O ENSINO DA MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO COM O USO DE BLOGS THE TEACHING OF MATHEMATICS IN HIGH SCHOOL WITH THE USE OF BLOGS Isabel Cristina Rörig Saviscki1 Resumo O ensino da matemática compõe-se de ideias, métodos e procedimentos que são utilizados para analisar e resolver situações problemas e raciocinar, bem como para representar e comunicar. Esta área do conhecimento está intimamente ligada às inovações tecnológicas desafiando o modo de pensar, baseados na simulação, na experimentação e em uma nova linguagem que envolve escrita, oralidade, imagens e comunicação instantânea. Buscando modos diferentes de realizar o estudo da matemática com os estudantes do Ensino Médio, este artigo pretende discutir as possibilidades de permear o ensino presencial com os recursos que a educação a distância (EaD) sustenta. Para tanto, apresentamos os resultados do uso de um blog no ensino de trigonometria na 2ª série do Ensino Médio, destacando o processo de produção do conhecimento individual e coletivo, bem como a autonomia quanto a lugar e tempo disponível para realizar as tarefas educacionais através dos ambientes virtuais. Palavras-Chave: Tecnologias, Educação a distância, Ensino de Matemática. Abstract The teaching of mathematics consists of ideas, methods and procedures that are used to analyze, ratiocinate and solve the problem situations as well as to represent and communicate. This knowledge area is closely linked to technological innovations, thus it challenges the way of thinking, based on simulation, experimentation and a new language that involves writing, orality, images and instant communication. Searching for different ways to perform the study of mathematics with high school students, this paper intends to discuss the possibilities to permeate the classroom learning with technologies distant education. So we present the results of using a blog in teaching trigonometry in the 2nd grade of high school, to highlight the 1 Graduadaem matemática pela Unijuí e especialista Latu Sensu em Tecnologias Pedagógicas para Educação da FAE de Erechim – RS. E-mail: [email protected] Professora do Ensino Médio Instituto Anglicano Barão do Rio Branco e do Colégio Estadual Professor Mantovani de Erechim –RS. Orientadapela Dr(a) Adriana Richit, e-mail: [email protected] production process of individual and collective knowledge and autonomy about place and time available to accomplish the educational tasks through virtual environments. Keywords: Technology - Distance education - Mathematics teaching. 1 INTRODUÇÃO O uso de tecnologias está diretamente relacionado às definições de nossa identidade social. Somos educados no meio familiar adquirindo conhecimentos, hábitos, atitudes e habilidades por meio desses recursos. São muitas criações que a engenhosidade do cérebro humano conseguiu criar em todas as épocas que ajudam a espécie humana a viver mais e melhor. As descobertas tecnológicas transformam a maneira de sentir, pensar e agir do ser humano caracterizando sua evolução social (KEKSKI, 2007). Observamos na atualidade o surgimento de uma nova sociedade tecnológica determinada principalmente pelos avanços das tecnologias de comunicação e informação (TIC), alterando as qualificações profissionais e a maneira como as pessoas vivem cotidianamente, como trabalham e se comunicam com outras pessoas e o mundo (LÉVY, 1993). O poder de se comunicar instantaneamente possibilita que se produzam novas tecnologias com mais rapidez, possibilitando maior acesso às técnicas de utilização tornando seu uso simples, de fácil aprendizagem. Este novo momento social que compreende novas tecnologias a todo instante exigindo atualização permanente requer mudanças educacionais. Se faz necessário alterar as formas tradicionais de pensar e fazer educação, considerando que esta é indissociável das tecnologias. Aliando a educação presencial à educação a distância estaremos oportunizando situações significativas onde o aluno passa a utilizar a internet na produção de conhecimentos e não somente para lazer. A esse respeito, pesquisadores em educação matemática têm enfatizado as possibilidades advindas à educação a distância aos processos de produção de conhecimento. Nessa perspectiva, Borba e Santos (2005, p. 298 e 299) comentam que, Com o crescimento da comunicação baseada na internet, em particular da EAD, uma reorganização torna-se relevante. Quando o processo ocorre de maneira híbrida, ou seja, divide-se em presencial e a distância, as dúvidas de qualquer natureza que surgem durante a interação podem ser esclarecidas nos momentos presenciais. [...] Essa nova modalidade de ensino possibilita que pessoas localizadas fisicamente em diversos lugares possam trocar ideias, experiências e elaborar projetos conjuntos que, sem essa flexibilidade da EAD, tornar-se-iam bem mais difíceis [...] 2 Ao mesmo tempo em que as tecnologias digitais, através dos recursos da EaD, ampliam os horizontes dos alunos elas possibilitam um melhor gerenciamento do tempo disponível que temos para desenvolver os conteúdos programáticos do ano escolar. Levando em consideração esse cenário, nos motivamos a propor atividades de estudo com o conteúdo de trigonometria, desenvolvido na 2ª série do Ensino Médio, abarcando momentos presenciais e a distância por meio dos recursos tecnológicos de informação, gerenciados pelo uso de um blog criado para este fim. Com a realização destas atividades buscamos investigar as possibilidades de utilização dos espaços virtuais nos processos de ensino e aprendizagem da matemática com estudantes do Ensino Médio. Nos momentos presenciais foram realizadas atividades de resolução de exercícios de sondagem sobre o conteúdo, com ênfase aos conceitos que os alunos apresentavam dúvida. Em seguida foi organizada a atividade de pesquisa extraclasse, através da internet, em que os estudantes buscaram informações históricas, aplicações e curiosidades sobre o tema. Depois de postados os resultados da pesquisa sobre a história, origem, pensadores e suas obras, instrumentos de medidas e utilização da trigonometria no blog, todos os grupos da turma foram incentivados a conhecer os trabalhos de seus colegas e postar comentários que evidenciem fatos relevantes observados. Posteriormente, em atividades realizadas a distância, os grupos visitaram o blog, tomando conhecimento do conteúdo lá disponibilizado. Além disso, foram convidados a resolver uma situação problema sobre os fundamentos da trigonometria, a qual havia sido postada pela docente. As soluções propostas foram enviadas para moderação, onde foram revisadas antes da postagem final. Assim, o presente artigo propõe uma reflexão sobre as possibilidades do uso de blogs no estudo de conceitos matemáticos no Ensino Médio, enfatizando a relevância de associar atividades realizadas na modalidade a distância às atividades presenciais. Essa articulação fomenta mudanças metodológicas nos processos e ensino e aprendizagem da matemática. 2 TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: POSSIBILIDADES PARA INOVAÇÕES METODOLÓGICAS A apropriação de conhecimentos ocorre sempre que buscamos novas informações, almejamos mudanças ou buscamos conhecer. Portanto, ela não acontece somente no espaço oficial da escola, mas sim, manifestando-se nas relações familiares, através dos meios de comunicação, amigos, igrejas, empresas, internet, etc. Nessa dinâmica de interação todos 3 conhecemos na medida em que compartilhamos experiências, pressuposto esse que permeia os processos educativos escolares e acadêmicos (RICHIT, 2010). Nessa perspectiva Moran (2007, p.17) entende que, Educação é a soma de todos os processos de transmissão do conhecido, do culturalmente adquirido e de aprendizagens de novas ideias, procedimentos e soluções desenvolvidos por pessoas, grupos, instituições organizada ou espontaneamente formal ou informalmente. Além disso, com as mudanças sociais e tecnológicas se faz necessário uma ampliação de ambientes, principalmente para o virtual, visando assegurar uma educação de qualidade e em sintonia com as inovações recentes. Assim, os processos educativos escolares priorizarão o desenvolvimento integral dos jovens, associando o conteúdo escolar com a vivência de outros espaços de aprendizagem, bem como aproximando e contextualizando os conteúdos de maneira a fazer sentido, ter significado para a vida. Desse modo, o professor pode aproximar-se dos estudantes que dispõem de conhecimentos sobre novas tecnologias e ambientes digitais, os quais foram adquiridos no contexto das suas vivências. Schlemmer (2010, p.10) afirma que “os sujeitos que nasceram a partir da década de 80 cresceram numa sociedade imersa em todo tipo de tecnologias digitais (TDs), conectada por diferentes tipos de redes”. Contudo, a incorporação dessas tecnologias digitais na prática docente suscita mudanças metodológicas na maneira de promover o ensino em sala de aula, além do que requer do professor experiências acerca do uso desses recursos e atitudes de inovação em relação à prática de sala de aula. Para isso, de acordo com Richit (2010), o projeto político pedagógico das escolas deve ser aberto a mudanças, uma vez que precisa preconizar o desenvolvimento de práticas pedagógicas pautadas no uso de recursos diversos, tais como as tecnologias de informáticas. Sobre isso Moran (2007, p.18) comenta que “bons professores são a peça chave na mudança educacional”. Se tivermos professores curiosos, entusiasmados, abertos, que usem a motivação e o diálogo, que valorizem as diferenças, poderemos ter mudanças na educação. No entanto não apenas os professores são responsáveis pela implantação de mudanças na educação. Estudantes, pais, administradores, diretores, coordenadores, todos tem responsabilidade nesse processo de mudança (KENSKI, 2003). O desafio é desenvolver condições para uma educação que integre todas as dimensões do ser humano: o sensorial, o intelectual, o emocional, o ético e o tecnológico, demonstrando nas palavras e ações que se 4 está evoluindo, mudando, avançando. Por meio de tal educação formam-se estudantes autônomos, críticos e reflexivos. Formar alunos reflexivos, que valorizem o exercício da criatividade, que tenham iniciativa na tomada de decisões, que sejam autônomos e que sejam críticos constitui-se no objetivo principal da educação escolar (ZUIN, 2006). Para tanto, esse objetivo deve constituir-se em um dos principais da prática docente, independente da área do conhecimento. No que se refere à matemática, área do conhecimento em que as inovações tecnológicas estão cada vez mais presentes, tais objetivos tem modificado a prática do professor, devido às possibilidades que surgem a partir do uso desses recursos nas práticas de sala de aula. Sobre isso, Borba (2002) comenta que as tecnologias de informação e comunicação constituem-se em uma nova extensão de memória, com diferenças qualitativas em relação às outras tecnologias da inteligência e que permite que a linearidade de raciocínio seja desafiada por modos de pensar, baseados na simulação, na experimentação, e em uma nova linguagem que envolve escrita, oralidade, imagens e comunicação instantânea (p.138). As tecnologias de informação e comunicação hoje fazem parte da vida cotidiana das pessoas. Do mesmo modo, estudantes e professores utilizam as tecnologias nas mais diversas atividades profissionais. Assim, dificilmente professores se deparam com alunos que não possuem Orkut, MSN, Facebook, Twitter, e-mail, que não acessem vídeos do youtube, etc. Além disso, os programas de inclusão digital para alunos de escolas públicas já vem sendo implantados e produzindo mudanças no modo de estudar dos alunos. Nesse novo cenário, o acesso à internet tem possibilitado novas formas de ensinar e aprender, motivado novas práticas pedagógicas e ampliado os processos de avaliação na escola. Igualmente, tem sinalizado resultados positivos nos programas oficiais de avaliação da educação, como as provas do SAERS2, SAEB3 e ENEM4. Do mesmo modo, a internet pode ser vista como um recurso que, por sua vez, permite o acesso a muitos outros. Permite a divulgação de produções próprias, sejam textos, imagens, sequências ou vídeos. Oportunizando recursos como applets e simuladores, jogos eletrônicos, tais como o Role Playing Game Virtual (RPG Virtual), disponibilizando serviços comerciais, financeiros e educacionais diversificados, entre outras coisas. Analogamente, o uso das tecnologias possibilita diferentes modos de apropriação de conhecimento (RICHIT, 2010). 2 Sistema de avaliação externa de Aprendizagem. Sistema de avalição da Educação Básica. 4 Exame Nacional de Ensino Médio. 3 5 A sociedade atual requer que os sujeitos sejam autônomos, reflexivos e criativos, então, novos modos de ensinar e aprender torna-se necessário. Nesse contexto, a articulação do ensino presencial à educação a distância tem ganhado espaço e sinalizado mudanças em termos da qualidade das interações entre sujeitos. As possibilidades que vislumbramos na EaD vão além da superação da distância geográfica. Consideramos que essa modalidade de educação fomenta a iniciativa pela busca de conhecimento, contempla as diferentes necessidades de tempo e ritmo de trabalho, propicia a construção colaborativa de conhecimento, favorece o gerenciamento do tempo e das atividades dos envolvidos em um processo, bem como, motiva o desenvolvimento cultural. A palavra autonomia vai desenvolvendo novos avatares e hoje parece ser a palavra de ordem das propostas de educação a distância, pois o principal objetivo é o de facilitar o desenvolvimento da chamada aprendizagem autônoma. Neste tipo de aprendizagem, o professor precisa assumir-se como recurso do aluno, uma vez que tal processo é identificado e se identifica como indivíduo autônomo e administrador de conhecimentos adquiridos (ZUIN, 2006, p.946). Com as possibilidades propiciadas pelos recursos da EaD, o professor passa a ter uma nova postura, a de motivador, gerenciando os conhecimentos adquiridos e também de participante do processo de aprendizagem, permitindo que o aluno tenha liberdade de organizar o seu tempo e decidir sobre a profundidade de conhecimento que quer alcançar. Experiências educacionais diversas sugerem que estudantes motivados aprendem melhor por meio do uso de recursos das tecnologias de informação e comunicação. Para tanto, é necessário que o professor utilize diferentes recursos, combinando-os com as atividades educativas, visando facilitar o diálogo, a discussão, a investigação e a reflexão. Através de blogs, chats, fóruns, por exemplo, é possível aproximar os nativos digitais5 às informações necessárias, tornando o processo de aprendizagem significativo para o estudante. Com a utilização de blogs –que são páginas interativasde fácil utilização para professores e estudantes, que viabilizam educação à distância, permitindo que o estudante gerencie seu tempo e local de estudo, construa o conhecimento de forma colaborativa, seja estimulado a comunicar-se através da leitura e escrita – , pode-se estudar conceitos matemáticos diversos, possibilitando a interlocução entre estudantes de diferentes turmas, 5 Nativos digitais são os novos sujeitos da aprendizagem, pessoas nascidas num mundo altamente tecnologizado, em rede, dinâmico, rico em possibilidades de acesso à informação, à comunicação, à interação. Para os “nativos digitais”, as tecnologias digitais estão sempre presentes, imbricadas nas suas ações, eles vivem e pensam com essas tecnologias. Elas estão na forma como eles se comunicam, se relacionam com os demais sujeitos e com o mundo, fazem parte das experiências construídas no seu viver e conviver (SCHLEMMER, 2010, p. 334-335). 6 bem como propiciando debates sobre os temas abordados e o aprofundamento do conhecimento sobre o assunto focado. É nessa perspectiva que sugerimos o uso de blogs no estudo de conceitos matemáticos no ensino médio, como uma forma de propiciar diferentes modos de ensinar e aprender esses conceitos, bem como envolver os estudantes no processo de construção do conhecimento em matemática. 2.1 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM MATEMÁTICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ASPECTOS ENVOLVIDOS E POSSIBILIDADES Para trabalhar com ensino da matemática precisamos compreendê-la numa dimensão maior, não apenas como um conjunto de conceitos, propriedades e operações. Torna-se necessário associar os conhecimentos curriculares ao contexto social dos estudantes, as suas vivências e, principalmente, as mudanças sociais que permeiam o cotidiano do estudante. É preciso entendê-la para preparar atividades adequadas e coerentes com os objetivos da educação escolar. Além disso, esse conhecimento tem que permitir ao professor identificar e compreender as dificuldades que os alunos encontram e, ao mesmo tempo, é essencial que esse saber permita a motivação de seus alunos para buscarem novas informações, diferentes soluções para problemas propostos, bem como novas formas de apropriação de conhecimentos. É nessa perspectiva que a incorporação das tecnologias nos processos educacionais tem assumido relevância, pois esses recursos modificam as relações interpessoais (KENSKI, 2007). Daí faz-se necessário que se busque as inovações tecnológicas para o planejamento das ações da sala de aula, cabendo ao professor garantir a aprendizagem de seus alunos, bem como a sua formação como cidadãos capazes de atuar na realidade que os cerca transformando-a. No entanto, na prática de sala de aula predomina a utilização da lousa, giz, livro didático e, atividades envolvendo resolução de problemas que representam situações do cotidiano condicionadas à orientação das soluções construídas pelo professor. Não há envolvimento pela maioria dos alunos em buscar soluções para a problematização. As que são encontradas pelos alunos não são analisadas e debatidas pelo grupo de maneira a fazê-los demonstrar seu raciocínio, frustrando as expectativas para compreensão do conteúdo estudado. 7 A esse respeito Kenski (2007, p.19) comenta que “em um momento caracterizado por mudanças velozes, as pessoas procuram na educação escolar a garantia de formação que lhes permite o domínio de conhecimentos e melhor qualidade de vida”. Diante disso, entendemos que o professor de matemática precisa incorporar o uso de tecnologias à prática de sala de aula, visando favorecer o desenvolvimento das habilidades e competências do estudante para ler, escrever, analisar, resolver problemas, raciocinar e, também, comunicar ideias e descobertas, mantendo os conceitos e modos de pensar da matemática. Além disso, consideramos que o desafio de aprender pode ser estimulado se o aluno tiver acesso a recursos diversificados, como fotos, vídeos, hipertextos, simuladores, sons, etc. Através dos hipertextos, hipermídias e ambientes digitais de aprendizagem ampliam-se as formas de acesso à informação e promove-se a interação entre os usuários. Para Kenski (2007, p.95) “essas três características – interatividade, hipertextualidade e conectividade - já garantem o diferencial dos ambientes virtuais para aprendizagem individual e grupal”. Tais situações diferenciadas de aprendizagem e apropriação de conhecimento podem ser fomentadas por meio da educação a distância, modalidade essa de educação que favorece a interação entre professor e estudantes, relativiza a distância geográfica entre alunos ou entre aluno e professor, permite uma flexibilização do tempo, assim como diversifica as práticas educativas, mesclando atividades presenciais e a participação em fóruns de discussão, chat, leituras, correio e portfólio (BAIRRAL, 2007). Proporciona o pensar através da busca por soluções disponíveis em outros segmentos que não a sala de aula presencial desenvolvendo sua autonomia compartilhando suas descobertas com o grupo. Através da EaD, discussões matemáticas poderão ocorrer por meio da escrita, utilizando o simbolismo matemático de maneira diferenciada. Com interações síncronas e assíncronas é possível fomentar a reflexão sobre determinados temas levando aluno e professor a construírem significados para conceitos abordados. Formular e articular uma afirmação é um ato cognitivo, um processo que é particularmente valioso se comentários como “eu não concordo” ou “eu concordo” são seguidos do “porque”. Fazer comentários e colocar ideias ou informações na forma escrita requer que o aprendiz coloque seus pensamentos de forma coerente; este é um trabalho intelectual (BORBA e GRACIAS, 2009, p.4). A construção do conhecimento matemático precisa ser um aprendizado significativo, exigindo do professor novas competências, estratégias pedagógicas, atitudes e recursos diversificados, tais como as tecnologias digitais. Do mesmo modo, a abordagem da matemática e a apropriação de conhecimentos nessa área, deflagram mudanças nos modos de 8 conhecer das pessoas, na relação professor-estudante e nos encaminhamentos da prática pedagógica docente (RICHIT, 2010). Compreendendo, também, que a matemática é uma área do conhecimento com características próprias, estruturada em conceitos, teoremas, propriedades e operações, social e historicamente construídos, tem contribuído para o desenvolvimento científico tecnológico, consideramos pertinente incorporar tais recursos nas práticas de sala de aula, evidenciando assim, tal como propõe Richit e Maltempi (2010), a interface entre matemática e tecnologias. 2.2 BLOGS NO ENSINO DA MATEMÁTICA NO ENSINO MÉDIO: ALGUMAS POSSIBILIDADES A matemática compõe-se de ideias, métodos e procedimentos que serão utilizados para analisar, raciocinar, representar e comunicar situações observadas ou propostas por atividades do nosso dia a dia ou, pela busca de conhecimentos em cursos (GIGANTE, SILVA e SANTOS, 2009, p.37). A partir desse entendimento investigamos algumas possibilidades de promover o ensino de conceitos em trigonometria com estudantes do ensino médio utilizando, para isso, um blog. O conteúdo específico selecionado foi a introdução à trigonometria, assunto abordado no 2º trimestre do ano letivo. A atividade foi proposta durante o 1º trimestre paralelamente ao conteúdo desenvolvido da mesma. Propomos aos alunos das três turmas de 2º ano do ensino médio da escola, divididos em grupos, que utilizassem os recursos da internet para conhecer a história da trigonometria, compreender conceitos e aplicações antigas ou atualizadas. Sobre isso, Lorenzato (2008, p.81), comenta que, a descoberta é fundamental no ensino da matemática, pois, como sabemos, essa disciplina inspira medo aos alunos e foge dela quem pode. No entanto, quando o aluno consegue fazer descobertas, as quais, na verdade, são redescobertas então surge o gosto pela aprendizagem... e nenhuma área tem precisado mais que a matemática fazer com que seus alunos gostem dela. Através da resolução de problemas presencialmente, retomaram-se conceitos básicos sobre a trigonometria no triângulo retângulo, conteúdo este estudado na última série do ensino fundamental. Segundo Lorenzato (2008, p.27) Ninguém vai a lugar algum sem partir de onde está, toda aprendizagem a ser construída pelo aluno deve partir daquela que ele possui, isto é, para ensinar, é preciso partir do que ele conhece o que significa valorizar o passado do aprendiz, seu saber extraescolar, sua cultura primeira adquirida antes da escola, enfim sua experiência de vida. 9 Com esta introdução ao assunto procurou-se despertar a busca por aprofundamento e esclarecimento através das informações disponíveis nos hipertextos, com imagens e sons acessados na internet. Os resultados da pesquisa dos grupos foram postados num blog criado para a disciplina de matemática e gerenciado pela professora. Através do mesmo os demais componentes dos grupos puderam ter acesso a todos os temas estudados e postar seus comentários interagindo com os colegas e com a professora. Origem da Trigonometria O que estuda a Trigonometria Quem foi Hiparco e quais suas contribuições à Trig... Quem foi Ptolomeu e quais suas contribuições à Tri... Quem foi Purback e quais suas contribuições à Trig... Quem foi Regiomontanus e quais suas contribuições ... Astrolábio e Teodolito: diferenças e utilidades Exemplos de aplicações do estudo da Trigonometria ... (MATEMÁTICA...) A partir da pesquisa sobre os fundamentos da trigonometria propôs-se então a resolução de uma situação-problema, realizada à distância, onde os alunos deveriam relatar os procedimentos utilizados justificados com base nos conhecimentos adquiridos na proposta inicial. Resolução de problema: Na construção de um telhado foram usadas telhas francesas e o caimento do telhado é de 250 em relação ao plano horizontal. Sabendo que em cada lado da casa foram construídos 6 m de telhado e que até a laje do teto, a casa tem 3 m de altura, determine: a) A que altura se encontra o ponto mais alto do telhado dessa casa? b) Ter-se-ia condições de transitar pelo sótão para armazenar objetos? Justifique. c) Quanto poderia ser, no máximo, a largura dessa casa? d) Para cobrir cada m2 de telhado são usadas 20 telhas francesas e o comprimento da casa é de 10 m, quantas telhas precisariam ser compradas? (MATEMÁTICA...) Os grupos de alunos postaram suas resoluções, que foram enviadas automaticamente para moderação, recurso esse disponível no blog para gerenciamento da professora da disciplina e autora desse artigo. Depois de feitas as considerações de correção e avaliação, as soluções forma postadas definitivamente. Essa atividade (situação-problema) envolveu os estudantes de maneira diferenciada no processo de aprendizagem em matemática, pois exigiu deles uma reorganização do pensamento matemático na medida em que precisaram descrever o caminho percorrido na solução do problema, conforme podemos observar nos excertos apresentados a seguir. Turma 21A disse: Antes de iniciar a resolução do problema, foi necessário visualizar o plano da casa e montar um esquema para que o desenvolvimento da questão fosse mais claro. Desta forma, foi montado o seguinte desenho que segue no link: http://i52.tinypic.com/2zq7t79.jpga) Sabemos que o lado que é o oposto do ângulo 10 de 90 graus é a hipotenusa, que neste caso, tem o valor 6. E com base em nossos conhecimentos de trigonometria, também sabemos que a linha oposta ao ângulo, é chamada de cateto oposto, que é o que precisamos encontrar segundo o problema. Como temos o valor da hipotenusa e precisamos encontrar o cateto oposto, é necessário que seja usada a fórmula do seno: sen ∞ = cateto oposto/hipotenusa Substituindo: sen 25º = x/6 0, 423 = x /6 x = 0,423x 6x2,53m A questão nos pede o ponto mais alto da casa, então, como encontramos apenas o ponto mais alto do telhado, temos de somar o 3 que é a altura do restante da casa: 2,53 + 3 = 5,53m Deste modo, o ponto mais alto da casa é de 5,53m. b) Sim, seria possível transitar pelo sótão, pois o ponto mais alto do teto é de 2,53m e uma pessoa com normal estatura teria perfeitas condições de caminhar neste lugar. c) Nesta questão, precisamos encontrar a largura máxima da casa, deste modo, não será mais adequado utilizar algum valor para o cateto oposto, então, é preciso usar o cateto adjacente, aquele que está ligado ao ângulo. Novamente será usado a hipotenusa, que possui valor 6. Se precisamos encontrar o cateto adjacente e temos o valor da hipotenusa, a fórmula que será utilizada será a do cosseno. cos ∞ = cateto adjacente/hipotenusa Substituindocos 25º = y/6 0,90 = y/6 y = 6x0,90 y = 5,40m. Como o telhado da casa foi dividido em dois triângulos, é preciso multiplicar o valor encontrado por 2: 5,40x2 = 10,8m Assim, a largura da casa poderá ser de no máximo 10,8m. d) Para encontrar a quantidade total de telhas a serem usadas foi preciso primeiramente encontrar a área total do telhado. Sabemos que o comprimento da casa é de 10m e o “caimento” dela é de 6m. Então, basta multiplicar estes dois valores: A = bxh A = 10x6 A = 60m² Porém, também sabemos que existe o outro lado do telhado que possui estes mesmos valores, desta forma, simplesmente multiplica-se o valor encontrado por 2: 60x2 = 120m² A área total do telhado da casa é de 120m². Agora, precisamos encontrar o número de telhas que será necessário para cobrir 120m². Nós sabemos que para cada m², são usadas 20 telhas e e também sabemos que o telhado possui 120m², então, devemos multiplicar a área total pelo número de telhas:120x20 = 2400 telhas. Por fim, para cobrir o telhado da casa serão necessárias 2400 telhas. Grupo 1, turma 21A. Grupo 8 disse: a) A primeira coisa que fizemos foi um esboço da casa e a colocação dos dados nela, em seguida analisamos e percebemos que o caimento do telhado em relação ao plano horizontal formava um triangulo retângulo. Então para calcular fizemos o seno do angulo 25°, que deu como resultado 2.5356 .Esse valor que achamos é o x, e o problema pede a altura onde se encontra o ponto mais alto dessa casa, então pegamos esse valor e somamos 3, que deu 5.5356. b) Depois de ler a pergunta, simplesmente olhamos para o valor de x que nada mais é a altura do sótão e percebemos que uma pessoa normal poderia ter condições de andar e armazenar coisas tranquilamente, pois o x vale 2.5356. c) Nesse problema vimos que pede a largura dessa casa, e olhamos para o problema posterior e achamos o comprimento da casa que é 10m. No problema a, achamos a metade da largura da casa quando calculamos o x, que é 2.5356, então se essa é a metade então somamos esse valor com ele mesmo e achamos a largura que é 5.0712. d) Nesse problema, percebemos que o telhado da casa tem formato de um retângulo, e então para saber quantas telhas serão necessárias usamos a formula B.h e achamos como resultado 60m². E então pegamos esse valor e multiplicamos por 20 que deu o resultado de quantas telhas serão necessárias, 1200. Professora disse: Corrigindo letra d: observamos que o telhado da casa é composto por duas partes, logo: 2400 telhas. (MATEMÁTICA...) Essa atividade oportunizou novas relações entre professor e estudantes, deixando de ser somente o presencial a etapa relevante da aprendizagem. Por meio das tecnologias de comunicação virtuais, que apoiam a educação à distância, os estudantes puderam envolver-se na construção do conhecimento em matemática, mostrando que é possível aproximar as 11 vivências cotidianas dos estudantes às atividades educativas, tornando a aprendizagem prazerosa. Além disso, é uma possibilidade de abordar conceitos matemáticos curriculares no contexto das tecnologias digitais, pois os estudantes participam de maneira qualitativamente diferenciada desse processo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização de blogs como estratégia de ensino em matemática permite que os registros de conhecimentos adquiridos sejam de várias formas: relatos com links, ilustrações, fotos, vídeos, gráficos, desenhos, sons, etc. Por meio desses recursos, professores e estudantes podem fazer pesquisas, analisar, refletir e encontrar soluções para problemas propostos, ao mesmo tempo em que se apropriam de maneiras diversas de uso das tecnologias digitais. Através da experiência realizada averiguamos modos diferentes de desenvolver os conteúdos de matemática sobre a trigonometria na 2ª série do Ensino Médio, explorando as possibilidades dos ambientes virtuais e das tecnologias digitais nessa abordagem, bem como analisando o modo como os estudantes utilizam os ambientes digitais no processo de aprendizagem desses conceitos. A análise das interações dos estudantes no processo de pesquisar sobre o tema “introdução a trigonometria” e a resolução de situação-problema sobre o assunto evidencia que houve entendimento por parte dos estudantes. A descrição do processo de resolução e os procedimentos utilizados favoreceram o desenvolvimento cognitivo, resultado da organização do pensamento matemático na elaboração algébrica da solução. Consideramos, portanto, que houve assimilação de conceitos sobre trigonometria, bem como mudanças sociais e culturais em relação ao papel das tecnologias digitais e dos ambientes virtuais nos processos de ensino e aprendizagem na educação básica, em particular no Ensino Médio. Além disso, consideramos que através de atividades semelhantes as que foram realizadas nesse estudo, é possível despertar o interesse e desenvolver a criatividade dos estudantes, conforme observamos na atividade de planejamento e criação de um vídeo para a apresentação dos resultados do trabalho realizado. O uso de blogs favorece a busca pelo conhecimento e contempla diferentes estilos de aprendizagem presentes na sala de aula, pois “uma parte importante da aprendizagem 12 acontece quando conseguimos integrar todas as tecnologias, as telemáticas, as audiovisuais, as textuais, as orais, musicais, lúdicas, corporais” (MORAN et al., 2000, p.32). Assim, entendemos que aliar as tecnologias com os recursos da EaD na organização da prática pedagógica de sala de aula na educação básica (Ensino Médio) é uma das possibilidades que podem ser exploradas para promover a aprendizagem e o desenvolvimento do estudante. Para isso o professor precisa buscar formação continuamente, bem como ter tempo para planejar e promover novas práticas pedagógicas. É necessário, ainda, que todos os sujeitos da comunidade escolar apoiem e participem desse processo de mudanças. As tecnologias digitais e os ambientes virtuais associados às práticas de sala de aula fomentam mudanças e diferentes situações de aprendizagem. A partir do trabalho realizado, entendemos que novas situações de aprendizagem, pautadas no uso das tecnologias digitais e dos ambientes virtuais, tornam as aulas de matemática dinâmicas, investigativas e prazerosas. Contudo, ressaltamos que essa não é uma tarefa fácil, exige que acompanhemos a evolução tecnológica. E nada está pronto, é preciso criar, experimentar, adequar, avaliar, corrigir e retomar. A atividade que foi proposta é apenas uma das inúmeras possibilidades que podemos fazer surgir a partir do uso das tecnologias digitais e dos ambientes virtuais. 4 REFERÊNCIAS BAIRRAL, Marcelo Almeida. A Matemática na Escola Multimídia. Pátio Revista Pedagógica (Porto Alegre). v. 44, p.35-37, 2007. BORBA,Marcelo Carvalho. Coletivos seres-humanos-com-mídias e a produção de Matemática. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA – SBPEM, 1., Curitiba, PR. Anais...,2001. BORBA, Marcelo Carvalho. GRACIAS, Aparecida de Souza. Tendências em Educação Matemática: educação a distância e reorganização do pensamento. 2009. Disponível em: <http://www.ufrrj.br/emanped/paginas/conteudo_producoes/docs_24/tendencias.pdf>Acesso em: 25jan.2011. BORBA,Marcelo Carvalho. SANTOS, Silvana Cláudia. Educação Matemática: propostas e desafios. 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