N.º 183 - Junho 2007 - 2,00 euros
Sumário
4
N.º 183 - Junho 2007 - 2,00 euros
48
DO PROVEDOR
Património natural de
eleição, boa
gastronomia e águas
que dão saúde, sem
esquecer o confortável
e tranquilo Inatel Luso.
7
28
49
NOTÍCIAS
COMUNIDADES
O TEMPO
PORTUGUESAS
E O MUNDO
Museu da Emigração
em Melgaço
50
EDITORIAL
6
CARTAS E COLUNA
NA CAPA
12
Fotos:Ana Mineiro
CONCURSO DE
FOTOGRAFIA
14
TERRA NOSSA
20
BRAGANÇA
FUNDAÇÃO
Roteiro por uma das regiões menos
visitadas de Portugal, o nordeste
transmontano. Bragança e o Parque
Natural de Montesinho inserem-se
num itinerário que privilegia os
patrimónios natural e cultural, agora
mais acessível aos associados do
Inatel, graças à abertura do Parque
de Campismo sob gestão do
Instituto.
CUPERTINO DE
46
MIRANDA
Criada com
finalidades de carácter
educativo e social, a
Fundação Dr. António
Cupertino de
Miranda assume uma
missão muito
contemporânea, a da
“realização de
actividades culturais
que promovam a
sociedade do
conhecimento e
contribuam para a
inclusão social”. O
trabalho com seniores
é uma das prioridades
da instituição.
30
PAIXÕES
Mário Santos, o “Leão
da Foz”
antigo plátano do
mundo
PORTUGAL E A
LUSOFONIA
VIAGENS
NA HISTÓRIA
51
BOA VIDA
Quatro mega
exposições na Europa
Consumo/ Livro Aberto
/Artes/Músicas/Palco
/DVD/Cinema/À Mesa/
Saúde/ Informática /
Palavras da Lei
36
70
HISTÓRIAS
CLUBE TEMPO LIVRE
DO TRINDADE
Passatempos, Novos
Livros e Roteiro
34
GRANDTOUR 2007
38
VIAGENS
79
Toledo, Alcalá de
Henares e Cuenca:
três cidades no
coração ibérico
O CHEFE SUGERE
44
81
OLHO VIVO
O TEMPO E AS
Inatel Palace:
Lombinhos de vitela à
Chefe Manuel
PALAVRAS
26
46
TERMAS
A CASA NA ÁRVORE
Maria Alice Vila
Fabião
EM PORTUGAL [3]
UM PRESENTE
GREGO
82
LUSO: DOIS
SÉCULOS DE
BOAS ÁGUAS
Lisboa tem um
descendente do mais
CRÓNICA
Álvaro Belo Marques
Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva:
500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria,
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Letria, Lurdes Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro..
Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Duarte Ivo Cruz, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel
Pereira, Pedro Cid.. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Préimpressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo
de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 183.259 exemplares
Editorial
JOSÉ ALARCÃO TRONI
Relatório e contas de 2006
aprovados por unanimidade
O Conselho Geral, na sessão de 3 de Maio, honrou-me e à Direcção, a que tenho a honra de presidir, com
a aprovação, por unanimidade, dos Relatório e Contas e Parecer da Comissão de Fiscalização, relativos ao
exercício de 2006, o que sucede pela primeira vez nos trinta e dois anos de existência do INATEL.
omo referido, o resultado final foi positivo em 1.1 milhões de euros, aguardando-se, agora, o despacho de
homologação de S. Exa. o Ministro do Trabalho e da
Solidariedade Social, com vista à submissão do balanço do ano
transacto à fiscalização sucessiva do Tribunal de Contas.
Estão, também, aprovados pelo Tribunal de Contas os balanços de todos os exercícios anteriores a 2005 (inclusive) pelo
que o INATEL - fundação herdará do INATEL I. P. contas rigorosas, confiáveis e aprovadas pelos restantes órgãos sociais –
Conselho Geral e Comissão de Fiscalização - , Ministério da
Tutela e órgão jurisdicional competente para a respectiva certificação.
C
FUNDAÇÃO
Nos próximos dias será submetida à apreciação de S. Exa. o
Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social a segunda –
e penso que definitiva – versão do anteprojecto dos
Estatutos da futura fundação INATEL – Investimentos e
Actividades dos Tempos Livres dos Trabalhadores, pessoa
colectiva de direito privado e utilidade pública administrativa, cuja criação se prevê para 1 de Janeiro de 2008.
No segundo semestre, no decurso da Presidência Portuguesa
da União Europeia, decorrerá o processo legislativo de constituição da Fundação INATEL, com a prévia e estatutária audição
do Conselho Geral e da Comissão de Fiscalização, bem como,
constitucionalmente, das Regiões Autónomas, dos Partidos
Políticos e das Confederações Sindicais.
INOVAÇÃO E QUALIDADE
Na vertente da inovação e qualidade, o INATEL vem privilegiando a celebração de protocolos de parceria estratégica
com Universidades, Politécnicos, Laboratórios de Estado e
outros Institutos de Investigação, dando clara preferência ao
conhecimento instalado no Ensino Superior e Ciência de
Portugal sobre a consultadoria privada – portuguesa,
estrangeira e multinacional – cujos honorários são, sempre,
muito superiores aos da Universidade, Investigação e
Consultadoria do Estado.
4 TempoLivre
Junho 2007
Assim, é o INESC – Instituto de Engenharia de Sistemas e
Computadores, da Universidade Técnica de Lisboa, que acompanha e monitoriza o Projecto INATEL-Digital, consistente na
modernização das tecnologias de informação e procedimentos
administrativos, decorrente da opção estratégica pelo figurino
quase empresarial de Fundação e pelo Sistema SAP.
É o INA – Instituto Nacional de Administração o parceiro de
referência para a formação, acompanhamento e monitorização
da formação dos quadros dirigentes, tecnoestrutura, pessoal
administrativo e auxiliar, não afectos a áreas de grande especificidade como o Turismo, a Hotelaria, a Restauração ou o Teatro
da Trindade, cujas parcerias passam, obviamente, pelas Escolas
Politécnicas e Profissionais de Hotelaria e Turismo, Centros
Protocolares e Conservatórios e Escolas de Teatro das Universidades e Politécnicos.
O INATEL é, praticamente, parceiro da totalidade das
Universidades e Politécnicos públicos portugueses – cujas reitorias e presidências se situam nas capitais e principais cidades
das Regiões Autónomas e nas capitais dos 18 distritos do
Continente, nas quais o INATEL está presente, através da sua
rede de delegações regionais e distritais – destacando-se, por
exemplo, no domínio da qualidade alimentar, o protocolo, há
anos vigente, com a Universidade do Porto, através da sua
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação.
Considerando a importância dos recursos termais de EntreOs-Rios e Manteigas e a problemática situação ambiental gerada pelo derramamento de gasóleo ocorrido num dos depósitos
do Posto Repsol em Entre-Os-Rios, o INATEL celebrou um
acordo com o Laboratório de Cartografia e Geologia Aplicada
(LABCARGA) do Departamento de Engenharia Geotécnica do
Instituto Superior de Engenharia do Porto – Escola integrada no
Instituto Politécnico do Porto – para o estudo e consultadoria
nas questões ligadas à gestão dos recursos hidrominerais e
geotérmicos e, em geral, das águas subterrâneas do INATEL.
A partir do ano em curso, a carteira de obras e a avaliação e
garantia da qualidade, geológica e mineira, das fundações dos
edifícios e dos furos – existentes e projectados – de captação de
água termal e da sua defesa contra infiltrações, passou a contar
com a colaboração do LNEC – Laboratório Nacional de
Engenharia Civil - que, ao seu curriculum de sessenta anos, de
enorme prestígio técnico, nacional e internacional, acrescenta,
agora, a representação do MIT – Portugal (Massachussetts
Institute of Tecnology).
Saliento, ainda, o excelente estudo do perfil do associado
individual, elaborado pela Universidade Católica Portuguesa,
indispensável à definição da política associativa e de marketing
institucional do INATEL – Fundação.
O INATEL apoiou a recolha de informação, documental e
estatística, de base da tese de doutoramento, em gestão empresarial, em 2006, na Universidade Lusíada, da Profª. Doutora
Joana Maria Oliveira Neves, intitulada Estudo das Motivações
Turísticas e do Comportamento de Viagem dos Seniores Portugueses no Mercado Interno – uma nova abordagem exploratória
aplicada aos viajantes seniores das Universidades de Terceira
Idade e do INATEL, através de uma perspectiva funcionalista.
A nova obra científica – indispensável a uma instituição que
conta mais de 500 mil portugueses como beneficiários dos seus
programas seniores – será publicada com o patrocínio do INATEL.
Por fim, os projectos de arquitectura e engenharia passaram a
dar sistemática prioridade às questões ambientais e de acessibilidade do cidadão portador de deficiência, bem como ao bom
gosto da decoração dos espaços.
Na melhor tradição das Obras Públicas do Estado, os futuros
projectos arquitectónicos reservarão, pelo menos, 1% do seu
orçamento para a decoração, com recurso a obras de artistas
plásticos portugueses.
JORGE SAMPAIO: DE PORTUGAL PARA O MUNDO
Foi com alegria que li a recente notícia da nomeação do anterior
Presidente da República, Jorge Sampaio, para Alto Representante das Nações Unidas para o Diálogo das Civilizações.
Conheço, admiro e estimo Jorge Sampaio, desde os meus 17
anos e os 22 do ex-Presidente, há 45 anos, quando ele era finalista
e eu caloiro na Faculdade de Direito, da Universidade de Lisboa.
A advocacia aproximou-nos e aprofundou a nossa amizade.
Entre 1996 e 1999, tive a honra de servir Portugal, sob a sua
orientação política, estratégica e tutelar, quando integrei o último Governo Português de Macau, presidido pelo também último General do Império, o grande governador e estadista Vasco
Rocha Vieira. Recordo a transição de Macau como a única descolonização, posterior ao 25 de Abril, em que Portugal encerrou,
com grande dignidade e pestígio, o ciclo do Império.
Desejo, sinceramente, ao ex-Presidente Jorge Sampaio as
maiores felicidades no exercício da sua missão internacional,
que vai exercer com os grandes competência, dignidade e
humanismo, que constituem as características essenciais do seu
carácter, como homem, cidadão e estadista.
O mandato de Jorge Sampaio no Diálogo das Civilizações
revelar-se-á extremamente prestigiante para Portugal, reforçando a nossa vocação multissecular de Nação que abriu e quotidianamente abre ao mundo as Portas do Entendimento.
CARLOS QUEIROZ – 100 ANOS
No dia 5 de Abril cumpriu-se um século sobre o nascimento
de Carlos Queiroz – o grande poeta da Presença, prematuramente desaparecido – pai da escritora Maria da Graça
Queiroz, associada e colaboradora do INATEL.
O grande amigo de Fernando Pessoa – e ponte entre as gerações da Presença e do Orfeu – será evocado pelo INATEL, a
25 de Junho, no salão nobre do Teatro da Trindade, em sessão
cultural, na qual se revisitará a antologia da sua obra poética,
alguma ainda dispersa, cujo estudo e reedição se impõe.
O INATEL associar-se-á, também, às Comemorações do
Centenário do Nascimento de Carlos Queiroz, reeditando o
esgotadíssimo elogio fúnebre de Fernando Pessoa, da autoria
do aludido Carlos Queiroz, aos microfones da então Emissora
Nacional, nove dias após a morte do Poeta dos Heterónimos,
posteriormente publicado na Revista Presença.
IN MEMORIAM – JOÃO OSÓRIO DE CASTRO
Desapareceu do nosso convívio, aos 80 anos, João Osório de
Castro, o empresário, culto e humanista, que na senioridade se
tornou o dramaturgo de referência da História de Portugal.
A sua peça Viriato – Rei foi galardoada no último festival de
Teatro de Mérida, capital da remota Província Romana da
Lusitânia.
João Osório de Castro confidenciou-me, há meses, o sonho de
ver representado o Viriato-Rei no Teatro da Trindade, de que era,
como associado do INATEL, fiel e assíduo frequentador.
Assim, procurarei honrar a memória do João Osório de
Castro, levando à cena do Trindade o melhor da sua dramaturgia histórica, relativa à memória de Portugal, como EstadoNação mais antigo da Europa.
Conheci João Osório de Castro nos idos de 1987/92 quando
exerci funções governativas no Ministério da Educação e ele era
presidente das empresas familiares FOC – Fábrica Osório de
Castro e FOC – Escolar grandes fornecedoras do Ministério da
Educação em mobiliário e material didáctico.
Era um empresário – humanista e mecenas, nesta qualidade
fundador e dirigente da Casa da Comédia – que ao legítimo
lucro dos negócios sobrepunha um rígido código de ética, que
passou, durante muitos anos, pela colaboração, desinteressada
e sistemática, com o Ministério da Educação, na garantia, anual,
da normalidade da abertura dos anos lectivos.
Que Deus dê o eterno descanso a este homem de espírito que
foi referência moral da cultura e do empresariado de Portugal.I
Junho 2007
TempoLivre 5
Cartas
O Tamborileiro
de Santo Aleixo da Restauração
Surge a presente no seguimento da notícia publicada na
“Tempo Livre”, de Maio, intitulada “Vila Verde de Ficalho
– O regresso do tamborileiro”.
Sem querer tirar o mérito à iniciativa do Inatel, a referida
noticia não corresponde à realidade na parte em que refere
que “o tamborileiro, figura típica, desaparecida há dezenas
de anos dos festejos populares da margem esquerda do
Guadiana, reapareceu em Vila Verde de Ficalho”.
Tenho 38 anos e sou natural de Santo Aleixo da Restauração, concelho de Moura e Distrito de Beja – margem
esquerda do Guadiana – e, realizando-se anualmente na
minha terra três festas (Santo António, Santo Aleixo e a
Festa da Tomina, em honra de Nossa Senhora das Necessidades) não me lembro, em tempo algum, que a Procissão
saísse à rua e não fosse encabeçada pelo tamborileiro, que
com os seus acordes (desafinados é certo), anuncia a todos
a passagem da Procissão que percorre as ruas da aldeia.
Desde sempre existiu, e existe, o tamborileiro em Santo
Aleixo da Restauração.
Aproveito esta oportunidade para prestar a minha homenagem àqueles que conheci e que, apesar de não possuírem formação musical, mantiveram viva esta tradição
na minha aldeia: “o velho Guinapo“; o Joaquim Ficalheiro;
“o primo Manel Fialho“ e actualmente o António Luís (“o
boneco“).
Dessa forma, o tamborileiro poderá ter desaparecido de
algumas localidades da margem esquerda do Guadiana,
mas não desapareceu de Santo Aleixo da Restauração, convidando todos aqueles que o queiram confirmar, a visitar as
Festas da Tomina, em honra de Nossa Senhora das
Necessidades, que se realizam no ultimo fim-de-semana de
Agosto, em Santo Aleixo da Restauração e assim puderem
confirmar que a tradição ainda se mantêm.
José Manuel da Palma Morais, Moura
[ Kalidás Barreto ]
COLUNA DO PROVEDOR
Confesso que me é extraordinariamente grato receber mensagens dos associados, que de forma bem humorada põem
questões importantes. Refiro-me agora a uma recentemente
recebida e que glosa a última frase da “Coluna do Provedor”
de Maio, em que se afirmava: “Para melhorar temos de participar civicamente sem receios mas com provas. A transparência e a frontalidade são actos de cidadania; o anonimato e a
mentira, não!” E então diz com humor intencional: “O nosso
INATEL é excelente; tudo funciona bem; os funcionários estão
acima de qualquer suspeita. Eu não venho culpar ou acusar
quem quer que seja.” E acrescenta:” Ainda trabalho e nunca
consegui marcar o alojamento que pretendia.”
Gosto de gente frontal e com espírito e por isso devo informar que há milhões que jogam no Totoloto e nunca tiveram
um prémio: Os jogos da Santa Casa têm regras… o INATEL
também!
Penso que todos compreenderão que numa Instituição que
tem 1300 quartos para alojar de Junho a Setembro os milhares de trabalhadores activos e suas famílias ainda acomodam cerca de 3000, exigem-se regras muito claras que,
aliás, foram distribuídas pelos associados na revista “Tempo
Livre”, nº 178, de Janeiro de 2007 e que resumidamente são:
Os factores a ter em conta para o apuramento da selecção
de reservas são os seguintes:
- Ser trabalhador no activo;
- Pretender utilizar o C. Férias no mínimo 7 noites e no
máximo 14;
- Maior número de descendentes no agregado familiar a
utilizar o mesmo alojamento;
- Não serão permitidos ao associado e respectivo agregado
familiar beneficiar duma estada, mas ter ou não utilizado as
instalações em ano anterior não é impeditivo.
Os factores anunciados nas alíneas estão formatados num
Sócios há 50 anos
Completaram, este mês, 50 anos de ligação ao Inatel, os
associados: Pedro Carlos Xavier, Maria Otília Ferreira
Moura Botas, António Rodrigo Feliciano Belo e Abel
Rosa, Lisboa; Joaquim Assunção, Oeiras; António Barandela Santos, Porto; Jose Manuel Carvalho Castro, Évora.
programa informático concebido para o efeito, permitindo
fazer uma selecção automática dos candidatos.
No sentido de se tornar mais fácil e eficaz o processo de
inscrição irá brevemente ser implementado um processo
novo, através duma central de reservas programada para o
efeito.
Para nós, a transparência é uma exigência!
A correspondência para estas secções deve ser enviada para
a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: [email protected]
6 TempoLivre
Junho 2007
Tel: 210027197 Fax: 210027179
e-mail: [email protected]
I
Notícias
Parceria Inatel/Universidade Lusófona
Os associados e colaboradores do Inatel e
respectivos cônjuges e filhos vão beneficiar de uma redução de 10% do valor da
propina mensal relativa a qualquer dos
cursos e/ou redução de 10% na propina
anual das pós graduações ministrados
nos vários estabelecimentos de ensino da
COFAC (Cooperativa de Formação e
Animação Cultural CRL), conforme estabelece o protocolo assinado em Maio passado entre as duas entidades.
Aos alunos finalistas da COFAC - cooperativa
que
integra
as
Universidades
Lusófonas de Lisboa e Porto, os Institutos
Superiores D. Dinis, Manuel Teixeira
Gomes e Politécnico do Oeste e a Escola
Superior de Educação Almeida Garrett –
será, por sua vez, permitida a realização,
Alarcão Troni e Luís Lamas, pelo Inatel; Manuel Almeida Damásio e Conceição Soeiro, pela COFAC;
e Marco António Oliveira, pelo CISE, no acto de assinatura do protocolo
no Inatel, de estágios académicos e profis-
admitido, como a COFAC, como CCD –
dades específicas das três entidades,
sionais. O acordo prevê ainda a realização
Centro de Cultura e Desporto - do Inatel.
assinalando a diversidade e qualidade dos
conjunta de conferências, colóquios, se-
Os associados dos dois novos parceiros
cursos e pós graduações da Universidade
minários e reuniões de carácter científico
do Inatel poderão inscrever-se como
Lusófona.
ou de reflexão, utilização mútua de materi-
sócios do Instituto, ficando dispensados
Alarcão Troni manifestou, por sua vez, sa-
ais de informação e benefícios mútuos
da taxa de inscrição.
tisfação pela nova parceria, cuja impor-
para membros das duas entidades nas
No acto da assinatura do protocolo, o Prof.
tância para o Inatel vincou, adiantando,
respectivas estruturas e iniciativas.
Manuel de Almeida Damásio, director da
na ocasião, a intenção de solicitar ao CISE
O protocolo envolve ainda o CISE (Centro
COFAC, sublinhou a importância do acor-
um estudo de viabilidade do Centro de
de Investigações Sociais e Empresariais),
do e a complementaridade das activi-
Férias Santo da Serra (Madeira).
Direcção de Pessoal
Luis Filipe Rasquete, licenciado em Direito
e Pós-graduado em Gestão e Administração de Empresas, tomou posse, em
Maio, como Chefe de Divisão de Pessoal do
Inatel. Responsável, nos últimos quatro
anos, pela Divisão de Turismo Social, Luís
Rasquete substitui no cargo Eduardo
Fernandes, mestre em Direito Fiscal, que
irá integrar a Assessoria Fiscal, com a missão de preparar o Estatuto das Isenções e
Benefícios Fiscais da futura Fundação
Inatel e de acompanhar o dossier de recuperação de IVA, relativo aos exercícios da
última década, num montante estimado de
7 milhões de euros.
Junho 2007
TempoLivre 7
Notícias
«Travessia das Pontes»
Cerca de quinhentos participantes inte-
Desporto Aventura
graram a terceira edição da Travessia
Estão abertas as inscrições para os cursos de
das duas Pontes, prova de atletismo de
Parapente, Kitesurf e Mergulho, organizadas
22 km, que decorreu entre Santarém e
pela Delegação de Faro em parceria com a
Almeirim no passado dia 13 de Maio,
Wind, 4 Kiters e Hidroespaço. Para mais infor-
este ano, associada ao Campeonato
mações contacte a Delegação Inatel em Faro,
Nacional de Fundo, uma organização
tel.: 289898940.
da Delegação Inatel de Santarém. Anantes do sinal da partida, homenageou
ratonistas nacionais que mais se desta-
David Mourão-Ferreira
e o Fado”
Alberto Chaíssa, um dos melhores ma-
cou na região escalabitana.
Até 30 de Setembro está patente no Museu do
tónio Rola, delegado distrital do Inatel,
Fado uma exposição alusiva à multifacetada
Marcha-Passeio na Estrela
figura de David Mourão-Ferreira (1927-1996)
poeta, ensaísta, ficcionista, jornalista, professor e tradutor. “David Mourão-Ferreira e o
Numerosos adeptos das caminhadas inte-
Fado” retrata o importante legado do autor na
graram a Marcha-Passeio pela Serra da
história da canção de Lisboa. A exposição
Estrela, em Abril último, um percurso pelo
recria o escritório do poeta, apresenta teste-
planalto central acima dos 1.800 metros
munhos da obra que consagrou ao fado, entre
de altitude, organizado pela Delegação
manuscritos originais e letras dactilografadas,
Inatel na Covilhã. Considerada já uma das
as primeiras edições discográficas e um con-
actividades mais emblemáticas do Inatel
junto de registos audiovisuais que ilustram as
Covilhã, a marcha-passeio da Estrela tem
interpretações de poemas da sua autoria por
mobilizado cada vez mais participantes
Amália Rodrigues, Camané, Mariza e Cristina
Branco, entre outros.
Triunfos na Tunísia
Horta Coral
Alcino Almeida, Delegação de Aveiro, e
“Sociedade Amor da Pátria”, constituiu pelo
Luís Carlos, Delegação de Setúbal,
seu elevado nível uma das actividades mais
venceram na categoria seniores (10km)
marcantes da edição deste ano da Semana
e veteranos (5 km), respectivamente, a
Desportiva e Cultural da Cidade da Horta –
19 edição da Corrida Internacional de
uma actividade que vem sendo promovida há
Trabalhadores (estrada), que decorreu
doze anos em actividade conjunta pelo INATEL
em Hamamet, Tunísia, no âmbito da
e Câmara Municipal da Horta. Esta iniciativa
CSIT. A prova, de estrada, teve a parti-
co-organizada pelo Grupo Coral da Horta e
cipação de atletas da Argélia, Tunísia,
inserida nas comemorações do seu 24º
Marrocos, Portugal e Itália.
aniversário, teve para além da participação
O Horta Coral, promovido em 28 de Abril na
deste Coro, a presença do “Grupo Coral das
Feira Medieval em Coimbra
O Largo da Sé Velha, em Coimbra, vai ser
espectáculos de acrobacia, malabaristas,
palco, no próximo dia 9 de Junho, de
duelos de espada e outros jogos da
mais uma edição da concorrida Feira Me-
época. A CP – Comboios de Portugal,
dieval, iniciativa que envolve centenas de
associa-se ao evento, oferecendo em
figurantes, trajados a rigor, rituais pró-
troca do bilhete de ida o acesso gratuito
prios, comércio alusivo à Idade Média,
a casa, válido apenas no dia da feira.
8 TempoLivre
Junho 2007
Lajes do Pico” e do “Coro Canto e Encanto” de
Canas de Senhorim.
“Caderno de Todos os Barcos do Tejo”
O Casino Estoril foi palco, no final de
no panorama da Arqueologia Naval”, re-
Maio, do lançamento do livro “Caderno
vela Vasco d’Orey Bobone.
de Todos os Barcos do Tejo”, de Vasco
Licenciado em Arquitectura, o autor
Thíasos em Nantes
d’Orey Bobone, inspirado na obra do
desenvolveu os estudos de Pintura e
No âmbito do IX Festival Internacional de
mesmo nome, de 1785, do Capitão-
História de Arte em Itália. Ao longo da sua
Teatro de Tema Clássico, o grupo
Tenente João de Souza. A obra, apresen-
carreira distinguiu-se na área do restauro
Thíasos,
tada pelo Comandante Malhão Pereira,
e adaptação de edifícios históricos.
Clássicos da Faculdade de Letras da
do
Instituto
de
Estudos
propõe, uma retrospectiva histórica,
Universidade de Coimbra (FLUC), actuou
regressando
ao
em Nantes, no passado dia 11 de Maio,
Terramoto de 1755 e a mudança da Corte
no Festival Europeen Latin Grec (Felg)
de Lisboa para o Brasil) em que o Tejo era
2007, apresentando a peça “As Mulheres
percorrido por enorme diversidade de
no Parlamento”, de Aristófanes. Em “As
embarcações e modelos com diferentes
Mulheres no Parlamento” Aristófanes
funções. “Deve dar-se relevo ao facto de
satiriza um Estado imaginário admin-
João de Souza ter colocado à nossa dis-
istrado por mulheres, no qual tudo é de
posição o material indispensável para
todos e as velhas têm prioridade para
saber com rigor das alterações nos tipos
reclamar o amor dos jovens. Constrói
de barcos tradicionais e suas evoluções
assim, sob a capa da utopia, uma sátira
o que constitui uma autêntica novidade
à má governação.
à
época
(anterior
Notícias
De Niro no
Lisbon Village 2007
Robert de Niro vai estar em Lisboa no iní-
Dezembro de 2004. Oito longas-metra-
cio de Junho para inaugurar o primeiro
gens internacionais, 13 curtas-metra-
evento do Lisbon Village Festival 2007: a
gens internacionais e quatro curtas-
exposição de pintura do seu pai, Robert
metragens portuguesas são os filmes
“Bicicletas
em Setembro”
de Niro Senior. Esta exposição integra a
que vão integrar as competições oficiais
Apresentado em sessão realizada no
programação do Village Art e estará
do Lisbon Village Festival 2007, totalizan-
auditório do Montepio, em Lisboa, pela
patente no Palácio Galveias durante
do cerca de 19 horas de projecções. Os
Profª Maria Lúcia Lepecki, o mais recente
cerca de um mês. Além de pintor expres-
filmes em competição podem ser vistos
romance
sionista, Robert de Niro Sénior (1922-
entre 19 e 22 de Junho no Cinema S.
Bicicletas em Setembro” (Ed. Asa), fala-
1993) era também escultor e poeta. Foi
Jorge. Dia 23 realiza-se a gala de entrega
nos de “trajectórias amorosas e de que
amigo de Anaïs Nin, Henry Miller e
de prémios, produzida e transmitida pela
todos os destinos sentimentais ocultam
Tennessee Williams. O actor apresentou
RTP e, no último dia do Lisbon Village
histórias subterrâneas”. E fala, ainda, da
uma exposição do seu pai na Europa,
Festival, 24 de Junho, são exibidos os
“beleza perversa das relações humanas,
pela primeira vez, em Roma, em
filmes vencedores em sessão especial.
e de que as pessoas suportam tudo,
de
Baptista-Bastos,
“As
menos a solidão, a separação e a perda. É
«Alma de Viajante»
Acaba de ser publicado, com assinatura
Museu da Imprensa
evoca Agostinho
da Silva
do repórter/fotógrafo freelancer Filipe
uma parábola sobre perdedores – todos
nós. Porque cada um de nós perdeu alguma coisa…”, sublinha o autor, “um dos
maiores prosadores de língua portuguesa”, como assinalou Lúcia Lepecki.
Morato Gomes e a chancela da editora
No Museu Nacional da Imprensa,
Cão Menor, um volume que reúne os
no Porto, está patente, até 17 de
relatos de uma viagem à volta do mundo
Junho, a mostra Agostinho da
realizada durante 14 meses pelo autor.
Silva: o “filósofo da liberdade” na
São crónicas publicadas no suplemento
imprensa”, que evoca a vida e
Fugas, do jornal Público, acrescidas de
obra de um dos maiores pen-
alguns textos inéditos e de um portfolio
sadores portugueses do século
de 80 fotografias. «Alma de Viajante», o
XX.
título do livro, que se encontra já nas
A mostra é composta por cerca
livrarias, é também o nome de um site
de meia centena de publicações,
de viagens editado por Filipe Morato
nomeadamente revistas, jornais e
Gomes.
livros. Um conjunto de painéis
Análise minuciosa e profunda de um
Vietname, Camboja, Tailândia, Birmânia,
biográficos conta a vida e percur-
período (1956-1968) decisivo para a
Malásia, Bali, Timor-Leste, Austrália,
so profissional de Agostinho da
construção do jornalismo como profis-
Bolívia, Peru, Argentina e Brasil são
Silva. “Considerações”, “Herta
são, este livro (Ed. Caminho) dos jornal-
alguns dos países atravessados por
Teresinha Joan”, “Sete cartas a
istas e docentes universitários Fernando
estas narrativas.
um jovem filósofo”, “Do Agostinho
Correia e Carla Baptista assinala, ainda,
em torno do Pessoa”, “As
como o ofício dos profissionais de infor-
Aproximações” e “Moisés e outras
mação foi, igualmente, orientado por
Páginas Bíblicas” são alguns dos
valores éticos e humanos e definido pela
livros de Agostinho que podem
posse de competências e saberes es-
ser apreciados nesta mostra, que
pecíficos. Baseado nos testemunhos de
pode ser vista no horário habitual
meia centena de jornalistas, a obra
do museu: todos os dias (incluin-
revisita o quotidiano das antigas redac-
do domingos e feriados) das 15h
ções, a relação com os tipógrafos e a
às 20h.
crescente evolução tecnológica.
Rússia,
10 TempoLivre
Junho 2007
Mongólia,
China,
“Jornalistas, do Ofício
à Profissão”
CSIT 2007 em Oeiras
Brasil triunfa no mundial de Futsal
A equipa do Brasil foi a grande vencedora do
Campeonato Internacional de Futsal, da CSIT (Confederação Internacional de Desporto para Trabalhadores),
organizado pelo Inatel, em Oeiras, em Abril último.
Luís Lamas, Vice-Presidente do Inatel, deu as boas vindas aos atletas e presidiu às cerimónias de abertura e
encerramento do evento desportivo no Inatel em Oeiras.
As provas decorreram no Pavilhão dos Lombos, Oeiras,
com triunfo final da representação brasileira (SESI),
seguindo-se as equipas da Rússia (Rossiya), Dinamarca
(Dai), Portugal (Inatel) e Tunísia (Onst).
Foram ainda distinguidos os atletas Artur Conde, Inatel
(Melhor Marcador), Lasse Biehl, Dinamarca (melhor
jogador), José Teixeira, Brasil (Melhor Guarda-Redes), e
Hbiri Jamel, da Tunísia (disciplina).
Luís Lamas entrega a taça à equipa vencedora
Luís Lamas com o delegado russo e Artur Conde, do INATEL,
com o troféu do melhor marcador
Os finalistas Brasil e Rússia
Pormenor da Final
Luís Lamas e Antas de Barros na recepção aos participantes
Junho 2007
TempoLivre 11
Fotos Premiadas
[1]
[ 1 ] Rita Plácido, Sto. António dos Cavaleiros –
[ 2 ] Rui Cid, Corroios –
[2]
Sócio n.º 344298
Sócio n.º 310651
[ 3 ] Reinaldo Viegas, Lagos –
Sócio n.º 370482
Menções Honrosas
[a]
[b]
[c]
REGULAMENTO
1. Concurso Nacional de Fotografia da
revista Tempo Livre. Periodicidade
mensal. Podem participar todos os
sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e
colaboradores da revista Tempo Livre.
2. Enviar as fotos para: Revista Tempo
Livre - Concurso de Fotografia, Calçada
de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa.
3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
4. O tema é livre e cada concorrente
pode enviar, mensalmente, um máximo
de 3 fotografias de formato mínimo de
10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em
papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte.
5. Não são aceites diapositivos e as
fotos concorrentes não serão devolvidas.
6. O concurso é limitado aos sócios do
Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor,
direcção, telefone e número de associado do Inatel.
7. A Tempo Livre publicará, em cada
mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo
previsto.
[3]
8. Não serão seleccionadas, no mesmo
ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano
9. Prémios: cada uma das três fotos
seleccionadas terá como prémio um fim
de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do
Inatel, durante a época baixa, em
regime APA (alojamento e pequeno
almoço). O premiado(a) deve contactar
a redacção da «TL»
[ a ] Fernando Ledo, Viana do
Castelo – Sócio n.º 349 141
[ b ] Jaime Gonçalves, Corroios
–
Sócio n.º 223036
[ c ] Albano Pereira, Lisboa
–
Sócio n.º 149636
10. Grande Prémio Anual: uma viagem
a escolher na Brochura Inatel Turismo
Social até ao montante de 1750 Euros. A
este prémio, a publicar na revista
Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o
concurso.
11. O júri será composto por dois
responsáveis da revista Tempo Livre e
por um fotógrafo de reconhecido
prestígio.
PERCURSOS
Bragança
Caminhos de montanha
e outras andanças
A proposta é a de um roteiro por uma das regiões menos
visitadas de Portugal, o nordeste transmontano. Bragança e
o Parque Natural de Montesinho inserem-se num itinerário
que privilegia os patrimónios natural e cultural. A estas
seduções juntamos a sugestão de um salto ao outro lado da
fronteira, ao Lago de Sanabria.
14 TempoLivre
Junho 2007
PERCURSOS
Aos valores naturais
e paisagísticos soma-se
o património das aldeias serranas
com as suas casinhas de xisto
e coberturas de lousa
Se outras razões não houvesse para
agendar um périplo pelo nordeste
português, bastaria uma para rumar
ao reino que Torga adjectivou de maravilhoso: Trás-os-Montes é uma das
parcelas de Portugal onde a integração humana com o meio melhor se
realizou, asserção que toma particular
pertinência no caso do Parque Natural
de Montesinho, uma área protegida
criada há já quase trinta anos.
O parque, situado na chamada
terra fria transmontana, é justamente referido como paradigma de
uma interacção harmoniosa entre o
homem e a natureza. A ocupação
urbana e a transformação da natureza decorrente das actividades
agrícolas tomaram aí forma com
assinalável harmonia, contribuindo
para a conservação daquele que é
um dos espaços naturais protegidos
mais agradáveis do país. Ocupa
cerca de 74 mil hectares, situados a
norte de Vinhais e Bragança e está
integrado na Rede Natura 2000. As
duas elevações mais importantes
são a Serra de Montesinho (1486 m.)
e a Serra da Coroa (1273 m.)
Pouco justifica o menor interesse
dos viajantes portugueses, portanto, por este extraordinário espaço
de natureza. Trás-os-Montes e o
Parque Natural de Montesinho
estão hoje bastante mais acessíveis
para quem viaja a partir do litoral (a
16 TempoLivre
Junho 2007
pouco mais de duas horas do Porto,
pela A4 e pelo IP4), e Bragança, a
capital, pode ser um ponto de partida para explorar a região. O Parque
de Campismo do INATEL, nos
arredores da capital transmontana,
à beira do Rio Sabor, e próximo da
via que liga Bragança à fronteira, é
uma opção a considerar para quem
procura intimidade com a natureza.
PATRIMÓNIO NATURAL
E CASINHAS DE XISTO
Afloramentos graníticos, charnecas
húmidas atlânticas meridionais, subestepes de gramíneas, lameiros,
bosques de carvalhos, manchas de
castanheiros, colinas de suave relevo
e ribeiros de água cristalina – eis um
pouco do que caracteriza a paisagem
do Parque Natural de Montesinho.
No capítulo da fauna, o espaço formado pelas serras de Montesinho e
da Coroa reúne populações significativas de algumas espécies ibéricas: lobos (canos lupus), javalis,
corços, veados, esquilos, texugos e
martas, além de aves de rapina
como o tartaranhão cinzento. Açores
e gaviões são também bichos que se
avistam amiúde nos céus do parque.
A estes valores naturais e paisagísticos soma-se o património das aldeias
serranas com as suas casinhas de xisto
e coberturas de lousa, muitas conservando os traços essenciais da arqui-
tectura rural da região. São exemplos
Rio de Onor e a aldeia de Montesinho, cujas ruelas se têm vindo a
reanimar com a passagem de turistas.
No sentido de contrariar o despovoamento destes pequenos núcleos
urbanos, a direcção do parque tem
incentivado e apoiado a reabilitação
de património construído, tendo em
vista o alargamento da oferta de alojamento turístico e a reanimação da
economia local. Algumas dezenas de
moinhos de água recuperados, quase
todos visitáveis, constituem outra
importante atracção para os visitantes
do parque, que encontram desta
forma uma introdução à vida e ritmos
quotidianos das populações locais.
Para os amantes de caminhadas, há
alguns percursos pedestres assinalados, como o do Malara, nome que
toma o Rio de Onor na seu trecho
final, um percurso circular nas freguesias de Gimonde e Baçal. O mais interessante é o do Porto Furado, na Serra
Nevada, perto da aldeia de Montesinho. É um percurso de pequena
rota, com pouco mais de sete quilómetros de extensão, que se faz em
três horas, e com sorte poder-se-á
avistar raposas, corços, coelhos ou,
até, algum lobo.
O LAGO QUE CAIU
NAS GRAÇAS DE UNAMUNO
Em Bragança, lugar onde também
Junho 2007
TempoLivre 17
PERCURSOS
Lago de Sanabria, onde não
faltam também trilhos
assinalados para caminhar entre
as aldeias próximas
sobejam razões para dar corda aos
pés, antes ou depois das andanças
campestres, há-de visitante começar por subir à torre de menagem,
convertida em museu militar. Lá do
alto oferece-se elucidativa paisagem, um “horizonte vastíssimo”,
na descrição de Raul Proença há já
largas décadas. Muita água correu
desde então pelo leito do Sabor, rio
que se avista das ameias, mas no
núcleo histórico, como agora soe
dizer-se, ainda se reconhece a
descrição do pioneiro dos guias de
viagem em Portugal, a quem se dá a
palavra: “A parte antiga da cidade,
cercada por um polígono de muralhas com cubelos nos ângulos e
dominada pela altiva torre de
menagem, de robusto e formoso
recorte, com suas janelas geminadas em estilo gótico flamejante,
conserva ainda muito da sua antiga
fisionomia, constituindo uma verdadeira cidadela de feição medieval
sobranceira à aglomeração urbana
mais moderna”.
A antiga Rua Direita, com o
casario que preserva um número
razoável de elementos medievais, a
Igreja de São Vicente, onde segundo uma tradição terão casado clandestinamente D. Pedro e D. Inês de
Castro, a Praça da Sé (e a própria), a
Igreja de Santa Maria, de acrescen18 TempoLivre
Junho 2007
tada traça barroca, e o intrigante e
românico Domus Municipalis são
outras visitas irrecusáveis. E não
há-de ser esquecido o Museu
Abade de Baçal (sediado no edifício
do antigo Paço Episcopal), montra e
GUIA
Como ir
A A4, entre Porto e Amarante, e o
IP4, de Vila Real a Bragança,
constituem o acesso mais cómodo
e rápido para quem viaja do
litoral. Uma viagem de pouco mais
de duzentos quilómetros. Pelo
interior, o IP2, que se junta ao IP4
em Macedo de Cavaleiros, é o percurso mais indicado.
Contactos
Parque de Campismo do INATEL:
Sede do Parque Natural de
Montesinho: Bº Salvador Nunes
Teixeira, Lote 5, Tel. 273381444,
fax 273381179
registo etnográfico que revela
muito do que constitui (ou constituiu) a identidade da região e da sua
gente e sucessivamente enriquecido no seu espólio (mobiliário, pintura e ourivesaria) com importantes
doações e legados de particulares.
Destaque ainda para a sua notável
colecção de máscaras, recentemente constituída, que perpetua
um invulgar ritual do ciclo festivo
tradicional da região. Aberto de
terça a sexta-feira, das 10h00 às
17h00, o Museu pode ainda ser visitado aos domingos até às 18h00.
O terceiro acto, heterodoxo, desta
incursão ao nordeste português
exige um salto da fronteira, até
Puebla de Sanabria e, daí, um
pouquinho mais para norte, até
outro reino encantado, o do Lago
de Sanabria, onde não faltam também trilhos assinalados para caminhar entre as aldeias próximas,
muitas vezes com as suas águas de
um profundo azul no horizonte. É
o maior lago de origem glaciar da
Península Ibérica e consta que
Unamuno se terá encantado com
ele – tanto que situou a história de
uma das suas mais espantosas novelas, «San Miguel Bueno, mártir»,
nas suas redondezas. I
Humberto Lopes (texto)
Ana Mineiro (fotos)
FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4]
Fundação Dr. António
Cupertino de Miranda
A educação como estratégia
Criada com finalidades de carácter educativo e social, a
Fundação Dr. António Cupertino de Miranda assume uma
missão muito contemporânea, a da “realização de actividades
culturais que promovam a sociedade do conhecimento e
contribuam para a inclusão social”. O trabalho com seniores é
uma das prioridades da instituição.
Emigrado em 1915 para o Brasil,
onde acumulou fortuna, António
Cupertino de Miranda criou depois
do seu regresso a Portugal a fundação que tem o seu nome. A
propósito desses anos e do labor
que permitiu materializar o projecto, Cupertino de Miranda disse ao
extinto jornal «O Século» que tinha
sido “no grande país irmão que se
me tornou possível agenciar economias que hoje destino ao fomento
da cultura nacional”, expressando a
sua gratidão para com o Brasil (e
para com os seus companheiros de
emigração) “por ter-me permitido
restituir, por meio da Fundação do
meu nome, o que fiquei devendo a
tantos emigrantes portugueses que
têm colaborado na sua prosperidade e grandeza”.
No perfil das actividades da
Fundação Dr. António Cupertino
de Miranda transparece uma preocupação de enraizamento no tecido social local e ao mesmo tempo
20 TempoLivre
Junho 2007
uma visão de horizontes muito
amplos, manifestamente”europeístas” e sem fronteiras nacionais,
manifesto no entendimento das
potencialidades da intervenção cultural - a cultura é concebida pela
instituição como “força de desenvolvimento social, como acelerador
da construção europeia e como
expressão de cidadania”. Os objectivos da instituição sublinham
ainda a importância da sociedade
do conhecimento e o contributo da
educação para a coesão social.
Para além de um centro de congressos, apetrechado com moderno
equipamento como cabines de
tradição simultânea, e com “salas
multimodulares”, a Fundação disponibiliza um serviço de educação
e mantém no edifício da sua sede,
na Avenida da Boavista, no Porto,
um Museu do Papel Moeda, de
carácter único em todo o espaço
europeu, que conta através da sua
extensa colecção a história do di-
nheiro de papel em Portugal e nas
ex-colónias.
PARCERIAS E VOLUNTARIADO
Uma das dimensões mais prezadas
pela Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, correspondendo ao que desde o início foi traçado
como missão fundamental, é o
desenvolvimento de actividades
educativas. Nesse sentido, os Serviços de Educação desenvolvem
programas de cooperação com estabelecimentos de ensino do básico e
do secundário, elaborando e apresentando aos professores no início
de cada ano lectivo um programa
de actividades. As parcerias com a
Faculdade de Letras e com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto
inserem-se justamente na preocupação com uma melhoria contínua
dos programas e da oferta educativa da Fundação. Esta abertura a
uma permanente cooperação com
Fachada do edifício
da Fundação
e pormenor do Museu
do Papel Moeda
Junho 2007
TempoLivre 21
FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4] DR. ANTÓNIO CUPERTINO DE MIRANDA
outras entidades tem permitido
uma sinergia que conta com o apoio
de monitores em regime de voluntariado - como acontece com alunos
da Universidade Sénior da Foz e do
curso de pós-graduação em Museologia.
Também a diversidade de públicos e de interesses e sensibilidades
é para a Fundação uma circunstância que deve merecer a melhor
atenção, reflectindo-se nas estratégias e metodologias adoptadas. Daí
que seja crucial, portanto, que sempre que uma exposição é organizada, o museu “tem de a fazer de
maneira que os conteúdos sejam
multidisciplinares, ligados à vida
quotidiana das pessoas, para poderem provocar estímulos de resposta
e interpretação”.
Não menos importante, nesta
linha de atenção à diversidade de
públicos, é o cuidado com que a
Fundação procura organizar as suas
actividades educativas e de divulgação através de um trabalho sistemático com públicos seniores e
22 TempoLivre
Junho 2007
infantis, ao mesmo tempo que
procura ter em conta uma dinâmica
que responda às solicitações de pessoas com necessidades especiais.
OS NÚCLEOS MUSEOLÓGICOS
O projecto do Museu do Papel
Moeda surgiu na sequência da decisão de criar, em 1981, uma colecção de papel fiduciário. Inaugurado
em 1996, tem precisamente como
missão “adquirir, conservar, expor e
divulgar uma colecção de papel
fiduciário português, enquanto
património e símbolo de identidade
nacional”. A iniciativa da criação de
um tal núcleo foi do então administrador Alberto Correia de Almeida, e nela estava implícita “a
ideia de que cada instituição cultural, para reforçar a sua identidade,
deve ter sempre um núcleo distinto, original e autêntico”.
Ao longo dos últimos 25 anos foi
reunida uma vasta colecção em que
se incluem apólices do Real Erário,
notas do Banco de Portugal, tanto
do tempo da Monarquia como da
República, notas do Banco Nacional
Ultramarino, cédulas, lotarias, cheques, acções de companhias, letras,
etc. Entre as raridades reunidas no
museu conta-se uma nota de
1000$00 de 1920 com o retrato de
Luís de Camões, sendo esse o único
exemplar conhecido. Exemplares
únicos são também uma nota de 50
rupias da Índia, de 1882, uma nota
de 50 000 réis da Guiné, de 1909,
com a efígie de Vasco da Gama e
uma nota de 1000 réis e Moçambique, datada de 1877.
Este núcleo museológico viria a
ser complementado com uma outra
colecção, que designada por “Dinheiro e transportes”. Trata-se de
um acervo de milhares de miniaturas de automóveis, comboios e
barcos que o museu procurou articular tematicamente com o acervo
pré-existente, recorrendo para o
efeito a um conjunto de novos dispositivos tecnológicos como CDrom, postos multimédia ou filmes
em 3D. I
Humberto Lopes
Concerto da Orquestra
Clássica do Porto.
A Fundação procura
organizar as suas
actividades educativas e de
divulgação através de um
trabalho sistemático com
públicos seniores e infantis
Ao longo dos últimos
25 anos, o Museu do
Papel Moeda reuniu
uma vasta colecção
em que se incluem
apólices do Real Erário
Junho 2007
TempoLivre 23
FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [4] ENTREVISTA
Maria Amélia Cupertino de Miranda
«Procuramos respostas
à globalização»
A dimensão cultural e educacional da Fundação Cupertino de Miranda não se esgota nas
inúmeras visitas de pessoas de todas as idades ao Museu. Como salienta a sua Presidente,
Maria Amélia Cupertino de Miranda, a programação e as numerosas e diversificadas parcerias
da Fundação com entidades públicas e privadas visam “ preparar as pessoas para responder
aos desafios que a sociedade coloca”.
Tempo Livre - Que balanço faz da actividade da fundação até
agora? O que destacaria mais?
Maria Amélia Cupertino de Miranda - Está reservado às
instituições culturais um papel da maior importância no
processo de desenvolvimento e transformação que a
sociedade está a viver. O processo de globalização em curso
requer a necessidade de preparar as pessoas para responder aos desafios que a sociedade coloca. São exigidos novos
padrões de conhecimento, novas atitudes face ao conhecimento e novos modelos de educação. Estes são alguns dos
eixos orientadores da programação da Fundação Dr.
António Cupertino de Miranda e do Museu do Papel
Moeda. O balanço é necessariamente um balanço que se
inscreve no resultado de actividades que tiveram por objectivo o desenvolvimento de competências relacionadas com
a área do saber e da cultura, no desenvolvimento da
autonomia do pensamento, na formação da sua consciência
crítica e ainda na promoção de públicos para a cultura.
O que eu mais gostaria de destacar é o papel educacional e social que o Museu do Papel Moeda tem vindo
a desempenhar. A dimensão cultural e educacional
desta instituição revela-se, não só na sua programação,
mas também nas parcerias que tem vindo a tecer, passando a referir, a título de exemplo, só algumas: o
Pelouro da Educação da Câmara Municipal do Porto, a
Acapo - Associação de Cegos e Ambliopes de Portugal,
a Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na
Sobredotação, a Associação de Pais e Amigos do
Cidadão Deficiente Mental, a Associação de Surdos do
Porto, a Obra Diocesana de Promoção Social e a
Universidade Sénior da Foz.
24 TempoLivre
Junho 2007
TL - Os serviços educativos assumem um lugar privilegiado nas
actividades da Fundação. Como avalia a resposta da sociedade
e dos diferentes públicos a esta oferta?
MACM - Creio que pelo número de parcerias que referi (e
são só algumas) se pode inferir que a resposta da sociedade
é muito boa. Mas falta ainda dizer, para que a dimensão da
influencia do Museu possa ser devidamente avaliada, que
são inúmeras as visitas de escolas do Ensino Básico, ATL´s ,
do Pré-escolar e do Ensino Secundário. E não só do Porto ou
da Grande Área Metropolitana do Porto. Refiro-me a visitas de alunos que vêm de todos os pontos do País.
Por outro lado, avalio também o impacto que a politica
educacional do Museu tem, pela pronta resposta que as
escolas dão, quando em Setembro de todos os anos, O
Museu apresenta a sua programação. Pouco tempo depois,
as marcações de visitas das escolas preenchem todos os
meses do calendário do ano lectivo.
TL - Como tem sido o trabalho com seniores e com pessoas
com necessidades especiais? Como sintetizaria o essencial
das preocupações da Fundação neste domínio?
MACM - O trabalho com os seniores e com as pessoas com
necessidades especiais tem sido central desde 2005. Na
equipa do Serviço de Educação existe uma pessoa, um sénior
que é responsável por esta área, pelos contactos e comunicação com este público. É um público especial. Requer programação, horários, ritmos e abordagens específicas. A
pesquisa feita nesta área já levou o Museu a apresentar
comunicações em conferências e congressos que versam este
tema e levou também o Museu a perceber que a sua programação é capaz de gerar um capital social da maior importân-
cia: promove contactos intergeracionais - os avós vêm e
trazem os netos aos programas das Famílias, por exemplo,
porque gostam de lhes mostrar o que para eles é importante.
O Museu percebeu também que os seniores detêm um
poder de comunicação assinalável e por isso nos programas
está sempre presente a estratégia de lhes oferecer oportunidades para recordar as suas lembranças. A vinda ao
Museu é fonte de divertimento e de diversão, o que lhes
permite passar uma manhã ou uma tarde diferentes.
O trabalho com pessoas com necessidades especiais foi
também alvo de pesquisa ao abrigo de uma tese de posgradução e tem sido desenvolvido em parceria com as
respectivas Associações, nomeadamente a ACAPO do
Porto, cujo empenho e colaboração é absolutamente de assinalar. O Museu possui até um Manual de Acessibilidades
para se tornar acessível a todos os públicos.
TL - Pode fazer referência a um ou outro projecto em curso, ou
em perspectiva para o futuro?
MACM - Há vários projectos em curso, a maior parte dos
quais reflecte este papel educacional e social que o Museu
tem e que me leva a dizer que o Museu do Papel Moeda é
um “empreendedor social” - é um agente de mudança na
vida das pessoas. Estuda a sua aproximação às pessoas e a
melhor maneira de acrescentar valor às suas vidas. São características do processo de empreendedor social a preocupação com a solução de problemas sociais fundamentais, a
capacidade de descobrir permanentemente novas oportunidades e o objectivo de alcançar melhorias sociais.
Nesta linha, inscreve-se a programação de actividades
para as crianças e jovens, os seniores, as famílias e as pessoas
com necessidades especiais. O projecto que gostaria de
destacar é o que tem por titulo “Museu sem barreiras” consiste no equipamento de uma sala multimédia com
computadores que têm software especifico para pessoas
com deficiência neuromotora, cegos e ambliopes. Há ainda
um outro projecto que envolve o voluntariado e se situa na
área da promoção das competências de desenvolvimento
de tecnologias de informação e comunicação junto de
alunos do Ensino Básico e a remodelação do site da
Fundação para que fique acessível a todas as pessoas.
Há inúmeros projectos para as crianças, entre os quais
destaco um cujo objectivo é a educação financeira. Para as
famílias, destaco o “Há teatro no Museu”, no qual os actores
são mesmo os elementos que constituem as famílias visitantes. Para os seniores, não posso deixar de referir o fantástico “Quem conta um conto...” em que historias divertidas se misturam com recordações que fazem reviver a
história de Portugal através do dinheiro de papel. I H.L.
Junho 2007
TempoLivre 25
TERMAS EM PORTUGAL [3]
Luso
Dois séculos de boas águas
Desde o início do século XVIII que o pequeno lugar
do «Banho» tomou forma à volta da Fonte de S. João.
A divulgação das virtudes terapêuticas das águas deve-se
a José António de Moraes, médico da Casa Real
no reinado de D. Maria I.
A partir desta época, começaram a
chegar os primeiros doentes. Ainda
em 1775, e sob iniciativa daquele
médico, foram protegidas as
nascentes e construída uma pequena barraca de madeira para tomar
os banhos, a que se seguiram outras
mais. Só nos anos de 1837 e 1838 foi
edificada uma casa de alvenaria,
com quatro banheiras, com recursos
da Câmara da Mealhada. O número
de aquistas aumentava, mas a
ausência de «policiamento» nos balneários, como nos descreve médico
Costa Simões na sua Notícia dos
Banhos do Luso, exigia a melhoria
da estância termal, terminando o
desconforto, porque «(...) era costume tomar banho quem primeiro
chegasse; e nas ocasiões de grande
concorrência era preciso aparecer
no banho logo de manhã, para ter
vez às onze horas ou meio-dia. Para
evitar esta demora, era costume
pagarem-se 40 réis, por dia, a quem
ia tomar a vez».
Em Junho de 1848, Costa Simões
apresentou ao Governador Civil de
Aveiro o primeiro projecto do edifício do Banho, com balneário e sala
de descanso, leitura e jogo. A sua
construção foi possível graças à subscrição pública que rendeu cerca de
26 TempoLivre
Junho 2007
87 mil réis e ao donativo da rainha
D. Maria II. Em 1854 iniciaram-se os
trabalhos de construção do novo
edifício termal, e a abertura das vias
de acesso consolidava o sítio, que
viria a receber profundas melhorias
quando, entre 1886 e 1889, o
Ministro das Obras Públicas,
Emídio Navarro, com casa no Luso,
apoiou significativamente a estância através da construção de
estradas, escolas e o apoio à
Instalações
do Inatel Luso.
Em cima, vista geral
do Luso
Sociedade das Águas. Em 1893, foi
construído outro edifício termal
(actual bloco de fisioterapia),
equipado com piscina colectiva,
cabinas individuais para banhos de
imersão e massagens e sala de
duches subaquáticos. De 1884 é a
primeira distribuição das águas
engarrafadas no mercado interno,
que em 1901 passou a dispor do
engarrafamento em vasilhame
próprio, através da aquisição de
garrafões de 5, 10, 15 e 20 litros, permitindo um melhor escoamento no
mercado.
PATRIMÓNIO
A estância foi crescendo. Novos
edifícios e espaços públicos de alojamento, comércio e de lazer foram
construídos, como jardins, infraestruturas desportivas e um casino,
este já totalmente iluminado a
acetileno em 1903. Trouxeram novos
aquistas, que frequentaram os dois
edifícios: o principal (ou antigo) e o
anexo (ou moderno). Em 1913, é iniciada a venda de água gaseificada e
atribuída a Medalha de Ouro à água
de Luso na exposição de Madrid. A
crescente importância da venda de
água engarrafada justificou a construção de um novo edifício-sede e
sector de engarrafamento, em finais
dos anos 20. A partir da década
seguinte, iniciaram-se novos melhoramentos, nomeadamente os da
autoria de Pardal Monteiro: um
novo balneário, com o primeiro
emanatório em Portugal, incluindo
vitrais de Ricardo Leone, e a notável
sala da buvette, com aplicação de
um baixo-relevo do escultor João da
Silva. Na mesma altura, foi construído o Grande Hotel, por outro nome
importante da arquitectura portuguesa, Cassiano Branco. Prometiase luxo para uma nova burguesia
emergente das restrições da Guerra.
O conjunto de edifícios resultantes desta época chegou aos nossos dias, envolto por um aglomerado urbano implantado na encosta
da Mata Nacional do Buçaco,
património botânico notável e a
principal referência turística na
região. Nela, é fácil encontrar
espécimes arbóreas com origens de
todos os continentes. O seu Palace
Hotel, aberto como hotel precisamente há um século, em 1907,
impressiona pela sua arquitectura
em estilo neomanuelino e pelos
ambientes interiores verdadeiramente palacianos e enriquecidos
com obras de arte de pintores,
escultores e marceneiros portugueses, por exemplo.
INATEL LUSO
Por lá, o visitante pode pernoitar
para desfrute destes e de outros
patrimónios da região, como a gastronomia, mas também há hotéis e
pensões agradáveis mais próximos
das termas. Ao sócio do INATEL, o
Luso é uma opção a não perder, até
porque as suas instalações propiciam uma estada tranquila, sobranceira a esta vila que tem agora um
programa estratégico para a regeneração das suas termas. Espera-se
que esta nova ambição sirva para o
termalismo tomar passo com a
exploração e comercialização das
águas engarrafadas, principal imagem de marca do Luso em termos
nacionais. I
Helena Gonçalves Pinto
e Jorge Mangorrinha
Junho 2007
TempoLivre 27
COMUNIDADES PORTUGUESAS
Contrabando
e emigração clandestina
ganham espaço em Melgaço
Um museu
entre a memória
e a fronteira
Os emigrantes portugueses que
tradicionalmente regressam todos os anos à
terra natal para descansar e matar saudades
têm este ano mais um museu em sua
homenagem.
rata-se do Espaço Memória e Fronteira, em Melgaço, um lugar que quer recordar as histórias dos tempos da
emigração clandestina, episódios
de sofrimento e de aventura, mas
também dar voz aos seus protagonistas.
O Espaço Memória e Fronteira
abriu portas em finais de Abril e,
fruto de um investimento de cerca
de um milhão de euros, veio transformar o antigo matadouro de Melgaço num museu onde se recriam
não apenas os dias difíceis da emigração “a salto”, mas também as
peripécias, os riscos e aventuras
associadas ao contrabando.
O contrabando em Melgaço foi
durante os anos do Estado Novo
uma verdadeira actividade económica e comercial, favorecida pela
extensa fronteira com a vizinha
T
28 TempoLivre
Junho 2007
Espanha, uma vezes contando com
o rio Minho como aliado outras como perigoso inimigo.
Os melgacenses que nesses tempos de dificuldade e miséria não
encontraram modo de vida no contrabando ou nas poucas actividades
da terra, voltaram-se para a emigração e, hoje, os filhos do concelho
engrossam as comunidades portuguesas um pouco por todo o
mundo, principalmente em França
e no Brasil.
Mas a emigração não é coisa do
passado em Melgaço, já que muitos
dos jovens do concelho continuam
a procurar além-fronteiras formas
de subsistência. Noutro sentido, são
também muitos os que regressam à
terra depois de vários anos no estrangeiro. Um estudo recente sobre
os efeitos da emigração na população do concelho, dava conta que
quatro em cada dez pessoas maiores de 60 anos foram emigrantes.
É com estes que o autarca local
Rui Solheiro conta para tornar o
novo museu num local de memória, mas sobretudo num espaço
vivo onde seja possível ouvir “testemunhos na primeira pessoa de
quem sentiu na pele e viveu por
dentro a emigração clandestina e o
contrabando”.
CONTRABANDO, EMIGRAÇÃO
E MEMÓRIAS
Localizado à entrada da vila, na
envolvente do rio Porto, o novo espaço museológico de Melgaço está
ligado ao centro histórico por uma
ponte pedonal. No interior do edifício de dois pisos, as obras de recuperação e remodelação, deixaram
irreconhecível o antigo matadouro
municipal.
No rés-do-chão, à entrada, um
mapa recebe os visitantes, indicando-lhes claramente os limites de
fronteira do concelho e a localização dos postos da Guarda Fiscal.
A recriação de uma casa de câmbios remete para tempos muito anteriores à moeda única, num piso
inteiramente dedicado ao contrabando. Aqui se situa a sala do contrabando, onde estão expostas peças originais desses tempos, como
um barco, uma torradeira de café,
ou uma farda.
À medida que sobem a rampa,
que liga os dois andares, os visitantes têm oportunidade de se informar sobre as causas da emigração e acompanhar a preparação
da viagem e a própria viagem, através da mostra de diversos objectos
onde as malas e passaportes têm
lugar de destaque.
No final da rampa, encontra-se o
espaço dedicado à chegada e à vivência no país de acolhimento, que
retrata, por exemplo, as condições
de habitação e de trabalho, e as comunidades portuguesas no mundo.
No piso superior é possível observar os reflexos da emigração no
concelho de Melgaço, através de
painéis com usos e costumes importados, em áreas tão diversas
como o vestuário, a alimentação, arquitectura ou a música.
O museu dispõe ainda de um
auditório onde será possível assistir
a filmes e histórias relacionadas
com os temas do museu.
Haverá ainda um gabinete de
atendimento a emigrantes e imigrantes para prestar esclarecimentos
e apoiar uns e outros na sua integração ou reintegração no concelho.
Promover a reflexão e o estudo
sobre o contrabando e a emigração
clandestina, dando-os a conhecer é
o objectivo traçado pela autarquia
para o novo museu, que se pretende
possa também e simultaneamente
confrontar a população e os visitantes com a sua própria memória.
MUSEUS DA EMIGRAÇÃO
O Espaço Memória e Fronteira,
inaugurado em Abril, vem engrossar a lista de espaços museológicos
dedicados à parcela de cerca de
cinco milhões de portugueses que
não encontraram espaço dentro as
fronteiras nacionais. Tradicional país
de emigração, Portugal não tinha até
ao início do século XXI um único
museu exclusivamente dedicado à
emigração. Sete anos depois, são já
três os museus da emigração em
Fafe, Ribeira Grande (nos Açores) e
Melgaço.
O primeiro Museu da Emigração
e Comunidades Portuguesas nasceu em Fafe, em Julho de 2001, da
junção de esforços entre a Câmara
Municipal de Fafe, a Federação das
Associações Portuguesas de França,
a Casa da Cultura de Porto Seguro,
no Brasil, e o Centro de Estudos das
Migrações e das Relações Interculturais da Universidade Aberta.
A criação de uma base de dados
nacional de emigrantes, o inventário das marcas deixadas pelos portugueses nos vários continentes, a
recolha de documentos e objectos
relacionados com a emigração e a
reconstituição de histórias de vida
Com a comparticipação do programa comunitário INTERREG, o antigo matadouro
municipal de Melgaço tornou-se num espaço de homenagem aos emigrantes do concelho
são algumas das metas propostas
pelos promotores do museu, que
querem ainda promover o contacto
dos descendentes de emigrantes
portugueses com as terras de origem
e realizar encontros, visitas, exposições, conferências, debates e colóquios sobre temáticas que tenham
como objecto a valorização do papel
dos emigrantes nos territórios de
origem, destino e retorno.
No âmbito do Museu, Fafe acolhe
de 05 a 08 de Julho um seminário
internacional vocacionado para a
discussão do tema das migrações e
denominado “Memórias e Migrações Museus, História, Educação,
Diversidades e Direitos Humanos”.
O evento é patrocinado pela
UNESCO e pela Organização Internacional das Migrações.
O primeiro museu exclusivamente
dedicado à emigração açoriana abriu
ao público em Setembro de 2006, no
antigo Mercado do Peixe da Ribeira
Grande, em S. Miguel, Açores. Com
um espólio de cerca de uma centena
de peças, o museu inaugurou com a
exposição “Memórias da Emigração,
Os Cabral de Mello, 1890-1930, São
Miguel-New Bedford”, que conta o
percurso de uma “família tipo” até
aos Estados Unidos.
Mobiliário, cartas, passaportes e
passagens são algumas das peças,
pertencentes a uma colecção particular, que pretendem representar as
famílias açorianas que emigraram,
na sua grande maioria, para o Brasil,
EUA e Canadá a partir do século
XVIII até aos anos 80 do século XX.
O Museu da Emigração conta
ainda com o espólio pessoal de
Mota Amaral, que doou peças
recolhidas junto das comunidades
açorianas durante o período em
que foi presidente do Governo
Regional dos Açores. I
Cristina Fernandes Ferreira
Junho 2007
TempoLivre 29
PAIXÕES
Mário Santos
O leão da Foz
Irrompe o Verão e lá se vai o mundo pacato deste homem
tranquilo. Então, arrecada na cave os materiais com que dá asas
à imaginação, economiza as idas ao mar e atende os banhistas
que frequentam o seu estabelecimento.
São os hóspedes da residencial, os
apostadores do Totoloto e do Euromilhões, os clientes que se empolgam nas trocas de impressões sobre
os meandros do futebol. Nas paredes do café, onde sobressaem calendários e uma vasta iconografia
ligada ao Sporting, estão expostas
as pequenas peças de artesanato
que este homem engendra com
toda a paciência do mundo. No enquadramento das molduras azuis
ou rosas, sobressaem as tartarugas e
as borboletas em relevo. Tudo tão
perfeitinho, tão divertido, tão ingénuo. No fundo, resume-se a “um
hobby para matar os tempos mortos dos Invernos”.
Mário Santos, que vai a caminho
dos sessenta, nasceu na Foz do
Arelho. É na praia que recolhe as
conchas e os seixos, quando a maré
está vazia. Nem precisa de consultar
o Borda de Água, pois trata por
aquele mar revolto. “Aqui vivia-se
da agricultura e da pesca. Conta-se
que havia veados para os lados da
praia”, recorda. Filho de um mestrede-obras que, no início da década
de 50, procurou melhorar a vida em
Angola, fez a terceira classe no colégio Nuno Álvares de Benguela. Aos
30 TempoLivre
Junho 2007
nove anos, já nas Caldas da Rainha,
matriculou-se na Escola Comercial e
Industrial Rafael Pinheiro onde frequentou um curso de serralharia. O
Instituto Industrial de Lisboa seria o
próximo passo, mas a morte precoce
do pai estragou-lhe os planos. Não
desanimou.
Tinha a fibra dos que se obstinavam num desigual braço de ferro
com o destino e, contra estatísticas
ou predestinações, acabou por torcer a sorte. Concorreu sem sucesso
para a Força Aérea. “Eram 900 os
concorrentes e só havia 200 vagas”,
sublinha. Afoito, “bateu à porta”
das maiores companhias do país.
Mas as setenaves, as lisnaves, as
sorefanes só aceitavam rapazes com
o serviço militar cumprido. Até que
lhe ofereceram um lugar de auxiliar
de trabalhos manuais em Torres
Vedras, oportunidade que soube
agarrar. Ali ficou durante dois anos
bem contados. No seu currículo distingue-se uma passagem fugaz pelo
centro do Inatel, antiga FNAT da
Foz do Arelho, onde a mãe era
encarregada da rouparia e da secção de costura. Nas férias estivais
trabalhava como funcionário dos
jogos e, mais tarde, foi transferido
para a secretaria.
Chegou a altura da tropa, algo
que encarou com a máxima naturalidade. No posto de sargento miliciano, como tantos outros jovens,
em 1969 partiu para as colónias
integrado num batalhão. Vestido de
camuflado e armado de G3, reviu a
Angola da sua infância. “Calhoume uma zona perigosa no norte. As
operações na mata duravam três e
quatro dias. Estive debaixo de fogo
umas setenta vezes e sofri vários
ataques da formiga branca. Havia
formigas terríveis que se enterravam na carne”, relata. Felizmente,
voltou vivo e sem mazelas físicas.
Em 1971 encaixou-se na Celcat,
uma fábrica de fios condutores eléctricos, mas desenvolveu uma alergia aos metais e aos óleos das máquinas, acabando por abandonar o
emprego que tanto lhe custou a
obter.
DO CANADÁ À FOZ
A dureza da vida nunca lhe vergou
os sonhos nem a vontade, nem as
pernas para andar. Sem mais delongas, abraçou a ideia de buscar
futuro no estrangeiro. Fixou residência em Toronto. Na qualidade
de operário especializado recebeu
um curso de inglês com a duração
de seis meses, oferta do governo do
Canadá, “um país espectacular” de
que só diz maravilhas. Já com um
razoável domínio da língua, ei-lo
no Royal Bank a lançar cheques no
computador, numa rotina das quatro à meia-noite. Funcionário competente e esforçado, promoveramno a supervisor. Ao fim de oito
anos, decidiu voltar. “Não me dava
nada bem com o clima e o meu filho
mais velho sofria de bronquite
asmática”, acrescenta.
De regresso às origens, sentindo
nos pés o apelo das raízes, abriu
uma residencial com café e sala de
jogos denominada Leão que era o
símbolo do banco onde trabalhara.
Há, no entanto, quem pense que o
nome é uma homenagem ao clube
de Alvalade.“Sou simpatizante do
Sporting desde os meus oito anos.
Costumava assistir com o meu pai
aos jogos do Sporting de Benguela.
Quando vim de Angola, na escola
ouvia falar do Sporting. Logo aí
decidi qual era o meu clube. Já fui
um adepto ferrenho mas agora
estou um pouco decepcionado. O
futebol actual tornou-se mais um
negócio do que um desporto”, lamenta.
Com nostalgia no olhar, refere-se
à época gloriosa em que os cinco
violinos davam música.
Embarcou na aventura do artesanato, à laia de brincadeira. A pensar no rosto alegre da neta de três
anos lembrou-se de trazer seixos da
praia para fazer uns palhaços.
“Após várias tentativas consegui
arranjar uma cola boa, pintava as
peças e punha-as a secar em cima
do frigorífico. Os clientes achavam
graça e queriam comprá-las”, afirma. Era o bichinho dos trabalhos
manuais a querer soltar-se. Os elogios das pessoas alimentaram-lhe o
ímpeto, foram um incentivo que o
encorajou a fazer novas experiências. Em 2000 expõe, pela primeira
vez, no salão da Junta de Freguesia.
No ano seguinte, participou na
Feira do Vinho e do Cavalo, em
Alenquer, e na Feira do Artesanato
do Pombal. Agora, confirmou a presença pela terceira vez na Expoeste
das Caldas da Rainha.
No espaço que lhe concedem,
alinham-se as borboletas, os leões,
Junho 2007
TempoLivre 31
PAIXÕES
as tartarugas, os dinossauros, as
galinhas, os malmequeres. Na concepção destas peças, cingidas quase
a um universo de cariz marítimo,
entram várias espécies de conchas,
de ouriços do mar e de búzios.
Berbigão, amêijoa cão ou macha, pé
de burrinho, conquilhas, amêijoa
real, lapas e ostras, coisas submetidas ao desgaste das ondas. “Normalmente utilizo búzios nos rabos
das tartarugas e também nos corpos
dos peixe. A cabeça do dinossauro
leva concha de ostra e de berbigão.
Na base do malmequer está o seixo,
as folhas são conchas de conquilha
e o olho amarelo é um fragmento
de ouriço. Ultimamente pedem-me
para fazer mochos.”
Demora algumas horas a apanhar
a matéria-prima que, depois de
cuidadosamente limpa, é pintada
com tinta de esmalte. “Não faço
desenhos, tudo sai da minha imaginação, quando vou à beira do mar
trago logo as coisas de que preciso
para criar um animal, um pássaro ou
uma flor. Uso uma cola especial de
elevado teor tóxico”, adianta. Mal se
descuida, por duas vezes já aconteceu ficar com os dedos colados.
Deixa as peças a secar de uma dia
para o outro. A fase da pintura, que
obedece a certas regras, é um exercício metódico.”Tem de ser uma cor de
cada vez, tem de haver intervalos
entre o aplicar das tintas para se
atingir os objectivos pretendidos”,
explica. Seguem-se os acabamentos,
sem nunca dispensar o verniz que
dá uma maior consistência estética e
durabilidade aos seixos.
A PESCA DO «FUNDO»
No Verão, com a movimentação de
turistas, a vida calma de Mário
Santos complica-se. Há dias em que
fecha a porta do café às três da manhã. Falta-lhe o tempo e o sossego
32 TempoLivre
Junho 2007
«Após várias
tentativas
consegui arranjar
uma cola boa,
pintava as peças
e punha-as
a secar em cima
do frigorífico.
Os clientes
achavam graça
e queriam
comprá-las»
que um trabalho criativo daquela
natureza exige”. Mas, por outro
lado, surgem-lhe clientes inesperados que sempre vão adquirindo as
suas coloridas obras. Foi o caso do
Tó Freitas, antigo baterista do programa do Júlio Isidro, que se rendeu
ao encanto daquelas peças concebidas com os despojos das guerras
travadas no mar.
Na sala de jogos mostra-nos um
quadro com a imagem do seu animal preferido. O rei da selva, claro.
“Ainda andei à busca de um leão de
pedra mas não gostei nada do que
vi nas lojas de artesanato. Encomendei esta pintura ao Luis Grandela, o neto do Francisco Grandela,
que andava por aqui a viver dos
rendimentos e a pintar umas telas
sobre a lagoa. Custou-me 35 contos,
quantia que em meados dos anos 80
era dinheiro. Ele veio-me com a
história de um amigo que desejava
muito comprar o quadro, a fim de o
oferecer ao João Rocha. Até estava
disposto a pagar um preço mais
alto, mas como já se tinha comprometido comigo o negócio não se
concretizou”, remata.
A pesca é outra das suas afeições.
Ao contrário do Manuel Alegre,
uma figura incontornável no mundo dos pescadores da Foz do
Arelho, pratica a técnica do “fundo”. O poeta, apetrechado com
material de cinco estrelas, chega a
apanhar robalos de seis e sete quilos. “Em vez da minhoca usa um
peixinho de plástico, a chamada
negaça. O robalo é o único peixe
que se atira ao falso isco, que cai na
armadilha da corricar”, explica. I
Lourdes Féria
CULTURA
Grandtour 2007
Quatro mega exposições
na Europa
A BIENAL DE VENEZA tem
como uma das vertentes principais
o 52º Festival Internacional de Artes
(de 10 de Junho a 21 de Novembro),
que tem por curador o artista e crítico norte-americano Robert Storr.
A exposição deste ano, intitulada
Think with the Senses – Feel with
the Mind. Art in the Present Tense,
bate o recorde de número de países
participantes, 77, de onde virão a
centena de artistas com trabalhos em
mostra. A exposição ocupa o centro
histórico da cidade, e sobretudo
alguns espaços da extensa Arsenale
(onde a prolífica indústria naval
operava desde o Século XII) e do
novo Pavilhão Italiano de Giardini.
Na berlinda estão este ano a arte contemporânea africana e o Pavilhão
Turco. A escultora Ângela Ferreira
(que também recorre a textos, vídeos
e fotografias como mais-valias das
suas peças) será a representante nacional oficial, sucedendo a Helena
Almeida (2005), Pedro Cabrita Reis
(2003), João Penalva (2001), Jorge
34 TempoLivre
Junho 2007
Molder (1999) ou Julião Sarmento
(1997). O seu trabalho pode ser apreciado na Fondaco Marcello (na margem do Grande Canal).
O festival tem um peso histórico
na arte contemporânea. Serviu de
abrigo para artistas impressionistas
e expressionistas do século passado,
e abriu as portas da Europa ao
movimento Pop Art, oriundo dos
Estados Unidos.
Para mais informações:
www.labiennale.org
A ART 38 BASEL (de 13 a 17 de
Junho) é a grande feira de arte
anual de Basileia, Suíça, que o New
York Times já designou como as
«Olimpíadas das artes». O evento
atrai milhares de coleccionadores,
galeristas, artistas, jornalistas e apreciadores, que procuram conhecer o
próximo passo do mundo das artes.
A Art 38 Basel, que acontece no centro de artes Messe Basel, reúne trabalhos das 290 mais conceituadas galerias de arte de todo o mundo. Estarão
em exposição obras de mais de 2000
artistas (de diferentes passados e origens), nos mais diferente domínios:
da pintura ao desenho, da fotografia à
escultura, de instalações a performances, de impressões a vídeos.
Uma das imagens de marca da Art
Basel é a interactividade que promove entre artistas e público, através
de conferências, fóruns e encontros
«oficiais» de café. Nem sequer falta
um espaço de actividades para crianças, o Art Kids, em que os menores
são desafiados a entrar no mundo
das artes de uma forma lúdica.
Para mais informações:
www.artbasel.com
A
DOCUMENTA DE KASSEL (de
16 de Junho a 23 de Setembro), na
Alemanha, acontece de 5 em 5 anos.
Nesta altura, a pequena cidade do
estado alemão de Hessen também
reclama o estatuto de capital europeia da arte contemporânea.
Algumas obras de edições anteriores do Documenta tornaram-se
Em Junho, acontece uma coincidência única
em cada dez anos: a simultaneidade de quatro dos maiores
festivais de artes plásticas do mundo.
A centenária Bienal de Veneza, em Itália. A Art 38 Basel, na
Suíça. A Documenta de Kassel e a Skulptur Projekte de
Münster, na Alemanha.
inclusivamente monumentos da
terra, como a escultura Andando
para o Céu, uma figura de acrílico a
escalar um tubo cilíndrico metálico
de 25 metros, que o norte-americano Jonathan Borofsky criou para
a Documenta 9, em 1992. Os habitantes de Kassel organizaram-se para amealhar dinheiro e compraram
a peça - que está hoje situada em
frente à estação central de comboios - por 600 mil marcos.
A edição deste ano, a Documenta
12 (o número significa que esta é a
12ª edição do festival), tem como
ideal temático o espaço e como
mote a capacidade da arte em harmonizar as diferenças da humanidade, e espera atrair este ano 735
mil turistas!
As grandes expectativas mediáticas
estão concentradas na participação do
catalão Ferran Adrià, considerado o
melhor chefe de cozinha do mundo.
Apesar do convite feito ao inovador
cozinheiro estar a dividir os meios
artísticos (incluindo de Espanha), a
«obra», preparada em
segredo pelo meticuloso criador culinário,
está a conseguir ser o
grande mistério do
Documenta 12.
Para mais informações:
www.documenta12.de
O SKULPTUR PROJEKTE (de 17
de Junho a 30 de Setembro), ocorre
em Münster, Alemanha (no estado
da Renânia do Norte-Vestfália), de
dez em dez anos, e prefere concentrar-se num menor número de artistas, 35 - do qual se destaca o videasta e escultor norte-americano Bruce
Nauman, que retoma o projecto que
concebeu para o Sculpture Projects
1977 e que falhou por razões técnicas: a obra de título Square Depression, mas apelidada de «pirâmide
invertida», tem uma estrutura de 25
metros de diâmetro que perfura o
terreno, criando um enorme buraco.
Todos as esculturas são criadas, na
maioria, em Münster, e instaladas à
volta da cidade, participando o festival activamente na mutação de
imagem da localidade, envolvendo
as obras na arquitectura circundante.
Para mais informações:
www.skulptur-projekte.de
ITINERÁRIOS PROPOSTOS
A www.grandtour2007.com é inspirada na simultaneidade destes quatro grandes festivais de artes plásticas, e lança algumas dicas de roteiros possíveis, além de recomendar voos e hotéis, de modo a simplificar os preparativos de viagem
para os interessados.
Para quem preferir viajar de
avião, sugerimos como primeira
etapa a Art 38 Basel, por ser a
exposição mais breve (dura apenas
5 dias), permitindo-lhe assim
usufruir com mais à-vontade os
restantes certames, que começam
na mesma altura mas são bem mais
duradoiros. Aconselhamos como
meio de transporte entre os 4 eventos o comboio, pois qualquer uma
das quatro cidades-sede tem excelentes ligações ferroviárias.
Se seguir o nosso conselho, a
viagem ida e volta Lisboa - Zurique,
com escala em Madrid, pela Ibéria,
é a mais barata. Através de promoções, pode viajar por preços próximos dos 175 euros (com tarifas mais
económicas mas sem possibilidade
de alteração e/ou reembolso). Gonçalo Palma
Junho 2007
TempoLivre 35
TRINDADE 140 ANOS
«Cine-Teatro da Trindade»
O Trindade pode orgulhar-se de ter compreendido
a revolução que o cinema constituiu a nível do espectáculo,
e isto pelo menos a partir de 1913.
Nesse ano, com efeito, o Salão da
Trindade, como na altura ainda se
dizia, exibiu um filme italiano, a
partir do celebre romance “Quo
Vadis“ que teria nos anos 50 uma
versão célebre com Debhora Kerr e
Peter Ustinov, inesquecível no papel
de Nero.
A versão de 1913 seria certamente
mais modesta, mas, mesmo assim,
teve no elenco o então celebre actor
Amleto Noveli.
O Trindade voltaria à exibição
cinematográfica regular em 1938,
por iniciativa do grande empresário
José Loureiro, que conciliou o
cinema com a exploração do teatro
declamado. Estamos já na geração
dos grandes Cine-teatros por esse
país fora, tantos deles em pleno
funcionamento. Mas aqui trata-se
de um grande e belo teatro do
século XIX adaptado a cinema, sem
deixar a tónica dominante do espectáculo dramático.
A “reestreia” do Trindade como
cinema regular fez-se, ainda por
cima, com um filme português de
certa qualidade e conotação
literaria, “A Rosa do Adro”, de
Chianca de Garcia, adaptado do
romance de Manuel Maria
Rodrigues. Vale a pena lembrar que
Chianca estrearia, no ano seguinte,
no Tivoli, a ainda hoje magnifica
“Aldeia da Roupa Branca”.
Mas o “Cine- Teatro da Trindade”
alcança o seu maior esplendor a
partir de 1943 com António Lopes
Ribeiro e o irmão Francisco Ribeiro
36 TempoLivre
Junho 2007
- Ribeirinho que, por vocação
artística mas também por
obrigatoriedade legal, decorrente
da chamada lei dos Cine-Teatros,
alternaram a exploração
cinematográfica com a actividade
teatral, e em ambas com excelente
nível. No que respeita ao cinema,
basta dizer que lá se estreou,
naquele ano de 1943, o “Amor de
Perdição” de Lopes Ribeiro,
adaptado a partir de intervenções”
biográficas” do próprio Camilo: é
um filme que ainda hoje se vê com
o maior interesse.
E no que diz respeito ao teatro, os
dois irmão constituíram a Companhia dos Comediantes de Lisboa,
que se notabilizou não só pelo alto
nível do elenco como também pela
qualidade do repertório.Basta
lembrar que lá se estreou, entre
tantas boas peças mais, o “Baton”,
de Alfredo Cortez, texto ainda hoje
ousado na situação de mãe e filha
apaixonadas pelo mesmo homem.
Calcule-se o que isso significava em
1946!. I DIC
VIAGENS
Toledo,
Alcalá de Henares
e Cuenca
Três cidades
no coração ibérico
Uma viagem pelo centro da Península, evocando momentos e espaços
fundamentais na formação da identidade de Espanha. Toledo, às
portas da Mancha de D. Quixote, Alcalá de Henares, terra natal de
Cervantes, Cuenca, suspensa entre céu e terra sobre uma Castela de
relevo montanhoso.
O Tejo abraça a cidade num
amplexo que ganha ainda mais
dramatismo quando os céus da
Mancha se carregam de tons púmbleos. Estamos na “imperial Toledo”
e todos os elementos cénicos se
conjugam para sublinhar as atribulações históricas da que é uma das
mais singulares cidades espanholas. Alguém o disse, certamente
com exagero, mas com um acervo
legítimo de sentidos, de sentimentos: “O viajante que disponha de
um só dia em Espanha deve gastá38 TempoLivre
Junho 2007
lo, sem vacilar, a ver Toledo”. Tirso
de Molina chamou-lhe “o coração
de Espanha” e, certamente, não
apenas num sentido meramente
geográfico. E Cervantes, de pena
incisiva e visionária, não hesitou
nas tintas do retrato ao invocar esse
“penhascoso pesadume, glória de
Espanha e luz das suas cidades”.
Diz-se que Toledo é a cidade que
melhor conta as vicissitudes históricas de Espanha, nela coincidindo
marcas de ocupações, civilizações,
culturas que deram, todas, um con-
tributo precioso para o que são
“nuestros hermanos”. Plínio fala de
uma certa “Toletum”, pequena
povoação fortificada de interesse
estratégico no coração da Ibéria.
Romanos, visigodos, árabes a
cobiçaram, e Afonso VI, cristianíssimo rei, a conquistou no final do
século XI, dela fazendo a capital de
Castela.
Desse caleidoscópio de épocas e
sucedidos ficou um acervo de testemunhos, de vestígios monumentais
de todos os estilos, conviventes
Junho 2007
TempoLivre 39
VIAGENS
num espaço que o viajante percorre
bem a pé. A Mesquita do Cristo da
Luz é o único monumento précristão, mas de tempos diversos é
Toledo pródiga em sinais: igrejas de
perfil mudéjar, duas sinagogas - a
de Santa María la Blanca, de inspiração almóade é uma das maravilhas toledanas -, a robusta catedral
gótica do século XIII, com a sua
esbelta e graciosa torre que se avista
à distância, o Mosteiro de San Juan
de los Reyes, também gótico, a igreja barroca de San Juan de los
Jesuitas e uma série de edifícios
com fachadas platerescas ou
renascentistas.
A outra Toledo é a cidade das
40 TempoLivre
Junho 2007
VIAGENS INATEL
Cidades Património
da Humanidade
TOLEDO, CUENCA
E ALCALÁ DE HENARES
20 a 24 de Setembro
Partidas de Lisboa/Setúbal e Évora
Estada em hotéis de 3*/4*
Preço/pessoa em quarto duplo:
425 euros.
Inclui transporte durante todo o
circuito. Mais informações na Sede
e Delegações
ruelas estreitas, empinadas, que
mergulham em becos silenciosos e
praças recônditas, restos da velha
judiaria. Podemos vê-la também na
tela, pela mão de um pintor de
Creta que se fez ibérico e castelhano
de coração, El Greco. O museu que
lhe é dedicado, onde se expõe a sua
magnífica “Assunção”, é outra visita
indispensável em Toledo.
DE ALCALÁ A CUENCA, CIDADE
SUSPENSA ENTRE CÉU E TERRA
A caminho de Cuenca, eis-nos em
Alcalá de Henares. Cidade natal de
Cervantes, Alcalá é um lugar com
encantos particulares que justificam a estância. O Patio de Come-
A CASA MUSEU
DE MIGUEL DE CERVANTES
Diz-se que Toledo é a
cidade que melhor
conta as vicissitudes
históricas de Espanha,
nela coincidindo
marcas de ocupações,
civilizações, culturas
que deram, todas, um
contributo precioso
para o que são
“nuestros hermanos”
Do lado de fora, sobre um banco de
A opção foi a de “uma instalação
pedra, duas figuras de bronze
museográfica que aproxima o
evocam os inseparáveis
visitante da vida doméstica
personagens do livro, que surgem,
quotidiana dos séculos XVI e XVII”,
de forma recorrente, na iconografia
como se escreve no belo catálogo do
reunida pelo museu. Se a vida e as
museu. Foi um trabalho
aventuras de ambos se expressam
fundamentado em fontes
numa tensão entre a fantasia e a
historiográficas e iconográficas,
realidade, entre o sonho idealista do
pintura e gravura, relatos de
cavaleiro e a racionalidde terra a
viajantes e, claro, nas descrições
terra das verdades simples do
que podemos ler na própria obra
escudeiro Sancho, a direcção do
cervantina, tanto no “D. Quixote”
museu decidiu-se pelo rigor
como nas “Novelas Exemplares”.
histórico e o espaço, assim como o
O Fundo Bibliográfico é um tesouro
seu conteúdo, sofreram nos últimos
precioso, com as suas edições
anos profunda remodelação.
históricas, algumas raríssimas, da
obra de Cervantes,
quer em língua
castelhana, quer
nas outras línguas
autonómicas de
Espanha (galego,
basco, catalão),
quer, ainda noutras
estrangeiras
línguas. Aí
encontramos, por
exemplo, uma
belíssima edição
do “D. Quixote” em
mandarim, com
dias, que conserva elementos do
século XVII, o Colegio Mayor de
San Ildefonso (Universidade), dos
finais do século XV, com fachada
renascentista e decoração mudéjar
no interior, a Igreja de San Bernardo, de estilo barroco, são alguns
dos pontos de maior interesse. A
Calle Mayor, com fileiras de arcadas
dos dois lados, tem uma atmosfera
exemplarmente manchega e é um
animado picadeiro durante as noites quentes da meseta. Num dos
extremos da rua abre-se a airosa
Praça de Cervantes, ágora povoada
com plátanos, um coreto e uma
estátua de Cervantes.
Há mais de cinco décadas, Astrana
Neste interessantíssimo museu,
ilustrações que transformaram o
cada vez mais visitado, o que se
cavaleiro manchego num nobre
pode, afinal, ver? A Casa Museu
chinês, e uma série de edições
Miguel de Cervantes é, antes de
piratas, entre as quais uma
tudo, uma típica casa de habitação
publicada em Lisboa em 1605.
castelhana, com um pátio central,
Outras línguas representadas nesta
um velho poço, um balcão
colecção: turco, japonês, hebreu,
panorâmico em madeira, quartos,
árabe, lituano, etc. etc. Visionário, o
salas e cozinha repletos de
próprio D. Quixote, projectava o
mobiliário de época. Um sistema
sucesso da espantosa narrativa das
interactivo com células
suas aventuras: “”treinta mil
fotoeléctricas desencadeia a cada
volúmenes se han escrito de mi
entrada do visitante nos diferentes
historia y lleva camino de imprimirse
espaços a reprodução de
treinta mil veces de millares, si el
sonoridades domésticas - vozes de
cielo no lo remedia... y a mí se me
crianças, ruído de pratos e copos,
trasluce que no ha de haber nación
canções de embalar.
ni lengua donde no se traduzca...”
Junho 2007
TempoLivre 41
VIAGENS
Pormenores de Alcalá de Henares e, em baixo à direita, vista da pousada de Cuenca, antigo mosteiro
Marín, estudioso de Cervantes, julgou ter encontrado provas cabais
para a identificação da casa onde
nasceu, em 1547, o criador de D.
Quixote, uma pequena casa de perfil castelhano situada na Calle
Mayor. Três séculos e meio depois da
publicação do primeiro romance
moderno da literatura europeia, era
inaugurada, em 1956, a Casa Museu
Miguel de Cervantes, etapa essencial de qualquer rota organizada em
torno da temática cervantina.
O próximo destino significa um
encontro com uma Castela montanhosa, região de agrestes relevos,
como os da “Ciudad Encantada”,
fruto da erosão calcária, e de impres42 TempoLivre
Junho 2007
sionantes desfiladeiros, como as gargantas dos rios Júcar e Huécar. Sobre
um penhasco entre estes dois cursos
de água cresceu uma cidade cujas
marcas mouriscas impregnam ainda
as suas tortuosas ruelas. Cuenca é
uma cidade suspensa entre céu e
terra, e mesmo se o gótico e renascentista dos seus monumentos são
um importante ex-libris acenado
pelos folhetos turísticos, é aquela
condição que mais sobrevive na
memória. As casas suspensas sobre o
abismo - as famosas “casas colgadas”
- são uma singularidade irrepetida
em Espanha, a imagem que sintetiza
uma parte crucial da identidade de
Cuenca.
A Catedral é um dos pontos mais
visitados, e com razão: gótica, é
também única na Península, com a
sua forte influência normanda. Mas
Cuenca é sobretudo uma exemplar
cidade castelhana, nas reminiscências mudéjares que lembram os
avanços e recuos da Reconquista,
na Plaza Mayor de atmosfera manchega ou nas ruas rodeadas de
casario colorido e luminoso. Uma
última sugestão, a visita à Torre de
Mangana, que oferece ao vistante
uma magnífica vista da cidade, com
o cenário da terra castelhana a perder-se no infinito, debaixo de um
azulíssimo céu. I
Humberto Lopes (texto e fotos)
OlhoVivo
Preocupadas com a crescente
obesidade infantil no país, algumas
escolas suecas alteraram, há quatro
anos, os menus e os produtos alimentares vendidos às crianças nas
suas instalações. As refeições passaram a ser saudáveis e a ter opções
específicas com menos gordura e
mais fibras, e foi proibida a venda
de bolos, refrigerantes e doces em
algumas escolas, enquanto outras
mantiveram os hábitos, servindo de
grupo de controlo para a evolução
das
crianças.
Numa
primeira
análise aos resultados destas alte-
Contra
o ruído…
rações, apresentada pelo Karolinska
Institutet, nas escolas que muda-
O barulho incomoda-o/a? Preferia
ram os menus o número de crianças
dormir ou trabalhar num ambiente
obesas caiu 6%, enquanto nas out-
mais sossegado? Se gostava de ser
ras houve um aumento de 3%.
ouvido/a em relação à poluição
Segundo os investigadores do pro-
sonora que o envolve, eis a sua
jecto STOPP (Stockholm Obesity
oportunidade. Uma pesquisa do
Prevention Project), estes números
Leibniz
demonstram que as políticas ali-
Working Environment and Human
mentares das escolas podem ser
Factors da Universidade de Dort-
alteradas sem prejudicar os orça-
mund (Alemanha) está a tentar
mentos e que essas mudanças têm
perceber até que ponto as pessoas
implicações sérias e efectivas na
são afectadas pelo ruído à sua
saúde das crianças, reflectindo-se
volta, quer em casa quer no traba-
ainda nos hábitos alimentares que
lho, e que tipos de ruídos as inco-
levam para casa.
modam mais. Para isso dispõem de
Research
Centre
for
um questionário online, no endereço www.ifado.de/SILENCE/, onde cada um poderá dizer de sua
justiça quanto ao incómodo que o
barulho lhe provoca, ou não, no dia
a dia. A localização de cada respondente permitirá aos investigadores
relacionarem as condições locais
com o tipo de incómodo causado. O
objectivo final deste projecto,
denominado SILENCE, é desenvolver recomendações e regres de
redução de ruídos nas cidades
europeias.
44 TempoLivre
Junho 2007
Precoce = obeso??
Ken Ong e os seus colegas da Universidade de
Cambridge (Reino Unido) analisaram uma
década de dados de saúde de cerca de 6.000
crianças nascidas na última década do século
XX e das suas mães, e chegaram à seguinte
conclusão: os filhos de mulheres que tenham
tido a primeira menstruação aos 11 anos (precoce, por comparação com a média de 13 anos
na Europa) têm o dobro das probabilidades de
serem obesos em relação às crianças cujas
mães tenham tido puberdades tardias (aos 15
anos). Aos nove anos, os filhos das mães com
puberdades precoces tinham em média mais
1,5kg e um centímetro de altura que os filhos
de mulheres menstruadas aos 13 anos. Ong
acredita que é uma combinação de factores,
genéticos e ambientais, que provoca esta
relação, já que as mães podem passar genes
que provoquem o crescimento prematuro, e
também ter elas próprias hábitos alimentares
que o favoreçam. O seu aviso é para que as
mulheres que tenham tido desenvolvimentos
precoces estejam atentas ao crescimento dos
seus próprios filhos, nomeadamente em termos de peso, a fim de evitar que se tornem
obesos.
Os pais da medicina
Jackie Campbell, da Universidade de
Manchester, afirma que, ao contrário do que
andamos a aprender na escola, Hipócrates
não terá sido o ‘pai da medicina’ moderna,
mas sim os antigos egípcios, mil anos antes
do grego. Depois de analisar cuidadosamente as receitas egípcias, Campbell conclui que elas são já uma forma credível de
farmácia e medicina, de tal forma que
muitos dos princípios e substâncias activas
são usadas até hoje: o mel como antimicrobiano nas feridas, cominhos e coentros como
antiflatulentos, ou aloé como calmante para
a pele são apenas alguns dos muitos exemplos detectados pela investigadora, que não
pretende parar por aqui.
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Mudanças
no menu
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Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ]
Hormonas
à mesa
Mais pessoas…
mais floresta
Mais um estudo e mais um
Thomas Elmqvist e a sua equipa, da
susto: testes realizado em pei-
Universidade de Estocolmo (Sué-
xes de rio nos Estados Unidos
cia), analisaram imagens de satélite
revelaram níveis de estrogénio
de 5500km2 de floresta tropical seca
(hormona feminina) suficientes
no sul da ilha de Madagáscar,
para fazer crescer células de
tiradas entre 1984 e 2000, e viram
cancro da mama. Foram testa-
algo inesperado: desde 1993, a área
dos 27 peixes, apanhados em
de floresta aumentou 4%. E, mais
cinco locais dos rios Allegheny e
inesperado ainda, as áreas com
Monongahela, em zonas mais
maior desflorestação apresentavam
ou menos poluídas por indús-
menor densidade populacional do
trias ou esgotos, e em sete deles
que as mais densas, onde também
as células cancerígenas desenvolveram-se rapidamente. Os
vivem mais pessoas. Depois de
Menos arrasto
investigadores não têm infor-
analisarem possíveis causas para
este fenómeno, chegaram à con-
mações detalhadas sobre que
Cerca de 20 países do Pacífico Sul
clusão que a presença humana é,
químicos podem ter produzido
chegaram a acordo sobre algumas
neste
aqueles níveis de hormonas,
restrições a impor à pesca de arras-
natureza, pois as aldeias são res-
mas viram os efeitos nos ani-
to, uma actividade que prejudica
ponsáveis por proteger os seus ter-
mais – não conseguiram detec-
gravemente os ecossistemas, des-
ritórios, logo, cada uma cuida e pro-
tar o sexo de nove dos peixes,
truindo os recifes e levantando
tege a floresta que lhe pertence,
que apresentavam característi-
nuvens de sedimentos que sufocam
mas ninguém trata da ‘terra de
cas femininas e masculinas. O
a vida subaquática. A partir de 30
ninguém’, antes pelo contrário –
aviso está lançado: se continu-
de Setembro deverão estar a postos
para se apropriarem de um terreno,
amos a desfazer-nos sem cuida-
sistemas de observação e monito-
a tradição manda cortar a árvore
do de todo o tipo de produtos
rização que imponham as novas
mais alta e plantar um cacto no seu
tóxicos, sejam plásticos ou
regras aos pescadores, nomeada-
lugar. Elmqvist recomenda que os
medicamentos, voltaremos a
mente os neo-zelandeses, respon-
governos tomem atenção redobrada
encontrá-los, à mesa.
sáveis por 90% da operação na
às tradições locais e favoreçam este
zona. A actividade não se poderá
tipo de controlo da terra, que tam-
estender a novas áreas e mesmo
bém contraria a tendência para a
aquelas por onde passa habitual-
aglomeração nas grandes cidades
mente terão de ser avaliadas em
visível em todo o mundo.
caso,
benéfica
para
a
termos do perigo que correm; os
ecossistemas
mais
vulneráveis
serão também vedados a este tipo
de embarcações. Os ecologistas,
porém, afirmam que o passo era
indispensável à preservação da vida
na região, já que diversas espécies
de peixes, como o olho-de-vidro,
demoram muito tempo a desenvolver-se e são por isso muito vulneráveis à pesca intensiva e às
alterações ao seu ambiente.
Junho 2007
TempoLivre 45
A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES
O presente grego
Árvore europeia da sombra, o plátano não é só um espécime ornamental mas um bem
urbano de primeira necessidade. No rescaldo do abate de dezenas de plátanos no Campo
Pequeno, a história da descoberta de um exemplar raro, no Jardim do Princípe Real.
N
a Biblioteca de Arte, da Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa, há um pequeno
livro, de 1956, intitulado “Árvore de
Hipócrates ou Árvore da Saúde”, do médico
beirão, higienista, professor universitário e membro da
Academia das Ciências, Sebastião Cabral Costa-Sacadura.
Tem poucas páginas, mas numa delas aparece reproduzida a fotografia do dia em que foi plantado em Lisboa, o
rebento de uma das mais famosas e antigas árvores do
mundo, o “Plátano de Hipócrates” (Platanus Orientalis
L.), que decorridos mais de 2500 anos, continua vivo,
estendendo os seus longos ramos sobre uma pesada
estrutura de ferro, na praça pública da ilha de Cós, Grécia.
Segundo escreve o filantropo e octagenário CostaSacadura, à época antigo Presidente e Secretário Geral
Perpétuo da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa,
o descendente do “Plátano de Hipócrates” - porque à sua
sombra costumava o “pai da medicina moderna” tratar
os doentes a partir de um diagnóstico psicossomático
avant-la-lettre - teria sido plantado no dia 9 de Janeiro
de 1956, no Jardim do Princípe Real, em Lisboa.
Oferecido pelo rei Paulo da Grécia, pai da actual rainha Sofia de Espanha, o jovem plátano chegou à capital
através do ministro Vassili Lappas e sua mulher. A
fotografia, publicada pelo jornal “Primeiro de Janeiro”,
capta o momento em que a senhora Lappas presidindo à
cerimónia, integrada no primeiro congresso de Profilaxia
Gerontológica, descobre o “propágulo” onde se encontrava protegida a pequena árvore grega.
Volvidos 51 anos – e perante a contínua ameaça que
paira sob os poucos espaços arborizados da capital, bem
como a memória recente do abate de noventa e sete plátanos do Jardim do Marquês de Marialva, ao Campo
Pequeno, na sequência das obras de requalificação da
Praça de Touros – será que o histórico e simbólico presente grego ainda sobrevive?
A fotografia do jornal serve como pista. Por de trás da
mulher do diplomata, a seguir à multidão que a observa,
de chapéu e gravata, vêem-se distintamente as portas e as
janelas de dois prédios românticos. Quem vem pelo
Largo do Rato e chega ao Jardim do Príncipe Real não os
46 TempoLivre
Junho 2007
encontra, é preciso passar o ex-líbris, o gigante Cedro-doBuçaco, avançar em direcção à Rua do Jasmim, e junto
aos bancos de madeira, do lado esquerdo, aparecem por
finalmente, os prédios da fotografia (são os números 3 e
5). Do lado direito, anónimo, sem qualquer identificação,
esquecido mas vigoroso, encontra-se uma árvore de tronco fortíssimo. Os ramos possantes, desenvolvem-se a
baixa altura, revestidos de uma folhagem densa, cujo
recorte lembra a forma de mãos: eís o plátano grego, o
abraço de Hipócrates, a árvore de Pacha Mama dos índios
andinos, a Ninfa Europa entregando-se a Zeus, depois de
ele a ter raptado sob a forma de um touro branco.
Um jovem plátano cresce a seu lado, se mais
descendência houvesse poderiam as árvores abraçar-se
como aconteceu nas imediações de Constantinopla. O
escritor francês Théophile Gautier ainda chegou a ver
esses nove plátanos turcos, nascidos do pé de uma
árvore morta: no seu interior cabiam pessoas, passava
um cavalo, era uma floresta.
Porque o plátano, nas suas várias espécies – em Portugal,
tal como na Europa Ocidental, predomina o Plátano
Embaixatriz
grega planta
a pequena
árvore no dia
9 de Janeiro
de 1956,
no Jardim
do Princípe Real
Comum (Platanus x acerifolia, Aiton,
Willd); o Plátano Ocidental (Platanus
Occidentalis), por seu turno, é nativo da
costa atlântica dos Estados Unidos – é
resistente, sobrevive às intempéries,
suporta rajadas de vento de mais de 125
quilómetros por hora desde que não
tenha sido podado, adapta-se à poluição
urbana, recupera depois de ser atacado
por várias doenças - apenas a mão
humana e o cancro colorido (provocado
pelo fungo Ratocystis frimbiata) o conseguem destruir.
A forma peculiar dos plátanos do
Jardim da Cordoaria, no Porto, tornando-os parecidos com os baobabs de
Madagáscar, resulta precisamente da
vitória sobre uma doença que poucos
registaram. “A doença que os deformou
deve tê-los atacado ainda jovens: em
1950, nas páginas d`O Tripeiro, João Moreira da Silva,
que lhes dedicou um curto apontamento, chama-lhes
“verdadeiros monstros”; e há fotos do princípio do século XX que já os mostram com uma forma próxima da
actual. Que doença terá sido essa? Moreira da Silva não o
diz; e, se algum estudo se fez, hoje parece estar esquecido”, concluem Paulo Ventura Araújo, Maria Pires de
Carvalho e Manuela Delgado Leão Ramos, autores do
livro “À Sombra de Árvores com História”(Gradiva, 2006).
Tudo parece indicar que ninguém os tratou, tal como
O Plátano
de Hipócrates,
na ilha de Cós
tem 2500 anos
Hipócrates acreditava, a natureza possui dentro de si a a
solução para doença. O resultado foi a emergência de
um árvore troglodita, excêntrica evocação da pré-história
quando os plátanos eram contemporâneos dos dinossaúrios e dos fetos arborescentes. “Troncos, rochedos,
grenha de braçadas,/ chiar de sonhos, solidão musgosa,/e
as folhas caem por entre a limpidez/de um ar sonoro levemente azul”, assim os descreve Jorge de Sena em “Ode
aos Plátanos” (Pedra Filosofal, Poemas, Ed. Confluência
Limitada, 1950). Mas no conto “A Campanha da Rússia”
(Antigas e Novas Andanças do Demónio, Edições 70,
1978) os mesmos plátanos da Cordoaria aparecem de
noite, são a companhia mais tranquila numa errância
perigosa pela cidade do Porto onde há rabos de mulher
que não cabem em automóveis de luxo, pernas com chagas purulentas e marinheiros de navalha em punho.
Árvore ornamental, vocacionada a proporcionar sombra desde a Antiguidade Clássica, o plátano gosta de receber e a todos acolhe: doentes, filósofos, poetas, santos e
imperadores. Calígula, por exemplo, deu um grande jantar para quinze pessoas em cima dos ramos de um plátano e ainda houve espaço para os criados trabalharem.
O jornalista Alain Pontoppidan, em “O Plátano”
(Temas & Debates, 2001), relata a história de uma árvore
anfitriã mal sucedida. Deveria ela ter escondido, no seu
tronco oco, S. João Crisóstomo mas porque não tinha folhas viu o santo ser assassinado pelos ladrões de estrada.
Desde então, nunca mais perdeu a folhagem.
Felizmente nem todas árvores passaram por este tipo
de provações, mas no tempo de Teófilo, Imperador de
Bizâncio, um plátano foi derretido e transformado em
moedas. A história é relatada num manuscrito pertencente à Biblioteca do Santo-Sepulcro, em Constantinopla. Conta que no século 9, o Imperador Teófilo
mandou construir um plátano de ouro, no qual instalou
pássaros de várias espécies e instrumentos musicais
igualmente em ouro. Quando passava o vento, para
surpresa de todos, uma orquestra áurea cantava. Um
dia, o soberano ordenou a destruição da árvore, o metal
precioso foi fundido e transformado em moedas que
ele gastou até ao fim. I
Junho 2007
TempoLivre 47
PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID
O tom dos Oito
Os avanços da Ciência, os progressos tecnológicos, as novas tecnologias permitem
dar corpo real às utopias do passado, nem sequer ainda muito longínquo
á 50 anos era impensável pensar num
transplante de órgãos e muito menos do
coração. A Internet nem chegava a ser
ficção, a descodificação dos genes, que
ainda não está completa, mas a caminho, pode ao
homem proporcionar períodos de vida hoje inimagináveis.
A Humanidade está a viver uma revolução sem
precedentes, todos os dias se descobrem coisas novas e
importantes para o nosso futuro. Provavelmente temos,
a curtíssimo prazo, de alterar paradigmas de vida de
um modo quase radical.
Hoje, as utopias do passado podem ser sonhos concretizados no presente. No domínio da comunicação já
nada é impossível. Mantemos rádios e televisões, jornais, diários e semanários, agências difusoras de notícias. A Internet é a grande e harmoniosa confusão universal. Em poucos instantes colocamos na China um
documento elaborado em Lisboa e recebemos da Coreia
as informações que solicitáramos há instantes.
A um nível, que é hoje quase provinciano, tendo em
conta as imensas possibilidades das novas tecnologias,
há publicações (jornais ou revistas) com edições diárias,
por exemplo, no Porto e em Lisboa. Os jornais on line
proliferam, qualquer cidadão pode lançar para o espaço
comunicacional, o seu próprio posto informativo e
opinativo – os blogues.
Todo este potencial pode ser aproveitado, com benefícios recíprocos, pelos oito países que em quase todos
os continentes falam português e pelos milhões de
cidadãos dessas pátrias espalhados pelo mundo.
À primeira vista parece uma utopia conceber um
órgão de comunicação social, diário – um jornal – que
possa ser editado simultaneamente no Brasil, Portugal,
Timor, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné e S.
Tomé e Príncipe. Nalguns países a diferença horária
pode parece um obstáculo incontornável, mas nada
hoje é impossível neste mundo dominado pela globalização.
É claro que se levantam problemas de coordenação,
de viabilidade económica, de paginação e de conteúdos. Nada que a criatividade dos empresários, dos jor-
H
48 TempoLivre
Junho 2007
nalistas, dos apoios das instituições em cada país lusófono não possa ultrapassar. Seria um jornal de síntese
noticiosa, a cargo de pequenas redacções em cada uma
das capitais. Uma página de noticias para os países mais
pequenos, duas ou três para os países com mais caudais
informativos. Duas páginas de internacional, duas páginas de cultura, uma página diária de grande
reportagem, cujo conteúdo seria oriundo de cada um
dos oito, obedecendo a uma planificação prévia.
Sempre que a direcção julgasse oportuno, publicar-seiam grandes entrevistas. Em suma, este jornal seria concebido em moldes eventualmente inovadores, mas
seguindo os critérios deontológicos normais.
ma direcção coordenadora, residente numa
das capitais encarregar-se-ia de ter uma
visão de conjunto, os títulos de primeira
página, a verificação da matéria informativa, a capacidade de introduzir notícias de última hora e
de fazer dele um grande jornal. A angariação de publicidade também devia ser contemplada. Em cada país
deveria haver uma contabilidade organizada e todas
contribuiriam para o projecto comum. Os locais de
maiores receitas poderia “ajudar” em locais de menor
receptividade. O jornal teria representação, mesmo correspondentes, junto das mais significativas comunidades lusófonas radicadas no estrangeiro.
Um jornal com estas características podia ser lançado,
num primeiro momento como publicação on line, fixando-se uma determinada verba para cada país, ou comunidade, poder dar acesso livre aos utilizadores da
Internet.
Posteriormente, depois de estabelecidas as parcerias
empresariais e jornalísticas consistentes, avançar-se-ia
para uma edição impressa, em papel, com tiragens consideravas razoáveis e feitas em cada capital.
Escolher um título apelativo daria lugar, por exemplo
a concurso entre as escolas dos oito países. A menos que
seja aceite a sugestão que aqui se deixa: “O Tom dos
Oito”. É musical, envolve todos numa componente (o
tom) de liberdade. Dar corpo real a uma utopia. Eis o
desafio que aqui se lança. I
U
O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ
Duas eleições
Na mesma semana, tivemos dois actos eleitorais que, cada um à sua maneira, dizem também
respeito a Portugal. Trata-se, já se vê, das eleições presidenciais da França e de Timor-leste
ão vamos aqui referir os resultados, que são
por demais conhecidos, nem analisar os
processos eleitorais que são específicos,
mas proceder a um certo exercício de comparação e acareação, no que as aproxima e no que as
distingue.
Esse exercício de comparação, não é tão absurdo como
poderia parecer, face as profundas diferenças de desenvolvimento, de infra-estrutura eleitoral, de nível
económico e cultural e de tradição política, que marcam
os dois países. E desde já se diga então que do ponto de
vista do acto eleitoral em si e do reconhecimento,
pelos”vencidos” e seus apoiantes, dos respectivos
resultados, Timor-leste esteve melhor do que
França. Só que no acto de posse dos presidentes
respectivos a situação se inverteu, com tranquilidade em França e grande agitação em Timor.
Diz-se que a Constituição de Timor-leste é
desajustada da realidade política e sociológica do
país. Timor tem de facto um historial não
democrático, mesmo considerando como data de
referencia inicial o rescaldo da última Guerra
Mundial, que, é bom lembrar, durou no Extremo Oriente
mais 6 meses que na Europa, e terminou com o apocalipse de Hiroxima e Nagasaki. Passei em Nasagaki em
1972: a memória vem logo ao de cima como é evidente. E
sabe-se como a guerra no Oriente foi dura. Timor
Português, como era chamado na época, esteve ocupada
pelos japoneses. Comparada com essa ocupação, a presença colonial portuguesa foi globalmente muito branda,
é o mínimo que se possa dizer. A descolonização foi confusíssima, e muito pouco lisonjeira para o Governo e para
as autoridades portuguesas, civis e militares de então. A
independência unilateral durou 8 dias. E a ocupação
indonésia foi muito pior do que tudo o resto somado…
Uma vez mais, seja-me permitida memória pessoal
profunda, que se prende com o acompanhamento
diplomático da situação a partir de Lisboa, através designadamente de numerosas reuniões com o hoje presidente eleito, Ramos Horta e o genocídio de Santa Cruz,
que me coube relatar e alertar, em nome do Estado português, junto do Corpo Diplomático acreditado em
N
Lisboa e reunido, na sua totalidade no MNE, e por coincidência, integrava uma delegação oficial em Pequim,
quando veio a notícia da evolução favorável da situação
e do referendo, logo seguido pela violência dos pró –
indonésios, perante a passividade das autoridades
locais de ocupação.
Mas a independência veio, com estabilidade
aparente, porem desmentida nas grandes agitações de
2006. Em qualquer caso – e é isto que agora nos prende
– a exemplaridade do acto eleitoral e a aceitação (até à
data em que escrevo) dos resultados, com a fulgurante
mas até aqui não contestada vitória de Ramos Horta,
constitui de facto um modelo exemplar.
Que a França, a julgar pelas noites que se seguiram à
eleição não praticou! Ora, pode-se ou não gostar do
Presidente Sarkozy, mas não tem qualquer cabimento a
contestação violenta ao acto eleitoral, pois a vitória foi
democrática, indiscutível e altamente participada!
ra, dado que escrevemos nas vésperas da
posse do novo Presidente da França, será
necessário acompanhar com obvia atenção
os desenvolvimentos imediatos deste
primeiro período de gestão presidencial. Sem que isso
signifique uma garantia de estado de graça (ou de “desgraça”) mas tendo em vista as situações de crispação, que
muitas vezes têm muito menos a ver com a politica, do
que com a situação social, a começar pelo desemprego.
Os “100 dias” simbólicos que foram herdados de
Napoleão, no caso de Sarkozy, podem assumir um
carácter específico: vamos ver. I
O
Junho 2007
TempoLivre 49
VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR
A Restauração esquecida
Penso que todos os portugueses, mesmo os mais distraídos e os mais ignorantes,
sabem em que consistiu a Restauração e até lhe conhecem a data, mesmo porque é
feriado nacional.
P
orém, convido-vos hoje a viajar até ao
início do século XIX, para evocarmos
uma outra restauração, talvez menos
espectacular e não tão bem sucedida,
mas que, mesmo assim, merece um lugar na
nossa memória.
Vamos, pois, até aos princípios do Verão de
1808. Nos últimos meses do ano anterior, um
exército napoleónico comandado pelo general
Junot ocupara Portugal e a família real portuguesa embarcara para o Brasil. Quem governava o
reino, agora, era Junot e podemos calcular que
não o fazia com grande (ou pequeno) carinho ou
respeito pelos Portugueses. Aliás, a
diplomacia delirante de Napoleão
previra o desmembramento do país
em três partes, como bolo cortado
em três fatias.
Pois bem, no início de Junho de
1808, o Porto sublevou-se — e, como
um rastilho, a revolta espalhou-se,
praticamente, a todo o país. O general Manuel Gomes Sepúlveda, governador das armas de Trás-os-Montes, lançou-se
na resistência com a maior energia, apesar dos seus
setenta e três anos: em Bragança, fez aclamar o
príncipe regente, D. João (futuro D. João VI), criou
uma junta governativa, mobilizou os trasmontanos, formou regimentos de milícias; o movimento espalhou-se pelo Minho, e cobriu, assim, boa
parte do Norte: Braga, Barcelos, Guimarães, Viana,
Melgaço, Chaves. O general Loison, o tristemente
famoso «maneta», que cometeu terríveis atrocidades, tentou avançar sobre o Porto mas foi cercado em Mesão Frio e retirou para Almeida, fazendo
sempre sangrentas tropelias; e a revolta chegou a
Aveiro, a Coimbra, à Figueira da Foz.
Também o Alentejo se levantou contra o ocupante; e no Algarve o primeiro brado foi ouvido
em Olhão: a 16 de Junho era aclamado aí o
príncipe regente e em Faro o general francês
50 TempoLivre
Junho 2007
Maurin recebia voz de prisão, ao mesmo tempo
que os restantes franceses eram expulsos. Foi
então que um certo Manuel Garrocho, marinheiro de Olhão, decidiu, loucamente, meter-se
com os companheiros no seu pequeno caíque
Bom Sucesso e ir até ao Brasil, nada mais nada
menos, para informar o regente de que Portugal
estava a expulsar os invasores — e o mais extraordinário é que conseguiu lá chegar.
Como evoluiu esta restauração do reino? Não
tão bem como a outra, é verdade. Mas também
será verdade que, pelo menos numa fase inicial,
terá facilitado bastante o trabalho às tropas ingle-
sas que desembarcaram pouco depois em
Portugal e que, apoiadas por unidades portuguesas, viriam a derrotar as forças de Junot na Roliça
e no Vimieiro. Essas duas batalhas puseram termo
à primeira invasão francesa; e assim, a restauração
de 1808 foi, de facto, vitoriosa e efectiva.
C
omo sabemos, houve mais duas
invasões napoleónicas e, tanto sob o
ponto de vista militar como político, as
coisas não foram simples e ao povo
português estavam ainda reservados muitos
sofrimentos. Isso, porém, não impede que esta
restauração mereça fazer parte da nossa memória
— e, com ela, o nome do general Sepúlveda. De
que ninguém fala — o que é, no mínimo, lamentável. Mas já nos vamos habituando: não é um
futebolista… I
BOAVIDA
CONSUMO
LIVRO ABERTO
ARTES
Com o turismo
globalizado, os
consumidores
deparam com um
número crescente de
ratoeiras e surpresas
desagradáveis.
JJL considera
“Combateremos
com a Sombra”
um melhores textos
de ficção de Lídia
Jorge e um dos
grandes romances
de 2007.
As últimas
propostas dos
artistas plásticos
João Vaz de Carvalho
e Rui Matos
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Página 54
MÚSICAS
NO PALCO
Em destaque “Fafá
de Belém ao Vivo”,
síntese de mais de
trinta anos de
carreira, e “Amor,
Escárnio e
Maldizer”, o 6º
álbum de “Da
Weasel”.
O Teatro Nacional
apresenta, no
Trindade, a partir de
Macbeth de
Shakespeare, a peça
Namanha Makbunhe ,
encenada por Andrzej
Kowalski.
Página 58
Página 56
CINEMA EM CASA
Quatro recentes bons
filmes, realizados na
capital francesa,
atestam o fascínio
que Paris ainda
exerce nos criadores
da 7ª arte.
Página 62
Página 60
FILMES MEMÓRIA
À MESA
SAÚDE
“Natureza Morta”,
uma prodigiosa
metáfora
cinematográfica sobre
a entrada
(globalizadora) da
China no futuro
O peixe, quase
inesgotável na costa
Portuguesa, tem cada
vez mais adeptos. E
as razões não são
poucas.
M. Augusta Drago
fala da dificuldade
que os doentes sentem
em falar-lhe sobre a
incontinência
urinária.
Página 63
Página 64
Página 65
INFORMÁTICA
AO VOLANTE
PALAVRAS DA LEI
Cada vez mais a
imagem digital se
afirma como
indispensável na
utilização dos meios
informáticos como
técnica de
comunicação
Os membros do júri
renderam-se ao Grand
C4 Picasso, eleito o
Carro do Ano de
2007, recebendo o
Troféu Volante de
Cristal.
Marido abandona o
lar para viver com
amante e quer, anos
depois, vender a casa
onde ainda vive, por
decisão do tribunal, a
primeira mulher…
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Página 68
Junho 2007
TempoLivre 51
BOAVIDA
C O N S U M O
TURISMO
E GLOBALIZAÇÃO
À medida que o turismo se torna uma actividade global de fácil acesso a cada vez mais pessoas, constata-se
que os consumidores, em vez de verem a sua vida facilitada, deparam com um número crescente de ratoeiras
e surpresas desagradáveis.
I
Carlos Barbosa de Oliveira
P
ara que os leitores percebam melhor o significado
da globalização quando
aplicada ao turismo, começarei por ilustrar com uma situação ocorrida numa viagem a Cabo
Verde.
As coisas passam-se assim:
Compra-se um bilhete na TAP, porque a hora do voo da TACV (transportadora aérea de Cabo Verde)
não é a mais conveniente e, chegado ao balcão do check-in, constatase que afinal o voo é em codeshare
(TAP e TACV), pelo que poderia ter
viajado à hora pretendida, pela
TACV, poupando algumas dezenas
de euros.
Primeira constatação: ou as agências de viagens não sabem o que
andam a fazer, informando mal os
clientes, ou reservam os bilhetes da
TACV para os turistas que viajam
nos pacotes que elas vendem.
Quem viajar por sua conta e risco
que se amanhe!
Chegado o momento do embarque, constata-se que o avião não
pertence nem à TAP, nem à TACV,
mas sim a uma transportadora
checa e que a tripulação, por acaso,
é eslovaca e não fala uma palavra de
português. As revistas de bordo são
escritas em checo e inglês, mas (vá
lá...) têm um artigo bilingue (inglês
52 TempoLivre
Junho 2007
e checo) interessante sobre as
potencialidades turísticas do país de
destino: Cabo Verde. Finalmente,
na hora da refeição, conclui-se que
o serviço de cattering foi fornecido
por um restaurante italiano!
Conclusão: um passageiro português compra um bilhete de avião
numa companhia aérea portuguesa, para um destino onde a língua
oficial é o português, mas não tem
direito nem a um suminho, ou a
uma água portuguesa, nem a obter
informações na sua língua, porque
a tripulação só fala inglês e a sua língua materna (neste caso o checo).
O passageiro pergunta então (em
inglês, claro!) a uma das três
atraentes moçoilas que do alto do
seu metro e noventa distribuem os
tabuleiros com o jantar, se a bordo
vai algum passageiro checo. Perante a resposta negativa, saída de
lábios carnudos implantados 20
centímetros acima da sua cabeça,
interroga-se por que razão as informações de bordo tinham sido
dadas em inglês e naquela língua, e
não em português, mas a única
resposta que obtém dos seus botões
é um envergonhado silêncio.
A história dava pano para mangas, mas a tanto não permite o
espaço. Vale a pena, porém, tecer
algumas considerações pertinentes.
Em primeiro lugar, se um consumidor escolhe uma determinada
companhia aérea para viajar porque pretende que o pessoal de
bordo fale a sua língua e, acima de
tudo, confia nela, não terá o direito
de ser ressarcido pelo facto de, sem
qualquer aviso prévio, ou explicação plausível, ser obrigado a viajar numa companhia que desconhece e cujo pessoal de bordo ignora por completo a sua língua? A
resposta parece clara, mas a verdade é que a União Europeia, embora esteja atenta a este problema,
ainda não tomou qualquer deliberação que permita aos consumidores serem ressarcidos.
A questão coloca-se também em
termos de segurança, como se
explica no exemplo seguinte.
Um consumidor compra um bilhete de avião de Lisboa para
Nairobi, por exemplo, numa companhia aérea da sua confiança,
sendo informado que terá que fazer
um stop over em Casablanca.
Chegado à capital marroquina, po-
derá acontecer que seja obrigado a
prosseguir viagem numa companhia aérea que até conste da lista
das transportadoras “proscritas “ na
lista publicada pela União Europeia,
por não oferecerem condições de
segurança. O mais curioso e surrea-
lista, é que o consumidor pagou taxa
de segurança à partida de Lisboa!
Era suposto que, à medida que o
turismo atingisse uma dimensão
globalizante, os seus agentes se tornassem mais transparente, com
óbvias vantagens para os consumidores.
No entanto, a transparência tem
dado lugar a alguma opacidade.
Não se percebe, por exemplo, a
manutenção de uma taxa de combustível, quando o preço do petróleo na origem tem vindo a baixar, ou que as taxas de segurança
possam variar de acordo com a
época do ano!
Estas práticas das transportadoras têm reflexos na actividade das
agências de viagens que, ao publicitar os seus preços, iludem os consumidores com o chamariz dos
preços baixos que depois se constata poderem sofrer acréscimos de
várias centenas de euros em relação ao preço base anunciado.
Registe-se, porém, que o Governo
português fez publicar, em Maio, legislação que obriga as agências de
viagens e as transportadoras a publicitar o preço total dos serviços prestados, incluindo TODAS as taxas aplicáveis. Portugal antecipa-se assim à
União Europeia que promete regular
todas estas situações a breve prazo,
mas tem revelado algumas dificuldades em concertar posições. I
BOAVIDA
L I V R O
A B E R T O
FICÇÃO DE QUALIDADE, ABBÉ PIERRE
E HERÓDOTO REENCONTRADO
O mínimo que pode dizer-se de “Combateremos com a Sombra” (Dom Quixote) é que se trata de um melhores
textos de ficção de Lídia Jorge e, sem dúvida, um dos grandes romances de 2007.
I José
Jorge Letria
N
o centro da trama narrativa encontra-se um psicanalista que um dia
recebe de um antigo paciente uma mensagem indecifrável.
O resto é com o leitor e com a narradora, nesta obra de grande densidade e maturidade, que confirma
Lídia Jorge como uma das grandes
prosadoras portuguesas contemporâneas.
Da mesma editora com uma qualidade assinalável é o romance “O
Mestre”, de Colm Tóibin, sobre a
vida e a obra de Henry James. Mais
um livro sobre o grande escritor
norte-americano que, apesar de ter
uma biografia de onde está ausente
a vida sentimental e sexual, continua a fascinar narradores contemporâneos, dando, ainda por cima,
origem a grandes livros. Com forte
cariz biográfico e já consagrado
pela crítica e pelo público e várias
vezes premiado, “O Mestre” é um
romance fascinante sobre um verdadeiro mestre da prosa.
Com a mesma chancela e a merecer referência destacada está “Travessia de Verão”, primeiro romance
de Truman Capote, no qual o consagrado autor de “A Sangue Frio”
evidenciava já as qualidades de
narrador que levaram o seu contemporâneo Norman Mailer a afirmar que ele era “o mais perfeito da
minha geração”. Capote não teve
uma carreira fácil, parecendo ter
ficado para sempre traumatizado
54 TempoLivre
Junho 2007
com o êxito fulgurante de “A Sangue Frio” e com o modo como se
envolveu emocionalmente com as
personagens reais dessa narrativa.
Ainda da Dom Quixote é “O Livro
que Desceu do Céu”, de Ahmad
Vincenzo, uma narrativa de grande
fôlego que tem como personagem
central Zayd, apresentado como o
rapaz que escreveu a primeira
cópia do Corão. Uma viagem pelo
universo de referências de uma cultura que, por motivos vários e complexos, conhecemos mal.
Por seu turno, a Oficina do Livro
acaba de lançar a quinta edição
revista de “O Viúvo”, obra que confirma as qualidades de Fernando
Dacosta como narrador de grande
talento. Da mesma editora é “Atitude Xis”, que reúne alguns dos
mais representativos textos publicados por Laurinda Alves no “Público” e que constituem sempre
uma sensível proposta de reflexão
sobre as questões da nossa vida no
dia a dia, numa sociedade apressada e crescentemente desumanizada
Outras propostas de qualidade,
em termos de ficção narrativa
recente, são: “As Iniciais da Terra”,
do espanhol Jesús Diaz, e “A Outra
Casa de Mazón”, ambos da Ambar,
“Boulevard”, de Jim Greasley, da
Teorema, e “A Cidade do Teu
Destino Final”, de Peter Cameron,
da mesma editora. Destaque ainda
para “Quando Marinela Salero Cortez Decidiu Imitar Dom Juan”, da
portuguesa Maria da Conceição
Carrilho, e “Um Porto para os
Advogados”, de Josy Braun, ambos
da Campo das Letras, que também
acaba de editar, a nível das obras de
investigação e actualidade, o oportuno “A Verdadeira História dos
Voos da CIA – os Táxis da Tortura”,
de Trevor Pglen e A.C. Thompson,
com prefácio da diplomata e eurodeputada Ana Gomes.
Da Teorema é “História do Cristianismo”, de Carter Lindberg, que
descreve o percurso desta religião
desde as suas atribuladas origens
até à actualidade. O autor é docente
na Universidade de Boston e autor
de uma vasta e abalizada bibliografia sobre o tema.
COM “O IMPÉRIO DOS ANJOS”
(Publicações Europa-América), o
francês Bernard Werber conseguiu
grande projecção internacional,
confirmando-a agora com o lançamento em Portugal de “Nós, os
Deuses”, um livro para o grande
público no qual se misturam aventura, suspense e também humor. Tudo
se passa numa ilha denominada
Éden, cuja capital se chama Olimpo.
Da mesma editora é o clássico
“Viagem a Tombuctu”, de René
Caillé, onde se narra a viagem do
autor que, em 1799, partiu para o
Senegal, com 17 anos, morrendo em
1838 vitimado por esgotamento e
por doenças várias contraídas
durante a sua aventurosa viagem
em caravanas, vestido de árabe e
afirmando-se convertido ao islamismo. Trata-se de um livro ímpar
no domínio da literatura de viagens,
sendo, ao mesmo tempo, um objecto
literário que supera essa dimensão.
AO MORRER, no princípio deste
ano, o padre Abbé Pierre deixou
mais clara a importância que teve
durante décadas na vida colectiva
dos franceses, que nunca dexou de
convocar para uma reflexão activa
sobre a ostentação e a pobreza, sobre o egoísmo e a solidariedade. Por
isso, durante mais de meio século,
foi considerado um dos 10 franceses
mais influentes, e fez por merecer
esse lugar. Agora surge em Portugal
“Porquê, Meu Deus?” (Dom Quixote) o seu verdadeiro testamento
espiritual e também um poderoso
olhar sobre a condição humana e as
suas mais profundas tensões e contradições. O fundador do Movimento Emaús, neste longo texto de
reflexão, produzido em colaboração
con Fréderic Lenoir, partilha com os
leitores inquietações e meditações
em que mesmo os não crentes terão
facilidade em rever-se, pois é este o
discurso da solidariedade e da esperança num mundo menos injusto e
mais tolerante.
NINGUÉM TEM DÚVIDAS de que
Freddie Mercury, desaparecido aos
45 anos, vítima de sida, foi uma das
vozes e das presenças mais marcantes de toda a história do pop/
rock, que enriqueceu com o seu talento e com a sua voz única. Mercury não queria ser apenas uma
estrela, aspirava a ser uma lenda, e
pode dizer-se que o conseguiu
ainda em vida e que a morte lhe
ofereceu de imediato o patamar da
posteridade. “Freddie MercfuryAuto-Retrato”, da Campo das Letras, é uma viagem fascinante pela
história dos “Queen”, de que foi o
líder natural e também sobre a
ascensão do cantor à condição de
mito, ainda em tempo de vida. Este
livro é de consulta e leitura fundamental para quem quiser saber mais
sobre Mercury e sobre a banda que
ajudou a fundar e à qual conferiu
uma projecção que vai muito para
além de modas e fugazes ciclos de
gosto. Profusamente ilustrado, a
este livro só lhe falta ter música, mas
é sempre dela que nos fala e do talento de quem a fez e interpretou.
Também da Campo das Letras é o
excelente “Andanças com Heródoto”, do jornalista polaco Ryszard
Kapuscinski, recentemente falecido
e que, com uma notável carreira
como correspondente de guerra, e
não só, deixou uma obra cimeira no
quadro do jornalismo contemporâneo. Neste livro, o autor revisitou
lugares mencionados na obra do
grego Heródoto, apontado como o
fundador da historiografia, comparando a realidade antiga com a
contemporânea, nas terras do Médio Oriente. Kapuscinski assistiu a
mais de três dezenas de revoluções
e foi quatro vezes condenado à
morte em teatros de guerra. Da
mesma editora é “Salmos-Versão Século XXI”, do Padre Mário de
Oliveira, que reinventa textos fundadores do cristianismo à medida
dos grandes desafios e problemas
que a humanidade hoje enfrenta,
deixando, como sempre, o testemunho de coragem de alguém que,
tendo pago o preço elevado da sua
exigência ética e cívica, nunca aceitou ver a Igreja Católica com o olhar
da resignação, da acomodação e da
indiferença perante a pobreza e a
injustiça social.
PARA QUEM GOSTA do autor e do
género, do seu humor sempre certeiro e oportuno, recomenda-se o
nº3 de “Mafalda”, do argentino
Quino, sempre actual. I
Junho 2007
TempoLivre 55
BOAVIDA
A
R
T
E
S
CARTOON E ESCULTURA
SEM LIMITES
João Vaz de Carvalho, cartoonista e ilustrador, expõe, na galeria Trema, os seus mais recentes
trabalhos de pintura . A Galeria Cubic apresenta esculturas e desenhos de Rui Matos
I Rodrigues
Vaz
A
exposição que João Vaz de Carvalho
(Fundão, 1958) apresenta, até 9 de Junho,
na galeria Trema, em Lisboa, merece bem
uma visita. São pseudo-cartoons cheios de
significações, a denunciar, por um lado, a sua profissão de cartoonista e ilustrador de reconhecidos méritos, mas, por outro modo, a dignificar a independência da obra de arte, porque o que é preciso é
reformar tudo e tudo pôr em causa, pois o que interessa é avançar pois não há limites para a arte.
Até 15 de Junho, igualmente em Lisboa, a Galeria
Cubic apresenta esculturas e desenhos de Rui Matos.
“Histórias Incompletas”, título da mostra, vem revelar um artista (Lisboa, 1959) a desabrochar de potencialidades e pleno de preocupações sobre o homem e
o mistério da vida, usando como pretexto os cânones
do Renascimento, que transforma quase magicamente em imagens de grande impacto visual. I
56 TempoLivre
Junho 2007
Em cima, escultura de Rui Matos e, em baixo, acrílico de João Vaz
de Carvalho
BOAVIDA
M
Ú
S
I
C
A
S
«FAFÁ AO VIVO»
Com alma limpa e espírito livre
Do infindável alfobre musical do Brasil, acaba de nos chegar o CD “Fafá de Belém ao Vivo”, uma excelente
síntese de mais de trinta anos de carreira de uma artista quase sempre injustamente olhada de soslaio pela
crítica “mais exigente” e preconceituosa.
I
Victor Ribeiro
G
ravado durante dois espectáculos efectuados no
Teatro da Paz, na capital
do Pará, Belém, terra
natal da cantora, este trabalho discográfico integra 12 dos mais conhecidos temas do repertório de Fafá e
mais duas canções registadas em estúdio, em jeito de “faixa bónus”:
“História de Amor”, de Danny Da-
58 TempoLivre
Junho 2007
niel e Rafael Ferro e “Brilho Dental”
de Carlos Tê e Rui Veloso. Refiramse ainda as participações especiais
de Mariana Belém e Walter Bandeira.
E se destaques há que fazer, assinalem-se “Raça”, Sedução” e “Maria Solidária”, de Milton Nascimento e “Vermelho”, de Chico da Silva”,
uma das cantigas que mais terá
contribuído para a popularidade de
Fafá em Portugal.
Fafá tem construído a sua carreira a
pulso, algo à margem dos circuitos
dominantes do Rio de Janeiro ou de
São Paulo, mergulhando no Brasil
profundo, indo lá, onde mais ninguém se atreve, por comodismo ou
reserva intelectual.
Fafá impressiona e conquista quem
a vê e ouve porque enfrenta o mundo
com alma limpa, espírito livre, gargalhada “inconveniente” mas genuína e
tudo isso, nos tempos que correm,
não é “socialmente correcto” e muito
menos “culturalmente” suportado.
No palco, Fafá quase não representa, limita-se a ser quem é, como qualquer um dos outros que está ali, mais
em baixo, à sua frente para a ouvir e
aplaudir, quer se apresente num casino, quer actue num auditório do mais
remoto interior.
A cantora afirma: “Desde sempre a
música me salvou… me salvou de ser
medíocre, de ficar limitada, de não
falar o que sentia. Sou tímida, embora
não pareça. Sou daquele tipo que faz
marola pra não deixar ver o tamanho
do barco. Por protecção, pura protecção”.
Louvemos tal timidez, ouçamos
“Fafá de Belém ao Vivo” e constatemos que, passados mais de trinta anos
de carreira, ela é uma das mais genuínas intérpretes da Música Popular
Brasileira.
DA WEASEL COM “AMOR,
ESCÁRNIO E MALDIZER”
Passados quase 15 anos de existência,
os “Da Weasel” acabam de lançar um
6º álbum de originais, com o título
genérico “Amor, Escárnio e Maldizer”.
Nunca a música rap nacional foi tão
longe, na forma e no conteúdo.
Num total de 19 temas, intervêm,
além dos elementos do grupo,
Bernardo Sassetti, José Luís Peixoto,
Atiba, Rui Massena, Orquestra
Sinfónica de Praga, “Gato Fedorento”,
Buraka Som Sistema, Simão Sabrosa e
Vikter Duplaix. Os mais “ortodoxos”
porão em causa, por certo, a heterodoxia do mais recente trabalho
discográfico de um grupo histórico,
no que ao rap em português concerne. Todavia, “o mundo pula e
avança”, também por acção de gente
que, como os “Da Weasel”, não se
deixa extasiar com o sucesso.
Ouve-se “Amor, Escárnio e Maldizer” e apercebemo-nos rapidamente de que há ali muita reflexão,
grande empenho e imenso trabalho.
Por fim os textos, a força da palavra que está na origem da música
rap mais genuína e que os “Da
Weasel” continuam a praticar, atentos e indignados. E isto assume
sobeja importância, num momento
em que pouco se ama o próximo,
muito se escarnece as ideologias e
preocupantemente se maldiz do
exercício da cidadania.
Ouvir os “Da Weasel” dá que pensar. E ainda bem. I
Junho 2007
TempoLivre 59
BOAVIDA
N O PA L C O
«Namanha Makbunhe» no Trindade
UM MACBETH AFRICANO
O Teatro Nacional D. Maria II apresenta, no Trindade, até final de Junho,
a partir de Macbeth de William Shakespeare, a peça Namanha Makbunhe ,
encenada por Andrzej Kowalski.
I
Maria Mesquita
O
espectáculo é inteiramente representado por
actores africanos, que se
deslocaram a Portugal,
da Guiné, para interpretar a história da ascensão e queda um guerreiro do Mali. Namanha é um homem que vai sucumbir à ambição e
sofrer as consequências.
“Macbeth” é para “Namanha
Makbunhe” apenas o ponto de partida, a base da estrutura dramática e
poética para um espectáculo profundamente africano. Desafio maior é o
da reflexão e valorização das características universalistas do texto
clássico, centrando-o aqui em torno
de três problemáticas transversais:
A dualidade dinâmica da natureza
humana (constante luta entre bem
e mal); A atracção fatídica pelo
poder e o Homem como um elemento de um todo transcendente e
universal que pode, com as suas
acções, contribuir decisivamente
para a sua harmonia ou o seu perigoso desequilíbrio.
Este projecto foi despoletado originalmente, e até certo ponto “inspirado”, por uma cadeia de acontecimentos vividos recentemente na
Guiné-Bissau mas, rapidamente, ultrapassou a adaptação simples à realidade histórica, cultural e tradicional
desse país para se tornar numa
transposição, bem mais complexa, de
um “Macbeth” europeu para o universo africano. Em África, o sagrado
e o místico têm uma presença particularmente forte e interveniente na vida e acções das pessoas e este facto
provoca, por vezes, que decisões e
escolhas relativamente simples do
ponto de vista eurocêntrico, no
domínio da ética e da moral, ganhem
aqui uma densidade dramática, frequentemente insuspeita e bastante
elevada. O que é “dramático” para
um europeu pode não o ser para um
africano e vice-versa.
O contexto é em África, como na
Europa, parte integrante da compreensão das atitudes e valores manifestados e a sua recriação, ainda
que muito parcial, é parte integrante da “chave” para a sua leitura. Um contexto que é cultural e de
enquadramento mental, seguramente, mas, é também físico e
material. Por isso, “Namanha Makbunhe” recria em termos plásticos e
sonoros, climas e atmosferas de
uma outra realidade, através da cor
e das formas, da luz e da sonoridade de floresta, dos ritmos e dos
cheiros.
NA BARRACA
“DARWIN E O CANTO
DOS CANÁRIOS CEGOS”
Segundo o seu autor, o dramaturgo
brasileiro Murilo Dias César, “Darwin e o Canto dos Canários Cegos”,
em cena, até final de Junho, no
espaço da Barraca, no Largo de
FICHAS TÉCNICAS
MACBETH
Sanca, Ilesa Afonso da Costa, Jorge
“DARWIN E O CANTO
Texto: William Shakespeare; Adaptação e
Quintino Biague, Mário Spencer, Mussa
DOS CANÁRIOS CEGOS”
Encenação: Andrzej Kowalski;
Camará, Sofia Laura Rodrigues, entre
Texto de Murilo Dias César; Versão,
Dramaturgia: Luís Mourão; Cenografia:
outros; Fotografia: Augusto Baptista;
Dramaturgia e Encenação: Hélder Costa;
Leszek Madzik; Figurinos: Esmeralda
Participação: ”OS FIDALGOS” – Guiné-
Elenco: Luís Thomar, Susana Costa, Sérgio
Bisnoca; Coreografia: Fernando de Pina;
Bissau; Colaboração: ”ACTA” – A
Afonso;
Interpretação: Albino Djata, Amélia da
Companhia de Teatro do Algarve; Produção:
Adereços e Figurinos: Luís Thomar;
Silva, Bia Gomes, Braima Galissa, Djamila
Teatro Nacional D. Maria II. 4ª a Sáb.
Luminotecnia e Sonoplastia: José Carlos
Vieira, Domingos Gomes Marques, Helena
21H30 Dom. 16H00
Pontes.
60 TempoLivre
Junho 2007
“Darwin
e o Canto dos
Canários Cegos”
e, em baixo,
“Casa de Bonecas”
Santos (Lisboa), aborda o intenso
conflito entre o célebre cientista e
sua Teoria da Evolução das Espécies.
Após sua célebre viagem de pesquisa científica, de cinco anos, em
volta do mundo, a bordo do Beagle,
Darwin foi acometido de uma
estranha doença que, até hoje, os
seus biógrafos discutem se teria
sido de ordem física ou psicológica.
Emma Darwin, a esposa, utilizando
intuitivamente (a teoria freudiana
somente apareceria no século
seguinte) o método psicanalítico de
interpretação dos sonhos e alucinações, “investiga” as causas dessa
doença misteriosa que acometeu
seu marido até o final de sua vida.
Com aguda inteligência, muita perseverança e realizando um trabalho
quase “detectivesco”, Emma consegue desvendar uma das causas
ou a causa maior da doença de
Darwin: o violento impacto emocional que o atingiu quando, durante sua passagem pelo Brasil,
tornou-se o acidental espectador de
um terrível crime, ocasionando-lhe
violento trauma, que o atormentou
durante toda sua vida.
Para o encenador da peça, Hélder
Costa, a obra de Murilo Dias César
retrata de modo eloquente os tempos difíceis deste nosso quotidiano:
Darwin, o genial cientista a quem
Marx dedicou o 1º volume de “O
Capital”, tinha razão quando receava o impacto da sua teoria sobre a
origem das espécies. Não teve a
morte de Giordano Bruno nem
sofreu as perseguições e humilhações de Galileu, Newton, Lamarck
e tantos outros, mas foi achincalhado, desprezado, e ainda hoje há
quem o considere um sinistro “anti
– Cristo”.
Neste novo milénio, denuncia o
encenador e director de A Barraca,
algo de surpreendente está a acontecer: o reaparecimento do Criacionismo! Os milhares de estudos que
acabaram por provar que os seres
vivos existiam devido a mudanças,
transmutações, evoluções, e tudo
tinha sido criado por fenómenos
físicos, materiais, foram miraculosamente enterrados na poeira do
tempo e substituídos por um acto
misterioso, inacessível, não comprovável, de um Deus desconhecido.
AINDA EM CENA:
“CASA DE BONECAS”
“Casa de Bonecas” de Ibsen, da
Companhia de Teatro de Sintra/
Chão de Oliva, em cena até 24 de
Junho (quinta a sábado 21,30h;
domingo 16h), dá continuidade ao
“Roteiro da Intemporalidade” iniciado em 2005 com Strindberg, que
continua agora com Ibsen e terminará em 2008 com Tckekov, autores
fundamentais para a compreensão
do teatro moderno.
“JESUS CRISTO SUPERSTAR”
Da autoria da mais célebre dupla de
autores de grandes produções
musicais mundialmente conhecidas, Andrew Lloyd Webber e Tim
Rice, a versão portuguesa de Jesus
Cristo SuperStar, de Filipe Lá Féria,
teve estreia nacional no Rivoli
(Porto), onde continua em cena
durante o Verão. Com um elenco
de 54 actores, cantores, bailarinos e
músicos, na sua maioria nortenhos,
o espectáculo rodará por outras
cidades portugueses.
Junho 2007
TempoLivre 61
BOAVIDA
CINEMA EM CASA
PARIS, PARIS!
I Sérgio
Alves
C
apital cultural europeia durante séculos, Paris
resiste, no cinema, à concorrência de outras
grandes metrópoles urbanas. Realizados na
‘cidade luz’, quatro recentes (2006) bons filmes
MARIA ANTONIETA
Marie Antoniette impressiona pela criação fiel dos
espaços físicos e humanos
(“quadros vivos”). E a
banda sonora tem um
papel fulcral na
narrativa:
cada
quadro,
ou
sequência,
tem um acompanhamento
sonoro próprio, a exprimir
as emoções, visíveis ou
discretas, da Rainha, do Rei
e demais nobres figuras de
Versalhes. O filme retrata a
chegada e estadia da
princesa austríaca na corte
e a sua queda e morte após
a Revolução de 1789. O
perfil histórico da rainha é
controverso, mas Sofia
Coppola optou por um
retrato mais intimista, ao
acentuar, num ambiente de
ostentação e luxo, a
imagem de desespero e
solidão de Maria Antonieta.
No fundo, uma bela metáfora sobre o tempo actual.
TÍTULO ORIGINAL:
Marie
Antoniette; REALIZAÇÃO:
Sofia Coppola; COM: Kirsten
Dunst, Jason Schwartzman,
Rip Thorn, Asia Argento,
Marianne Faithfull; EUA,
62 TempoLivre
Junho 2007
120m, cor, 2006;
EDIÇÃO: Sony Pictures
atestam o fascínio que Paris ainda exerce nos criadores
da 7ª arte. Marie Antoniette, da norte-americana Sofia
Coppola, Em Paris, Paris Je T’Aime (actores e realizadores de diversas nacionalidades) e Klimt, do chileno
Raoul Ruiz, são as nossas escolhas ‘parisienses’ para o
início do Verão. E Boas Férias, mesmo em Paris…
Joana Preiss, Marie-France
Pisier; França, 91m, cor,
2006; EDIÇÃO: Atalanta Filmes
EM PARIS
“Em Paris” é um drama
familiar assinado por
Christophe Honoré. A
história de dois irmãos:
um mais novo e despreocupado (Louis Garrel), e
o outro, mais velho e em
depressão amorosa
(Romain Duris), regressado à casa paterna. O filme
acompanha os episódios
da vida destes irmãos, a
presença do Pai (Guy
Marchand) e a ausência
da Mãe (Marie-France
Pisier), as várias raparigas
que o mais
novo conhece e
Anna, excompanheira do
mais
velho. Segundo filme do
realizador a estrear em
Portugal, “Em Paris”
nasceu dum desafio lançado pelo produtor Paulo
Branco e é, indiscutivelmente, uma bela história
para (re)ver.
Dans Paris;
Christophe
Honoré; COM: Romain Duris,
Louis Garrel, Guy Marchand,
TÍTULO ORIGINAL:
REALIZAÇÃO:
PARIS JE T’AIME
Projecto ambicioso, “Paris,
je t’aime”, pretende dar
um pequeno retrato de
cada um dos 18 bairros da
capital francesa a partir
do olhar de diferentes
realizadores. O resultado
é um conjunto de 18
histórias
com um
fabuloso
elenco
internacional que
inclui,
entre
muitos outros, Natalie
Portman, Willem Dafoe,
Fanny Ardant, Elijah
Wood, Bob Hoskins, Nick
Nolte, Juliette Binoche,
Gérard Depardieu e Steve
Buscemi.
Paris je
t’Aime; REALIZAÇÃO: entre
outros, Gus Van Sant, Wes
Craven, Alexander Payne,
Joel e Ethan Coen, Walter
Salles; OUTROS ACTORES:
Natalie Portman, Willem
Dafoe, Fanny Ardant, Elijah
Wood, Bob Hoskins; França,
120m, cor, 2006; EDIÇÃO:
Lusomundo
TÍTULO ORIGINAL:
KLIMT
Um retrato do célebre pintor austríaco Klimt, 18621918, com destaque para o
período (início do século
XX) em que as suas obras
têm uma forte componente
erótica.
Criticado
em Viena
e adulado
em
França,
Gustav Klimt (John
Malkovich), já gravemente doente, recebe a
visita do amigo e discípulo Egon Schiele (Nikolai
Kinsky) e viaja até Paris
(1900), onde recebe a
medalha de ouro da
Exposição Universal. As
mulheres são para o celebrado artista fonte de
inspiração e prazer.
Conhece em Paris uma
bailarina sedutora (Saffron
Burrows), mas é vigiado
pelo Secretário de Estado
(Stephen Dillane)…
Klimt;
Raoul Ruiz;
COM: John Malkovich,
Veronica Ferres, Stephen
Dillane, Nicolai Kinski,
Saffron Burrows; França,
94m, cor, 2006; EDIÇÃO:
Atalanta Filmes
TÍTULO ORIGINAL:
REALIZAÇÃO:
BOAVIDA
FILMES COM MEMÓRIA
A BARRAGEM DAS TRÊS GARGANTAS
Eis uma prodigiosa metáfora cinematográfica sobre a entrada (globalizadora)
da China no futuro. Inquietante e fascinante
I
Fernando Dacosta
A
história do filme, entre
nós intitulado «Natureza
Morta», é simples mas
significativa: no Rio Yang
-Tzé, o maior do País, está a ser ultimada a célebre barragem das Três
Gargantas. Trata-se do mais gigantesco empreendimento do género
no mundo, pensado e decidido no
tempo de Mao-Tsé-Tung, o Grande
Líder do século XX, mas só agora
concretizado – isto é, no novo regime de um País em marcha acelerada (não marxista) para a hegemonia mundial.
A desmesura do projecto não conhece, na simbologia que o impulsiona, limites. Milhares de pessoas
vêem-se deslocadas, cidades com
mais de dois mil anos (caso de Fengjie) submersas.
Tentando, antes de tal acontecer,
encontrar familiares de quem se
haviam separado, alguns regressam-lhe. Dois deles protagonizarão
(os soberbos actores Han Sanming e
Zhao Tao) essa procura, procura
entre memórias em ruínas e cenários em apocalipse. Tratam-se de
um mineiro migrado 16 anos antes e
de uma enfermeira, ausente há dois,
que buscam, em aquoso delírio,
reencontros sem precisão nem realidade, entre um cenário a desaparecer lentamente e outro, outros, a
emergir magicamente.
Ao revolverem a natureza mudando-a dessa maneira («internacionalizando-a», descaracterizandoa), os construtores da barragem submergem, porém, e para sempre, as
referências, as memórias, os sentimentos, as realidades, os desejos
das populações que se lhe ligavam.
Significativo disso tornam-se as
constantes sequências dos imparáveis demolidores de prédios, com
as suas picaretas e maços a lembrarem emudecidos robots em paisagens crepusculares.
Uma terra sem alma (com outra
alma) surgirá depois em horizontes
futuristas sobre o esquecimento de
uma super-civilização milenar a
assumir-se superpotência em acto.
As massas, essas, mudam e mudam-
se imperceptivelmente, a sua ilusão
é tão volátil como a sua precariedade. O tempo do consumismo,
do ter, do prazer sobrepor-se-á ao
da miséria, ao da resignação, ao do
sofrimento, reformulando-o sob
novas formas, sob diferentes utopias. Veja-se, já quase no final, o lindíssimo plano do equilibrista avançando sobre um cabo metálico que,
na contraluz da distância, liga dois
gigantescos prédios – dois antigos
sonhos, dois futuros destroços.
Notavelmente realizada por Jia
Zhang-Ke (autor de «Plataforma» e
«O Mundo»), «Natureza Morta», a
mais cara ficção chinesa rodada até
hoje, foi galardoada com o Leão de
Ouro do Festival de Veneza do ano
passado. Os que a comungarem, em
qualquer parte do mundo, guardarlhe-ão para sempre memória.
As autoridades de Pequim perceberam, com inteligência e subtileza,
que o cinema é-lhes um prodigioso
veículo de divulgação de imaginários, estando a investir nele a fundo,
a impô-lo internacionalmente, mesmo quando as questiona. I
Junho 2007
TempoLivre 63
BOAVIDA
À
M E S A
COMA PEIXE – PELA SUA SAÚDE
O peixe, recurso alimentar de um povo que sempre conviveu com o mar, quase inesgotável na costa Portuguesa,
tem cada vez mais adeptos. E as razões não são poucas.
I
Pedro Soares
A
proteína presente no
peixe é de qualidade
superior, com uma composição de aminoácidos
muito equilibrada. Estes aminoácidos permitem que as células do
nosso corpo se renovem constantemente, cresçam e se desenvolvam.
Por curiosidade, peixes como a
sardinha, possuem um aminoácido
em excesso chamado lisina, o o qual
se encontra em menor quantidade
no pão. Juntar pão de qualidade e
sardinha assada na brasa (com um
caldo verde a acompanhar) é por isso
uma opção nutricionalmente interessante. Fica-nos a dúvida, a sardinha por cima do pão é apenas uma
64 TempoLivre
Junho 2007
questão de tradição e prazer ou
existe algo mais profundo no nosso
inconsciente animal que apela à
sobrevivência e nos convida a fazer
esta mistura, que é vantajosa para a
saúde?
Os peixes que habitam as nossas
costas como a sardinha ou a cavala
possuem ácidos gordos de grande
qualidade, em especial poli e
monoinsaturados. Estas gorduras
presentes no peixe são constituintes
imprescindíveis das membranas celulares, responsáveis, por exemplo,
pelo desenvolvimento das células
do cérebro das crianças. O peixe é de
resto um alimento muito adequado
para a alimentação das crianças, pois
alia a sua fácil digestibilidade com
um conjunto de vitaminas, como a
vitamina D, e sais minerais muito
importantes durante o crescimento.
A sardinha, por exemplo, é uma boa
fonte de fósforo, essencial para a formação do esmalte dentário, sem o
qual não existem dentes saudáveis.
Mas a generosa sardinha não se fica
por aqui. Ainda nos oferece vitaminas do complexo B, iodo, potássio,
ferro, zinco e selénio, importantes
nos fenómenos de regulação metabólica e protectores do nosso organismo. Recentemente, diversos trabalhos científicos têm vindo a comprovar as vantagens das gorduras
presentes nos peixes gordos como o
atum, a sardinha ou a cavala na
nossa saúde cardiovascular. A prática de actividade física regular ao
longo da semana e uma alimentação
equilibrada com a presença de peixe
gordo rico em ácidos gordos do tipo
“ómega-3” parecem ser factores
importantes na regulação do colesterol, dos triglicerídeos e até na
descida da pressão arterial.
Ainda no que diz respeito à gordura da sardinha e ao seu valor energético total, nunca é de mais realçar,
que 100g de sardinha fornecem
aproximadamente 220 Kcal, menos
do que idêntica quantidade de um
pastel de nata, um queque ou um
qualquer chocolate, que pode chegar
às 500 Kcal por 100g. Por outro lado,
se observarmos a quantidade de gordura saturada (a mais nefasta para a
nossa saúde) fornecida por 100g de
sardinha (2,7g) quando comparada
com aquela fornecida por 100g de
carne de vaca (10,2 g) também facilmente chegamos á conclusão da
extraordinária qualidade deste produto.
Mas as boas notícias não ficam por
aqui. O peixe é também um produto
alimentar extremamente versátil,
podendo integrar diversos preparados culinários combinando bem com
o azeite e os hortícolas. E hoje sabemos que uma alimentação equilibrada onde estejam presentes hortícolas
variados, frutos, pão de mistura e
cereais integrais, grão, feijão, azeite,
peixe e uma pequena quantidade de
produtos lácteos é a melhor forma
de investir na sua saúde. Um padrão
alimentar deste tipo, muito frequente nos países mediterrânicos
permite reduzir o risco de sofrer de
obesidade, diabetes, hipertensão, e
colesterol elevado como o comprovam diversos estudos científicos.
Peixe, Verão e Saúde estão pois na
mesma “onda”. Que os aproveitemos
da melhor forma. I
BOAVIDA
S A Ú D E
“TINHA VERGONHA
DE FALAR…”
Não é primeira vez que me confronto com a dificuldade que os doentes
sentem em falar comigo sobre a incontinência urinária. Naquele dia,
depois de aparentemente termos terminado a consulta, a Sra. M. ficou
sentada em silêncio e pareceu-me embaraçada.
I
M. Augusta Drago
P
erguntei-lhe se tinha mais
alguma coisa para me dizer e
foi então que contou que
andava já há algum tempo a
perder urina e que, às vezes, nem dava
por isso. Quando lhe perguntei
porque não se tinha queixado há mais
tempo, respondeu-me: “tinha vergonha de falar com a doutora sobre
esse assunto…”.
As hesitações que tenho sentido da
parte dos doentes quando se trata de
falar de incontinência urinária são
comuns a homens e mulheres. Interrogo-me se consideram este problema
como um problema normal da idade e
por isso, talvez, no seu entender, não
valha a pena falar no assunto ou se
acham que não há tratamento que
lhes valha.
Embora a Sra. M., com os seus 62
anos de idade e mãe de quatro filhos,
me sugerisse de imediato um diagnóstico, prudentemente investiguei outras causas de incontinência urinária
com as características da sua.
É correcto pensar que a incontinência urinária acontece frequentemente
às pessoas menos jovens. É consequência da perda de tonicidade dos
músculos do períneo – a região do corpo onde se situa o aparelho urinário.
Mas já não é correcto pensar que se
trata de uma situação irreversível.
A perda involuntária de pequenas
quantidades de urina pode ser provoAndré Letria
cada pelo aumento da pressão intraabdominal. Quando a pessoa faz um
esforço – quando ri, tosse ou espirra,
aumenta a pressão dentro do abdómen a qual vai comprimir a bexiga. Se
o esfíncter (o músculo que controla a
saída da urina da bexiga) tiver perdido
a capacidade de se contrair, a urina vai
saindo em pequenas quantidades e
quase sem se sentir.
Esta situação é frequente nas mulheres depois da menopausa, por
carência de estrogénios, e também
nas que tiveram múltiplos
partos ou sofreram intervenções cirúrgicas
pélvicas, como no caso
abordado. O mesmo
pode acontecer nos homens que foram operados à próstata, bexiga
ou uretra.
Há ainda as pessoas
que referem uma enorme
vontade de urinar com uma
urgência tal que apenas podem esperar alguns minutos. A causa mais frequente neste grupo etário é o aumento de actividade da bexiga. Pode também ser uma infecção urinária ou uma
obstrução das vias urinárias que
necessita de ser investigada.
Há ainda outras causas de incontinência urinária como as psicológicas
e as malformações congénitas, que são
menos frequentes e não cabem no
âmbito deste artigo. Para as causas
mais frequentes, existem tratamentos
cada vez mais eficazes, pelo que
desafio os doentes com este problema
a falarem abertamente aos seus médicos de família.
Na incontinência de esforço (ao
tossir, espirrar, etc.) o diagnóstico é
feito com a história clínica e a observação. Quando se suspeita de hiperactividade da bexiga, é necessário fazer
exames para avaliar a evolução da
pressão dentro da bexiga e pode também ser necessário estudar a curva do
fluxo urinário. Estes casos são normalmente referenciados ao urologista
para estudar o tipo de incontinência e
determinar o melhor tratamento.
O tratamento para esta doença tem
sempre que ser avaliado de acordo
com as características da cada doente.
Pode acontecer que o tratamento se
resuma a aconselhamento sobre medidas simples para alterar comportamentos menos correctos.
Os doentes podem curar-se ou melhorar consideravelmente o controlo
sobre a bexiga se criarem o
hábito de urinar a intervalos regulares, como de 22 ou 3-3 horas. Também
se aconselha os doentes
a não beberem café e
outras bebidas com cafeína, porque essa substância
estimula a bexiga. Devem
beber água, cerca de 1,5
litros por dia para diluir a
urina. A urina concentrada é
outro factor de irritação da bexiga.
Urinar frequentemente e a intervalos regulares pode prevenir as situações de grande urgência. Também os
exercícios musculares podem ser de
grande utilidade. São indicados para
as pessoas que têm os músculos da
bacia fracos. Consistem em contracções voluntárias e repetidas destes
músculos várias vezes por dia, o que
contribui para os tonificar e aprender o
seu uso correcto. I
medicofamilia@clix.
Junho 2007
TempoLivre 65
BOAVIDA
TEMPO INFORMÁTICO
O PODER
DA IMAGEM
Cada vez mais a imagem
digital se afirma como
indispensável na
utilização dos meios
informáticos como
técnica de comunicação.
Também aqui é bem
real que “uma
imagem vale mil
palavras”. E portanto
se a utilizarmos em
vez da simples
fotografia estática ou a
incluirmos na comunicação
estaremos a dar mais impacto e
maior poder ao contacto com o
mundo que nos rodeia.
I
Gil Montalverne
C
âmaras para Internet já
ninguém dispensa. Longe
vai o tempo dos ”chats” ou
conversações pela internet
apenas trocando mensagens escritas
no teclado e visíveis no monitor com
quem falávamos do outro lado do
mundo. Agora os chats utilizam as
Webcams que permitem a utilização
da voz e a transmissão da nossa
imagem para aqueles com quem
falamos enquanto recebemos deles
no nosso monitor o mesmo efeito.
São muitas as marcas, os modelos e
as respectivas capacidades e qualidade da imagem. As marcas vão
melhorando e inovando nos seus
modelos, tornando-se cada vez mais
perfeitas. Sem qualquer dúvida e
sem receio de exagerarmos que ficámos estupefactos quando na última
apresentação dos produtos da
66 TempoLivre
Junho 2007
Logitech nos colocámos na frente da
QuickCam Ultra Vision. A nitidez da
imagem estendendo-se na profundidade de campo em tudo o que
estava para trás de nós, a imediata
correcção de luminosidade de acordo com o nosso ambiente parecia
inacreditável.
Afinal estávamos perante algo de
novo que era a utilização de um conjunto de cinco lentes de vidro de
grande precisão. Sejam quais forem
as condições a Tecnologia RigtLight2
optimiza de forma inteligente a
respectiva captação adaptando-se
mesmo a condições de luz difusa. O
microfone incorporado é de qualidade superior, o formato cilíndrico
com dois botões no topo (um para
activar a janela e outro para fotografar), um anel que se acende à volta
do logótipo Logitech se a WebCam
estiver activa, tudo foi pensado, nas
duas versões cinza e preto, para me-
lhor comunicar. Damos até agora a
pontuação máxima e por isso a
mostramos aqui.
MOLDURAS DIGITAIS
Molduras digitais estão a substituir
as molduras tradicionais em nossas
casas. Aumentam os fabricantes,
pois começam a ter grande procura
no mercado. Como tudo o que é
digital fascina quem as vê. Vão exibindo a intervalos regulares fotografias que tirámos em família em
determinada ocasião ou de um parente, da mulher, do marido, dos filhos, etc. ou as que fizemos durante
uma viagem. A sequência e a duração de cada imagem na moldura
são configuradas pelo utilizador e a
diferença está na qualidade de
reprodução e no design da própria
moldura. Trazemos aqui, apresentada pela CIGEST a AgphaPhoto
AF5070 (Sagem) que até nos delicia
com leitor de MP3, relógio, calendário e alarme. Tendo 24 por 17
cm, a música em altifalantes integrados, pode ou não acompanhar a
sequência das imagens em slideshow a intervalos reguláveis ou
vídeo, num ecrã LCD de 7 polegadas com uma resolução de 480
por 234 píxeis, o que é francamente
agradável. Com 180 megas de
memória, recebe vários tipos de
cartões (SD, MS, MMC) e também
através de uma ligação USB. PVP:
129 Euros (Tel:213616310) .I
[email protected]
BOAVIDA
A O
V O L A N T E
C4 PICASSO: O CARRO DO ANO
O Grand C4 Picasso foi eleito o Carro do Ano de 2007, recebendo o Troféu Volante de Cristal.
I
Carlos Blanco
O
s membros do júri renderam-se ao pára-brisas
prolongado, ao tecto
panorâmico em vidro,
ao conforto, habitabilidade, performance das motorizações e a todos
os outros argumentos que fazem
do Citroën Grand C4 Picasso um
carro de eleição.
Como uma boa ideia nunca vem
só, depois do êxito do Grand C4
Picasso 7 lugares, a Citroën lança
agora o C4 Picasso de 5 lugares.
Uma proposta com um estilo sedutor e dinâmico que privilegia o
prazer de condução e o conforto.
Com o seu carácter bem vincado,
traz-nos um prazer de condução
aliado a uma habitabilidade e
espaço interior de referência e uma
bagageira de 576 L. Ao serviço deste
espaço encontra duas motorizações
Diesel 1.6 e 2.0 HDi de elevada performance e economia, e ainda a
opção de uma caixa manual pilotada de 6 velocidades com comandos
no volante, ou uma caixa automática de 6 velocidades. Com o seu sistema de suspensão pneumática,
com controlo de altura ao solo,
associado a uma escolha de motorizações de elevado desempenho, o
Citroën C4 Picasso reserva sensações de condução que não param
de surpreender. Em cidade ou na
estrada, o conforto, a segurança e o
prazer de condução são garantidos.
O Grand C4 Picasso passa das
medidas quando o assunto é conforto e habitabilidade. São 4,59 m
de comprimento, 1,83 m de largura
e 1,66 m de altura, apresentando
um espaço interior totalmente optimizado. Com uma disposição de
três filas de bancos, este monovolume acolhe na perfeição sete passageiros. Para além dos notáveis
níveis de conforto, sublinha-se
também o prazer inesgotável de
condução. Equipado com uma
nova Caixa Manual Pilotada de 6
velocidades, o Grand C4 Picasso
apresenta ainda duas motorizações: Diesel HDi de 2 litros e 138 cv
e 1.6 HDi 110 cv, ambos com Filtro
de Partículas (FAP). A Caixa Manual Pilotada de 6 velocidades fornece
ao Grand C4 Picasso um alto nível
de desempenho, aumentando a
rapidez e a qualidade das passagens de caixa e reduzindo o consumo e emissões de CO2. I
Junho 2007
TempoLivre 67
BOAVIDA
PA L AV RA S D A L E I
VENDA ILEGAL DE CASA
DE MORADA DE FAMÍLIA
O marido de minha irmã abandonou a
casa (pertença do casal), já há anos,
para se juntar com uma amante. Eram
casados com comunhão de bens e têm dois
filhos (um rapaz e uma rapariga). Foi
obrigado pelo tribunal a custear parte das
despesas dos estudos dos filhos. Em tempos ele, com promessas e palavras doces
conseguiu que minha irmã assinasse um
documento de venda de um terreno de
muito valor. Ela nunca viu a cor do dinheiro. Mais tarde ele exigiu o divórcio
litigioso. Na sentença ficou esclarecido
que ela tinha o direito de viver na casa, e
ele não podia entrar nela sem sua autorização. Ele nunca mais bateu à porta.
Agora comunicou à ex-esposa (minha
irmã) que ia pôr a casa à venda em
leilão. Ele ainda deve ao Banco parte do
empréstimo da casa. O lucro da venda
seria para os dois.
Ora ela anda em tratamentos no IPO do
Porto (quimio e radioterapia). Está
muito debilitada. Ele pode pôr a casa à
venda sem autorização dela? Que pode
ela fazer para não ficar na rua, pois não
tem dinheiro para ombrear com ele no
tal leilão? Desde já a minha gratidão
pelo esclarecimento.
?
Judite Pinho Martins Oliveira
Paiva – Sócia 487159-Lisboa
I
servindo de título contra terceiros
que tentem, de algum modo, prejudicar o direito da sua irmã. Estas
ideias decorrem do artigo 1413º do
Código de Processo Civil, e sirvo-me
de uma noção processual para lhe
dizer que o ex-marido não tem qualquer legitimidade para propor qualquer tipo de venda sobre a casa de
morada de família; não só porque há
uma sentença que não o indica
como proprietário, mas também
porque, mesmo que não houvesse
sentença, saiba a leitora que a nossa
lei atribui uma especial protecção à
casa de morada de família, carecendo do consentimento de ambos a
venda dessa mesma casa, de acordo
com os artigos 1682º-A e 1682º-B, do
Código Civil.
Logo, deve a leitora enviar de imediato à leiloeira uma cópia da sentença e uma carta registada, explicando os motivos pelos quais a
leiloeira não pode efectuar quaisquer actos que promovam essa
venda a pedido do ex-marido, incorrendo em responsabilidade se os
efectuar. Uma outra precaução a
tomar é intentar uma providência
cautelar que impeça a venda do
imóvel pelo ex-marido, no caso da
leiloeira ir avante com as suas
intenções. Finalmente, uma breve
palavra relativa ao produto da
venda do terreno. A carta é omissa
quanto ao momento em que a venda
se fez; por isso, não sei se prescreveu
o direito a agir judicialmente para
obter a parte que lhe cabe do lucro
da venda. No entanto, e para facilitarmos a leitora, admitamos que
ainda está dentro do prazo de agir
judicialmente. Se tiver a prova da
venda do terreno comum, e ainda
provar que nunca recebeu a parte da
venda a que legalmente tem direito,
deve intentar uma acção de condenação contra o marido. Aconselho-a
a falar com um advogado. I
Toda a correspondência deve ser
dirigida à Redacção da «Tempo Livre»
Pedro Baptista-Bastos
A
situação acima descrita, a
todos os títulos condenável, é ilegal e não
pode ser efectuada. Vejamos: se uma sentença judicial atribui a casa de morada de família à
mulher, significa que a propriedade
da mesma – salvo outro entendimento judicial – foi atribuída a
quem a requereu ou a quem o
Tribunal entendeu que devia ter a
sua propriedade, ao caso, a sua irmã.
A fixação dessa propriedade da casa
de morada de família está registada,
68 TempoLivre
Junho 2007
André Letria
CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
1
Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas
Horizontais:
1-Vestuário; Gaita; Interpretar o que está escrito. 2-Substância filamentosa segregada pela larva do sirgo (bicho-da-seda); Poeta e cantor ambulante entre os Gregos; Farinha grossa. 3-Lento; Prejudica;
Aguardente obtida da destilação do melaço depois de fermentado. 4Andais; Mau; Nado (fig.); Piedade. 5-Pref. de “modo”; Rebanho de
animais de vários donos; Contr. de prep. “a” com o pron. “o”; Pref. de
origem latina que exprime a ideia de “Aquém de”. 6-Unido;
Semelhante; Casamento. 7-Condimento; Insignificante; Privilégio. 8Graceje; Que cultiva as vinhas. 9-Baroado; Ofereça. 10-Preguiça
(Bras.); Unidade Monetária do Peru; Chancela; Principal. 11-Que
não é real; “Amerício” (s.q.); Cabeleira. 12-Elemento de formação de
palavras, de origem latina, que exprime a ideia de “asa”; Sitio muito
aprazível (fig.);Aplicar. 13-Franco; Escudeiros; Indignar.
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Verticais:
12
13
SOLUÇÕES
1-Bicudo; Comum. 2-Aquelas; Herdade; Canoa estreita, de remos, leve e rápida, de uso nos desportos aquáticos. 3-Afirma; Paquenino
(Bras) Minha. 4-Bálsamo; Agrega; Ela. 5-malucado; Barrete. 6-Horta;
Cercado. 7-Vanaquíá; Macho; Andar; Acórdão. 8-Cólera; Acenos;
Casamento. 9-Agregar; Parágrafo. 10-Arroxear; Serenidade. 11Estalajadeiro; Nado; Letra grega correspondente ao “P” latino. 12Herança; Bandeira. 13-Toca; Coragem: Atraso. 14-Escapado;
Predicado. 15-Abundante; Fértil.
Soluções (horizontais): 1-FATO; PÍFARO; LER. 2-SEDA;AEDO; RALA.
3-B; MOLE; LIXA; RUM. 4-IS; RUIM; REMO; DO. 5-COM; ADUÁ; AO;
CIS. 6-ALIADO; PAR; BODA. 7-LARDO; VIL; FORO. 8-RIA; VITICOLA5 F. 9-B:M;BARONATOS; DE. 10-AÍ; SOL; SELO; MDR. 11-NOMINAL; AM; COMA. 12-ALI; EDEN; APOR; Z. 13-LEAL; AIOS; IRAR.
Xadrez > por Joaquim Durão
Embora de solução “comprida” esta composição datada
de 1938 e de autoria de Alexandre Kakovin (Kharkov,
Ucrânia, 15.08.1910), não é especialmente difícil, antes
pelo contrário, mas não deixa de ser muito interessante.
AS BRANCAS JOGAM E DÃO MATE EM 13 LANCES
70 TempoLivre
Junho 2007
SOLUÇÕES
O rei sobe em “escada” até participar activamente
no mate, tema sempre de belo efeito. 1. Bb8 Rg1
2.Ba7+ Rg2 3.Rc7 h4 4.Rb6 Rg1 5.Rb5+ Rg2 6. Rc5
Rg1 7.Rc4+ Rg2 8.Rd4 Rg1 9.Rd3+ Rg2 10.Re3 Rg1
11.Re2+ Rg2 12.Bf2 gxf2 e 13. Tg8 mate.
Do campeonato britânico de 2006, em Swansea: Nigel
Davies – N. Thomas. Defesa Bogo – Indiana. 1.d4 e6 2.c4
Cf6b 3.g3 Bb4+ (O lance de Bogoljuboff, donde o
baptismo da abertura) 4. Bd2 a5 5. Bg2 d6 6.Cf3 Bxd2+
7.Dxd2 Cbd7 8. 0-0 0-0 9. Cc3 e5 10. e4 exd4 (10…., c6 11.
Tad1 De7 seria mais prudente, mantendo a estrutura do
centro) 11. Cxd4 Ce5 12.b3 Bd7 13.f4 Cc6 14. Cdb5
(Evitando trocas para tirar vantagem da superioridade
espacial no centro) 14…. Te8 15.c5! (Rompendo o
controlo do centro, o que é raro ver-se nesta defesa, em
fase tão prematura) 15…, dxc5 16 e5! Cg4 17.Tad1 Bf5
18.Cd5 Tc8 19. h3 Ch6 20. Dc3 (Também forte para as
brancas seria 20. g4 Be6 21.Cdxc7 Dxd2 22.Txd2 Ted8
23.Tfd1 Txd2 24. Txd2 Td8 25.Txd8+ Cxd8 26. Cd6
segundo Davies e M. Pein) 20…. Bd7 21.Dxc5 Cf5 22.Td3
b6 23.Df2 Txe5? 24.Tfd1 (24. fxe5 Cxe5 25.Tdd1 também
seria decisivo) 24…. Te6 25.Cdxc7 Te7 26. Cd5 Te6 27.
Cxb6 Tb8 e as pretas abandonam, sem esperarem a
resposta óbvia 28.Txd7 Dxb6 29.Dxb6 Txb6 30.Td8+ Cxd8
31.Txd8+ seguido de mate.
Viagens
Turismo Social
Nacional
JULHO
CIRCUITOS
TSI 2277 - PALMA MAIORCA
TSI 1747 - ROMÉNIA E BULGÁRIA
20 A 27 JULHO
05 A 12 JULHO
Partidas: LISBOA/PORTO
€780,00*
Partida: LISBOA/PORTO
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TSI 2327 - ROQUETAS DEL MAR
TSI 1417 - CAPITAIS NÓRDICAS E
FIORDES DA NORUEGA
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Tsn 1847 - NA SENDA DO LOBO
Partida: LISBOA
€1630,00*
Tsn 1807 - GIRO GASTRONÓMICO E
ECOLÓGICO EM MAFRA E ERICEIRA
13 a 15/07/07
Partidas de: Viana do Castelo/Braga/Porto
€ 215,00*
TSI 1467 - ENCANTOS DA CROÁCIA E
ESLOVÉNIA
TSI 2467 - ITÁLIA BELA E CRUZEIRO
NA GRÉCIA E CROÁCIA
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12 A 22 JULHO
Partida: LISBOA/PORTO
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Partidas: GUARDA/COVILHÃ/
PORTALEGRE
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Partidas de: Évora/Lisboa/Santarém
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TSI 1497 - ROTEIRO DA ANDALUZIA SEVILLA/GRANADA/CÓRDOBA
11 A 18 AGOSTO
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Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações
CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE
NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2007
DESCONTO
Este cupão só é válido na compra
de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora
Clube
TempoLivre
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VALIDADE
31de Dezembro/2007
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31de Dezembro/2007
Remeter para
Clube Tempo Livre –
LIVROS, Calçada de
Sant’Ana nº 180 –
1169-062 Lisboa, o
seguinte:
G Pedido, referenciando a editora e o título
da obra pretendida;
G Cheque ou Vale dos
Correios, correspondente ao valor (PVP)
do livro, deduzindo
2,74 euros de desconto do cupão.
G Portes dos Correios
referente ao envio da
encomenda, com
excepção do
estrangeiro, serão
suportados pelo Clube
Tempo Livre. Em caso
de devolução da
encomenda, os custos
de reenvio deverão ser
suportados pelo
associado.
CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS
CAMPO
DAS LETRAS
ANDANÇAS COM
HERÓDOTO
Ryszard Kapuscinski
232 pg. |14,70 (PVP)
A obra relembra alguns
acontecimentos políticos e
históricos que o autor,
jornalista, testemunhou nas
suas viagens pela Índia,
China, Ásia Menor e África.
Embora possa parecer que
o nosso mundo se
distanciou do mundo de
Heródoto, continua a ser
verdade que compreender e
aceitar o curso da história
dos povos continua a ser
tão difícil hoje como no
tempo do autor grego.
PEREGRINOS SEM FÉ
Sérgio Luís de Carvalho
428 pg. |18,90 (PVP)
Dois homens partem numa
viagem entre Lisboa e
Santiago de Compostela.
Um é um médico humanista
da Universidade de
Coimbra, no ano de 1537;
outro é um cantor lírico
actual. A separá-los estão
alguns séculos e os motivos
da peregrinação: a um
move-o o temor da
Inquisição; o outro vai em
busca de uma paixão
moribunda.
Contudo, e sem que o
saibam, algo os une: as
memórias do passado, a
arte da música e da poesia
e, sobretudo, a estranha
descoberta de si mesmos.
ETNA NO VENDAVAL DA
PERESTROIKA
Miguel Urbano
Rodrigues e Ana
Catarina Almeida
296 pg. |14.70 (PVP)
O terramoto que ali mudou
a vida é apresentado por
estes dois autores, a última
74 TempoLivre
Junho 2007
geração de portugueses
que estudou nas
universidades soviéticas.
Um livro escrito a quatro
mãos, ora na primeira ora
na terceira pessoa,
transcorrendo em cenários
diferentes, de Kiev e
Leninegrado à China e às
ruínas da Pérsia antiga,
numa atmosfera de tensa
incerteza, marcada pela
transformação de Etna
numa mulher adulta para a
qual o amor e a revolução
são indissociáveis.
COLIBRI
VIOLÊNCIA E EURO 2004
A centralidade do futebol
na cultura popular
Pedro Sousa de Almeida
107 pg. | 7,25 PVP
Partindo de uma
investigação realizada
durante o Euro 2004, o livro
aborda o tema da
transnacionalização da
cultura e do espectáculo na
relação entre futebol e a
performance da violência,
protagonizada por adeptos
adversários.
Para o autor, o Futebol
atinge no nosso país uma
importância maior do que
em outras sociedades,
sinalizando “o relativo
empobrecimento da cultura
popular portuguesa”,
culpada por não ter tido a
desenvoltura de criar
“formas semelhantes de
produção e consumo
público”.
VILA FRANCA DE XIRA
Economia e Sociedade na
Instalação do Liberalismo –
18201850
Graça Maria Soares
Nunes
191 pg. | 12 (PVP)
Um estudo sobre as
mudanças ocorridas na
actividade económica,
essencialmente no que
concerne à agricultura após
a desestruturação do
Antigo Regime, no concelho
de Vila Franca de Xira.
EDITORIAL
PRESENÇA
O PAPA DE FÁTIMA - A
Vida de Karol Wojtyla
Renzo Allegri
304 pg. |17,50 (PVP)
Uma interessante biografia
de João Paulo II, da
autoria de um jornalista
italiano e especialista em
questões religiosas. Um
trabalho pleno de
pormenores
desconhecidos, apresentanos um retrato humano e
comovedor deste Papa
carismático. O que
distingue porém esta
biografia reside no facto
de a vida de Karol Wojtyla
ser abordada à luz das
revelações que a Senhora
de Fátima fez aos três
pastorinhos, revelações
essas em que ele se terá
reconhecido como um
«enviado» para pacificar o
seu século e restaurar a
liberdade da fé.
O MISTÉRIO DA PIRÂMIDE
DE QUEIJO
Geronimo Stilton
128 pg.| 8 (PVP)
«Parto para o Egipto, onde
atravesso o deserto a bordo
de um dromedário e exploro
a pirâmide de Quéops...
Aqui, entre múmias,
sarcófagos e hieróglifos,
vou descobrir o segredo de
um cientista que construiu
uma misteriosa pirâmide
cor de queijo!»
Uma fascinante história
para divertir os mais novos.
EDITORIAL VERBO
IMPOSTURAS
ANTI-CRISTÃS
Pe. Joseph-Marie
Verlinde
328 pg. | 28,49 (PVP)
Não é o Código Da Vinci
que motiva a tomada de
palavra do autor. No
entanto, esta obra é um
bom pretexto para
responder ao desafio
lançado neste início de
milénio por todos aqueles
que, no seio da
espiritualidade New Age,
trabalham na desconstrução
do cristianismo, e dos quais
Dan Brown é sem dúvida o
representante mais
talentoso.
BOB, O CONSTRUTOR
.O Escavão Salva o Dia
.O Lagartas Dorme na
Quinta
.O Rolão e a Estrela de Rock
. Bob Salva Os Porcos
Espinhos
Cada livro 24 pg.|3,99 PVP)
Quatro agradáveis livros
sobre “As Aventuras do
Bob, O Construtor” para
encantar os mais novos.
EUROPA-AMÉRICA
VIAGEM A TOMBUCTU
René Caillié
280 pg. | 19,90 (PVP)
Este é o 2º volume de
viagem a Tombuctu, um
relato memorável de um
dos exploradores que
aproximou a África da
Europa e que permaneceu
para sempre como um dos
mais belos livros de
viagens.
A obra reflecte um quadro
ímpar das sociedades
árabes e africanas ainda em
toda a sua soberania, das
mudanças de civilizações
através do Sara, do
Magrebe à África Negra, no
início do séc. XIX, antes da
penetração colonial
europeia.
OS FILHOS DE HÚRIN
J. R. R. Tolkien
316 pg. | 22,30 (PVP)
«As mais antigas versões
desta história remontam ao
final da primeira Guerra
Mundial e aos anos que se
seguiram; mas, muito
depois, quando O Senhor
dos Anéis estava
terminado, ele escreveu-a
de novo fê-la crescer
grandemente em
complexidade: ela tornou-se
a história dominante no seu
trabalho final sobre a Terra
Média. Mas o meu pai não
conseguiu levá-la a uma
forma final e acabada.
Neste livro, tentei construir,
após um longo estudo dos
manuscritos, uma narrativa
coerente, sem qualquer
intervenção editorial.» C.T.
MAYFLOWER
Nathaniel Philbrick
424 pg. | 24,90 (PVP)
Uma fascinante história
sobre as origens da
América lança o autor numa
extraordinária demanda
pela verdade por detrás do
mais sagrado dos mitos
americanos: a viagem do
Mayflower e do
estabelecimento da colónia
de Plymouth.
Uma obra que saúda a
coragem dos verdadeiros
puritanos dispostos a
sacrificar tudo pelas
convicções religiosas e pela
generosidade e sofisticação
dos nativos americanos.
DESCARTES
A. C. Grayling
328 pg. | 29,90 (PVP)
Esta é a mais completa
biografia do filósofo, escrita
com base em novas
descobertas, que
estabelece um retrato
espantosamente acessível e
fascinante do homem e da
notável era que viveu 1596/1650.René Descartes
nasceu num período ainda
dominado de crenças
medievais, mas repleto de
génios das artes e das
ciências. Foi um dos
fundadores do mundo
moderno e o seu «Cogito,
ergo sum» tornou-se numa
das mais famosas máximas
filosóficas.
GRADIVA
O SONHADOR
Ian McEwan
116 pg. |11,50 (PVP)
Este livro conta a história
de Peter Fortune, um
invulgar rapazinho de dez
anos que vive entre a
fantasia e a realidade e
cujos sonhos só lhe trazem
problemas.
Um irrecusável convite à
entrada no mundo de Peter
através da escrita de um
dos mais brilhantes
mestres da ficção
moderna. Um livro para
crianças que os pais vão
gostar de ler.
FIM DO MUNDO ESTÁ
PRÓXIMO?
Jorge Buescu
220 pg. | 13 (PVP)
O que é que pode estar por
detrás do funcionamento
de um chuveiro, de uma
vitória no euromilhões, do
sexo ou do fim do mundo?
Neste brilhante livro o
autor, um dos mais
interessantes divulgadores
de ciência, leva o leitor a
descobrir que afinal coisas
que pareciam distintas
partilham relações
profundas e que o
conhecimento humano
não está dividido em
compartimentos
estanques. A matemática
tem afinal inúmeros
segredos para revelar e é
isso que a transforma
numa ciência tão
fascinante.
ULISSEIA
NADA MAIS FEMININO
Louise Bagshwe
312 pg. |19,95 (PVP)
Lucy Evans vive num
apartamento com o seu
velho amigo Ollie. Mas
enquanto Ollie se torna
adulto e arranja um emprego
a sério como advogado, Lucy
agarra-se desesperadamente
à sua adolescência: jogos de
computador, comida de
plástico, bandas rock... Lucy
não tem nenhuma pressa de
que isso acabe…Só que um
dia esse mundo maravilhoso
vem abaixo.
CAMPANHA AFEGÃ
Steven Pressfield
312 pg. | 17,45 (PVP)
O grande romancista das
guerras clássicas recria a
invasão dos reinos afegãos há
mais de 2200 anos pelos
exércitos de Alexandre, o
Grande, cujas campanhas
surpreendem pelo
extraordinário paralelismo
com os conflitos
contemporâneos no Iraque e
no Afeganistão. O autor
descreve com mestria os
desafios militares e morais,
que essas forças têm de
enfrentar face aos adversários
impiedosos que não hesitam
em usar as mulheres e
crianças como combatentes.
CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO
Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas
BRAGA
Cultura
FOLCLORE : dia 7 às 15h30
- Festival do Gr. Etnog.
de Lordelo; dia 10 às
21h30 – Gr. Folcl. de S.
Martinho de Tibães na
S.Victor; dia 16 às 20h30 o Gr. Musical
“Cabeçudos” na
Delegação; dia 16 às 21h Festival do Gr. Recr. de
Tabuadelo; dia 16 às
21h30 - Gr. “Água Viva”
em Tenões; dia 17 às 15h Festival das Gamelinhas
de Palme; dia 17 às 15h30
- Gr. de Rusga “Caminhos
da Romaria” em Apúlia;
dia 18 às 21h30 – Gr.
“Cabeçudos” em Braga;
dia 20 às 21h30 – Gr. de
Rusga “Caminho da
Romaria” em Braga; dia
23 às 21h – Gr. Tocadores
e Cantadores de Delães
em Lousado; dia 23 às 22h
- “Estelas de S. Vicente”
em Ardegão; dia 24 às 15h
- Festival das Tecedeiras
da Vila de Lordelo; dia 30
às 21h – Gr. Tocadores e
Cantadores de Delães em
Tabuadelo e Tocadores de
Concertina em Milhazes.
TEATRO: dia 30 às 16h Teatro infantil em Lomar;
ANIMAÇÃO: dia 10 às 9h30 Animação de rua na Qta da
Capela em Braga.
Desporto
JUDO: dia 9 – Torneio em
Braga
VOLEIBOL DE PRAIA: dia 9 –
Torneio em Braga
TÉNIS DE MESA: dia 23 às
14h - G.P. Santos Populares
em Guimarães
BEJA
Cultura
TEATRO: dia 8 – Macbeth no
Teatro Pax Júlia em Beja
76 TempoLivre
Junho 2007
COIMBRA
Cultura
TEATRO: dia 5 - Macbeth
no Teatro Acad. de Gil
Vicente em Coimbra
FEIRA: dia 9 às 9h - Feira
Medieval de Coimbra no
Largo da Sé Velha em
Coimbra
MÚSICA: dia 10 às 15h –
10º Enc. de Bandas da
Assoc. Recr. Musical de
Ceira
MAGIA: dia 26 às 15h –
Espectáculo na Assoc.
Desenv. e Formação Prof.
de Miranda do Corvo
CONCERTO: dia 20 às 21h30
- Tuna Souselense na Casa
M. da Cult. de Coimbra.
EXPOSIÇÃO: dia 1 às 18h fotografia “Monsenhor
Nunes Pereira – Percursos
de uma vida” na Casa do
Artista em Góis; dia 20 às
21h30 - exposição de Artes
Plásticas no Seminário
Maior de Coimbra.
FOLCLORE: dia 17 às 15h Festival do R. Folcl.
Malmequeres do Zambujal;
dia 23 às 21h30 – Festival
em Regalheiras de Lavos;
dia 30 às 17h - 20º Festival
em Figueira da Foz e às
21h30 - Gr. de Danças e
Cantares N. Srª dos
Remédios no Festival em
Fala.
SANTOS POPULARES: dias
12 e 23 - Fogueiras de Sto
António e de S. João no
Lgo do Romal em Coimbra;
dia 29 às 21h30 horas –
Fogueiras e Marchas de S.
Pedro em Vila de Pereira.
VISITA: dia 30 às 15h30 h –
Oficina Museu de M.
Nunes Pereira no
Seminário Maior de
Coimbra
LIVRO: dia 10 às 17h Lançamento “Dia de festa
dos Anjos” no Convento de
N.Sra dos Anjos
Desporto
DAMAS: dia 10 às 14h
ATLETISMO: dia 7 – “5
- Torneio de Paranhos da
Beira
TÉNIS DE MESA: dia 9 às 14h
- Torneio da Escola B 2,3 de
Arrifana em Seia; dia 16 às
14h - Torneio de Loriga.
TIRO: dia 9 às15h - Torneio
em Paranhos da Beira; dia
30 às 15h - Torneio na
Guarda.
Voltas a Ceira” pelo CCD de
S. Frutuoso.
CICLOTURISMO: dia 26 –
Convívio em Cadima
Pesca Rio: dia 10 - prova no
Rio Mondego.
TÉNIS DE MESA: dia 10 Torneio Rainha Santa
CURSOS: dia 7 – II Descida
do Rio Mondego; dia 16 a
21 – Canyoning (aperf. I) na
Serra da Freita); dia 23 a 30
– Iniciação Canyoning na
Serra da Freita;
Aperfeiçoamento de
Técnicas de Nado e iniciação à Escalada nas piscinas de Coimbra e no Pav. III
do Estádio Univ. de
Coimbra.
GUARDA
Cultura
TEATRO: dia 16 - Macbeth
no Teatro Municipal da
Guarda
CONCERTINAS: dia 10 às
16h - Encontros “Ao Toque
da Concertina” no Lgo da
Igreja de Souro.
VISITAS: dia 16 às 7h30 –
Passeio ao Porto; dia 30 às
7h30 - Visita a Salamanca.
LEIRIA
Cultura
TEATRO: dia 22 e 23 –
Macbeth no Teatro José
Lúcio da Silva em Leiria
Desporto
ATLETISMO: dia 10 às 9h –
GP do Bairro Social em
Caldas da Rainha.
BTT: dia 7 às 9h – Rota dos
Carreiro em Louções; dia 9
às 20h – Rota dos
Monumentos em Gândara;
dia 17 às 9h – Passeio
“Encerramento” em Amor.
Pedestrianismo: dia 3 às 9h
– Passeio em Pousaflores.
ORIENTAÇÃO: dia 14 e 15 às
20h – Prova em Leiria.
PESCA:
dia 7 às 9h30 –
Prova no Rio Lis em Monte
Real; dia 24 às 9h –
Concurso na Foz do Alge.
Desporto
ATLETISMO: dia 7 às 10h30 -
Estafeta em Vilar Formoso;
dia 10 às 10h30 – prova em
Bairro do Pinheiro.
BTT: dia 9 - prova do
Alpide; dia 10 – passeio das
Lameirinhas na Guarda; dia
24 - passeio Cicloturistico
de S. Paio.
PEDESTRIANISMO: dia 4 às
8h - Marcha em Gouveia.
PESCA: dia 10 às 7h - Prova
na Barragem de Vascoveiro;
dia 17 às 7h - Concurso na
Barragem de Ranhados; dia
24 às 7h - Concurso no Rio
Mondego em Ratoeira.
LISBOA
Cultura
ENCONTRÃO: dias 16 e 17 –
Finais do Concurso de
Etnografia, Música e Teatro
na Aula Magna da Univ. de
Lisboa
T E AT R O
DA
TRINDADE
Artes do Espectáculo de
Portalegre.
Desporto
Sala Principal:
CINEMA: Oficina de Bertolt
Brecht - Entrada livre
dia 12 às 17h - A Vida de
Galileu e Syberberg Filma
Brecht (mudo); dia 13 às
17h - Os Mistérios de um
Salão de Cabeleireiro, Um
Homem é Um Homem e A
Quem Pertence o Mundo?
(mudo); dia 19 às 17h Filmes Particulares de B.
Brecht (mudo) e A Ópera
dos Três Vinténs; dia 20 às
17h - Mãe Coragem e Seus
Filhos.
Sala Estúdio
A partir do dia 20 às 22h e
dom. às 17h - Queres fazer
amor comigo?
Fimfa Lx7: [Festival Inter.
de marionetas e Formas
Animadas] dias 6 e 7 às
21h, 22h e 23h - Ça vous
regarde; dias 8 e 9 às 22h A dos manos.
Teatro-Bar
Dias 8 e 9 às 23h - Pura
mistura [música]; a partir
do dia 14 às 23h Perversões lusas.
PORTALEGRE
Cultura
POETAS: dia 9 – Encontro de
Poetas Populares na Feira
do Livro em Campo Maior.
Folclore: dia 9 – Espectáculo
em Casa Branca.
CONCERTO: dia 16 – Metais
Skylark de Évora e Smira de
Aljustrel em Campo Maior;
dia 30 - Filarmonisa em
Montargil.
TEATRO: dia 29 e 30 –
Macbeth no Centro de
ATLETISMO: dia 23 – XXV
Circuito de Castelo de Vide.
TÉNIS DE MESA: dia 16 –
torneio em Sto António das
Areias.
TIRO: dia 9 - torneio CCD S
Vicente.
MALHA: dia 9 – Torneio do
CCD Gr. Desp. Bairrense;
dia 16 – Torneio em Elvas.
PORTO
Cultura
CONFERÊNCIA: dia 24 às
21h30 - Conferência “A
Identidade Cristã da
Europa” no
Aud. da Univ. Católica
Portuguesa - Centro Reg. do
Porto
DESFILE: dia 30 às 21h –
Desfile do Traje Entre Douro
e Minho na Av. dos Aliados
no Porto
SANTARÉM
Cultura
MÚSICA: dia 10 às 18h –
Soc. Recr. Musical
Azinhaguense na festa do
Tramagal; dia 15 às 20h30 Duo Prata da Casa na Sta
Casa da Miser. de Santarém;
dia 16 às 16h – Soc. Musical
e Recr. do Xartinho na
Associação do Xartinho; dia
23 às 16h – Soc. Musical e
Recr. do Xartinho na festa
da Matado Rei; dia 24 às
17h – Soc. Filarm. Inst. Rec.
de São Sebastião na festa de
São João da Ribeira; dia 29
às 15h – Gr. de Cantares Sta
Maria dos Olivais no Lar de
Idosos de São Domingos em
Santarém.
FOLCLORE: dia 10 às 17h – R.
Folcl. da Casa do Povo de
Almeirim na festa da Várzea;
dia 16 às 21h30 – R. Folcl. da
Casa do Povo de Fátima na
sede do R.Folcl. da Fajarda;
dia 23 às 21h – R.Folcl. do
Bairro de Santarém no
Centro Recr. e Cult. das
Fontainhas; dia 29 às 22h –R.
Folcl. de Alcanhões no
Centro Social da Moçarria;
dia 30 às 21h30 – R. Folcl.
“Os Camponeses” de São
Vicente do Paul na festa de
Tojosa; dia 30 às 21h – R.
Folcl. “Os Camponeses” de
Riachos na Sede do R. Folcl.
de Minjoelho.
SETÚBAL
Cultura
BAILE: dias 15 e 29 às 14h30
- Baile Sénior na Delegação.
Dança: dia 16 às 21h30 –
Espectáculo de Dança do
Ventre na Delegação.
“Cidade de Viana do
Castelo” e Mostra de
Artesanato no Jardim
Público.
TEATRO: dia 9 às 21h30 –“O
Vizinho de Cima” pelo Gr.
C. P. de Freixo em Chafé; dia
16 às 21h30 – “Em Casa de
Mestre Patelin” pelo Gr. de
Chafé em Freixo.
Desporto
PEDESTRIANISMO: dia 23 às
9h - Percurso Pedestre
“Caminhos da Serra” na
Terras de Bouro
TIRO: dia 9 às 14h30 –
Torneio 10m no Clube de
Tiro de Carreço
BTT: dia 17 às 9h30 –
“Passeio Cicloturístico”
pela Casa do Povo de
Fontão
Desporto
ATLETISMO: dia 9 – Milha
Urbana em Setúbal; dia 30 –
prova de Pista, informações
na Delegação.
VIANA DO CASTELO
Cultura
MÚSICA: dia 9 às 21h30 –
Cavaquinhos na Festa do
Cavaquinho na Pça da
República, em Viana do
Castelo; dia 16 – Marchas
Populares em Portela Susã;
dias 22 a 24 – Marchas de
S. João no Centro de Cult.
de Campos; dia 23 –
Marchas Populares em
Neiva.
CINEMA: dias 8, 9 e 10 –
“Biodoc” - Documentário
sobre ecologia e preservação do meio ambiente na
Assoc. Desp. Cult. do Soajo.
FOLCLORE: dias 15, 16 às
21h30 e 17 às 16h – Festival
VISEU
Cultura
DESFILE: dia 24 às 9h Cavalhadas Vildemoinhos
em Viseu
FOLCLORE: dia 30 às 21h30
– Festival em Caçador
Desporto
TIRO: dia 23 às 15h -
Torneio no Clube C. Pesca
Vila Nova de Paiva; dia 30
às 15h – Torneio em Viseu.
MALHA: dia 10 às 15h30 Torneio em Bodiosa; dia 24 às
15h30 - Torneio em Lamego.
DAMAS: dia 9 às 15h –
Torneio no B.V. de Lamego.
TENIS DE MESA: dia 23 às
14h - Torneio em Vila Nova
de Paiva; dia 30 às 14h –
Torneio em Mangualde.
Junho 2007
TempoLivre 77
A CHEFE SUGERE
CELESTE GÓIS| INATEL UM LUGAR AO SOL
Massada de cherne
O cherne é um peixe de água salgada que se
alimenta de crustáceos. Habitualmente, encontra-se
no Mediterrâneo e Atlântico Norte. Enquanto jovem
habita em águas pouco profundas, geralmente perto
de objectos flutuantes, migrando para águas
profundas (100 – 500 m) quando adulto. O cherne
possui um corpo robusto, barbatanas com espinhos e
boca grande, sendo a maxila inferior maior que a
superior. O cherne adulto pode atingir os 2 m de
comprimento, chegando mesmo a pesar cerca de
100kg.
Os peixes da família do cherne são muito apreciados
na culinária por possuírem uma “carne” firme e
branca, pela facilidade com que se retiram as
espinhas e por serem muito saborosos. Quando
inserido em diferentes pratos culinários, desde o
arroz, às sopas e massas de peixe, o cherne constitui
uma verdadeira iguaria da gastronomia das zonas
costeiras de Portugal.
INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 400 g de cherne,
400g de massa (“macarronete”), 1 cebola média, 50 g
de tomate pelado, 1 colher de sopa de massa de
pimentão, 5g de alho, 0,5 dl de azeite, sal q.b., piripiri q.b., coentros q.b., 1 raminho de hortelã.
PREPARA-SE ASSIM: Juntam-se a cebola, o tomate, o
alho, o azeite e a massa de pimentão, fazendo-se um
refogado. Depois deste estar pronto, tritura-se tudo
com a varinha mágica e acrescenta-se água o quanto
baste. Ao levantar fervura, junta-se o cherne cortado
aos cubos. Passados alguns minutos, adiciona-se a
massa e deixa-se cozinhar em lume brando.
Tempera-se com sal, piri-piri, coentros e um raminho
de hortelã.
COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL POR PESSOA:
• 29,3 g de proteínas; • 14,8 g de gordura; • 75,3 g
de hidratos de carbono; • 5,9 g de fibra; • 533 kcal
INFORMAÇÕES E RESERVAS:
INATEL UM LUGAR AO SOL
Av. Afonso de Albuquerque, S. João de Caparica,
2825-450 Costa da Caparica
Tel: 21 2918420/30 - Fax: 21 2900051
Email: [email protected]
Junho 2007
TempoLivre 79
O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO
As ondas passam, mas é o vento
No círculo das imagens / o deserto ondula: / as ondas passam, mas é o vento / a maré sobe, mas é o vento /o seu perfume embriagame, mas é o vento. / Caminho no verso / e dessangro-me. / Só /Só / lança dentro de ti vozes ou!... gritos
Paolo de Lima,* Solo /Sólo, in: Mundo Arcano, Lima, 2002
Trad. MAVF
ão quero escrever, mas escrevo” – disse
um dia. E nesse dia, escrevi, sobre o que
não queria escrever. “Calasse eu, seria
criminoso o apetecido silêncio?” – perguntava eu num outro dia, em que o silêncio me parecia
o último refúgio do indizível. E também nesse dia falei
sobre o que, a todo o custo, queria silenciar.
Asno giratório, há quinze dias que, no seu chouto
mecânico, o pensamento descreve às cegas círculo após
círculo, em torno de um eixo fixo de violência emocional
ou se contorce como serpe ferida, numa tentativa de
fuga de um cenário surrealista.
Um soluço colectivo percorre o país, atravessa
fronteiras que já não são fronteiras, transforma-se em
pranto, em cruzada, em mercado de interesses –
mercado livre, evidentemente! –, em circo mediático –
como, em circunstâncias semelhantes, em tempos, lhe
chamou uma locutora, como ontem lhe chamou outra
locutora –, um circo mediático onde brilham os
malabaristas da palavra e os equilibristas da oscilante
corda bamba da verdade.
Inútil isolar as janelas, como quem põe adesivos nas
feridas abertas pelo horror do acontecimento. Inútil.
Não há isolamento que nos defenda de nós próprios. Só
a insensibilidade, a apatia – a apátheia, “ausência de
pathes”, dos Gregos – poderia proteger-nos desta onda
do excesso.
O filósofo grego Zenão de Cítio (333 aC.- 264 aC),
fundador do estoicismo, definia pathes como “impulsos
excessivos”. Como principais pathes considerava ele a
dor, o medo, o desejo e o prazer, cuja extirpação total
constituiria a mais alta sabedoria.
Ainda que “povo de brandos costumes”, não se pode
dizer que sejamos realmente um povo de estóicos. Na
verdade, quando se trata de todas as manifestações de
sensibilidade, dos quatro pathes de Zenão – ainda que no
caso do medo, seja pelo seu contrário, a coragem –, não
há dúvida de que somos um povo paroxisticamente
excessivo, um povo ciclotímico, com tendência para
mudanças fáceis de humor e de sentimentos, com
espírito aberto, expansivo e sociável: expansivo e
sociável nas lágrimas, expansivo e sociável no riso.
«
N
É em horas de crise que esta tendência para o excesso
se manifesta mais intensamente: somos excessivos na
ajuda, excessivos no ataque, excessivos na imaginação,
excessivos no entusiasmo; excessivos na esperança e
excessivos na desesperança, na alegria e na tristeza.
Como pele demasiado apertada, vestimos o sofrimento alheio, como se o nosso próprio fora. Empatia, é a
palavra de ordem.
Multiplicam-se os gestos, inclusive no sentido literal,
que somos um povo gesticulante (o que talvez se
explique pelo hábito dos longos silêncios impostos ao
longo de séculos), mas, sobretudo, multiplicam-se as
palavras, que chegam como as vagas e o vento, e como
eles se vão.
Cada crise, ou cada situação, tem o seu léxico próprio,
constituído por palavras insistentes repetidas à saciedade,
como lenga-lenga sagrada destinada a impor ou a
combater juízos ou opiniões específicas dessa situação.
A fazer um levantamento dos termos mais repetidos
nestes últimos dias no Algarve e na Inglaterra de Maddy,
preferia utilizar os caracteres de que ainda disponho
para recordar, a par dos pais da pequenina Maddy, a
quem o apoio dado, se não minorou o desespero, pelo
menos deve ter ajudado a alimentar a esperança de um
desfecho feliz para tão terrível experiência, aqueloutra
mãe, e aqueles outros pais, a quem, por serem
portugueses, não faltou o desespero nem faltou a
coragem, mas faltaram os apoios para ainda poderem ter
esperança.
Sei que estou a repetir o que já são lugares comuns. Do
que peço desculpa. Sei que também não consegui evitar
que nesta crónica se reflectisse o meu desejo de silenciar
sobre assunto tão terrível. Do que peço desculpa.
Não queria escrever, mas escrevi. Porque também sei
que comparável ao excesso de agitação em torno do
desaparecimento da menininha inglesa só a indiferença
e o silêncio que parece ter caído sobre os meninos da
Casa Pia.
As ondas passam, mas é o vento… I
* Poeta peruano (1971), residente em Otava. Poesia Latinoamericana.
Junho 2007
TempoLivre 81
CRÓNICA |ÁLVARO BELO MARQUES
O soutiã cor-de-rosa
Estávamos os dois sentados na praia fazendo passar a areia e o tempo por entre os
dedos. O Miguel nascido em Burgos e ex-padre, fala agora com Deus – presumo –,
sem uma hierarquia a quem dar contas e de quem receber recados.
oi um padre humilde, fiel seguidor das orientações de Cristo, sem casas para alugar nem
carros de qualquer espécie.
Na Ilha de Moçambique o tempo estava, como
quase sempre, radioso e honestamente tropical. A
Fortaleza de São Sebastião olhava-nos de viés, estafada
e alquebrada ao peso dos anos, que quatrocentos e tal
custam a passar.
“Eu abastecia-me na Vila de Sena. Também havia
no Lundo uma pequena cantina de um mulato – o
único moçambicano que nesse tempo tinha loja por
aquelas bandas. Os cantineiros, por norma, eram
portugueses ou indianos, isto nos começos da década
de 70. O nome dele era Perdigão, nome pouco
usual… talvez influência do Camões dado nas escolas… Lá podia comprar quase tudo, até cerveja bem
gelada.
O Miguel deixou de brincar com a areia para garimpar as unhas e os dedos dos pés, ritual diário antes de
se meter na água.
Um rapaz chamado João, com o tronco fora de água,
perguntou gestualmente, quantas lagostas queríamos.
Eu e o Miguel trocámos olhares e ficou feita a soma,
logo transmitida ao pescador submarino.
“Eu residia em Murraça, Sabes onde é?
Perante a minha firme negativa, continuou.
“Murraça dista do Lundo uns 200 quilómetros, por
estradas de terra e, em muitos troços, no tempo das
chuvas, por mares de lama. Só para teres uma ideia,
para fazer 16 quilómetros, demorava, por vezes, hora
e meia. Por lá deixei muitos quilos do meu peso normal.
Mirava atentamente uma unha que dizia encravada.
- Que carro é que vocês tinham?
“Não era meu. Da Missão. Um Land Rover de caixa
aberta, com tracção às quatro rodas e tudo mas, mesmo
assim, era um tormento. Muitas vezes saía do carro e
ia, com uma cana ou um pau, “ver” o terreno por onde
o Land Rover poderia ou deveria passar. Género Mark
Twain a medir as braças de profundidade do rio
F
82 TempoLivre
Junho 2007
Missouri. “Mas os grandes abastecimentos vinham da
Beira. O camião da cerveja 2M e dos cigarros LM iam à
missão abastecer-nos.
Só falaste no vício… cerveja e tabaco…
“Claro que com comida… também…
E riu-se. Com aquele riso alegre e cristalino das
almas simples e boas.
O capitão-mergulhador João Nemo fez-nos sinal lá
de longe que já tinha quatro lagostas. Miguel gesticulou dizendo que já chegavam, que estava bem, olhando para mim, buscando concordância.
- Fala-me lá do soutiã cor-de-rosa.
Miguel voltou a rir.
“- Nunca mais esqueceste essa história…
uitos artigos de que precisávamos tínhamos nós de os trazer quando íamos
ao Lundo. Claro que não íamos lá todas
as semanas. Quando o fazíamos, toda a
população de Murraça sabia, não só porque a informávamos, como também pelos preparativos. Mas
sempre tínhamos de partir mais tarde do que o previsto por cauda dos pedidos de última hora. Então
uma vez, uma paroquiana muito gorda, uma mamana
de cerca de cem quilos, pede-me um soutiã cor-derosa, pois a medida dela não se encontra em parte
alguma. Passei uma vergonha… na loja a comprar o
soutiã, eu, um padre, como se fosse um regalo para
uma amiga minha!!! E a cena repetiu-se, pois só na
terceira loja encontrei o número pedido. Bem, lá levei
o dito e o entreguei à mamana. E o que aconteceu?
Pois na missa de domingo lá estava ela, vaidosa, com
o soutiã por cima da blusa! Depois da missa, no largo,
fui ter com ela e disse-lhe que era feio usar aquilo por
cima da roupa. E ela respondeu-me com uma lógica
inquestionável: “Se eu o usar por baixo da roupa
como é que as pessoas vão saber que eu tenho um
soutiã novo?”
O Índico então fez-nos sinal e, a rir, fomos tomar
banho. I
M
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N.º 183 - Junho 2007 - 2,00 euros