Formulação de Políticas Públicas para a Aglomeração de Software em Londrina Autoria: Marcia Regina Gabardo da Câmara, Maria de Fátima Sales de Souza Campos, Vanderlei José Sereia, Luiz Gustavo Antonio de Souza RESUMO O estudo realiza um diagnóstico do arranjo produtivo de software de Londrina-Pr, identificando as potencialidades e limitações, para propor políticas públicas para incrementar o desenvolvimento da aglomeração. Os procedimentos metodológicos envolveram uma revisão da literatura acerca dos arranjos produtivos no Brasil e uma pesquisa de campo com 25 empresas, realizada mediante entrevista pessoal com os sócios proprietários, e entrevistas com os atores envolvidos com o APL. O estudo permitiu caracterizar as empresas, as atividades produtivas e inovativas, os determinantes e barreiras à ação inovadora e à atividade exportadora no APL, a existência dos elos horizontais, verticais e multilaterais, o grau de desenvolvimento da governança e as sugestões de políticas públicas, de forma a acelerar a ação inovativa e o desenvolvimento do APL. A partir das entrevistas com os atores envolvidos, são recomendadas várias ações de políticas públicas para dinamizar o arranjo e potencializar o seu desenvolvimento. Foram identificados os gargalos produtivos e tecnológicos e analisados os fatores destacados na literatura para o sucesso do arranjo produtivo de software, de maneira a transformá-lo em um sistema local de inovações em software exportador a médio prazo. 1 1. Introdução A indústria de software, a eletrônica e as telecomunicações constituem o setor de eletroinfocomunicação, por estarem associadas às tecnologias de informação. Segundo Gutierrez e Alexandre (2004, p. 5), software é um “Conjunto de instruções e dados que permitem a um computador a realização de tarefas previamente programadas, seja por uma máquina (hardware) ou outros softwares”. Conforme Sommerville (2004, p.5) “[...] software não é apenas o programa, mas toda a documentação associada e os dados de configuração necessários para fazer com que esses programas operem corretamente.” O software integra várias cadeias produtivas e é um requisito necessário para o comando de equipamentos informatizados. O software é um insumo importante para o desenvolvimento da indústria eletro-eletrônica, mecânica, química, telecomunicações e para indústrias tradicionais que informatizam seus equipamentos (móveis, têxteis, etc.). Gutierrez e Alexandre (2004) comentam que há várias formas de classificar o software, além da classificação tradicional baseada no modelo de negócios, subdividida em três categorias: produtos, serviços e embarcados. Os produtos de software podem ser divididos em três categorias: infra-estrutura, ferramentas e aplicativos (classificação técnica). Também podem ser classificados quanto a: • inserção no mercado: horizontal, quando destinado a qualquer tipo de usuário e vertical, quando é destinado a uma atividade ou usuário específico. Também podem se caracterizar como produtos de massa e corporativos. • formas de comercialização: pacote, produtos padronizados, produtos customizados e sob encomenda. De acordo com Gutierrez e Alexandre (2004, p. 14), os serviços profissionais de Tecnologia da Informação (TI) compreendem: “consultoria, desenvolvimento de aplicativos (software sob encomenda), integração, treinamento, suporte técnico e manutenção, entre outros.” Eles podem ser classificados pelo método de compra: serviços discretos (de curto prazo) e outsourcing, que apresenta relações contratuais de longo prazo, metas de desempenho e requer troca de informações, coordenação e confiança entre as partes (KUBOTA, 2005). Finalmente, a última tipologia classifica os softwares como embarcados, pois está integrado a uma máquina, equipamento ou bem de consumo. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES (2005a) e a Associação de Desenvolvimento Tecnológico de Londrina – ADETEC (2005), Curitiba, Londrina, Maringá e Pato Branco apresentam excelentes perspectivas para o desenvolvimento desse segmento no estado do Paraná. Há no Paraná empresas com capacitação respeitável em tecnologias de software. Londrina, em particular, se destaca no panorama nacional como importante produtor nacional de bens e serviços de Tecnologia de Informação (TI), citando como exemplo as empresas: Jabur Informática, Exactus, Consystem, Softcenter, Mabtec, entre outras. A cidade de Londrina localiza-se no norte do Paraná e sua população segundo o Censo Demográfico 2000 do IBGE totalizou 447.065 habitantes (PML, 2006). A população foi estimada em 480.822 habitantes em 2004 pelo IBGE. A densidade demográfica de Londrina foi calculada em 259,21 hab/Km² (PML, 2006) e estimada em 291,26 hab/Km² (IBGE – Estimativa da População 2004). Segundo o SINE, os empregos estimados no setor formal totalizaram 103.227 (MTPS/SINE - 2003) e o PIB per capita alcançou R$ 7.624,00 (PML, 2006). Em 2003 havia em Londrina 1.847 estabelecimentos industriais (10,2%), 7.874 comerciais (43,3%) e 8.460 estabelecimentos do setor de serviços (46,5%). O setor serviços é responsável por uma parcela crescente do número de estabelecimentos, do emprego e da geração de impostos 2 (por exemplo: o ICMS arrecadado pelas atividades agropecuárias foram 8,5%, as atividades industriais 17%, o comércio 35% e outras atividades 39%). O IPARDES (2005a; 2005b; 2005c) realizou um estudo exploratório para identificar, a partir de dados secundários, as aglomerações industriais e de software existentes no Paraná e selecionar os estudos de caso. Para validar os resultados identificados no levantamento de dados secundários realizou visita a 35 cidades e contatou 131 empresas e 117 instituições. O APL de software de Londrina foi classificado pelo Ipardes (2005a; 2005c) a partir da metodologia de Suzigan et al. (2004a e 2004b) como vetor avançado, por reunir elementos que permitiram a caracterização estrutural preliminar como um arranjo produtivo local: as iniciativas dos próprios protagonistas, do agente Softex local ADETEC e dos elos multilaterais e horizontais identificados. O desenvolvimento da indústria de software, da eletrônica e das telecomunicações, segmentos que constituem o setor de eletroinfocomunicação, pode contribuir para ampliar a competitividade e produtividade do setor e da indústria de transformação em geral, ao fornecer serviços e produtos intensivos em tecnologia e capital humano. Sampaio (2006) destaca que o padrão da indústria de software brasileiro está voltado para o mercado interno, há forte presença de micro e pequenas empresas e seu desenvolvimento tem sido marcado pela presença de políticas públicas de fomento e de redes de apoio às empresas. Diante da sua importância, esta pesquisa procurou responder às seguintes questões: quais as características da indústria de software de Londrina? Pode-se afirmar que existe em Londrina uma aglomeração de empresas do setor e com grau médio de inovação e cooperação? Como ocorrem os processos de inovação e aprendizado pelas empresas do setor de software do município de Londrina? Verificam-se relações de cooperação e interação entre as empresas do setor e outras instituições locais? Com que intensidade? O ambiente local (estrutural, institucional e relacional) é propicio ao desenvolvimento de uma aglomeração produtiva inovativa de software? O desenvolvimento e a institucionalização do APL de software estão contribuindo para o desenvolvimento econômico regional? A partir dessas questões, o objetivo geral do estudo é analisar a dinâmica do arranjo produtivo de software de Londrina e seus determinantes. O artigo encontra-se dividido em 6 seções, incluída esta introdução. Na seção seguinte faz-se uma breve revisão de literatura sobre arranjos produtivos locais (APLs). Na seção três, apresentam os procedimentos metodológicos, na seção quatro, caracteriza-se o setor de software, na seção cinco discutem-se as contribuições das instituições visitadas e das empresas - principais atores - e na seção seis apresentam-se as recomendações de políticas públicas para potencializar o desenvolvimento do APL de software de Londrina. 2. A Importância dos Arranjos Produtivos Locais A relevância dos estudos de clusters ou APL’s, no Brasil, ganha fôlego a partir dos estudos de economias industrializadas e economias em desenvolvimento que superaram barreiras porque criaram movimentos internos de aglomerações espaciais de indústrias com ligações entre si. Albagli e Brito (2003) e Cassiolato e Lastres (2003; 2004) convergem em sua definição de clusters ou arranjos produtivos locais como sendo aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais cujo foco se encontra em um conjunto específico de atividades econômicas que podem apresentar vínculos mesmo que sejam incipientes. Os APL’s podem ser analisados sob vários aspectos do ponto de vista teórico e empírico. As principais abordagens da literatura sobre cluster são apresentadas a seguir. A nova geografia econômica, proposta por Krugman (1998), destaca que a aglomeração pode emergir de um 3 acidente histórico e da presença de economias externas acidentais e incidentais. A economia dos negócios de Porter (1998) enfatiza a importância da concentração das habilidades locais para as inovações comerciais e tecnológicas, incrementando a competitividade das firmas. A economia regional, com destaque para Pyke e Sengenberger (1992) e Markusen (1996), que abordam a tendência do capitalismo a se organizar em clusters e a presença do governo pode criar fortes vantagens competitivas regionais. A economia da inovação, segundo Audretsch (1998) enfatiza que a concentração geográfica das firmas aumenta suas capacidades de avanço tecnológico por criar um ambiente propício para a geração de conhecimento por existir várias pessoas com mútuo interesse num dado local, além do conhecimento tácito gerado pelo setor. O conceito de eficiência coletiva (SCHMITZ, 1995; 1997) parte do principio que as economias externas marshallianas são necessárias, mas não suficientes, para explicar o desenvolvimento e a competitividade de empresas aglomeradas. Schmitz (1997) ainda afirma que o conceito de eficiência coletiva extrapola a esfera produtiva em sentido estrito, uma vez que a cooperação entre firmas ou as ações de políticas públicas podem se dar também no âmbito tecnológico ou inovativo, ilustrado pela formação de consórcios de exportação, ações de marketing, compras conjuntas, entre outros. Surge um novo padrão onde se substituem os moldes da era industrial, baseado no conhecimento, embasado em novas práticas de produção, comercialização e consumo de bens e serviços, novos aparatos e instrumentais científicos e produtivos (CASSIOLATO e LASTRES, 2003). A concentração geográfica e setorial de firmas de pequeno e médio porte, em aglomerações produtivas pode permitir ganhos de escala, efeitos sinergéticos e competitividade. Segundo Cassiolato e Lastres (2003, p.11), os arranjos produtivos locais: “[...] são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes”. Em geral, envolvem a participação e interação de empresas como prestadoras de serviços, produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, entre outras. Incluem instituições públicas e privadas que formam a capacitação de recursos humanos (escolas técnicas e universidades), pesquisa, desenvolvimento e engenharia, política, promoção e financiamento. Para gerar inovações é necessária a aquisição e a difusão de conhecimentos. Segundo Foray e Lundvall (1996), há duas perspectivas na economia baseada no conhecimento, que não são mutuamente exclusivas. A primeira refere-se a identificar um setor separado que produz novos conhecimentos ou distribui informações. Na segunda perspectiva deve-se considerar a criação e difusão de conhecimento emanada de atividades rotineiras na vida econômica, e que toma a forma do aprendendo-fazendo, aprendendo-usando e aprendento-interagindo. Know-how e competências têm sido desenvolvidos interativamente e partilhados em redes (LUNDVALL, 2004). Edquist (2001) aponta as principais funções de um Sistema de Inovações (SI), que são, em primeiro lugar, produzir, difundir e usar inovações e podem ser supranacional, nacional e subnacional (regional, local), e podem ainda ser setoriais dentro dessas demarcações geográficas. As organizações e instituições são os componentes principais de um sistema de inovação, porém a especificação desses componentes varia entre os sistemas. Organizações são estruturas formais com um objetivo explícito e são criadas conscientemente. Instituições são conjuntos de hábitos comuns, rotinas, práticas estabelecidas, regras, ou leis que regulam as relações e inter-relações entre indivíduos e organizações. A cooperação intensa entre os agentes, “cooperação competitiva”, incrementa o desempenho industrial e maximiza a eficiência e a competitividade. Mytelka e Farinelli (2000) distinguem duas formas de cooperação entre firmas: vertical – estabelece relações entre firmas 4 que desenvolvem atividades complementares em diferentes estágios da cadeia produtiva; horizontal – ocorre entre empresas do mesmo porte, que atuam num mesmo segmento e pode envolver instituições de apoio. Entretanto, a cooperação entre os agentes é determinada por diversos fatores, entre eles a estrutura de governança. A governança em um cluster refere-se aos diferentes modos de coordenação, intervenção e participação dos diversos agentes, envolvendo o Estado em seus vários níveis, empresas, trabalhadores e organizações não-governamentais, nos processos de decisão locais e nas diversas atividades que envolvem a organização dos fluxos de produção. 3. Procedimentos metodológicos A literatura de metodologia destaca a existência de vários métodos para coletar e analisar a evidência dos dados empíricos e, cada um dos métodos apresenta vantagens e desvantagens. O método escolhido é o survey, que permite descrever o processo de obtenção de dados e informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, um questionário . Segundo Cooper e Schindler (2003) há três abordagens de comunicação que podem ser utilizadas na aplicação da survey: entrevista pessoal, entrevista telefônica e surveys autoadministradas por correspondência. Na presente pesquisa foi adotada a entrevista pessoal configurando a pesquisa de campo presencial. A pesquisa é de natureza exploratória, transversal e formal e visou caracterizar o arranjo produtivo de software de Londrina, classificado segundo IPARDES (2005c) como vetor avançado. A coleta de informações foi realizada a partir de um questionário de 74 questões, desenvolvido a partir da revisão de literatura. O cálculo e a análise do quociente locacional permitiu verificar a existência em Londrina de especialização produtiva no segmento de software, na área de informática (QL> 1,65) e na área de desenvolvimento de software (QL>1,16), conforme a metodologia proposta por IEDI (2002). Segundo dados da RAIS, em 2004, 149 empresas de Londrina estavam atuando em diferentes segmentos da informática, com geração de 826 empregos formais diretos. O Quadro 1 apresenta o cadastro de empresas do setor de Informática da Prefeitura Municipal de Londrina (PML) em 2005, universo a partir do qual foram selecionadas as empresas para a amostra da pesquisa. As empresas associadas ao Núcleo Softex Norte do Paraná também estão cadastradas na PML (2005), cujos códigos aparecem no Quadro 1. Segundo recomendação da nota metodológica do IPARDES (2005c), as empresas entrevistadas deveriam ser representativas quanto ao porte da empresa e ao desenvolvimento de software (produtos/serviços) na área da tecnologia de informação (TI). Desta forma, realizou-se um levantamento sistemático no cadastro das empresas da PML, das empresas da Plataforma de Tecnologia da Informação (PLATIN) e das empresas incubadas na Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da UEL (INTUEL) para selecionar a amostra. Foram selecionadas 25 empresas que afirmaram desenvolver atividades de software nas áreas de gestão, comercial, agrícola, industrial, educação, serviços e entretenimento. A pesquisa de campo teve início com o contato telefônico para verificar a existência da firma, sua localização e confirmação da área de atuação (desenvolvimento de software) e anuência para a participação na pesquisa. O setor é muito dinâmico e responde rapidamente aos estímulos do mercado e das políticas governamentais. Com a escassez de recursos financeiros, muitas firmas fecharam as portas no período pós-2000, quando o Projeto Softex se encerrou. 5 QUADRO 1 – Número de empresas do setor de informática com alvará de funcionamento da Prefeitura Municipal de Londrina em 2005 Código de Atividade 1218018 1218026 1218034 1218042 1218050 1218069 1218077 Seleção ATIVIDADE DESENVOLVIDA Análise e desenvolvimento de sistemas Programação Processamento de dados e congêneres Elaboração de programas de computadores , inclusive de jogos eletrônicos. Licenciamento ou cessão de direito de uso de programas de computação Assessoria e consultoria em informática Suporte técnico em suporte técnico em informática, incluindo instalação, configuração e manutenção de programas de computação e bancos de dados 1218085 não Planejamento, confecção, manutenção e atualização de páginas eletrônicas. 1218999 não Outros serviços de informática e congêneres Fonte: Prefeitura Municipal de Londrina, 2005. sim sim não sim não sim não Foram entrevistadas vinte e cinco empresas que desenvolvem softwares industriais, agrícolas, financeiros, de entretenimento, software de prateleira e sob encomenda e oferecem serviços diversos. Em todas as empresas pesquisadas o capital era 100% nacional e o tempo médio de funcionamento era de 10 anos. A empresa mais antiga iniciou as operações em 1970, mas 14 empresas foram fundadas a partir de 2000. Em relação ao porte, mensurado através da faixa de faturamento anual, 57% da amostra é formada por microempresas e 43% são empresas de pequeno porte. Foram entrevistadas todas as instituições que atuam junto ao APL de software de Londrina. As instituições de ensino superior de Londrina que ofertam cursos presenciais de graduação e especialização na área de informática são listadas no quadro 2. QUADRO 2 – Cursos superiores de graduação na área de informática em Londrina – 2006 Nome do Curso e Faculdade Descrição Diploma Conferido Data de início do funcionamento Prazo para integralização do curso Carga Horária Mínima do Curso Regime Letivo Oferta Ciência da Computação Curso Superior de Tecnologia em Processamento de Dados UNOPAR Tecnólogo Engenharia da Computação UNOPAR Engenheiro da Computação Metropolitana 04/03/1991 05/02/1990 01/09/1997 4 anos 6 Semestres 9 Semestres 3.642 horas/aula 2.400 horas/aula 3.600 horas/aula Anual Integral 40 Semestral noturno 90 UEL Bacharel Sistemas de Informação PUCPR Bacharel UNIFIL Bacharel 01/04/2001 18/02/2002 31/07/2001 8 Semestres 8 Semestres 4 anos 3.224 horas/aula semestral noturno 3.384 horas/aula semestral noturno 60 3.060 horas/aula anual noturno 100 Bacharel Anual semestralizado Matutino, Noturno Diurno: 90 Vagas Autorizadas 150 Noturno: 140 Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), 2006. Elaboração dos autores. 4. Caracterização do setor de software em Londrina Foram entrevistadas 25 empresas, com idade média aproximada de 10 anos. Entre as principais características das empresas destacava-se a sociedade limitada (88%) e o fato de serem empresas de capital 100% nacional. A atividade na área de desenvolvimento de software requer mão-de-obra qualificada e a maioria dos sócios possui formação superior (21). As formas de gestão predominante são a condução pelo sócio majoritário e a gestão profissional. 6 A escolaridade do sócio ao fundar a empresa era diversificada, com um grau elevado da qualificação. Predominam os sócios formados em Administração e Computação e vários possuem o título de Mestre. As empresas têm em média 3 sócios e a análise da auto-classificação do faturamento revela que 60% das empresas amostradas são microempresas, 36% pequenas empresas e 4% médias empresas. A média de idade dos sócios fundadores é inferior a 30 anos. Na atualidade, os sócios que iniciaram a firma com o segundo grau ou técnico não investiram na qualificação, ao contrário dos sócios que desenvolviam estudos superiores. Houve um esforço no sentido de realizar a qualificação formal. Os sócios entrevistados melhoraram a qualificação ao longo do período: 27% dos sócios têm Mestrado, 53% têm títulos de curso superior, 8% não finalizaram os cursos de graduação e 12% permaneceram com os estudos de nível médio. A maioria das empresas é dirigida pelos sócios majoritários (9), mas também se verificou a presença de gestão profissionalizada (7), gestão compartilhada pelos sócios (3) e menor grau gestão familiar (3). A situação dos pais dos sócios fundadores não foi um fator determinante da escolha do empreendedor. Com relação à ocupação principal do sócio fundador ao criar a empresa, verificou-se que a maioria atuava em empresas locais do APL de software (32%) e desenvolvia estudos universitários (24%). Por outro lado, verificou-se a presença de sócios que eram empregados em empresas de outras atividades (12%), realizavam a atividade de autônomos em informática (12%), entre outras atividades. A análise do perfil da mão-de-obra ocupada revelou um quadro diversificado. As 25 empresas ocupavam em 2005, 706 trabalhadores; 28,8% eram fixos e 68,4% eram terceirizados. A participação de trabalhadores com carteira assinada era de apenas 22,1%. Com relação às áreas de atuação da mão-de-obra ocupada, destaca-se que 53% atuavam em desenvolvimento; 23%, em suporte e manutenção; 11% em comercialização, 9,4% em gestão e 3,5% em marketing. As empresas de software estavam preocupadas com a qualificação da mão-de-obra: 84% das respostas destacaram a existência de acesso irrestrito à internet (monitoramento do Orkut e MSN), 76% realiza treinamento interno; 60% adquirem publicações e periódicos especializados, como Infoexame, livros científicos e didáticos e revistas científicas. A maioria das empresas estimula a absorção de universitários de cursos técnicos do próprio APL (52%) e dá incentivos à realização de cursos de graduação e pós-graduação (44%), com auxílio financeiro em alguns casos. A busca pela certificação é uma preocupação entre as empresas participantes (28%). 4.1 Estrutura produtiva, da forma de organização da produção e do sistema de comercialização das Empresas Visitadas As empresas desenvolvem atividades bem diversificadas, conforme a Tabela 1: controle de produção agrícola, industrial, serviços, games, logística, armazenamento, entre outors. As empresas entrevistadas utilizam uma gama diversificada de ferramentas, métodos e ambientes utilizados na engenharia de softwares. Quando possível, softwares livres são utilizados e ferramentas próprias são desenvolvidas; algumas empresas, inclusive, desenvolvem programas free. A maioria das empresas tem uma postura favorável à adoção de software livre em função da redução dos custos do produto ou serviço final, mas nem sempre é possível o desenvolvimento de novos produtos e serviços exclusivamente com sofwares livres. As formas de comercialização mais utilizadas são: contato direto (26%), indicação (16%), licenças de uso (12%); site na internet (10%), escritórios de representação (4%), locação de horas (8%) e software, projeto por escopo direto (8%) e banco de horas (8%), entre outros. 7 TABELA 1 - Estrutura produtiva das empresas que desenvolvem software -Londrina- 2004/05 PRINCIPAIS PRODUTOS ♦ Softwares ♦ Agrícola ♦ 2004 (A) 2005 (B) Número Absoluto Número Absoluto 1 2 Obs. Armazenamento e logística controle farmacêutico e psicotrópicos, ERP, softwares de palmtop para controle produção, Gestão financeira , segurança,rastreamento, folha de pagamento Games, educacional ,jurídico, construção civil, clínicas, Sercomtel/telecomunicações Industrial 2 8 ♦ Comercial/Gestão Financeira 7 15 ♦ Outros 14 21 ♦ Serviços ♦ Consultoria 4 8 ♦ Outros 15 21 Gestão de Requisitos Gestão de Processos Gestão de Configuração Rup Ms-Project Pressman CVS Pmbock Java Treinamento, páginas WEB Instrumentos utilizados na construção de software ♦ Processos ♦ Métodos ♦ Ferramentas Próprio Delphi Windows Linux Ms-Dos Híbrido ♦ Ambientes Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Obs.: as firmas podem utilizar um ou mais instrumentos no desenvolvimento dos softwares Todas as empresas fornecem produtos e serviços para a região do próprio APL de Londrina. Entre as empresas analisadas, 9 ofertam produtos e serviços somente para a região do APL (36%). O Paraná e os demais estados brasileiros são considerados destinos importantes para os produtos e os serviços de 18 empresas (72%). Quatro empresas exportam seus produtos/serviços, mas para a maioria delas as exportações representam menos de 10% das receitas totais. Os fatores determinantes para a entrada no mercado exterior foram: indicação de clientes acionais para clientes estrangeiros; convite para integrar produto ou serviço exportado por outra empresa; feiras de informática e instalação de empresa filial ou escritório de representação no exterior. Há dificuldade em encontrar parceiros para suporte e manutenção, levando à necessidade de formação de comitivas para conhecer os países e as instituições que operavam no mesmo ramo; há necessidade de recursos financeiros para apoiar o desenvolvimento dos produtos, as linhas de crédito disponíveis não são adequadas e o acesso é restrito. A área de atuação dos clientes é muito diversificada, pois as empresas atendem clientes do setor agrícola, do setor industrial e do setor de serviços. As empresas destacam os seguintes fatores enquanto barreiras para a exportação: a) serviço prestado não teria preço competitivo no mercado internacional; b) os produtos são adaptados às normas do mercado brasileiro; c) produto não competitivo com produtos de grandes empresas; d) necessidade de maturação do produto; e) falta de estrutura e suporte financeiros; f) necessidade de adaptação à legislação internacional (mercado para o qual será destinado o produto/serviço); g) falta de contatos para a realizar a venda do produto; h) software inadequado para o mercado internacional; e i) linhas de crédito e financiamento apropriadas . 8 Quatro empresas exportaram com sucesso seus produtos. O fator mais importante para a entrada no mercado exterior foi a indicação de clientes nacionais para clientes estrangeiros. Outros fatores destacados foram: o convite para integrar produto ou serviço exportado por outra empresa, as feiras de informática e a instalação de empresa filial ou escritório de representação no exterior, com menor intensidade. 4.2 Investimentos realizados em pesquisa, desenvolvimento e inovação pelas empresas Um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento do setor é a identificação das fontes de informação para inovações de processo e produto. As fontes mais freqüentes de inovação tecnológica são: catálogos, revistas e sítios especializados, especificações de clientes, vendedores, benchmark de serviços e produtos existentes e universidades e centros de pesquisa. Entre as fontes ocasionais destacam-se: visitas a feiras em outras regiões do país, visitas a feiras na região, funcionários que trabalharam em outras empresas e ocasiões sociais. A maioria das empresas lançou novos produtos e serviços entre 2003//2005, conforme os dados da tabela 2. Em 88% dos casos, os produtos ou serviços novos já existiam no mercado. Em 44% dos casos analisados, os produtos e serviços eram novos no mercado nacional e em 24%, caracterizavam-se como novos no mercado internacional. Em 66% dos casos, os processos adotados eram novos para a empresa, mas já existiam no mercado e em 44% revelaram-se inovadores para o setor. TABELA 2 – Inovações praticadas pelas empresas do APL de software de Londrina em produtos/ serviços e processos entre 2003 e 2005. Inovações em Produtos/ serviços 1. Inovações de produto/serviços 2. Produto novo para empresa, mas existente no mercado 3. Processos tecnológicos novos para a empresa, mas já existente no setor 4. Produto novo para o mercado nacional 5. Processos tecnológicos novos para o setor 6. Produto novo para o mercado internacional Importância 1. Ampliação da qualidade dos produtos/serviços 2. 3. 4. 5. Permitiu manter participação nos mercados de atuação Aumento de produtividade Ampliação da gama de produtos serviços Permitiu que a empresa abrisse novos mercados 6. Aumento de participação no mercado interno 7. Aumento de participação no mercado externo Fonte: Pesquisa de campo, 2006. Realiza Inovações Número 23 20 (%) 92 80 18 72 11 11 7 44 44 28 Alta Média Baixa Nula 18 4 1 2 14 13 12 7 7 8 1 1 2 3 4 3 10 9 0 5 12 4 2 1 2 8 2 19 Os indicadores de produtividade, qualidade, diferenciação, participação de mercado das firmas foram melhorados pela adoção de novos processos e lançamento de novos produtos e serviços no mercado regional, nacional e internacional. A maior importância foi verificada na ampliação da qualidade dos produtos/serviços e seis empresas destacaram a participação em programas de qualidade e certificação – CMM(2), MPS.br(4), ISO(1) - para credenciar-se no 9 mercado internacional. A importância no aumento de produtividade é alta para a maioria das empresas. As inovações ampliaram: a gama de produtos e serviços ofertados, o market share no mercado interno e a abertura de novos mercados. A maioria das empresas não adotou inovações organizacionais. Mas a adoção de inovações organizacionais permitiu mudanças significativas nos conceitos e ou práticas de comercialização, implementação de técnicas avançadas de gestão e programas de qualidade e certificação. Tais mudanças tiveram alta importância e contribuíram para a melhoria da qualidade dos produtos e serviços comercializados. A contribuição foi de média importância para o aumento da produtividade, para a manutenção ou aumento das parcelas de mercado interno das firmas. As inovações organizacionais permitiram a abertura do mercado externo e a ampliação dos mercados no Brasil. O impacto das inovações no lucro, na participação do mercado e na receita foi relevante para a maioria das empresas, permitindo a sobrevivência e a manutenção da parcela de mercado, mas sem mudanças nas receitas. Os canais de comercialização têm médio impacto na concepção e desenvolvimento de seus produtos. Destacam-se as recomendações de clientes, vendedores, revendedores e sítios na Internet (em menor grau para a maioria) entre outros canais. 4.3 Relações de parceria identificadas A existência de relações de parceria e capital social é um dos fatores determinantes do sucesso dos arranjos produtivos locais. As empresas destacaram a existência de parcerias e contratos de cooperação com outras empresas. As parcerias envolvem o desenvolvimento conjunto de um produto/serviço com responsabilidades, divididas entre os parceiros e ganhos compartilhados. (Gráfico 1). GRÁFICO 1 - Relações de parcerias realizadas pelas empresas para o desenvolvimento de produtos /serviços ComercializaçãoExterior 1% Qualificação MDO 2% Certificação 3% Comercialização-BR 6% Desenvolvimento 34% Outsourcing 54% Fonte: Pesquisa de campo, 2006. O número de parcerias realizado foi elevado: 157. Conforme o gráfico 1, 54% envolveram outsourcing (85); destacaram-se as parcerias de desenvolvimento (54); as parcerias para 10 comercialização no mercado interno (9); parceria para comercialização para exportação (2), parceria para qualificação de mão-de-obra (3) e parcerias envolvendo certificação (4). A maioria das parcerias foi muito bem sucedida. A análise enfocando o mercado permitiu verificar que 76,76% das parcerias se realizaram no próprio APL (142), 14,05% no Paraná (26), 2,16% no Brasil (4) e 7,03% no exterior , a maioria bem sucedida. Nas parcerias, as empresas podem atuar como subcontratantes e subcontratadas, através de acordos ou contratos de fornecimento regular e contínuo de módulos ou de componentes de programas ou outsourcing convencional. A maior parte da atividade está concentrada no APL e no Paraná. 4.4. Relações Interempresariais e Cooperação Multilateral As relações interempresariais são destacadas nos estudos de APL e clusters avançados e inovativos. As empresas desenvolvedoras de software de Londrina trocam idéias e discutem suas dificuldades ocasionalmente (60%). Apenas 20% das empresas realizam contatos com freqüência - a temática costuma envolver conversas sobre problemas de mercado e novas tecnologias. A maioria dos empresários interage socialmente com outras empresas do APL (92% ou 21 casos) e está associada a entidades de classe (14) - sindicato, associação social ou outra instituição relevante para o APL. Elas participam de entidades de classe que consideram importantes para o desenvolvimento da atividade, algumas inclusive participam de mais de 2 associações Platin/ADETEC, Assespro, Sintipar, ACIL, NGI, Gamenet e Consórcio Genorp/INTUEL. As empresas destacam a importância da contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no desenvolvimento regional e a necessidade de estimular o ensino e da pesquisa, além de definir objetivos comuns do APL e ações estratégicas para o futuro desenvolvimento. GRÁFICO 2 - Importância da contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no desenvolvimento das atividades do APL de software de Londrina Formação de acordos de parceria Organização de eventos técnicos e comerciais Estímulo ao desenvolvimento o sistema de ensino e pesquisa local Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das empresas Criação de fóruns e ambientes para discussão Apresentação de reivindicações comuns Prospecção sobre tendências de mercados e produtos Abertura de canais de comercialização(Mercado Externo) Abertura de canais de comercialização(Mercado Interno) Identificação de fontes e formas de financiamento Disponibilização de informações de hardware, aplicativos, assistência técnica Auxílio na definição de ações estratégicas(planejamento) Auxílio na definição de objetivos comuns ao APL 0% ALTA 10% MÉDIA 20% 30% BAIXA 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% NULA Fonte: Pesquisa de campo, 2006. 11 Para identificar a importância das instituições foram somadas as respostas assinaladas como de alta e média importância, cujo total deveria superar 45%. Conforme o gráfico 2 verificou-se que as empresas destacaram em ordem de importância: ♦ apresentação de reivindicações comuns; ♦ criação de fóruns e ambientes adequados à discussão; ♦ organização de eventos técnicos e comerciais; estímulo ao desenvolvimento do ensino e da pesquisa; estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local;identificação das formas e fontes de financiamento; e ♦ definição de objetivos comuns do APL; auxílio na definição de ações estratégicas. 4.5 Fontes de financiamento existentes no setor de Software de Londrina Para manter a competitividade, 96% das empresas realizaram investimentos para expansão e modernização no período 2004/2005, utilizando-se de recursos próprios em 80% dos casos. Também recorreram a recursos de bancos comerciais públicos, bancos e agências de desenvolvimento. Poucas empresas utilizaram recursos de outras fontes para a modernização. Identificou-se que a expansão e modernização financiada predominantemente recursos próprios ocorre em função da dificuldade de captar recursos de terceiros e seus custos relativamente elevados. O capital de giro foi financiado principalmente com o uso de recursos próprios, mas também foram utilizados empréstimos de familiares, de cooperativas de crédito, de bancos e agências de fomento e bancos públicos. As empresas têm demandas específicas de financiamento: aquisição de hardware, desenvolvimento de novos produtos, investimento nas plataformas para melhorar os softwares já existentes, abertura de novos mercados, abertura e fortalecimento de canais de comercialização, aquisição de hardware, licenças de software. As principais fontes e linhas de financiamento são: Progex, capital de giro da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, Proger Informática, FINEP, BNDES, Prosoft/FINEP-FIEP-Tecpar, PATME e SEBRAE. As dificuldades destacadas foram: exigência de garantias (20%), o excesso de burocracia (20%), as exigências dos bancos repassadores (9%), a inadequação de prazos (9%), a inadequação das taxas de juros (11%). Poucas empresas utilizaram benefícios fiscais de infra-estrutura ou outro para a instalação no município. 5. Contribuição das Instituições Visitadas As instituições visitadas foram: Departamento de Computação e Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Londrina (UEL); Departamento de Computação e Departamento de Engenharia de Software da Universidade Norte do Paraná (UNOPAR); Departamento de Computação do Instituto Filadélfia de Londrina (UNIFIL); Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da PUC/PR; Curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da Faculdade Metropolitana; Instituto de Desenvolvimento de Londrina (IDEL); Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica /UEL(INTUEL); Plataforma de Informática da associação para o desenvolvimento Tecnológico de Londrina PLATIN/ADETEC e SEBRAE. Na visão da PLATIN/ADETEC e das instituições de ensino, um dos principais gargalos é a frágil articulação entre universidade e empresa. Neste sentido, sugerem maior interação entre as empresas e instituições de ensino para dar espaço à demanda das empresas, ao mesmo tempo em que a universidade toma conhecimento dos novos requisitos que o mercado de trabalho impõe. De forma geral, as sugestões de políticas públicas são no sentido de ampliar os investimentos em infra-estrutura de telecomunicações, com a criação em Londrina de um Ponto 12 de Troca de Informação (PTT), que hoje é feito pela FAPESP em São Paulo, de forma a reduzir o custo e o tempo da troca de informação. As empresas apresentam dificuldades na inserção no mercado internacional. Assim, há necessidade de ampliar o alcance do PROGEX e outros incentivos para incrementar as exportações. Apontaram para a necessidade de compatibilizar os impostos pagos no município ao nível vigente no mercado nacional, por exemplo, reduzindo o ISS de 5% para 1,5% do faturamento da empresa. Outra sugestão envolve a ampliação do número de editais estaduais para a participação das empresas de software e a instalação de centros de desenvolvimento de software, a exemplo da FAPESP, que tem atraído naturalmente empresas de desenvolvimento em TI, pela elevada capacidade de geração de conhecimento. Entre as sugestões de políticas públicas, a INTUEL destacou o lançamento de editais pelo Fundo Paraná para a realização de investimento em capital fixo e equipamentos para incubadoras e editais para projetos que permitam o financiamento de itens de custeio, com contrapartidas das IEES. Sugere-se maior apoio da prefeitura e dos órgãos municipais para ação inovadora da INTUEL, via suporte de custeio, por exemplo, e maior envolvimento local. As questões que merecem destaque na aglomeração de software de Londrina são: a) fraca de governança local; b) disparidades salariais, que promovem a drenagem de cérebros e podem comprometer o futuro das empresas locais e seu grau de inovação; c) escassa valorização da mãode-obra; d) ausência de estímulo ao desenvolvimento das empresas de software instaladas no município; e) necessidade de uma política governamental para divulgar as vantagens do uso das tecnologias de informação, fator que incrementaria a produtividade e dinamizar a demanda por produtos e serviços de software; e f) estímulo adicional para a exportação de software. As instituições de ensino identificaram os seguintes problemas, a partir dos quais derivam sugestões de intervenção: a) falta de incentivo fiscal (municipal e estadual) para o desenvolvimento do software; b) necessidade de editais que contemplem a construção de instalações adequadas e a modernização e ampliação do parque de máquinas das IES; c) inexistência de articulação dos pólos de software e necessidade de recursos para a promoção de workshops para a troca de experiências; d) falta de incentivo governamental para a realização de parcerias entre empresas e instituições, notadamente entre as instituições de ensino privadas; e) ausência de uma política agressiva para obtenção de resultados de médio e longo prazos; f) necessidade de internet de altíssima velocidade ; g) escassa integração entre os centros universitários que desenvolvem mão-de-obra qualificada para o mercado de software; h) escassa colaboração universidade/empresa; i) ausência de mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas áreas da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de telecomunicações: software e hardware, camada física e superiores, protocolos etc; j) ausência de estímulos e de incentivos para as operadoras locais e empresas promoverem o desenvolvimento tecnológico, inclusive com linhas de financiamento com prazos maiores para amortização e juros mais baixos; k) carga tributária e elevados encargos sociais sobre a mão-de-obra especializada, muito utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos, processos e produtos tecnológicos em países líderes neste setor; 13 l) ausência de cultura empresarial, pois as empresas brasileiras não buscam efetivamente o desenvolvimento tecnológico e não investem nos talentos e competências técnicas nacionais. Logo, o Brasil é um país dependente e não desenvolve o conhecimento nas áreas de software e telecomunicações. As empresas e as instituições identificaram a restrição de recursos financeiros, a necessidade das empresas menores de realizarem parcerias para obter economias de escala e escopo e a necessidade de conhecer os mercados consumidores e dominar técnicas e instrumentos de comercialização e a necessidade de intercâmbio de informações entre os pólos de software. Os seguintes fatores foram destacados: a) falta de incentivo fiscal (municipal e estadual) para o desenvolvimento do software; b) necessidade de editais que contemplem a construção de instalações adequadas e a modernização e ampliação do parque de máquinas das IES; c) inexistência de articulação dos pólos de software e necessidade de promoção de workshops para a troca de experiências; d) necessidade de incrementar as parcerias; e ) política agressiva para obtenção de resultados de médio e longo prazos; f) necessidade de uma Internet de altíssima velocidade; g) maior integração entre os centros universitários que desenvolvem mão-de-obra qualificada para o mercado de software; e i) maior colaboração universidade /empresa. 6. Considerações finais A pesquisa identificou uma governança frágil, pautada na discussão de problemas e soluções para o APL de software e crescente participação e comprometimento dos atores para a promoção do desenvolvimento. A diversidade das atividades desenvolvidas pelas empresas e agentes locais é um fator que dificulta a governança local. Verificou-se a predominância de micro e pequenas empresas e as características da aglomeração - empresas inovativas e envolvidas em parcerias que reforçam elos verticais, multilaterais e em menor grau horizontais - favorecem o uso de instrumentos de políticas públicas para a promoção do desenvolvimento setorial e regional. As sugestões dos atores em prol da aglomeração de software no que tange às ações de políticas públicas são: a) abertura de editais governamentais para ampliar e atualizar os laboratórios de pesquisa das IES e incubadoras para superar a principal deficiência: espaço físico (construção), ampliação e atualização do parque de computadores; b) incentivos para o crescimento do mercado restrito de software no Paraná, como por exemplo software para o agronegócio e segmentos industriais (pacote e embarcado), games etc; c) estímulos financeiros ao nível municipal e estadual para a instalação e funcionamento de empresas de software, com redução do ISS, e taxas de juros reduzidas para a atualização do parque de máquinas das empresas; d) ampla divulgação das linhas de crédito específicas para o setor de software e assessoria na elaboração dos projetos, bem como ampliação do alcance do PROGEX e outros incentivos para incrementar as exportações; e) criação de um Ponto de Troca de Informação (PTT) de forma a reduzir o custo e o tempo da troca de informação das empresas instaladas em Londrina; f) estruturação de uma rede paranaense de alta velocidade para os institutos de pesquisa e UEL - internet de 2 GB - e estabelecimento de redes virtuais wirelless que beneficiariam as IEEs públicas e não somente o segmento de software. g) realização de eventos e wokshops no sentido de promover a qualidade do software e a qualificação das empresas de software paranaense, viabilizando recursos para o financiamento para certificação MPS-Br das empresas; 14 h) política contínua de qualificação dos docentes das universidades públicas e privadas; i) criação de mecanismos efetivamente atrativos para a concretização de parcerias entre as universidades e empresas, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico nas diversas áreas da tecnologia da informação (TI), notadamente os diversos setores de telecomunicações: software e hardware, camada física e superiores, protocolos etc. j) criação de incentivos para as operadoras locais e empresas promoverem o desenvolvimento tecnológico, inclusive com linhas de financiamento com prazos maiores para amortização e juros mais baixos; k) redução da carga tributária das empresas e dos encargos sociais sobre a mão-de-obra especializada, muito utilizada pelas empresas que desenvolvem novos conceitos, processos e produtos tecnológicos em países líderes neste setor. A iniciativa estimularia a contratação de mão-de-obra qualificada. l) Investimento em cultura empresarial, para que as empresas brasileiras busquem efetivamente o desenvolvimento tecnológico e invistam nos talentos e competências técnicas nacionais, possibilitando, em um cenário de médio prazo, que o Brasil torne-se um centro desenvolvedor de conhecimento nas áreas de software e telecomunicações; e. m) promoção de articulação e troca de experiências no APL de Londrina e entre os APLs de software do Paraná para estabelecimento de benchmarking e uma agenda comum de ação. 7. Referências ADETEC. APL Software de Londrina e região. Londrina: ADETEC, 2005. ALBAGLI, S.; BRITO, J.. Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Organizadores). Projeto Arranjos produtivos locais: uma nova estratégia de ação para o Sebrae. Coordenação geral: LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. RedeSist: fev. 2003. 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