9.2 | E
sportes, nutrição
e uso de substâncias
Paulo César Pinho Ribeiro
INTRODUÇÃO
A prática de atividade física e o esporte, considerados fatores importantes para uma
vida saudável, devem ser estimulados e valorizados, como se observa em países mais desenvolvidos, com grande adesão pelos jovens e pela população em geral. No Brasil, ainda
que os jovens tenham incorporado o exercício físico à sua rotina diária, a população que
pratica atividade física e esporte ainda é pequena. Esse fato deve ser lamentado, pois a
atividade esportiva é uma das atividades mais benéficas para o ser humano, principalmente na adolescência e na juventude.
As vantagens da atividade física e do esporte para o adolescente incluem reforço da
auto-estima, menor predisposição a doenças, controle do balanço ingestão/consumo de
calorias, prevenção de situações de risco, ajuda na busca de objetivos e estímulo à sociali­
zação, promovendo relacionamento grupal, aprendizado social, estimulando lideranças,
simulando objetivos de vida e desafios, reduzindo ansiedade e depressão e criando sentimento de equipe e solidariedade entre os participantes.
Entre crianças e adolescentes, a atividade física previne a obesidade e as conseqüentes alterações metabólicas relacionadas ao metabolismo lipídico e de carboidratos. Além
disso, uma criança fisicamente ativa deve se tornar um adulto ativo.
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Nutrição em Pediatria
A elaboração de dietas nutritivas para crianças e adolescentes, esportistas ou não,
constitui, hoje, um grande desafio para os profissionais da saúde. A alimentação dos adolescentes e jovens está longe de ser adequada, principalmente se for considerado o número
de refeições/dia, a quantidade calórica das refeições, a qualidade dos alimentos ingeridos
e a série de alimentos novos que têm sido incorporados às dietas dos jovens. Imperam as
chamadas fast-foods, com excesso de frituras e sanduíches, levando a altas taxas sanguíneas
de colesterol total, parcial e triglicérides, achados freqüentes nos exames complementares
de adolescentes nos ambulatórios e consultórios médicos.
O desempenho esportivo sofre influências de dietas alternativas, com restrição calórica, deficiência de minerais essenciais ao desenvolvimento dos jovens e uso de diversas
substâncias ditas ergogênicas que acabam levando o indivíduo ao prejuízo em suas atividades físicas e em seu desempenho esportivo.
Somados aos erros na dieta, um novo mito se incorpora às práticas esportivas em
nossos dias: substâncias diversas, esteróides anabolizantes e hipercalóricos estão disponíveis para ganho de massa muscular e conseqüente melhoria do rendimento e do
desempenho físico.
Há relatos na literatura de que, na Grécia antiga, os atletas ingeriam testículos de
carneiro para melhorar o desempenho nas competições. Cientistas americanos, em
1930, descobriram, em animais de laboratório, que o uso de anabolizantes promove
aumento de massa muscular. Durante o nazismo, foram realizadas experiências com os
prisioneiros e, posteriormente, os soldados alemães usaram anabolizantes para melhorar o desempenho físico. Na Olimpíada de Munique, há relato do uso dessas substâncias
por muitos atletas.
Hoje, sem dúvida alguma, os esteróides anabolizantes constituem as principais
substâncias que podem ter efeitos colaterais graves nos usuários; efeitos que podem,
inclusive, levar à morte. Somam-se ao uso dos esteróides anabolizantes os suplementos
hipercalóricos, também muito consumidos, que constituem “porta de entrada” para os
anabolizantes. Além dos esteróides anabolizantes e dos suplementos hipercalóricos, vários tipos de bebidas hidratantes e energizantes encontram-se disponíveis ao consumo
pelos jovens, com conseqüentes prejuízos à sua saúde física.
Uma nutrição adequada e bem orientada torna-se importante para a manutenção da
saúde, a garantia de um crescimento físico normal e para o bom desempenho esportivo.
Do ponto de vista de saúde pública e de medicina preventiva, promover a atividade física
na infância e na adolescência significa estabelecer uma base sólida para a redução da prevalência do sedentarismo na idade adulta, contribuindo, dessa forma, para uma melhor
qualidade de vida.
EPIDEMIOLOGIA
Nos Estados Unidos, em 1994, mais de um milhão de jovens já havia feito uso de
esteróides anabolizantes. O preocupante é saber que o motivo do uso tem causa social,
Esportes, nutrição e uso de substâncias
destacando-se os efeitos benéficos do produto sem preocupação com os graves danos à
saúde. No Brasil, estudos em academias de Porto Alegre demonstraram que:
• 24,3% dos freqüentadores usavam esteróides anabolizantes;
• 34% dos casos eram utilizados por vontade própria;
• 34% por indicação de colegas;
• 19% indicado por amigos;
• 9% por indicação de professores;
• 4% por indicação médica.
Os usuários que utilizam as associações de anabolizantes experimentam dependência física e psicológica. As principais motivações ao consumo dessas substâncias fo­ram
aquisição de força (42,2%) e/ou de beleza (27,3%) e melhora no desempenho físico
(18,2%)1.
Os fatores sociais, como aumento das tarefas e atividades estudantis, maior disponibilidade de tecnologia (programas de televisão, videogames e computadores) e aumento
da insegurança nas cidades, reduzem as oportunidades de lazer e de prática esportiva,
gerando uma diminuição do gasto energético diário.
No Brasil, diferentes estudos epidemiológicos vêm demonstrando aumento dos índices de obesidade entre crianças e adolescentes, estreitamente relacionados às mudanças
nos hábitos alimentares (maior consumo de açúcares e alimentos refinados, gordura saturada e proteína animal, em detrimento do consumo de fibras, hortaliças e carboidratos
complexos) e ao estilo de vida sedentário (uso excessivo de videogames e computadores
em substituição às atividades recreativo-esportivas).
A obesidade é comum em países industrializados. Nos Estados Unidos, a incidência
da obesidade aumentou em 50% nas últimas duas décadas, com cerca de 20 a 27% de
adolescentes obesos. Estudo realizado no Reino Unido mostrou que a prevalência da obesidade duplicou entre 1980 e 1996. Estudos realizados por Troiano em 19952, analisando
a obesidade entre crianças e adolescentes no período de 1963 a 1991, revelaram que a
prevalência de obesidade em 1981 era de 20%, subindo para 25%, em 1991. Um estilo de
vida mais ativo está associado à diminuição da obesidade e à redução do risco de várias
doenças, como hipertensão arterial, hiperlipidemia e diabetes, já que 40% das crianças e
70% dos adolescentes obesos transformam-se em adultos obesos.
Outra pesquisa, realizada no Rio de Janeiro em 2005, com 24.989 crianças de 0 a 12
anos de idade, revelou que 53% das meninas e 47% dos meninos apresentavam taxas de
colesterol alteradas ou acima do normal (200 mg/dL), demonstrando um desvio importante de condutas alimentares.
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Nutrição em Pediatria
NUTRIÇÃO ESPORTIVA
Alguns cuidados de nutrição devem ser observados, no esporte, como:
• perder o excesso de gordura corpórea garante um melhor desempenho físico;
• consumir carboidratos durante as atividades físicas mantém os níveis de glicose
sanguínea, evitando hipoglicemia e fadiga;
• o ferro fornecido garante a oxigenação dos músculos;
• a ingestão de líquidos antes e durante a atividade física reduz o risco de desi­
dratação.
Proteínas
As necessidades diárias protéicas de crianças e adolescentes, por meio de dieta balanceada, são maiores que as do adulto (em torno de 1 g/kg/dia), para que se processe um
crescimento normal de órgãos e tecidos. Os produtos disponíveis como suplementos
protéicos (p.ex.: barra de cereais contendo albumina e caseína, albumina e proteinato de
cálcio em pó e proteína do soro do leite) são admirados e consumidos pelos adolescentes,
levando ao consumo exagerado de proteínas. Cabe destacar que esses produtos podem
ser substituídos por uma dieta normal e adequada.
Hidratos de carbono (gorduras): fontes de energia
Crianças e adolescentes jovens utilizam mais gorduras e menos carboidratos como
fonte energética nas atividades de longa duração, mas esse fato não influi nas recomendações da necessidade do consumo de gorduras de não mais que 25 a 30% do total de
calorias diárias, 10% de gorduras saturadas e menos de 30 mg/dia de colesterol.
Enquanto os estoques de gordura constituem a maior reserva de energia corpórea, os carboidratos (55 a 60% da energia total) são a principal fonte de energia para
utilização imediata, poupando o glicogênio muscular e mantendo a glicemia durante
o exercício. A suplementação de carboidratos antes e durante os exercícios aeróbicos e
anaeróbicos é a maneira mais utilizada para se evitar a queda brusca da glicemia, embora
a hipoglicemia seja uma condição clínica freqüente em jovens, principalmente durante
as atividades físicas escolares regulares (não-competitivas).
Líquidos e eletrólitos
Crianças e adolescentes jovens produzem menos suor, geram mais calor durante o
exercício e não possuem mecanismos adequados de trocas de calor com o ambiente externo, já que têm menor superfície corpórea que os adultos, o que resulta em grandes ganhos
de calor nos ambientes quentes e grandes perdas de calor nos ambientes frios. Sendo assim,
fluidos são de extrema importância na manutenção da saúde e do desempenho dos atletas
jovens, devendo ser evitada a desidratação induzida pelo exercício, pois crianças e adolescentes apresentam um aumento muito grande na temperatura corpórea interna.
Esportes, nutrição e uso de substâncias
Os repositores líquidos contendo de 4 a 8% de glicídios, associados a fórmulas hidreletrolíticas (110 mg de NaCl/L), devem ser oferecidos antes e a cada 15 a 20 min, durante a prática da atividade física.
As recomendações para hidratação de crianças ativas incluem:
• 1 hora antes dos exercícios físicos, crianças com menos de 41 kg devem ingerir de
90 a 180 mL de líquidos, enquanto aquelas com mais de 41 kg devem tomar de 180
a 360 mL;
• durante a prática de atividade física, a cada 20 min, as crianças com menos de 41
kg devem tomar de 80 a 180 mL de líquidos e, aquelas com mais de 41 kg, 180 a
270 mL;
• depois da atividade física, as crianças com peso corpóreo menor que 41 kg podem
tomar até 200 mL a cada 200 g de peso perdido, enquanto aquelas com mais de
41 kg podem precisar de 300 mL a cada 200 g de peso perdido, sendo a reposição
feita nas primeiras 2 a 3 horas depois da atividade.
Durante a competição, 30 a 60 g de carboidratos devem ser ingeridos por hora. Os
repositores líquidos (sports drinks), contendo de 4 a 8% de glicídios associados a fórmulas hidreletrolíticas, ajudam a diminuir a fadiga, melhorando o desempenho em eventos
de média e longa duração – resultados confirmados em vários estudos científicos.
As soluções contendo carboidratos ou frutose em concentrações superiores a 8%
devem ser evitadas, já que, em alguns estudos, ocorreram efeitos gastrintestinais, como
vômitos e diarréia.
Micronutrientes (ferro e cálcio)
A anemia ferropriva, bastante prevalente em toda a infância, acentua-se nos adolescentes não só pelos maus hábitos alimentares, mas devido a fatores como:
• rápido aumento da massa magra;
• aumento tanto do volume sanguíneo quanto do número de hemácias;
• rápido incremento de altura e peso que ocorrem no chamado estirão do crescimento.
Assim, recomenda-se uma atenção especial no inquérito alimentar de crianças e
ado­lescentes que pratiquem esportes competitivos sobre a ingestão desses micronutrientes, encontrados em fontes como carnes, peixes, grãos, ovos e nozes.
Outro fator de risco para deficiência de ferro são as dietas alternativas, entre elas,
a dieta estritamente vegetariana, com alto conteúdo de oxalatos e fitatos e que têm alta
afinidade pelo ferro, facilitando o surgimento de anemia, caracterizada clinicamente
por diminuição do desempenho e piora dos resultados em competições. Nesses casos,
deve-se fazer a investigação laboratorial, incluindo dosagens de ferro sérico e saturação
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Nutrição em Pediatria
de transferrina, visando detectar, também, a ferropenia, que pode interferir no adequado
transporte de oxigênio para os músculos.
O cálcio é outro micronutriente importante, em função do aumento da massa esquelética, principalmente na fase do estirão de crescimento, além de ser fator preventivo
das fraturas de estresse e da osteoporose tardia. É encontrado no leite, em queijos e em
iogurtes, alimentos pouco ingeridos por adolescentes, de modo que, para os adolescentes
atletas, é recomendada a ingestão suplementar mínima de 500 a 1.000 mg de cálcio/dia.
USO DE ESTERÓIDES ANABOLIZANTES ANDROGÊNICOS
Vive-se, atualmente, um momento do culto exagerado ao corpo e à estética. Triplicaram
as cirurgias plásticas no país, observa-se um aumento dos freqüentadores de academias e
nunca foram vendidos tantos cosméticos e produtos para emagrecer, apesar da crise econômica. É imperativo ser bonito, musculoso, magro e saudável – o grande consumo da imagem. A tentação em ganhar músculos rapidamente leva cada vez mais jovens ao abuso dos
esteróides sem orientação médica. Os efeitos colaterais, porém, podem ser devastadores.
Depois das chamadas drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack e tantas outras) e das
lícitas (fumo, álcool, anorexígenos, sedativos), uma nova droga começa a preocupar autoridades e profissionais da saúde em todo o mundo: os esteróides anabolizantes.
No Brasil, a preocupação não é tanta com os atletas, mas com o jovem adolescente
que, imediatista, quer ganhar massa e músculos rapidamente e corpo atlético em curto
pra­zo, entregando-se aos anabolizantes, muitas vezes receitados por instrutores e professores de educação física sem nenhum conhecimento na área. Eles indicam e vendem
essas drogas, que podem ser compradas em farmácias sem exigência de receita médica,
apesar da tarja vermelha que diz “venda sob prescrição médica”.
Sabe-se do uso de esteróides anabolizantes androgênicos com fins terapêuticos em
várias patologias. A aprovação e o uso de qualquer droga são questões de decisão sobre
os benefícios terapêuticos de seu uso compensarem ou não devido aos efeitos adversos.
Esteróides causam poucos efeitos colaterais se usados em doses terapêuticas. O uso
abusivo por razão cosmética ou frívola, atendendo ao apelo do modismo ou do consumo, sempre em doses elevadas, é que traz conseqüências graves.
A seguir, são citados alguns medicamentos esteróides, em apresentações oral e injetável.­
1. Esteróides nacionais:
• decanoato de nandrolona (Deca Durabolin®): um dos mais usados pelos esportistas, é um esteróide injetável com efeito de ganho de massa muscular e
pequenos efeitos colaterais (pode ocasionar retenção de líquidos);
• derivados da testosterona, como propionato, fenilpropionato, isocaproato e decanoato de testosterona (Durateston®): produto com quatro tipos de testosterona sintética, muito bom para ganho de massa e força, mas muito carregado
de efeitos colaterais, principalmente nas mulheres;
Esportes, nutrição e uso de substâncias
• oximetolona (Hemogenin®): esteróide oral que tem o maior poder de ganho de
massa muscular e força de todos os existentes no Brasil e no exterior, mas é o mais
tóxico, podendo causar hepatites instantâneas, independentemente da dose;
• mesterolona (Proviron®): toxicidade mediana, usado para combater a ginecomastia e aumentar a densidade muscular, com baixo efeito em ganho de massa;
• mentelona (Primobolan®): esteróide muito apreciado pelas mulheres para aumentar a capacidade física;
• undecilenato de boldenona (Equipoise®): apesar de ser droga de uso veterinário, tem sido utilizada por fisiculturistas e adolescentes, por ignorância, para
crescimento da massa muscular;
• undecato de testosterona (Androxon®) e quimbolona (Anabolicum Vister®).
2. Esteróides importados:
• estanazolol (Winstrol®): oral e injetável, é tóxico ao fígado;
• oxandrolona (Anavar®): não tem muitos efeitos colaterais, sendo o preferido
das mulheres. O seu efeito terapêutico é indicado para uso em soropositivos, a
fim de minimizar perdas musculares causadas pela doença e deve ser prescrito
apenas por especialista;
• trembolona (Parabolan®): injetável, muito forte, tóxica e, infelizmente, muito
indicada pelos fisiculturistas e profissionais, sendo usada por iniciantes;
• éster da testosterona (Tectahat®): causa bom aumento de massa muscular, mas
com efeitos colaterais graves.
3. Outros:
• metandrostenolona (Anabol®): por ser de uso oral, foi um dos esteróides mais
utilizados anos atrás, com ganho significativo de força e volume muscular em
pouco tempo, promovendo retenção hídrica;
• fluoximesterona (Halostin®): por ser muito tóxico ao fígado, é pouco usado;
• cipionato de testosterona (Deposteron®): usado para ganhar peso, força e massa muscular, causa atrofia testicular, ginecomastia e retenção hídrica com conseqüente hipertensão.
Efeitos colaterais do uso abusivo de esteróides
Aumento de peso, aumento das massas muscular e óssea (notadamente em musculatura peitoral e proximal dos membros superiores), tremores, acne severa, retenção
de líquidos (sódio e escórias nitrogenadas), virilização, dores articulares, aumento da
pressão sanguínea, alteração do metabolismo do colesterol (diminuindo o HDL e aumentando o LDL-colesterol, com aumento do risco de doenças coronarianas), alterações
nos testes de função hepática, icterícia e tumores no fígado, alterações no hemograma
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Nutrição em Pediatria
(policitemia, reticulocitose, eosinopenia e aumento da agregação plaquetária com risco
de trombose), exacerbação da apnéia do sono, estrias atróficas e maior tendência às
lesões do aparelho locomotor (ruptura do tendão do tríceps e do quadríceps), pois as
articulações não estão aptas para o aumento de força muscular. Além disso, os usuários
que se injetam ainda correm o perigo de compartilhar seringas e contaminar-se com o
vírus da Aids ou da hepatite.
Outros efeitos
1. No homem: diminuição ou atrofia do volume testicular (20% dos casos), dimi­
nuição da espermatogênese com redução da contagem de espermatozóides
(90% dos casos), impotência, infertilidade, calvície, desenvolvimento de mamas,
dificuldade ou dor para urinar, aumento da próstata e ginecomastia, às vezes
irreversível.
2. Na mulher: crescimento de pêlos com distribuição masculina, alterações ou ausência de ciclo menstrual, aumento do clitóris, voz grossa e diminuição de seios
(atrofia do tecido mamário).
3. No adolescente: maturação esquelética precoce com fechamento prematuro das
epífises ósseas, com baixa estatura e puberdade acelerada levando a um crescimento raquítico.
O abuso de anabolizantes pode causar variação de humor, incluindo agressividade
e raiva incontroláveis, levando a episódios violentos, como suicídios e homicídios, principalmente conforme a freqüência e o volume usados. Os usuários apresentam sintomas
depressivos e de síndrome de abstinência ao interromperem o uso, o que pode contribuir
para a dependência, e podem ainda, experimentar um ciúme patológico, quadros psiquiátricos (maníacos e esquizofrenóides), extrema irritabilidade e ilusões, podendo ter uma
distorção de julgamento em relação a sentimentos de invencibilidade, distração, confusão mental e esquecimentos, além de alterações da libido com as suas conseqüências.
É importante destacar o distúrbio de percepção de imagem corporal, apresentado
por alguns dos usuários dessas substâncias (quadro clínico, denominado “dismorfismo
muscular”, “vigorexia” ou “bigorexia”). Apesar do enorme ganho de massa muscular corpórea, o indivíduo sempre se acha fraco em relação ao outro. Muitas vezes, o uso vem
acompanhado de outras drogas não-esteroidais, como hormônio de crescimento, insulina, analgésicos fortes para dores musculares, diuréticos e medicamentos que evitam
a ginecomastia. Atletas, treinadores físicos e médicos relatam que os anabolizantes aumentam significativamente a massa muscular, a força e a resistência, mas, mesmo assim,
não existe, até o momento, nenhum estudo científico comprovando que essas drogas
melhoram a capacidade cardiovascular, a agilidade, a destreza ou o desempenho físico.
Devido a todos esses efeitos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) colocou 20
esteróides anabolizantes e compostos relacionados a eles como drogas banidas, ficando o
Esportes, nutrição e uso de substâncias
atleta que fizer uso deles sujeito a duras penas. O mercado negro de drogas para esporte
está se sofisticando e, apesar da preocupação das autoridades esportivas no teste antidoping
após as competições, foi criada, recentemente, uma substância, a tetra-hidrogestrinona,
conhecida com a sigla de THG. Trata-se de um esteróide convencional, até então invisível ao teste de detecção, burlando o antidoping, sendo rencomendado por atletas, que
só recentemente passou a ser detectado pelo teste.
São conhecidas, também, substâncias como os estimulantes sydnocarb e bromantam, criados na antiga União Soviética, e como os anabolizantes turinabol (Alemanha
Oriental) e norboletona, capazes de enganar os testes de detecção.
USO DE SUPLEMENTOS HIPERCALÓRICOS
E OUTRAS SUBSTÂNCIAS
Os suplementos hipercalóricos, tão consumidos e vendidos (aminoácidos, carboidratos, creatina, L-carnitina e outros), constituem porta de entrada para os esteróides
anabolizantes. Entretanto, em trabalhos de pesquisas mais recentes, alguns autores têm
encontrado o álcool como porta de entrada para os anabolizantes. Ainda que haja publicidade prometendo aumento da massa muscular e melhora do desempenho nas atividades físicas – o que não é comprovado por especialistas – produtos à base de aminoácidos (menor unidade das proteínas) não são ergogênicos, ajudando apenas nos casos de
dietas alimentares hipoprotéicas e inadequadas.
O excesso de aminoácidos pode levar à sobrecarga renal. Quanto aos energéticos (carboidratos), apesar da promessa de evitar fadiga em pessoas que praticam atividade física
de força prolongada, sabe-se que o produto aumenta o nível de glicogênio, evitando a
queima de músculos quando o estoque de glicose acaba. Se consumido sem orientação,
tem o efeito de ganho de peso indesejável. Propagandas afirmam que a creatina (combinação de aminoácidos) melhora a resistência e o desempenho durante o exercício,
porém, há divergências entre os especialistas, já que a dose utilizada causa hipertensão e
cãibras (20 mg quando a dose segura é de apenas 2 mg). Quanto à L-carnitina, não há
efeito comprovado no desempenho físico; não reduz a gordura corpórea localizada (abdome), nem atua sobre a lipodistrofia (celulite). Alguns líquidos similares a refrigerantes
contêm apenas mistura de açúcares simples e eletrólitos combinados e são vendidos como
suplementos. Produtos à base de guaraná são excitantes que contêm cafeína. É importante
salientar que, em pesquisas conduzidas em capitais européias, encontraram-se traços de
esteróides anabolizantes em fórmulas vendidas como suplementos hipercalóricos.
Uma nova substância tem sido utilizada sem controle. Trata-se do tiratricol (Triac®,
Trimag®, Triax®, Nulobes®, Teatrois®, Bieso®, Obelin®), análogo do hormônio tireoidiano,
conhecido também como triac ou 3,5,3 ácido triiodotiroacético, para diminuição de
peso. Quando utilizado em pequenas doses (menos que 1 g/dia), tem efeito sinérgico com
os anabolizantes, sendo empregado para aumentar o desempenho de fisiculturistas e
atletas. O uso em doses maiores que 1,7 g/dia provoca grandes efeitos colaterais.
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Nutrição em Pediatria
USO DE BEBIDAS ENERGIZANTES E HIDRATANTES
As chamadas bebidas esportivas são formuladas a partir da concentração de vários
eletrólitos e carboidratos, com finalidade de reposição hídrica, energética e eletrolítica
durante a prática de exercícios físicos. Não há evidências científicas sobre efeitos colaterais dessas bebidas esportivas. Alguns trabalhos mostram que os repositores apresentam
uma composição eletrolítica e calórica que não provocam sobrecarga para o organismo
ou aumento nas concentrações sanguíneas de glicose ou eletrólitos, apenas reabastece o
organismo com carboidratos e repõe parte dos minerais eliminados pelo suor. Apesar do
uso de várias bebidas contendo cafeína (bebidas energéticas, sodas carbonatadas, refrigerantes) em nossa alimentação diária, essa substância não é nutriente essencial na nossa dieta. Encontram-se disponíveis no mercado vários tipos de bebidas hidratantes, energéticas
e alcoólicas, bem como muitos medicamentos (antigripais, diuréticos e fármacos para
perda de peso) contendo cafeína. Sabe-se que, mesmo nas bebidas ditas descafeinizadas,
há percentual de cafeína e que as bebidas energéticas têm um conteúdo de cafeína maior
que as bebidas regulares.
Os principais componentes das bebidas energéticas são cafeína, taurina, carboidratos,
gluconolactona, inositol, niacina, pantenol e vitaminas do complexo B. Vários estudos
mostram que a mistura de três componentes das bebidas energéticas, como a cafeína, a
taurina e a gluconolactona, têm efeitos positivos no desempenho mental humano e na
disposição das pessoas. Entretanto, é importante conhecer os efeitos adversos da cafeína,
que podem levar à abstinência quando não ingerida, com sintomas de cefaléia, flutuações
de humor e do estado de ânimo, irritabilidade, ansiedade, depressão, sonolência e fadiga.
Ferreira et al.3, em São Paulo, estudando o efeito de álcool associado a bebidas energéticas,
como, vodca e bebida energética como Red Bull®, comparando com ingestão só de álcool
ou bebida energética conclui que, mesmo quando as doses de cafeína reduzem alguns dos
efeitos do álcool, não reduz os efeitos depressivos sobre o sistema nervoso central.
A taurina é um dos aminoácidos mais freqüentes no sistema nervoso central e tem
um importante papel nos processos fisiológicos, como regulação osmótica, neuroproteção e neuromodulação. Pesquisas comparando ingestão de álcool isolado e álcool associado a substâncias energéticas mostram que, no segundo caso, há redução da percepção de cefaléia, boca seca, debilidade e sensação de deterioração da coordenação
motora. Sem dúvida, a ingestão de bebidas energéticas não reduz significativamente os
déficits causados pelo álcool em sintomas objetivos, como coordenação motora e o tempo de reação visual, nem altera a concentração de álcool obtido em cada grupo.
PREVENÇÃO E ORIENTAÇÕES
A Portaria n. 344, de 12 de maio de 1998, estabelece que o controle e a fiscalização da
produção, do comércio, da manipulação e do uso dos anabolizantes serão executados, em
conjunto, pelas autoridades sanitárias do Ministério da Saúde, da Fazenda, da Justiça e de
Esportes, nutrição e uso de substâncias
seus congêneres nos Estados, Municípios e Distrito Federal. Segundo a Lei n. 9.965, de 27
de abril de 2000, a dispensação e a venda de medicamentos dos grupos de esteróides e
peptídeos anabolizantes de uso humano estão restritas à apresentação e à retenção, pela
farmácia ou drogaria, da cópia carbonada da receita emitida pelo profissional da saúde
devidamente registrado em seu Conselho. Contudo, há falhas na fiscalização e, assim, os
produtos são adquiridos facilmente no comércio e em academias de ginástica.
Orientações
• Alertar que a prática do esporte é importante na adolescência, mas deman­da tempo para se conseguir um resultado em relação ao ganho de massa muscular;
• informar ao jovem que há um limite genético para o desenvolvimento muscular,
que depende de atividade física ordenada e supervisionada, de repouso e de alimentação orientada e adequada;
• orientar o quanto a nutrição é importante no esporte, destacando sempre uma dieta saudável, natural e adequada, prevenindo o uso de substâncias anabolizantes;
• pais, educadores e profissionais da saúde devem somar esforços e racionalizar o
culto ao corpo e trabalhar o resgate da prudência, orientando filhos, alunos e
clien­tes sobre os riscos dessas substâncias;
• realizar campanhas por meio de palestras e ofícios a todos os setores de saúde,
educação e esporte, esclarecendo os riscos destes produtos;
• orientar a todas as academias de esporte e solicitar que os responsáveis pela saúde
no país proíbam e evitem o uso indiscriminado dessas substâncias;
• obter maior fiscalização pelas autoridades públicas no sentido de proibir a venda
indiscriminada de produtos ditos esportivos com comprovados efeitos colaterais.
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9.2 | Esportes, nutrição e uso de substâncias