Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE Onésimo Ferreira*, Ricardo Toguchi Caldeira Neste artigo é explicado o procedimento de controle de potência utilizado no enlace de subida de um sistema LTE. São apresentados o ponto de operação básico de malha aberta (open loop), a compensação dinâmica (dynamic offset) e o fator de largura de banda, que são mecanismos utilizados para compensar a perda por percurso, permitir o gerenciamento de interferências e possibilitar a adaptação da largura de banda e da vazão. Palavras-chave: LTE. Enlace de subida. Controle de potência. Qualidade de serviço. Malha aberta ou fechada. Introdução Neste artigo é analisado o procedimento de controle de potência do enlace de subida, um dos dois procedimentos fundamentais para o funcionamento eficiente do enlace de subida de um sistema LTE. No enlace de subida, o controle de tempo (timing control) é de fundamental importância para o modelo ortogonal de acesso mútiplo dentro de uma célula, enquanto o controle de potência (power control) é importante para manter a qualidade do serviço (Quality of Service – QoS), garantindo um tempo de vida aceitável da bateria do terminal (User Equipment – UE) e controlando a interferência intercelular. Após a análise teórica, são apresentados resultados práticos obtidos em um sistema LTE 450 MHz desenvolvido pelo CPqD, que servem para ilustrar e comprovar o funcionamento dos mecanismos de controle de potência no enlace de subida de um sistema LTE. 1 Controle de potência – Visão geral O controle de potência na transmissão do enlace de subida, em um sistema de comunicação móvel, serve para um importante propósito: equilibrar a energia transmitida por bit necessária para alcançar a QoS requerida. Esse mecanismo também permite minimizar a interferência de outros usuários do sistema e maximizar o tempo de vida da bateria do terminal móvel. Para isso, o controle de potência no enlace de subida tem de se adaptar às características do canal de propagação rádio, incluindo a perda de percurso, o sombreamento ou obstrução (shadowing) e o desvanecimento rápido, bem como a interferência de outros usuários – tanto dentro da mesma célula como de células vizinhas. Em um sistema LTE, o projeto do enlace de subida é basicamente ortogonal e, portanto, o gerenciamento da interferência intracelular não é tão crítico. Os principais mecanismos para variar a taxa de dados no enlace de subida em um sistema LTE são a variação da largura de banda transmitida e a variação do modelo de modulação e codificação (Modulation and Coding Scheme – MCS), sendo que a potência transmitida por unidade de largura de banda (isto é, a densidade espectral de potência, ou Power Spectral Density – PSD) pode permanecer aproximadamente constante para um dado MCS. A alocação rápida de recursos (scheduling) em um sistema LTE para diferentes terminais (UEs) é aplicada em intervalos de 1 ms. O sistema LTE permite grandes aumentos de potência (power steps), que não precisam ser periódicos, com um retardo de loop mínimo de 5 ms. Com essas considerações em mente, o esquema de controle de potência fornecido pelo sistema LTE emprega uma combinação de controle em malha aberta (open loop) e controle em malha fechada (closed loop). Essa combinação em teoria requer menos realimentação (feedback) do que um sistema puramente de malha fechada, já que a realimentação do sistema de malha fechada só é necessária para compensar casos em que a própria estimativa de ajuste de potência requerida feita pelo terminal (UE) não é satisfatória. Um modo típico de operação para controle de potência no sistema LTE envolve a criação de um ponto de operação para a transmissão por malha aberta, baseada na estimação da perda por percurso. Isso daria uma densidade espectral de potência (PSD) adequada para um MCS médio, considerando-se as condições de perda de percurso e de sombreamento. No sistema LTE, a PSD é definida como potência por bloco de recurso (Resource Block – RB). Entretanto, se múltiplos RBs são transmitidos por um UE em um subquadro (subframe), a potência por RB é a mesma para todos os RBs. Uma adaptação mais rápida pode, então, ser aplicada em torno do ponto de operação da *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE malha aberta através do controle de potência de malha fechada. Essa adaptação pode controlar a interferência e ajustar a potência de acordo com as condições do canal (incluindo o desvanecimento rápido). No entanto, por conta da natureza ortogonal do enlace de subida (uplink) do sistema LTE, o controle de potência em malha fechada no LTE não precisa ser tão rápido. A adaptação mais rápida e mais frequente das transmissões no enlace de subida é feita por meio das alocações de recursos (uplink scheduling grants), que variam a largura de banda de transmissão (e, por conseguinte, a potência total de transmissão), em conjunto com a definição do MCS, a fim de alcançar a taxa de transmissão de dados desejada. Com essa combinação de mecanismos, o sistema de controle de potência em LTE na prática fornece suporte para mais de um modo de operação. Ele pode ser visto como uma "caixa de ferramentas", a partir da qual as diferentes estratégias de controle de potência podem ser selecionadas e usadas de acordo com o cenário de desenvolvimento, a carga do sistema e a preferência do operador. Como dito anteriormente, o controle de potência no enlace de subida serve para controlar a potência de transmissão de diferentes canais físicos (Physical Uplink Shared Channel – PUSCH e Physical Uplink Control Channel – PUCCH), maximizar a cobertura e diminuir o consumo de potência. Resumidamente, as duas formas de controle de potência são descritas a seguir. 1.1 Controle de potência de malha aberta (open loop) O funcionamento do controle de potência de malha aberta é feito da seguinte forma: (eNodeB → UE): um bloco de informação de sistema (System Information Block – SIB) com informações de controle de potência do enlace de subida é enviado para especificar os parâmetros de controle de potência do enlace de subida; (UE): o terminal estima a perda de percurso do enlace de descida e a potência de transmissão do enlace de subida; (UE → eNodeB): a transmissão é realizada pelo terminal. O UE (terminal) estimará a perda de percurso do enlace de descida e se baseará na perda de percurso e nos parâmetros lidos no canal do enlace de descida (broadcast channel) para calcular a potência de transmissão do enlace de subida. Os parâmetros (controle de potência do enlace de subida no SIB 2), enviados no canal de descida (broadcast channel), incluem parâmetros 114 específicos da célula (alpha, tamanho do passo TPC ou Transmitter Power Control, P0NominalPUSCH, PzeroNominalPUCCH). 1.2 Controle de potência de malha fechada (closed loop) O funcionamento do controle de potência de malha fechada é feito do seguinte modo: (UE → eNodeB): o terminal transmite dados no enlace de subida no canal PUSCH; (eNodeB): a eNodeB mede a potência recebida dos UEs e a compara com a referência; (UE): o terminal ajusta a potência baseado na realimentação. O controle de potência de malha fechada requer realimentação da eNodeB. Quando o UE transmite, a eNodeB mede cada potência dos terminais. São feitas comparações com uma referência, e um comando é enviado para o UE. Os comandos são enviados em um parâmetro TPC no canal PDCCH. Comandos TPC no canal PDCCH (Physical Downlink Control Channel): ajuste de potência ∆PUSCH. 2 Funcionamento detalhado do controle de potência Fórmulas detalhadas de controle de potência estão especificadas no sistema LTE para o PUSCH, PUCCH e os SRSs (Sounding Reference Signals) (3GPP, 2008b). A fórmula para cada um desses sinais do enlace de subida segue os mesmos princípios básicos, e, embora pareça complexa, em todos os casos, ela pode ser considerada a soma de dois termos principais: (a) um ponto de operação básico em malha aberta derivado de parâmetros estáticos ou semiestáticos sinalizados pela eNodeB, e (b) uma compensação dinâmica (dynamic offset) atualizada de subquadro em subquadro: Potência por RB = ponto de operação básico em malha aberta + compensação dinâmica (1) 2.1 Ponto de operação básico em malha aberta (open loop) O ponto de operação básico em malha aberta para a potência de transmissão por RB depende de uma série de fatores, entre eles: a interferência intercelular e a carga da célula. Ele pode ser ainda dividido em: a) um nível básico semiestático, P0, composto por um nível de potência comum a todos os UEs na célula (medido em dBm) e uma compensação ou desvio específico por UE (UE-specific offset); Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE b) uma componente de compensação de perda de percurso em malha aberta. Diferentes níveis básicos podem ser configurados para as transmissões de dados no canal PUSCH, que são dinamicamente alocados (usando sinalizações no canal PDCCH) ou permanentemente alocados (usando sinalizações através do Radio Resource Control – RRC). Essa configuração, em princípio, permite diferentes pontos de operação de BLER (Block Error Rate) a serem utilizados em transmissões com alocações dinâmicas (dynamically scheduled) e em transmissões com alocações permanentes (persistently scheduled). Os diferentes pontos de operação de BLER podem ser utilizados para que a probabilidade de retransmissão em transmissões permanentemente alocadas seja menor, evitando assim a sobrecarga de sinalização no canal PDCCH associada com retransmissões dinamicamente alocadas, o que é consistente com o uso da alocação permanente para a entrega de serviços como VoIP com sobrecarga mínima de sinalização. A componente de compensação específica do UE (UE-specific offset) do nível básico P0 permite que a eNodeB corrija desvios sistemáticos na definição da potência de transmissão de um UE, como, por exemplo, desvios decorrentes de erros na estimação da perda de percurso ou na definição de potência de saída absoluta. A componente de compensação de perda de percurso é baseada na estimação da perda de percurso do enlace de descida (downlink), realizada pelo UE e que pode ser deduzida da medição da potência recebida do sinal de referência (Reference Signal Received Power – RSRP) e da potência de transmissão conhecida dos sinais de referência (Reference Signals – RSs) do enlace de descida, que são transmitidos pela eNodeB. A fim de obter uma indicação razoável da perda de percurso do enlace de subida, o UE deverá realizar uma filtragem da estimativa de perda de percurso do enlace de descida com uma janela de tempo (time-window) adequada, para remover o efeito do desvanecimento rápido, mantendo-se o efeito do sombreamento. Para um funcionamento eficaz, os comprimentos típicos de filtro estão definidos entre 100 e 500 ms. Para o PUSCH e o SRS, o grau em que a densidade espectral de potência (PSD) do enlace de subida está adaptada para compensar a perda de percurso pode ser definido pela eNodeB, numa escala que varia de “nenhuma compensação” a “compensação completa”. Essa adaptação é obtida por meio de um fator de compensação de perda de percurso, referido como α. Em princípio, a combinação do nível básico P0 e a componente de compensação da perda de percurso, em conjunto, permite que a eNodeB configure o grau em que o UE mede e responde à perda de percurso. Em um extremo, a eNodeB pode configurar o nível básico até o nível mais baixo (-126 dBm) e se basear inteiramente na medição da perda de percurso do UE para aumentar a potência próxima à borda da célula. Alternativamente, a eNodeB pode definir o nível básico para o maior valor, possivelmente em conjunto com apenas uma compensação parcial da perda de percurso. A faixa do nível básico P0 para o PUSCH (126 dBm até 23 dBm por RB) é projetada para cobrir toda a faixa de valores de SINR (Signal to Interference plus Noise Ratio) de interesse para diferentes graus de compensação de perda de percurso, larguras de banda de transmissão e níveis de interferência. Por exemplo, o maior valor de P0, +23 dBm, corresponde à potência máxima de transmissão de um terminal LTE que, normalmente, só pode ser utilizado se a compensação da perda de percurso não estiver sendo utilizada. O menor valor de P0 para o PUSCH, -126 dBm, é relevante quando a compensação total de perda de percurso é usada e as condições de transmissão e recepção no enlace de subida são ideais. Por exemplo, considerando-se uma transmissão de um único RB, com uma SINR-alvo na eNodeB de -5 dB (aproximadamente a menor SINR útil), recepção livre de interferências e uma figura de ruído de 0 dB para o receptor da eNodeB. O valor necessário de P0 é o nível de ruído térmico em um RB (180 kHz) menos 5 dB, o que resulta em P0 = -126 dBm. Em geral, a perda de percurso máxima que pode ser compensada (quer por P0 ou pela componente de compensação da perda de percurso) depende da SINR requerida e da largura de banda de transmissão. O fator de compensação fracional de perda de percurso α pode ser visto como uma ferramenta que negocia entre a equidade na alocação no enlace de subida e a capacidade total da célula. A compensação completa de perda de percurso maximiza a equidade para os UEs que estão na borda da célula. No entanto, quando se consideram várias células em conjunto como em um sistema, apenas o uso da compensação parcial da perda de percurso pode aumentar a capacidade total do sistema no enlace de subida, já que menos recursos são gastos para assegurar o êxito das transmissões dos UEs da borda da célula e menos interferência intercelular é causada às células vizinhas. Os fatores de compensação de perda de percurso em torno de 0,7-0,8 normalmente conferem ao enlace de subida uma capacidade de sistema próxima da máxima, sem causar degradação significativa na taxa de dados na borda da célula. A interferência intercelular é de particular interesse para os UEs localizados próximos à borda de uma célula, uma vez que os terminais Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 115 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE podem atrapalhar as transmissões nos enlaces de subida de células vizinhas. O sistema LTE oferece consequentemente um mecanismo de coordenação de interferência por meio do qual um “indicador de sobrecarga", que depende da frequência, pode ser sinalizado diretamente entre eNodeBs para avisar uma eNodeB vizinha de altos níveis de interferência no enlace de subida nos RBs específicos. A eNodeB vizinha, por conseguinte, pode reduzir a energia permitida por RB dos UEs que estão alocados nos correspondentes RBs da(s) célula(s). As eNodeBs também podem cooperar para evitar alocação de UEs das bordas da célula em células vizinhas para transmitir nos mesmos RBs. Em resumo, o ponto de operação básico para a potência de transmissão por RB pode ser definido como: Ponto de Operação Básico = P0 + α . PL, (2) onde α é o fator de compensação de perda de percurso, que permite o trade-off entre a capacidade total do enlace de subida e a taxa de dados na borda da célula, como discutido acima, e PL é a estimativa de perda de percurso. Para as baixas taxas do PUCCH (trafegando sinalização ACK/NACK e CQI), a compensação de perda de percurso é tratada separadamente em relação ao PUSCH, já que as transmissões no canal PUCCH de diferentes usuários são multiplexadas por divisão de código. A fim de proporcionar um bom controle da interferência entre os diferentes usuários e, consequentemente, maximizar o número de usuários que podem ser acomodados simultaneamente no PUCCH, é sempre utilizada a compensação completa da perda de percurso. Outro nível básico P0 também é fornecido para o PUCCH, diferente daquele utilizado pelo PUSCH. 2.2 Compensação dinâmica (dynamic offset) A parte de compensação dinâmica da potência por RB também pode ser subdividida em: a) uma componente dependente do MCS; b) comandos explícitos de controle de potência transmitida (TPC). Componente dependente do MCS (MCSdependent component) A componente dependente do MCS (mencionada nas especificações LTE como ∆TF, onde TF representa o formato de transporte) permite que a potência transmitida por RB seja adaptada de acordo com a taxa de dados transmitida. Idealmente, a potência de transmissão requerida para uma dada taxa de dados deve seguir o teorema de Shannon, de tal modo que: RN = log2(1 + SNR), 116 (3) onde RN é a taxa de dados normalizada por unidade de largura de banda, e pode ser calculada como o número de bits de informação por elemento de recurso (Resource Element – RE) no RB, denominado aqui BPRE (bits por RE), e SNR (Signal-to-Noise) é a relação sinalruído. As limitações práticas do sistema e do receptor podem ser modeladas através de um fator de escalonamento k: BPRE = (1/k) log2(1 + SNR). (4) Isso resulta em: Potência de transmissão necessária por RB = α .2(k • BPRE) – 1 (5) Um valor adequado, considerado para k, na compensação de potência dependente de MCS (MCS-dependent power offset) é de 1,25 (3GPP, 2008a). A componente dependente do MCS da definição de potência de transmissão pode agir como um comando de controle de potência, já que o MCS está sob o controle direto da alocação de recursos (scheduler) pela eNodeB. Alterando-se o MCS que o UE tem permissão para transmitir, a eNodeB pode aplicar rapidamente um ajuste indireto para a densidade espectral de potência de transmissão do UE através da componente dependente do MCS da definição de potência de transmissão. Essa manobra pode ser feita levando-se em conta o estado do buffer instantâneo e os requisitos de QoS do UE. A componente dependente do MCS pode também ser utilizada para permitir um elemento de controle de potência dependente da frequência, como nos casos em que os comandos de controle de potência explícitos (discutidos em mais detalhes a seguir) não são transmitidos com frequência e estão, portanto, observando apenas as características de desvanecimento de banda larga. Ao alocar um MCS de baixa taxa quando o UE recebe permissão para transmitir em uma determinada parte da banda, a eNodeB pode ditar uma potência de transmissão baixa naqueles RBs. Outra utilização para a componente dependente do MCS é nos casos em que o número de RBs do enlace de subida atribuídos a um UE em um subquadro não corresponde à taxa de dados desejada ou à SNR desejada. Um exemplo é permitir que a potência de transmissão seja reduzida se a quantidade de dados a serem transmitidos é menor do que a taxa suportada pelo canal rádio em um único RB. A componente dependente do MCS para o PUSCH pode ser ajustada para zero se não for necessária. Nesse caso, a modulação e codificação adaptativa (Adaptive Modulation and Coding – AMC) pode ser utilizada em seu lugar. O controle de potência dependente do MCS Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE também é particularmente relevante para o PUCCH, já que sua largura de banda para um UE não varia em função da quantidade de informação a ser transmitida num dado subquadro (variando de um único bit, para um pedido de scheduling ou ACK/NACK, até 22 bits, para duas palavras-códigos combinadas ACK/NACK e CQI juntos). Além disso, para o PUCCH, a amplitude da compensação de potência (power offset) para cada combinação de informação de controle pode ser ajustada semiestaticamente pela eNodeB, de modo a definir um ponto de operação adequado de taxa de erro para cada tipo de sinalização de controle. Essa compensação é análoga às diferentes compensações de potência que podem ser definidas em HSDPA (High Speed Packet Access) para sinalizações ACK/NACK e CQI, de acordo com a taxa de erro desejada pela rede. Comandos de controle de potência específicos por UE (UE-specific power control) A outra componente de compensação dinâmica corresponde aos comandos TPC específicos por UE. Eles podem operar em dois modos diferentes: a) comandos TPC cumulativos (disponíveis para PUSCH, PUCCH e SRS); b) comandos TPC absolutos (disponíveis apenas para PUSCH). Para o PUSCH, a troca entre esses dois modos está configurada de forma semiestática para cada UE através de sinalização RRC. Isso quer dizer que o modo não pode ser alterado dinamicamente. Com os comandos cumulativos TPC, cada comando TPC sinaliza um step de potência em relação ao nível anterior. Esse é o modo padrão e é particularmente adequado para as situações em que o UE recebe os comandos de controle de potência em grupos de subquadros sucessivos. Em um sistema LTE, são fornecidos dois conjuntos de valores de steps de potência: {-1, +1} dB e {- 1, 0, +1, +3} dB. A utilização de um dos dois conjuntos de steps de potência é determinada pelo formato dos comandos TPC e pela configuração RRC. O tamanho máximo do step de potência, que pode ser feito utilizando-se os comandos TPC cumulativos, é, por conseguinte, +3/-1 dB, mas o intervalo em que a potência pode ser ajustada em relação ao ponto de operação semiestático é ilimitado (exceto para os limites de potência máximo e mínimo de acordo com a classe de potência do UE). Os maiores steps de potência podem ser alcançados através da combinação de um comando TPC cumulativo com um step de potência dependente do MCS, alterando-se o MCS. O fornecimento de um conjunto de valores de steps de potência contendo um tamanho de step de 0 dB permite que a potência de transmissão permaneça constante. Desse modo, não se faz necessária a modificação da potência de transmissão toda vez que uma alocação de recursos (scheduling grant) for enviada. Essa característica é útil, por exemplo, em situações em que não é esperado que a interferência varie significativamente ao longo do tempo. Em contraste, a definição da potência de transmissão, que resulta de um comando TPC absoluto, não depende da sequência de comandos TPC que podem ter sido recebidos anteriormente; e o nível de potência de transmissão depende apenas do comando TPC absoluto mais recentemente recebido, que sinaliza, independentemente, uma compensação de potência relativa ao ponto de operação semiestático. O conjunto de compensações que podem ser sinalizadas por comandos TPC absolutos é {-4, -1, +1, +4} dB. Assim, o modo de controle de potência absoluto só pode controlar a potência dentro de uma faixa de ±4 dB a partir do ponto de operação semiestático. Esse modo é, portanto, bem adequado para situações em que o scheduling de transmissões no enlace de subida do UE é intermitente; um comando TPC absoluto permite que a potência de transmissão do UE seja ajustada a um nível apropriado em uma única etapa (step), após cada gap da transmissão. (O modo TPC absoluto pode ser visto como uma forma de sobrecarga baixa para ajustar a compensação específica por UE (UEspecific offset) na componente de nível básico do ponto de operação semiestático.) 2.2 Definindo a potência de ajuste total Finalmente, para o PUSCH e o SRS, a potência total de transmissão do UE em cada subquadro é ampliada linearmente a partir do nível de potência deduzido do ponto de operação semiestático e da compensação dinâmica, de acordo com o número de RBs efetivamente alocados para transmissão do UE no subquadro. Assim, a equação geral de controle de potência é: Potência de Transmissão do UE = (P0 + α . PL) + [∆TF + f(∆TPC)] + (10 log10 M), (6) em que a primeira parcela é referente ao ponto de operação básico de malha aberta, a segunda parcela é referente à compensação dinâmica e a terceira parcela representa o fator de largura de banda. Além disso, ∆TPC indica um comando TPC, f (•) representa a acumulação, no caso dos comandos TPC cumulativos, e M é o número de RBs alocados. Essa fórmula geral de controle de potência permite que a potência de transmissão do UE seja controlada com uma precisão de 1 dB dentro de um intervalo definido pelos requisitos Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 117 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE 3 Resultados experimentais Para os testes realizados no setup de referência da solução LTE 450 MHz do CPqD, foram utilizados os seguintes parâmetros: ulResBlocks = 25 (RBs) ulBandwidth = 5 MHz P0 Nominal PUSCH = -83 Pzero Nominal PUCCH = -96 Alpha = 7 (100% da perda de percurso) Variação da atenuação = de 74 até 128 dB. A Figura 1 mostra a vazão (throughput) no enlace de subida (canal PUSCH), em função da atenuação. Embora o terminal consiga conectarse à rede com até 118 dB de atenuação, uma vez conectado, o tráfego no uplink pode atingir uma atenuação de até 128 dB. Vazão no Enlace de Subida vs. Atenuação -124 +23 = -101 Para finalizar, a Figura 3 apresenta o indicador de intensidade do sinal recebido (Received Signal Strength Indicator – RSSI) em função da atenuação. O RSSI é definido como a potência de banda larga total recebida pelo UE. O RSSI é a energia total observada pelo UE a partir de todas as fontes, incluindo ruído térmico e interferência de canal adjacente. A Figura 4 apresenta a potência recebida do sinal de referência (Reference Signal Received Power – RSRP). Potência Tx por RB vs. Atenuação 40 20 0 ‐20 ‐40 70 80 90 100 Atenuação (dB) 110 120 Figura 2 Potência Tx por RB (dBm) vs. Atenuação (dB) 10 8 RSSI vs. Atenuação 6 4 ‐60 2 ‐70 0 70 80 90 100 110 Atenuação (dB) 120 RSSI Vazão no Enlace de Subida (Mbps) Tabela 1 Cálculo da sensibilidade da eNodeB Potência de Tx por RB (dBm) de desempenho aplicáveis para o UE, tipicamente -50 dBm a 23 dBm (esse intervalo corresponde a uma potência de transmissão máxima de 0,2 W). A potência de transmissão máxima de UEs numa célula pode ser limitada a um nível inferior, através da sinalização RRC. Para o SRS, uma compensação semiestática (semi-static offset) adicional pode ser configurada através da sinalização RRC. 130 ‐80 ‐90 ‐100 ‐110 70 80 Figura 1 Vazão no enlace de subida (Mbps) vs. Atenuação (dB) b) potência de transmissão do UE: 23 dBm; 100 110 120 Atenuação (dB) Figura 3 RSSI vs. Atenuação (dB) RSRP vs. Atenuação ‐80 ‐90 RSRP A Figura 2 fornece os valores de potência de transmissão por RB para os canais físicos do uplink (PUCCH e PUSCH) em função da variação da atenuação. Conforme podemos verificar, a potência máxima do terminal é 23 dBm. A fim de calcular a sensibilidade da eNodeB, o tráfego de dados foi enviado apenas no enlace de subida. Os resultados obtidos foram os seguintes: a) atenuação total: 124 dB; 90 ‐100 ‐110 ‐120 ‐130 70 80 90 100 110 120 Atenuação (dB) c) sensibilidade da eNodeB: -101 dBm. Figura 4 RSRP vs. Atenuação (dB) 118 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 Procedimentos de controle de potência no enlace de subida (uplink) de um sistema LTE Conclusão Uma variedade de graus de liberdade está disponível para o controle de potência no enlace de subida do LTE. É provável que nem todos os parâmetros sejam usados ativamente em cada implementação de rede, mas cada implementação irá selecionar um modo de controle de potência adequado para o cenário ou estratégia de alocação de recursos. Um modo típico de operação seria definir o ponto de operação semiestático (via P0) e a compensação de perda de percurso (através do fator α) para obter pelo menos a SINR necessária na eNodeB e a QoS requerida em cada UE, compensando a perda de percurso e sombreamento (shadowing) de banda larga. Um maior controle para o gerenciamento de interferência e adaptação de taxa pode ser exercido por meio de scheduling no domínio da frequência e de adaptação da largura de banda. Adaptação de largura de banda também pode ser utilizada, em conjunto com a mudança do MCS, para definir diferentes pontos de operação da BLER para diferentes processos HARQ (Hybrid Automatic Repeat Request). Finalmente, as compensações dinâmicas de potência de transmissão (dynamic transmission power offsets) podem ser usadas para conferir um grau de controle, por meio das compensações dependentes de MCS (MCSdependent offsets) e das correções de malha fechada usando os comandos TPC explícitos. Na prática, os problemas de implementação devem considerar a precisão necessária com que um UE deve estabelecer a sua potência de transmissão e a velocidade que esta potência de transmissão deve ser mudada. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio dado a este trabalho, desenvolvido no âmbito do Projeto RASFA – Redes de Acesso Sem Fio Avançadas, que conta com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL), do Ministério das Comunicações, através do convênio no 01.09.0631.00 com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Referências 3rd GENERATION PARTNERSHIP PROJECT (3GPP). Ericsson, R1-080881: Range and Representation of Delta_MCS. 3GPP TSG RAN WG1, meeting 52, Sorrento, Italy, February 2008a. Disponível em: <http://www.3gpp.org/DynaReport/TDocExMtg— R1-52--26784.htm>. Acesso em: 01 ago. 2013. ______. Technical Specification 36.213: Evolved Universal Terrestrial Radio Access (E-UTRA); Physical Layer Procedures (Release 8). 2008b. Disponível em: <http://www.3gpp.org/DynaReport/36213.htm>. Acesso em: 01 ago. 2013. Abstract In this article it is explained the uplink power control procedure in LTE systems. It is presented the basic point of operation in open loop, the dynamic compensation in closed loop and the bandwidth factor, which are the mechanisms used for the path loss compensation, to manage interference and to enable the throughput and bandwidth adaptation. Key words: LTE. Uplink. Power control. Quality of service. Open or closed loop. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 9, n. 2, p. 113-120, jul./dez. 2013 119