Comunicação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Foto: Inor - Agência Assmam - Arquivos Gazeta Anuário ○ ○ Comunicação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cássio Ramos Peixoto* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ juntos, respondem por cerca de 5 % do Produto Interno Bruto estadual a partir da produção de grãos e frutas. Na região de Barreiras, o Valor Bruto da Produção, em relação ao do Estado, saltou de 1,13 % para 11 % no período de 1985 a 1997. Nesse cenário, a soja, um dos principais produtos agrícolas do Estado, reina também com soberania, atraindo para a região Oeste empresas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O ○ s investimentos realizados nos últimos quinze anos na Bahia permitiram o surgimento de pelo menos duas grandes ilhas de prosperidade: as regiões Baixo Médio São Francisco e Oeste, onde concentram-se grandes empreendimentos. A revolução econômica verificada nessas regiões é tão significativa que apenas os municípios de Barreiras e Juazeiro, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A cultura da soja na Bahia: da defesa ao ataque de porte que movimentam o parque industrial da sojicultura e que processam 1,65 milhão/toneladas/ ano de grãos nas unidades de esmagamento. A força dessa produção provocou de imediato reflexos no incremento da população no Oeste, a exemplo de Barreiras onde a população cresceu seis vezes nas últimas três décadas. *Diretor de Defesa Sanitária Vegetal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, Salvador, BA; e-mail: [email protected] Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005 11 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ocorrência da Ferrugem Asiática - Brasil - Situação Atual ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Histórico no Brasil - Ocorrência e Disseminação 12 identificada na Bahia, em caráter epidêmico, em 2003. O primeiro foco foi registrado na localidade de Roda Velha, região Oeste da Bahia, em fevereiro do mesmo ano, com ocorrência em mais de 1000 propriedades. A área atingida correspondeu a 830 mil hectares, com danos mais significativos nas localidades com pluviosidade média em torno de 1600 a 1800 mm, na área conhecida como “espigão” (Mapa 3). Assim, a expectativa de produtividade, que era de 48 sacas/ ha, teve redução de 30 %, com perdas de 14,4 sacas/ha, refletindo diretamente em cifras negativas de mais de US$ 100 milhões, além dos gastos com fungicidas que alcançaram US$ 43,3 milhões. Os municípios mais atingidos foram: Formosa do Rio Preto, Luís ○ ○ ○ Mapa 2 ○ Mapa 1 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ produtividade média do produto, que ficou em torno de 30,5 sacas/ ha. Então, qual teria sido o principal fator para esse castigo tão grande para com a lavoura? A resposta começava a se configurar a partir da confirmação da ocorrência da ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi) na Bahia em 2003. Essa praga, tradicionalmente encontrada na América Latina, foi identificada no Brasil na safra 2001/ 2002 nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, representando nesse período 20 % da área total cultivada com soja no país (Mapas 1 e 2). Classificada pelo Brasil como de importância econômica em termos de regulamentação fitossanitária, a ferrugem asiática foi oficialmente ○ Em dez anos, no período compreendido entre 1990 a 2000, a cultura da soja cresceu 584,26 % no Oeste da Bahia, sendo a região responsável por 100 % da produção atual do Estado. Essa evolução representou 73,1 % da produção do Nordeste e 4,6 % do país no ano de 2000, conforme o IBGE (2002). Deste modo, impulsionada por essa expansão, o produto no Estado, de acordo com dados da Secretaria de Agricultura, registrou em 2004 um incremento no crescimento da safra na ordem de 51,85 %, colhendo mais de 2,36 milhões de toneladas, contra 1,56 milhões em 2003 (Tabela 1). Mas, quando se esperava um salto quantitativo da safra 2002/ 2003, ocorreu uma frustação total em toda cadeia produtiva, ocasionando uma redução na ○ Comunicação Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005 ○ nóstico da ferrugem, tornando muito difícil começar a guerra. Adotando uma postura de enfrentamento do problema, a Secretaria da Agricultura do Estado reuniu os representantes das áreas da Defesa Sanitária Vegetal, da Pesquisa e Assistência Técnica, bem como do setor produtivo, através da Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA), com consultoria especializada da Embrapa, e articulou um plano de contingência que apontasse ações concretas no controle da praga. Liderado pela Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) e ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Eduardo Magalhães, Riachão das Neves, Correntina, Baianópolis, São Desidério e Barreiras. O problema trouxe reflexos diretamente nas economias locais. Diante dessa situação, o que fazer? Tínhamos imensos desafios a enfrentar: a) extensa área territorial – 830 mil ha, b) disseminação de forma intercontinental do patógeno, c) condições climáticas favoráveis à proliferação do fungo, que ocorre em temperaturas abaixo de 29 graus centígrados, propiciando uma taxa de progresso de 10 % ao dia e, por fim, d) carência de assistência técnica especializada no diag- ○ ○ Fonte: ADAB ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Área atingida pela ferrugem da soja na região Oeste da Bahia ○ ○ Mapa 3 ○ Comunicação pela Associação de Agricultores e Irrigantes do Oeste da Bahia (AIBA), foi elaborado o Programa de Manejo Estratégico da Ferrugem Asiática da Soja , com apoio da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) e do Ministério da Agricultura. O Programa focou na identificação do patógeno em tempo hábil em toda área infectada, bem como na recuperação dos tetos de produção e produtividade. Iniciada a execução, deu-se prioridade às ações de conscientização dos produtores, através da elaboração de material informativo, monitoramento contínuo das lavouras e treinamento intensivo de produtores e técnicos no reconhecimento da praga. Como estratégia, foram criados na região cinco escritórios epidemiológicos: Coaceral, Roda Velha, Rosário e Luís Eduardo Magalhães. Estes centros funcionaram como estações de avisos fitossanitários, permitindo disponibilizar as informações sobre ocorrências de focos em tempo real. Paralelamente, foram adequados laboratórios de apoio, contratados técnicos especializados e implementado um banco de dados permanente que propiciou a velocidade desejada das informações. Para efetivação do Programa foram disponibilizados recursos da ordem de R$ 500 mil, tendo como principais financiadores o Governo do Estado, através da ADAB, o Governo Federal, por intermédio do Ministério da Agricultura, o setor produtivo, pela AIBA e Fundação Bahia, o Poder Público Municipal, através das Prefeituras da Região, além das empresas Bayer e Basf e o Banco do Nordeste. Os resultados não demoraram a aparecer. Na safra 2003/2004, obteve-se um incremento de 57 % na produtividade média em relação à safra anterior, de 30,5 sacas/ha para 48 sacas/ha, representando ganhos de US$ 170 milhões, além do controle da praga em 100 % da 13 14 ○ ○ Bahia Agríc., v.7, n.1, set. 2005 Foto: Silvio Ávila- Arquivos Gazeta Anuário Foto: Silvio Ávila- Arquivos Gazeta Anuário ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ área, como também das demais ocorrências de final de ciclo (Tabela 1). Animados com os resultados dessa safra e sem perder de vista os indicativos de que a safra 2004/2005 seria caracterizada possivelmente por fatores adversos para a cultura da soja, como alto custo de produção devido ao acréscimo no valor dos insumos, queda nos preços pagos pelos grãos e ainda presença generalizada do fungo na região, Governo e produtores traçaram seu planejamento estratégico para a safra 2004/2005 focados na operacionalização do sistema de alerta fitossanitário, priorizando a implantação das clínicas de diagnóstico rápido na ADAB e na Prefeitura Municipal de Luís Eduardo Magalhães. Foram analisadas milhares de amostras de plantas com sintomas da praga e emitidos laudos laboratoriais. Agora, ao final da safra 2004/ 2005, constatou-se mais uma vez na Bahia o controle da ferrugem asiática da soja, remetendo o Estado a uma posição de vanguarda nacional, quando se prepara para colher uma safra recorde este ano, ao contrário de outras regiões do país. E esta começa a se configurar como uma das safras mais preocupantes para o agricultor brasileiro nos últimos anos. Com 50 % de toda área plantada já colhida, a média de produtividade na Bahia está se confirmando em torno de 60 sacas/ ha, com picos de até 70 sacas/ha. A expectativa é superar a marca dos 2,5 milhões de toneladas. Diante do quadro esboçado, temos convicção em afirmar que quando há um setor produtivo profissional organizado, a exemplo dos produtores de soja da Bahia, e a efetiva participação dos poderes público municipal e estadual, sobretudo quando este último decide politicamente por um sistema de Defesa Sanitária Vegetal eficaz e eficiente, os resultados não poderiam ser diferentes. ○ Comunicação