N.º 183 - Junho 2007 - 2,00 euros Sumário 4 N.º 183 - Junho 2007 - 2,00 euros 48 DO PROVEDOR Património natural de eleição, boa gastronomia e águas que dão saúde, sem esquecer o confortável e tranquilo Inatel Luso. 7 28 49 NOTÍCIAS COMUNIDADES O TEMPO PORTUGUESAS E O MUNDO Museu da Emigração em Melgaço 50 EDITORIAL 6 CARTAS E COLUNA NA CAPA 12 Fotos:Ana Mineiro CONCURSO DE FOTOGRAFIA 14 TERRA NOSSA 20 BRAGANÇA FUNDAÇÃO Roteiro por uma das regiões menos visitadas de Portugal, o nordeste transmontano. Bragança e o Parque Natural de Montesinho inserem-se num itinerário que privilegia os patrimónios natural e cultural, agora mais acessível aos associados do Inatel, graças à abertura do Parque de Campismo sob gestão do Instituto. CUPERTINO DE 46 MIRANDA Criada com finalidades de carácter educativo e social, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda assume uma missão muito contemporânea, a da “realização de actividades culturais que promovam a sociedade do conhecimento e contribuam para a inclusão social”. O trabalho com seniores é uma das prioridades da instituição. 30 PAIXÕES Mário Santos, o “Leão da Foz” antigo plátano do mundo PORTUGAL E A LUSOFONIA VIAGENS NA HISTÓRIA 51 BOA VIDA Quatro mega exposições na Europa Consumo/ Livro Aberto /Artes/Músicas/Palco /DVD/Cinema/À Mesa/ Saúde/ Informática / Palavras da Lei 36 70 HISTÓRIAS CLUBE TEMPO LIVRE DO TRINDADE Passatempos, Novos Livros e Roteiro 34 GRANDTOUR 2007 38 VIAGENS 79 Toledo, Alcalá de Henares e Cuenca: três cidades no coração ibérico O CHEFE SUGERE 44 81 OLHO VIVO O TEMPO E AS Inatel Palace: Lombinhos de vitela à Chefe Manuel PALAVRAS 26 46 TERMAS A CASA NA ÁRVORE Maria Alice Vila Fabião EM PORTUGAL [3] UM PRESENTE GREGO 82 LUSO: DOIS SÉCULOS DE BOAS ÁGUAS Lisboa tem um descendente do mais CRÓNICA Álvaro Belo Marques Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Pedro Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Préimpressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 183.259 exemplares Editorial JOSÉ ALARCÃO TRONI Relatório e contas de 2006 aprovados por unanimidade O Conselho Geral, na sessão de 3 de Maio, honrou-me e à Direcção, a que tenho a honra de presidir, com a aprovação, por unanimidade, dos Relatório e Contas e Parecer da Comissão de Fiscalização, relativos ao exercício de 2006, o que sucede pela primeira vez nos trinta e dois anos de existência do INATEL. omo referido, o resultado final foi positivo em 1.1 milhões de euros, aguardando-se, agora, o despacho de homologação de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, com vista à submissão do balanço do ano transacto à fiscalização sucessiva do Tribunal de Contas. Estão, também, aprovados pelo Tribunal de Contas os balanços de todos os exercícios anteriores a 2005 (inclusive) pelo que o INATEL - fundação herdará do INATEL I. P. contas rigorosas, confiáveis e aprovadas pelos restantes órgãos sociais – Conselho Geral e Comissão de Fiscalização - , Ministério da Tutela e órgão jurisdicional competente para a respectiva certificação. C FUNDAÇÃO Nos próximos dias será submetida à apreciação de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social a segunda – e penso que definitiva – versão do anteprojecto dos Estatutos da futura fundação INATEL – Investimentos e Actividades dos Tempos Livres dos Trabalhadores, pessoa colectiva de direito privado e utilidade pública administrativa, cuja criação se prevê para 1 de Janeiro de 2008. No segundo semestre, no decurso da Presidência Portuguesa da União Europeia, decorrerá o processo legislativo de constituição da Fundação INATEL, com a prévia e estatutária audição do Conselho Geral e da Comissão de Fiscalização, bem como, constitucionalmente, das Regiões Autónomas, dos Partidos Políticos e das Confederações Sindicais. INOVAÇÃO E QUALIDADE Na vertente da inovação e qualidade, o INATEL vem privilegiando a celebração de protocolos de parceria estratégica com Universidades, Politécnicos, Laboratórios de Estado e outros Institutos de Investigação, dando clara preferência ao conhecimento instalado no Ensino Superior e Ciência de Portugal sobre a consultadoria privada – portuguesa, estrangeira e multinacional – cujos honorários são, sempre, muito superiores aos da Universidade, Investigação e Consultadoria do Estado. 4 TempoLivre Junho 2007 Assim, é o INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, da Universidade Técnica de Lisboa, que acompanha e monitoriza o Projecto INATEL-Digital, consistente na modernização das tecnologias de informação e procedimentos administrativos, decorrente da opção estratégica pelo figurino quase empresarial de Fundação e pelo Sistema SAP. É o INA – Instituto Nacional de Administração o parceiro de referência para a formação, acompanhamento e monitorização da formação dos quadros dirigentes, tecnoestrutura, pessoal administrativo e auxiliar, não afectos a áreas de grande especificidade como o Turismo, a Hotelaria, a Restauração ou o Teatro da Trindade, cujas parcerias passam, obviamente, pelas Escolas Politécnicas e Profissionais de Hotelaria e Turismo, Centros Protocolares e Conservatórios e Escolas de Teatro das Universidades e Politécnicos. O INATEL é, praticamente, parceiro da totalidade das Universidades e Politécnicos públicos portugueses – cujas reitorias e presidências se situam nas capitais e principais cidades das Regiões Autónomas e nas capitais dos 18 distritos do Continente, nas quais o INATEL está presente, através da sua rede de delegações regionais e distritais – destacando-se, por exemplo, no domínio da qualidade alimentar, o protocolo, há anos vigente, com a Universidade do Porto, através da sua Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação. Considerando a importância dos recursos termais de EntreOs-Rios e Manteigas e a problemática situação ambiental gerada pelo derramamento de gasóleo ocorrido num dos depósitos do Posto Repsol em Entre-Os-Rios, o INATEL celebrou um acordo com o Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada (LABCARGA) do Departamento de Engenharia Geotécnica do Instituto Superior de Engenharia do Porto – Escola integrada no Instituto Politécnico do Porto – para o estudo e consultadoria nas questões ligadas à gestão dos recursos hidrominerais e geotérmicos e, em geral, das águas subterrâneas do INATEL. A partir do ano em curso, a carteira de obras e a avaliação e garantia da qualidade, geológica e mineira, das fundações dos edifícios e dos furos – existentes e projectados – de captação de água termal e da sua defesa contra infiltrações, passou a contar com a colaboração do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil - que, ao seu curriculum de sessenta anos, de enorme prestígio técnico, nacional e internacional, acrescenta, agora, a representação do MIT – Portugal (Massachussetts Institute of Tecnology). Saliento, ainda, o excelente estudo do perfil do associado individual, elaborado pela Universidade Católica Portuguesa, indispensável à definição da política associativa e de marketing institucional do INATEL – Fundação. O INATEL apoiou a recolha de informação, documental e estatística, de base da tese de doutoramento, em gestão empresarial, em 2006, na Universidade Lusíada, da Profª. Doutora Joana Maria Oliveira Neves, intitulada Estudo das Motivações Turísticas e do Comportamento de Viagem dos Seniores Portugueses no Mercado Interno – uma nova abordagem exploratória aplicada aos viajantes seniores das Universidades de Terceira Idade e do INATEL, através de uma perspectiva funcionalista. A nova obra científica – indispensável a uma instituição que conta mais de 500 mil portugueses como beneficiários dos seus programas seniores – será publicada com o patrocínio do INATEL. Por fim, os projectos de arquitectura e engenharia passaram a dar sistemática prioridade às questões ambientais e de acessibilidade do cidadão portador de deficiência, bem como ao bom gosto da decoração dos espaços. Na melhor tradição das Obras Públicas do Estado, os futuros projectos arquitectónicos reservarão, pelo menos, 1% do seu orçamento para a decoração, com recurso a obras de artistas plásticos portugueses. JORGE SAMPAIO: DE PORTUGAL PARA O MUNDO Foi com alegria que li a recente notícia da nomeação do anterior Presidente da República, Jorge Sampaio, para Alto Representante das Nações Unidas para o Diálogo das Civilizações. Conheço, admiro e estimo Jorge Sampaio, desde os meus 17 anos e os 22 do ex-Presidente, há 45 anos, quando ele era finalista e eu caloiro na Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa. A advocacia aproximou-nos e aprofundou a nossa amizade. Entre 1996 e 1999, tive a honra de servir Portugal, sob a sua orientação política, estratégica e tutelar, quando integrei o último Governo Português de Macau, presidido pelo também último General do Império, o grande governador e estadista Vasco Rocha Vieira. Recordo a transição de Macau como a única descolonização, posterior ao 25 de Abril, em que Portugal encerrou, com grande dignidade e pestígio, o ciclo do Império. Desejo, sinceramente, ao ex-Presidente Jorge Sampaio as maiores felicidades no exercício da sua missão internacional, que vai exercer com os grandes competência, dignidade e humanismo, que constituem as características essenciais do seu carácter, como homem, cidadão e estadista. O mandato de Jorge Sampaio no Diálogo das Civilizações revelar-se-á extremamente prestigiante para Portugal, reforçando a nossa vocação multissecular de Nação que abriu e quotidianamente abre ao mundo as Portas do Entendimento. CARLOS QUEIROZ – 100 ANOS No dia 5 de Abril cumpriu-se um século sobre o nascimento de Carlos Queiroz – o grande poeta da Presença, prematuramente desaparecido – pai da escritora Maria da Graça Queiroz, associada e colaboradora do INATEL. O grande amigo de Fernando Pessoa – e ponte entre as gerações da Presença e do Orfeu – será evocado pelo INATEL, a 25 de Junho, no salão nobre do Teatro da Trindade, em sessão cultural, na qual se revisitará a antologia da sua obra poética, alguma ainda dispersa, cujo estudo e reedição se impõe. O INATEL associar-se-á, também, às Comemorações do Centenário do Nascimento de Carlos Queiroz, reeditando o esgotadíssimo elogio fúnebre de Fernando Pessoa, da autoria do aludido Carlos Queiroz, aos microfones da então Emissora Nacional, nove dias após a morte do Poeta dos Heterónimos, posteriormente publicado na Revista Presença. IN MEMORIAM – JOÃO OSÓRIO DE CASTRO Desapareceu do nosso convívio, aos 80 anos, João Osório de Castro, o empresário, culto e humanista, que na senioridade se tornou o dramaturgo de referência da História de Portugal. A sua peça Viriato – Rei foi galardoada no último festival de Teatro de Mérida, capital da remota Província Romana da Lusitânia. João Osório de Castro confidenciou-me, há meses, o sonho de ver representado o Viriato-Rei no Teatro da Trindade, de que era, como associado do INATEL, fiel e assíduo frequentador. Assim, procurarei honrar a memória do João Osório de Castro, levando à cena do Trindade o melhor da sua dramaturgia histórica, relativa à memória de Portugal, como EstadoNação mais antigo da Europa. Conheci João Osório de Castro nos idos de 1987/92 quando exerci funções governativas no Ministério da Educação e ele era presidente das empresas familiares FOC – Fábrica Osório de Castro e FOC – Escolar grandes fornecedoras do Ministério da Educação em mobiliário e material didáctico. Era um empresário – humanista e mecenas, nesta qualidade fundador e dirigente da Casa da Comédia – que ao legítimo lucro dos negócios sobrepunha um rígido código de ética, que passou, durante muitos anos, pela colaboração, desinteressada e sistemática, com o Ministério da Educação, na garantia, anual, da normalidade da abertura dos anos lectivos. Que Deus dê o eterno descanso a este homem de espírito que foi referência moral da cultura e do empresariado de Portugal.I Junho 2007 TempoLivre 5 Cartas O Tamborileiro de Santo Aleixo da Restauração Surge a presente no seguimento da notícia publicada na “Tempo Livre”, de Maio, intitulada “Vila Verde de Ficalho – O regresso do tamborileiro”. Sem querer tirar o mérito à iniciativa do Inatel, a referida noticia não corresponde à realidade na parte em que refere que “o tamborileiro, figura típica, desaparecida há dezenas de anos dos festejos populares da margem esquerda do Guadiana, reapareceu em Vila Verde de Ficalho”. Tenho 38 anos e sou natural de Santo Aleixo da Restauração, concelho de Moura e Distrito de Beja – margem esquerda do Guadiana – e, realizando-se anualmente na minha terra três festas (Santo António, Santo Aleixo e a Festa da Tomina, em honra de Nossa Senhora das Necessidades) não me lembro, em tempo algum, que a Procissão saísse à rua e não fosse encabeçada pelo tamborileiro, que com os seus acordes (desafinados é certo), anuncia a todos a passagem da Procissão que percorre as ruas da aldeia. Desde sempre existiu, e existe, o tamborileiro em Santo Aleixo da Restauração. Aproveito esta oportunidade para prestar a minha homenagem àqueles que conheci e que, apesar de não possuírem formação musical, mantiveram viva esta tradição na minha aldeia: “o velho Guinapo“; o Joaquim Ficalheiro; “o primo Manel Fialho“ e actualmente o António Luís (“o boneco“). Dessa forma, o tamborileiro poderá ter desaparecido de algumas localidades da margem esquerda do Guadiana, mas não desapareceu de Santo Aleixo da Restauração, convidando todos aqueles que o queiram confirmar, a visitar as Festas da Tomina, em honra de Nossa Senhora das Necessidades, que se realizam no ultimo fim-de-semana de Agosto, em Santo Aleixo da Restauração e assim puderem confirmar que a tradição ainda se mantêm. José Manuel da Palma Morais, Moura [ Kalidás Barreto ] COLUNA DO PROVEDOR Confesso que me é extraordinariamente grato receber mensagens dos associados, que de forma bem humorada põem questões importantes. Refiro-me agora a uma recentemente recebida e que glosa a última frase da “Coluna do Provedor” de Maio, em que se afirmava: “Para melhorar temos de participar civicamente sem receios mas com provas. A transparência e a frontalidade são actos de cidadania; o anonimato e a mentira, não!” E então diz com humor intencional: “O nosso INATEL é excelente; tudo funciona bem; os funcionários estão acima de qualquer suspeita. Eu não venho culpar ou acusar quem quer que seja.” E acrescenta:” Ainda trabalho e nunca consegui marcar o alojamento que pretendia.” Gosto de gente frontal e com espírito e por isso devo informar que há milhões que jogam no Totoloto e nunca tiveram um prémio: Os jogos da Santa Casa têm regras… o INATEL também! Penso que todos compreenderão que numa Instituição que tem 1300 quartos para alojar de Junho a Setembro os milhares de trabalhadores activos e suas famílias ainda acomodam cerca de 3000, exigem-se regras muito claras que, aliás, foram distribuídas pelos associados na revista “Tempo Livre”, nº 178, de Janeiro de 2007 e que resumidamente são: Os factores a ter em conta para o apuramento da selecção de reservas são os seguintes: - Ser trabalhador no activo; - Pretender utilizar o C. Férias no mínimo 7 noites e no máximo 14; - Maior número de descendentes no agregado familiar a utilizar o mesmo alojamento; - Não serão permitidos ao associado e respectivo agregado familiar beneficiar duma estada, mas ter ou não utilizado as instalações em ano anterior não é impeditivo. Os factores anunciados nas alíneas estão formatados num Sócios há 50 anos Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao Inatel, os associados: Pedro Carlos Xavier, Maria Otília Ferreira Moura Botas, António Rodrigo Feliciano Belo e Abel Rosa, Lisboa; Joaquim Assunção, Oeiras; António Barandela Santos, Porto; Jose Manuel Carvalho Castro, Évora. programa informático concebido para o efeito, permitindo fazer uma selecção automática dos candidatos. No sentido de se tornar mais fácil e eficaz o processo de inscrição irá brevemente ser implementado um processo novo, através duma central de reservas programada para o efeito. Para nós, a transparência é uma exigência! A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected] 6 TempoLivre Junho 2007 Tel: 210027197 Fax: 210027179 e-mail: [email protected] I Notícias Parceria Inatel/Universidade Lusófona Os associados e colaboradores do Inatel e respectivos cônjuges e filhos vão beneficiar de uma redução de 10% do valor da propina mensal relativa a qualquer dos cursos e/ou redução de 10% na propina anual das pós graduações ministrados nos vários estabelecimentos de ensino da COFAC (Cooperativa de Formação e Animação Cultural CRL), conforme estabelece o protocolo assinado em Maio passado entre as duas entidades. Aos alunos finalistas da COFAC - cooperativa que integra as Universidades Lusófonas de Lisboa e Porto, os Institutos Superiores D. Dinis, Manuel Teixeira Gomes e Politécnico do Oeste e a Escola Superior de Educação Almeida Garrett – será, por sua vez, permitida a realização, Alarcão Troni e Luís Lamas, pelo Inatel; Manuel Almeida Damásio e Conceição Soeiro, pela COFAC; e Marco António Oliveira, pelo CISE, no acto de assinatura do protocolo no Inatel, de estágios académicos e profis- admitido, como a COFAC, como CCD – dades específicas das três entidades, sionais. O acordo prevê ainda a realização Centro de Cultura e Desporto - do Inatel. assinalando a diversidade e qualidade dos conjunta de conferências, colóquios, se- Os associados dos dois novos parceiros cursos e pós graduações da Universidade minários e reuniões de carácter científico do Inatel poderão inscrever-se como Lusófona. ou de reflexão, utilização mútua de materi- sócios do Instituto, ficando dispensados Alarcão Troni manifestou, por sua vez, sa- ais de informação e benefícios mútuos da taxa de inscrição. tisfação pela nova parceria, cuja impor- para membros das duas entidades nas No acto da assinatura do protocolo, o Prof. tância para o Inatel vincou, adiantando, respectivas estruturas e iniciativas. Manuel de Almeida Damásio, director da na ocasião, a intenção de solicitar ao CISE O protocolo envolve ainda o CISE (Centro COFAC, sublinhou a importância do acor- um estudo de viabilidade do Centro de de Investigações Sociais e Empresariais), do e a complementaridade das activi- Férias Santo da Serra (Madeira). Direcção de Pessoal Luis Filipe Rasquete, licenciado em Direito e Pós-graduado em Gestão e Administração de Empresas, tomou posse, em Maio, como Chefe de Divisão de Pessoal do Inatel. Responsável, nos últimos quatro anos, pela Divisão de Turismo Social, Luís Rasquete substitui no cargo Eduardo Fernandes, mestre em Direito Fiscal, que irá integrar a Assessoria Fiscal, com a missão de preparar o Estatuto das Isenções e Benefícios Fiscais da futura Fundação Inatel e de acompanhar o dossier de recuperação de IVA, relativo aos exercícios da última década, num montante estimado de 7 milhões de euros. Junho 2007 TempoLivre 7 Notícias «Travessia das Pontes» Cerca de quinhentos participantes inte- Desporto Aventura graram a terceira edição da Travessia Estão abertas as inscrições para os cursos de das duas Pontes, prova de atletismo de Parapente, Kitesurf e Mergulho, organizadas 22 km, que decorreu entre Santarém e pela Delegação de Faro em parceria com a Almeirim no passado dia 13 de Maio, Wind, 4 Kiters e Hidroespaço. Para mais infor- este ano, associada ao Campeonato mações contacte a Delegação Inatel em Faro, Nacional de Fundo, uma organização tel.: 289898940. da Delegação Inatel de Santarém. Anantes do sinal da partida, homenageou ratonistas nacionais que mais se desta- David Mourão-Ferreira e o Fado” Alberto Chaíssa, um dos melhores ma- cou na região escalabitana. Até 30 de Setembro está patente no Museu do tónio Rola, delegado distrital do Inatel, Fado uma exposição alusiva à multifacetada Marcha-Passeio na Estrela figura de David Mourão-Ferreira (1927-1996) poeta, ensaísta, ficcionista, jornalista, professor e tradutor. “David Mourão-Ferreira e o Numerosos adeptos das caminhadas inte- Fado” retrata o importante legado do autor na graram a Marcha-Passeio pela Serra da história da canção de Lisboa. A exposição Estrela, em Abril último, um percurso pelo recria o escritório do poeta, apresenta teste- planalto central acima dos 1.800 metros munhos da obra que consagrou ao fado, entre de altitude, organizado pela Delegação manuscritos originais e letras dactilografadas, Inatel na Covilhã. Considerada já uma das as primeiras edições discográficas e um con- actividades mais emblemáticas do Inatel junto de registos audiovisuais que ilustram as Covilhã, a marcha-passeio da Estrela tem interpretações de poemas da sua autoria por mobilizado cada vez mais participantes Amália Rodrigues, Camané, Mariza e Cristina Branco, entre outros. Triunfos na Tunísia Horta Coral Alcino Almeida, Delegação de Aveiro, e “Sociedade Amor da Pátria”, constituiu pelo Luís Carlos, Delegação de Setúbal, seu elevado nível uma das actividades mais venceram na categoria seniores (10km) marcantes da edição deste ano da Semana e veteranos (5 km), respectivamente, a Desportiva e Cultural da Cidade da Horta – 19 edição da Corrida Internacional de uma actividade que vem sendo promovida há Trabalhadores (estrada), que decorreu doze anos em actividade conjunta pelo INATEL em Hamamet, Tunísia, no âmbito da e Câmara Municipal da Horta. Esta iniciativa CSIT. A prova, de estrada, teve a parti- co-organizada pelo Grupo Coral da Horta e cipação de atletas da Argélia, Tunísia, inserida nas comemorações do seu 24º Marrocos, Portugal e Itália. aniversário, teve para além da participação O Horta Coral, promovido em 28 de Abril na deste Coro, a presença do “Grupo Coral das Feira Medieval em Coimbra O Largo da Sé Velha, em Coimbra, vai ser espectáculos de acrobacia, malabaristas, palco, no próximo dia 9 de Junho, de duelos de espada e outros jogos da mais uma edição da concorrida Feira Me- época. A CP – Comboios de Portugal, dieval, iniciativa que envolve centenas de associa-se ao evento, oferecendo em figurantes, trajados a rigor, rituais pró- troca do bilhete de ida o acesso gratuito prios, comércio alusivo à Idade Média, a casa, válido apenas no dia da feira. 8 TempoLivre Junho 2007 Lajes do Pico” e do “Coro Canto e Encanto” de Canas de Senhorim. “Caderno de Todos os Barcos do Tejo” O Casino Estoril foi palco, no final de no panorama da Arqueologia Naval”, re- Maio, do lançamento do livro “Caderno vela Vasco d’Orey Bobone. de Todos os Barcos do Tejo”, de Vasco Licenciado em Arquitectura, o autor Thíasos em Nantes d’Orey Bobone, inspirado na obra do desenvolveu os estudos de Pintura e No âmbito do IX Festival Internacional de mesmo nome, de 1785, do Capitão- História de Arte em Itália. Ao longo da sua Teatro de Tema Clássico, o grupo Tenente João de Souza. A obra, apresen- carreira distinguiu-se na área do restauro Thíasos, tada pelo Comandante Malhão Pereira, e adaptação de edifícios históricos. Clássicos da Faculdade de Letras da do Instituto de Estudos propõe, uma retrospectiva histórica, Universidade de Coimbra (FLUC), actuou regressando ao em Nantes, no passado dia 11 de Maio, Terramoto de 1755 e a mudança da Corte no Festival Europeen Latin Grec (Felg) de Lisboa para o Brasil) em que o Tejo era 2007, apresentando a peça “As Mulheres percorrido por enorme diversidade de no Parlamento”, de Aristófanes. Em “As embarcações e modelos com diferentes Mulheres no Parlamento” Aristófanes funções. “Deve dar-se relevo ao facto de satiriza um Estado imaginário admin- João de Souza ter colocado à nossa dis- istrado por mulheres, no qual tudo é de posição o material indispensável para todos e as velhas têm prioridade para saber com rigor das alterações nos tipos reclamar o amor dos jovens. Constrói de barcos tradicionais e suas evoluções assim, sob a capa da utopia, uma sátira o que constitui uma autêntica novidade à má governação. à época (anterior Notícias De Niro no Lisbon Village 2007 Robert de Niro vai estar em Lisboa no iní- Dezembro de 2004. Oito longas-metra- cio de Junho para inaugurar o primeiro gens internacionais, 13 curtas-metra- evento do Lisbon Village Festival 2007: a gens internacionais e quatro curtas- exposição de pintura do seu pai, Robert metragens portuguesas são os filmes “Bicicletas em Setembro” de Niro Senior. Esta exposição integra a que vão integrar as competições oficiais Apresentado em sessão realizada no programação do Village Art e estará do Lisbon Village Festival 2007, totalizan- auditório do Montepio, em Lisboa, pela patente no Palácio Galveias durante do cerca de 19 horas de projecções. Os Profª Maria Lúcia Lepecki, o mais recente cerca de um mês. Além de pintor expres- filmes em competição podem ser vistos romance sionista, Robert de Niro Sénior (1922- entre 19 e 22 de Junho no Cinema S. Bicicletas em Setembro” (Ed. Asa), fala- 1993) era também escultor e poeta. Foi Jorge. Dia 23 realiza-se a gala de entrega nos de “trajectórias amorosas e de que amigo de Anaïs Nin, Henry Miller e de prémios, produzida e transmitida pela todos os destinos sentimentais ocultam Tennessee Williams. O actor apresentou RTP e, no último dia do Lisbon Village histórias subterrâneas”. E fala, ainda, da uma exposição do seu pai na Europa, Festival, 24 de Junho, são exibidos os “beleza perversa das relações humanas, pela primeira vez, em Roma, em filmes vencedores em sessão especial. e de que as pessoas suportam tudo, de Baptista-Bastos, “As menos a solidão, a separação e a perda. É «Alma de Viajante» Acaba de ser publicado, com assinatura Museu da Imprensa evoca Agostinho da Silva do repórter/fotógrafo freelancer Filipe uma parábola sobre perdedores – todos nós. Porque cada um de nós perdeu alguma coisa…”, sublinha o autor, “um dos maiores prosadores de língua portuguesa”, como assinalou Lúcia Lepecki. Morato Gomes e a chancela da editora No Museu Nacional da Imprensa, Cão Menor, um volume que reúne os no Porto, está patente, até 17 de relatos de uma viagem à volta do mundo Junho, a mostra Agostinho da realizada durante 14 meses pelo autor. Silva: o “filósofo da liberdade” na São crónicas publicadas no suplemento imprensa”, que evoca a vida e Fugas, do jornal Público, acrescidas de obra de um dos maiores pen- alguns textos inéditos e de um portfolio sadores portugueses do século de 80 fotografias. «Alma de Viajante», o XX. título do livro, que se encontra já nas A mostra é composta por cerca livrarias, é também o nome de um site de meia centena de publicações, de viagens editado por Filipe Morato nomeadamente revistas, jornais e Gomes. livros. Um conjunto de painéis Análise minuciosa e profunda de um Vietname, Camboja, Tailândia, Birmânia, biográficos conta a vida e percur- período (1956-1968) decisivo para a Malásia, Bali, Timor-Leste, Austrália, so profissional de Agostinho da construção do jornalismo como profis- Bolívia, Peru, Argentina e Brasil são Silva. “Considerações”, “Herta são, este livro (Ed. Caminho) dos jornal- alguns dos países atravessados por Teresinha Joan”, “Sete cartas a istas e docentes universitários Fernando estas narrativas. um jovem filósofo”, “Do Agostinho Correia e Carla Baptista assinala, ainda, em torno do Pessoa”, “As como o ofício dos profissionais de infor- Aproximações” e “Moisés e outras mação foi, igualmente, orientado por Páginas Bíblicas” são alguns dos valores éticos e humanos e definido pela livros de Agostinho que podem posse de competências e saberes es- ser apreciados nesta mostra, que pecíficos. Baseado nos testemunhos de pode ser vista no horário habitual meia centena de jornalistas, a obra do museu: todos os dias (incluin- revisita o quotidiano das antigas redac- do domingos e feriados) das 15h ções, a relação com os tipógrafos e a às 20h. crescente evolução tecnológica. Rússia, 10 TempoLivre Junho 2007 Mongólia, China, “Jornalistas, do Ofício à Profissão” CSIT 2007 em Oeiras Brasil triunfa no mundial de Futsal A equipa do Brasil foi a grande vencedora do Campeonato Internacional de Futsal, da CSIT (Confederação Internacional de Desporto para Trabalhadores), organizado pelo Inatel, em Oeiras, em Abril último. Luís Lamas, Vice-Presidente do Inatel, deu as boas vindas aos atletas e presidiu às cerimónias de abertura e encerramento do evento desportivo no Inatel em Oeiras. As provas decorreram no Pavilhão dos Lombos, Oeiras, com triunfo final da representação brasileira (SESI), seguindo-se as equipas da Rússia (Rossiya), Dinamarca (Dai), Portugal (Inatel) e Tunísia (Onst). Foram ainda distinguidos os atletas Artur Conde, Inatel (Melhor Marcador), Lasse Biehl, Dinamarca (melhor jogador), José Teixeira, Brasil (Melhor Guarda-Redes), e Hbiri Jamel, da Tunísia (disciplina). Luís Lamas entrega a taça à equipa vencedora Luís Lamas com o delegado russo e Artur Conde, do INATEL, com o troféu do melhor marcador Os finalistas Brasil e Rússia Pormenor da Final Luís Lamas e Antas de Barros na recepção aos participantes Junho 2007 TempoLivre 11 Fotos Premiadas [1] [ 1 ] Rita Plácido, Sto. António dos Cavaleiros – [ 2 ] Rui Cid, Corroios – [2] Sócio n.º 344298 Sócio n.º 310651 [ 3 ] Reinaldo Viegas, Lagos – Sócio n.º 370482 Menções Honrosas [a] [b] [c] REGULAMENTO 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. [3] 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» [ a ] Fernando Ledo, Viana do Castelo – Sócio n.º 349 141 [ b ] Jaime Gonçalves, Corroios – Sócio n.º 223036 [ c ] Albano Pereira, Lisboa – Sócio n.º 149636 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista Tempo Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. PERCURSOS Bragança Caminhos de montanha e outras andanças A proposta é a de um roteiro por uma das regiões menos visitadas de Portugal, o nordeste transmontano. Bragança e o Parque Natural de Montesinho inserem-se num itinerário que privilegia os patrimónios natural e cultural. A estas seduções juntamos a sugestão de um salto ao outro lado da fronteira, ao Lago de Sanabria. 14 TempoLivre Junho 2007 PERCURSOS Aos valores naturais e paisagísticos soma-se o património das aldeias serranas com as suas casinhas de xisto e coberturas de lousa Se outras razões não houvesse para agendar um périplo pelo nordeste português, bastaria uma para rumar ao reino que Torga adjectivou de maravilhoso: Trás-os-Montes é uma das parcelas de Portugal onde a integração humana com o meio melhor se realizou, asserção que toma particular pertinência no caso do Parque Natural de Montesinho, uma área protegida criada há já quase trinta anos. O parque, situado na chamada terra fria transmontana, é justamente referido como paradigma de uma interacção harmoniosa entre o homem e a natureza. A ocupação urbana e a transformação da natureza decorrente das actividades agrícolas tomaram aí forma com assinalável harmonia, contribuindo para a conservação daquele que é um dos espaços naturais protegidos mais agradáveis do país. Ocupa cerca de 74 mil hectares, situados a norte de Vinhais e Bragança e está integrado na Rede Natura 2000. As duas elevações mais importantes são a Serra de Montesinho (1486 m.) e a Serra da Coroa (1273 m.) Pouco justifica o menor interesse dos viajantes portugueses, portanto, por este extraordinário espaço de natureza. Trás-os-Montes e o Parque Natural de Montesinho estão hoje bastante mais acessíveis para quem viaja a partir do litoral (a 16 TempoLivre Junho 2007 pouco mais de duas horas do Porto, pela A4 e pelo IP4), e Bragança, a capital, pode ser um ponto de partida para explorar a região. O Parque de Campismo do INATEL, nos arredores da capital transmontana, à beira do Rio Sabor, e próximo da via que liga Bragança à fronteira, é uma opção a considerar para quem procura intimidade com a natureza. PATRIMÓNIO NATURAL E CASINHAS DE XISTO Afloramentos graníticos, charnecas húmidas atlânticas meridionais, subestepes de gramíneas, lameiros, bosques de carvalhos, manchas de castanheiros, colinas de suave relevo e ribeiros de água cristalina – eis um pouco do que caracteriza a paisagem do Parque Natural de Montesinho. No capítulo da fauna, o espaço formado pelas serras de Montesinho e da Coroa reúne populações significativas de algumas espécies ibéricas: lobos (canos lupus), javalis, corços, veados, esquilos, texugos e martas, além de aves de rapina como o tartaranhão cinzento. Açores e gaviões são também bichos que se avistam amiúde nos céus do parque. A estes valores naturais e paisagísticos soma-se o património das aldeias serranas com as suas casinhas de xisto e coberturas de lousa, muitas conservando os traços essenciais da arqui- tectura rural da região. São exemplos Rio de Onor e a aldeia de Montesinho, cujas ruelas se têm vindo a reanimar com a passagem de turistas. No sentido de contrariar o despovoamento destes pequenos núcleos urbanos, a direcção do parque tem incentivado e apoiado a reabilitação de património construído, tendo em vista o alargamento da oferta de alojamento turístico e a reanimação da economia local. Algumas dezenas de moinhos de água recuperados, quase todos visitáveis, constituem outra importante atracção para os visitantes do parque, que encontram desta forma uma introdução à vida e ritmos quotidianos das populações locais. Para os amantes de caminhadas, há alguns percursos pedestres assinalados, como o do Malara, nome que toma o Rio de Onor na seu trecho final, um percurso circular nas freguesias de Gimonde e Baçal. O mais interessante é o do Porto Furado, na Serra Nevada, perto da aldeia de Montesinho. É um percurso de pequena rota, com pouco mais de sete quilómetros de extensão, que se faz em três horas, e com sorte poder-se-á avistar raposas, corços, coelhos ou, até, algum lobo. O LAGO QUE CAIU NAS GRAÇAS DE UNAMUNO Em Bragança, lugar onde também Junho 2007 TempoLivre 17 PERCURSOS Lago de Sanabria, onde não faltam também trilhos assinalados para caminhar entre as aldeias próximas sobejam razões para dar corda aos pés, antes ou depois das andanças campestres, há-de visitante começar por subir à torre de menagem, convertida em museu militar. Lá do alto oferece-se elucidativa paisagem, um “horizonte vastíssimo”, na descrição de Raul Proença há já largas décadas. Muita água correu desde então pelo leito do Sabor, rio que se avista das ameias, mas no núcleo histórico, como agora soe dizer-se, ainda se reconhece a descrição do pioneiro dos guias de viagem em Portugal, a quem se dá a palavra: “A parte antiga da cidade, cercada por um polígono de muralhas com cubelos nos ângulos e dominada pela altiva torre de menagem, de robusto e formoso recorte, com suas janelas geminadas em estilo gótico flamejante, conserva ainda muito da sua antiga fisionomia, constituindo uma verdadeira cidadela de feição medieval sobranceira à aglomeração urbana mais moderna”. A antiga Rua Direita, com o casario que preserva um número razoável de elementos medievais, a Igreja de São Vicente, onde segundo uma tradição terão casado clandestinamente D. Pedro e D. Inês de Castro, a Praça da Sé (e a própria), a Igreja de Santa Maria, de acrescen18 TempoLivre Junho 2007 tada traça barroca, e o intrigante e românico Domus Municipalis são outras visitas irrecusáveis. E não há-de ser esquecido o Museu Abade de Baçal (sediado no edifício do antigo Paço Episcopal), montra e GUIA Como ir A A4, entre Porto e Amarante, e o IP4, de Vila Real a Bragança, constituem o acesso mais cómodo e rápido para quem viaja do litoral. Uma viagem de pouco mais de duzentos quilómetros. Pelo interior, o IP2, que se junta ao IP4 em Macedo de Cavaleiros, é o percurso mais indicado. Contactos Parque de Campismo do INATEL: Sede do Parque Natural de Montesinho: Bº Salvador Nunes Teixeira, Lote 5, Tel. 273381444, fax 273381179 registo etnográfico que revela muito do que constitui (ou constituiu) a identidade da região e da sua gente e sucessivamente enriquecido no seu espólio (mobiliário, pintura e ourivesaria) com importantes doações e legados de particulares. Destaque ainda para a sua notável colecção de máscaras, recentemente constituída, que perpetua um invulgar ritual do ciclo festivo tradicional da região. Aberto de terça a sexta-feira, das 10h00 às 17h00, o Museu pode ainda ser visitado aos domingos até às 18h00. O terceiro acto, heterodoxo, desta incursão ao nordeste português exige um salto da fronteira, até Puebla de Sanabria e, daí, um pouquinho mais para norte, até outro reino encantado, o do Lago de Sanabria, onde não faltam também trilhos assinalados para caminhar entre as aldeias próximas, muitas vezes com as suas águas de um profundo azul no horizonte. É o maior lago de origem glaciar da Península Ibérica e consta que Unamuno se terá encantado com ele – tanto que situou a história de uma das suas mais espantosas novelas, «San Miguel Bueno, mártir», nas suas redondezas. I Humberto Lopes (texto) Ana Mineiro (fotos) FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4] Fundação Dr. António Cupertino de Miranda A educação como estratégia Criada com finalidades de carácter educativo e social, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda assume uma missão muito contemporânea, a da “realização de actividades culturais que promovam a sociedade do conhecimento e contribuam para a inclusão social”. O trabalho com seniores é uma das prioridades da instituição. Emigrado em 1915 para o Brasil, onde acumulou fortuna, António Cupertino de Miranda criou depois do seu regresso a Portugal a fundação que tem o seu nome. A propósito desses anos e do labor que permitiu materializar o projecto, Cupertino de Miranda disse ao extinto jornal «O Século» que tinha sido “no grande país irmão que se me tornou possível agenciar economias que hoje destino ao fomento da cultura nacional”, expressando a sua gratidão para com o Brasil (e para com os seus companheiros de emigração) “por ter-me permitido restituir, por meio da Fundação do meu nome, o que fiquei devendo a tantos emigrantes portugueses que têm colaborado na sua prosperidade e grandeza”. No perfil das actividades da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda transparece uma preocupação de enraizamento no tecido social local e ao mesmo tempo 20 TempoLivre Junho 2007 uma visão de horizontes muito amplos, manifestamente”europeístas” e sem fronteiras nacionais, manifesto no entendimento das potencialidades da intervenção cultural - a cultura é concebida pela instituição como “força de desenvolvimento social, como acelerador da construção europeia e como expressão de cidadania”. Os objectivos da instituição sublinham ainda a importância da sociedade do conhecimento e o contributo da educação para a coesão social. Para além de um centro de congressos, apetrechado com moderno equipamento como cabines de tradição simultânea, e com “salas multimodulares”, a Fundação disponibiliza um serviço de educação e mantém no edifício da sua sede, na Avenida da Boavista, no Porto, um Museu do Papel Moeda, de carácter único em todo o espaço europeu, que conta através da sua extensa colecção a história do di- nheiro de papel em Portugal e nas ex-colónias. PARCERIAS E VOLUNTARIADO Uma das dimensões mais prezadas pela Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, correspondendo ao que desde o início foi traçado como missão fundamental, é o desenvolvimento de actividades educativas. Nesse sentido, os Serviços de Educação desenvolvem programas de cooperação com estabelecimentos de ensino do básico e do secundário, elaborando e apresentando aos professores no início de cada ano lectivo um programa de actividades. As parcerias com a Faculdade de Letras e com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto inserem-se justamente na preocupação com uma melhoria contínua dos programas e da oferta educativa da Fundação. Esta abertura a uma permanente cooperação com Fachada do edifício da Fundação e pormenor do Museu do Papel Moeda Junho 2007 TempoLivre 21 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4] DR. ANTÓNIO CUPERTINO DE MIRANDA outras entidades tem permitido uma sinergia que conta com o apoio de monitores em regime de voluntariado - como acontece com alunos da Universidade Sénior da Foz e do curso de pós-graduação em Museologia. Também a diversidade de públicos e de interesses e sensibilidades é para a Fundação uma circunstância que deve merecer a melhor atenção, reflectindo-se nas estratégias e metodologias adoptadas. Daí que seja crucial, portanto, que sempre que uma exposição é organizada, o museu “tem de a fazer de maneira que os conteúdos sejam multidisciplinares, ligados à vida quotidiana das pessoas, para poderem provocar estímulos de resposta e interpretação”. Não menos importante, nesta linha de atenção à diversidade de públicos, é o cuidado com que a Fundação procura organizar as suas actividades educativas e de divulgação através de um trabalho sistemático com públicos seniores e 22 TempoLivre Junho 2007 infantis, ao mesmo tempo que procura ter em conta uma dinâmica que responda às solicitações de pessoas com necessidades especiais. OS NÚCLEOS MUSEOLÓGICOS O projecto do Museu do Papel Moeda surgiu na sequência da decisão de criar, em 1981, uma colecção de papel fiduciário. Inaugurado em 1996, tem precisamente como missão “adquirir, conservar, expor e divulgar uma colecção de papel fiduciário português, enquanto património e símbolo de identidade nacional”. A iniciativa da criação de um tal núcleo foi do então administrador Alberto Correia de Almeida, e nela estava implícita “a ideia de que cada instituição cultural, para reforçar a sua identidade, deve ter sempre um núcleo distinto, original e autêntico”. Ao longo dos últimos 25 anos foi reunida uma vasta colecção em que se incluem apólices do Real Erário, notas do Banco de Portugal, tanto do tempo da Monarquia como da República, notas do Banco Nacional Ultramarino, cédulas, lotarias, cheques, acções de companhias, letras, etc. Entre as raridades reunidas no museu conta-se uma nota de 1000$00 de 1920 com o retrato de Luís de Camões, sendo esse o único exemplar conhecido. Exemplares únicos são também uma nota de 50 rupias da Índia, de 1882, uma nota de 50 000 réis da Guiné, de 1909, com a efígie de Vasco da Gama e uma nota de 1000 réis e Moçambique, datada de 1877. Este núcleo museológico viria a ser complementado com uma outra colecção, que designada por “Dinheiro e transportes”. Trata-se de um acervo de milhares de miniaturas de automóveis, comboios e barcos que o museu procurou articular tematicamente com o acervo pré-existente, recorrendo para o efeito a um conjunto de novos dispositivos tecnológicos como CDrom, postos multimédia ou filmes em 3D. I Humberto Lopes Concerto da Orquestra Clássica do Porto. A Fundação procura organizar as suas actividades educativas e de divulgação através de um trabalho sistemático com públicos seniores e infantis Ao longo dos últimos 25 anos, o Museu do Papel Moeda reuniu uma vasta colecção em que se incluem apólices do Real Erário Junho 2007 TempoLivre 23 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4] ENTREVISTA Maria Amélia Cupertino de Miranda «Procuramos respostas à globalização» A dimensão cultural e educacional da Fundação Cupertino de Miranda não se esgota nas inúmeras visitas de pessoas de todas as idades ao Museu. Como salienta a sua Presidente, Maria Amélia Cupertino de Miranda, a programação e as numerosas e diversificadas parcerias da Fundação com entidades públicas e privadas visam “ preparar as pessoas para responder aos desafios que a sociedade coloca”. Tempo Livre - Que balanço faz da actividade da fundação até agora? O que destacaria mais? Maria Amélia Cupertino de Miranda - Está reservado às instituições culturais um papel da maior importância no processo de desenvolvimento e transformação que a sociedade está a viver. O processo de globalização em curso requer a necessidade de preparar as pessoas para responder aos desafios que a sociedade coloca. São exigidos novos padrões de conhecimento, novas atitudes face ao conhecimento e novos modelos de educação. Estes são alguns dos eixos orientadores da programação da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda e do Museu do Papel Moeda. O balanço é necessariamente um balanço que se inscreve no resultado de actividades que tiveram por objectivo o desenvolvimento de competências relacionadas com a área do saber e da cultura, no desenvolvimento da autonomia do pensamento, na formação da sua consciência crítica e ainda na promoção de públicos para a cultura. O que eu mais gostaria de destacar é o papel educacional e social que o Museu do Papel Moeda tem vindo a desempenhar. A dimensão cultural e educacional desta instituição revela-se, não só na sua programação, mas também nas parcerias que tem vindo a tecer, passando a referir, a título de exemplo, só algumas: o Pelouro da Educação da Câmara Municipal do Porto, a Acapo - Associação de Cegos e Ambliopes de Portugal, a Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação, a Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, a Associação de Surdos do Porto, a Obra Diocesana de Promoção Social e a Universidade Sénior da Foz. 24 TempoLivre Junho 2007 TL - Os serviços educativos assumem um lugar privilegiado nas actividades da Fundação. Como avalia a resposta da sociedade e dos diferentes públicos a esta oferta? MACM - Creio que pelo número de parcerias que referi (e são só algumas) se pode inferir que a resposta da sociedade é muito boa. Mas falta ainda dizer, para que a dimensão da influencia do Museu possa ser devidamente avaliada, que são inúmeras as visitas de escolas do Ensino Básico, ATL´s , do Pré-escolar e do Ensino Secundário. E não só do Porto ou da Grande Área Metropolitana do Porto. Refiro-me a visitas de alunos que vêm de todos os pontos do País. Por outro lado, avalio também o impacto que a politica educacional do Museu tem, pela pronta resposta que as escolas dão, quando em Setembro de todos os anos, O Museu apresenta a sua programação. Pouco tempo depois, as marcações de visitas das escolas preenchem todos os meses do calendário do ano lectivo. TL - Como tem sido o trabalho com seniores e com pessoas com necessidades especiais? Como sintetizaria o essencial das preocupações da Fundação neste domínio? MACM - O trabalho com os seniores e com as pessoas com necessidades especiais tem sido central desde 2005. Na equipa do Serviço de Educação existe uma pessoa, um sénior que é responsável por esta área, pelos contactos e comunicação com este público. É um público especial. Requer programação, horários, ritmos e abordagens específicas. A pesquisa feita nesta área já levou o Museu a apresentar comunicações em conferências e congressos que versam este tema e levou também o Museu a perceber que a sua programação é capaz de gerar um capital social da maior importân- cia: promove contactos intergeracionais - os avós vêm e trazem os netos aos programas das Famílias, por exemplo, porque gostam de lhes mostrar o que para eles é importante. O Museu percebeu também que os seniores detêm um poder de comunicação assinalável e por isso nos programas está sempre presente a estratégia de lhes oferecer oportunidades para recordar as suas lembranças. A vinda ao Museu é fonte de divertimento e de diversão, o que lhes permite passar uma manhã ou uma tarde diferentes. O trabalho com pessoas com necessidades especiais foi também alvo de pesquisa ao abrigo de uma tese de posgradução e tem sido desenvolvido em parceria com as respectivas Associações, nomeadamente a ACAPO do Porto, cujo empenho e colaboração é absolutamente de assinalar. O Museu possui até um Manual de Acessibilidades para se tornar acessível a todos os públicos. TL - Pode fazer referência a um ou outro projecto em curso, ou em perspectiva para o futuro? MACM - Há vários projectos em curso, a maior parte dos quais reflecte este papel educacional e social que o Museu tem e que me leva a dizer que o Museu do Papel Moeda é um “empreendedor social” - é um agente de mudança na vida das pessoas. Estuda a sua aproximação às pessoas e a melhor maneira de acrescentar valor às suas vidas. São características do processo de empreendedor social a preocupação com a solução de problemas sociais fundamentais, a capacidade de descobrir permanentemente novas oportunidades e o objectivo de alcançar melhorias sociais. Nesta linha, inscreve-se a programação de actividades para as crianças e jovens, os seniores, as famílias e as pessoas com necessidades especiais. O projecto que gostaria de destacar é o que tem por titulo “Museu sem barreiras” consiste no equipamento de uma sala multimédia com computadores que têm software especifico para pessoas com deficiência neuromotora, cegos e ambliopes. Há ainda um outro projecto que envolve o voluntariado e se situa na área da promoção das competências de desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação junto de alunos do Ensino Básico e a remodelação do site da Fundação para que fique acessível a todas as pessoas. Há inúmeros projectos para as crianças, entre os quais destaco um cujo objectivo é a educação financeira. Para as famílias, destaco o “Há teatro no Museu”, no qual os actores são mesmo os elementos que constituem as famílias visitantes. Para os seniores, não posso deixar de referir o fantástico “Quem conta um conto...” em que historias divertidas se misturam com recordações que fazem reviver a história de Portugal através do dinheiro de papel. I H.L. Junho 2007 TempoLivre 25 TERMAS EM PORTUGAL [3] Luso Dois séculos de boas águas Desde o início do século XVIII que o pequeno lugar do «Banho» tomou forma à volta da Fonte de S. João. A divulgação das virtudes terapêuticas das águas deve-se a José António de Moraes, médico da Casa Real no reinado de D. Maria I. A partir desta época, começaram a chegar os primeiros doentes. Ainda em 1775, e sob iniciativa daquele médico, foram protegidas as nascentes e construída uma pequena barraca de madeira para tomar os banhos, a que se seguiram outras mais. Só nos anos de 1837 e 1838 foi edificada uma casa de alvenaria, com quatro banheiras, com recursos da Câmara da Mealhada. O número de aquistas aumentava, mas a ausência de «policiamento» nos balneários, como nos descreve médico Costa Simões na sua Notícia dos Banhos do Luso, exigia a melhoria da estância termal, terminando o desconforto, porque «(...) era costume tomar banho quem primeiro chegasse; e nas ocasiões de grande concorrência era preciso aparecer no banho logo de manhã, para ter vez às onze horas ou meio-dia. Para evitar esta demora, era costume pagarem-se 40 réis, por dia, a quem ia tomar a vez». Em Junho de 1848, Costa Simões apresentou ao Governador Civil de Aveiro o primeiro projecto do edifício do Banho, com balneário e sala de descanso, leitura e jogo. A sua construção foi possível graças à subscrição pública que rendeu cerca de 26 TempoLivre Junho 2007 87 mil réis e ao donativo da rainha D. Maria II. Em 1854 iniciaram-se os trabalhos de construção do novo edifício termal, e a abertura das vias de acesso consolidava o sítio, que viria a receber profundas melhorias quando, entre 1886 e 1889, o Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, com casa no Luso, apoiou significativamente a estância através da construção de estradas, escolas e o apoio à Instalações do Inatel Luso. Em cima, vista geral do Luso Sociedade das Águas. Em 1893, foi construído outro edifício termal (actual bloco de fisioterapia), equipado com piscina colectiva, cabinas individuais para banhos de imersão e massagens e sala de duches subaquáticos. De 1884 é a primeira distribuição das águas engarrafadas no mercado interno, que em 1901 passou a dispor do engarrafamento em vasilhame próprio, através da aquisição de garrafões de 5, 10, 15 e 20 litros, permitindo um melhor escoamento no mercado. PATRIMÓNIO A estância foi crescendo. Novos edifícios e espaços públicos de alojamento, comércio e de lazer foram construídos, como jardins, infraestruturas desportivas e um casino, este já totalmente iluminado a acetileno em 1903. Trouxeram novos aquistas, que frequentaram os dois edifícios: o principal (ou antigo) e o anexo (ou moderno). Em 1913, é iniciada a venda de água gaseificada e atribuída a Medalha de Ouro à água de Luso na exposição de Madrid. A crescente importância da venda de água engarrafada justificou a construção de um novo edifício-sede e sector de engarrafamento, em finais dos anos 20. A partir da década seguinte, iniciaram-se novos melhoramentos, nomeadamente os da autoria de Pardal Monteiro: um novo balneário, com o primeiro emanatório em Portugal, incluindo vitrais de Ricardo Leone, e a notável sala da buvette, com aplicação de um baixo-relevo do escultor João da Silva. Na mesma altura, foi construído o Grande Hotel, por outro nome importante da arquitectura portuguesa, Cassiano Branco. Prometiase luxo para uma nova burguesia emergente das restrições da Guerra. O conjunto de edifícios resultantes desta época chegou aos nossos dias, envolto por um aglomerado urbano implantado na encosta da Mata Nacional do Buçaco, património botânico notável e a principal referência turística na região. Nela, é fácil encontrar espécimes arbóreas com origens de todos os continentes. O seu Palace Hotel, aberto como hotel precisamente há um século, em 1907, impressiona pela sua arquitectura em estilo neomanuelino e pelos ambientes interiores verdadeiramente palacianos e enriquecidos com obras de arte de pintores, escultores e marceneiros portugueses, por exemplo. INATEL LUSO Por lá, o visitante pode pernoitar para desfrute destes e de outros patrimónios da região, como a gastronomia, mas também há hotéis e pensões agradáveis mais próximos das termas. Ao sócio do INATEL, o Luso é uma opção a não perder, até porque as suas instalações propiciam uma estada tranquila, sobranceira a esta vila que tem agora um programa estratégico para a regeneração das suas termas. Espera-se que esta nova ambição sirva para o termalismo tomar passo com a exploração e comercialização das águas engarrafadas, principal imagem de marca do Luso em termos nacionais. I Helena Gonçalves Pinto e Jorge Mangorrinha Junho 2007 TempoLivre 27 COMUNIDADES PORTUGUESAS Contrabando e emigração clandestina ganham espaço em Melgaço Um museu entre a memória e a fronteira Os emigrantes portugueses que tradicionalmente regressam todos os anos à terra natal para descansar e matar saudades têm este ano mais um museu em sua homenagem. rata-se do Espaço Memória e Fronteira, em Melgaço, um lugar que quer recordar as histórias dos tempos da emigração clandestina, episódios de sofrimento e de aventura, mas também dar voz aos seus protagonistas. O Espaço Memória e Fronteira abriu portas em finais de Abril e, fruto de um investimento de cerca de um milhão de euros, veio transformar o antigo matadouro de Melgaço num museu onde se recriam não apenas os dias difíceis da emigração “a salto”, mas também as peripécias, os riscos e aventuras associadas ao contrabando. O contrabando em Melgaço foi durante os anos do Estado Novo uma verdadeira actividade económica e comercial, favorecida pela extensa fronteira com a vizinha T 28 TempoLivre Junho 2007 Espanha, uma vezes contando com o rio Minho como aliado outras como perigoso inimigo. Os melgacenses que nesses tempos de dificuldade e miséria não encontraram modo de vida no contrabando ou nas poucas actividades da terra, voltaram-se para a emigração e, hoje, os filhos do concelho engrossam as comunidades portuguesas um pouco por todo o mundo, principalmente em França e no Brasil. Mas a emigração não é coisa do passado em Melgaço, já que muitos dos jovens do concelho continuam a procurar além-fronteiras formas de subsistência. Noutro sentido, são também muitos os que regressam à terra depois de vários anos no estrangeiro. Um estudo recente sobre os efeitos da emigração na população do concelho, dava conta que quatro em cada dez pessoas maiores de 60 anos foram emigrantes. É com estes que o autarca local Rui Solheiro conta para tornar o novo museu num local de memória, mas sobretudo num espaço vivo onde seja possível ouvir “testemunhos na primeira pessoa de quem sentiu na pele e viveu por dentro a emigração clandestina e o contrabando”. CONTRABANDO, EMIGRAÇÃO E MEMÓRIAS Localizado à entrada da vila, na envolvente do rio Porto, o novo espaço museológico de Melgaço está ligado ao centro histórico por uma ponte pedonal. No interior do edifício de dois pisos, as obras de recuperação e remodelação, deixaram irreconhecível o antigo matadouro municipal. No rés-do-chão, à entrada, um mapa recebe os visitantes, indicando-lhes claramente os limites de fronteira do concelho e a localização dos postos da Guarda Fiscal. A recriação de uma casa de câmbios remete para tempos muito anteriores à moeda única, num piso inteiramente dedicado ao contrabando. Aqui se situa a sala do contrabando, onde estão expostas peças originais desses tempos, como um barco, uma torradeira de café, ou uma farda. À medida que sobem a rampa, que liga os dois andares, os visitantes têm oportunidade de se informar sobre as causas da emigração e acompanhar a preparação da viagem e a própria viagem, através da mostra de diversos objectos onde as malas e passaportes têm lugar de destaque. No final da rampa, encontra-se o espaço dedicado à chegada e à vivência no país de acolhimento, que retrata, por exemplo, as condições de habitação e de trabalho, e as comunidades portuguesas no mundo. No piso superior é possível observar os reflexos da emigração no concelho de Melgaço, através de painéis com usos e costumes importados, em áreas tão diversas como o vestuário, a alimentação, arquitectura ou a música. O museu dispõe ainda de um auditório onde será possível assistir a filmes e histórias relacionadas com os temas do museu. Haverá ainda um gabinete de atendimento a emigrantes e imigrantes para prestar esclarecimentos e apoiar uns e outros na sua integração ou reintegração no concelho. Promover a reflexão e o estudo sobre o contrabando e a emigração clandestina, dando-os a conhecer é o objectivo traçado pela autarquia para o novo museu, que se pretende possa também e simultaneamente confrontar a população e os visitantes com a sua própria memória. MUSEUS DA EMIGRAÇÃO O Espaço Memória e Fronteira, inaugurado em Abril, vem engrossar a lista de espaços museológicos dedicados à parcela de cerca de cinco milhões de portugueses que não encontraram espaço dentro as fronteiras nacionais. Tradicional país de emigração, Portugal não tinha até ao início do século XXI um único museu exclusivamente dedicado à emigração. Sete anos depois, são já três os museus da emigração em Fafe, Ribeira Grande (nos Açores) e Melgaço. O primeiro Museu da Emigração e Comunidades Portuguesas nasceu em Fafe, em Julho de 2001, da junção de esforços entre a Câmara Municipal de Fafe, a Federação das Associações Portuguesas de França, a Casa da Cultura de Porto Seguro, no Brasil, e o Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta. A criação de uma base de dados nacional de emigrantes, o inventário das marcas deixadas pelos portugueses nos vários continentes, a recolha de documentos e objectos relacionados com a emigração e a reconstituição de histórias de vida Com a comparticipação do programa comunitário INTERREG, o antigo matadouro municipal de Melgaço tornou-se num espaço de homenagem aos emigrantes do concelho são algumas das metas propostas pelos promotores do museu, que querem ainda promover o contacto dos descendentes de emigrantes portugueses com as terras de origem e realizar encontros, visitas, exposições, conferências, debates e colóquios sobre temáticas que tenham como objecto a valorização do papel dos emigrantes nos territórios de origem, destino e retorno. No âmbito do Museu, Fafe acolhe de 05 a 08 de Julho um seminário internacional vocacionado para a discussão do tema das migrações e denominado “Memórias e Migrações Museus, História, Educação, Diversidades e Direitos Humanos”. O evento é patrocinado pela UNESCO e pela Organização Internacional das Migrações. O primeiro museu exclusivamente dedicado à emigração açoriana abriu ao público em Setembro de 2006, no antigo Mercado do Peixe da Ribeira Grande, em S. Miguel, Açores. Com um espólio de cerca de uma centena de peças, o museu inaugurou com a exposição “Memórias da Emigração, Os Cabral de Mello, 1890-1930, São Miguel-New Bedford”, que conta o percurso de uma “família tipo” até aos Estados Unidos. Mobiliário, cartas, passaportes e passagens são algumas das peças, pertencentes a uma colecção particular, que pretendem representar as famílias açorianas que emigraram, na sua grande maioria, para o Brasil, EUA e Canadá a partir do século XVIII até aos anos 80 do século XX. O Museu da Emigração conta ainda com o espólio pessoal de Mota Amaral, que doou peças recolhidas junto das comunidades açorianas durante o período em que foi presidente do Governo Regional dos Açores. I Cristina Fernandes Ferreira Junho 2007 TempoLivre 29 PAIXÕES Mário Santos O leão da Foz Irrompe o Verão e lá se vai o mundo pacato deste homem tranquilo. Então, arrecada na cave os materiais com que dá asas à imaginação, economiza as idas ao mar e atende os banhistas que frequentam o seu estabelecimento. São os hóspedes da residencial, os apostadores do Totoloto e do Euromilhões, os clientes que se empolgam nas trocas de impressões sobre os meandros do futebol. Nas paredes do café, onde sobressaem calendários e uma vasta iconografia ligada ao Sporting, estão expostas as pequenas peças de artesanato que este homem engendra com toda a paciência do mundo. No enquadramento das molduras azuis ou rosas, sobressaem as tartarugas e as borboletas em relevo. Tudo tão perfeitinho, tão divertido, tão ingénuo. No fundo, resume-se a “um hobby para matar os tempos mortos dos Invernos”. Mário Santos, que vai a caminho dos sessenta, nasceu na Foz do Arelho. É na praia que recolhe as conchas e os seixos, quando a maré está vazia. Nem precisa de consultar o Borda de Água, pois trata por aquele mar revolto. “Aqui vivia-se da agricultura e da pesca. Conta-se que havia veados para os lados da praia”, recorda. Filho de um mestrede-obras que, no início da década de 50, procurou melhorar a vida em Angola, fez a terceira classe no colégio Nuno Álvares de Benguela. Aos 30 TempoLivre Junho 2007 nove anos, já nas Caldas da Rainha, matriculou-se na Escola Comercial e Industrial Rafael Pinheiro onde frequentou um curso de serralharia. O Instituto Industrial de Lisboa seria o próximo passo, mas a morte precoce do pai estragou-lhe os planos. Não desanimou. Tinha a fibra dos que se obstinavam num desigual braço de ferro com o destino e, contra estatísticas ou predestinações, acabou por torcer a sorte. Concorreu sem sucesso para a Força Aérea. “Eram 900 os concorrentes e só havia 200 vagas”, sublinha. Afoito, “bateu à porta” das maiores companhias do país. Mas as setenaves, as lisnaves, as sorefanes só aceitavam rapazes com o serviço militar cumprido. Até que lhe ofereceram um lugar de auxiliar de trabalhos manuais em Torres Vedras, oportunidade que soube agarrar. Ali ficou durante dois anos bem contados. No seu currículo distingue-se uma passagem fugaz pelo centro do Inatel, antiga FNAT da Foz do Arelho, onde a mãe era encarregada da rouparia e da secção de costura. Nas férias estivais trabalhava como funcionário dos jogos e, mais tarde, foi transferido para a secretaria. Chegou a altura da tropa, algo que encarou com a máxima naturalidade. No posto de sargento miliciano, como tantos outros jovens, em 1969 partiu para as colónias integrado num batalhão. Vestido de camuflado e armado de G3, reviu a Angola da sua infância. “Calhoume uma zona perigosa no norte. As operações na mata duravam três e quatro dias. Estive debaixo de fogo umas setenta vezes e sofri vários ataques da formiga branca. Havia formigas terríveis que se enterravam na carne”, relata. Felizmente, voltou vivo e sem mazelas físicas. Em 1971 encaixou-se na Celcat, uma fábrica de fios condutores eléctricos, mas desenvolveu uma alergia aos metais e aos óleos das máquinas, acabando por abandonar o emprego que tanto lhe custou a obter. DO CANADÁ À FOZ A dureza da vida nunca lhe vergou os sonhos nem a vontade, nem as pernas para andar. Sem mais delongas, abraçou a ideia de buscar futuro no estrangeiro. Fixou residência em Toronto. Na qualidade de operário especializado recebeu um curso de inglês com a duração de seis meses, oferta do governo do Canadá, “um país espectacular” de que só diz maravilhas. Já com um razoável domínio da língua, ei-lo no Royal Bank a lançar cheques no computador, numa rotina das quatro à meia-noite. Funcionário competente e esforçado, promoveramno a supervisor. Ao fim de oito anos, decidiu voltar. “Não me dava nada bem com o clima e o meu filho mais velho sofria de bronquite asmática”, acrescenta. De regresso às origens, sentindo nos pés o apelo das raízes, abriu uma residencial com café e sala de jogos denominada Leão que era o símbolo do banco onde trabalhara. Há, no entanto, quem pense que o nome é uma homenagem ao clube de Alvalade.“Sou simpatizante do Sporting desde os meus oito anos. Costumava assistir com o meu pai aos jogos do Sporting de Benguela. Quando vim de Angola, na escola ouvia falar do Sporting. Logo aí decidi qual era o meu clube. Já fui um adepto ferrenho mas agora estou um pouco decepcionado. O futebol actual tornou-se mais um negócio do que um desporto”, lamenta. Com nostalgia no olhar, refere-se à época gloriosa em que os cinco violinos davam música. Embarcou na aventura do artesanato, à laia de brincadeira. A pensar no rosto alegre da neta de três anos lembrou-se de trazer seixos da praia para fazer uns palhaços. “Após várias tentativas consegui arranjar uma cola boa, pintava as peças e punha-as a secar em cima do frigorífico. Os clientes achavam graça e queriam comprá-las”, afirma. Era o bichinho dos trabalhos manuais a querer soltar-se. Os elogios das pessoas alimentaram-lhe o ímpeto, foram um incentivo que o encorajou a fazer novas experiências. Em 2000 expõe, pela primeira vez, no salão da Junta de Freguesia. No ano seguinte, participou na Feira do Vinho e do Cavalo, em Alenquer, e na Feira do Artesanato do Pombal. Agora, confirmou a presença pela terceira vez na Expoeste das Caldas da Rainha. No espaço que lhe concedem, alinham-se as borboletas, os leões, Junho 2007 TempoLivre 31 PAIXÕES as tartarugas, os dinossauros, as galinhas, os malmequeres. Na concepção destas peças, cingidas quase a um universo de cariz marítimo, entram várias espécies de conchas, de ouriços do mar e de búzios. Berbigão, amêijoa cão ou macha, pé de burrinho, conquilhas, amêijoa real, lapas e ostras, coisas submetidas ao desgaste das ondas. “Normalmente utilizo búzios nos rabos das tartarugas e também nos corpos dos peixe. A cabeça do dinossauro leva concha de ostra e de berbigão. Na base do malmequer está o seixo, as folhas são conchas de conquilha e o olho amarelo é um fragmento de ouriço. Ultimamente pedem-me para fazer mochos.” Demora algumas horas a apanhar a matéria-prima que, depois de cuidadosamente limpa, é pintada com tinta de esmalte. “Não faço desenhos, tudo sai da minha imaginação, quando vou à beira do mar trago logo as coisas de que preciso para criar um animal, um pássaro ou uma flor. Uso uma cola especial de elevado teor tóxico”, adianta. Mal se descuida, por duas vezes já aconteceu ficar com os dedos colados. Deixa as peças a secar de uma dia para o outro. A fase da pintura, que obedece a certas regras, é um exercício metódico.”Tem de ser uma cor de cada vez, tem de haver intervalos entre o aplicar das tintas para se atingir os objectivos pretendidos”, explica. Seguem-se os acabamentos, sem nunca dispensar o verniz que dá uma maior consistência estética e durabilidade aos seixos. A PESCA DO «FUNDO» No Verão, com a movimentação de turistas, a vida calma de Mário Santos complica-se. Há dias em que fecha a porta do café às três da manhã. Falta-lhe o tempo e o sossego 32 TempoLivre Junho 2007 «Após várias tentativas consegui arranjar uma cola boa, pintava as peças e punha-as a secar em cima do frigorífico. Os clientes achavam graça e queriam comprá-las» que um trabalho criativo daquela natureza exige”. Mas, por outro lado, surgem-lhe clientes inesperados que sempre vão adquirindo as suas coloridas obras. Foi o caso do Tó Freitas, antigo baterista do programa do Júlio Isidro, que se rendeu ao encanto daquelas peças concebidas com os despojos das guerras travadas no mar. Na sala de jogos mostra-nos um quadro com a imagem do seu animal preferido. O rei da selva, claro. “Ainda andei à busca de um leão de pedra mas não gostei nada do que vi nas lojas de artesanato. Encomendei esta pintura ao Luis Grandela, o neto do Francisco Grandela, que andava por aqui a viver dos rendimentos e a pintar umas telas sobre a lagoa. Custou-me 35 contos, quantia que em meados dos anos 80 era dinheiro. Ele veio-me com a história de um amigo que desejava muito comprar o quadro, a fim de o oferecer ao João Rocha. Até estava disposto a pagar um preço mais alto, mas como já se tinha comprometido comigo o negócio não se concretizou”, remata. A pesca é outra das suas afeições. Ao contrário do Manuel Alegre, uma figura incontornável no mundo dos pescadores da Foz do Arelho, pratica a técnica do “fundo”. O poeta, apetrechado com material de cinco estrelas, chega a apanhar robalos de seis e sete quilos. “Em vez da minhoca usa um peixinho de plástico, a chamada negaça. O robalo é o único peixe que se atira ao falso isco, que cai na armadilha da corricar”, explica. I Lourdes Féria CULTURA Grandtour 2007 Quatro mega exposições na Europa A BIENAL DE VENEZA tem como uma das vertentes principais o 52º Festival Internacional de Artes (de 10 de Junho a 21 de Novembro), que tem por curador o artista e crítico norte-americano Robert Storr. A exposição deste ano, intitulada Think with the Senses – Feel with the Mind. Art in the Present Tense, bate o recorde de número de países participantes, 77, de onde virão a centena de artistas com trabalhos em mostra. A exposição ocupa o centro histórico da cidade, e sobretudo alguns espaços da extensa Arsenale (onde a prolífica indústria naval operava desde o Século XII) e do novo Pavilhão Italiano de Giardini. Na berlinda estão este ano a arte contemporânea africana e o Pavilhão Turco. A escultora Ângela Ferreira (que também recorre a textos, vídeos e fotografias como mais-valias das suas peças) será a representante nacional oficial, sucedendo a Helena Almeida (2005), Pedro Cabrita Reis (2003), João Penalva (2001), Jorge 34 TempoLivre Junho 2007 Molder (1999) ou Julião Sarmento (1997). O seu trabalho pode ser apreciado na Fondaco Marcello (na margem do Grande Canal). O festival tem um peso histórico na arte contemporânea. Serviu de abrigo para artistas impressionistas e expressionistas do século passado, e abriu as portas da Europa ao movimento Pop Art, oriundo dos Estados Unidos. Para mais informações: www.labiennale.org A ART 38 BASEL (de 13 a 17 de Junho) é a grande feira de arte anual de Basileia, Suíça, que o New York Times já designou como as «Olimpíadas das artes». O evento atrai milhares de coleccionadores, galeristas, artistas, jornalistas e apreciadores, que procuram conhecer o próximo passo do mundo das artes. A Art 38 Basel, que acontece no centro de artes Messe Basel, reúne trabalhos das 290 mais conceituadas galerias de arte de todo o mundo. Estarão em exposição obras de mais de 2000 artistas (de diferentes passados e origens), nos mais diferente domínios: da pintura ao desenho, da fotografia à escultura, de instalações a performances, de impressões a vídeos. Uma das imagens de marca da Art Basel é a interactividade que promove entre artistas e público, através de conferências, fóruns e encontros «oficiais» de café. Nem sequer falta um espaço de actividades para crianças, o Art Kids, em que os menores são desafiados a entrar no mundo das artes de uma forma lúdica. Para mais informações: www.artbasel.com A DOCUMENTA DE KASSEL (de 16 de Junho a 23 de Setembro), na Alemanha, acontece de 5 em 5 anos. Nesta altura, a pequena cidade do estado alemão de Hessen também reclama o estatuto de capital europeia da arte contemporânea. Algumas obras de edições anteriores do Documenta tornaram-se Em Junho, acontece uma coincidência única em cada dez anos: a simultaneidade de quatro dos maiores festivais de artes plásticas do mundo. A centenária Bienal de Veneza, em Itália. A Art 38 Basel, na Suíça. A Documenta de Kassel e a Skulptur Projekte de Münster, na Alemanha. inclusivamente monumentos da terra, como a escultura Andando para o Céu, uma figura de acrílico a escalar um tubo cilíndrico metálico de 25 metros, que o norte-americano Jonathan Borofsky criou para a Documenta 9, em 1992. Os habitantes de Kassel organizaram-se para amealhar dinheiro e compraram a peça - que está hoje situada em frente à estação central de comboios - por 600 mil marcos. A edição deste ano, a Documenta 12 (o número significa que esta é a 12ª edição do festival), tem como ideal temático o espaço e como mote a capacidade da arte em harmonizar as diferenças da humanidade, e espera atrair este ano 735 mil turistas! As grandes expectativas mediáticas estão concentradas na participação do catalão Ferran Adrià, considerado o melhor chefe de cozinha do mundo. Apesar do convite feito ao inovador cozinheiro estar a dividir os meios artísticos (incluindo de Espanha), a «obra», preparada em segredo pelo meticuloso criador culinário, está a conseguir ser o grande mistério do Documenta 12. Para mais informações: www.documenta12.de O SKULPTUR PROJEKTE (de 17 de Junho a 30 de Setembro), ocorre em Münster, Alemanha (no estado da Renânia do Norte-Vestfália), de dez em dez anos, e prefere concentrar-se num menor número de artistas, 35 - do qual se destaca o videasta e escultor norte-americano Bruce Nauman, que retoma o projecto que concebeu para o Sculpture Projects 1977 e que falhou por razões técnicas: a obra de título Square Depression, mas apelidada de «pirâmide invertida», tem uma estrutura de 25 metros de diâmetro que perfura o terreno, criando um enorme buraco. Todos as esculturas são criadas, na maioria, em Münster, e instaladas à volta da cidade, participando o festival activamente na mutação de imagem da localidade, envolvendo as obras na arquitectura circundante. Para mais informações: www.skulptur-projekte.de ITINERÁRIOS PROPOSTOS A www.grandtour2007.com é inspirada na simultaneidade destes quatro grandes festivais de artes plásticas, e lança algumas dicas de roteiros possíveis, além de recomendar voos e hotéis, de modo a simplificar os preparativos de viagem para os interessados. Para quem preferir viajar de avião, sugerimos como primeira etapa a Art 38 Basel, por ser a exposição mais breve (dura apenas 5 dias), permitindo-lhe assim usufruir com mais à-vontade os restantes certames, que começam na mesma altura mas são bem mais duradoiros. Aconselhamos como meio de transporte entre os 4 eventos o comboio, pois qualquer uma das quatro cidades-sede tem excelentes ligações ferroviárias. Se seguir o nosso conselho, a viagem ida e volta Lisboa - Zurique, com escala em Madrid, pela Ibéria, é a mais barata. Através de promoções, pode viajar por preços próximos dos 175 euros (com tarifas mais económicas mas sem possibilidade de alteração e/ou reembolso). Gonçalo Palma Junho 2007 TempoLivre 35 TRINDADE 140 ANOS «Cine-Teatro da Trindade» O Trindade pode orgulhar-se de ter compreendido a revolução que o cinema constituiu a nível do espectáculo, e isto pelo menos a partir de 1913. Nesse ano, com efeito, o Salão da Trindade, como na altura ainda se dizia, exibiu um filme italiano, a partir do celebre romance “Quo Vadis“ que teria nos anos 50 uma versão célebre com Debhora Kerr e Peter Ustinov, inesquecível no papel de Nero. A versão de 1913 seria certamente mais modesta, mas, mesmo assim, teve no elenco o então celebre actor Amleto Noveli. O Trindade voltaria à exibição cinematográfica regular em 1938, por iniciativa do grande empresário José Loureiro, que conciliou o cinema com a exploração do teatro declamado. Estamos já na geração dos grandes Cine-teatros por esse país fora, tantos deles em pleno funcionamento. Mas aqui trata-se de um grande e belo teatro do século XIX adaptado a cinema, sem deixar a tónica dominante do espectáculo dramático. A “reestreia” do Trindade como cinema regular fez-se, ainda por cima, com um filme português de certa qualidade e conotação literaria, “A Rosa do Adro”, de Chianca de Garcia, adaptado do romance de Manuel Maria Rodrigues. Vale a pena lembrar que Chianca estrearia, no ano seguinte, no Tivoli, a ainda hoje magnifica “Aldeia da Roupa Branca”. Mas o “Cine- Teatro da Trindade” alcança o seu maior esplendor a partir de 1943 com António Lopes Ribeiro e o irmão Francisco Ribeiro 36 TempoLivre Junho 2007 - Ribeirinho que, por vocação artística mas também por obrigatoriedade legal, decorrente da chamada lei dos Cine-Teatros, alternaram a exploração cinematográfica com a actividade teatral, e em ambas com excelente nível. No que respeita ao cinema, basta dizer que lá se estreou, naquele ano de 1943, o “Amor de Perdição” de Lopes Ribeiro, adaptado a partir de intervenções” biográficas” do próprio Camilo: é um filme que ainda hoje se vê com o maior interesse. E no que diz respeito ao teatro, os dois irmão constituíram a Companhia dos Comediantes de Lisboa, que se notabilizou não só pelo alto nível do elenco como também pela qualidade do repertório.Basta lembrar que lá se estreou, entre tantas boas peças mais, o “Baton”, de Alfredo Cortez, texto ainda hoje ousado na situação de mãe e filha apaixonadas pelo mesmo homem. Calcule-se o que isso significava em 1946!. I DIC VIAGENS Toledo, Alcalá de Henares e Cuenca Três cidades no coração ibérico Uma viagem pelo centro da Península, evocando momentos e espaços fundamentais na formação da identidade de Espanha. Toledo, às portas da Mancha de D. Quixote, Alcalá de Henares, terra natal de Cervantes, Cuenca, suspensa entre céu e terra sobre uma Castela de relevo montanhoso. O Tejo abraça a cidade num amplexo que ganha ainda mais dramatismo quando os céus da Mancha se carregam de tons púmbleos. Estamos na “imperial Toledo” e todos os elementos cénicos se conjugam para sublinhar as atribulações históricas da que é uma das mais singulares cidades espanholas. Alguém o disse, certamente com exagero, mas com um acervo legítimo de sentidos, de sentimentos: “O viajante que disponha de um só dia em Espanha deve gastá38 TempoLivre Junho 2007 lo, sem vacilar, a ver Toledo”. Tirso de Molina chamou-lhe “o coração de Espanha” e, certamente, não apenas num sentido meramente geográfico. E Cervantes, de pena incisiva e visionária, não hesitou nas tintas do retrato ao invocar esse “penhascoso pesadume, glória de Espanha e luz das suas cidades”. Diz-se que Toledo é a cidade que melhor conta as vicissitudes históricas de Espanha, nela coincidindo marcas de ocupações, civilizações, culturas que deram, todas, um con- tributo precioso para o que são “nuestros hermanos”. Plínio fala de uma certa “Toletum”, pequena povoação fortificada de interesse estratégico no coração da Ibéria. Romanos, visigodos, árabes a cobiçaram, e Afonso VI, cristianíssimo rei, a conquistou no final do século XI, dela fazendo a capital de Castela. Desse caleidoscópio de épocas e sucedidos ficou um acervo de testemunhos, de vestígios monumentais de todos os estilos, conviventes Junho 2007 TempoLivre 39 VIAGENS num espaço que o viajante percorre bem a pé. A Mesquita do Cristo da Luz é o único monumento précristão, mas de tempos diversos é Toledo pródiga em sinais: igrejas de perfil mudéjar, duas sinagogas - a de Santa María la Blanca, de inspiração almóade é uma das maravilhas toledanas -, a robusta catedral gótica do século XIII, com a sua esbelta e graciosa torre que se avista à distância, o Mosteiro de San Juan de los Reyes, também gótico, a igreja barroca de San Juan de los Jesuitas e uma série de edifícios com fachadas platerescas ou renascentistas. A outra Toledo é a cidade das 40 TempoLivre Junho 2007 VIAGENS INATEL Cidades Património da Humanidade TOLEDO, CUENCA E ALCALÁ DE HENARES 20 a 24 de Setembro Partidas de Lisboa/Setúbal e Évora Estada em hotéis de 3*/4* Preço/pessoa em quarto duplo: 425 euros. Inclui transporte durante todo o circuito. Mais informações na Sede e Delegações ruelas estreitas, empinadas, que mergulham em becos silenciosos e praças recônditas, restos da velha judiaria. Podemos vê-la também na tela, pela mão de um pintor de Creta que se fez ibérico e castelhano de coração, El Greco. O museu que lhe é dedicado, onde se expõe a sua magnífica “Assunção”, é outra visita indispensável em Toledo. DE ALCALÁ A CUENCA, CIDADE SUSPENSA ENTRE CÉU E TERRA A caminho de Cuenca, eis-nos em Alcalá de Henares. Cidade natal de Cervantes, Alcalá é um lugar com encantos particulares que justificam a estância. O Patio de Come- A CASA MUSEU DE MIGUEL DE CERVANTES Diz-se que Toledo é a cidade que melhor conta as vicissitudes históricas de Espanha, nela coincidindo marcas de ocupações, civilizações, culturas que deram, todas, um contributo precioso para o que são “nuestros hermanos” Do lado de fora, sobre um banco de A opção foi a de “uma instalação pedra, duas figuras de bronze museográfica que aproxima o evocam os inseparáveis visitante da vida doméstica personagens do livro, que surgem, quotidiana dos séculos XVI e XVII”, de forma recorrente, na iconografia como se escreve no belo catálogo do reunida pelo museu. Se a vida e as museu. Foi um trabalho aventuras de ambos se expressam fundamentado em fontes numa tensão entre a fantasia e a historiográficas e iconográficas, realidade, entre o sonho idealista do pintura e gravura, relatos de cavaleiro e a racionalidde terra a viajantes e, claro, nas descrições terra das verdades simples do que podemos ler na própria obra escudeiro Sancho, a direcção do cervantina, tanto no “D. Quixote” museu decidiu-se pelo rigor como nas “Novelas Exemplares”. histórico e o espaço, assim como o O Fundo Bibliográfico é um tesouro seu conteúdo, sofreram nos últimos precioso, com as suas edições anos profunda remodelação. históricas, algumas raríssimas, da obra de Cervantes, quer em língua castelhana, quer nas outras línguas autonómicas de Espanha (galego, basco, catalão), quer, ainda noutras estrangeiras línguas. Aí encontramos, por exemplo, uma belíssima edição do “D. Quixote” em mandarim, com dias, que conserva elementos do século XVII, o Colegio Mayor de San Ildefonso (Universidade), dos finais do século XV, com fachada renascentista e decoração mudéjar no interior, a Igreja de San Bernardo, de estilo barroco, são alguns dos pontos de maior interesse. A Calle Mayor, com fileiras de arcadas dos dois lados, tem uma atmosfera exemplarmente manchega e é um animado picadeiro durante as noites quentes da meseta. Num dos extremos da rua abre-se a airosa Praça de Cervantes, ágora povoada com plátanos, um coreto e uma estátua de Cervantes. Há mais de cinco décadas, Astrana Neste interessantíssimo museu, ilustrações que transformaram o cada vez mais visitado, o que se cavaleiro manchego num nobre pode, afinal, ver? A Casa Museu chinês, e uma série de edições Miguel de Cervantes é, antes de piratas, entre as quais uma tudo, uma típica casa de habitação publicada em Lisboa em 1605. castelhana, com um pátio central, Outras línguas representadas nesta um velho poço, um balcão colecção: turco, japonês, hebreu, panorâmico em madeira, quartos, árabe, lituano, etc. etc. Visionário, o salas e cozinha repletos de próprio D. Quixote, projectava o mobiliário de época. Um sistema sucesso da espantosa narrativa das interactivo com células suas aventuras: “”treinta mil fotoeléctricas desencadeia a cada volúmenes se han escrito de mi entrada do visitante nos diferentes historia y lleva camino de imprimirse espaços a reprodução de treinta mil veces de millares, si el sonoridades domésticas - vozes de cielo no lo remedia... y a mí se me crianças, ruído de pratos e copos, trasluce que no ha de haber nación canções de embalar. ni lengua donde no se traduzca...” Junho 2007 TempoLivre 41 VIAGENS Pormenores de Alcalá de Henares e, em baixo à direita, vista da pousada de Cuenca, antigo mosteiro Marín, estudioso de Cervantes, julgou ter encontrado provas cabais para a identificação da casa onde nasceu, em 1547, o criador de D. Quixote, uma pequena casa de perfil castelhano situada na Calle Mayor. Três séculos e meio depois da publicação do primeiro romance moderno da literatura europeia, era inaugurada, em 1956, a Casa Museu Miguel de Cervantes, etapa essencial de qualquer rota organizada em torno da temática cervantina. O próximo destino significa um encontro com uma Castela montanhosa, região de agrestes relevos, como os da “Ciudad Encantada”, fruto da erosão calcária, e de impres42 TempoLivre Junho 2007 sionantes desfiladeiros, como as gargantas dos rios Júcar e Huécar. Sobre um penhasco entre estes dois cursos de água cresceu uma cidade cujas marcas mouriscas impregnam ainda as suas tortuosas ruelas. Cuenca é uma cidade suspensa entre céu e terra, e mesmo se o gótico e renascentista dos seus monumentos são um importante ex-libris acenado pelos folhetos turísticos, é aquela condição que mais sobrevive na memória. As casas suspensas sobre o abismo - as famosas “casas colgadas” - são uma singularidade irrepetida em Espanha, a imagem que sintetiza uma parte crucial da identidade de Cuenca. A Catedral é um dos pontos mais visitados, e com razão: gótica, é também única na Península, com a sua forte influência normanda. Mas Cuenca é sobretudo uma exemplar cidade castelhana, nas reminiscências mudéjares que lembram os avanços e recuos da Reconquista, na Plaza Mayor de atmosfera manchega ou nas ruas rodeadas de casario colorido e luminoso. Uma última sugestão, a visita à Torre de Mangana, que oferece ao vistante uma magnífica vista da cidade, com o cenário da terra castelhana a perder-se no infinito, debaixo de um azulíssimo céu. I Humberto Lopes (texto e fotos) OlhoVivo Preocupadas com a crescente obesidade infantil no país, algumas escolas suecas alteraram, há quatro anos, os menus e os produtos alimentares vendidos às crianças nas suas instalações. As refeições passaram a ser saudáveis e a ter opções específicas com menos gordura e mais fibras, e foi proibida a venda de bolos, refrigerantes e doces em algumas escolas, enquanto outras mantiveram os hábitos, servindo de grupo de controlo para a evolução das crianças. Numa primeira análise aos resultados destas alte- Contra o ruído… rações, apresentada pelo Karolinska Institutet, nas escolas que muda- O barulho incomoda-o/a? Preferia ram os menus o número de crianças dormir ou trabalhar num ambiente obesas caiu 6%, enquanto nas out- mais sossegado? Se gostava de ser ras houve um aumento de 3%. ouvido/a em relação à poluição Segundo os investigadores do pro- sonora que o envolve, eis a sua jecto STOPP (Stockholm Obesity oportunidade. Uma pesquisa do Prevention Project), estes números Leibniz demonstram que as políticas ali- Working Environment and Human mentares das escolas podem ser Factors da Universidade de Dort- alteradas sem prejudicar os orça- mund (Alemanha) está a tentar mentos e que essas mudanças têm perceber até que ponto as pessoas implicações sérias e efectivas na são afectadas pelo ruído à sua saúde das crianças, reflectindo-se volta, quer em casa quer no traba- ainda nos hábitos alimentares que lho, e que tipos de ruídos as inco- levam para casa. modam mais. Para isso dispõem de Research Centre for um questionário online, no endereço www.ifado.de/SILENCE/, onde cada um poderá dizer de sua justiça quanto ao incómodo que o barulho lhe provoca, ou não, no dia a dia. A localização de cada respondente permitirá aos investigadores relacionarem as condições locais com o tipo de incómodo causado. O objectivo final deste projecto, denominado SILENCE, é desenvolver recomendações e regres de redução de ruídos nas cidades europeias. 44 TempoLivre Junho 2007 Precoce = obeso?? Ken Ong e os seus colegas da Universidade de Cambridge (Reino Unido) analisaram uma década de dados de saúde de cerca de 6.000 crianças nascidas na última década do século XX e das suas mães, e chegaram à seguinte conclusão: os filhos de mulheres que tenham tido a primeira menstruação aos 11 anos (precoce, por comparação com a média de 13 anos na Europa) têm o dobro das probabilidades de serem obesos em relação às crianças cujas mães tenham tido puberdades tardias (aos 15 anos). Aos nove anos, os filhos das mães com puberdades precoces tinham em média mais 1,5kg e um centímetro de altura que os filhos de mulheres menstruadas aos 13 anos. Ong acredita que é uma combinação de factores, genéticos e ambientais, que provoca esta relação, já que as mães podem passar genes que provoquem o crescimento prematuro, e também ter elas próprias hábitos alimentares que o favoreçam. O seu aviso é para que as mulheres que tenham tido desenvolvimentos precoces estejam atentas ao crescimento dos seus próprios filhos, nomeadamente em termos de peso, a fim de evitar que se tornem obesos. Os pais da medicina Jackie Campbell, da Universidade de Manchester, afirma que, ao contrário do que andamos a aprender na escola, Hipócrates não terá sido o ‘pai da medicina’ moderna, mas sim os antigos egípcios, mil anos antes do grego. Depois de analisar cuidadosamente as receitas egípcias, Campbell conclui que elas são já uma forma credível de farmácia e medicina, de tal forma que muitos dos princípios e substâncias activas são usadas até hoje: o mel como antimicrobiano nas feridas, cominhos e coentros como antiflatulentos, ou aloé como calmante para a pele são apenas alguns dos muitos exemplos detectados pela investigadora, que não pretende parar por aqui. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Mudanças no menu ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ] Hormonas à mesa Mais pessoas… mais floresta Mais um estudo e mais um Thomas Elmqvist e a sua equipa, da susto: testes realizado em pei- Universidade de Estocolmo (Sué- xes de rio nos Estados Unidos cia), analisaram imagens de satélite revelaram níveis de estrogénio de 5500km2 de floresta tropical seca (hormona feminina) suficientes no sul da ilha de Madagáscar, para fazer crescer células de tiradas entre 1984 e 2000, e viram cancro da mama. Foram testa- algo inesperado: desde 1993, a área dos 27 peixes, apanhados em de floresta aumentou 4%. E, mais cinco locais dos rios Allegheny e inesperado ainda, as áreas com Monongahela, em zonas mais maior desflorestação apresentavam ou menos poluídas por indús- menor densidade populacional do trias ou esgotos, e em sete deles que as mais densas, onde também as células cancerígenas desenvolveram-se rapidamente. Os vivem mais pessoas. Depois de Menos arrasto investigadores não têm infor- analisarem possíveis causas para este fenómeno, chegaram à con- mações detalhadas sobre que Cerca de 20 países do Pacífico Sul clusão que a presença humana é, químicos podem ter produzido chegaram a acordo sobre algumas neste aqueles níveis de hormonas, restrições a impor à pesca de arras- natureza, pois as aldeias são res- mas viram os efeitos nos ani- to, uma actividade que prejudica ponsáveis por proteger os seus ter- mais – não conseguiram detec- gravemente os ecossistemas, des- ritórios, logo, cada uma cuida e pro- tar o sexo de nove dos peixes, truindo os recifes e levantando tege a floresta que lhe pertence, que apresentavam característi- nuvens de sedimentos que sufocam mas ninguém trata da ‘terra de cas femininas e masculinas. O a vida subaquática. A partir de 30 ninguém’, antes pelo contrário – aviso está lançado: se continu- de Setembro deverão estar a postos para se apropriarem de um terreno, amos a desfazer-nos sem cuida- sistemas de observação e monito- a tradição manda cortar a árvore do de todo o tipo de produtos rização que imponham as novas mais alta e plantar um cacto no seu tóxicos, sejam plásticos ou regras aos pescadores, nomeada- lugar. Elmqvist recomenda que os medicamentos, voltaremos a mente os neo-zelandeses, respon- governos tomem atenção redobrada encontrá-los, à mesa. sáveis por 90% da operação na às tradições locais e favoreçam este zona. A actividade não se poderá tipo de controlo da terra, que tam- estender a novas áreas e mesmo bém contraria a tendência para a aquelas por onde passa habitual- aglomeração nas grandes cidades mente terão de ser avaliadas em visível em todo o mundo. caso, benéfica para a termos do perigo que correm; os ecossistemas mais vulneráveis serão também vedados a este tipo de embarcações. Os ecologistas, porém, afirmam que o passo era indispensável à preservação da vida na região, já que diversas espécies de peixes, como o olho-de-vidro, demoram muito tempo a desenvolver-se e são por isso muito vulneráveis à pesca intensiva e às alterações ao seu ambiente. Junho 2007 TempoLivre 45 A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES O presente grego Árvore europeia da sombra, o plátano não é só um espécime ornamental mas um bem urbano de primeira necessidade. No rescaldo do abate de dezenas de plátanos no Campo Pequeno, a história da descoberta de um exemplar raro, no Jardim do Princípe Real. N a Biblioteca de Arte, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, há um pequeno livro, de 1956, intitulado “Árvore de Hipócrates ou Árvore da Saúde”, do médico beirão, higienista, professor universitário e membro da Academia das Ciências, Sebastião Cabral Costa-Sacadura. Tem poucas páginas, mas numa delas aparece reproduzida a fotografia do dia em que foi plantado em Lisboa, o rebento de uma das mais famosas e antigas árvores do mundo, o “Plátano de Hipócrates” (Platanus Orientalis L.), que decorridos mais de 2500 anos, continua vivo, estendendo os seus longos ramos sobre uma pesada estrutura de ferro, na praça pública da ilha de Cós, Grécia. Segundo escreve o filantropo e octagenário CostaSacadura, à época antigo Presidente e Secretário Geral Perpétuo da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, o descendente do “Plátano de Hipócrates” - porque à sua sombra costumava o “pai da medicina moderna” tratar os doentes a partir de um diagnóstico psicossomático avant-la-lettre - teria sido plantado no dia 9 de Janeiro de 1956, no Jardim do Princípe Real, em Lisboa. Oferecido pelo rei Paulo da Grécia, pai da actual rainha Sofia de Espanha, o jovem plátano chegou à capital através do ministro Vassili Lappas e sua mulher. A fotografia, publicada pelo jornal “Primeiro de Janeiro”, capta o momento em que a senhora Lappas presidindo à cerimónia, integrada no primeiro congresso de Profilaxia Gerontológica, descobre o “propágulo” onde se encontrava protegida a pequena árvore grega. Volvidos 51 anos – e perante a contínua ameaça que paira sob os poucos espaços arborizados da capital, bem como a memória recente do abate de noventa e sete plátanos do Jardim do Marquês de Marialva, ao Campo Pequeno, na sequência das obras de requalificação da Praça de Touros – será que o histórico e simbólico presente grego ainda sobrevive? A fotografia do jornal serve como pista. Por de trás da mulher do diplomata, a seguir à multidão que a observa, de chapéu e gravata, vêem-se distintamente as portas e as janelas de dois prédios românticos. Quem vem pelo Largo do Rato e chega ao Jardim do Príncipe Real não os 46 TempoLivre Junho 2007 encontra, é preciso passar o ex-líbris, o gigante Cedro-doBuçaco, avançar em direcção à Rua do Jasmim, e junto aos bancos de madeira, do lado esquerdo, aparecem por finalmente, os prédios da fotografia (são os números 3 e 5). Do lado direito, anónimo, sem qualquer identificação, esquecido mas vigoroso, encontra-se uma árvore de tronco fortíssimo. Os ramos possantes, desenvolvem-se a baixa altura, revestidos de uma folhagem densa, cujo recorte lembra a forma de mãos: eís o plátano grego, o abraço de Hipócrates, a árvore de Pacha Mama dos índios andinos, a Ninfa Europa entregando-se a Zeus, depois de ele a ter raptado sob a forma de um touro branco. Um jovem plátano cresce a seu lado, se mais descendência houvesse poderiam as árvores abraçar-se como aconteceu nas imediações de Constantinopla. O escritor francês Théophile Gautier ainda chegou a ver esses nove plátanos turcos, nascidos do pé de uma árvore morta: no seu interior cabiam pessoas, passava um cavalo, era uma floresta. Porque o plátano, nas suas várias espécies – em Portugal, tal como na Europa Ocidental, predomina o Plátano Embaixatriz grega planta a pequena árvore no dia 9 de Janeiro de 1956, no Jardim do Princípe Real Comum (Platanus x acerifolia, Aiton, Willd); o Plátano Ocidental (Platanus Occidentalis), por seu turno, é nativo da costa atlântica dos Estados Unidos – é resistente, sobrevive às intempéries, suporta rajadas de vento de mais de 125 quilómetros por hora desde que não tenha sido podado, adapta-se à poluição urbana, recupera depois de ser atacado por várias doenças - apenas a mão humana e o cancro colorido (provocado pelo fungo Ratocystis frimbiata) o conseguem destruir. A forma peculiar dos plátanos do Jardim da Cordoaria, no Porto, tornando-os parecidos com os baobabs de Madagáscar, resulta precisamente da vitória sobre uma doença que poucos registaram. “A doença que os deformou deve tê-los atacado ainda jovens: em 1950, nas páginas d`O Tripeiro, João Moreira da Silva, que lhes dedicou um curto apontamento, chama-lhes “verdadeiros monstros”; e há fotos do princípio do século XX que já os mostram com uma forma próxima da actual. Que doença terá sido essa? Moreira da Silva não o diz; e, se algum estudo se fez, hoje parece estar esquecido”, concluem Paulo Ventura Araújo, Maria Pires de Carvalho e Manuela Delgado Leão Ramos, autores do livro “À Sombra de Árvores com História”(Gradiva, 2006). Tudo parece indicar que ninguém os tratou, tal como O Plátano de Hipócrates, na ilha de Cós tem 2500 anos Hipócrates acreditava, a natureza possui dentro de si a a solução para doença. O resultado foi a emergência de um árvore troglodita, excêntrica evocação da pré-história quando os plátanos eram contemporâneos dos dinossaúrios e dos fetos arborescentes. “Troncos, rochedos, grenha de braçadas,/ chiar de sonhos, solidão musgosa,/e as folhas caem por entre a limpidez/de um ar sonoro levemente azul”, assim os descreve Jorge de Sena em “Ode aos Plátanos” (Pedra Filosofal, Poemas, Ed. Confluência Limitada, 1950). Mas no conto “A Campanha da Rússia” (Antigas e Novas Andanças do Demónio, Edições 70, 1978) os mesmos plátanos da Cordoaria aparecem de noite, são a companhia mais tranquila numa errância perigosa pela cidade do Porto onde há rabos de mulher que não cabem em automóveis de luxo, pernas com chagas purulentas e marinheiros de navalha em punho. Árvore ornamental, vocacionada a proporcionar sombra desde a Antiguidade Clássica, o plátano gosta de receber e a todos acolhe: doentes, filósofos, poetas, santos e imperadores. Calígula, por exemplo, deu um grande jantar para quinze pessoas em cima dos ramos de um plátano e ainda houve espaço para os criados trabalharem. O jornalista Alain Pontoppidan, em “O Plátano” (Temas & Debates, 2001), relata a história de uma árvore anfitriã mal sucedida. Deveria ela ter escondido, no seu tronco oco, S. João Crisóstomo mas porque não tinha folhas viu o santo ser assassinado pelos ladrões de estrada. Desde então, nunca mais perdeu a folhagem. Felizmente nem todas árvores passaram por este tipo de provações, mas no tempo de Teófilo, Imperador de Bizâncio, um plátano foi derretido e transformado em moedas. A história é relatada num manuscrito pertencente à Biblioteca do Santo-Sepulcro, em Constantinopla. Conta que no século 9, o Imperador Teófilo mandou construir um plátano de ouro, no qual instalou pássaros de várias espécies e instrumentos musicais igualmente em ouro. Quando passava o vento, para surpresa de todos, uma orquestra áurea cantava. Um dia, o soberano ordenou a destruição da árvore, o metal precioso foi fundido e transformado em moedas que ele gastou até ao fim. I Junho 2007 TempoLivre 47 PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID O tom dos Oito Os avanços da Ciência, os progressos tecnológicos, as novas tecnologias permitem dar corpo real às utopias do passado, nem sequer ainda muito longínquo á 50 anos era impensável pensar num transplante de órgãos e muito menos do coração. A Internet nem chegava a ser ficção, a descodificação dos genes, que ainda não está completa, mas a caminho, pode ao homem proporcionar períodos de vida hoje inimagináveis. A Humanidade está a viver uma revolução sem precedentes, todos os dias se descobrem coisas novas e importantes para o nosso futuro. Provavelmente temos, a curtíssimo prazo, de alterar paradigmas de vida de um modo quase radical. Hoje, as utopias do passado podem ser sonhos concretizados no presente. No domínio da comunicação já nada é impossível. Mantemos rádios e televisões, jornais, diários e semanários, agências difusoras de notícias. A Internet é a grande e harmoniosa confusão universal. Em poucos instantes colocamos na China um documento elaborado em Lisboa e recebemos da Coreia as informações que solicitáramos há instantes. A um nível, que é hoje quase provinciano, tendo em conta as imensas possibilidades das novas tecnologias, há publicações (jornais ou revistas) com edições diárias, por exemplo, no Porto e em Lisboa. Os jornais on line proliferam, qualquer cidadão pode lançar para o espaço comunicacional, o seu próprio posto informativo e opinativo – os blogues. Todo este potencial pode ser aproveitado, com benefícios recíprocos, pelos oito países que em quase todos os continentes falam português e pelos milhões de cidadãos dessas pátrias espalhados pelo mundo. À primeira vista parece uma utopia conceber um órgão de comunicação social, diário – um jornal – que possa ser editado simultaneamente no Brasil, Portugal, Timor, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné e S. Tomé e Príncipe. Nalguns países a diferença horária pode parece um obstáculo incontornável, mas nada hoje é impossível neste mundo dominado pela globalização. É claro que se levantam problemas de coordenação, de viabilidade económica, de paginação e de conteúdos. Nada que a criatividade dos empresários, dos jor- H 48 TempoLivre Junho 2007 nalistas, dos apoios das instituições em cada país lusófono não possa ultrapassar. Seria um jornal de síntese noticiosa, a cargo de pequenas redacções em cada uma das capitais. Uma página de noticias para os países mais pequenos, duas ou três para os países com mais caudais informativos. Duas páginas de internacional, duas páginas de cultura, uma página diária de grande reportagem, cujo conteúdo seria oriundo de cada um dos oito, obedecendo a uma planificação prévia. Sempre que a direcção julgasse oportuno, publicar-seiam grandes entrevistas. Em suma, este jornal seria concebido em moldes eventualmente inovadores, mas seguindo os critérios deontológicos normais. ma direcção coordenadora, residente numa das capitais encarregar-se-ia de ter uma visão de conjunto, os títulos de primeira página, a verificação da matéria informativa, a capacidade de introduzir notícias de última hora e de fazer dele um grande jornal. A angariação de publicidade também devia ser contemplada. Em cada país deveria haver uma contabilidade organizada e todas contribuiriam para o projecto comum. Os locais de maiores receitas poderia “ajudar” em locais de menor receptividade. O jornal teria representação, mesmo correspondentes, junto das mais significativas comunidades lusófonas radicadas no estrangeiro. Um jornal com estas características podia ser lançado, num primeiro momento como publicação on line, fixando-se uma determinada verba para cada país, ou comunidade, poder dar acesso livre aos utilizadores da Internet. Posteriormente, depois de estabelecidas as parcerias empresariais e jornalísticas consistentes, avançar-se-ia para uma edição impressa, em papel, com tiragens consideravas razoáveis e feitas em cada capital. Escolher um título apelativo daria lugar, por exemplo a concurso entre as escolas dos oito países. A menos que seja aceite a sugestão que aqui se deixa: “O Tom dos Oito”. É musical, envolve todos numa componente (o tom) de liberdade. Dar corpo real a uma utopia. Eis o desafio que aqui se lança. I U O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ Duas eleições Na mesma semana, tivemos dois actos eleitorais que, cada um à sua maneira, dizem também respeito a Portugal. Trata-se, já se vê, das eleições presidenciais da França e de Timor-leste ão vamos aqui referir os resultados, que são por demais conhecidos, nem analisar os processos eleitorais que são específicos, mas proceder a um certo exercício de comparação e acareação, no que as aproxima e no que as distingue. Esse exercício de comparação, não é tão absurdo como poderia parecer, face as profundas diferenças de desenvolvimento, de infra-estrutura eleitoral, de nível económico e cultural e de tradição política, que marcam os dois países. E desde já se diga então que do ponto de vista do acto eleitoral em si e do reconhecimento, pelos”vencidos” e seus apoiantes, dos respectivos resultados, Timor-leste esteve melhor do que França. Só que no acto de posse dos presidentes respectivos a situação se inverteu, com tranquilidade em França e grande agitação em Timor. Diz-se que a Constituição de Timor-leste é desajustada da realidade política e sociológica do país. Timor tem de facto um historial não democrático, mesmo considerando como data de referencia inicial o rescaldo da última Guerra Mundial, que, é bom lembrar, durou no Extremo Oriente mais 6 meses que na Europa, e terminou com o apocalipse de Hiroxima e Nagasaki. Passei em Nasagaki em 1972: a memória vem logo ao de cima como é evidente. E sabe-se como a guerra no Oriente foi dura. Timor Português, como era chamado na época, esteve ocupada pelos japoneses. Comparada com essa ocupação, a presença colonial portuguesa foi globalmente muito branda, é o mínimo que se possa dizer. A descolonização foi confusíssima, e muito pouco lisonjeira para o Governo e para as autoridades portuguesas, civis e militares de então. A independência unilateral durou 8 dias. E a ocupação indonésia foi muito pior do que tudo o resto somado… Uma vez mais, seja-me permitida memória pessoal profunda, que se prende com o acompanhamento diplomático da situação a partir de Lisboa, através designadamente de numerosas reuniões com o hoje presidente eleito, Ramos Horta e o genocídio de Santa Cruz, que me coube relatar e alertar, em nome do Estado português, junto do Corpo Diplomático acreditado em N Lisboa e reunido, na sua totalidade no MNE, e por coincidência, integrava uma delegação oficial em Pequim, quando veio a notícia da evolução favorável da situação e do referendo, logo seguido pela violência dos pró – indonésios, perante a passividade das autoridades locais de ocupação. Mas a independência veio, com estabilidade aparente, porem desmentida nas grandes agitações de 2006. Em qualquer caso – e é isto que agora nos prende – a exemplaridade do acto eleitoral e a aceitação (até à data em que escrevo) dos resultados, com a fulgurante mas até aqui não contestada vitória de Ramos Horta, constitui de facto um modelo exemplar. Que a França, a julgar pelas noites que se seguiram à eleição não praticou! Ora, pode-se ou não gostar do Presidente Sarkozy, mas não tem qualquer cabimento a contestação violenta ao acto eleitoral, pois a vitória foi democrática, indiscutível e altamente participada! ra, dado que escrevemos nas vésperas da posse do novo Presidente da França, será necessário acompanhar com obvia atenção os desenvolvimentos imediatos deste primeiro período de gestão presidencial. Sem que isso signifique uma garantia de estado de graça (ou de “desgraça”) mas tendo em vista as situações de crispação, que muitas vezes têm muito menos a ver com a politica, do que com a situação social, a começar pelo desemprego. Os “100 dias” simbólicos que foram herdados de Napoleão, no caso de Sarkozy, podem assumir um carácter específico: vamos ver. I O Junho 2007 TempoLivre 49 VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR A Restauração esquecida Penso que todos os portugueses, mesmo os mais distraídos e os mais ignorantes, sabem em que consistiu a Restauração e até lhe conhecem a data, mesmo porque é feriado nacional. P orém, convido-vos hoje a viajar até ao início do século XIX, para evocarmos uma outra restauração, talvez menos espectacular e não tão bem sucedida, mas que, mesmo assim, merece um lugar na nossa memória. Vamos, pois, até aos princípios do Verão de 1808. Nos últimos meses do ano anterior, um exército napoleónico comandado pelo general Junot ocupara Portugal e a família real portuguesa embarcara para o Brasil. Quem governava o reino, agora, era Junot e podemos calcular que não o fazia com grande (ou pequeno) carinho ou respeito pelos Portugueses. Aliás, a diplomacia delirante de Napoleão previra o desmembramento do país em três partes, como bolo cortado em três fatias. Pois bem, no início de Junho de 1808, o Porto sublevou-se — e, como um rastilho, a revolta espalhou-se, praticamente, a todo o país. O general Manuel Gomes Sepúlveda, governador das armas de Trás-os-Montes, lançou-se na resistência com a maior energia, apesar dos seus setenta e três anos: em Bragança, fez aclamar o príncipe regente, D. João (futuro D. João VI), criou uma junta governativa, mobilizou os trasmontanos, formou regimentos de milícias; o movimento espalhou-se pelo Minho, e cobriu, assim, boa parte do Norte: Braga, Barcelos, Guimarães, Viana, Melgaço, Chaves. O general Loison, o tristemente famoso «maneta», que cometeu terríveis atrocidades, tentou avançar sobre o Porto mas foi cercado em Mesão Frio e retirou para Almeida, fazendo sempre sangrentas tropelias; e a revolta chegou a Aveiro, a Coimbra, à Figueira da Foz. Também o Alentejo se levantou contra o ocupante; e no Algarve o primeiro brado foi ouvido em Olhão: a 16 de Junho era aclamado aí o príncipe regente e em Faro o general francês 50 TempoLivre Junho 2007 Maurin recebia voz de prisão, ao mesmo tempo que os restantes franceses eram expulsos. Foi então que um certo Manuel Garrocho, marinheiro de Olhão, decidiu, loucamente, meter-se com os companheiros no seu pequeno caíque Bom Sucesso e ir até ao Brasil, nada mais nada menos, para informar o regente de que Portugal estava a expulsar os invasores — e o mais extraordinário é que conseguiu lá chegar. Como evoluiu esta restauração do reino? Não tão bem como a outra, é verdade. Mas também será verdade que, pelo menos numa fase inicial, terá facilitado bastante o trabalho às tropas ingle- sas que desembarcaram pouco depois em Portugal e que, apoiadas por unidades portuguesas, viriam a derrotar as forças de Junot na Roliça e no Vimieiro. Essas duas batalhas puseram termo à primeira invasão francesa; e assim, a restauração de 1808 foi, de facto, vitoriosa e efectiva. C omo sabemos, houve mais duas invasões napoleónicas e, tanto sob o ponto de vista militar como político, as coisas não foram simples e ao povo português estavam ainda reservados muitos sofrimentos. Isso, porém, não impede que esta restauração mereça fazer parte da nossa memória — e, com ela, o nome do general Sepúlveda. De que ninguém fala — o que é, no mínimo, lamentável. Mas já nos vamos habituando: não é um futebolista… I BOAVIDA CONSUMO LIVRO ABERTO ARTES Com o turismo globalizado, os consumidores deparam com um número crescente de ratoeiras e surpresas desagradáveis. JJL considera “Combateremos com a Sombra” um melhores textos de ficção de Lídia Jorge e um dos grandes romances de 2007. As últimas propostas dos artistas plásticos João Vaz de Carvalho e Rui Matos Página 52 Página 54 MÚSICAS NO PALCO Em destaque “Fafá de Belém ao Vivo”, síntese de mais de trinta anos de carreira, e “Amor, Escárnio e Maldizer”, o 6º álbum de “Da Weasel”. O Teatro Nacional apresenta, no Trindade, a partir de Macbeth de Shakespeare, a peça Namanha Makbunhe , encenada por Andrzej Kowalski. Página 58 Página 56 CINEMA EM CASA Quatro recentes bons filmes, realizados na capital francesa, atestam o fascínio que Paris ainda exerce nos criadores da 7ª arte. Página 62 Página 60 FILMES MEMÓRIA À MESA SAÚDE “Natureza Morta”, uma prodigiosa metáfora cinematográfica sobre a entrada (globalizadora) da China no futuro O peixe, quase inesgotável na costa Portuguesa, tem cada vez mais adeptos. E as razões não são poucas. M. Augusta Drago fala da dificuldade que os doentes sentem em falar-lhe sobre a incontinência urinária. Página 63 Página 64 Página 65 INFORMÁTICA AO VOLANTE PALAVRAS DA LEI Cada vez mais a imagem digital se afirma como indispensável na utilização dos meios informáticos como técnica de comunicação Os membros do júri renderam-se ao Grand C4 Picasso, eleito o Carro do Ano de 2007, recebendo o Troféu Volante de Cristal. Marido abandona o lar para viver com amante e quer, anos depois, vender a casa onde ainda vive, por decisão do tribunal, a primeira mulher… Página 66 Página 67 Página 68 Junho 2007 TempoLivre 51 BOAVIDA C O N S U M O TURISMO E GLOBALIZAÇÃO À medida que o turismo se torna uma actividade global de fácil acesso a cada vez mais pessoas, constata-se que os consumidores, em vez de verem a sua vida facilitada, deparam com um número crescente de ratoeiras e surpresas desagradáveis. I Carlos Barbosa de Oliveira P ara que os leitores percebam melhor o significado da globalização quando aplicada ao turismo, começarei por ilustrar com uma situação ocorrida numa viagem a Cabo Verde. As coisas passam-se assim: Compra-se um bilhete na TAP, porque a hora do voo da TACV (transportadora aérea de Cabo Verde) não é a mais conveniente e, chegado ao balcão do check-in, constatase que afinal o voo é em codeshare (TAP e TACV), pelo que poderia ter viajado à hora pretendida, pela TACV, poupando algumas dezenas de euros. Primeira constatação: ou as agências de viagens não sabem o que andam a fazer, informando mal os clientes, ou reservam os bilhetes da TACV para os turistas que viajam nos pacotes que elas vendem. Quem viajar por sua conta e risco que se amanhe! Chegado o momento do embarque, constata-se que o avião não pertence nem à TAP, nem à TACV, mas sim a uma transportadora checa e que a tripulação, por acaso, é eslovaca e não fala uma palavra de português. As revistas de bordo são escritas em checo e inglês, mas (vá lá...) têm um artigo bilingue (inglês 52 TempoLivre Junho 2007 e checo) interessante sobre as potencialidades turísticas do país de destino: Cabo Verde. Finalmente, na hora da refeição, conclui-se que o serviço de cattering foi fornecido por um restaurante italiano! Conclusão: um passageiro português compra um bilhete de avião numa companhia aérea portuguesa, para um destino onde a língua oficial é o português, mas não tem direito nem a um suminho, ou a uma água portuguesa, nem a obter informações na sua língua, porque a tripulação só fala inglês e a sua língua materna (neste caso o checo). O passageiro pergunta então (em inglês, claro!) a uma das três atraentes moçoilas que do alto do seu metro e noventa distribuem os tabuleiros com o jantar, se a bordo vai algum passageiro checo. Perante a resposta negativa, saída de lábios carnudos implantados 20 centímetros acima da sua cabeça, interroga-se por que razão as informações de bordo tinham sido dadas em inglês e naquela língua, e não em português, mas a única resposta que obtém dos seus botões é um envergonhado silêncio. A história dava pano para mangas, mas a tanto não permite o espaço. Vale a pena, porém, tecer algumas considerações pertinentes. Em primeiro lugar, se um consumidor escolhe uma determinada companhia aérea para viajar porque pretende que o pessoal de bordo fale a sua língua e, acima de tudo, confia nela, não terá o direito de ser ressarcido pelo facto de, sem qualquer aviso prévio, ou explicação plausível, ser obrigado a viajar numa companhia que desconhece e cujo pessoal de bordo ignora por completo a sua língua? A resposta parece clara, mas a verdade é que a União Europeia, embora esteja atenta a este problema, ainda não tomou qualquer deliberação que permita aos consumidores serem ressarcidos. A questão coloca-se também em termos de segurança, como se explica no exemplo seguinte. Um consumidor compra um bilhete de avião de Lisboa para Nairobi, por exemplo, numa companhia aérea da sua confiança, sendo informado que terá que fazer um stop over em Casablanca. Chegado à capital marroquina, po- derá acontecer que seja obrigado a prosseguir viagem numa companhia aérea que até conste da lista das transportadoras “proscritas “ na lista publicada pela União Europeia, por não oferecerem condições de segurança. O mais curioso e surrea- lista, é que o consumidor pagou taxa de segurança à partida de Lisboa! Era suposto que, à medida que o turismo atingisse uma dimensão globalizante, os seus agentes se tornassem mais transparente, com óbvias vantagens para os consumidores. No entanto, a transparência tem dado lugar a alguma opacidade. Não se percebe, por exemplo, a manutenção de uma taxa de combustível, quando o preço do petróleo na origem tem vindo a baixar, ou que as taxas de segurança possam variar de acordo com a época do ano! Estas práticas das transportadoras têm reflexos na actividade das agências de viagens que, ao publicitar os seus preços, iludem os consumidores com o chamariz dos preços baixos que depois se constata poderem sofrer acréscimos de várias centenas de euros em relação ao preço base anunciado. Registe-se, porém, que o Governo português fez publicar, em Maio, legislação que obriga as agências de viagens e as transportadoras a publicitar o preço total dos serviços prestados, incluindo TODAS as taxas aplicáveis. Portugal antecipa-se assim à União Europeia que promete regular todas estas situações a breve prazo, mas tem revelado algumas dificuldades em concertar posições. I BOAVIDA L I V R O A B E R T O FICÇÃO DE QUALIDADE, ABBÉ PIERRE E HERÓDOTO REENCONTRADO O mínimo que pode dizer-se de “Combateremos com a Sombra” (Dom Quixote) é que se trata de um melhores textos de ficção de Lídia Jorge e, sem dúvida, um dos grandes romances de 2007. I José Jorge Letria N o centro da trama narrativa encontra-se um psicanalista que um dia recebe de um antigo paciente uma mensagem indecifrável. O resto é com o leitor e com a narradora, nesta obra de grande densidade e maturidade, que confirma Lídia Jorge como uma das grandes prosadoras portuguesas contemporâneas. Da mesma editora com uma qualidade assinalável é o romance “O Mestre”, de Colm Tóibin, sobre a vida e a obra de Henry James. Mais um livro sobre o grande escritor norte-americano que, apesar de ter uma biografia de onde está ausente a vida sentimental e sexual, continua a fascinar narradores contemporâneos, dando, ainda por cima, origem a grandes livros. Com forte cariz biográfico e já consagrado pela crítica e pelo público e várias vezes premiado, “O Mestre” é um romance fascinante sobre um verdadeiro mestre da prosa. Com a mesma chancela e a merecer referência destacada está “Travessia de Verão”, primeiro romance de Truman Capote, no qual o consagrado autor de “A Sangue Frio” evidenciava já as qualidades de narrador que levaram o seu contemporâneo Norman Mailer a afirmar que ele era “o mais perfeito da minha geração”. Capote não teve uma carreira fácil, parecendo ter ficado para sempre traumatizado 54 TempoLivre Junho 2007 com o êxito fulgurante de “A Sangue Frio” e com o modo como se envolveu emocionalmente com as personagens reais dessa narrativa. Ainda da Dom Quixote é “O Livro que Desceu do Céu”, de Ahmad Vincenzo, uma narrativa de grande fôlego que tem como personagem central Zayd, apresentado como o rapaz que escreveu a primeira cópia do Corão. Uma viagem pelo universo de referências de uma cultura que, por motivos vários e complexos, conhecemos mal. Por seu turno, a Oficina do Livro acaba de lançar a quinta edição revista de “O Viúvo”, obra que confirma as qualidades de Fernando Dacosta como narrador de grande talento. Da mesma editora é “Atitude Xis”, que reúne alguns dos mais representativos textos publicados por Laurinda Alves no “Público” e que constituem sempre uma sensível proposta de reflexão sobre as questões da nossa vida no dia a dia, numa sociedade apressada e crescentemente desumanizada Outras propostas de qualidade, em termos de ficção narrativa recente, são: “As Iniciais da Terra”, do espanhol Jesús Diaz, e “A Outra Casa de Mazón”, ambos da Ambar, “Boulevard”, de Jim Greasley, da Teorema, e “A Cidade do Teu Destino Final”, de Peter Cameron, da mesma editora. Destaque ainda para “Quando Marinela Salero Cortez Decidiu Imitar Dom Juan”, da portuguesa Maria da Conceição Carrilho, e “Um Porto para os Advogados”, de Josy Braun, ambos da Campo das Letras, que também acaba de editar, a nível das obras de investigação e actualidade, o oportuno “A Verdadeira História dos Voos da CIA – os Táxis da Tortura”, de Trevor Pglen e A.C. Thompson, com prefácio da diplomata e eurodeputada Ana Gomes. Da Teorema é “História do Cristianismo”, de Carter Lindberg, que descreve o percurso desta religião desde as suas atribuladas origens até à actualidade. O autor é docente na Universidade de Boston e autor de uma vasta e abalizada bibliografia sobre o tema. COM “O IMPÉRIO DOS ANJOS” (Publicações Europa-América), o francês Bernard Werber conseguiu grande projecção internacional, confirmando-a agora com o lançamento em Portugal de “Nós, os Deuses”, um livro para o grande público no qual se misturam aventura, suspense e também humor. Tudo se passa numa ilha denominada Éden, cuja capital se chama Olimpo. Da mesma editora é o clássico “Viagem a Tombuctu”, de René Caillé, onde se narra a viagem do autor que, em 1799, partiu para o Senegal, com 17 anos, morrendo em 1838 vitimado por esgotamento e por doenças várias contraídas durante a sua aventurosa viagem em caravanas, vestido de árabe e afirmando-se convertido ao islamismo. Trata-se de um livro ímpar no domínio da literatura de viagens, sendo, ao mesmo tempo, um objecto literário que supera essa dimensão. AO MORRER, no princípio deste ano, o padre Abbé Pierre deixou mais clara a importância que teve durante décadas na vida colectiva dos franceses, que nunca dexou de convocar para uma reflexão activa sobre a ostentação e a pobreza, sobre o egoísmo e a solidariedade. Por isso, durante mais de meio século, foi considerado um dos 10 franceses mais influentes, e fez por merecer esse lugar. Agora surge em Portugal “Porquê, Meu Deus?” (Dom Quixote) o seu verdadeiro testamento espiritual e também um poderoso olhar sobre a condição humana e as suas mais profundas tensões e contradições. O fundador do Movimento Emaús, neste longo texto de reflexão, produzido em colaboração con Fréderic Lenoir, partilha com os leitores inquietações e meditações em que mesmo os não crentes terão facilidade em rever-se, pois é este o discurso da solidariedade e da esperança num mundo menos injusto e mais tolerante. NINGUÉM TEM DÚVIDAS de que Freddie Mercury, desaparecido aos 45 anos, vítima de sida, foi uma das vozes e das presenças mais marcantes de toda a história do pop/ rock, que enriqueceu com o seu talento e com a sua voz única. Mercury não queria ser apenas uma estrela, aspirava a ser uma lenda, e pode dizer-se que o conseguiu ainda em vida e que a morte lhe ofereceu de imediato o patamar da posteridade. “Freddie MercfuryAuto-Retrato”, da Campo das Letras, é uma viagem fascinante pela história dos “Queen”, de que foi o líder natural e também sobre a ascensão do cantor à condição de mito, ainda em tempo de vida. Este livro é de consulta e leitura fundamental para quem quiser saber mais sobre Mercury e sobre a banda que ajudou a fundar e à qual conferiu uma projecção que vai muito para além de modas e fugazes ciclos de gosto. Profusamente ilustrado, a este livro só lhe falta ter música, mas é sempre dela que nos fala e do talento de quem a fez e interpretou. Também da Campo das Letras é o excelente “Andanças com Heródoto”, do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski, recentemente falecido e que, com uma notável carreira como correspondente de guerra, e não só, deixou uma obra cimeira no quadro do jornalismo contemporâneo. Neste livro, o autor revisitou lugares mencionados na obra do grego Heródoto, apontado como o fundador da historiografia, comparando a realidade antiga com a contemporânea, nas terras do Médio Oriente. Kapuscinski assistiu a mais de três dezenas de revoluções e foi quatro vezes condenado à morte em teatros de guerra. Da mesma editora é “Salmos-Versão Século XXI”, do Padre Mário de Oliveira, que reinventa textos fundadores do cristianismo à medida dos grandes desafios e problemas que a humanidade hoje enfrenta, deixando, como sempre, o testemunho de coragem de alguém que, tendo pago o preço elevado da sua exigência ética e cívica, nunca aceitou ver a Igreja Católica com o olhar da resignação, da acomodação e da indiferença perante a pobreza e a injustiça social. PARA QUEM GOSTA do autor e do género, do seu humor sempre certeiro e oportuno, recomenda-se o nº3 de “Mafalda”, do argentino Quino, sempre actual. I Junho 2007 TempoLivre 55 BOAVIDA A R T E S CARTOON E ESCULTURA SEM LIMITES João Vaz de Carvalho, cartoonista e ilustrador, expõe, na galeria Trema, os seus mais recentes trabalhos de pintura . A Galeria Cubic apresenta esculturas e desenhos de Rui Matos I Rodrigues Vaz A exposição que João Vaz de Carvalho (Fundão, 1958) apresenta, até 9 de Junho, na galeria Trema, em Lisboa, merece bem uma visita. São pseudo-cartoons cheios de significações, a denunciar, por um lado, a sua profissão de cartoonista e ilustrador de reconhecidos méritos, mas, por outro modo, a dignificar a independência da obra de arte, porque o que é preciso é reformar tudo e tudo pôr em causa, pois o que interessa é avançar pois não há limites para a arte. Até 15 de Junho, igualmente em Lisboa, a Galeria Cubic apresenta esculturas e desenhos de Rui Matos. “Histórias Incompletas”, título da mostra, vem revelar um artista (Lisboa, 1959) a desabrochar de potencialidades e pleno de preocupações sobre o homem e o mistério da vida, usando como pretexto os cânones do Renascimento, que transforma quase magicamente em imagens de grande impacto visual. I 56 TempoLivre Junho 2007 Em cima, escultura de Rui Matos e, em baixo, acrílico de João Vaz de Carvalho BOAVIDA M Ú S I C A S «FAFÁ AO VIVO» Com alma limpa e espírito livre Do infindável alfobre musical do Brasil, acaba de nos chegar o CD “Fafá de Belém ao Vivo”, uma excelente síntese de mais de trinta anos de carreira de uma artista quase sempre injustamente olhada de soslaio pela crítica “mais exigente” e preconceituosa. I Victor Ribeiro G ravado durante dois espectáculos efectuados no Teatro da Paz, na capital do Pará, Belém, terra natal da cantora, este trabalho discográfico integra 12 dos mais conhecidos temas do repertório de Fafá e mais duas canções registadas em estúdio, em jeito de “faixa bónus”: “História de Amor”, de Danny Da- 58 TempoLivre Junho 2007 niel e Rafael Ferro e “Brilho Dental” de Carlos Tê e Rui Veloso. Refiramse ainda as participações especiais de Mariana Belém e Walter Bandeira. E se destaques há que fazer, assinalem-se “Raça”, Sedução” e “Maria Solidária”, de Milton Nascimento e “Vermelho”, de Chico da Silva”, uma das cantigas que mais terá contribuído para a popularidade de Fafá em Portugal. Fafá tem construído a sua carreira a pulso, algo à margem dos circuitos dominantes do Rio de Janeiro ou de São Paulo, mergulhando no Brasil profundo, indo lá, onde mais ninguém se atreve, por comodismo ou reserva intelectual. Fafá impressiona e conquista quem a vê e ouve porque enfrenta o mundo com alma limpa, espírito livre, gargalhada “inconveniente” mas genuína e tudo isso, nos tempos que correm, não é “socialmente correcto” e muito menos “culturalmente” suportado. No palco, Fafá quase não representa, limita-se a ser quem é, como qualquer um dos outros que está ali, mais em baixo, à sua frente para a ouvir e aplaudir, quer se apresente num casino, quer actue num auditório do mais remoto interior. A cantora afirma: “Desde sempre a música me salvou… me salvou de ser medíocre, de ficar limitada, de não falar o que sentia. Sou tímida, embora não pareça. Sou daquele tipo que faz marola pra não deixar ver o tamanho do barco. Por protecção, pura protecção”. Louvemos tal timidez, ouçamos “Fafá de Belém ao Vivo” e constatemos que, passados mais de trinta anos de carreira, ela é uma das mais genuínas intérpretes da Música Popular Brasileira. DA WEASEL COM “AMOR, ESCÁRNIO E MALDIZER” Passados quase 15 anos de existência, os “Da Weasel” acabam de lançar um 6º álbum de originais, com o título genérico “Amor, Escárnio e Maldizer”. Nunca a música rap nacional foi tão longe, na forma e no conteúdo. Num total de 19 temas, intervêm, além dos elementos do grupo, Bernardo Sassetti, José Luís Peixoto, Atiba, Rui Massena, Orquestra Sinfónica de Praga, “Gato Fedorento”, Buraka Som Sistema, Simão Sabrosa e Vikter Duplaix. Os mais “ortodoxos” porão em causa, por certo, a heterodoxia do mais recente trabalho discográfico de um grupo histórico, no que ao rap em português concerne. Todavia, “o mundo pula e avança”, também por acção de gente que, como os “Da Weasel”, não se deixa extasiar com o sucesso. Ouve-se “Amor, Escárnio e Maldizer” e apercebemo-nos rapidamente de que há ali muita reflexão, grande empenho e imenso trabalho. Por fim os textos, a força da palavra que está na origem da música rap mais genuína e que os “Da Weasel” continuam a praticar, atentos e indignados. E isto assume sobeja importância, num momento em que pouco se ama o próximo, muito se escarnece as ideologias e preocupantemente se maldiz do exercício da cidadania. Ouvir os “Da Weasel” dá que pensar. E ainda bem. I Junho 2007 TempoLivre 59 BOAVIDA N O PA L C O «Namanha Makbunhe» no Trindade UM MACBETH AFRICANO O Teatro Nacional D. Maria II apresenta, no Trindade, até final de Junho, a partir de Macbeth de William Shakespeare, a peça Namanha Makbunhe , encenada por Andrzej Kowalski. I Maria Mesquita O espectáculo é inteiramente representado por actores africanos, que se deslocaram a Portugal, da Guiné, para interpretar a história da ascensão e queda um guerreiro do Mali. Namanha é um homem que vai sucumbir à ambição e sofrer as consequências. “Macbeth” é para “Namanha Makbunhe” apenas o ponto de partida, a base da estrutura dramática e poética para um espectáculo profundamente africano. Desafio maior é o da reflexão e valorização das características universalistas do texto clássico, centrando-o aqui em torno de três problemáticas transversais: A dualidade dinâmica da natureza humana (constante luta entre bem e mal); A atracção fatídica pelo poder e o Homem como um elemento de um todo transcendente e universal que pode, com as suas acções, contribuir decisivamente para a sua harmonia ou o seu perigoso desequilíbrio. Este projecto foi despoletado originalmente, e até certo ponto “inspirado”, por uma cadeia de acontecimentos vividos recentemente na Guiné-Bissau mas, rapidamente, ultrapassou a adaptação simples à realidade histórica, cultural e tradicional desse país para se tornar numa transposição, bem mais complexa, de um “Macbeth” europeu para o universo africano. Em África, o sagrado e o místico têm uma presença particularmente forte e interveniente na vida e acções das pessoas e este facto provoca, por vezes, que decisões e escolhas relativamente simples do ponto de vista eurocêntrico, no domínio da ética e da moral, ganhem aqui uma densidade dramática, frequentemente insuspeita e bastante elevada. O que é “dramático” para um europeu pode não o ser para um africano e vice-versa. O contexto é em África, como na Europa, parte integrante da compreensão das atitudes e valores manifestados e a sua recriação, ainda que muito parcial, é parte integrante da “chave” para a sua leitura. Um contexto que é cultural e de enquadramento mental, seguramente, mas, é também físico e material. Por isso, “Namanha Makbunhe” recria em termos plásticos e sonoros, climas e atmosferas de uma outra realidade, através da cor e das formas, da luz e da sonoridade de floresta, dos ritmos e dos cheiros. NA BARRACA “DARWIN E O CANTO DOS CANÁRIOS CEGOS” Segundo o seu autor, o dramaturgo brasileiro Murilo Dias César, “Darwin e o Canto dos Canários Cegos”, em cena, até final de Junho, no espaço da Barraca, no Largo de FICHAS TÉCNICAS MACBETH Sanca, Ilesa Afonso da Costa, Jorge “DARWIN E O CANTO Texto: William Shakespeare; Adaptação e Quintino Biague, Mário Spencer, Mussa DOS CANÁRIOS CEGOS” Encenação: Andrzej Kowalski; Camará, Sofia Laura Rodrigues, entre Texto de Murilo Dias César; Versão, Dramaturgia: Luís Mourão; Cenografia: outros; Fotografia: Augusto Baptista; Dramaturgia e Encenação: Hélder Costa; Leszek Madzik; Figurinos: Esmeralda Participação: ”OS FIDALGOS” – Guiné- Elenco: Luís Thomar, Susana Costa, Sérgio Bisnoca; Coreografia: Fernando de Pina; Bissau; Colaboração: ”ACTA” – A Afonso; Interpretação: Albino Djata, Amélia da Companhia de Teatro do Algarve; Produção: Adereços e Figurinos: Luís Thomar; Silva, Bia Gomes, Braima Galissa, Djamila Teatro Nacional D. Maria II. 4ª a Sáb. Luminotecnia e Sonoplastia: José Carlos Vieira, Domingos Gomes Marques, Helena 21H30 Dom. 16H00 Pontes. 60 TempoLivre Junho 2007 “Darwin e o Canto dos Canários Cegos” e, em baixo, “Casa de Bonecas” Santos (Lisboa), aborda o intenso conflito entre o célebre cientista e sua Teoria da Evolução das Espécies. Após sua célebre viagem de pesquisa científica, de cinco anos, em volta do mundo, a bordo do Beagle, Darwin foi acometido de uma estranha doença que, até hoje, os seus biógrafos discutem se teria sido de ordem física ou psicológica. Emma Darwin, a esposa, utilizando intuitivamente (a teoria freudiana somente apareceria no século seguinte) o método psicanalítico de interpretação dos sonhos e alucinações, “investiga” as causas dessa doença misteriosa que acometeu seu marido até o final de sua vida. Com aguda inteligência, muita perseverança e realizando um trabalho quase “detectivesco”, Emma consegue desvendar uma das causas ou a causa maior da doença de Darwin: o violento impacto emocional que o atingiu quando, durante sua passagem pelo Brasil, tornou-se o acidental espectador de um terrível crime, ocasionando-lhe violento trauma, que o atormentou durante toda sua vida. Para o encenador da peça, Hélder Costa, a obra de Murilo Dias César retrata de modo eloquente os tempos difíceis deste nosso quotidiano: Darwin, o genial cientista a quem Marx dedicou o 1º volume de “O Capital”, tinha razão quando receava o impacto da sua teoria sobre a origem das espécies. Não teve a morte de Giordano Bruno nem sofreu as perseguições e humilhações de Galileu, Newton, Lamarck e tantos outros, mas foi achincalhado, desprezado, e ainda hoje há quem o considere um sinistro “anti – Cristo”. Neste novo milénio, denuncia o encenador e director de A Barraca, algo de surpreendente está a acontecer: o reaparecimento do Criacionismo! Os milhares de estudos que acabaram por provar que os seres vivos existiam devido a mudanças, transmutações, evoluções, e tudo tinha sido criado por fenómenos físicos, materiais, foram miraculosamente enterrados na poeira do tempo e substituídos por um acto misterioso, inacessível, não comprovável, de um Deus desconhecido. AINDA EM CENA: “CASA DE BONECAS” “Casa de Bonecas” de Ibsen, da Companhia de Teatro de Sintra/ Chão de Oliva, em cena até 24 de Junho (quinta a sábado 21,30h; domingo 16h), dá continuidade ao “Roteiro da Intemporalidade” iniciado em 2005 com Strindberg, que continua agora com Ibsen e terminará em 2008 com Tckekov, autores fundamentais para a compreensão do teatro moderno. “JESUS CRISTO SUPERSTAR” Da autoria da mais célebre dupla de autores de grandes produções musicais mundialmente conhecidas, Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, a versão portuguesa de Jesus Cristo SuperStar, de Filipe Lá Féria, teve estreia nacional no Rivoli (Porto), onde continua em cena durante o Verão. Com um elenco de 54 actores, cantores, bailarinos e músicos, na sua maioria nortenhos, o espectáculo rodará por outras cidades portugueses. Junho 2007 TempoLivre 61 BOAVIDA CINEMA EM CASA PARIS, PARIS! I Sérgio Alves C apital cultural europeia durante séculos, Paris resiste, no cinema, à concorrência de outras grandes metrópoles urbanas. Realizados na ‘cidade luz’, quatro recentes (2006) bons filmes MARIA ANTONIETA Marie Antoniette impressiona pela criação fiel dos espaços físicos e humanos (“quadros vivos”). E a banda sonora tem um papel fulcral na narrativa: cada quadro, ou sequência, tem um acompanhamento sonoro próprio, a exprimir as emoções, visíveis ou discretas, da Rainha, do Rei e demais nobres figuras de Versalhes. O filme retrata a chegada e estadia da princesa austríaca na corte e a sua queda e morte após a Revolução de 1789. O perfil histórico da rainha é controverso, mas Sofia Coppola optou por um retrato mais intimista, ao acentuar, num ambiente de ostentação e luxo, a imagem de desespero e solidão de Maria Antonieta. No fundo, uma bela metáfora sobre o tempo actual. TÍTULO ORIGINAL: Marie Antoniette; REALIZAÇÃO: Sofia Coppola; COM: Kirsten Dunst, Jason Schwartzman, Rip Thorn, Asia Argento, Marianne Faithfull; EUA, 62 TempoLivre Junho 2007 120m, cor, 2006; EDIÇÃO: Sony Pictures atestam o fascínio que Paris ainda exerce nos criadores da 7ª arte. Marie Antoniette, da norte-americana Sofia Coppola, Em Paris, Paris Je T’Aime (actores e realizadores de diversas nacionalidades) e Klimt, do chileno Raoul Ruiz, são as nossas escolhas ‘parisienses’ para o início do Verão. E Boas Férias, mesmo em Paris… Joana Preiss, Marie-France Pisier; França, 91m, cor, 2006; EDIÇÃO: Atalanta Filmes EM PARIS “Em Paris” é um drama familiar assinado por Christophe Honoré. A história de dois irmãos: um mais novo e despreocupado (Louis Garrel), e o outro, mais velho e em depressão amorosa (Romain Duris), regressado à casa paterna. O filme acompanha os episódios da vida destes irmãos, a presença do Pai (Guy Marchand) e a ausência da Mãe (Marie-France Pisier), as várias raparigas que o mais novo conhece e Anna, excompanheira do mais velho. Segundo filme do realizador a estrear em Portugal, “Em Paris” nasceu dum desafio lançado pelo produtor Paulo Branco e é, indiscutivelmente, uma bela história para (re)ver. Dans Paris; Christophe Honoré; COM: Romain Duris, Louis Garrel, Guy Marchand, TÍTULO ORIGINAL: REALIZAÇÃO: PARIS JE T’AIME Projecto ambicioso, “Paris, je t’aime”, pretende dar um pequeno retrato de cada um dos 18 bairros da capital francesa a partir do olhar de diferentes realizadores. O resultado é um conjunto de 18 histórias com um fabuloso elenco internacional que inclui, entre muitos outros, Natalie Portman, Willem Dafoe, Fanny Ardant, Elijah Wood, Bob Hoskins, Nick Nolte, Juliette Binoche, Gérard Depardieu e Steve Buscemi. Paris je t’Aime; REALIZAÇÃO: entre outros, Gus Van Sant, Wes Craven, Alexander Payne, Joel e Ethan Coen, Walter Salles; OUTROS ACTORES: Natalie Portman, Willem Dafoe, Fanny Ardant, Elijah Wood, Bob Hoskins; França, 120m, cor, 2006; EDIÇÃO: Lusomundo TÍTULO ORIGINAL: KLIMT Um retrato do célebre pintor austríaco Klimt, 18621918, com destaque para o período (início do século XX) em que as suas obras têm uma forte componente erótica. Criticado em Viena e adulado em França, Gustav Klimt (John Malkovich), já gravemente doente, recebe a visita do amigo e discípulo Egon Schiele (Nikolai Kinsky) e viaja até Paris (1900), onde recebe a medalha de ouro da Exposição Universal. As mulheres são para o celebrado artista fonte de inspiração e prazer. Conhece em Paris uma bailarina sedutora (Saffron Burrows), mas é vigiado pelo Secretário de Estado (Stephen Dillane)… Klimt; Raoul Ruiz; COM: John Malkovich, Veronica Ferres, Stephen Dillane, Nicolai Kinski, Saffron Burrows; França, 94m, cor, 2006; EDIÇÃO: Atalanta Filmes TÍTULO ORIGINAL: REALIZAÇÃO: BOAVIDA FILMES COM MEMÓRIA A BARRAGEM DAS TRÊS GARGANTAS Eis uma prodigiosa metáfora cinematográfica sobre a entrada (globalizadora) da China no futuro. Inquietante e fascinante I Fernando Dacosta A história do filme, entre nós intitulado «Natureza Morta», é simples mas significativa: no Rio Yang -Tzé, o maior do País, está a ser ultimada a célebre barragem das Três Gargantas. Trata-se do mais gigantesco empreendimento do género no mundo, pensado e decidido no tempo de Mao-Tsé-Tung, o Grande Líder do século XX, mas só agora concretizado – isto é, no novo regime de um País em marcha acelerada (não marxista) para a hegemonia mundial. A desmesura do projecto não conhece, na simbologia que o impulsiona, limites. Milhares de pessoas vêem-se deslocadas, cidades com mais de dois mil anos (caso de Fengjie) submersas. Tentando, antes de tal acontecer, encontrar familiares de quem se haviam separado, alguns regressam-lhe. Dois deles protagonizarão (os soberbos actores Han Sanming e Zhao Tao) essa procura, procura entre memórias em ruínas e cenários em apocalipse. Tratam-se de um mineiro migrado 16 anos antes e de uma enfermeira, ausente há dois, que buscam, em aquoso delírio, reencontros sem precisão nem realidade, entre um cenário a desaparecer lentamente e outro, outros, a emergir magicamente. Ao revolverem a natureza mudando-a dessa maneira («internacionalizando-a», descaracterizandoa), os construtores da barragem submergem, porém, e para sempre, as referências, as memórias, os sentimentos, as realidades, os desejos das populações que se lhe ligavam. Significativo disso tornam-se as constantes sequências dos imparáveis demolidores de prédios, com as suas picaretas e maços a lembrarem emudecidos robots em paisagens crepusculares. Uma terra sem alma (com outra alma) surgirá depois em horizontes futuristas sobre o esquecimento de uma super-civilização milenar a assumir-se superpotência em acto. As massas, essas, mudam e mudam- se imperceptivelmente, a sua ilusão é tão volátil como a sua precariedade. O tempo do consumismo, do ter, do prazer sobrepor-se-á ao da miséria, ao da resignação, ao do sofrimento, reformulando-o sob novas formas, sob diferentes utopias. Veja-se, já quase no final, o lindíssimo plano do equilibrista avançando sobre um cabo metálico que, na contraluz da distância, liga dois gigantescos prédios – dois antigos sonhos, dois futuros destroços. Notavelmente realizada por Jia Zhang-Ke (autor de «Plataforma» e «O Mundo»), «Natureza Morta», a mais cara ficção chinesa rodada até hoje, foi galardoada com o Leão de Ouro do Festival de Veneza do ano passado. Os que a comungarem, em qualquer parte do mundo, guardarlhe-ão para sempre memória. As autoridades de Pequim perceberam, com inteligência e subtileza, que o cinema é-lhes um prodigioso veículo de divulgação de imaginários, estando a investir nele a fundo, a impô-lo internacionalmente, mesmo quando as questiona. I Junho 2007 TempoLivre 63 BOAVIDA À M E S A COMA PEIXE – PELA SUA SAÚDE O peixe, recurso alimentar de um povo que sempre conviveu com o mar, quase inesgotável na costa Portuguesa, tem cada vez mais adeptos. E as razões não são poucas. I Pedro Soares A proteína presente no peixe é de qualidade superior, com uma composição de aminoácidos muito equilibrada. Estes aminoácidos permitem que as células do nosso corpo se renovem constantemente, cresçam e se desenvolvam. Por curiosidade, peixes como a sardinha, possuem um aminoácido em excesso chamado lisina, o o qual se encontra em menor quantidade no pão. Juntar pão de qualidade e sardinha assada na brasa (com um caldo verde a acompanhar) é por isso uma opção nutricionalmente interessante. Fica-nos a dúvida, a sardinha por cima do pão é apenas uma 64 TempoLivre Junho 2007 questão de tradição e prazer ou existe algo mais profundo no nosso inconsciente animal que apela à sobrevivência e nos convida a fazer esta mistura, que é vantajosa para a saúde? Os peixes que habitam as nossas costas como a sardinha ou a cavala possuem ácidos gordos de grande qualidade, em especial poli e monoinsaturados. Estas gorduras presentes no peixe são constituintes imprescindíveis das membranas celulares, responsáveis, por exemplo, pelo desenvolvimento das células do cérebro das crianças. O peixe é de resto um alimento muito adequado para a alimentação das crianças, pois alia a sua fácil digestibilidade com um conjunto de vitaminas, como a vitamina D, e sais minerais muito importantes durante o crescimento. A sardinha, por exemplo, é uma boa fonte de fósforo, essencial para a formação do esmalte dentário, sem o qual não existem dentes saudáveis. Mas a generosa sardinha não se fica por aqui. Ainda nos oferece vitaminas do complexo B, iodo, potássio, ferro, zinco e selénio, importantes nos fenómenos de regulação metabólica e protectores do nosso organismo. Recentemente, diversos trabalhos científicos têm vindo a comprovar as vantagens das gorduras presentes nos peixes gordos como o atum, a sardinha ou a cavala na nossa saúde cardiovascular. A prática de actividade física regular ao longo da semana e uma alimentação equilibrada com a presença de peixe gordo rico em ácidos gordos do tipo “ómega-3” parecem ser factores importantes na regulação do colesterol, dos triglicerídeos e até na descida da pressão arterial. Ainda no que diz respeito à gordura da sardinha e ao seu valor energético total, nunca é de mais realçar, que 100g de sardinha fornecem aproximadamente 220 Kcal, menos do que idêntica quantidade de um pastel de nata, um queque ou um qualquer chocolate, que pode chegar às 500 Kcal por 100g. Por outro lado, se observarmos a quantidade de gordura saturada (a mais nefasta para a nossa saúde) fornecida por 100g de sardinha (2,7g) quando comparada com aquela fornecida por 100g de carne de vaca (10,2 g) também facilmente chegamos á conclusão da extraordinária qualidade deste produto. Mas as boas notícias não ficam por aqui. O peixe é também um produto alimentar extremamente versátil, podendo integrar diversos preparados culinários combinando bem com o azeite e os hortícolas. E hoje sabemos que uma alimentação equilibrada onde estejam presentes hortícolas variados, frutos, pão de mistura e cereais integrais, grão, feijão, azeite, peixe e uma pequena quantidade de produtos lácteos é a melhor forma de investir na sua saúde. Um padrão alimentar deste tipo, muito frequente nos países mediterrânicos permite reduzir o risco de sofrer de obesidade, diabetes, hipertensão, e colesterol elevado como o comprovam diversos estudos científicos. Peixe, Verão e Saúde estão pois na mesma “onda”. Que os aproveitemos da melhor forma. I BOAVIDA S A Ú D E “TINHA VERGONHA DE FALAR…” Não é primeira vez que me confronto com a dificuldade que os doentes sentem em falar comigo sobre a incontinência urinária. Naquele dia, depois de aparentemente termos terminado a consulta, a Sra. M. ficou sentada em silêncio e pareceu-me embaraçada. I M. Augusta Drago P erguntei-lhe se tinha mais alguma coisa para me dizer e foi então que contou que andava já há algum tempo a perder urina e que, às vezes, nem dava por isso. Quando lhe perguntei porque não se tinha queixado há mais tempo, respondeu-me: “tinha vergonha de falar com a doutora sobre esse assunto…”. As hesitações que tenho sentido da parte dos doentes quando se trata de falar de incontinência urinária são comuns a homens e mulheres. Interrogo-me se consideram este problema como um problema normal da idade e por isso, talvez, no seu entender, não valha a pena falar no assunto ou se acham que não há tratamento que lhes valha. Embora a Sra. M., com os seus 62 anos de idade e mãe de quatro filhos, me sugerisse de imediato um diagnóstico, prudentemente investiguei outras causas de incontinência urinária com as características da sua. É correcto pensar que a incontinência urinária acontece frequentemente às pessoas menos jovens. É consequência da perda de tonicidade dos músculos do períneo – a região do corpo onde se situa o aparelho urinário. Mas já não é correcto pensar que se trata de uma situação irreversível. A perda involuntária de pequenas quantidades de urina pode ser provoAndré Letria cada pelo aumento da pressão intraabdominal. Quando a pessoa faz um esforço – quando ri, tosse ou espirra, aumenta a pressão dentro do abdómen a qual vai comprimir a bexiga. Se o esfíncter (o músculo que controla a saída da urina da bexiga) tiver perdido a capacidade de se contrair, a urina vai saindo em pequenas quantidades e quase sem se sentir. Esta situação é frequente nas mulheres depois da menopausa, por carência de estrogénios, e também nas que tiveram múltiplos partos ou sofreram intervenções cirúrgicas pélvicas, como no caso abordado. O mesmo pode acontecer nos homens que foram operados à próstata, bexiga ou uretra. Há ainda as pessoas que referem uma enorme vontade de urinar com uma urgência tal que apenas podem esperar alguns minutos. A causa mais frequente neste grupo etário é o aumento de actividade da bexiga. Pode também ser uma infecção urinária ou uma obstrução das vias urinárias que necessita de ser investigada. Há ainda outras causas de incontinência urinária como as psicológicas e as malformações congénitas, que são menos frequentes e não cabem no âmbito deste artigo. Para as causas mais frequentes, existem tratamentos cada vez mais eficazes, pelo que desafio os doentes com este problema a falarem abertamente aos seus médicos de família. Na incontinência de esforço (ao tossir, espirrar, etc.) o diagnóstico é feito com a história clínica e a observação. Quando se suspeita de hiperactividade da bexiga, é necessário fazer exames para avaliar a evolução da pressão dentro da bexiga e pode também ser necessário estudar a curva do fluxo urinário. Estes casos são normalmente referenciados ao urologista para estudar o tipo de incontinência e determinar o melhor tratamento. O tratamento para esta doença tem sempre que ser avaliado de acordo com as características da cada doente. Pode acontecer que o tratamento se resuma a aconselhamento sobre medidas simples para alterar comportamentos menos correctos. Os doentes podem curar-se ou melhorar consideravelmente o controlo sobre a bexiga se criarem o hábito de urinar a intervalos regulares, como de 22 ou 3-3 horas. Também se aconselha os doentes a não beberem café e outras bebidas com cafeína, porque essa substância estimula a bexiga. Devem beber água, cerca de 1,5 litros por dia para diluir a urina. A urina concentrada é outro factor de irritação da bexiga. Urinar frequentemente e a intervalos regulares pode prevenir as situações de grande urgência. Também os exercícios musculares podem ser de grande utilidade. São indicados para as pessoas que têm os músculos da bacia fracos. Consistem em contracções voluntárias e repetidas destes músculos várias vezes por dia, o que contribui para os tonificar e aprender o seu uso correcto. I medicofamilia@clix. Junho 2007 TempoLivre 65 BOAVIDA TEMPO INFORMÁTICO O PODER DA IMAGEM Cada vez mais a imagem digital se afirma como indispensável na utilização dos meios informáticos como técnica de comunicação. Também aqui é bem real que “uma imagem vale mil palavras”. E portanto se a utilizarmos em vez da simples fotografia estática ou a incluirmos na comunicação estaremos a dar mais impacto e maior poder ao contacto com o mundo que nos rodeia. I Gil Montalverne C âmaras para Internet já ninguém dispensa. Longe vai o tempo dos ”chats” ou conversações pela internet apenas trocando mensagens escritas no teclado e visíveis no monitor com quem falávamos do outro lado do mundo. Agora os chats utilizam as Webcams que permitem a utilização da voz e a transmissão da nossa imagem para aqueles com quem falamos enquanto recebemos deles no nosso monitor o mesmo efeito. São muitas as marcas, os modelos e as respectivas capacidades e qualidade da imagem. As marcas vão melhorando e inovando nos seus modelos, tornando-se cada vez mais perfeitas. Sem qualquer dúvida e sem receio de exagerarmos que ficámos estupefactos quando na última apresentação dos produtos da 66 TempoLivre Junho 2007 Logitech nos colocámos na frente da QuickCam Ultra Vision. A nitidez da imagem estendendo-se na profundidade de campo em tudo o que estava para trás de nós, a imediata correcção de luminosidade de acordo com o nosso ambiente parecia inacreditável. Afinal estávamos perante algo de novo que era a utilização de um conjunto de cinco lentes de vidro de grande precisão. Sejam quais forem as condições a Tecnologia RigtLight2 optimiza de forma inteligente a respectiva captação adaptando-se mesmo a condições de luz difusa. O microfone incorporado é de qualidade superior, o formato cilíndrico com dois botões no topo (um para activar a janela e outro para fotografar), um anel que se acende à volta do logótipo Logitech se a WebCam estiver activa, tudo foi pensado, nas duas versões cinza e preto, para me- lhor comunicar. Damos até agora a pontuação máxima e por isso a mostramos aqui. MOLDURAS DIGITAIS Molduras digitais estão a substituir as molduras tradicionais em nossas casas. Aumentam os fabricantes, pois começam a ter grande procura no mercado. Como tudo o que é digital fascina quem as vê. Vão exibindo a intervalos regulares fotografias que tirámos em família em determinada ocasião ou de um parente, da mulher, do marido, dos filhos, etc. ou as que fizemos durante uma viagem. A sequência e a duração de cada imagem na moldura são configuradas pelo utilizador e a diferença está na qualidade de reprodução e no design da própria moldura. Trazemos aqui, apresentada pela CIGEST a AgphaPhoto AF5070 (Sagem) que até nos delicia com leitor de MP3, relógio, calendário e alarme. Tendo 24 por 17 cm, a música em altifalantes integrados, pode ou não acompanhar a sequência das imagens em slideshow a intervalos reguláveis ou vídeo, num ecrã LCD de 7 polegadas com uma resolução de 480 por 234 píxeis, o que é francamente agradável. Com 180 megas de memória, recebe vários tipos de cartões (SD, MS, MMC) e também através de uma ligação USB. PVP: 129 Euros (Tel:213616310) .I [email protected] BOAVIDA A O V O L A N T E C4 PICASSO: O CARRO DO ANO O Grand C4 Picasso foi eleito o Carro do Ano de 2007, recebendo o Troféu Volante de Cristal. I Carlos Blanco O s membros do júri renderam-se ao pára-brisas prolongado, ao tecto panorâmico em vidro, ao conforto, habitabilidade, performance das motorizações e a todos os outros argumentos que fazem do Citroën Grand C4 Picasso um carro de eleição. Como uma boa ideia nunca vem só, depois do êxito do Grand C4 Picasso 7 lugares, a Citroën lança agora o C4 Picasso de 5 lugares. Uma proposta com um estilo sedutor e dinâmico que privilegia o prazer de condução e o conforto. Com o seu carácter bem vincado, traz-nos um prazer de condução aliado a uma habitabilidade e espaço interior de referência e uma bagageira de 576 L. Ao serviço deste espaço encontra duas motorizações Diesel 1.6 e 2.0 HDi de elevada performance e economia, e ainda a opção de uma caixa manual pilotada de 6 velocidades com comandos no volante, ou uma caixa automática de 6 velocidades. Com o seu sistema de suspensão pneumática, com controlo de altura ao solo, associado a uma escolha de motorizações de elevado desempenho, o Citroën C4 Picasso reserva sensações de condução que não param de surpreender. Em cidade ou na estrada, o conforto, a segurança e o prazer de condução são garantidos. O Grand C4 Picasso passa das medidas quando o assunto é conforto e habitabilidade. São 4,59 m de comprimento, 1,83 m de largura e 1,66 m de altura, apresentando um espaço interior totalmente optimizado. Com uma disposição de três filas de bancos, este monovolume acolhe na perfeição sete passageiros. Para além dos notáveis níveis de conforto, sublinha-se também o prazer inesgotável de condução. Equipado com uma nova Caixa Manual Pilotada de 6 velocidades, o Grand C4 Picasso apresenta ainda duas motorizações: Diesel HDi de 2 litros e 138 cv e 1.6 HDi 110 cv, ambos com Filtro de Partículas (FAP). A Caixa Manual Pilotada de 6 velocidades fornece ao Grand C4 Picasso um alto nível de desempenho, aumentando a rapidez e a qualidade das passagens de caixa e reduzindo o consumo e emissões de CO2. I Junho 2007 TempoLivre 67 BOAVIDA PA L AV RA S D A L E I VENDA ILEGAL DE CASA DE MORADA DE FAMÍLIA O marido de minha irmã abandonou a casa (pertença do casal), já há anos, para se juntar com uma amante. Eram casados com comunhão de bens e têm dois filhos (um rapaz e uma rapariga). Foi obrigado pelo tribunal a custear parte das despesas dos estudos dos filhos. Em tempos ele, com promessas e palavras doces conseguiu que minha irmã assinasse um documento de venda de um terreno de muito valor. Ela nunca viu a cor do dinheiro. Mais tarde ele exigiu o divórcio litigioso. Na sentença ficou esclarecido que ela tinha o direito de viver na casa, e ele não podia entrar nela sem sua autorização. Ele nunca mais bateu à porta. Agora comunicou à ex-esposa (minha irmã) que ia pôr a casa à venda em leilão. Ele ainda deve ao Banco parte do empréstimo da casa. O lucro da venda seria para os dois. Ora ela anda em tratamentos no IPO do Porto (quimio e radioterapia). Está muito debilitada. Ele pode pôr a casa à venda sem autorização dela? Que pode ela fazer para não ficar na rua, pois não tem dinheiro para ombrear com ele no tal leilão? Desde já a minha gratidão pelo esclarecimento. ? Judite Pinho Martins Oliveira Paiva – Sócia 487159-Lisboa I servindo de título contra terceiros que tentem, de algum modo, prejudicar o direito da sua irmã. Estas ideias decorrem do artigo 1413º do Código de Processo Civil, e sirvo-me de uma noção processual para lhe dizer que o ex-marido não tem qualquer legitimidade para propor qualquer tipo de venda sobre a casa de morada de família; não só porque há uma sentença que não o indica como proprietário, mas também porque, mesmo que não houvesse sentença, saiba a leitora que a nossa lei atribui uma especial protecção à casa de morada de família, carecendo do consentimento de ambos a venda dessa mesma casa, de acordo com os artigos 1682º-A e 1682º-B, do Código Civil. Logo, deve a leitora enviar de imediato à leiloeira uma cópia da sentença e uma carta registada, explicando os motivos pelos quais a leiloeira não pode efectuar quaisquer actos que promovam essa venda a pedido do ex-marido, incorrendo em responsabilidade se os efectuar. Uma outra precaução a tomar é intentar uma providência cautelar que impeça a venda do imóvel pelo ex-marido, no caso da leiloeira ir avante com as suas intenções. Finalmente, uma breve palavra relativa ao produto da venda do terreno. A carta é omissa quanto ao momento em que a venda se fez; por isso, não sei se prescreveu o direito a agir judicialmente para obter a parte que lhe cabe do lucro da venda. No entanto, e para facilitarmos a leitora, admitamos que ainda está dentro do prazo de agir judicialmente. Se tiver a prova da venda do terreno comum, e ainda provar que nunca recebeu a parte da venda a que legalmente tem direito, deve intentar uma acção de condenação contra o marido. Aconselho-a a falar com um advogado. I Toda a correspondência deve ser dirigida à Redacção da «Tempo Livre» Pedro Baptista-Bastos A situação acima descrita, a todos os títulos condenável, é ilegal e não pode ser efectuada. Vejamos: se uma sentença judicial atribui a casa de morada de família à mulher, significa que a propriedade da mesma – salvo outro entendimento judicial – foi atribuída a quem a requereu ou a quem o Tribunal entendeu que devia ter a sua propriedade, ao caso, a sua irmã. A fixação dessa propriedade da casa de morada de família está registada, 68 TempoLivre Junho 2007 André Letria CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas Horizontais: 1-Vestuário; Gaita; Interpretar o que está escrito. 2-Substância filamentosa segregada pela larva do sirgo (bicho-da-seda); Poeta e cantor ambulante entre os Gregos; Farinha grossa. 3-Lento; Prejudica; Aguardente obtida da destilação do melaço depois de fermentado. 4Andais; Mau; Nado (fig.); Piedade. 5-Pref. de “modo”; Rebanho de animais de vários donos; Contr. de prep. “a” com o pron. “o”; Pref. de origem latina que exprime a ideia de “Aquém de”. 6-Unido; Semelhante; Casamento. 7-Condimento; Insignificante; Privilégio. 8Graceje; Que cultiva as vinhas. 9-Baroado; Ofereça. 10-Preguiça (Bras.); Unidade Monetária do Peru; Chancela; Principal. 11-Que não é real; “Amerício” (s.q.); Cabeleira. 12-Elemento de formação de palavras, de origem latina, que exprime a ideia de “asa”; Sitio muito aprazível (fig.);Aplicar. 13-Franco; Escudeiros; Indignar. 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Verticais: 12 13 SOLUÇÕES 1-Bicudo; Comum. 2-Aquelas; Herdade; Canoa estreita, de remos, leve e rápida, de uso nos desportos aquáticos. 3-Afirma; Paquenino (Bras) Minha. 4-Bálsamo; Agrega; Ela. 5-malucado; Barrete. 6-Horta; Cercado. 7-Vanaquíá; Macho; Andar; Acórdão. 8-Cólera; Acenos; Casamento. 9-Agregar; Parágrafo. 10-Arroxear; Serenidade. 11Estalajadeiro; Nado; Letra grega correspondente ao “P” latino. 12Herança; Bandeira. 13-Toca; Coragem: Atraso. 14-Escapado; Predicado. 15-Abundante; Fértil. Soluções (horizontais): 1-FATO; PÍFARO; LER. 2-SEDA;AEDO; RALA. 3-B; MOLE; LIXA; RUM. 4-IS; RUIM; REMO; DO. 5-COM; ADUÁ; AO; CIS. 6-ALIADO; PAR; BODA. 7-LARDO; VIL; FORO. 8-RIA; VITICOLA5 F. 9-B:M;BARONATOS; DE. 10-AÍ; SOL; SELO; MDR. 11-NOMINAL; AM; COMA. 12-ALI; EDEN; APOR; Z. 13-LEAL; AIOS; IRAR. Xadrez > por Joaquim Durão Embora de solução “comprida” esta composição datada de 1938 e de autoria de Alexandre Kakovin (Kharkov, Ucrânia, 15.08.1910), não é especialmente difícil, antes pelo contrário, mas não deixa de ser muito interessante. AS BRANCAS JOGAM E DÃO MATE EM 13 LANCES 70 TempoLivre Junho 2007 SOLUÇÕES O rei sobe em “escada” até participar activamente no mate, tema sempre de belo efeito. 1. Bb8 Rg1 2.Ba7+ Rg2 3.Rc7 h4 4.Rb6 Rg1 5.Rb5+ Rg2 6. Rc5 Rg1 7.Rc4+ Rg2 8.Rd4 Rg1 9.Rd3+ Rg2 10.Re3 Rg1 11.Re2+ Rg2 12.Bf2 gxf2 e 13. Tg8 mate. Do campeonato britânico de 2006, em Swansea: Nigel Davies – N. Thomas. Defesa Bogo – Indiana. 1.d4 e6 2.c4 Cf6b 3.g3 Bb4+ (O lance de Bogoljuboff, donde o baptismo da abertura) 4. Bd2 a5 5. Bg2 d6 6.Cf3 Bxd2+ 7.Dxd2 Cbd7 8. 0-0 0-0 9. Cc3 e5 10. e4 exd4 (10…., c6 11. Tad1 De7 seria mais prudente, mantendo a estrutura do centro) 11. Cxd4 Ce5 12.b3 Bd7 13.f4 Cc6 14. Cdb5 (Evitando trocas para tirar vantagem da superioridade espacial no centro) 14…. Te8 15.c5! (Rompendo o controlo do centro, o que é raro ver-se nesta defesa, em fase tão prematura) 15…, dxc5 16 e5! Cg4 17.Tad1 Bf5 18.Cd5 Tc8 19. h3 Ch6 20. Dc3 (Também forte para as brancas seria 20. g4 Be6 21.Cdxc7 Dxd2 22.Txd2 Ted8 23.Tfd1 Txd2 24. Txd2 Td8 25.Txd8+ Cxd8 26. Cd6 segundo Davies e M. Pein) 20…. Bd7 21.Dxc5 Cf5 22.Td3 b6 23.Df2 Txe5? 24.Tfd1 (24. fxe5 Cxe5 25.Tdd1 também seria decisivo) 24…. Te6 25.Cdxc7 Te7 26. Cd5 Te6 27. Cxb6 Tb8 e as pretas abandonam, sem esperarem a resposta óbvia 28.Txd7 Dxb6 29.Dxb6 Txb6 30.Td8+ Cxd8 31.Txd8+ seguido de mate. Viagens Turismo Social Nacional JULHO CIRCUITOS TSI 2277 - PALMA MAIORCA TSI 1747 - ROMÉNIA E BULGÁRIA 20 A 27 JULHO 05 A 12 JULHO Partidas: LISBOA/PORTO €780,00* Partida: LISBOA/PORTO €1115,00* TSI 2327 - ROQUETAS DEL MAR TSI 1417 - CAPITAIS NÓRDICAS E FIORDES DA NORUEGA ROTEIROS ECOLÓGICOS 07 A 15 JULHO Tsn 1847 - NA SENDA DO LOBO Partida: LISBOA €1630,00* Tsn 1807 - GIRO GASTRONÓMICO E ECOLÓGICO EM MAFRA E ERICEIRA 13 a 15/07/07 Partidas de: Viana do Castelo/Braga/Porto € 215,00* TSI 1467 - ENCANTOS DA CROÁCIA E ESLOVÉNIA TSI 2467 - ITÁLIA BELA E CRUZEIRO NA GRÉCIA E CROÁCIA 11 A 18 JULHO 12 A 22 JULHO Partida: LISBOA/PORTO €1330,00* Partida: LISBOA desde €1900,00* TSI 1627 - LA BELLA ITÁLIA 14 A 21 JULHO Partida LISBOA €1310,00* PRAIA Tsn 1597 - FÉRIAS EM ALTURA 07 a 14/07/07 Partidas de: Porto/Aveiro/Lisboa/Pragal € 599,00* Partida de: Setúbal - € 585,00* AGOSTO PASSEIOS DE 1 DIA Partidas: GUARDA/COVILHÃ/ PORTALEGRE €575,00* CRUZEIRO 06 a 08/07/07 Partidas de: Évora/Lisboa/Santarém € 220,00* 21 A 28 JULHO AGOSTO PRAIA TSI 2287 - PALMA MAIORCA TSI 1347 - SUIÇA FABULOSA E FLORESTA NEGRA 03 A 10 AGOSTO 14 A 21 JULHO Partida: LISBOA €780,00* Partidas: LISBOA/PORTO €1160,00* CIRCUITO TSI 1637 - LA BELLA ITÁLIA TSI 1497 - ROTEIRO DA ANDALUZIA SEVILLA/GRANADA/CÓRDOBA 11 A 18 AGOSTO 17 A 22 JULHO - AUTOCARRO Partida: LISBOA/PORTO/FARO €1210,00* 18/08/07 Partidas: LISBOA/SETÚBAL/FARO* €550,00* *Preço por pessoa em quarto Duplo Partidas: Lisboa € 55,00 p/pessoa TSI 1587 - INGLATERRA E ESCÓCIA Tsn 1837 CHALÉS E PALACETES DE CASCAIS 22 A 29 JULHO PRAIA COSTA BLANCA - BENIDORM Viagens Directas Turismo Social Internacional JULHO Partidas: LISBOA/PORTO/FARO €1240,00* PRAIA TSI 2387 - MARBELLA 07 A 14 JULHO Partidas: SANTARÉM/LISBOA/SETÚBAL €595,00* TSI 2267 - PALMA MAIORCA Procura um destino de férias? Não tem que ser um dilema, nós temos «Destinos» para toda a sua família! 06 A 13 JULHO MUSEUS TSI 2507 - MUSEUS DE ESPANHA BARCELONA 04 A 08 JULHO Partidas: LISBOA/PORTO €780,00* A nossa brochura de Autoférias 2007 Partida: LISBOA - €630,00* Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 Remeter para Clube Tempo Livre – LIVROS, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS CAMPO DAS LETRAS ANDANÇAS COM HERÓDOTO Ryszard Kapuscinski 232 pg. |14,70 (PVP) A obra relembra alguns acontecimentos políticos e históricos que o autor, jornalista, testemunhou nas suas viagens pela Índia, China, Ásia Menor e África. Embora possa parecer que o nosso mundo se distanciou do mundo de Heródoto, continua a ser verdade que compreender e aceitar o curso da história dos povos continua a ser tão difícil hoje como no tempo do autor grego. PEREGRINOS SEM FÉ Sérgio Luís de Carvalho 428 pg. |18,90 (PVP) Dois homens partem numa viagem entre Lisboa e Santiago de Compostela. Um é um médico humanista da Universidade de Coimbra, no ano de 1537; outro é um cantor lírico actual. A separá-los estão alguns séculos e os motivos da peregrinação: a um move-o o temor da Inquisição; o outro vai em busca de uma paixão moribunda. Contudo, e sem que o saibam, algo os une: as memórias do passado, a arte da música e da poesia e, sobretudo, a estranha descoberta de si mesmos. ETNA NO VENDAVAL DA PERESTROIKA Miguel Urbano Rodrigues e Ana Catarina Almeida 296 pg. |14.70 (PVP) O terramoto que ali mudou a vida é apresentado por estes dois autores, a última 74 TempoLivre Junho 2007 geração de portugueses que estudou nas universidades soviéticas. Um livro escrito a quatro mãos, ora na primeira ora na terceira pessoa, transcorrendo em cenários diferentes, de Kiev e Leninegrado à China e às ruínas da Pérsia antiga, numa atmosfera de tensa incerteza, marcada pela transformação de Etna numa mulher adulta para a qual o amor e a revolução são indissociáveis. COLIBRI VIOLÊNCIA E EURO 2004 A centralidade do futebol na cultura popular Pedro Sousa de Almeida 107 pg. | 7,25 PVP Partindo de uma investigação realizada durante o Euro 2004, o livro aborda o tema da transnacionalização da cultura e do espectáculo na relação entre futebol e a performance da violência, protagonizada por adeptos adversários. Para o autor, o Futebol atinge no nosso país uma importância maior do que em outras sociedades, sinalizando “o relativo empobrecimento da cultura popular portuguesa”, culpada por não ter tido a desenvoltura de criar “formas semelhantes de produção e consumo público”. VILA FRANCA DE XIRA Economia e Sociedade na Instalação do Liberalismo – 18201850 Graça Maria Soares Nunes 191 pg. | 12 (PVP) Um estudo sobre as mudanças ocorridas na actividade económica, essencialmente no que concerne à agricultura após a desestruturação do Antigo Regime, no concelho de Vila Franca de Xira. EDITORIAL PRESENÇA O PAPA DE FÁTIMA - A Vida de Karol Wojtyla Renzo Allegri 304 pg. |17,50 (PVP) Uma interessante biografia de João Paulo II, da autoria de um jornalista italiano e especialista em questões religiosas. Um trabalho pleno de pormenores desconhecidos, apresentanos um retrato humano e comovedor deste Papa carismático. O que distingue porém esta biografia reside no facto de a vida de Karol Wojtyla ser abordada à luz das revelações que a Senhora de Fátima fez aos três pastorinhos, revelações essas em que ele se terá reconhecido como um «enviado» para pacificar o seu século e restaurar a liberdade da fé. O MISTÉRIO DA PIRÂMIDE DE QUEIJO Geronimo Stilton 128 pg.| 8 (PVP) «Parto para o Egipto, onde atravesso o deserto a bordo de um dromedário e exploro a pirâmide de Quéops... Aqui, entre múmias, sarcófagos e hieróglifos, vou descobrir o segredo de um cientista que construiu uma misteriosa pirâmide cor de queijo!» Uma fascinante história para divertir os mais novos. EDITORIAL VERBO IMPOSTURAS ANTI-CRISTÃS Pe. Joseph-Marie Verlinde 328 pg. | 28,49 (PVP) Não é o Código Da Vinci que motiva a tomada de palavra do autor. No entanto, esta obra é um bom pretexto para responder ao desafio lançado neste início de milénio por todos aqueles que, no seio da espiritualidade New Age, trabalham na desconstrução do cristianismo, e dos quais Dan Brown é sem dúvida o representante mais talentoso. BOB, O CONSTRUTOR .O Escavão Salva o Dia .O Lagartas Dorme na Quinta .O Rolão e a Estrela de Rock . Bob Salva Os Porcos Espinhos Cada livro 24 pg.|3,99 PVP) Quatro agradáveis livros sobre “As Aventuras do Bob, O Construtor” para encantar os mais novos. EUROPA-AMÉRICA VIAGEM A TOMBUCTU René Caillié 280 pg. | 19,90 (PVP) Este é o 2º volume de viagem a Tombuctu, um relato memorável de um dos exploradores que aproximou a África da Europa e que permaneceu para sempre como um dos mais belos livros de viagens. A obra reflecte um quadro ímpar das sociedades árabes e africanas ainda em toda a sua soberania, das mudanças de civilizações através do Sara, do Magrebe à África Negra, no início do séc. XIX, antes da penetração colonial europeia. OS FILHOS DE HÚRIN J. R. R. Tolkien 316 pg. | 22,30 (PVP) «As mais antigas versões desta história remontam ao final da primeira Guerra Mundial e aos anos que se seguiram; mas, muito depois, quando O Senhor dos Anéis estava terminado, ele escreveu-a de novo fê-la crescer grandemente em complexidade: ela tornou-se a história dominante no seu trabalho final sobre a Terra Média. Mas o meu pai não conseguiu levá-la a uma forma final e acabada. Neste livro, tentei construir, após um longo estudo dos manuscritos, uma narrativa coerente, sem qualquer intervenção editorial.» C.T. MAYFLOWER Nathaniel Philbrick 424 pg. | 24,90 (PVP) Uma fascinante história sobre as origens da América lança o autor numa extraordinária demanda pela verdade por detrás do mais sagrado dos mitos americanos: a viagem do Mayflower e do estabelecimento da colónia de Plymouth. Uma obra que saúda a coragem dos verdadeiros puritanos dispostos a sacrificar tudo pelas convicções religiosas e pela generosidade e sofisticação dos nativos americanos. DESCARTES A. C. Grayling 328 pg. | 29,90 (PVP) Esta é a mais completa biografia do filósofo, escrita com base em novas descobertas, que estabelece um retrato espantosamente acessível e fascinante do homem e da notável era que viveu 1596/1650.René Descartes nasceu num período ainda dominado de crenças medievais, mas repleto de génios das artes e das ciências. Foi um dos fundadores do mundo moderno e o seu «Cogito, ergo sum» tornou-se numa das mais famosas máximas filosóficas. GRADIVA O SONHADOR Ian McEwan 116 pg. |11,50 (PVP) Este livro conta a história de Peter Fortune, um invulgar rapazinho de dez anos que vive entre a fantasia e a realidade e cujos sonhos só lhe trazem problemas. Um irrecusável convite à entrada no mundo de Peter através da escrita de um dos mais brilhantes mestres da ficção moderna. Um livro para crianças que os pais vão gostar de ler. FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO? Jorge Buescu 220 pg. | 13 (PVP) O que é que pode estar por detrás do funcionamento de um chuveiro, de uma vitória no euromilhões, do sexo ou do fim do mundo? Neste brilhante livro o autor, um dos mais interessantes divulgadores de ciência, leva o leitor a descobrir que afinal coisas que pareciam distintas partilham relações profundas e que o conhecimento humano não está dividido em compartimentos estanques. A matemática tem afinal inúmeros segredos para revelar e é isso que a transforma numa ciência tão fascinante. ULISSEIA NADA MAIS FEMININO Louise Bagshwe 312 pg. |19,95 (PVP) Lucy Evans vive num apartamento com o seu velho amigo Ollie. Mas enquanto Ollie se torna adulto e arranja um emprego a sério como advogado, Lucy agarra-se desesperadamente à sua adolescência: jogos de computador, comida de plástico, bandas rock... Lucy não tem nenhuma pressa de que isso acabe…Só que um dia esse mundo maravilhoso vem abaixo. CAMPANHA AFEGÃ Steven Pressfield 312 pg. | 17,45 (PVP) O grande romancista das guerras clássicas recria a invasão dos reinos afegãos há mais de 2200 anos pelos exércitos de Alexandre, o Grande, cujas campanhas surpreendem pelo extraordinário paralelismo com os conflitos contemporâneos no Iraque e no Afeganistão. O autor descreve com mestria os desafios militares e morais, que essas forças têm de enfrentar face aos adversários impiedosos que não hesitam em usar as mulheres e crianças como combatentes. CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas BRAGA Cultura FOLCLORE : dia 7 às 15h30 - Festival do Gr. Etnog. de Lordelo; dia 10 às 21h30 – Gr. Folcl. de S. Martinho de Tibães na S.Victor; dia 16 às 20h30 o Gr. Musical “Cabeçudos” na Delegação; dia 16 às 21h Festival do Gr. Recr. de Tabuadelo; dia 16 às 21h30 - Gr. “Água Viva” em Tenões; dia 17 às 15h Festival das Gamelinhas de Palme; dia 17 às 15h30 - Gr. de Rusga “Caminhos da Romaria” em Apúlia; dia 18 às 21h30 – Gr. “Cabeçudos” em Braga; dia 20 às 21h30 – Gr. de Rusga “Caminho da Romaria” em Braga; dia 23 às 21h – Gr. Tocadores e Cantadores de Delães em Lousado; dia 23 às 22h - “Estelas de S. Vicente” em Ardegão; dia 24 às 15h - Festival das Tecedeiras da Vila de Lordelo; dia 30 às 21h – Gr. Tocadores e Cantadores de Delães em Tabuadelo e Tocadores de Concertina em Milhazes. TEATRO: dia 30 às 16h Teatro infantil em Lomar; ANIMAÇÃO: dia 10 às 9h30 Animação de rua na Qta da Capela em Braga. Desporto JUDO: dia 9 – Torneio em Braga VOLEIBOL DE PRAIA: dia 9 – Torneio em Braga TÉNIS DE MESA: dia 23 às 14h - G.P. Santos Populares em Guimarães BEJA Cultura TEATRO: dia 8 – Macbeth no Teatro Pax Júlia em Beja 76 TempoLivre Junho 2007 COIMBRA Cultura TEATRO: dia 5 - Macbeth no Teatro Acad. de Gil Vicente em Coimbra FEIRA: dia 9 às 9h - Feira Medieval de Coimbra no Largo da Sé Velha em Coimbra MÚSICA: dia 10 às 15h – 10º Enc. de Bandas da Assoc. Recr. Musical de Ceira MAGIA: dia 26 às 15h – Espectáculo na Assoc. Desenv. e Formação Prof. de Miranda do Corvo CONCERTO: dia 20 às 21h30 - Tuna Souselense na Casa M. da Cult. de Coimbra. EXPOSIÇÃO: dia 1 às 18h fotografia “Monsenhor Nunes Pereira – Percursos de uma vida” na Casa do Artista em Góis; dia 20 às 21h30 - exposição de Artes Plásticas no Seminário Maior de Coimbra. FOLCLORE: dia 17 às 15h Festival do R. Folcl. Malmequeres do Zambujal; dia 23 às 21h30 – Festival em Regalheiras de Lavos; dia 30 às 17h - 20º Festival em Figueira da Foz e às 21h30 - Gr. de Danças e Cantares N. Srª dos Remédios no Festival em Fala. SANTOS POPULARES: dias 12 e 23 - Fogueiras de Sto António e de S. João no Lgo do Romal em Coimbra; dia 29 às 21h30 horas – Fogueiras e Marchas de S. Pedro em Vila de Pereira. VISITA: dia 30 às 15h30 h – Oficina Museu de M. Nunes Pereira no Seminário Maior de Coimbra LIVRO: dia 10 às 17h Lançamento “Dia de festa dos Anjos” no Convento de N.Sra dos Anjos Desporto DAMAS: dia 10 às 14h ATLETISMO: dia 7 – “5 - Torneio de Paranhos da Beira TÉNIS DE MESA: dia 9 às 14h - Torneio da Escola B 2,3 de Arrifana em Seia; dia 16 às 14h - Torneio de Loriga. TIRO: dia 9 às15h - Torneio em Paranhos da Beira; dia 30 às 15h - Torneio na Guarda. Voltas a Ceira” pelo CCD de S. Frutuoso. CICLOTURISMO: dia 26 – Convívio em Cadima Pesca Rio: dia 10 - prova no Rio Mondego. TÉNIS DE MESA: dia 10 Torneio Rainha Santa CURSOS: dia 7 – II Descida do Rio Mondego; dia 16 a 21 – Canyoning (aperf. I) na Serra da Freita); dia 23 a 30 – Iniciação Canyoning na Serra da Freita; Aperfeiçoamento de Técnicas de Nado e iniciação à Escalada nas piscinas de Coimbra e no Pav. III do Estádio Univ. de Coimbra. GUARDA Cultura TEATRO: dia 16 - Macbeth no Teatro Municipal da Guarda CONCERTINAS: dia 10 às 16h - Encontros “Ao Toque da Concertina” no Lgo da Igreja de Souro. VISITAS: dia 16 às 7h30 – Passeio ao Porto; dia 30 às 7h30 - Visita a Salamanca. LEIRIA Cultura TEATRO: dia 22 e 23 – Macbeth no Teatro José Lúcio da Silva em Leiria Desporto ATLETISMO: dia 10 às 9h – GP do Bairro Social em Caldas da Rainha. BTT: dia 7 às 9h – Rota dos Carreiro em Louções; dia 9 às 20h – Rota dos Monumentos em Gândara; dia 17 às 9h – Passeio “Encerramento” em Amor. Pedestrianismo: dia 3 às 9h – Passeio em Pousaflores. ORIENTAÇÃO: dia 14 e 15 às 20h – Prova em Leiria. PESCA: dia 7 às 9h30 – Prova no Rio Lis em Monte Real; dia 24 às 9h – Concurso na Foz do Alge. Desporto ATLETISMO: dia 7 às 10h30 - Estafeta em Vilar Formoso; dia 10 às 10h30 – prova em Bairro do Pinheiro. BTT: dia 9 - prova do Alpide; dia 10 – passeio das Lameirinhas na Guarda; dia 24 - passeio Cicloturistico de S. Paio. PEDESTRIANISMO: dia 4 às 8h - Marcha em Gouveia. PESCA: dia 10 às 7h - Prova na Barragem de Vascoveiro; dia 17 às 7h - Concurso na Barragem de Ranhados; dia 24 às 7h - Concurso no Rio Mondego em Ratoeira. LISBOA Cultura ENCONTRÃO: dias 16 e 17 – Finais do Concurso de Etnografia, Música e Teatro na Aula Magna da Univ. de Lisboa T E AT R O DA TRINDADE Artes do Espectáculo de Portalegre. Desporto Sala Principal: CINEMA: Oficina de Bertolt Brecht - Entrada livre dia 12 às 17h - A Vida de Galileu e Syberberg Filma Brecht (mudo); dia 13 às 17h - Os Mistérios de um Salão de Cabeleireiro, Um Homem é Um Homem e A Quem Pertence o Mundo? (mudo); dia 19 às 17h Filmes Particulares de B. Brecht (mudo) e A Ópera dos Três Vinténs; dia 20 às 17h - Mãe Coragem e Seus Filhos. Sala Estúdio A partir do dia 20 às 22h e dom. às 17h - Queres fazer amor comigo? Fimfa Lx7: [Festival Inter. de marionetas e Formas Animadas] dias 6 e 7 às 21h, 22h e 23h - Ça vous regarde; dias 8 e 9 às 22h A dos manos. Teatro-Bar Dias 8 e 9 às 23h - Pura mistura [música]; a partir do dia 14 às 23h Perversões lusas. PORTALEGRE Cultura POETAS: dia 9 – Encontro de Poetas Populares na Feira do Livro em Campo Maior. Folclore: dia 9 – Espectáculo em Casa Branca. CONCERTO: dia 16 – Metais Skylark de Évora e Smira de Aljustrel em Campo Maior; dia 30 - Filarmonisa em Montargil. TEATRO: dia 29 e 30 – Macbeth no Centro de ATLETISMO: dia 23 – XXV Circuito de Castelo de Vide. TÉNIS DE MESA: dia 16 – torneio em Sto António das Areias. TIRO: dia 9 - torneio CCD S Vicente. MALHA: dia 9 – Torneio do CCD Gr. Desp. Bairrense; dia 16 – Torneio em Elvas. PORTO Cultura CONFERÊNCIA: dia 24 às 21h30 - Conferência “A Identidade Cristã da Europa” no Aud. da Univ. Católica Portuguesa - Centro Reg. do Porto DESFILE: dia 30 às 21h – Desfile do Traje Entre Douro e Minho na Av. dos Aliados no Porto SANTARÉM Cultura MÚSICA: dia 10 às 18h – Soc. Recr. Musical Azinhaguense na festa do Tramagal; dia 15 às 20h30 Duo Prata da Casa na Sta Casa da Miser. de Santarém; dia 16 às 16h – Soc. Musical e Recr. do Xartinho na Associação do Xartinho; dia 23 às 16h – Soc. Musical e Recr. do Xartinho na festa da Matado Rei; dia 24 às 17h – Soc. Filarm. Inst. Rec. de São Sebastião na festa de São João da Ribeira; dia 29 às 15h – Gr. de Cantares Sta Maria dos Olivais no Lar de Idosos de São Domingos em Santarém. FOLCLORE: dia 10 às 17h – R. Folcl. da Casa do Povo de Almeirim na festa da Várzea; dia 16 às 21h30 – R. Folcl. da Casa do Povo de Fátima na sede do R.Folcl. da Fajarda; dia 23 às 21h – R.Folcl. do Bairro de Santarém no Centro Recr. e Cult. das Fontainhas; dia 29 às 22h –R. Folcl. de Alcanhões no Centro Social da Moçarria; dia 30 às 21h30 – R. Folcl. “Os Camponeses” de São Vicente do Paul na festa de Tojosa; dia 30 às 21h – R. Folcl. “Os Camponeses” de Riachos na Sede do R. Folcl. de Minjoelho. SETÚBAL Cultura BAILE: dias 15 e 29 às 14h30 - Baile Sénior na Delegação. Dança: dia 16 às 21h30 – Espectáculo de Dança do Ventre na Delegação. “Cidade de Viana do Castelo” e Mostra de Artesanato no Jardim Público. TEATRO: dia 9 às 21h30 –“O Vizinho de Cima” pelo Gr. C. P. de Freixo em Chafé; dia 16 às 21h30 – “Em Casa de Mestre Patelin” pelo Gr. de Chafé em Freixo. Desporto PEDESTRIANISMO: dia 23 às 9h - Percurso Pedestre “Caminhos da Serra” na Terras de Bouro TIRO: dia 9 às 14h30 – Torneio 10m no Clube de Tiro de Carreço BTT: dia 17 às 9h30 – “Passeio Cicloturístico” pela Casa do Povo de Fontão Desporto ATLETISMO: dia 9 – Milha Urbana em Setúbal; dia 30 – prova de Pista, informações na Delegação. VIANA DO CASTELO Cultura MÚSICA: dia 9 às 21h30 – Cavaquinhos na Festa do Cavaquinho na Pça da República, em Viana do Castelo; dia 16 – Marchas Populares em Portela Susã; dias 22 a 24 – Marchas de S. João no Centro de Cult. de Campos; dia 23 – Marchas Populares em Neiva. CINEMA: dias 8, 9 e 10 – “Biodoc” - Documentário sobre ecologia e preservação do meio ambiente na Assoc. Desp. Cult. do Soajo. FOLCLORE: dias 15, 16 às 21h30 e 17 às 16h – Festival VISEU Cultura DESFILE: dia 24 às 9h Cavalhadas Vildemoinhos em Viseu FOLCLORE: dia 30 às 21h30 – Festival em Caçador Desporto TIRO: dia 23 às 15h - Torneio no Clube C. Pesca Vila Nova de Paiva; dia 30 às 15h – Torneio em Viseu. MALHA: dia 10 às 15h30 Torneio em Bodiosa; dia 24 às 15h30 - Torneio em Lamego. DAMAS: dia 9 às 15h – Torneio no B.V. de Lamego. TENIS DE MESA: dia 23 às 14h - Torneio em Vila Nova de Paiva; dia 30 às 14h – Torneio em Mangualde. Junho 2007 TempoLivre 77 A CHEFE SUGERE CELESTE GÓIS| INATEL UM LUGAR AO SOL Massada de cherne O cherne é um peixe de água salgada que se alimenta de crustáceos. Habitualmente, encontra-se no Mediterrâneo e Atlântico Norte. Enquanto jovem habita em águas pouco profundas, geralmente perto de objectos flutuantes, migrando para águas profundas (100 – 500 m) quando adulto. O cherne possui um corpo robusto, barbatanas com espinhos e boca grande, sendo a maxila inferior maior que a superior. O cherne adulto pode atingir os 2 m de comprimento, chegando mesmo a pesar cerca de 100kg. Os peixes da família do cherne são muito apreciados na culinária por possuírem uma “carne” firme e branca, pela facilidade com que se retiram as espinhas e por serem muito saborosos. Quando inserido em diferentes pratos culinários, desde o arroz, às sopas e massas de peixe, o cherne constitui uma verdadeira iguaria da gastronomia das zonas costeiras de Portugal. INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 400 g de cherne, 400g de massa (“macarronete”), 1 cebola média, 50 g de tomate pelado, 1 colher de sopa de massa de pimentão, 5g de alho, 0,5 dl de azeite, sal q.b., piripiri q.b., coentros q.b., 1 raminho de hortelã. PREPARA-SE ASSIM: Juntam-se a cebola, o tomate, o alho, o azeite e a massa de pimentão, fazendo-se um refogado. Depois deste estar pronto, tritura-se tudo com a varinha mágica e acrescenta-se água o quanto baste. Ao levantar fervura, junta-se o cherne cortado aos cubos. Passados alguns minutos, adiciona-se a massa e deixa-se cozinhar em lume brando. Tempera-se com sal, piri-piri, coentros e um raminho de hortelã. COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA: • 29,3 g de proteínas; • 14,8 g de gordura; • 75,3 g de hidratos de carbono; • 5,9 g de fibra; • 533 kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL UM LUGAR AO SOL Av. Afonso de Albuquerque, S. João de Caparica, 2825-450 Costa da Caparica Tel: 21 2918420/30 - Fax: 21 2900051 Email: [email protected] Junho 2007 TempoLivre 79 O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO As ondas passam, mas é o vento No círculo das imagens / o deserto ondula: / as ondas passam, mas é o vento / a maré sobe, mas é o vento /o seu perfume embriagame, mas é o vento. / Caminho no verso / e dessangro-me. / Só /Só / lança dentro de ti vozes ou!... gritos Paolo de Lima,* Solo /Sólo, in: Mundo Arcano, Lima, 2002 Trad. MAVF ão quero escrever, mas escrevo” – disse um dia. E nesse dia, escrevi, sobre o que não queria escrever. “Calasse eu, seria criminoso o apetecido silêncio?” – perguntava eu num outro dia, em que o silêncio me parecia o último refúgio do indizível. E também nesse dia falei sobre o que, a todo o custo, queria silenciar. Asno giratório, há quinze dias que, no seu chouto mecânico, o pensamento descreve às cegas círculo após círculo, em torno de um eixo fixo de violência emocional ou se contorce como serpe ferida, numa tentativa de fuga de um cenário surrealista. Um soluço colectivo percorre o país, atravessa fronteiras que já não são fronteiras, transforma-se em pranto, em cruzada, em mercado de interesses – mercado livre, evidentemente! –, em circo mediático – como, em circunstâncias semelhantes, em tempos, lhe chamou uma locutora, como ontem lhe chamou outra locutora –, um circo mediático onde brilham os malabaristas da palavra e os equilibristas da oscilante corda bamba da verdade. Inútil isolar as janelas, como quem põe adesivos nas feridas abertas pelo horror do acontecimento. Inútil. Não há isolamento que nos defenda de nós próprios. Só a insensibilidade, a apatia – a apátheia, “ausência de pathes”, dos Gregos – poderia proteger-nos desta onda do excesso. O filósofo grego Zenão de Cítio (333 aC.- 264 aC), fundador do estoicismo, definia pathes como “impulsos excessivos”. Como principais pathes considerava ele a dor, o medo, o desejo e o prazer, cuja extirpação total constituiria a mais alta sabedoria. Ainda que “povo de brandos costumes”, não se pode dizer que sejamos realmente um povo de estóicos. Na verdade, quando se trata de todas as manifestações de sensibilidade, dos quatro pathes de Zenão – ainda que no caso do medo, seja pelo seu contrário, a coragem –, não há dúvida de que somos um povo paroxisticamente excessivo, um povo ciclotímico, com tendência para mudanças fáceis de humor e de sentimentos, com espírito aberto, expansivo e sociável: expansivo e sociável nas lágrimas, expansivo e sociável no riso. « N É em horas de crise que esta tendência para o excesso se manifesta mais intensamente: somos excessivos na ajuda, excessivos no ataque, excessivos na imaginação, excessivos no entusiasmo; excessivos na esperança e excessivos na desesperança, na alegria e na tristeza. Como pele demasiado apertada, vestimos o sofrimento alheio, como se o nosso próprio fora. Empatia, é a palavra de ordem. Multiplicam-se os gestos, inclusive no sentido literal, que somos um povo gesticulante (o que talvez se explique pelo hábito dos longos silêncios impostos ao longo de séculos), mas, sobretudo, multiplicam-se as palavras, que chegam como as vagas e o vento, e como eles se vão. Cada crise, ou cada situação, tem o seu léxico próprio, constituído por palavras insistentes repetidas à saciedade, como lenga-lenga sagrada destinada a impor ou a combater juízos ou opiniões específicas dessa situação. A fazer um levantamento dos termos mais repetidos nestes últimos dias no Algarve e na Inglaterra de Maddy, preferia utilizar os caracteres de que ainda disponho para recordar, a par dos pais da pequenina Maddy, a quem o apoio dado, se não minorou o desespero, pelo menos deve ter ajudado a alimentar a esperança de um desfecho feliz para tão terrível experiência, aqueloutra mãe, e aqueles outros pais, a quem, por serem portugueses, não faltou o desespero nem faltou a coragem, mas faltaram os apoios para ainda poderem ter esperança. Sei que estou a repetir o que já são lugares comuns. Do que peço desculpa. Sei que também não consegui evitar que nesta crónica se reflectisse o meu desejo de silenciar sobre assunto tão terrível. Do que peço desculpa. Não queria escrever, mas escrevi. Porque também sei que comparável ao excesso de agitação em torno do desaparecimento da menininha inglesa só a indiferença e o silêncio que parece ter caído sobre os meninos da Casa Pia. As ondas passam, mas é o vento… I * Poeta peruano (1971), residente em Otava. Poesia Latinoamericana. Junho 2007 TempoLivre 81 CRÓNICA |ÁLVARO BELO MARQUES O soutiã cor-de-rosa Estávamos os dois sentados na praia fazendo passar a areia e o tempo por entre os dedos. O Miguel nascido em Burgos e ex-padre, fala agora com Deus – presumo –, sem uma hierarquia a quem dar contas e de quem receber recados. oi um padre humilde, fiel seguidor das orientações de Cristo, sem casas para alugar nem carros de qualquer espécie. Na Ilha de Moçambique o tempo estava, como quase sempre, radioso e honestamente tropical. A Fortaleza de São Sebastião olhava-nos de viés, estafada e alquebrada ao peso dos anos, que quatrocentos e tal custam a passar. “Eu abastecia-me na Vila de Sena. Também havia no Lundo uma pequena cantina de um mulato – o único moçambicano que nesse tempo tinha loja por aquelas bandas. Os cantineiros, por norma, eram portugueses ou indianos, isto nos começos da década de 70. O nome dele era Perdigão, nome pouco usual… talvez influência do Camões dado nas escolas… Lá podia comprar quase tudo, até cerveja bem gelada. O Miguel deixou de brincar com a areia para garimpar as unhas e os dedos dos pés, ritual diário antes de se meter na água. Um rapaz chamado João, com o tronco fora de água, perguntou gestualmente, quantas lagostas queríamos. Eu e o Miguel trocámos olhares e ficou feita a soma, logo transmitida ao pescador submarino. “Eu residia em Murraça, Sabes onde é? Perante a minha firme negativa, continuou. “Murraça dista do Lundo uns 200 quilómetros, por estradas de terra e, em muitos troços, no tempo das chuvas, por mares de lama. Só para teres uma ideia, para fazer 16 quilómetros, demorava, por vezes, hora e meia. Por lá deixei muitos quilos do meu peso normal. Mirava atentamente uma unha que dizia encravada. - Que carro é que vocês tinham? “Não era meu. Da Missão. Um Land Rover de caixa aberta, com tracção às quatro rodas e tudo mas, mesmo assim, era um tormento. Muitas vezes saía do carro e ia, com uma cana ou um pau, “ver” o terreno por onde o Land Rover poderia ou deveria passar. Género Mark Twain a medir as braças de profundidade do rio F 82 TempoLivre Junho 2007 Missouri. “Mas os grandes abastecimentos vinham da Beira. O camião da cerveja 2M e dos cigarros LM iam à missão abastecer-nos. Só falaste no vício… cerveja e tabaco… “Claro que com comida… também… E riu-se. Com aquele riso alegre e cristalino das almas simples e boas. O capitão-mergulhador João Nemo fez-nos sinal lá de longe que já tinha quatro lagostas. Miguel gesticulou dizendo que já chegavam, que estava bem, olhando para mim, buscando concordância. - Fala-me lá do soutiã cor-de-rosa. Miguel voltou a rir. “- Nunca mais esqueceste essa história… uitos artigos de que precisávamos tínhamos nós de os trazer quando íamos ao Lundo. Claro que não íamos lá todas as semanas. Quando o fazíamos, toda a população de Murraça sabia, não só porque a informávamos, como também pelos preparativos. Mas sempre tínhamos de partir mais tarde do que o previsto por cauda dos pedidos de última hora. Então uma vez, uma paroquiana muito gorda, uma mamana de cerca de cem quilos, pede-me um soutiã cor-derosa, pois a medida dela não se encontra em parte alguma. Passei uma vergonha… na loja a comprar o soutiã, eu, um padre, como se fosse um regalo para uma amiga minha!!! E a cena repetiu-se, pois só na terceira loja encontrei o número pedido. Bem, lá levei o dito e o entreguei à mamana. E o que aconteceu? Pois na missa de domingo lá estava ela, vaidosa, com o soutiã por cima da blusa! Depois da missa, no largo, fui ter com ela e disse-lhe que era feio usar aquilo por cima da roupa. E ela respondeu-me com uma lógica inquestionável: “Se eu o usar por baixo da roupa como é que as pessoas vão saber que eu tenho um soutiã novo?” O Índico então fez-nos sinal e, a rir, fomos tomar banho. I M