Efeito da pulverização de inseticidas utilizados na cultura de soja sobre adultos de
Apis mellifera Linnaeus (Hymenoptera, Apidae) em condições de laboratório
Marcelo Rigotti1*
Mônica M. B. de Moraes2
Valter V. Alves Junior2
1
Curso de Mestrado em Entomologia e Conservação da Biodiversidade/UFMS
Rua Ponta Porã, 2407, Vila Planalto
CEP 79825-080, Dourados, MS
2
Depto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Caixa Postal 533,
CEP 79825-080, Rodovia Dourados-Itahum km 12, Dourados, MS
*Autor para correspondência
[email protected]
Como citar esta dissertação
RIGOTTI, M. 2005. Efeito da pulverização de inseticidas utilizados na cultura de soja sobre adultos de Apis
mellifera Linnaeus (Hy-menoptera, Apidae) em condições de laboratório. M.Sc. thesis – Universidade Federal da
Grande Dourados, 34 p.
RIGOTTI, M. 2005. Efeito da pulverização de inseticidas utilizados na cultura de soja sobre adultos de Apis
mellifera Linnaeus (Hy-menoptera, Apidae) em condições de laboratório. M.Sc. thesis – Universidade Federal da
Grande Dourados, 34 p.
Resumo
Objetivou-se avaliar o tempo letal de 50% e 100% de abelhas (Apis mellifera)
submetidas à dez inseticidas mais frequentemente utilizados no controle da lagarta-dasoja (Anticarsia gemmatalis), conduzidos no Laboratório de Entomologia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Dourados - MS. As pulverizações foram
realizadas com vinte repetições para cada inseticida e controle, com calibragem de 1,5 ±
0,5 mg/cm2. Após as pulverizações, dez abelhas foram colocadas em cada gaiola de
PVC, em sala climatizada a 20 ± 5 ºC, UR 60 ± 10%. Os testes mostraram que os
inseticidas Benzoilureia levaram tempo maior para TL50 que em média foi de 22,9;
95,4; 35,1 e 6,3 horas respectivamente, e TL100 com 71,4; 172,2; 119,4 e 87,0 horas. Os
Organofosforados mataram 50% das abelhas em 8,3; 2,0; 2,0; 21,4 e 2,0 horas em
média respectivamente e 100% às 31,2; 2,0; 12,0; 114,0 e 2,0 horas. Os Piretróides e
Carbamatos mataram 100% em até 2 horas. Considera-se que para a redução de
2
mortalidade de colônias inteiras, seria menos prejudicial a utilização dos inseticidas dos
grupos dos Piretroides e Carbamatos, uma vez que as operárias contaminadas em campo
teriam uma probabilidade menor de regressarem a colônia e disseminarem o inseticida.
Unitermos: Pesticidas, toxicidade, abelhas
Abstract
Effect of the spraying of insecticides used in the soy culture on adults of Apis
mellifera Linnaeus (Hymenoptera, Apidae) in laboratory conditions.
It was objectified to evaluate the lethal time of 50% and 100% of bees (Apis
mellifera) submitted to the ten insecticides more frequent used in the control of the
lizard (Anticarsia gemmatalis), lead in the Laboratory of Entomologia of the Federal
University of Mato Grosso do Sul, Dourados – MS. The sprayings had been carried
through with twenty repetitions for each insecticide and have controlled, with 0.5
calibragem of 1.5 ± mg/cm2. After the sprayings, ten bees had been placed in each box
of PVC, climatized room the 20 ± 5 ºC, 60 UR ± 10%. The tests had shown that the
Benzoilureia insecticides had taken bigger time for TL50 that in average was of 22.9;
95.4; 35.1 and 6.3 hours respectively, and TL100 with 71.4; 172.2; 119.4 and 87 hours.
The Organophosphates had killed 50% of the bees in 8.3; 2.0; 2.0; 21.4 and 2 hours in
average respectively and 100% to the 31.2; 2.0; 12.0; 114.0 and 2 hours.
The
Pyrethroids and Carbamates had killed 100% in up to 2 hours. It is considered that for
the reduction of mortality of entire colonies, the use of the insecticides of the groups of
the Piretroides and Carbamatos would be less harmful, a time that the laborers
contaminated in field would have a lesser probability to return the colony and to spread
the insecticide.
Key words: Pesticides, toxicity, bees
Efeito da pulverização de inseticidas sobre Apis mellifera
3
Introdução
Abelhas produtoras de mel (Apis mellifera) são originárias da Europa, Ásia e
África e devido ao valor de seus produtos: o mel, cera, própolis e geléia real bem como
a polinização, o homem tem levado essas abelhas para todas as partes, tendo elas se
tornado um inseto economicamente importante em todo o mundo (Cunningham et al.,
2002).
De acordo com Atkins (1981), as abelhas polinizam diversas culturas, sendo de
considerável importância na produção de frutos e sementes de alta qualidade comercial.
A polinização pelas abelhas corresponde a aproximadamente 10 bilhões de dólares do
valor da produção nos Estados Unidos a cada ano (Watanabe, 1994).
As populações de abelhas são expostas freqüentemente aos tratamentos com
pesticidas em ecossistemas naturais e agrícolas (Kevan, 1975; Johansen et al, 1990), e a
intoxicação por inseticidas é considerado uma das causas principais do declínio da
população de abelhas em todo mundo (Dias et al., 1999).
As abelhas são susceptíveis a quase todos os inseticidas usados comercialmente
para controlar insetos praga (Ingram et al., 1996). Muitos deles são altamente tóxicos
para abelhas por muitos dias, após a aplicação sobre as culturas ou plantas daninhas em
fase de florescimento. A atividade residual dos inseticidas pode se estender acima de
oito horas após a aplicação (Atkins, 1981), e dependendo da classe do produto aplicado
a mortalidade na colônia pode ser muito elevada (Fernandez et al., 2001).
Estima-se que 20% de todas as perdas de colônias de abelhas domésticas
envolvem algum grau de exposição a pesticidas (Ingram et al., 1996).
Algumas mortes podem ocorrem por contato no campo, enquanto outras
situações podem causar mortes das crias ou de abelhas adultas no interior da colméia
por alimento contaminado. Antes de morrer, abelhas contaminadas deixam a colméia e
se tornam agressivas, irritadas ou paralisadas, apresentam calafrios aparentes ou exibem
outro comportamento anormal como regurgitamento. Outros sintomas incluem
dificuldade de encontrar fontes de alimento, crias mortas e rainhas mortas ou agitadas
em frente à colméia ou do lado externo. Estes sintomas não são sempre facilmente
distinguíveis e podem também serem causados por outros problemas como: morte por
fome, pelo frio ou doenças (Porrini, 2003).
4
As abelhas se recuperam lentamente dos distúrbios provocados pelos pesticidas,
que causam redução da fecundidade que as torna mais suscetíveis à extinção local. Não
há nenhum exemplo documentado de abelhas que se tornaram resistentes aos inseticidas
(Tepedino, 1979). Muitas culturas que se beneficiam na qualidade e na quantidade de
um polinizador não são polinizadas suficientemente por causa das aplicações pesadas de
pesticidas (Ingram et al., 1996).
Não somente as forrageiras que visitam flores são expostas aos pesticidas,
abelhas da colméia e as larvas que se alimentam do pólen e do néctar armazenados nas
células também são expostas. Isto significa que mesmo em diferentes fases de vida as
abelhas (larvas e adultos de várias idades) podem ser expostas. Também, a concentração
e a duração da exposição podem variar conforme a quantidade dos produtos químicos, a
persistência dos resíduos, e a freqüência da pulverização na cultura. Além destas, outras
informações devem ser analisadas, pois o produto pode também ser acumulado por
períodos longos na colméia, e estar sujeito aos processos de degradação/concentração
(Pham-Delègue et al., 2002).
Além dos efeitos letais os efeitos subletais também devem ser considerados.
Enquanto os efeitos letais são fáceis de determinar e podem levar a rejeição de um
produto, os efeitos subletais podem afetar também populações de abelhas em vários
níveis da sua fisiologia, como os desvios no comportamento, que são menos óbvios de
serem detectados (Pham-Delègue et al., 2002).
Alguns pesticidas são carregados junto ao pólen contaminado, e podem ser
utilizados para alimentar larvas. Testes mostraram que algumas larvas morrem e que
algumas abelhas emergentes para a fase adulta ficam deformadas (Atkins, 1981).
Ainda, a deriva pode causar significante intoxicação se houverem plantas ou
culturas adjacentes àquelas tratadas com pesticidas. A pulverização não pode ser feita
quando a velocidade do vento for acima de 10km por hora. Os maiores danos causados
às colônias ocorrem pela proximidade destas às áreas de tratamento. A maior atividade
de forrageamento ocorre em um raio de 1 a 2km da colméia (Selland, 2000), mas
durante a época de florescimento ou de maior produção de néctar as abelhas podem
forragear a distancias maiores. Assim, colônias a uma distancia de 5km da área tratada
podem sofrer injurias.
5
Inseticidas usados na agricultura, geralmente têm como alvo o sistema nervoso,
o crescimento e desenvolvimento ou a produção de energia do inseto. Para entender o
seu modo de ação, é necessário entender como o sistema dos insetos considerados
praga, que são geralmente o alvo, funcionam normalmente. Outra razão importante para
se entender o modo de ação dos inseticidas é a própria prevenção à resistência nos
insetos praga. Usando inseticidas com o mesmo tipo de ingrediente ativo, a
susceptibilidade do inseto praga sempre tende a aumentar.
O modo de ação dos reguladores de crescimento em insetos é através da
interrupção do processo de muda, na formação da cutícula, ou seja, atuam como
hormônio juvenil ou ecdisona, ou inibem a síntese de quitina, como aqueles
pertencentes ao grupo Benzoilureia (Tasei, 2001).
Os inseticidas dos grupos Organofosforados e Carbamatos são tóxicos para os
insetos,
atuando
especificamente
no
sistema
nervoso,
a
toxicidade
dos
Organofosforados tem sido evidenciada pela inibição da acetilcolinesterase (Tripathi e
Obrien, 1973, Metkalf e March, 1990). Eles se ligam à enzima que normalmente é
responsável pela quebra da acetilcolinesterase e o neurotransmissor continua a causar
estímulos nos neurônios ou enviar cargas elétricas. Isto causa uma super estimulação do
sistema nervoso, levando o inseto a morte (Brown, 2005).
Os Piretróides são versões sintéticas das piretrinas (que ocorrem naturalmente na
família dos crisântemos), especificamente desenhadas para ter mais estabilidade no
ambiente (assim duram alguns dias ou semanas), promovendo um longo período de
controle (Brown, 2005).
Esses compostos agem como moduladores dos canais de sódio, atuando por
onde ele é bombeado para causar a excitação nos neurônios. Eles evitam que os canais
de sódio se fechem, resultando em continuas transmissões nervosas, tremores e
eventualmente a morte (Pham-Delègue et al., 2002). Entretanto piretróides podem
acarretar outras mudanças bioquímicas em carboidratos como glucose e trealose
(Bounias et al., 1985; M'diaye e Bounias, 1993). Também podem induzir pertubações
em células neurosecretórias (Singh e Orchard, 1982).
Existem várias espécies de insetos polinizadores na cultura da soja e dentre elas,
as mais importantes constituem as da superfamília Apoidea, que compreende as abelhas
6
em geral. São insetos que se alimentam de néctar e pólen das flores, e as espécies
sociais transformam néctar em mel (Gallo, 1988).
Chiari et al. (2002) desenvolveram um trabalho com objetivo de avaliar o
comportamento da A. mellifera nas flores de soja (Glycine max L.) Var. BRS 133 e
verificaram ser ela, a espécie mais abundante nessa cultura, com uma freqüência de
95,18%.
A lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) é uma importante praga dessa cultura,
podendo causar significativos danos econômicos se não for controlada. A estratégia
mais utilizada no controle dessa praga é a pulverização de inseticidas, o que pode
apresentar efeitos adversos sobre a população de abelhas. Esses efeitos, quando
presentes, podem afetar não só a produção de mel, mas também a produção dos grãos,
bem como outras culturas (Abransom et al., 1999).
Estudos sobre os efeitos dos pesticidas em abelhas são de vital importância pela
necessidade do controle de uma grande variedade de pragas agrícolas, sem, entretanto
causar danos para esses polinizadores, quando inadvertidamente entram em contato com
pesticidas no processo do forrageamento (Iwasa et al., 2003).
Ao focalizar os estudos que tratam de ecotoxicidade de compostos xenobioticos,
dois objetivos principais são procurados, a proteção dos insetos polinizadores afetados
pelos efeitos dos produtos, e o uso destes insetos como bio-indicadores da poluição
ambiental.
Assim, com este trabalho, objetivou-se realizar uma avaliação do tempo letal
necessário para a mortalidade de 50% e 100% da população de abelhas (TL50 e TL100,
respectivamente) confinadas, na fase de campeiras, em condições de laboratório, através
de pulverização em dose recomendada para campo, de alguns dos inseticidas registrados
para o controle da A. gemmatalis, praga da soja, considerando a possibilidade de que o
indivíduo contaminado não retorne a colméia.
Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido no Laboratorio de Entomologia do Departamento de
Ciências Biológicas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Dourados, MS, no
período de 2004 a 2005, sendo conduzido em sala climatizada a 20 ± 5ºC, UR 60 ± 10%
usando abelhas coletadas com mais de 25 dias de idade, no alvado da colméia e,
7
portanto, de acordo com Free (1980), na fase de campeira. As abelhas recém coletadas
foram anestesiadas à baixa temperatura por aproximadamente 30 segundos.
Em
seguida, elas foram colocadas em número de 15 indivíduos por gaiola, com vinte
gaiolas por tratamento, ficando em observação por 24 horas, sem nenhum tipo de
interferência, recebendo apenas a pasta Cândi, de acordo com padrão internacional
(Wiese, 1986), e água destilada.
No dia seguinte após serem anestesiadas, foram pulverizadas com os inseticidas,
utilizando-se a dosagem recomendada pelo fabricante. Após a pulverização esperou-se a
recuperação das mesmas e aquelas que não se recuperaram, foram retiradas e
substituídas por outras. Dessa forma, dez indivíduos por amostra permaneceram
confinados em gaiolas de PVC de 10cm de diâmetro por 6cm de altura, vedadas na parte
superior com tela de 80% de sombreamento e alimentados com pasta Cândi e água.
As pulverizações foram feitas com um aspersor manual, calibrado para aplicação
de um volume médio de 1,5 ± 0,5mg/cm², seguindo as recomendações de Hassan et al.
(1987) e preconizadas pelo IOBC (International Organization for Biological and
Integrated Control of Noxious Animals and Plants). Para a obtenção do volume médio
de calda a ser aplicado, pesaram-se individualmente dez discos de papel filtro com
diâmetro de 9cm, em seguida realizaram-se as pulverizações nos mesmos. Após o
processo, cada disco foi novamente pesado, obtendo-se o volume aplicado em cada um.
Dessa forma, o valor de 1,5 ± 0,5mg/cm2 representou a média dos volumes pulverizados
nos dez discos.
Utilizou-se neste estudo inseticidas recomendados para a região Centro Oeste
(Embrapa – CNPSo, 2004). Os tratamentos e doses para 100 litros de água estão
relacionados na Tabela 1.
Os períodos de tempo utilizados na avaliação da morte de 50% das abelhas
(TL50) e para 100% (TL100), foi primeiramente de duas horas após a pulverização e
depois desse tempo, de doze em doze horas, até a morte do último indivíduo, tanto para
os grupos testes, como para os grupos controle, cujas abelhas foram pulverizadas apenas
com água destilada. Na tabela 2 está representada a classificação toxicológica dos
pesticidas de acordo com a ANVISA.
8
TABELA 1: Relação dos inseticidas utilizados, com os respectivos nomes técnicos, ingredientes
ativos, grupo químico principal e as concentrações determinadas.
Concentração em 100 litros de água
Tratamento
Nome Técnico
Ingrediente
Grupo
Grama do
ativo
químico
ingrediente
ml ou g
ativo
Curacron 500®
Profenofós
Organofosforado
500 g/L
200ml
Lorsban 480
Clorpirifós
Organofosforado
480g/L
1000ml
Acefato
Organofosforado
750g/kg
500g
Paration metil
Organofosforado
600g/L
0,67L
Metamidofos
Metamidofos
Organofosforado
600g/L
0,5L
Dimilin®
Diflubenzuron
Benzoilureia
250g/kg
80g
Novaluron
Benzoilureia
100g/L
100ml
Lufanuron
Benzoilureia
50g/L
150ml
Teflubenzuron
Benzoilureia
150g/L
50ml
Cyptrin 250 CE
Cipermetrina
Piretróide
250g/L
100ml
Karate 50 CS®
Lambdacialotrina
Piretróide
50g/L
75ml
Talcord
Permetrina
Piretróide
250g/L
100ml
Larvin 800
Tiodicarbe
Carbamato
800g/kg
70g
Methomex
Metomil
Carbamato
215g/L
0,5L
Sevin 480 SC
Carbaril
Carbamato
480g/L
2,25L
BR®
Orthene 750
BR®
Folisuper 600
BR
Gallaxy 100
CE®
Match CE®
Nomolt 150®
WG®
9
TABELA 2: Classificação toxicológica dos pesticidas de acordo com a ANVISA.
Inseticida
Classificação toxicológica
Curacron 500®
II
Lorsban 480 BR®
I
Orthene 750 BR®
IV
Folisuper 600 BR
I
Metamidofos
II
Dimilin®
IV
Gallaxy 100 CE®
IV
Match CE®
IV
Nomolt 150®
IV
Cyptrin 250 CE
I
Karate 50 CS®
II
Talcord
II
Larvin 800 WG®
II
Methomex
II
Sevin 480 SC
II
Classificação toxicológica: I – Extremamente tóxico, II – Altamente tóxico, III – Medianamente tóxico e
IV – Pouco tóxico.
Resultados
Na tabela 3 é indicado o tempo para a morte da última abelha para os grupos
tratados com os diferentes inseticidas.
Na tabela 4 estão apresentados as freqüências e o desvio padrão obtidos para o
tempo letal em 50% (TL50) e 100% (TL100) da população de abelhas, considerando os
inseticidas avaliados, sendo que o grupo controle, pulverizado apenas com água
destilada levou 218,4 horas para atingir a TL100 (Figura 1). Os resultados foram
comparados na figura 2, podendo-se observar que os inseticidas do grupo Benzoilureia
levaram tempo maior para matar 100% das abelhas e o inseticida Dimilin (Figura 1 e
Tabela 4) foi aquele de ação mais tardia. Deve ser considerado que os inseticidas do
10
grupo Benzoilureia, agem interrompendo o processo de muda atuando como hormônio
juvenil ou ecdisona interrompendo a síntese de quitina (Tasei, 2001) e que as abelhas
utilizadas nos testes encontravam-se na fase adulta. No grupo dos Organofosforados,
que atuam sobre o sistema nervoso, inibindo a síntese de acetilcolinesterase (Bendahou
et al., 1999), o inseticida Folisuper, matou 50% das abelhas em até 12 horas e 100% em
264 horas, enquanto que o inseticida Lorsban foi mais ativo, matando 100% das abelhas
em 2 horas (Tabela 4 e Figura 1), concordando com Sanford (1993), que classificou
tanto o Lorsban quanto o Orthene como altamente tóxicos.
TABELA 3: Tempo em horas para a ocorrência da morte da última abelha ao considerar-se a
TL50 e a TL100 para os grupos tratados com os diferentes inseticidas.
Tratamento
TL50
TL100
Controle
216
324
Curacron 500®
72
120
Lorsban 480 BR®
2
2
Orthene 750 BR®
2
12
Folisuper 600 BR
84
264
Metamidofos
2
2
Dimilin®
156
240
Gallaxy 100 CE®
36
180
Match CE®
48
84
Nomolt 150®
84
192
Cyptrin 250 CE
2
2
Karate 50 CS®
2
2
Talcord
2
2
Larvin 800 WG®
2
12
Methomex
2
2
Sevin 480 SC
2
2
Os Piretroides, que atuam como moduladores dos canais de sódio evitando que
se fechem, o que resulta em alta freqüência de impulsos nervosos (Bendahou et a.l,
1999) e Carbamatos (com ação semelhante ao do grupo dos Organofosforados) foram os
11
que apresentaram efeito letal mais rápido sobre as abelhas. Entretanto, todos os
Piretroides avaliados mataram 100% das abelhas em até 2 horas após a pulverização
(Figura 2 e Tabela 4).
TABELA 4: Tempo médio e respectivos desvios padrões para a ocorrência da TL50 e TL100,
considerando-se os diferentes inseticidas utilizados.
Tratamento
TL50
Desvio
TL100
Desvio
padrão
padrão
Controle
69,8
±
60,65
218,4
±
102,01
Curacron 500®
8,3
±
17,39
31,2
±
38,81
Lorsban 480 BR®
2
±
0
2
±
0
Orthene 750 BR®
2
±
0
12
±
0
Folisuper 600 BR
21,4
±
20,13
114
±
79,40
2
±
0
2
±
0
Dimilin®
95,4
±
36,82
172,2
±
42,34
Gallaxy 100 CE®
6,3
±
9,09
87
±
44,70
Match CE®
22,9
±
9,99
71,4
±
9,10
Nomolt 150®
35,1
±
26,82
119,4
±
40,92
Cyptrin 250 CE
2
±
0
2
±
0
Karate 50 CS®
2
±
0
2
±
0
Talcord
2
±
0
2
±
0
Larvin 800 WG®
2
±
0
12
±
0
Methomex
2
±
0
2
±
0
Sevin 480 SC
2
±
0
2
±
0
Metamidofos
Obs.: Desvios padrões relativamente altos, algumas vezes superior ao valor médio, está relacionado a
morte da ultima abelha para a TL50 ou TL100, indicando uma alta longevidade de alguns indivíduos do
grupo (Tabela 3).
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e
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n
48 ex
0
SC
C
Tempo (horas)
12
250
TL50
200
100% das abelhas tratadas com os inseticidas selecionados.
TL100
150
100
50
0
Tratamentos
FIGURA 1: Comparação entre os tempos médios em horas para a mortandade de 50% e
Tempo (horas)
13
250
TL50
TL100
200
150
100
50
ar
ba
m
at
o
C
tro
id
e
Pi
re
Be
nz
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re
ia
rg
an
of
os
fo
ra
do
O
C
on
tro
le
0
Grupos químicos
FIGURA 2: Comparação entre os tempos médios em horas para a mortandade de 50% e 100%
das abelhas, de acordo com o grupo químico.
O Larvin (Carbamato) apresentou 100% de efeito letal após 12 horas de contato
(Tabelas 3 e 4), concordando com as constatações de Sanford (1993) que o considerou
de ação relativamente intensa sobre as abelhas.
O Dimilin levou 84 horas para a morte de 50% e 240 horas para 100% das
abelhas e de acordo com Sanford (1993), esse inseticida foi classificado como
relativamente tóxico, porém Tasei (2001) e Usha e Kandasamy (1986) classificaram o
Dimilin como não tóxico recomendando-o para Manejo Integrado de Pragas.
Discussão
Em suma, todos os produtos avaliados desempenharam a função para a qual
foram desenvolvidos, ou seja, a do inseticida em livrar a cultura em questão daqueles
insetos (adultos ou em fase de desenvolvimento). Entretanto, apresentando atividades
diferenciadas. Nos casos quando a TL100 é tardia, a chance das abelhas campeiras
retornarem à colônia, transferirem o néctar ou pólen coletados, realizarem a trofalaxia (o
14
contato físico secundário) com o pesticida por outros membros do grupo é bastante
aumentada podendo resultar em efeitos subletais (Thompson, 2001), assim como a
probabilidade de estocagem e posterior utilização de alimento contaminado pelas outras
abelhas da colônia.
Uma vez que os inseticidas são necessários nos agrossistemas, a preocupação
passou a ser com os insetos polinizadores, com enfoque na abelha de mel (Freitas,
2001).
A abelha A. mellifera, que não é originária das Américas, apresenta-se como um
substituto eficaz em algumas lavouras, por ser de fácil manejo, apresentar uma grande
população por colônia, serem de fácil transporte, e principalmente por serem
generalistas, ou seja, freqüentarem uma grande diversidade de flores e ao mesmo tempo
apresentarem o comportamento de fidelidade, ou seja, se as campeiras de uma colônia
que estiverem freqüentando as flores de uma determinada cultura em busca de alimento,
as operárias dessa colônia irão apenas nessa cultura, garantido assim um eficiente
processo de polinização (Chiari et al., 2002).
Dessa forma é aconselhável a atividade consorciada entre agricultor e apicultor.
É nesse momento que o conhecimento da ação dos inseticidas sobre as abelhas toma
uma grande importância.
A consideração de que as abelhas no campo em contato com esse tipo de
produto podem regressar a sua colônia com o corpo impregnado pelo pesticida e
trazendo néctar ou pólen contaminado, leva a necessidade de uma avaliação da ação dos
mesmos sobre o comportamento de forrageamento das mesmas. Nesse sentido, seriam
recomendados inseticidas que apresentassem seletividade para os polinizadores, mas
eles não existem como produtos de alta eficiência, assim sendo parece que aqueles de
ação mais breve, atingindo a TL100 rapidamente, devam ser os utilizados, considerando
que as abelhas morreriam antes de regressarem para a colônia, evitando qualquer tipo de
contaminação dos produtos apícolas e garantindo a sobrevivência daquelas abelhas que
não entraram em contato com o inseticida.
Aqueles com ação tardia (TL100 elevada), não deveriam ser utilizados,
considerando-se o contexto exposto, pois ao regressarem, as operárias forrageiras
depositariam na sua colônia o néctar e pólen contaminados que mais tarde poderiam vir
a serem consumidos por demais membros dessa colônia, provocando a morte ou efeitos
15
subletais nos mesmos e assim reduzindo ainda mais a população dessa colônia e
conseqüentemente sua eficiência no processo de polinização.
As operárias em questão, também poderiam vir a morrer dentro do ninho, e
assim durante o processo de higienização da colônia por outras operárias, essas
entrariam em contato, ainda que secundário, com o inseticida aderido ao corpo da
abelha morta, vindo a sofrer o mesmo processo ou desvios de comportamento
(Thompson 2001), implicando ainda mais nas conseqüências já referidas.
Assim, considerando-se que, segundo Ahrent e Caviness (1994), 2,5% da soja
necessita de polinização cruzada (o que representa uma grande área nas imensas
plantações), e ainda que de acordo com Beard e Knowees (1971) e Erickson et al.
(1978) insetos, especialmente os da ordem Hymenoptera e em particular as abelhas do
gênero Apis, podem atuar como polinizadores da soja, e tendo sido observado por Vieira
et al., 2002, que as abelhas de mel aumentaram em aproximadamente 20% a produção
de soja, quando comparadas áreas cobertas, com e sem a presença de abelhas. Além de
outras considerações tais como a velocidade de vôo das abelhas, em torno de
24km/hora, Nogueira-Couto e Couto (2002), o tempo médio que ela fica recolhendo
alimento na fonte (néctar = 11,2 ± 5,4 segundos, com 8,2 flores visitadas por minuto, e
de pólen = 9,4 ± 3,4 segundos, com 4,8 flores visitadas por minuto), Mota e NogueiraCouto (2002) e a distância de forrageamento (3.500m, sendo na prática, em torno de
1.000 a 1.500m, significando uma área circular de 300 a 700 ha – Mota e NogueiraCouto (2002), a A. mellifera torna-se uma excelente parceira do sojicultor, uma vez que
em 8 horas possíveis de forrageamento diário, uma única abelha poderia visitar algo em
torno de 8.470 flores, e que se no momento da utilização de um inseticida em sua
lavoura não for possível avisar o apicultor com antecedência para retirada de suas
colméias da região, que ele utilize o produto de ação mais rápida).
Nesse sentido, dentre os produtos cuja atividade foi avaliada contra a abelha de
mel, os inseticidas do grupo dos Carbamatos e Piretróides se apresentam como os mais
eficazes, considerando-se sua velocidade de ação para TL100. Assim, de acordo com o
contexto exposto, sugere-se que esses inseticidas devam ser utilizados com maior
freqüência, o que pelo menos teoricamente reduziria o índice de mortandade em
colônias, pós-aplicação dos mesmos.
16
A idéia principal é a de que as abelhas que tiveram seu corpo exposto a algum
desses produtos, não deveriam de forma alguma levá-lo até seu ninho, evitando dessa
forma, o contato físico com os demais membros que compõem a colônia e também a
contaminação do mel e do pólen armazenados. O contato direto com o pesticida ainda
impregnado no corpo a abelha campeira, pode trazer a morte do outro indivíduo ou
mesmo leva-lo a desvios comportamentais, que acarretariam na inutilização desse
indivíduo para a polinização, como comenta Kevan (1999) e Thompson (2001).
A armazenagem na colméia do alimento contaminado poderia trazer a morte
para aquelas abelhas que o consumissem (jovens ou adultos), resultando novamente na
perda de indivíduos que poderiam estar no campo e que, durante o forrageamento
estariam desenvolvendo um adequado processo de polinização. Ainda, um apicultor
mais descuidado poderia estar colocando no mercado, mel contaminado por inseticidas,
como já detectado em outras ocasiões (Vieira et al., 2002).
Finalmente, sempre que um efeito letal é encontrado em condições de
laboratório e reflete um impacto em condições naturais, os resultados ou a
aceitabilidade podem depender de várias considerações tais como o impacto sobre a
biodiversidade, ou a perda econômica para apicultores, ou de agricultores, ou mesmo do
interesse social sobre o impacto ambiental dos pesticidas.
Os resultados aqui
apresentados são ferramentas potenciais da tomada de decisão e poderiam ajudar na
compreensão da toxicidade subjacente do mecanismo dos inseticidas.
Agradecimentos
Agradeço aos professores Doutores: Valter Vieira Alves Junior e Honório
Roberto dos Santos – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) pela
dedicação e paciência e aos pesquisadores: Crébio Jose Ávila e Rômulo Penna Scorza
Junior - Embrapa (CPAO) e Yzel Rondon Súarez - (UEMS) pela colaboração.
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Efeito da pulverização de inseticidas utilizados na cultura da soja