ANÁLISE DO CUSTO DE PRODUÇÃO DE SOJA E SUA VIABILIDADE: UM ESTUDO DE CASO Giovan Luciano Bataielo (G-UEM) José Roberto Fernandes Domingues (G-UEM) Maicon Grecco Lima (G-UEM) Paulo Moreira da Rosa, Dr.(UEM) Resumo A agricultura brasileira tem passado por grandes dificuldades, dentre outras questões os fatores cambiais e de tempo, foram as principais causas do declínio na produção ocasionando derrubada na lucratividade dos produtores rurais. A elaboração deste trabalho tem por objetivo evidenciar os custos da produção de soja da safra 2005/2006 em uma propriedade rural. O desenvolvimento das idéias, sua ordenação e distribuição foram realizados de forma que exemplifique as várias etapas do processo de produção com o intuito de facilitar a compreensão dos leitores. A análise abarca comentários e sugestões que podem ser tomadas para reduzir o impacto negativo e a insegurança que tomou conta de grande parte dos agricultores brasileiros. Palavras-chave: Agricultura, produção, custos. Introdução O mundo moderno tem oferecido de forma rápida, várias tecnologias que visam à competitividade das empresas no atual sistema globalizado. Cada seguimento tem trabalhado e desenvolvido pesquisas para atender com satisfação o seu nicho de mercado. Nesse contexto estão inclusas as atividades agrícolas, que ha muito tempo deixaram de ser meras atividades de exploração extrativistas para se tornarem empresas rurais. Essa mudança no cenário agrícola tornou–se essencial para que os empreendedores rurais se mantivessem no mercado. Tal fato se deve a globalização e a conseqüente concorrência com outros países, e até mesmo interna, passando a exigir dos produtores rurais planejamento de suas atividades de acordo com as variáveis: preços mínimos, políticas governamentais e mercado. Sobre esse assunto Figueiredo e Santos (2005, p. 9) dizem: A abertura da economia brasileira, acompanhada por uma educação gradual e contínua das barreiras tarifárias e não-tarifárias, nos anos 90, estimulou à busca por modernização e ganhos de competitividade. Além disso, a criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) promoveu maior exposição do agronegócio brasileiro à competição externa. Essa maior exposição ocorreu no caso dos segmentos de soja a capacidade competitiva do Paraguai e, principalmente, da Argentina em produtos mais elaborados, como os processados. 2 Para combater a instabilidade macroeconômica interna, adotou-se o Plano Real, em primeiro de julho de 1994. Esse plano conduziu a economia brasileira a um ambiente macroeconômico de maior controle sobre as variáveis preço, renda, taxa de juros e câmbio. No âmbito governamental, existia o objetivo de reduzir a incerteza e melhorar as expectativas dos produtores; como conseqüência, seria obtida uma maior competitividade agrícola. Diante disso, entende-se que apesar do Mercosul acirrar a disputa pelo comércio internacional, ele proporcionou uma grande vantagem ao produtor rural, que foi a busca por novas tecnologias de cultivo, aumentando dessa forma a produtividade das lavouras para poder concorrer com o mercado externo. Outro ponto favorável foi o despertar por parte dos produtores da necessidade de conhecer o seu custo de produção para melhor planejar suas atividades. Contabilidade de Custos A contabilidade de custos é uma ramificação da Ciência Contábil que estuda os gastos realizados pela empresa no decorrer de suas operações, cujo objetivo é analisar e fornecer informações detalhadas sobre os custos de produção para que os gestores possam tomar decisões. Para facilitar a compreensão dos termos empregados na contabilidade de custos, citase os mais utilizados: Custo de produção - é o gasto que a empresa tem na elaboração do seu produto, ou seja, é o gasto empregado em seu processo produtivo. O custo de produção é formado basicamente de três elementos de custos: matéria-prima, mão-de-obra direta e gastos indiretos de produção. Custos diretos – são os recursos aplicados diretamente na produção do bem ou do serviço, sendo, portanto, identificáveis em relação ao produto. Matéria-prima - é o material que depois de manipulado resulta em produto. O que define ser ou não matéria-prima é o seu estado em relação ao produto acabado. Um mesmo bem pode ser produto em uma indústria e matéria-prima em outra. A soja, por exemplo, pode ser produto da empresa agrícola e matéria-prima da indústria de óleo. Mão-de-obra direta - é a mão-de-obra empregada na transformação da matériaprima em produto, ou seja, é aquela que atua diretamente sobre a meteria-prima. Mão-de-obra indireta - é aquela que auxilia no processo produtivo. Ex. supervisão, almoxarifado, segurança, manutenção etc. 3 Custos indiretos de produção - são os recursos aplicados indiretamente na produção do bem ou serviço, não sendo passíveis de identificação no produto. Não oferecem condições de uma medida objetiva, as alocações são feitas por meio de rateios, pois apenas contribuem para a formação do produto. Ex: material de limpeza, aluguel, depreciação etc. Custos fixos – são os que independem do volume de produção e quase sempre são indiretos. Ex. aluguel, depreciação, energia, telefone e outros. Custos variáveis - são os que oscilam em relação a quantidade produzida. Ex. matéria-prima, embalagem, mão-de-obra direta e outros. Despesas - são os recursos aplicados no funcionamento da empresa, porém, não identificados no processo de fabricação. São os recursos consumidos nas atividades fora do âmbito fabril, e sempre tem uma relação direta com a obtenção de receitas. As despesas são geralmente classificadas em administrativas, comerciais e financeiras. Investimentos - são os gastos ativados em função de sua vida útil ou de benefícios futuros. Ex: compra de matérias-primas, de material de embalagem, de material de expediente etc. Enquanto esses estiverem em estoque no almoxarifado são considerados investimentos. Equipamentos, veículos, obras de arte, terrenos e outros bens duráveis, também são considerados investimentos. Na seqüência apresenta-se o gráfico 01 representando os custos fixos e os variáveis no processo de produção da soja. 4 Legenda: A = custos fixos B = custos semifixos C = custos fixos para produção zero até uma unidade D = custos variáveis regressivos E = custos variáveis constantes F = custos variáveis progressivos Interpretando o gráfico 01 em uma operação de plantio de soja tem-se: A = custo de frete do adubo e semente; B = custo de uma pessoa a mais para a função de abastecimento do adubo e sementes na plantadeira; C = lubrificação e manutenção dos maquinários e equipamentos de plantio; D = quanto mais aumenta a velocidade de plantio, mais barato se torna à mão-de-obra, que é mensurada por dia; E = os custos do adubo e sementes aumentam de acordo com a área plantada; F = o consumo de óleo diesel aumenta proporcionalmente à aceleração. Quando se faz uma análise de custos, somam-se todos os valores aplicados ou consumidos na produção, porém o que interessa realmente é saber o custo de uma única unidade produzida, que pode ser obtida pela divisão do custo total pela quantidade de unidades produzidas. Custo total = Custo unitário Unidades produzidas Considerando: c: custo unitário f: custo fixo total v: custo variável total n: quantidade de unidades produzidas Tem-se a seguinte fórmula de custo unitário: c=f+v n Na interpretação dessa fórmula entende-se que: a) os custos fixos tem volume variável decrescente por unidade, para cada aumento de produção; b) os custo variáveis tem volume fixo por unidade para qualquer número de quantidade produzida, exceto o custo variável progressivo ou degressivo. 5 Tratando-se de custo variável progressivo, o custo por unidade tende a crescer ligeiramente, e tratando-se de custo variável regressivo, O custo por unidade tende a diminuir ligeiramente. Legenda: A = custo unitário ótimo; B = preço unitário de venda ou custo unitário máximo admissível. Examinando-se o gráfico 02 verifica-se que o comportamento do custo unitário segue a seguinte trajetória: primeiro decresce em função da anulação gradual do ônus dos custos fixos, em seguida cresce, em função da pressão dos custos variáveis progressivos. O custo ótimo é o menor obtido na trajetória, porque é o que fornece maior margem de lucro entre o preço de custo e o preço de venda. Isto não significa, entretanto, que a empresa deve parar de produzir acima da quantidade delimitadora do preço ótimo. Ela poderá continuar produzindo até que o excesso de quantidade produzida determine um custo suplementar igual ao preço de venda. No gráfico 02 a margem de lucro está representada pelo setor O-A’-B, observando-se que a área desse setor vai diminuindo à medida que o custo aproxima-se do preço de venda. Por conseguinte, existindo custos variáveis progressivos, a margem do lucro vai diminuindo a medida que se faz sentir em maior escala o ônus dos custos suplementares decorrentes das variáveis progressivas. A seguir apresenta-se uma análise de custos de produção em uma lavoura de soja, safra 2005 / 2006 em um estudo de caso. Área 72,6 hectares. Produtor: LCML - Sítio Mirindiba. Local: Estrada Mirindiba Lotes 267 à 273. 6 Sistema de plantio: Plantio Direto - P.D. Preparo de solo: dispensado, pois o terreno já se encontrava propício para o P.D. Área arrendada pelo valor de 8,78 sacas de soja por hectare, totalizando 637,5 sacas. Custos indiretos Foram feitas duas análises de solo na área pelo valor de R$ 25,00 cada, totalizando R$ 50,00. O custo da assistência técnica profissional é feito sobre o valor de 2% do valor do planejamento para custeio da lavoura que foi de R$ 80.000,00, totalizando R$ 1.600,00. Outros custos indiretos referem-se ao valor do tempo gasto pelo proprietário com: MOI (mão-de-obra indireta), monitoramento da lavoura, documentação necessária para o custeio, compra de produtos, comercialização da safra e combustível gasto nos deslocamentos. Nesse caso foram considerados 4 dias de serviço a R$ 25,00 cada, totalizando R$ 100,00. O combustível foi calculado em 6 visitas com 20 km para ir mais 20 km para voltar, totalizando 240 km. Considerando um consumo de 10 km por litro e o preço do álcool a R$ 1,45 o litro totaliza R$ 34,80. A referida MOI, foi baseada no tempo gasto pelo produtor, para executar cada tarefa. O custo do trator e pulverizador foi terceirizado, o valor estipulado por hectare foi de acordo com pesquisa feita com produtores da região. No referido conjunto já esta inclusa a mão-de-obra. PRODUTO GLIFOSATO GLIFOSATO FRETE DE AGUA TRATOR 73CV PULVERIZADOR (MOD) TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA 8,20 3,72 30,50 8,20 1,24 10,16 5,50 2,00 11,00 16,52 2,00 33,04 84,70 HA 72,60 72,60 72,60 72,60 72,60 TOTAL 2.214,30 737,62 798,60 2.398,70 6.149,22 Quadro 1 - Custo de controle de plantas daninha com herbicidas não seletivos O produtor não possui água disponível no local, os valores dos fretes relacionados à pulverização e devido ao transporte de água. 7 PRODUTO R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA SEMENTES/SACA 75,60 1,32 99,79 VITAVAX THIRAM/LT 44,00 165ML 7,26 FURAZIM/LT 61,00 165ML 10,06 FRETE 4,54 1,00 4,54 TOTAL 121,65 HA 72,60 72,60 72,60 72,60 72,60 TOTAL 7.244,75 527,08 730,36 329,60 8.831,79 Quadro 2 - Semente e tratamento das mesmas A mão-de-obra e a máquina do tratamento de semente ficaram por conta do fornecedor da semente. PRODUTO FERTILIZANTE 00-20-20 FRETE TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA HA TOTAL 0,651 248 161,45 72,60 11.721,12 16,11 1 16,11 72,60 1.169,59 16,761 249 177,56 72,60 12.890,71 Quadro 3 - Custo do fertilizante A adubação e o plantio da semente foram realizados em uma única operação e seu custo está especificado abaixo: PRODUTO TRATOR/PLANT. MOD TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA 62,00 1,00 62,00 20,00 14,52 1,38 63,38 HA 72,60 72,60 72,60 TOTAL 4.501,20 100,00 4.601,20 HA 72,60 72,60 72,60 72,60 72,60 TOTAL 2.577,30 1.923,90 1.199,35 399,30 6.099,85 Quadro 4 - Adubação e plantio PRODUTO SCORPION/LT SCEPTER/LT TRATOR 73 CV FRETE TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA 71,00 0,50 35,50 53,00 0,50 26,50 16,52 1,00 16,52 5,50 1,00 5,50 84,02 Quadro 5 - Controle de plantas daninhas de folha larga pré-emergentes A aplicação de inseticidas foi feita uma aplicação para o controle de lagarta da soja e duas aplicações para o controle simultâneo de lagarta e percevejo, seus custos foram os seguintes: 8 PRODUTO KARATÊ/LT METAMIDOFÓS/LT TRATOR 73 CV FRETE TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA 229,40 0,0165 3,79 18,75 1,24 23,25 16,52 3,00 49,56 5,50 3,00 16,50 93,10 HA 72,60 72,60 72,60 72,60 72,60 TOTAL 274,80 1.687,95 3.598,06 1.197,90 6.758,70 Quadro 6 - Controle de lagartas e percevejo Deveria ser feita mais uma aplicação para o controle simultâneo de doenças de final de ciclo (D.F.C.) e ferrugem, porém as condições de tempo não viabilizaram a aplicação. PRODUTO R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA FUZILADE 250SC/LT 61,26 0,7000 42,88 TRATOR 73 CV 16,52 1,00 16,52 FRETE 5,50 1,00 5,50 TOTAL 64,90 HA 72,60 72,60 72,60 72,60 TOTAL ####### ####### 399,30 ####### Quadro 7 - Controle de plantas daninhas de folha estreita em pos emergência A colheitadeira também foi terceirizada, seu preço foi com base em pesquisa com produtores da região. PRODUTO COLHEITADEIRA FRETE TOTAL R$ QUANTIDADE/HA TOTAL/HA 72,25 1,0000 72,25 12,91 1,00 12,91 85,16 HA 72,60 72,60 72,60 TOTAL 5.245,35 937,27 6.182,62 Quadro 8 - Custo da colheitadeira O custo da colheitadeira já inclui o valor referente à mão-de-obra do operador, e o frete refere-se ao transporte do produto da lavoura até o armazém. 50,00 ANÁLISE DE SOLO 1.600,00 ASSISTENCIA TECNICA 100,00 SERVIÇO DE MOTORAMENTO 34,80 COMBUSTIVEL 1.784,80 TOTAL Quadro 9 - Custos indiretos 9 CUSTOS GERAIS DE PRODUÇÃO TOTAL DESSECAÇÃO 6.149,22 SEMENTES E TRATAMENTO 8.831,79 FERTILIZANTES 12.890,71 ADUBAÇÃO E PLANTIO 4.601,20 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS F.L. 6.099,85 CONTROLE DE LAGARTAS E PERCEVEJO 6.758,70 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS F.E. 4.711,89 COLHEITA 6.182,62 CUSTOS INDIRETOS 1.784,80 TOTAL 58.010,78 Quadro 10 - Custos incorridos no período PRODUCAO BRUTA POR HECTARE 20,66 SACAS DESCONTOS IMPUREZAS 1,50% Percentual TOTAL DESCONTOS 0,3099 SACAS ARRENDAMENTOS 8,78 SACAS TOTAL LIQUIDO 11,57 SACAS Quadro 11 - Total de sacas produzidas por hectare PRODUÇÃO (11,57 sc x 72,6 ha) RECEITA (-) CUSTO DE PRODUÇÃO RESULTADO = (PREJUÍZO) 839,98 20.999,50 58.010,78 (37.011,28) Quadro 12 – Resultado do exercício O resultado demonstra que o produtor teve um prejuízo de R$ 37.011,23 Análise crítica O mundo inteiro despertou para a agricultura empresarial independente do tamanho da propriedade e do produtor. No Brasil, porém, somente os maiores conseguiram se adaptar as novas tecnologias, no entanto, deve-se compreender que há tecnologias inacessíveis aos pequenos produtores, como é o caso da agricultura de precisão, que por ter um custo alto é inviável em pequenas propriedades. Contudo, as informações sobre novos sistemas de cultivo, novas variedades de cultivar e novos insumos menos agressivos ao meio ambiente e mais eficazes, deveriam ser de conhecimento de todos já que vive-se na era da informação. O Brasil por ser um dos maiores produtores de grãos do mundo, caminha na contra mão da historia. Algumas informações privilegiadas e financiamento de defensivos, a custo 10 baixo, estão nas mãos das grandes multinacionais, que por interesses econômicos e questões de garantia repassam somente aos grandes produtores. O próprio Banco do Brasil, por meio de sua política rural, responsável pela liberação das verbas para o plantio, disponibilizadas pelo governo federal, privilegia os grandes produtores e na maior parte das vezes a verba chega quando já terminou a época propícia para o plantio. Segundo Tosi (2006) em sua reportagem: Bancos terão que cumprir código do consumidor, veiculada no Boletim Informativo de FAEP (Federação da Agricultura do Estado Paraná). Para que o banco libere o financiamento agrícola é comum se utilizar a “venda casada” de produtos oferecidos pelo banco, que nada mais é que a retenção de parte do financiamento para ser aplicada em poupança, fundo de investimento e até em previdência privada. As exigências podem variar de acordo com as metas a serem cumpridas, fato lastimável, considerando que na maior parte das vezes, segundo produtores da região, o financiamento não cobre nem 80% dos custos e despesas, que vão desde a compra de insumos para o plantio até a colheita e armazenamento. Outro fator de custo que onera a produção nacional é o custo com transportes, que vai desde os insumos até o produto final. A malha ferroviária é insuficiente, e sua maior parte está em péssimo estado de conservação, por conseqüência, nosso principal meio de transporte é por intermédio de rodovias, que em sua maior parte estão precárias e mal sinalizadas, caso contrário, o produtor conta apenas com as rodovias plagiadas, encarecendo ainda mais o transporte. Segundo Sigwalt (2006) em sua reportagem: Legislação e preços rurais, também divulgada no Boletim Informativo da FAEP, o fundamento legal dos preços mínimos tem como base a Constituição Federal, no seu artigo 187, inciso ll, que na verdade acolheu as disposições anteriores atinentes à política de preços mínimos, ao afirmar, “os preços compatíveis com os custos de produção e a garantia de comercialização”. A constituição de 1988 recepcionou a legislação anterior que preceituava a formação de preços mínimos pelo Governo, vigente desde 1964, quando do advento do estatuto da terra - Lei nº 4.504. Dos vários dispositivos tratados o mais relevante por seu aspecto específico é o artigo 85 da Lei 4.504/1964 que assim expressa: A fixação dos preços mínimos de acordo com a essencialidade dos produtos agropecuários, visando aos mercados interno e externo, deverá ser feita, no mínimo sessenta dias antes da época do plantio em cada região e reajustado na época de venda, de acordo de acordo com os índices de correção fixados pelo Conselho Nacional de Economia. 11 Anote-se que o estatuto prevalece há várias décadas, e foi recepcionado pela Carta Magna de 1988. Trata-se de obrigação legal do poder público a fixação de preços mínimos compatíveis, e não de simples ato unilateral administrativo de caráter opcional ou facultativo. Também, na esteira do exame do Estatuto da Terra, vale apreciar o contido no parágrafo único, do artigo 85, ao dispor: “Para a fixação do preço mínimo se tomará por base o custo efetivo da produção, acrescido das despesas de transporte para o mercado mais próximo e da margem de lucro do produto, que não poderá ser inferior a trinta por cento”. O preceito legal chega ao detalhamento da fixação da margem de lucro a ser outorgada ao produto. Evidente na espécie a vontade do legislador em traçar metas à produção primária, visando o mercado interno e externo. Pode-se observar que esses preceitos há muito foram deixados de lado, é certo que o Brasil não tem condições de “brigar” contra o protecionismo dos países desenvolvidos (que subsidiam seus produtos agrícolas, vendendo seus produtos a preços não condizentes com a realidade de mercado), que manipulam os preços das commodities agrícolas, porém, o fato de estipular com antecedência os preços mínimos, já seria uma grande vantagem na hora do produtor planejar a cultura a ser cultivada. Matos (2006, p. 6) diz: Os brasileiros tentam baixar custos de produção para recuperar a competitividade perdida com a desvalorização do dólar frente ao real. O esforço inclui a luta por uma legislação que regulamenta um mercado de produtos genéricos, semelhante ao da indústria farmacêutica. O Governo Federal, embora mostre certa sensibilidade à reivindicação, com o registro de alguns produtos genéricos, não satisfaz o setor, que inveja paises vizinhos como a Argentina e o Uruguai, onde os preços dos agrotóxicos genéricos são bem menores que no Brasil. João Matos, presidente das cooperativas dos produtores d e algodão do Estado de Goiás (All Cotton ), cita como exemplo a diferença de preços de um herbicida usado na cultura da soja. “na China, o quilo deste produto custa US$ 3,00, no Paraguai US$ 20,00, na Argentina US$ 30,00 e no Brasil US$ 180,00.” Para ele essa diferença é a culpa da dificuldade de legalizar produtos genéricos no Brasil. O presidente da All Cotton diz que são impostas dificuldades para aprovar o uso de determinados agrotóxicos utilizados em países que exportam produtos agropecuários para o Brasil e questiona. Esses defensivos são aplicados na produção de milho e arroz e consumidos livremente no Brasil. Se não são bons e seguros, qual é a razão para o Governo adquirir esses produtos de nossos vizinhos? O registro e homologação de uso dos produtos queixam-se os produtores, é lento e burocrático. Pode demorar 5 anos. Existem mais de 5000 produtos utilizados na agricultura e o governo demora anos para homologar dois agrotóxicos genéricos. Se esse processo não for ágil não teremos condições de participar com competitividade na economia globalizada. O mercado pode ser ainda segmentado pelos produtos sob a proteção de patentes e dos produtos denominados genéricos. Agroquímicos genéricos são aqueles em que a validade da proteção da patente expirou e pode-se solicitar o registro para a produção e comercialização. 12 Em geral estes produtos apresentam preços menores, uma vez que os custos com P&D para o desenvolvimento da molécula já foram teoricamente recuperados. O mercado de produtos genéricos é estimado entre 60% a 70% do mercado global, portanto muito relevante para as empresas (FAEP/SENAR, 2006). Um outro fator de custo que pesa na agricultura são os elevados preços dos defensivos agrícolas, que em muitas das vezes são importados. o Brasil deu um salto significativo na produção de genéricos, porém, o Governo deveria incentivar a pesquisa de novas moléculas, ou a fabricação interna de genéricos, reduzindo com isto, os preços internos, gerando mão-deobra e arrecadação de impostos para o país. Outra alternativa para a produção de soja é a produção de biodiesel tendo muitas variáveis no mercado, uma dessas variáveis é o h-bio diesel, conforme Boletim Informativo FAEP/SENAR número 917 p. 7 que diz: O H-BIO Diesel foi desenvolvido nos últimos 18 meses pelo centro de pesquisas e desenvolvimento (Cenpes) da Petrobrás e deve entra em escala industrial ainda em 2006. o novo processo utiliza óleo vegetal como insumo para obtenção de óleo diesel, por meio da hidrogenação de uma mistura de óleo vegetal e mineral. Testes recentes realizados na refinaria Gabriel Passos localizada em Betim, Minas Gerais, confirmaram a viabilidade técnica e comercial do processo, cujo registro de patente já foi solicitado ao instituto nacional de propriedade industrial. O biodiesel foi uma grande descoberta científica. O governo deveria incentivar a iniciativa privada, a começar pela redução do IPI, sua produção reduziria a importação de petróleo, lançaria menos dióxido de carbono na atmosfera ajudando a reduzir o efeito estufa, e incentivaria a produção de outros vegetais, além da soja, que servem de matéria-prima. Isso ajudaria também a reduzir o estoque mundial de soja impulsionando seus preços para cima. Conclusão A agricultura tem passado por momentos bons e ruins no decorrer das últimas décadas. Nessa última safra, por exemplo, grande parte dos produtores de soja teve prejuízo ou uma baixa rentabilidade. O custo de produção apresentado neste trabalho demonstra a inviabilidade do plantio da soja na safra 2005/2006. Todavia, existem maneiras de minimizar os problemas enfrentados pelos agricultores. Basta que haja por parte dos produtores rurais maior profissionalismo na execução de suas atividades, e por parte das autoridades governamentais, uma política agrícola clara e adequada com a realidade dos agricultores brasileiros. Caso contrário, a agricultura brasileira, que há muito tempo tem sido à base da 13 nossa economia, estará sujeita a degradar-se, voltando aos velhos tempos do caboclo matuto, com as mãos calejadas e uma enxada nas costas. REFERENCIAS BRASIL. Lei 4504/1964 - Estatuto da terra. Senado Brasileiro, Brasília, 1964. FAEP/SENAR. Boletim informativo nº 917 pg. 7. Curitiba, 2006. FIGUEREDO, Adelson Mrtins; SANTOS, Maurinho Luiz dos. Evolução das vantagens comparativas do Brasil no comercio mundial de soja. In: Revista Política Agrícola ano XIV-nº1-janeiro, fevereiro, marco-2005. MATOS, João. Demora compromete competitividade. In: Revista canal, ano 1 nº Goiânia/GO, agosto/setembro-2006. SIGWALT, Djalma. Legislação e preços rurais. In: Revista FAEP/SENAR - Boletim Informativo nº 915 Junho-2006. TOSI, Marcos. Bancos terão que cumprir código do consumidor. In: Revista FAEP/SENAR - Boletim Informativo nº 915 Junho-2006