, culto a personalidade, a descentralização do culto, o antropocentrismo. A Palavra de Deus nos diz a respeito da condição do homem caído: E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; 34 estando cheios de toda a iniquidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem. Romanos 1.28-32 A Bíblia nos mostra que o homem está completamente distanciado de Deus, está destituído da glória, o homem não entende as coisas divinas e não busca a Deus. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Romanos 3.11-18 Essa condição pecaminosa é a explicação para a depravação que envolve a sociedade, os horrendos pecados que contemplamos todos os dias por meios massivos a libertinagem a violação aos mandamentos de Deus sobre a vida, casamento, sexo, finanças, cultura e artes. No entanto Deus tem um povo que Ele escolheu, para serem conforme a imagem de seu Filho, que são o sal da terra e a luz do mundo. Esse povo faz toda a diferença, um povo que glorifica a Deus e que vive e prega sua Palavra. O princípio ético da Escritura é trazer conforto e equilíbrio a vida social. Uma política onde os princípios éticos da palavra de Deus são violados será a ruína de uma nação, um sistema educacional em que o homem é entronizado e a Bíblia não é citada como fonte de ética salutar, levará uma sociedade também a ruína moral e espiritual. A perseverança dos santos é outra doutrina que podemos mencionar como extremamente importante para o povo de Deus e para aqueles que são beneficiados de forma colateral pelo Evangelho de Cristo. A vida regrada dos santos levará a um modelo de trabalho, santidade, vida comum, familiar e espiritual. Aqueles que foram eleitos incondicionalmente por Deus, perseverarão na busca da justiça, da vida devota e piedosa, isso são implicações éticas marcantes pela presença da igreja. A expiação limitada nos levará em particular a compreensão do amor de Deus por seu povo, de sua providência e cuidado para com os seus, isso é confortante por sabermos que estamos sempre aos cuidados do nosso Deus. 35 Conclusão Estudar o pensamento de Calvino sobre a piedade cristã revelará a importância que o reformador dava a vida prática do cristianismo Bíblico, afirmações de que o calvinismo não valoriza a prática da piedade cristã está fundamentada em desconhecimento do que o calvinismo ensina, um estudo mais apurado sobre a reforma e suas extensões irá mostrar o quanto à doutrina reformada é comprometida com a sã doutrina e a vida santa, diante de um Deus que é santo. [1] A Arte Expositiva de João Calvino, Steve Lawson. Ed. Fiel [2] Comentáriode Daniel, João Calvino. Ed. Fiel [3] A Piedade Obediente de Calvino, Hermisten Maia Costa http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_XIII__2008 __1/A_Piedade_Obediente_de_Calvino_-_Hermisten_Maia_Pereira_da_Costa.pdf [4] As Institutas da Religião Cristã, João Calvino - I 5.9. [5]As Institutas da Religião Cristã, João Calvino - III. 2.8. [6] As Pastorais, João Calvino, Comentário da epístola de Tito. 36 Doxologia Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11.33-36 37