SOBREVIVÊNCIA DE MUDAS DE PUPUNHEIRA FORMADAS EM DIFERENTES NÍVEIS DE SOMBREAMENTO E TRANSPLANTADAS EM CAMPO Valéria Augusta Garcia1; Eduardo Jun Fuzitani2; Erval Rafael Damatto Junior2; Edson Shigueaki Nomura2; Domingos Sávio Rodrigues1; Ademir Oliveira de Souza3 1 Centro de Pesquisa Jardim Botânico e Reservas do Instituto de Botânica – SMA/SP, São Paulo/SP. [email protected], [email protected]; 2Pólo do Vale do Ribeira/APTA – SAA/SP, Pariquera-açu/SP. [email protected], [email protected], [email protected]; Engenheiro Agrônomo3. [email protected] INTRODUÇÃO O Brasil é considerado um dos maiores produtores e consumidores de palmito do mundo. Grande parte do palmito produzido no Brasil era oriunda de extrativismo de palmeiras nativas do gênero Euterpe. Contudo, comparando os dados do ano de 2005 com os de 1990, observa-se redução de 71% do palmito extraído de espécies de palmeiras nativas, acompanhada do crescimento de quase 90 vezes da área com palmeiras cultivadas (SILVA, 2009). Dentre elas, uma espécie é considerada como uma alternativa para produção de palmito, a pupunheira (Bactris gasipaes Kunth), palmeira nativa da Amazônia. Essa espécie pertence à família Arecaceae, é uma palmeira que pode ser encontrada desde a América Central até o norte da Bolívia e do Brasil (BOVI, 1998; SILVA, 2009). Ela é utilizada de diversas formas, sua madeira para a confecção de bengalas e utensílios domésticos, seus frutos são comestíveis quando cozidos, além de permitirem a fabricação de farinha ou de seu óleo, e ainda seu estipe para palmito. A pupunheira foi recentemente introduzida no Vale do Ribeira/SP e estima-se que haja mais de 450 produtores se dedicando à produção, com aproximadamente 11 milhões de plantas (LUPA, 2008), apresentando rentabilidade, mercado consumidor em alta e ainda uma vantagem adicional, colabora com a diminuição da pressão sobre as demais espécies de palmeiras nativas (SILVA et al., 2006). Comparado com outras culturas, poucos estudos foram realizados sobre a pupunheira, e menos ainda sobre as necessidades e problemas relacionados à produção de mudas. Na prática, tem se observado perdas de até 80% das mudas no viveiro por vários fatores, dentre eles: substrato, tamanho de recipiente, estrutura do viveiro e do nível de incidência de luz, sendo essa uma etapa crucial, visto que uma boa formação de plantas em viveiro se reflete no melhor desenvolvimento vegetativo, na precocidade e na sobrevivência em condições de campo. Assim, devido à necessidade de trabalhos científicos que possam subsidiar técnicas adequadas para a formação de muda que tenham efetivo desenvolvimento em campo, esse trabalho teve como objetivo avaliar o índice de sobrevivência de mudas de pupunheira produzidas sob o efeito de diferentes níveis de sombreamento transplantadas em campo no Vale do Ribeira/SP. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no Pólo Regional do Vale do Ribeira – APTA (SAA/SP), localizado no município de Pariquera-Açu (24º 36’ 31” S e 47º 53’ 48” O) a 25 metros sobre o nível do mar. O clima da região é mesotérmico, tropical, quente e úmido. Para o experimento foram utilizadas sementes de pupunha originárias de Yurimaguas, Peru, semeadas em germinadores contendo areia e serragem, na proporção 1:1, em ambiente protegido, usando-se 2,0 kg de sementes m-2. Após a germinação das sementes, cada plântula inerme foi repicada para um saco de polietileno preto de 8x20 cm, preenchido com substrato. O substrato utilizado foi formado por latossolo amarelo podzólico álico, esterco de búfalo curtido e areia lavada na proporção 3:1:1, e apresentou as seguintes características: pH = 5,7; C.E. = 1,5 dS.m-1; densidade úmida = 938,8 kg.m-3 e densidade seca = 701,7 kg.m-3, N (nitrato) = 81,0 mg.L-1; N (amônia) = 1,6 mg.L-1; fósforo = 2,3 mg.L-1; cloreto = 227,2 mg.L1 ; enxofre = 34,3 mg.L-1; potássio = 295,5 mg.L-1; sódio = 15,9 mg.L-1; cálcio = 42,5 mg.L-1; magnésio = 48,6 mg.L-1; boro = 0,2 mg.L-1; cobre = 0,01 mg.L-1; ferro = 0,1 mg.L-1; manganês = 0,3 mg.L-1 e zinco = 0,04 mg.L-1. O substrato recebeu adubação química antes de acondicionado nos sacos plásticos, sendo: 500 g de P2O5.m-3 e 100 g de K2O.m-³, proveniente de superfosfato simples e cloreto de potássio, respectivamente. A partir dos 60 dias após a repicagem realizou-se adubação foliar quinzenalmente (2 g.L-1 Peters® 20-20-20). As mudas foram mantidas em ambiente protegido, cobertas por diferentes malhas de sombreamento (35%, 50%, 65% e 80%) e a pleno sol pelo período de 180 dias, quando se mensurou as seguintes variáveis: altura da haste, do solo até o ponto entre a flecha e a folha +1 (folha mais nova expandida); diâmetro do coleto acima da superfície do solo; e massa seca radicular e aérea. A irrigação por aspersão foi realizada, normalmente duas vezes ao dia, sendo que a freqüência e o intervalo de molhamento variaram conforme as condições de temperatura e umidade do ambiente. Após esse período, as mudas foram aclimatadas por um período de 45 dias a pleno sol. Foi realizado o transplantio das mudas em campo utilizando-se o espaçamento 2 x 1m, a calagem e as adubações foram feitas de acordo com o indicado por Bovi & Cantarella (1996). O delineamento experimental empregado foi o esquema em blocos ao acaso, com cinco tratamentos, cinco repetições, contendo dez mudas por parcela. O parâmetro mensurado foi índice de sobrevivência das mudas, sendo determinado com base no número de mudas existentes na área aos 365 dias após o plantio em relação ao número de mudas plantadas. Os dados foram submetidos à análise de variância e diferenças entre médias comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aos 180 dias após a repicagem o sombreamento causou efeito significativo sobre o diâmetro do coleto, onde o maior valor (1,78 cm) foi observado nas mudas produzidas a pleno sol e o menor valor (1,62 cm) nas mudas produzidas a 80% de sombreamento (Tabela 1). Já na variável altura da haste a média das mudas a pleno sol foi inferior aos demais tratamentos, esse comportamento pode ser relacionado inversamente com o aumento da luminosidade. De acordo com Ferreira et al. (1977), Engel (1989), Kozlowski et al. (1991) e Atroch et al. (2001), a eficiência do crescimento pode estar relacionada à habilidade de adaptação das plantas às condições de intensidade luminosa do ambiente, já que modificações nos níveis de luminosidade pode acarretar diferentes respostas em suas características fisiológicas, bioquímicas, anatômicas e de crescimento. Tabela 1. Diâmetro de colo, altura da haste e massa seca do sistema aéreo e radicular de mudas de pupunheira em ambiente protegido sob diferentes níveis de sombreamento aos 180 dias após a repicagem. Pólo do Vale do Ribeira - APTA, Pariquera-Açú/SP, 2010. Sombreamento na Diâmetro do Altura (cm) Massa seca Massa seca formação da muda coleto (cm) aérea (g) radicular (g) 0% 1,78 a 10,34 b 8,36 b 9,30 a 35% 1,73 ab 14,64 a 10,08 ab 9,12 a 50% 1,76 ab 15,72 a 10,20 a 8,70 ab 65% 1,71 ab 15,64 a 10,09 ab 6,43 bc 80% 1,62 b 16,30 a 11,26 a 5,50 c 1,72 4,87 14,53 7,79 10,00 9,62 7,76 15,81 Média C.V.(%) Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Houve diferença significativa na taxa de sobrevivência em campo em relação ao sombreamento na formação das mudas de pupunheira (Tabela 2), onde as que foram submetidas ao sombreamento 0%, ou seja, a pleno sol, apresentou taxa de sobrevivência em campo estatisticamente maior que aquelas submetidas a 50% de sombreamento, tendo 96% e 68% respectivamente. Tal fato pode estar relacionado ao maior valor de massa seca do sistema radicular com o aumento de luminosidade como pode ser observar na Tabela 1, visto que as plantas crescidas a pleno sol estão sujeitas à maior restrição hídrica, o que pode induzir o crescimento da massa seca do sistema radicular em detrimento do acúmulo de assimilados na parte aérea (CHAPIN et al.,1987). Tabela 2. Taxa de sobrevivência (%) de mudas de pupunheira (Bactris gasipaes) aos 365 dias após o transplantio em campo em função do sombreamento durante a sua formação. Pólo do Vale do Ribeira – APTA, Pariquera-Açú, SP, 2011. Sombreamento na formação da muda 0% 35% 50% 65% 80% Média CV (%) Taxa de sobrevivência (%) 96 a 84 ab 68 b 80 ab 88 ab 83,2 20 Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Alguns autores indicam a produção de mudas de pupunheira em viveiro com 50% de sombreamento, o que não foi verificado como sendo o melhor tratamento para as mudas de pupunheira produzidas em Pariquera-Açú provavelmente deve-se considerar as características climáticas de cada região. Diante dos resultados obtidos salienta-se a importância do estudo do sombreamento para produção de mudas de pupunheira e o seu posterior plantio em campo, porém verifica-se a necessidade de dar continuidade às avaliações biométricas, destrutivas e de produtividade. REFERÊNCIAS ATROCH, E.M.A.C; et al. Crescimento, teor de clorofilas, distribuição de biomassa e características anatômicas de planas jovens de Bauhinia forficata Link submetidas a diferentes condições de sombreamento. Revista Ciência Agrotecnologia, v.25, n.4: 853-862, 2001. BOVI, M.L.A. & CANTARELLA, H. Pupunha para extração de palmito. In: Instituto Agronômico (Campinas). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo, 2ª ed. Boletim Técnico 100, IAC, Campinas. p.240-242. 1996. BOVI, M.L.A. Palmito Pupunha: Informações básicas para cultivo. Boletim Técnico nº173. Campinas, Instituto Agronômico, 1998. CHAPIN, F. S.; et al. Plant responses to multiple environmental factors. BioScience, v.37, n.1, p. 49-57, 1987. ENGEL, V.L. Influência do sombreamento sobre o crescimento de mudas de essências nativas, concentração de clorofila nas folhas e aspectos de anatomia. 1989. 202 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz, Piracicaba. FERREIRA, M.G.M. et al. Efeito do sombreamento na produção de mudas de quatro espécies florestais nativas. Revista Árvore, n.1, v.2: 121-134, 1977. KOZLOWSKI, T.; KRAMER, P.J.; PALLARDY, S.G. The physiological ecology of woody plants. London: Academic Press, 657p. 1991. LUPA - LEVANTAMENTO CENSITÁRIO DE UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO. 2008. Disponível em http:\\www.cati.sp.gov.br. SILVA, C.M. et al. Incidência de fungos em sementes de pupunha produzidas no Vale do Ribeira. In: XVIII Congresso de In. Cient. da Unesp, 2006, Jaboticabal. Anais do XVIII CIC da Unesp, 2006. SILVA, M.G.C.P.C. AGRONEGÓCIO PALMITO DE PUPUNHA NO ESTADO DA BAHIA. Disponível em http://www.ceplac.gov.br/radar/agronegóciopalmitodepupunhanoestadodabahia.pdf. Acessado em 02 de maio de 2009.