Sô
Como é bom voltar à infância. Em ‘Nu, de botas’, Antonio Prata revisita passagens marcantes de sua infância. As
memórias são iluminações sobre os primeiros anos de vida do autor. As primeiras lembranças no quintal de casa, os
amigos da vila, as férias na praia, o divórcio dos pais, o cometa Halley, Bozo e os desenhos animados da televisão,
a primeira paixão, o sexo descoberto nas revistas pornográficas - toda a educação sentimental de um paulistano de
classe média nascido nos anos 1970 aparece em ‘Nu, de botas’. Ao ler as crônicas, eu, com meus 34 anos de idade,
relembrei vários momentos da minha infância e adolescência. Um gostoso livro de crônicas que merece estar na
cabeceira da sua cama.
NU, DE BOTAS
O
s olhos vidrados no programa do Bozo, onde três cavalinhos mecânicos disputavam um páreo numa pista
em miniatura. Pelo telefone, crianças faziam apostas
e o vencedor levaria uma bicicleta BMX, da Monark.
O Henrique me perguntou quem iria ganhar: o preto, o branco ou o malhado? Ele não queria saber quem eu achava que
iria ganhar, mas qual dos três, de fato, chegaria em primeiro,
como se, por ser um ano mais velho do que ele, eu tivesse a
chave para todos os mistérios deste mundo. Não me sentindo
exatamente incomodado com aquela reverência, respondi,
resoluto e blasé:
– O malhado, óbvio.
Para minha sorte – e maior sorte ainda
de um tal Arthur, do Jardim Bonfiglioli,
São Paulo, que apostara pelo telefone
–, o malhado chegou em primeiro. Impressionado com minha habilidade divinatória, Henrique decidiu tentarmos a
sorte na próxima rodada:
– Liga! Liga! Liga pro Bozo! Liga! – ele
repetia, apontando o telefone cinza, na
mesa de cabeceira.
Hesitei. Não se tratava de um procedimento simples, uma ligação. Era preciso
decorar o número, girar muitas e muitas
vezes aquele pesado disco de plástico,
com cuidado para não escapar do dedo
bem no final, mandando para a cucuia
todo o esforço anterior; depois, ainda
tinha que falar com adultos mal-humorados, nem sempre
pacientes e dispostos a compreender as solicitações balbuciantes de uma criança. Se eu já pensava duas vezes antes
de ligar para o trabalho da minha mãe e pedir para que passasse no McDonald’s na volta para casa, imagina só para o
Bozo, o maior palhaço da Terra?
Na primeira vez, deu ocupado. Na segunda, na terceira e na
quarta, idem. Na quinta, contudo, chamou.
– Eu queria falar com o Bozo, por favor.
A mulher “da produção” disse que o Bozo não podia falar.
6
Por Lucimar L. Pacheco
*Resumo da crônica “Alô, Bozo!
Claro, eu sabia. O programa havia acabado, ele já estava
no “camarim”. Houve, porém, um murmúrio, ela pediu
“um instantinho” e nos abandonou ali. Até que a voz inconfundível surgiu do outro lado da linha, dando fim à
nossa agonia:
– Alô, amiguinho! Aqui é o Bozo! Então, amiguinho, o que
você quer?
– Bozo, eu quero uma bicicleta.
Explicou – sempre me chamando de “amiguinho” – que
não era assim que funcionava o show
business, você tinha que participar
de alguma brincadeira e vencê-la
para ganhar os prêmios. Então fez
uma pausa, cochichou com alguém,
pediu um instante e sumiu. Quando
voltou, Bozo soltou, exultante:
– Você está no seu dia de sorte,
amiguinho! Temos uma bicicleta sobrando! Amiguinho, qual é o seu
endereço?
Não é que não soubéssemos nosso
endereço: é que nem sequer tínhamos uma ideia precisa do que fosse um
endereço. Margarida falou que estávamos “no Itaim, a gente mora no
Itaim!”, e como eu também já tinha
ouvido essa palavra lá em casa, várias
vezes, disse ao Bozo, cheio de esperança, que a gente morava no Itaim.
Jornal
DICAS CULTURAIS
Jornal da ASCOFALO
Associação de Confraternização da Família
Lourenço e Lima
Rua Adalberto Freire Filho, 64 - Cristina - Santa Luzia/MG - CEP: 33.110-430
Edição X - Ano IX - Dezembro/2013
ADVENTO DE NATAL
EDITORIAL Lucimar L. Pacheco
E lá se vai mais um ano!
C
hegamos na última edição do jornal Sô de 2013.
Foram 10 edições recheadas de histórias, lembranças,
depoimentos, arte, cultura e, especialmente, carinho.
Podemos dizer que foi um ano vitorioso, por conseguirmos
reerguer esse importante meio de comunicação e de preservação da história da Associação e, principalmente, da história
da família Lourenço e Lima. Obrigado a todos que, de alguma forma, contribuíram para as edições de 2013.
Nesta última edição de 2013, o jornal traz muitas informações da festa de 2013, realizada em Belo Horizonte, no mês
passado. Foi uma festa que emocionou quem nela esteve presente, a exemplo do Sérgio (cozinheiro), da Lorena, namorado do César (que traz seu depoimento sobre a festa na página
3) e do Lucas Reis (agregado de Floripa).
A secretária, Sarah Isabelle, resumiu a ata da assembléia que
se realizou no dia 17/11, último dia da festa.
Na sessão “Dicas Culturais” segue a indicação de um livro
de Antônio Prata, Nu, de botas, lançado recentemente pela
Companhia das Letras. São crônicas do autor, revivendo a
sua infância. Qualquer um que passear pelas páginas deste
livro, se identificará com as histórias.
E dezembro é mês de natal, tempo de reflexões e de (re)avaliações da vida. Procure ser uma pessoa melhor a cada dia,
respeitando o outro e o meio ambiente.
Feliz Natal e um ótimo 2014!
Hilda M. L. Pacheco
A palavra “advento”
quer dizer espera.
O advento corresponde ao período
das quatro semanas
de preparação para a
chegada do Salvador.
Vamos imaginar Maria, a mãe do Senhor,
grávida do Espírito
Santo, à espera do
Menino Jesus.
A peculiar situação de uma mulher grávida nos
ajuda a compreender a salvação que a Igreja nos
propõe reviver nesse tempo de preparação. Toda
gravidez cria muitas expectativas. Ali, a vida é
tecida no silêncio e no mistério de um segredo divino e grandioso demais para entendê-lo somente
como resultado de um ato humano. O tempo do
advento se compara ao da gestação de Jesus, para
que a comunidade cristã forme um Cristo dentro
de si.
Acolher o menino Deus implica receber a salvação
de que ele é portador. Ele traz a novidade de uma
vida plena, um jeito novo de se viver e de se relacionar. A liturgia do advento é um cântico contínuo de esperança.
Feliz e santo Natal
para todos!
– Bibi ou Paulista, amiguinho?
Eu não sabia o endereço.
Aniversariantes de dezembro:
Bozo disse que nesse caso, infelizmente, não teria como
mandar a bicicleta, mas sugeriu que continuássemos as- 07 - Geraldinho
sistindo ao seu programa e tentássemos ligar novamente,
no dia seguinte: quem sabe não participássemos da cor- 10 - Ismael
rida de cavalos ou da batalha naval e ganhássemos algum 14 - Luis Carlos
prêmio?
– Até mais, amiguinho.*
21 - Isabel Cecília
23 - Nataniel
27 - Sarah
30 - Pedro Augusto
Balanço da festa, feito pelos organizadores de BH.
Saudades... Saudades... Saudades... Palavras que ficam
após o grande encontro.
Cada ano que passa, me sinto mais à vontade e mais
próxima dos meus familiares. Até aqueles que moram na
mesma cidade e que, devido à correria do dia a dia, não
nos encontramos com tanta frequência. A Ascofalo proporciona esse reencontro, veio para nos unirmos cada vez
mais.
Esse ano tivemos número menor
de participantes da festa, foram
45 presentes. No entanto, a festa
foi intensa, cada momento foi
aproveitado ao máximo. Nesta
festa, percebi que as pessoas ficaram mais próximas e a alegria
e o entusiasmo foi contagiante.
A festa foi ótima, não tivemos problemas de infraestrutura nem de relacionamento. Alguns
momentos foram marcantes, como no primeiro dia, no qual “vestimos” as roupas de nossos
pais (avós para alguns, bisavós para outros...) e lembramos de momentos maravilhosos ao lado
deles e expressamos o legado que eles deixaram para nós.
Foi lindo o momento ecumênico realizado pelos “floripanos”. Momento muito lindo, emocionante e também gostoso, nada cansativo. Foi lindo ver todo o núcleo de Floripa vestidos de
branco, expressando uma pureza que é característico desta linda família. As crianças na coroação foi um show à parte.
As festas temáticas também foram boas. No
sábado, o “Pagode do Vai e Vem” foi muito interessante. A Maria Gasparina contou como era
o Vai e Vem. Foi um enriquecimento e uma recordação muito boa de tempos passados em Patos de Minas. A festa do “Pijama” foi muito engraçada
e divertida. Ver aquele tanto de gente de pijama foi o máximo. O Vinícius,
então, nem se fala.
Figura!
Enfim, foi uma
festa que estreitou os laços de
família. Que os
tempos venham e
vão e que a cada
ano os nossos
laços estejam mais
ajustados. Que
venha a 10ª festa
da Ascofalo!
2
#ascofalo2014
L
HORIZONTAIS
1. - LOCAL DA PRÓXIMA FESTA DA
ASCOFALO.
3. - PAÍS QUE SEDIARÁ O MUNDIAL DE
CLUBES DE 2013.
6. - QUANTIDADE DE EDIÇÕES DO JORNAL SÔ EM 2013.
9. - LIVRO INDICADO NESTA EDIÇÃO
DO JORNAL.
10. - LOCAL ONDE OS ANIMAIS VIVEM.
VERTICAIS
2. - O CAMELO, O MORCEGO E A ONÇA
SÃO.
4. - 100% DAS TERRAS BRASILEIRAS SE
LOCALIZAM NESTE HEMISFÉRIO.
5. - ENTIDADE QUE ORGANIZA A
COPA DO MUNDO DE FUTEBOL.
7. - ESTAÇÃO DO ANO QUE SE INICIA
EM DEZEMBRO.
8. - O GATO MIA, O PATO...
Respostas: Horizontais - 1-PATOS DE MINAS; 3-MARROCOS; 6-DEZ; 9-NU, DE BOTAS; 10-HABITAT- Verticais 2-MAMÍFEROS; 4-OCIDENTAL; 5-FIFA; 7-VERÃO; 8-GRASNA.
ASCOFA
cruzadinha
PENSAMENTO
“Sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos
para viverem como irmãos.”
Nelson Mandela
FRASES
SOBRE A FESTA DA ASCOFALO/2013
Belo Horizonte/MG
“Fiquei muito feliz em participar da ascofalo 2013. Fui muito bem recebido
por todos os familiares até por quem eu não conhecia. Achei muito interessante a parte da união da família e sua religiosidade. Os primos tem que
aprender a jogar melhor futebol. ahhahah... E o famoso pão
de queijo da tia Hilda? Sem palavras! Queria agradecer ao
Lucimar, João, Suelen, Tia Hilda, Vinicius, Lázaro, Júnior,
Dudu, Cesinha, Diego, Kerly, Nani, Sarah, Éder, Nataniel
e Mércia, por me proporcionarem esse momento familiar e
poder conhecer novas pessoas e Minas Gerais.”
Lucas Reis
amigo do núcleo Floripa
“Família, amigos,
diversão e Deus no
coração, foram os
ingredientes da Ascofalo 2013, simplesmente demais.”
Éderson Sholz
Florianópolis/SC
Isso não
tem preço.
Tem valor!
“A festa desse ano foi excelente! Apesar da falta que sentimos de muitos tios e primos que não foram,
mas que aguardo vê-los no próximo ano, que promete ser uma das melhores festas! Vários momentos
me marcaram na festa desse ano, mas o momento da missa, celebrada pelo pessoal de Floripa, e a homenagem aos nossos avós, onde tive a oportunidade de me “vestir” de vô Augusto foram, com certeza,
momentos que me emocionaram e que vou guardar por todo minha vida! Obrigado a todos por esses
momentos especiais e espero ansioso pela próxima festa! Abraços!”
Augusto Emanuel (Dudu)
BH/MG
5
LO 2013
A Ascofalo 2013 na visão de uma agregada
O
destino. É incrivelmente encantador como o Destino nos conduz por caminhos inesperados, curvilíneos e cheios de grandes emoções. Recebi o convite do César para participar
desse feriado em família. Uma festa que é digna de ser chamada de tradicional, única e
bastante simbólica, por ter como principal objetivo manter viva as heranças deixadas pelo ‘’vô’’
e pela ‘’vó’’. Uma reunião que envolve todo o simbolismo que uma família deve ter, ressaltando
a sua importância e o seu valor. A importância de tentar manter viva a tradição da família,
regada com festas, churrascos, brincadeiras e muitas risadas.
Apesar de não conhecer grande parte dos que estariam presentes, resolvi aceitar o convite para
passar o feriado com o César. Porém, descobri que Deus tinha um propósito maior para o meu
feriado e que o Destino mais uma vez me surpreenderia. A cada momento de reunião, de confraternização entre todos, eu percebia que tinha feito a escolha certa para o meu feriado e que eu
era uma pessoa de sorte por fazer parte daquele meio e poder vivenciar tantas experiências que
nos fazem crescer e refletir como seres humanos.
Talvez por fazer parte de uma família pequena, a iniciativa de vocês me pareceu tão encantadora. Foram momentos
em que me emocionei, me senti acolhida, me senti bem e que realmente mexeram comigo.
Nesse sentido, deixo aqui os meus sinceros parabéns pela organização da festa e principalmente pela fonte primordial
que os motiva a fazê-la todo ano, qual seja, manter a família unida. E é claro, os meus sinceros agradecimentos pela
acolhida e os momentos que passamos juntos.
Por ser a minha primeira ‘Ascofalo’ não sou capaz de fazer comparações, mas como uma ‘caloura’ nessa festa, posso
dizer que adorei o feriado e que muito das palavras que escutei, eu trouxe para dentro da minha casa, do meu núcleo
familiar.
Espero que essa tradição se perpetue , que a festa de 10 anos seja um enorme sucesso e que Deus continue iluminando
o caminho de cada um de vocês individualmente e de todos enquanto família.
Muito obrigada.
Lorena de Morais Faria
3
RESUMO DA ASSEMBLEIA DA
ASCOFALO 2013
REFLEXÃO
Como é o seu amigo
oculto?
Sarah Isabelle Por Lucimar L. Pacheco
secretária da Ascofalo
C
dadas as boas vindas.
omo de praxe, o presidente iniciou a
Assembleia com uma oração. Todos
cantaram o hino da Ascofalo e foram
O chefe de cozinha (Sérgio), deu seu testemunho de como
foi emocionante vivenciar todos os momentos que aconteceram durante o encontro da família. E se pré dispõe a
participar do próximo encontro.
Um dos assuntos em pauta foi o pagamento das mensalidades mensalmente. O presidente agradeceu aos que contribuíram todos os meses, e mostrou que o numero dessas
contribuições aumentaram no exercício de 2013 e o quanto
isso facilitou para a organização da festa. Reforçou que precisamos aumentar ainda mais essas contribuições mensais.
Outro assunto polêmico foi a data do próximo encontro.
Diante das dificuldades de calendário para o ano de 2014, e
depois de muito diálogo, ficou decidido que a festa de 2014
será na virada do ano novo para 2015. A principio a data oficial será dia 1º de Janeiro de 2015, mas a comissão de Patos
de Minas estará aberta para receber aqueles que quiserem
chegar para a virada do ano.
Tiveram também muitas sugestões para arrecadação de
fundos para a Associação:
- Fundo de reserva;
- Bingo;
- Bazar;
- Doações voluntárias;
- Doações de materiais para enxoval da Ascofalo.
Inicialmente foi aprovado o Fundo de Reserva, que será por
meio de contribuição voluntária (o valor depositado excedente a mensalidade irá para o fundo de reserva).
Para descobrir o que mais foi decidido e conversado na Assembleia, participe da próxima e saiba da ata na integra!
Dezembro... tempo de... amigo oculto. Mas que
amigo oculto é esse que temos nos dias atuais? Qual o
sentido de um amigo oculto hoje?
Todo mundo participa de confraternizações de amigo
oculto nos finais de ano. Por sorte, estou em só um
este ano: o da minha família.
O que me entristece é que a grande magia desta
brincadeira esteja se acabando. No amigo oculto dos
dias atuais, somente o amigo realmente é oculto. Há
uma infortuna lista de presente e um valor estipulado
que acabou com a graça do amigo oculto. Algumas
listas ao menos são divertidas e aparecem dizeres do
tipo: “novo DVD da Ivete (eu vou pagar a diferença)”,
“traga a nota fiscal, caso necessite trocar” ou “uma
camisa Nike azul que está na promoção na Centauro”.
Penso que seria mais fácil cada um comprar o seu
próprio presente.
Primeiro porque você já sabe o que vai ganhar, não
há surpresa mais. Segundo, porque se você der um
presente de 50 reais e ganhar um de 20, vai achar
ruim e pensará que a outra pessoa é pão-dura.
Quando o amigo oculto não tem lista nem valor é
quebrar a cabeça para comprar o presente. E é esse
o grande lance, descobrir. Além disso, o sentido, o
espírito de confraternização tem que ser esse: dar e
receber sem regras. É realmente compartilhar, trocar,
vivenciar.
Que voltemos a ter amigo ocultos sem valores
econômicos. Ou que tenhamos aqueles em que se tira
o amigo oculto na hora. Pode ser também aqueles em
que se pode trocar ou tomar os presentes, fazendo
um troca-troca (sem trocadilhos!) infinito.
Não sou saudosista, mas gosto de Cartola, Chico,
Vinícius, de camisas retrô, de decoração rústica e
de amigo oculto à moda antiga. Ah... arte contemporânea não me toca.
4
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