OURO PRETO FICHA DE INVENTÁRIO 25
categoria Patrimônio Imaterial
sub-categoria Celebrações
município Ouro Preto
distrito Sede – Povoado de Tripuí
designação FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Trata-se da Imaculada Concepção de Maria, um título litúrgico através do qual se professa a qualidade
informações
históricas exclusiva atribuída a Nossa Senhora Mãe de Deus: pelos méritos de Jesus Cristo, Deus preserva Maria, pois estando ela
destinada a ser mãe de seu Filho, era conveniente que já alcançasse a graça divina de uma concepção eximida da
mancha do pecado original. Ela foi a primeira a receber a plenitude da bênção de Deus.
Maria teria sido concebida no dia oito de dezembro. Como a gravidez de sua mãe Ana foi de exatos nove
meses, ela teria nascido em oito de setembro, dia em que se celebra a sua Natividade.
A invocação a Nossa Senhora da Conceição segue os padrões de culto público instituídos pela Igreja
Católica no século XIX, embora o culto popular à Virgem Imaculada conste desde os primórdios do Cristianismo. Há
registros confirmando a veneração que remontam ao século VIII no oriente e ao IX no ocidente, particularmente na
Inglaterra e Normandia.
Com o forte impulso tomado pela doutrina da Imaculada Concepção a partir de 1300, a Igreja Católica, já em
1476, introduz oficialmente a solenidade comemorativa de Nossa Senhora da Conceição no calendário romano. As
aparições subseqüentes da Virgem Santíssima reafirmaram o culto, propagando a consagração mariana por todo o
mundo. Numa dessas, ocorrida em 1830, ela teria solicitado a Catarina Labouré a impressão e difusão de medalhas com
a efígie da Imaculada e as seguintes palavras: "Maria concebida sem pecado, rogai por nós". Esse evento suscitou
grande devoção à Virgem, induzindo muitos bispos a pleitear a formalização do dogma.
Alguns anos mais tarde, aos oito dias do mês de dezembro de 1854, o Papa Pio IX publica a Bula Ineffabilis
Deus, proclamando Maria isenta do pecado original desde os primeiros momentos de sua existência.
No Brasil, Nossa Senhora da Conceição chegou junto das naus comandadas por Pedro Álvares Cabral, que
se encarregou de nomeá-la a primeira padroeira da terra de Santa Cruz. Os frades franciscanos foram os principais
responsáveis pela propagação dessa devoção nessas terras. O culto esteve restrito ao litoral do território brasileiro e só
começou a penetrar o interior por meio das Entradas, migrações pastoris ao longo do Rio São Francisco e, em seguida,
pelas Bandeiras. Hoje existem cerca de quinhentas e quarenta paróquias dedicadas à Virgem Imaculada por todo país.
Tripuí é um dos mais antigos povoados do município de Ouro Preto, estando bastante próximo à sua sede. A
origem da localidade se deu por volta da virada do século XVII para o XVIII, quando foram achados veios de ouro por
suas terras, garimpados nas águas do Rio Tripuí. Em torno das minas houve relativo e lento processo de fixação
populacional nas primeiras décadas do século XVIII. É desse período a primeira capela de culto à Nossa Senhora da
Conceição do Tripuí, quando a região onde está localizado o lugarejo começou a ser habitada. A construção de um
templo religioso para a devoção de um santo padroeiro era condição de legitimação de uma localidade durante o
período colonial na América Portuguesa, haja visto o alto grau de religiosidade da sociedade da época.
Nossa Senhora da Conceição foi a santa de referência do distrito de Tripuí, em virtude da escolha feita pelos
seus primeiros povoadores. Certamente, logo após a construção da ermida as festas em homenagem à Virgem
iniciaram-se, tornando-se evento regular do vilarejo.
No final do século XIX, a capela original do povoado foi queimada, num incêndio criminoso. O santuário atual
data de 1936, e é provável que, nesse intervalo de aproximadamente de cinqüenta anos, desde o incêndio até a
elevação da nova igreja, tenha havido falhas na regularidade anual dos festejos. Porém, com a igrejinha novamente
erguida, as comemorações dedicadas à Nossa Senhora da Conceição não mais foram interrompidas. É justamente essa
assiduidade que demonstra a fé ancorada à tradição dos moradores desse pequeno povoado de Ouro Preto. Há cerca
de 20 anos, a festa ocorre no primeiro final de semana do mês de julho, e não na data oficial dedicada a Nossa Senhora
da Conceição, 08 de dezembro. Tal mudança foi uma reivindicação da população local, que achava o período chuvoso
do mês de dezembro inadequado para a realização do evento, acarretando o seu esvaziamento. O pedido foi acatado
pela Paróquia do Pilar, a qual está subordinada Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tripuí.
As imagens de Nossa Senhora podem ser classificadas de acordo com as fases da vida de Maria Santíssima.
informações
iconográficas Aquelas referentes à Imaculada Conceição de Maria apresentam a Virgem ainda jovem, de cabelos longos soltos ou
com véu, vestindo túnica e manto que lhe cobrem todo o corpo, geralmente nas cores branca e azul. Ela se encontra
acima de um globo terrestre, rodeada de querubins, esmagando com os pés a serpente do pecado original. Pode ainda
ter na base o quarto crescente, alusão à dominação do oriente após a batalha de Lepanto. Quase sempre está de mãos
postas em postura de oração.
caracterização
O povoado de Tripuí, atualmente situado dentro de uma reserva ecológica, prepara-se para a festa de sua
padroeira. O sítio é caracterizado para a realização dos eventos, tanto na sua parte religiosa, quanto a parte de rua, que
conta com a barraca de comidas e bebidas. Na procissão de sábado, com a bandeira, as pessoas seguem o trajeto de
velas às mão, iluminando o caminho. No espaço de realização dos festejos de rua, em volta da barraca, monta-se uma
enorme fogueira para espantar o frio dessa época do ano. Esse espaço também é enfeitado com bandeirinhas, e ali é
encenada a quadrilha, numa típica festa junina. As pessoas trajam figurinos caipiras apropriados para a apresentação.
No domingo, o entorno da capela é enfeitado com flores e bandeiras, para que, por esse percurso, ocorra a procissão
com a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Os recursos para as festividades se resumem a doações arrecadas
pelos procuradores eleitos pela comunidade.
proteção legal Nenhuma
O início dos eventos relacionados à Festa de Nossa Senhora da Conceição, em Tripuí, ocorre no primeiro
informações
descritivas final de semana de julho. Antecedendo ao primeiro sábado desse mês, inicia-se, oito dias antes, a novena dedicada à
padroeira, para que o 9º dia coincida com o início do fim de semana festivo. A cada dia, as orações são realizadas na
casa de um dos moradores da localidade e no nono dia o terço é proferido na casa do mordomo da Festa de Nossa
Senhora da Conceição, pelos católicos da localidade: homens e mulheres; jovens, adultos e idosos. Após a reza, os
participantes dão início à procissão com a bandeira de Nossa Senhora da Conceição até o outeiro onde esta a capela
dedicada à santa. Anterior à procissão, é oferecido, pelos mordomos da festa e seus familiares, um lanche aos fiéis
página 141 I 148
presentes. O cortejo à flâmula é acompanhado por cânticos em louvor à santa. Na igrejinha realiza-se uma celebração,
encaminhada pelos próprios moradores. O objeto é hasteado, ao som de muitos foguetes, permanecendo ali por cerca
de uma semana. A simbologia do levantamento do mastro com a bandeira estampando a imagem da Nossa Senhora,
está relacionada com a marcação do seu espaço de influência sobre o povoado. Na parte mais baixa do território do
distrito, a música e a barraca montada atrai os jovens da região. Na noite de sábado uma tradicional quadrilha é
encenada em volta da fogueira. No dia seguinte, por volta de 13 horas, as atividades têm inicio com uma missa campal,
em frente à capela, durante a qual é executado o Hino Nacional. Um coral de crianças é eventualmente convocado a
abrilhantar a celebração. Sucede um leilão com as prendas arrecadadas pela comunidade. Uma procissão em volta da
capela, no percurso decorado com bandeiras e flores, é seguida por grande número de devotos. Durante o trajeto, o
cortejo é acompanhado por banda de música convidada e são entoados cânticos dedicadas a Nossa Senhora. Sob
salvas de palmas a imagem retorna ao improvisado altar, montado na entrada da capela. O ato final da parte religiosa da
festa, já no cair da tarde, acontece em seguida, quando Nossa Senhora da Conceição é coroada, por pequenas
meninas ouropretanas vestidas de anjos. No encerramento, o pároco lê a lista dos escolhidos procuradores, festeiros,
ornamentadoras e mordomos, responsáveis pela festa do ano seguinte.
O primeiro bem relacionado à festa é a imagem de Nossa Senhora da Conceição, em madeira e, que data do
bens
relacionados fim do século XVIII, ao estilo barroco. Segundo os relatos orais, a escultura da santa foi a única coisa que se salvou da
capela originária do povoado, incendiada criminalmente no final do século XIX. Recentemente, a efígie foi restaurada,
mas, por pedido da comunidade, ainda passará por processo de envelhecimento, para ressaltar-lhe a época de fatura.
O segundo elemento de relevância dos festejos é própria Capela de Nossa Senhora da Conceição, inaugurada no
mesmo local da primeira, em 1936, mas projetada em 1927. De traços bastante simples, tanto externa quanto
internamente, a igrejinha é a única construção religiosa do povoado e é ali que ocorrem ou para onde se convergem
todos os feitos sagrados do lugarejo.
intervenções
A festa de Nossa Senhora da Conceição, em Tripuí, não sofreu alterações significativas ao longo da sua
história, no que tange à sua programação. É possível apontar apenas a mudança na data de sua realização. Há mais de
vinte anos, ela acontece no mês de julho e não na data oficial de celebração à padroeira, 08 de dezembro. O desvio foi
solicitado pelos moradores, para que a participação no evento não fosse prejudicada pelas chuvas típicas de fim de
ano.
referências Bibliográficas
ALVES, José Benedito. Os Santos de Cada Dia. São Paulo, Paulinas, 1998.
CHAVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alan. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras,
cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003.]
CONTI, Dom Sevilio. O Santo do dia; Petrópolis:Vozes, 1984.
CUNHA, Maria José de Assunção. Iconografia Cristã. Ouro Preto: UFOP/IAC, 1993.
FORTES, Solange Sabino Palazzi. Ouro Preto conta Ouro Preto: tradições da Terra do Ouro. Ouro Preto/MG: 1996.
SANTIAGO, Camila Fernanda Guimarães. A Vila em Ricas Festas: celebrações realizadas pela Câmara de Vila Rica
(1711-1744). Belo Horizonte: FACE-FUMEC, C/Arte, 2003.
SOCIEDADE DAS CIÊNCIAS ANTIGAS, A Beatíssima Virgem Maria, in www.sca.org.br/LouvoreAcaodeGraças.pdf.
Orais
QUIRINO, Tereza de Paula. Entrevista: Tripuí, 02/07/2005
SIMÕES, José Feliciano. (Padre). Entrevista: Tripuí, 03/07/2005.
Eletrônicas
<http://www.cademeusanto.com.br>
<http://www.carmelitas.org.br>
<http://www.ouropreto.com.br>
<http://www.religiaocatolica.com.br>
<http://www2.uol.com.br/museus/artesacra/iconsra/apresenta/biodiret.html>
imagens Patrícia Pereira, 03 de julho de 2005.
Projeto elaborado em 1927
Programação
página 142 I 148
Capela do Tripuí
Povoado de Tripuí
Bandeira hasteada, frente e verso
Missa campal
ficha técnica
Adro da capela em dia de festa da padroeira
Coral “Querubins do Horizonte”
Coroação
levantamento
Guga Barros (Comunicação)
Guilherme Rodrigues (Sociologia)
João Paulo Lopes (História)
data
Patrícia Pereira (Arquitetura e Urbanismo)
Sandra Fosque Sanches (Diretora de Promoção Cultural da Secretaria
Municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto)
jul/2005
elaboração
Guilherme Rodrigues (Sociologia)
João Paulo Lopes (História)
data
ago/2005
revisão
Memória Arquitetura Ltda
data
jan/2006
página 143 I 148
Download

Tripuí - Festa de N. Sra. da Conceição