DONADELLI, A; TURCO, PHN; KANO, C; TIVELLI, SW; PURQUERIO, LFV. 2010. Rentabilidade e custo de produção Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. do quiabeiro consorciado com adubos verdes. 2010. Horticultura Brasileira 28: S411-S415. Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. Alceu Donadelli1; Patricia Helena Nogueira Turco1; Cristiaini Kano1; Sebastião Wilson Tivelli2; Luis Felipe V. Purquerio3 1 APTA - Pólo Leste Paulista, Estrada Nelson Taufic Nacif, Km 03, CP-01, 13910-000 Monte Alegre do Sul-SP, 2 [email protected], [email protected], [email protected]; APTA - Unidade de Pesquisa de Desenvolvimento de São Roque; Avenida Três de maio, 900, 18133-445 São Roque-SP, 3 [email protected]; APTA - Instituto Agronômico, CP-28, 13012-970 Campinas-SP, [email protected] RESUMO ABSTRACT O objetivo desse trabalho foi avaliar o custo de produção e a rentabilidade da cultura do quiabeiro em cultivo convencional solteiro e consorciado com guandu anão (Cajanus cajan) e crotalária Crotalaria juncea. As informações foram coletadas na área experimental da APTA/Pólo Leste Paulista, pertencente à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Para elaboração do custo de produção, trabalhouse com a metodologia descrita em Matsunaga et al. (1976), em que as planilhas foram distintas para cada cultivo (solteiro e consorciado). O sistema de cultivo solteiro teve uma lucratividade de 48,71% e um custo médio de produção de R$ 1,28/kg. Na composição final da renda do produtor mesmo acrescentando o valor da comercialização da semente de guandu anão e de crotalária, a melhor indicação foi encontrada no cultivo solteiro com uma renda líquida de R$ 11.289,69/ha, seguida pelo consórcio com guandu anão de R$ 6.143,68/ ha e pelo consórcio com crotalária com R$ 945,31/ha. Verificou-se que o cultivo do quiabeiro solteiro e consorciado com guandu anão foram os mais eficientes nas quantidades de quiabo e das sementes produzidas. Cost and return of okra intercropped with green manure. Palavras-chave: Abelmoschus esculentus, Cajanus cajan e Crotalaria juncea. The objective of this work was to evaluate the cost of production and profitability of okra cultivated in monocrop and intercropped with guandu anão (Cajanus cajan) and crotalária (Crotalaria juncea). The information were collected from experimental field at APTA/Pólo Leste Paulista, belonging to the Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, for the preparation of cost of production, it was worked with the methodology described in Matsunaga et al. (1976), the sheets were distinct for each crop (okra cultivated in monocrop and intercropped). The cropping system had a profitability of 48,71% and an average production cost of R$ 1,28 per kg. In the end comparison of the producer´s income even adding the value in the marketing of seed of guandu anão and crotalária, the best indication was found in okra cultivated in monocrop with a net income of R$ 11.289,69/ ha, after in okra intercropped with guandu anão with R$ 6.143,68/ha and with okra intercropped with crotalária with R$ 945,31/ ha. It was verified that okra cultivated in monocrop and intercropped with guandu anão were more efficient in the okra and seeds production. Keywords: Abelmoschus esculentus, Cajanus cajan and Crotalaria juncea. Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 411 Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. O quiabeiro (Abelmoschus esculentus) é uma planta anual, pertencente à família Malvácea, sendo o norte da África o provável local de origem. É largamente cultivado nas regiões tropicais e subtropicais por ser resistente ao calor. Provavelmente, foi introduzido no Brasil pelos escravos vindos da África. A cultura é muito apropriada à agricultura familiar, especialmente pelo elevado número de serviços gastos com mão-de-obra nas operações de colheita, classificação e embalagem, além da precocidade na produção e período relativamente longo de colheita é uma boa alternativa de renda para o pequeno agricultor (Passos, 2007). No Brasil, o cultivo é generalizado em todas as regiões, inclusive em hortas caseiras. Em 2008, a área plantada no Estado de São Paulo, segundo o Instituto de Economia Agrícola, foi de 1.583 hectares, com a produção de 22.773 toneladas e produtividade média de 14,4 toneladas por hectare. As regiões de Araçatuba e de Campinas são as maiores produtoras de quiabo e a produtividade brasileira varia de 20 a 40 toneladas por hectare. Essa variação depende de vários fatores como variedade, tipo de solo, clima, fertilidade do solo, disponibilidade de água pelas plantas, tratos culturais e ocorrência ou não de doenças e pragas nas plantas. A utilização da adubação verde com leguminosas, na forma de pré-cultivos, é capaz de promover aumentos de produtividade em hortaliças (Espíndola et al., 1998). Contudo, a obrigatoriedade de manutenção de áreas sem retorno financeiro, por períodos relativamente longos, constitui fator limitante a adoção dessa prática pelos pequenos agricultores. A adubação verde é uma prática de manejo ecológico do solo que visa tentar restabelecer as condições originais de fertilizante de ambientes degradados. O guandu anão (Cajanus cajan) é uma leguminosa arbustiva anual ou semiperene e possui um enorme potencial para exercer múltiplas funções nos sistemas de produção agrícola, além de gerar produtos de elevado valor biológico para melhoria do meio ambiente em geral. Outra planta muito utilizada na adubação verde é a crotalária com o propósito de aumentar o teor de matéria orgânica e/ou de nitrogênio e melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo, podendo ser utilizada no controle de plantas invasoras, de fitopatógenos, de erosão, proteção contra ventos e cobertura do solo. Seja qual for o atributo motivador da utilização dos adubos verdes, o objetivo invariavelmente é promover aumento de produtividade agrícola e a sustentabilidade de sistemas de produção (Azevedo et al., 2007). No cultivo do quiabeiro o espaçamento entre as linhas não é pequeno o que justifica o estudo de seu cultivo em consórcio com adubos verdes devido às vantagens já conhecidas proporcionadas pela utilização de adubos verdes. Com isso, esse trabalho teve como objetivo determinar o custo operacional total de produção (COT), a lucratividade e outros indicadores econômicos da cultura do quiabo solteiro e consorciado em um hectare, através de um estudo de caso, cujo sistema de produção representa efetivamente a realidade regional, sendo para tal considerado o período de 2008/2009. MATERIAL E MÉTODOS As informações necessárias para a elaboração das planilhas de coeficientes técnicos e de custo de produção foram coletadas no desenvolvimento do trabalho de campo, tabuladas e analisadas com a finalidade de avaliar cada sistema de produção individualmente, assim Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 412 Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. como nos índices econômicos e técnicos no cultivo do quiabo solteiro e consorciado. Os resultados servem de parâmetros para cultivos em pequenas áreas e com mão-de-obra familiar. Foram adotadas para este trabalho, as técnicas disponíveis e necessárias de acordo com a região. No cultivo do quiabeiro consorciado com guandu anão e com crotalária foi observada a produtividade de quiabo por área e a produção de sementes de guandu anão e de crotalária para comercialização. Os resultados encontrados para os coeficientes técnicos e custo de produção foram calculados individualmente para cada cultivo, com base na metodologia descrita em Matsunaga et al. (1976) e o cálculo dos índices de lucratividade e do ponto de equilíbrio da atividade (importante indicador para a avaliação econômica da produção agrícola) seguiram a metodologia encontrada em Martin (1998). Na composição da renda do produtor, com o cultivo do quiabeiro solteiro e consorciado, foram calculados os valores de comercialização de quiabo e das sementes de guandu anão e de crotalária para cada área. Não foram calculados os gastos com contribuição social, impostos, taxas, remuneração do capital investido e assistência técnica, no período de cultivo, pelo enquadramento como instituição de pesquisa, mas devemos esclarecer que toda atividade agrícola pode estar sujeita aos diferentes encargos de tributação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da viabilidade econômica da atividade agrícola estão associados a vários fatores externos que podem direcionar os índices de produtividade e lucratividade para cima ou para baixo, independente do sistema de produção adotado pelo agricultor. Na análise comparativa dos resultados entre os sistemas de cultivo (solteiro e consorciado) em um hectare para cada tratamento, o sistema de cultivo solteiro foi mais eficiente com um índice de lucratividade de (48,71%) (Tabela 1) e um custo médio de produção de R$ 1,28/kg. No consórcio do quiabeiro com guandu anão, o índice de lucratividade foi de (21,18%), com o custo médio de produção de R$ 1,97/kg. No consórcio do quiabeiro com crotalária, os resultados foram negativos, com índice de lucratividade de (-12,61%), provavelmente explicado pela baixa produtividade de quiabo. O índice de lucratividade obtido do consórcio do quiabeiro com o guandu anão embora tenha sido inferior ao do cultivo solteiro, não foi negativo, destacando-se que nesse sistema de cultivo há um benefício para os agricultores familiares principalmente com a economia no controle das plantas invasoras (capinas) e na agricultura familiar, o sistema consorciado de produção do quiabeiro com adubo verde representa uma alternativa, pois os olericultores, por trabalharem em pequenas áreas e com cultivos intensivos, não conseguem reservar uma gleba para fazer a rotação de cultura com adubos verdes. O ponto de equilíbrio (Tabela 1) da atividade, ou seja, o preço médio comercializado pelo produtor que possibilite cobrir seus gastos de produção foi de R$ 2,82/kg para o consórcio do quiabeiro com crotalária, R$ 1,97/kg para o consórcio do quiabeiro com guandu anão e de R$ 1,28/kg para o cultivo solteiro. O ponto de nivelamento (Tabela 1) que representa a produção mínima necessária para cobrir o custo de produção, em função do preço de venda, -1 foi de aproximadamente 4755; 5412 e 5437 kg ha para o cultivo solteiro, para o consórcio Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 413 Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. do quiabeiro com guandu anão e para o consórcio do quiabeiro com crotalária, respectivamente. Na composição final da renda do produtor mesmo acrescentando o valor da comercialização das sementes de guandu anão e de crotalária, a melhor indicação foi encontrada no cultivo solteiro (Tabela 2) com uma renda líquida de R$ 11.289,69/ha, no consórcio com guandu anão foi de R$ 6.143,68/ha, enquanto que no consórcio com crotalária o resultado alcançado foi de R$ 945,31/ha (esse último resultado mesmo sendo positivo, não e viável ou indicado para cultivo em consórcio). Pelos resultados obtidos, verificou-se que o cultivo do quiabeiro solteiro e consorciado com guandu anão foram os mais eficientes nas quantidades de quiabo e das sementes produzidas. REFERÊNCIAS AZEVEDO RL; RIBEIRO GT; AZEVEDO CLL. 2007. Feijão Guandu: Planta Multi Uso. Revista da FAPESE, 3: 81- 86. ESPINDOLA JA; ALMEIDA DL; GUERRA JGM; SILVA EMda; SOUZA FAde. 1998. Influência da adubação verde na colonização micorrízica e na produção de batata-doce. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 33:339-347. MATSUNAGA M; BEMELMANS PF; TOLEDO PENde; DULLEY RD; OKAWA H; PEDROSO IA. 1976. Metodologia de custo de produção utilizado pelo IEA. Boletim Técnico do Instituto de Economia Agrícola, 23:123-139. MARTIN NB. 1998. Sistema integrado de custos agropecuários – CUSTAGRI. Informações Econômicas, 28: 7-28. PASSOS FA; MOREIRA SR; TRANI PE; MELO AMTde. Instruções para cultivo do quiabo, Folder divulgado na Feira AGRIFAM, realizada em Agudos, SP, de 01 a 03 de agosto de 2007. Tabela 1. Indicadores econômicos do quiabeiro consorciado com adubos verdes (Economic Indicators of okra intercropped with green manure). APTA, Monte Alegre do Sul, SP, 2009. Descrição Produção de Quiabo Produção de Quiabo Produção de quiabo com crotalária com guandu anão solteiro Ponto de Nivelamento (COT) Custo médio de produção Índice de lucratividade 5437 kg/ha R$ 2,82/kg -12,61% 5412 kg/ha R$ 1,97/kg 21,18% 4755 kg/ha R$ 1,28/kg 48, 71% Fonte: dados da pesquisa Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 414 Rentabilidade e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes. Tabela 2. Coeficiente técnico e custo de produção do quiabeiro consorciado com adubos verdes (Coefficient Technical and Production Cost of okra intercropped with green manure). APTA, Monte Alegre do Sul, SP, 2009. Descrição Produção de Quiabo Produção de Quiabo Produção de quiabo com crotalária com guandu anão solteiro Itens/Gastos Total (R$/ha) Mão de obra e equipamentos 10552,08 Insumos 3041,73 Custo Operacional Total (COT) 13593,8 Total (R$/ha) 10552,08 2979,23 13531,32 Total (R$/ha) 9574,22 2313,18 11887,40 Fonte: dados da pesquisa Hortic. bras., v. 28, n. 2 (Suplemento - CD Rom), julho 2010 S 415