DELIMITAÇÃO DA SUB-BACIA DO CÓRREGO PENSAMENTO EM COLATINA-ES E CARACTERIZAÇÃO DAS SUAS NASCENTES Márcia Cristina de Oliveira Moura ¹ ; Tatiana Celin Marotto ²; Cristiano Almeida Pires ³; Fábio da Silveira Castro4 ¹ Engenharia Florestal, Professora/IFES – Campus Colatina ([email protected]); ² Tecnólogo em Saneamento Ambiental/IFES, Pos-graduando em Engenharia Ambiental/FUNCAB ([email protected]); ³ Tecnólogo em Saneamento Ambiental/IFES ([email protected]); 4 Engenheiro Agrônomo, Professor/IFES – Campus Ibatiba ([email protected]) Apresentado no II Congresso Brasileiro de Reflorestamento Ambiental – 23 a 26 de outubro de 2012 – SESC Centro de Turismo de Guarapari, Guarapari – ES. Resumo - O objetivo do presente trabalho foi delimitar a área da sub-bacia hidrográfica do Córrego Pensamento, Colatina-ES, além de identificar e caracterizar a situação das suas nascentes. Utilizou-se um receptor GPS para localizar e georreferenciar as nascentes e programas computacionais como o ArcGis 9.3/ArcMap® para delimitar a bacia hidrográfica. Foi considerado nascente cada início do tributário do Córrego Pensamento, resultando em 9 (nove) nascentes para base de estudo. As nascentes foram classificadas em relação ao tipo de reservatório a que estão associadas e para avaliar o grau de conservação das nascentes empregou-se a metodologia proposta por Pinto (2003), classificando-as de acordo com o grau de conservação da vegetação no seu entorno. A vazão das nascentes foi mensurada pelo método direto. Entres as nascentes perenes locadas, 8 (oito) eram pontuais e somente 1(uma) caracterizava-se como difusa. Quanto ao estado de conservação observou-se que 44,4% estavam degradadas e 55,6% perturbadas. Algumas áreas apresentavam pouca cobertura vegetal, propiciando a lixiviação e redução da infiltração das águas pluviais. A área de recarga estava na sua maioria ocupada por atividades agropecuárias. Os principais usos consuntivo foram a irrigação e dessedentação de animais. Palavras-chave: área de preservação permanente, sistema de informações geográficas, recursos hídricos. Introdução A água é um recurso limitado, dotado de valor econômico constituinte essencial para manutenção da vida e equilíbrio dos ecossistemas de fundamental importância para a economia e crescimento da região e do país. Através dos anos o homem adquiriu hábitos de vida gerando consumo excessivo e inconsciente de água, aumentando a demanda de água doce e potável e acarretando desperdícios significativos. Observa-se então a necessidade de despertar o interesse sobre o uso racional dos recursos hídricos, garantindo sua disponibilidade às futuras gerações, visto que o uso deste recurso para diversas finalidades tem diminuído consideravelmente. Informações sobre o estado atual das nascentes que compõem a sub-bacia poderão subsidiar estratégias de recuperação e proteção dos cursos d’água presentes favorecendo o equilíbrio ecológico. Para que se possam conservar as nascentes é preciso conhecer seu tipo e suas características, as legislações que tratam sua proteção, o papel da vegetação na infiltração e conservação das águas subterrâneas e quais os principais uso do solo que possam gerar a degradação da nascente a curto ou longo prazo (PINTO, 2003). A apresentação de metodologias aplicáveis a áreas pequenas e estudos regionais pode representar ainda uma importante ferramenta para futuros estudos e desenvolvimento de projetos (PAIVA, 2003). De maneira positiva, tem-se observado um crescente número de estudos voltados para pequenas bacias hidrográficas, tanto no meio urbano como no meio rural. Este trabalho caracterizou o estado de conservação das nascentes do Córrego Pensamento, afluente da Bacia do Rio Santa Maria do Doce, delimitando ainda a área desta sub-bacia. Nesta região há o predomínio do cultivo de café Conilon (Coffea canephora) e criação de bovinos, apresentando um papel significativo na economia dos moradores locais. Tendo em vista que o referido córrego constitui-se no único recurso hídrico existente no local, o conhecimento do estado atual de suas nascentes é uma etapa fundamental para subsidiar programas que visem sua conservação. Material e Métodos A área contemplada neste trabalho está localizada no município de Colatina, próximo à comunidade de São Zenon, na região noroeste do estado do Espírito Santo. A sub-bacia em estudo tem como curso d’água principal o Córrego Pensamento, que é tributário do Rio Santa Maria do Doce que, por sua vez, é tributário do Rio Doce. Situa-se entre as coordenadas 19º34’46.22” e 19°34’50.99” de latitude sul e 40º40’52.15” e 40º39’15.05” de longitude oeste de Greenwich. A foz do córrego distancia-se cerca de 8,5 km do Rio Doce, próximo ao perímetro urbano da cidade de Colatina-ES. O clima do município de Colatina é do tipo Aw, segundo classificação de Köppen, caracterizando-se como clima tropical úmido com inverno seco (Silva et al., 2010). A maior ocorrência de chuvas é registrada de outubro a março, com pluviosidade média anual de 1100 milímetros (INCAPER, 2011). No território de Colatina os tipos de solo que predominam são latossolo vermelho amarelo, distrófico, com fertilidade média e acidez moderada, pH em torno de 5,0. A topografia que predomina é plano e ondulado, ocupando 60% da área total (INCAPER, 2011). Para a delimitação da Sub-Bacia hidrográfica utilizou-se o software ArcGis 9.3/ArcMap®. A primeira etapa para a delimitação da Sub-Bacia hidrográfica e a extração de sua rede de drenagem foi aquisição das imagens SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) obtidas por intermédio parcial de um programa de reconstituição do relevo do país, desenvolvido pela Embrapa Monitoramento por Satélites, e encontram-se disponíveis gratuitamente no endereço eletrônico http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br (Santos, 2007). A imagem encontrava-se no formato raster com uma resolução espacial de 90 metros, projeção geográfica UTM (Universal Transversa de Mercator) e datum WGS 84 (World Geodetic System of 1984). Os arquivos da rede de drenagem utilizados no presente estudo encontram-se disponíveis gratuitamente no PORTAL GEOBASES, através do endereço eletrônico http://www.geobases.es.gov.br/portal/. A partir dos arquivos foi possível delimitar a sub-bacia hidrográfica do Córrego Pensamento, através do módulo “ArcToolbox - Spatial Analyst Tools – Hydrology – Flow Basin” (Santos, 2007). Para verificação dos limites da mesma, utilizou-se uma Ortofotomosaico 2007/2008 disponibilizado gratuitamente pelo IEMA (Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), através do endereço eletrônico http://189.84.218.229/aplicmap /geral.htm?9e2c79c3820bf581abae10d2d89cac9b. O ortofotomosaico é um produto cartográfico digital de resolução espacial de 1(um) metro elaborado a partir de um levantamento aerofotogramétrico. Para determinar o grau de conservação das nascentes foi utilizada a metodologia proposta por Pinto (2003), como pode ser visto na Figura 1. Figura 1- Sentido de medição da vegetação no entorno das nascentes. Fonte: Pinto (2003). Considerou-se uma área de 50 metros de raio em cada nascente, medida com auxílio de uma trena. Esta área foi dividida em 4 quadrantes (Figura 6), sendo (R1) representando vegetação acima , (R2) abaixo, (R3) à direita e (R4) à esquerda. As margens direita e esquerda foram orientadas pelo sentido do escoamento da água. Foram adotadas as seguintes classificações para a caracterização do grau de conservação: 1) Preservadas: quando apresentavam 50 m de vegetação natural em seu entorno, medidas a partir do olho d’ água, principalmente nas pontuais; 2) Perturbadas - quando apresentavam 50 m de vegetação natural em seu entorno apresentando bom estado de conservação, apesar de serem parcialmente ocupadas por pastagem ou agricultura; 3) Degradadas - apresentavam alto grau de perturbação, pouca vegetação, solo compactado, presença de animais (gado), erosão e voçorocas. As vazões das nascentes foram mensuradas através do método direto. A medição foi realizada com três repetições empregando-se recipiente calibrado conforme Chevallier (2001). O ponto de medições das vazões foram marcados com auxílio do receptor GPS Modelo E-Trex , para posterior medição ou repetição da coleta dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados mostram que esta Sub-Bacia do Córrego do Pensamento possui uma área de 516 ha, considerando os divisores de águas como limites. O perímetro da sub-bacia mede 9,58 Km e o tributário principal 3,17 km. O leito do Córrego Pensamento foi demarcado deste o início de cada tributário, onde se encontram as nascentes até seu exutório, que deságua no Rio Santa Maria. A Figura 2 proporciona uma visão mais detalhada dos cursos de água da Sub-Bacia auxiliando assim nas interpretações dos resultados. Foram identificadas 9 (nove) nascentes presentes na área da Sub-Bacia do Córrego Pensamento. Todas as nascentes visitadas apresentavam perenidade, mesmo sendo o mês de agosto considerado com menor índice de chuvas. Das nascentes encontradas na sub-bacia, notamos que cinco (55,6%) encontravam-se degradadas, quatro (44,4%) perturbadas e nenhuma se encontrava preservada. Figura 2 - Delimitação da Sub-Bacia do Córrego Pensamento As principais perturbações encontradas nas nascentes foram: solo compactado pelo gado, estrume, erosão, ausência de vegetação adequada e plantações de lavouras ao redor das nascentes. Não foi observada a presença de lixo ou entulho ao redor das nascentes. De acordo com a legislação vigente (BRASIL, 2012a),, considerando as alterações estabelecidas pela Medida Provisória 571 de 28 de maio de 2012 (BRASIL, 2012b) observa-se que nenhuma nascente atende at às premissas estabelecidas. O isolamento das áreass das nascentes para promover a regeneração natural não foi observado e a ausência de cobertura vegetal poderá influir de maneira negativa, tanto na qualidade e quanto na quantidade do recurso hídrico. Dentre os principais ais usos consuntivos observados destacam-se destacam a predominância do uso da água para a dessedentação de animais. Observou-se se a presença de vários reservatórios ao longo do córrego com a finalidade de armazenar água destinada a irrigação. Desta forma, nota-se nota que outro uso consuntivo importante da água do Córrego Pensamento é a manutenção dos cultivos agrícolas da região. Conclusões A sub-bacia do Córrego do Pensamento, em Colatina – ES, possui um área de 516 ha. Todas as suas nascentes encontram-se com algum grau de perturbação ou degradação. As principais perturbações observadas estão relacionadas à ausência de vegetação ciliar, à compactação do solo pela presença constante de gado sobre a área e ocorrência de processos erosivos. Os resultados evidenciaram a necessidade de realização de programas de recuperação das nascentes na área da subbacia do Córrego Pensamento, com a finalidade de garantir os principais usos deste recurso hídrico. Referências Bibliográficas BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 maio 2012a. Seção 1, p. 1. ISSN 1677-7042. BRASIL. Medida Provisória no 571, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo,Brasília, DF, 28 mai. 2012b. Seção 1, p. 10. ISSN 1677-7042. CHEVALLIER, P. Aquisição e processamentos de dados. In: TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. p. 483-525. INCAPER - Programa De Assistência Técnica e Extensão Rural- PROATER, 2011. JUNQUEIRA, José A. Jr; MELLO, Carlos R. de ; Silva, Antonio Marciano; PINTO, Daniel Brasil F. 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