O Processo de Internacionalização da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano e o Desenvolvimento do Município de Rio Verde Kellen Cristina Campos Fernandes 2 Karine Diniz Xavier 3 Dr. Reginaldo Santana Figueiredo 1 Resumo: O presente trabalho está focado na importância da grande relevância para Goiás e é responsável, em grande Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano parte, (COMIGO) no desenvolvimento do município de Rio Verde, mostrando como seu processo de internacionalização influenciou para a atração de empresas do agronegócio para a região. O processo de pelo crescimento e desenvolvimento da microrregião sudoeste do Estado. Conforme Ferreira e Braga (2004), as cooperativas internacionalização da COMIGO a consolidou como uma empresa agropecuárias focada na exportação de produtos, com toda sua produção realizada em significativo, principalmente por possibilitar a agregação território brasileiro. Suas principais estratégias de internacionalização foram a formação de joint venture, exportação, formação de parcerias exercem um papel socioeconômico de valor à produção rural, bem como a inserção de para a obtenção e difusão de inovações tecnológicas. Neste sentido, a pequenos COMIGO teve um papel essencial de incentivo ao desenvolvimento, concentrados. condições de produção, suporte técnico e impulso financeiro tanto aos Neste sentido, o presente trabalho aborda aspectos da seus cooperados quanto a população em geral. Este desenvolvimento regional atraiu diversas empresas do agronegócio, resultando no médios produtores em mercados internacionalização da COMIGO, no contexto de suas ações crescimento da economia local. e estratégicas, buscando o entendimento das relações entre o processo de internacionalização e os Palavras-chave: Desenvolvimento; internacionalização; joint venture; exportação. processos de agroindustrialização, diversificação e crescimento da cooperativa, enfocando sua importância Introdução no desenvolvimento do município de Rio Verde. O movimento cooperativista mundial é secular, e no Brasil 1 – Referencial Teórico se fortaleceu com a chegada de imigrantes europeus, que trouxeram os ideais da cooperação e fundaram as primeiras cooperativas no Sul do País. Em Goiás, o cooperativismo ganhou força com o processo de expansão da fronteira agrícola a partir da década de 40 e, hoje, tem se mostrado uma alternativa viável para os pequenos produtores na busca de melhor rentabilidade. Um bom exemplo é a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano - COMIGO que é uma cooperativa agropecuária de 1.1 – Estratégias e Internacionalização das Cooperativas Agropecuárias A partir da década de 1970, o processo de internacionalização da economia mundial sofreu fortes alterações socioeconômicas que permitiram a reformulação das estratégias de produção e distribuição das empresas, além da formação de grandes networks (DUPAS, 1999). 1 Mestre em Agronegócio na Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected] Mestranda em Agronegócio na Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected] 3 Doutor em Economia pela UFRJ e Professor do programa de Pós-Graduação em Agronegócio (Mestrado) da UFG. E-mail: [email protected] 2 54 Segundo Brito (2005), quando uma empresa decide se Para Ritossa (2008), a internacionalização produz efeitos internacionalizar, há fundamentalmente três grandes positivos para as cooperativas agropecuárias, no âmbito possibilidades: a atuação isolada e independente, a econômico e/ou social. Deste modo, a internacionalização criação de filiais no exterior ou a cooperação com outras é favorável para as cooperativas, com pouca resistência empresas. dos cooperados em atuar no mercado exterior. As A internacionalização de cooperativas agropecuárias é cooperativas uma tendência mundial e também um dos seus principais ampliado ao adotarem estratégias de diversificação de desafios. Ao privilegiar pessoas ao invés do capital, as produtos voltadas para o comércio internacional, haja cooperativas, geralmente, não se expandem para além vista que o grupo com a menor média de faturamento é o das fronteiras nacionais. Contudo, a intensificação da das cooperativas que negociam apenas commodities e a concorrência nos mercados local e internacional e a maior média é das cooperativas que comercializam oferta de novas oportunidades nas economias dos países commodities e produtos agregados de valor. em desenvolvimento obrigam as cooperativas a formular De novas estratégias que, igualmente, protejam mercados Cooperativas tradicionais e permitam a conquista de novos negócios cooperativas que agregam 8,3 milhões de associados e (RITOSSA, 2008). 274 mil funcionários. O setor agropecuário, principal Desta forma, como decorrência natural do seu sucesso segmento do cooperativismo, tem 1.615 cooperativas, no mercado internacional, algumas estratégias passaram reunindo 942 mil associados e 139 mil funcionários. As a ganhar relevância, entre as quais se destacam as de cooperativas brasileiras agropecuárias são responsáveis controle de qualidade e sanidade dos alimentos, a por 62,19% da produção nacional de trigo, 29,40% da preocupação com as tendências dos consumidores produção de soja, 39,70% do leite sob inspeção federal, internacionais e protecionismo internacional. os problemas Neste acordo agropecuárias com os dados têm da seu faturamento Organização das Brasileiras, existem, no Brasil, 7.261 associados ao 31,52% da produção de suínos e 19,17% da produção sentido, as vinícola (OCB, 2010). organizações que visavam ampliar seu mercado de Os resultados do setor no Brasil são expressivos. O atuação para o exterior, precisaram se adequar às novas agronegócio, com seu desempenho respeitável, tem sido exigências que emergiam, principalmente entre o final da a base da balança comercial brasileira. Em 2009, as década de 1990 e início dos anos 2000, um período cooperativas brasileiras exportaram US$ 3,63 bilhões, o marcado por um intenso protecionismo (ZYLBERSZTAJN, equivalente a 7,09 milhões de toneladas de produtos 2002). (SECEX/MDIC, Para Deboçã (2006), a empresa quando decide se precisam e podem aumentar a sua participação nas internacionalizar passa por três estágios. exportações, pois a maioria das cooperativas ainda não 2010). Contudo, as cooperativas exporta seus produtos. Os graus de internacionalização podem variar de Estágio Exportação (exporta seus produtos, mas não está estabelecida no país de destino, não há estratégias específicas para cada país), passando pelo Estágio Internacional (aqui já ocorre ações de marketing da empresa no país de destino, inclusive podendo haver escritório de representação e formulação de estratégias para o mercado), até o Estágio Multinacional (a empresa já tem filiais no país de destino, com um sistema de administração mais estruturado e autônomo naquele mercado) (DEBOÇÃ, 2006, p.18-19). As cooperativas agropecuárias goianas confirmam a tendência mundial e vêm investindo estrategicamente em segmentos do agronegócio, seja implantando, ampliando ou modernizando suas agroindústrias (RITOSSA, 2008). As cooperativas goianas exportaram, em 2009, o equivalente a US$ 35,4 milhões, ocupando o 7º lugar no ranking dos maiores Estados brasileiros exportadores neste segmento (SECEX/MDIC, 2010). 55 1.2 – Aspectos da Fundação e Internacionalização da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano De acordo com Guimarães (2010), o processo de modernização da agricultura e o fortalecimento da cultura da soja em Rio Verde motivaram a implantação de agroindústrias no município, iniciada pela COMIGO, com a instalação da sua primeira indústria de esmagamento e processamento de soja do Estado de Goiás. Em seguida, outras agroindústrias chegaram ao município, destacando-se a chegada da Perdigão no final da década De acordo com Pedroso e Silva (2005), a sustentação do sudoeste goiano é baseada na agropecuária, sendo a produção de grãos e a pecuária de corte, as atividades principais. Até a década de sessenta, em Rio Verde, a produção pecuária bovina e a cultura de arroz, eram as principais culturas praticadas. A partir de 1970, após o processo de modernização da agricultura em Goiás, Rio Verde diversifica sua produção, tornandose um dos principais produtores de grãos do Estado. Conforme Gonçales (2003), a COMIGO (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano) foi fundada em 06 de julho de 1975, mesmo ano da criação do POLOCENTRO, o principal programa governamental de ação regional do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND). Para Becker e Egler (1998), o II PND (1975/1979) foi considerado o maior empenho do Estado desde o Plano de Metas para gerar mudanças estruturais 2003). Outras políticas contribuíram para incremento da produção agrícola e instalação de agroindústrias em Rio Verde, dentre as quais se destacam o crédito rural subsidiado do Sistema Nacional de Crédito Rural para promover a modernização da agricultura brasileira, via adoção do padrão tecnológico estabelecido pela Revolução Verde; a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) dentro do Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás (Fomentar); o programa estadual de noventa. econômica fundação da COMIGO em Rio Verde (GONÇALES, no Brasil, destacando as vantagens comparativas de cada região brasileira, através da criação de programas de polos de desenvolvimento, sob a orientação das superintendências regionais. O POLOCENTRO se desenvolveu entre 1975 e 1979 e objetivava promover a abertura de áreas do Cerrado para estabelecer atividades agropecuárias. Neste sentido, o cenário de modernização da agricultura, viabilizado por elementos como crédito rural e políticas públicas, através de programas e planos especiais para o desenvolvimento regional foram importantes, pois colaboraram para a Produzir e o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO); e, por fim, a política federal de isenção fiscal. Ao lado dessas políticas e programas, a boa disponibilidade de grãos (principalmente soja e milho) e a infra-estrutura rodoviária auxiliaram na escolha das agroindústrias (LUNAS e ORTEGA, 2003; PEREIRA e ALMEIDA FILHO, 2003). Conforme Gonçales (2003), no processo de modernização agrícola, destaca-se a atuação do governo através de leis e decretos, que foram facilitadores do desempenho das cooperativas. Para Becker e Egler (1998), esse processo de modernização proporcionou um rápido crescimento da economia brasileira, elevação do grau de complexidade e diversificação de seu parque industrial, avanço da tecnificação e dinamismo da agricultura, maior integração das regiões brasileiras, por meio de uma vasta rede de serviços. Para Ferreira e Fernandes Filho (2003), a modernização da agricultura no Sudoeste Goiano iniciou-se na década de 1970, onde foram incorporadas grandes áreas antes tidas como improdutivas. Para que todo esse processo modernizador ocorresse, foram necessários pesados investimentos em tecnologia, demandando um total de recursos financeiros que não era disponível para a maioria dos produtores. É neste momento que o governo entra com sua política de crédito rural subsidiado, colocando-o à disposição dos produtores para adquirirem máquinas e insumos básicos à produção. Esses 56 estímulos governamentais, por outro lado, foram diversificado e a urbanização mais intensa são aspectos concedidos a produtos destinados ao mercado externo, que favorecem esse processo de transformação. visando gerar divisas e reduzir o déficit da balança de A fundação da COMIGO foi motivada por um cenário de pagamentos. Com o fim dos subsídios e a queda dos grandes dificuldades na comercialização, seja na compra valores destinados ao financiamento agrícola, a Região de insumos básicos e/ou na venda da produção. Nesta Sudoeste de Goiás continuou a apresentar altos índices época, o arroz era o principal produto cultivado e o seu de produtividade. preço era determinado basicamente pelos compradores. Segundo a Secretaria de Planejamento e Além disso, os produtores tinham que enfrentar Desenvolvimento do Estado de Goiás – SEPLAN (2010), obstáculos, como a aquisição de sacaria e óleo a instalação da Perdigão em Rio Verde originou uma lubrificante e secagem do arroz. Neste contexto, surgiu a concentração, tanto geográfica quanto setorial, atraindo necessidade da criação de uma cooperativa, que viria a empresas de vários segmentos e consolidando as que já fortalecer a agricultura local e dar suporte aos produtores, mantinham e principalmente através do fornecimento de insumos a Kowalski, Orsa (fábrica de embalagens), Videplast preços mais acessíveis e de qualidade superior, além da (fábrica de embalagens), Cervejaria Malta (bebidas), prestação de serviços de comercialização, armazenagem Rinco (refrigerantes), Brasilata, Pioneer, John Deere, e assistência técnica (COMIGO, 2010). Monsanto, de Inicialmente, 67 produtores se dispuseram a fundar a processamento e tradings multinacionais e brasileiras, cooperativa, com a quota-parte com valor aproximado de como Coinbra, COMIGO, Cargill, Caramuru, ADM e quatro mil dólares. Porém, desses 67, apenas 31 Bunge. integralizaram, de fato, o capital social no ano de suas Case, Conforme plantas além instaladas, de Guimarães grandes (2010), p. como Siol indústrias 23, “em, fundação (1975). Posteriormente, em 1977, outros 19 aproximadamente, uma década, a microrregião Sudoeste produtores de Goiás e o município de Rio Verde passaram por completando os 50 sócios fundadores da COMIGO intensas e rápidas modificações, destacando-se como (COMIGO, 2010). pólo nacional do agronegócio”. O avanço do agronegócio Em fevereiro de 1976, as atividades da COMIGO se em Rio Verde gerou benefícios e impasses, propiciando a iniciaram ao abrir uma loja de revenda de bens de instalação de várias empresas do segmento e atraindo consumo. Nos anos subsequentes, a cooperativa investiu pessoas de diversas regiões do país. Conforme dados da na infra-estrutura armazenadora de grãos em Rio Verde, SEPLAN (2010), ao se comparar a população de 2009 em consequência do aumento da área plantada, realiza com a de 2001, observa-se que houve crescimento de sua primeira exportação de grãos, de forma pioneira em 36%, resultante da migração em busca de melhores Goiás, em 1980, para a Suíça (COMIGO, 2010). oportunidades. Deste modo, o crescimento desordenado Em 1982, foi iniciada a construção da indústria de da população trouxe consigo uma série de problemas que processamento de soja e de três armazéns graneleiros, acabaram por transformar a realidade do município, com intuito de agregar valor à produção da cooperativa e acarretando uma elevação da demanda por moradia e evitar que essa soja fosse processada em outros infra-estrutura Estados. Em 1983, essas obras foram concluídas, mesmo provocou um básica, aumento o que no consequentemente, preço dos aluguéis, integralizaram também suas quotas, ano em que inicia seus respectivos funcionamentos favorecendo a especulação imobiliária. Para Santos e (COMIGO, 2010). Silveira (1998), a agricultura moderna, o consumo Nos anos seguintes, a COMIGO, na busca de ampliar a diversificação de suas atividades, começa a investir na 57 fabricação de outros produtos como óleo de soja refinado, 2 – Metodologia farelo de soja, sabão, rações, produtos lácteos (leite pasteurizado, requeijão cremoso, manteiga, creme de leite pasteurizado, iogurte, doce de leite, e vários tipos de internacionalização da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano e sua contribuição queijo), fertilizantes, sementes e sal mineral. A partir de 1988, a cooperativa passou a atuar como agente do capital financeiro, através de duas cooperativas de crédito a Credi-Rural COMIGO (Cooperativa de Crédito Rural) e a Credi-COMIGO (Cooperativa de Crédito) que, inclusive, tem compensação de cheques para o desenvolvimento do município de Rio Verde, onde a cooperativa decidiu como principal estratégia ofertar produtos agroindustrializados voltados ao consumidor final. Para tanto, foram utilizadas fontes secundárias, provenientes de informações da COMIGO, de pesquisas própria. Em meados da década de 90, com o intuito de viabilizar a agricultura goiana e desenvolver a suinocultura da região, a COMIGO assinou um contrato com a empresa Nieuw Dalland, da Holanda, para a instalação de um núcleo genético de suínos em Rio Verde. A joint venture firmada passou a se chamar Dalland COMIGO, cujo núcleo mantém sempre 300 animais bisavós em constante produção (COMIGO, 2010). Segundo Dupas (1999), a formação O presente trabalho apresenta os aspectos da fundação e de joint ventures permite maximizar (SEPLAN), do Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado de Goiás (OCB-GO) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), além de dados secundários coletados a partir de consultas coletados a publicações diversas referentes à cooperativa em estudo. 3 – Resultados e Discussões o aproveitamento de economias de custos alcançadas com a integração de suas atividades internacionais, sem o custo de comprar o controle que pode ser exercido através de outros tipos de acordo. Desta forma, a COMIGO participa de uma network na condição de coordenação e articulação do processo, o que ocorre na suinocultura, onde o Projeto Buriti da Perdigão, é influenciado pelas atividades da joint venture Dalland-COMIGO que fornece parte das fêmeas e dos machos para a Perdigão. Assim, a cooperativa garante uma fonte extra e alternativa de rendimento para o cooperado associado e também um futuro mercado em expansão para a sua fábrica de ração de forma competitiva na própria região de produção. Esta atitude cria um importante posicionamento para a cooperativa em um nicho de mercado incentivado por ela. Isto caracteriza mais uma vez uma relação de rede onde a joint venture inicial pode ter se constituído em uma atividade que pode ter contribuído para a atração da instalação da Perdigão na região (BIALOSKORSKI NETO et. al., 2002). da Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás A internacionalização da COMIGO compreende um processo de estratégias e mudanças na organização, destacando-se a dinâmica do seu processo de agroindustrialização e diversificação dos seus produtos, que resultaram no crescimento do volume de negócios da Cooperativa ao longo dos anos. Com foco no crescimento da Cooperativa, a COMIGO iniciou a industrialização de seus próprios produtos. Neste sentido, a agroindustrialização é uma das questões centrais das mudanças executadas na COMIGO, visando à internacionalização dos seus negócios. O complexo agroindustrial da COMIGO é diversificado e é composto por Unidade de Envase de Óleo de Soja, Fábrica de Fertilizantes, Fábrica de Rações, Fábrica de Sabão, Indústria de Laticínio, Fábrica de Suplemento Mineral, Unidade de Beneficiamento de Sementes, além de diversos laboratórios de pesquisas e análises entre outras estruturas. No complexo, são processados a maioria da matéria prima que chega da região, agregando valor à produção do cooperado e produzindo diversos produtos 58 ofertados pela COMIGO. A capacidade agroindustrial da COMIGO, atualmente, é dada no quadro a seguir: Quadro 1: COMIGO - Capacidade Agroindustrial, 2009 Ramos de Atividades Moageira de Soja Refinaria de Óleo de Soja Fábrica de Fertilizantes Fábrica de Ração Fábrica de Sabão Unidade de Processamento de Leite Unidade de Sal Mineralizado Unidade de Descaroçamento de Algodão Unidade de Beneficiamento de Sementes Capacidade 3.500 t/dia 150 t/dia 100 t/h 40 t/h 20 t/dia 120 mil l/dia 36 t/dia 7.500 @/dia 180 mil sacos/ano Fonte: COMIGO (2010) As atividades da cooperativa, com abertura de lojas, A COMIGO possui armazéns de recepção e secagem de armazéns para secagem e estocagem da produção, grãos que contemplam as principais regiões produtivas do indústria de esmagamento de soja, implantação de uma Centro-Oeste Goiano, criando um mecanismo estratégico fábrica de rações, fábrica de sabão, laticínio e insumos, para constituem um grupo de negócios que abrange grande consequentemente, parte das atividades dos produtores rurais associados à industrialização. A tabela a seguir mostra a capacidade COMIGO (BRAGA e SOUZA, 2007). de todos os armazéns da cooperativa que atinge mais de coleta da produção seu dos cooperados processamento e, e um milhão de toneladas. Tabela 1: COMIGO - Capacidade Armazenadora e de Secagem, 2009 Capacidade Unidade Armazenadora Armazenagem (t) Secagem (t/h) Rio Verde 358.280 1.140 Montividiu 145.000 400 Jataí - Sede 138.000 320 Acreúna 66.000 120 Paraúna 60.480 323 Jataí - Estrela Dalva 56.000 150 Jataí - Paraíso 55.500 250 Santa Helena 40.200 100 Indiara 30.000 100 Caiapônia 27.000 150 Serranópolis 15.000 125 Bom Jardim (Jataí/Serranópolis) 4.800 40 Montes Claros de Goiás 4.500 60 Total 1.000.760 3.278 Fonte: COMIGO (2010) 59 De acordo com Bialoskorski Neto et. al. (2002), a necessidades dos seus cooperados e incentivar o cooperativa de produção ganhou mais um elemento de desenvolvimento regional. fundamental que Conforme Lunas e Ortega (2003), a COMIGO atua em possibilitou o fluxo de capitais no sistema. A COMIGO diversas áreas do setor produtivo, inclusive no setor a permitiu formação de importantes elementos de incentivo montante ao fornecendo insumos e sementes para os produtores. Esta importância, desenvolvimento, a base financeira condições de produção, do complexo geração de tecnologia própria, e impulso financeiro. financei Este rentabilidade e um aumento no seu patrimônio, permitindo desenvolvimento regional atraiu diversas empresas do investimentos constantes em setores produtivos que têm Sistema uma se mostrado potenciais geradores ger de renda na região. A alavanca definitiva da economia local, entre os anos 80 e cooperativa já investiu na montagem de uma fábrica de 90. rações para atender o mercado que tem se formado A COMIGO, ao mesmo tempo em que buscou a desde a instalação do complexo de carne de suínos e diversificação das aves na região. também atividades ampliou culminando em Soja, sua um tornando tornando-se dos seus capacidade processo de asso associados agroindustrial, crescimento tem garantido região, diversificação da empresa da processamento, comercialização, assistência técnica, Agroindustrial da agroind agroindustrial uma Para Rossés et. al. (2010), as organizações cooperativas cooperativa contribuem para desenvolvimento socioeconômico, relativamente acelerado. De acordo com Ferreira e Braga através da geração de emprego e renda. (2004), as cooperativas por sua preocupação com o lado seguir mostra o crescimento do número de empregados e social tendem a apostar na diversificação, enquanto cooperados observados na COMIGO, no período de 2006 estratégia a 2009. de desenvolvimento, para atender às Figura a 1: Evolução do quadro de empregados e cooperados da COMIGO no período de 2006 a O gráfico a 2009 Fonte: COMIGO (2010) Assim, a COMIGO tornou-se se uma das maiores cooperativas do agronegócio de Goiás, com um grande número de cooperados que hoje já atinge mais de 4.600. O número de funcionários diretos é de aproximadamente 60 1.700, todavia com os empregos terceirizados, este existir, será apenas uma decorrência de relação ética e número alcança quatro mil (COMIGO, 2010). habitual. Deste modo, a cooperativa é estimulada como Gonçales (2008) explica o sucesso da cooperativa. uma forma de promover o desenvolvimento e a garantia Segundo este autor, a cooperativa tem credibilidade do de renda para o associado. (GONÇALES, 2008). produtor rural, porque o próprio cooperado tende a dar O Encontro Tecnológico que a COMIGO realiza, a prioridade à assistência técnica da cooperativa, a balança TECNOSHOW de pesagem e os critérios de sua cooperativa, bem como referência em feiras do gênero no Brasil e atraindo a o fertilizante. Esta situação é interessante para a atenção de expositores e visitantes de vários Estados, cooperativa, porque além de propiciar um faturamento inclusive de outros países. Segundo Bialoskorski Neto et. significativo, também garante uma recepção mínima de al. (2002), é importante salientar que este tipo de soja para a cooperativa. Deve-se ressaltar que o restante atividade é realizado por meio de parcerias importantes da produção poderá ser transacionado com quaisquer com empresas de vários segmentos do agronegócio. A outros agentes regionais, garantindo a estes também uma tabela a seguir mostra a evolução do número de produção expositores e visitantes ao longo de todas as edições da marginal advinda dos produtores da cooperativa. Não há instrumento contratual que exija COMIGO, está consolidado, sendo feira. fidelidade entre o produtor e sua cooperativa, e quando Tabela 2: Evolução do número de visitantes e expositores da Tecnoshow COMIGO de 2002 a 2010 Anos Visitantes Expositores 2002 5000 50 2003 16500 100 2004 40000 150 2005 38000 180 2006 36000 175 2007 41000 215 2008 50800 250 2009 56000 320 2010 61000 350 Fonte: COMIGO (2010) Somado ao processo de agroindustrialização e Em 2009, a COMIGO teve um faturamento proveniente diversificação, a COMIGO com o intuito de expandir seus das exportações de farelo de soja de aproximadamente mercados, vem aumentando seu volume de exportação, US$ 23,7 milhões, um incremento de 6,01% do total de tendo como produto principal, o farelo de soja. Neste suas exportações de 2008, quando faturou US$ 22,4 sentido, de acordo com os graus de internacionalização, a milhões (COMIGO, 2010). O gráfico a seguir mostra a COMIGO encontra-se no estágio de exportação, onde a composição parcial da receita operacional bruta da cooperativa apenas “exporta seus produtos, mas não está COMIGO em 2008. estabelecida no país de destino e não há estratégias específicas para cada país”. 61 Gráfico 2: Composição parcial da receita operacional bruta da COMIGO em 2008 Fonte: COMIGO (2010) se Pode-se observar que a maior parte da receita da implantação do parque industrial, que foi operacional bruta, 67% é proveniente dos produtos gradativamente se diversificando e tendo sua infrainfra agrícolas, agroindustriais e pecuários, 32% é procedente estrutura ampliada. Isto posto, conforme a cooperativa das lojas agropecuárias, de insumos e rações e apenas realiza 1% é oriundo da prestação de serviços. Neste sentido, desenvolvimento lvimento do município e influencia a dinâmica nota-se que a maior parte do faturamento aturamento da cooperativa social ao participar ativamente de diversas atividades está relacionada à agroindústria. econômicas, sociais, culturais e políticas. Ao diversificar A COMIGO, com faturamento de 1,3 bilhão de reais em as suas atividades industriais, a COMIGO criou um 2009, conta com duas esmagadoras de soja, que ambiente favorável para que Rio Verde e outras outra cidades somadas podem processar 3,5 mil toneladas ao dia. se desenvolvessem mais do que outros municípios do Aproximadamente 20% da produção de farelo de soja soj são Sudoeste Goiano, consolidando-se consolidando como pólo regional, exportados, e o restante da produção é consumido em no comércio, prestação de serviços e agroindústria. e/ou atrai investimentos, colabora para o Goiás e em outros Estados (COMIGO, 2010). O farelo é o único produto derivado da soja exportado Considerações Finais pela COMIGO, cerca de 80.000 toneladas por ano. Os países de destino são os Estados Unidos e o Canadá. No Com o mercado cada vez mais competitivo e globalizado, mercado interno, este produto atende a demanda da a maioria das empresas necessita de se internacionalizar, Região Centro-Oeste, Oeste, Minas Gerais, São Paulo e Santa ou seja, estar presente nos mercados mundiais. Neste Catarina. sentido, o processo de internacionalização contribui não Em Rio Verde, a Perdigão consume, mensalmente, 10.000 toneladas (COMIGO, 2010). só para o desenvolvimento da empresa, empr mas também De acordo com Gonçales (2003), a COMIGO impulsionou para o crescimento da sociedade na qual está inserida. o desenvolvimento volvimento de Rio Verde, principalmente através Através da internacionalização, o valor agregado das 62 empresas aumenta, impulsionando seu crescimento. Dessa forma, o número de empresas aumenta, DUPAS, G. E. Economia e Exclusão Social: pobreza, emprego, Estado e o futuro do capitalismo. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. diversificando os setores de atividade (transportes, serviços, financeiras, etc.), desenvolvendo a empresa e a comunidade. FERREIRA, M. A. M.; BRAGA, M. J. Diversificação e competitividade nas cooperativas agropecuárias. Rev. adm. contemp. 2004, vol.8, n.4, p. 33-55. Até meados da década de setenta, o município de Rio Verde encontrava-se em condições difíceis, sem maiores perspectivas nascimento idealizada de desenvolvimento. da cooperativa pelos produtores Assim, após o COMIGO, em 1975, de da região, arroz conseguiram com a busca de novas tecnologias e empenho dar início a um processo de desenvolvimento na agricultura da região. Baseado no surgimento da COMIGO, que propiciou o desenvolvimento das áreas cultivadas como um todo, diversas empresas de bases GONÇALES, C. A Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. (COMIGO) e o Desenvolvimento da Região de Rio Verde-GO. In: PEREIRA, Sebastião L; XAVIER, Clésio L. (Orgs.) O agronegócio nas terras de Goiás. Uberlândia: EDUFU, 2003. 341p. GONÇALES, C. A. As políticas públicas, a modernização dos cerrados e o complexo soja no sul goiano: 1970-2005. 245 f. Tese (Doutorado em Geografia Agrícola) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2008. agrícolas implantaram suas fábricas na região. Hoje, Cargill, Bunge e outras empresas de menor porte participam ativamente da movimentação de capital dessa área. GUIMARÃES, G. M. A. Agronegócio, desenvolvimento e sustentabilidade: um estudo de caso em Rio Verde – GO. 168 f. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais), Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2010. Neste contexto, pode-se observar que o processo de internacionalização da COMIGO contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento do município de Rio Verde, atraindo empresas de diversos ramos do agronegócio, promovendo o fortalecimento da economia local. LUNAS, D. A. L.; ORTEGA, A. C. A. Constituição do Complexo Agroindustrial da Soja no Sudoeste Goiano. In: O Agronegócio nas Terras de Goiás. Uberlândia: Editora Edufu. 1. ed. 2003. 341 p. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>. Acessado em: 18/02/2011. Referências Bibliográficas BECKER, B. K.; EGLER, C. A. G. Brasil: uma nova potência mundial na economia-mundo. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 272 p. COMIGO. Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano. Disponível em: http://www.comigo.com.br. Acesso em: 06/01/2011. DEBOÇÃ, L. P. Estratégias mercadológicas em cooperativas agroindustriais: um estudo de caso no Paraná. 137 f. 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