O Processo de
Internacionalização da
Cooperativa Agroindustrial
dos Produtores Rurais do
Sudoeste Goiano e o
Desenvolvimento do
Município de Rio Verde
Kellen Cristina Campos Fernandes
2
Karine Diniz Xavier
3
Dr. Reginaldo Santana Figueiredo
1
Resumo: O presente trabalho está focado na importância da
grande relevância para Goiás e é responsável, em grande
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano
parte,
(COMIGO) no desenvolvimento do município de Rio Verde, mostrando
como seu processo de internacionalização influenciou para a atração de
empresas
do
agronegócio
para
a
região.
O
processo
de
pelo
crescimento
e
desenvolvimento
da
microrregião sudoeste do Estado.
Conforme Ferreira e Braga (2004), as cooperativas
internacionalização da COMIGO a consolidou como uma empresa
agropecuárias
focada na exportação de produtos, com toda sua produção realizada em
significativo, principalmente por possibilitar a agregação
território brasileiro. Suas principais estratégias de internacionalização
foram a formação de joint venture, exportação, formação de parcerias
exercem
um
papel
socioeconômico
de valor à produção rural, bem como a inserção de
para a obtenção e difusão de inovações tecnológicas. Neste sentido, a
pequenos
COMIGO teve um papel essencial de incentivo ao desenvolvimento,
concentrados.
condições de produção, suporte técnico e impulso financeiro tanto aos
Neste sentido, o presente trabalho aborda aspectos da
seus cooperados quanto a população em geral. Este desenvolvimento
regional atraiu diversas empresas do agronegócio, resultando no
médios
produtores
em
mercados
internacionalização da COMIGO, no contexto de suas
ações
crescimento da economia local.
e
estratégicas, buscando o entendimento
das
relações entre o processo de internacionalização e os
Palavras-chave:
Desenvolvimento;
internacionalização;
joint
venture; exportação.
processos
de
agroindustrialização,
diversificação
e
crescimento da cooperativa, enfocando sua importância
Introdução
no desenvolvimento do município de Rio Verde.
O movimento cooperativista mundial é secular, e no Brasil
1 – Referencial Teórico
se fortaleceu com a chegada de imigrantes europeus, que
trouxeram os ideais da cooperação e fundaram as
primeiras cooperativas no Sul do País.
Em Goiás, o cooperativismo ganhou força com o
processo de expansão da fronteira agrícola a partir da
década de 40 e, hoje, tem se mostrado uma alternativa
viável para os pequenos produtores na busca de melhor
rentabilidade.
Um
bom
exemplo
é
a
Cooperativa
Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano
- COMIGO que é uma cooperativa agropecuária de
1.1 – Estratégias e Internacionalização das
Cooperativas Agropecuárias
A
partir
da
década
de
1970,
o
processo
de
internacionalização da economia mundial sofreu fortes
alterações
socioeconômicas
que
permitiram
a
reformulação das estratégias de produção e distribuição
das empresas, além da formação de grandes networks
(DUPAS, 1999).
1
Mestre em Agronegócio na Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected]
Mestranda em Agronegócio na Universidade Federal de Goiás – UFG. E-mail: [email protected]
3
Doutor em Economia pela UFRJ e Professor do programa de Pós-Graduação em Agronegócio (Mestrado) da UFG. E-mail: [email protected]
2
54
Segundo Brito (2005), quando uma empresa decide se
Para Ritossa (2008), a internacionalização produz efeitos
internacionalizar, há fundamentalmente três grandes
positivos para as cooperativas agropecuárias, no âmbito
possibilidades: a atuação isolada e independente, a
econômico e/ou social. Deste modo, a internacionalização
criação de filiais no exterior ou a cooperação com outras
é favorável para as cooperativas, com pouca resistência
empresas.
dos cooperados em atuar no mercado exterior. As
A internacionalização de cooperativas agropecuárias é
cooperativas
uma tendência mundial e também um dos seus principais
ampliado ao adotarem estratégias de diversificação de
desafios. Ao privilegiar pessoas ao invés do capital, as
produtos voltadas para o comércio internacional, haja
cooperativas, geralmente, não se expandem para além
vista que o grupo com a menor média de faturamento é o
das fronteiras nacionais. Contudo, a intensificação da
das cooperativas que negociam apenas commodities e a
concorrência nos mercados local e internacional e a
maior média é das cooperativas que comercializam
oferta de novas oportunidades nas economias dos países
commodities e produtos agregados de valor.
em desenvolvimento obrigam as cooperativas a formular
De
novas estratégias que, igualmente, protejam mercados
Cooperativas
tradicionais e permitam a conquista de novos negócios
cooperativas que agregam 8,3 milhões de associados e
(RITOSSA, 2008).
274 mil funcionários. O setor agropecuário, principal
Desta forma, como decorrência natural do seu sucesso
segmento do cooperativismo, tem 1.615 cooperativas,
no mercado internacional, algumas estratégias passaram
reunindo 942 mil associados e 139 mil funcionários. As
a ganhar relevância, entre as quais se destacam as de
cooperativas brasileiras agropecuárias são responsáveis
controle de qualidade e sanidade dos alimentos, a
por 62,19% da produção nacional de trigo, 29,40% da
preocupação com as tendências dos consumidores
produção de soja, 39,70% do leite sob inspeção federal,
internacionais
e
protecionismo
internacional.
os
problemas
Neste
acordo
agropecuárias
com
os
dados
têm
da
seu
faturamento
Organização
das
Brasileiras, existem, no Brasil, 7.261
associados
ao
31,52% da produção de suínos e 19,17% da produção
sentido,
as
vinícola (OCB, 2010).
organizações que visavam ampliar seu mercado de
Os resultados do setor no Brasil são expressivos. O
atuação para o exterior, precisaram se adequar às novas
agronegócio, com seu desempenho respeitável, tem sido
exigências que emergiam, principalmente entre o final da
a base da balança comercial brasileira. Em 2009, as
década de 1990 e início dos anos 2000, um período
cooperativas brasileiras exportaram US$ 3,63 bilhões, o
marcado por um intenso protecionismo (ZYLBERSZTAJN,
equivalente a 7,09 milhões de toneladas de produtos
2002).
(SECEX/MDIC,
Para Deboçã (2006), a empresa quando decide se
precisam e podem aumentar a sua participação nas
internacionalizar passa por três estágios.
exportações, pois a maioria das cooperativas ainda não
2010).
Contudo,
as
cooperativas
exporta seus produtos.
Os graus de internacionalização podem variar de
Estágio Exportação (exporta seus produtos, mas
não está estabelecida no país de destino, não há
estratégias específicas para cada país), passando
pelo Estágio Internacional (aqui já ocorre ações de
marketing da empresa no país de destino, inclusive
podendo haver escritório de representação e
formulação de estratégias para o mercado), até o
Estágio Multinacional (a empresa já tem filiais no
país de destino, com um sistema de administração
mais estruturado e autônomo naquele mercado)
(DEBOÇÃ, 2006, p.18-19).
As cooperativas agropecuárias goianas confirmam a
tendência mundial e vêm investindo estrategicamente em
segmentos do agronegócio, seja implantando, ampliando
ou modernizando suas agroindústrias (RITOSSA, 2008).
As cooperativas goianas exportaram, em 2009, o
equivalente a US$ 35,4 milhões, ocupando o 7º lugar no
ranking dos maiores Estados brasileiros exportadores
neste segmento (SECEX/MDIC, 2010).
55
1.2 – Aspectos da Fundação e Internacionalização da
Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do
Sudoeste Goiano
De acordo com Guimarães (2010), o processo de
modernização da agricultura e o fortalecimento da cultura
da soja em Rio Verde motivaram a implantação de
agroindústrias no município, iniciada pela COMIGO, com
a instalação da sua primeira indústria de esmagamento e
processamento de soja do Estado de Goiás. Em seguida,
outras
agroindústrias
chegaram
ao
município,
destacando-se a chegada da Perdigão no final da década
De acordo com Pedroso e Silva (2005), a sustentação
do
sudoeste
goiano
é
baseada
na
agropecuária, sendo a produção de grãos e a pecuária de
corte, as atividades principais. Até a década de sessenta,
em Rio Verde, a produção pecuária bovina e a cultura de
arroz, eram as principais culturas praticadas. A partir de
1970, após o processo de modernização da agricultura
em Goiás, Rio Verde diversifica sua produção, tornandose um dos principais produtores de grãos do Estado.
Conforme Gonçales (2003), a COMIGO (Cooperativa
Agroindustrial
dos
Produtores
Rurais
do
Sudoeste
Goiano) foi fundada em 06 de julho de 1975, mesmo ano
da criação do POLOCENTRO, o principal programa
governamental de ação regional do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND). Para Becker e Egler (1998), o II
PND (1975/1979) foi considerado o maior empenho do
Estado desde o Plano de Metas para gerar mudanças
estruturais
2003).
Outras
políticas
contribuíram
para
incremento
da
produção agrícola e instalação de agroindústrias em Rio
Verde, dentre as quais se destacam o crédito rural
subsidiado do Sistema Nacional de Crédito Rural para
promover a modernização da agricultura brasileira, via
adoção
do
padrão
tecnológico
estabelecido
pela
Revolução Verde; a redução do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) dentro
do Fundo de Participação e Fomento à Industrialização
do Estado de Goiás (Fomentar); o programa estadual
de noventa.
econômica
fundação da COMIGO em Rio Verde (GONÇALES,
no
Brasil,
destacando
as
vantagens
comparativas de cada região brasileira, através da
criação de programas de polos de desenvolvimento, sob
a orientação das superintendências regionais.
O POLOCENTRO se desenvolveu entre 1975 e 1979 e
objetivava promover a abertura de áreas do Cerrado para
estabelecer atividades agropecuárias. Neste sentido, o
cenário de modernização da agricultura, viabilizado por
elementos como crédito rural e políticas públicas, através
de programas e planos especiais para o desenvolvimento
regional foram importantes, pois colaboraram para a
Produzir e o Fundo Constitucional de Financiamento do
Centro-Oeste (FCO); e, por fim, a política federal de
isenção fiscal. Ao lado dessas políticas e programas, a
boa disponibilidade de grãos (principalmente soja e milho)
e a infra-estrutura rodoviária auxiliaram na escolha das
agroindústrias (LUNAS e ORTEGA, 2003; PEREIRA e
ALMEIDA FILHO, 2003).
Conforme
Gonçales
(2003),
no
processo
de
modernização agrícola, destaca-se a atuação do governo
através de leis e decretos, que foram facilitadores do
desempenho das cooperativas. Para Becker e Egler
(1998), esse processo de modernização proporcionou um
rápido crescimento da economia brasileira, elevação do
grau de complexidade e diversificação de seu parque
industrial, avanço da tecnificação e dinamismo da
agricultura, maior integração das regiões brasileiras, por
meio de uma vasta rede de serviços.
Para Ferreira e Fernandes Filho (2003), a modernização
da agricultura no Sudoeste Goiano iniciou-se na década
de 1970, onde foram incorporadas grandes áreas antes
tidas como improdutivas. Para que todo esse processo
modernizador ocorresse, foram necessários pesados
investimentos em tecnologia, demandando um total de
recursos financeiros que não era disponível para a
maioria dos produtores. É neste momento que o governo
entra com sua política de crédito rural subsidiado,
colocando-o à disposição dos produtores para adquirirem
máquinas e insumos básicos à produção. Esses
56
estímulos
governamentais,
por
outro
lado,
foram
diversificado e a urbanização mais intensa são aspectos
concedidos a produtos destinados ao mercado externo,
que favorecem esse processo de transformação.
visando gerar divisas e reduzir o déficit da balança de
A fundação da COMIGO foi motivada por um cenário de
pagamentos. Com o fim dos subsídios e a queda dos
grandes dificuldades na comercialização, seja na compra
valores destinados ao financiamento agrícola, a Região
de insumos básicos e/ou na venda da produção. Nesta
Sudoeste de Goiás continuou a apresentar altos índices
época, o arroz era o principal produto cultivado e o seu
de produtividade.
preço era determinado basicamente pelos compradores.
Segundo
a
Secretaria
de
Planejamento
e
Além
disso,
os
produtores
tinham
que
enfrentar
Desenvolvimento do Estado de Goiás – SEPLAN (2010),
obstáculos, como a aquisição de sacaria e óleo
a instalação da Perdigão em Rio Verde originou uma
lubrificante e secagem do arroz. Neste contexto, surgiu a
concentração, tanto geográfica quanto setorial, atraindo
necessidade da criação de uma cooperativa, que viria a
empresas de vários segmentos e consolidando as que já
fortalecer a agricultura local e dar suporte aos produtores,
mantinham
e
principalmente através do fornecimento de insumos a
Kowalski, Orsa (fábrica de embalagens), Videplast
preços mais acessíveis e de qualidade superior, além da
(fábrica de embalagens), Cervejaria Malta (bebidas),
prestação de serviços de comercialização, armazenagem
Rinco (refrigerantes), Brasilata, Pioneer, John Deere,
e assistência técnica (COMIGO, 2010).
Monsanto,
de
Inicialmente, 67 produtores se dispuseram a fundar a
processamento e tradings multinacionais e brasileiras,
cooperativa, com a quota-parte com valor aproximado de
como Coinbra, COMIGO, Cargill, Caramuru, ADM e
quatro mil dólares. Porém, desses 67, apenas 31
Bunge.
integralizaram, de fato, o capital social no ano de
suas
Case,
Conforme
plantas
além
instaladas,
de
Guimarães
grandes
(2010),
p.
como
Siol
indústrias
23,
“em,
fundação (1975). Posteriormente, em 1977, outros 19
aproximadamente, uma década, a microrregião Sudoeste
produtores
de Goiás e o município de Rio Verde passaram por
completando os 50 sócios fundadores da COMIGO
intensas e rápidas modificações, destacando-se como
(COMIGO, 2010).
pólo nacional do agronegócio”. O avanço do agronegócio
Em fevereiro de 1976, as atividades da COMIGO se
em Rio Verde gerou benefícios e impasses, propiciando a
iniciaram ao abrir uma loja de revenda de bens de
instalação de várias empresas do segmento e atraindo
consumo. Nos anos subsequentes, a cooperativa investiu
pessoas de diversas regiões do país. Conforme dados da
na infra-estrutura armazenadora de grãos em Rio Verde,
SEPLAN (2010), ao se comparar a população de 2009
em consequência do aumento da área plantada, realiza
com a de 2001, observa-se que houve crescimento de
sua primeira exportação de grãos, de forma pioneira em
36%, resultante da migração em busca de melhores
Goiás, em 1980, para a Suíça (COMIGO, 2010).
oportunidades. Deste modo, o crescimento desordenado
Em 1982, foi iniciada a construção da indústria de
da população trouxe consigo uma série de problemas que
processamento de soja e de três armazéns graneleiros,
acabaram por transformar a realidade do município,
com intuito de agregar valor à produção da cooperativa e
acarretando uma elevação da demanda por moradia e
evitar que essa soja fosse processada em outros
infra-estrutura
Estados. Em 1983, essas obras foram concluídas, mesmo
provocou
um
básica,
aumento
o
que
no
consequentemente,
preço
dos
aluguéis,
integralizaram
também
suas
quotas,
ano em que inicia seus respectivos funcionamentos
favorecendo a especulação imobiliária. Para Santos e
(COMIGO, 2010).
Silveira (1998), a agricultura moderna, o consumo
Nos anos seguintes, a COMIGO, na busca de ampliar a
diversificação de suas atividades, começa a investir na
57
fabricação de outros produtos como óleo de soja refinado,
2 – Metodologia
farelo de soja, sabão, rações, produtos lácteos (leite
pasteurizado, requeijão cremoso, manteiga, creme de
leite pasteurizado, iogurte, doce de leite, e vários tipos de
internacionalização da Cooperativa Agroindustrial dos
Produtores Rurais do Sudoeste Goiano e sua contribuição
queijo), fertilizantes, sementes e sal mineral.
A partir de 1988, a cooperativa passou a atuar como
agente do capital financeiro, através de duas cooperativas
de crédito a Credi-Rural COMIGO (Cooperativa de
Crédito Rural) e a Credi-COMIGO (Cooperativa de
Crédito) que, inclusive, tem compensação de cheques
para o desenvolvimento do município de Rio Verde, onde
a cooperativa decidiu como principal estratégia ofertar
produtos agroindustrializados voltados ao consumidor
final.
Para
tanto,
foram
utilizadas
fontes
secundárias,
provenientes de informações da COMIGO, de pesquisas
própria.
Em meados da década de 90, com o intuito de viabilizar a
agricultura goiana e desenvolver a suinocultura da região,
a COMIGO assinou um contrato com a empresa Nieuw
Dalland, da Holanda, para a instalação de um núcleo
genético de suínos em Rio Verde. A joint venture firmada
passou a se chamar Dalland COMIGO, cujo núcleo
mantém sempre 300 animais bisavós em constante
produção (COMIGO, 2010). Segundo Dupas (1999), a
formação
O presente trabalho apresenta os aspectos da fundação e
de
joint
ventures
permite
maximizar
(SEPLAN), do Sindicato e Organização das Cooperativas
Brasileiras do Estado de Goiás (OCB-GO) e do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), além de dados secundários coletados a partir de
consultas coletados a publicações diversas referentes à
cooperativa em estudo.
3 – Resultados e Discussões
o
aproveitamento de economias de custos alcançadas com
a integração de suas atividades internacionais, sem o
custo de comprar o controle que pode ser exercido
através de outros tipos de acordo.
Desta forma, a COMIGO participa de uma network na
condição de coordenação e articulação do processo, o
que ocorre na suinocultura, onde o Projeto Buriti da
Perdigão, é influenciado pelas atividades da joint venture
Dalland-COMIGO que fornece parte das fêmeas e dos
machos para a Perdigão. Assim, a cooperativa garante
uma fonte extra e alternativa de rendimento para o
cooperado associado e também um futuro mercado em
expansão para a sua fábrica de ração de forma
competitiva na própria região de produção. Esta atitude
cria um importante posicionamento para a cooperativa em
um nicho de mercado incentivado por ela. Isto caracteriza
mais uma vez uma relação de rede onde a joint venture
inicial pode ter se constituído em uma atividade que pode
ter contribuído para a atração da instalação da Perdigão
na região (BIALOSKORSKI NETO et. al., 2002).
da Secretaria de Planejamento do Estado de Goiás
A internacionalização da COMIGO compreende um
processo de estratégias e mudanças na organização,
destacando-se
a
dinâmica
do
seu
processo
de
agroindustrialização e diversificação dos seus produtos,
que resultaram no crescimento do volume de negócios da
Cooperativa ao longo dos anos.
Com foco no crescimento da Cooperativa, a COMIGO
iniciou a industrialização de seus próprios produtos. Neste
sentido, a agroindustrialização é uma das questões
centrais das mudanças executadas na COMIGO, visando
à internacionalização dos seus negócios. O complexo
agroindustrial da COMIGO é diversificado e é composto
por Unidade de Envase de Óleo de Soja, Fábrica de
Fertilizantes, Fábrica de Rações, Fábrica de Sabão,
Indústria de Laticínio, Fábrica de Suplemento Mineral,
Unidade de Beneficiamento de Sementes, além de
diversos laboratórios de pesquisas e análises entre outras
estruturas. No complexo, são processados a maioria da
matéria prima que chega da região, agregando valor à
produção do cooperado e produzindo diversos produtos
58
ofertados pela COMIGO. A capacidade agroindustrial da COMIGO, atualmente, é dada no quadro a seguir:
Quadro 1: COMIGO - Capacidade Agroindustrial, 2009
Ramos de Atividades
Moageira de Soja
Refinaria de Óleo de Soja
Fábrica de Fertilizantes
Fábrica de Ração
Fábrica de Sabão
Unidade de Processamento de Leite
Unidade de Sal Mineralizado
Unidade de Descaroçamento de Algodão
Unidade de Beneficiamento de Sementes
Capacidade
3.500 t/dia
150 t/dia
100 t/h
40 t/h
20 t/dia
120 mil l/dia
36 t/dia
7.500 @/dia
180 mil sacos/ano
Fonte: COMIGO (2010)
As atividades da cooperativa, com abertura de lojas,
A COMIGO possui armazéns de recepção e secagem de
armazéns para secagem e estocagem da produção,
grãos que contemplam as principais regiões produtivas do
indústria de esmagamento de soja, implantação de uma
Centro-Oeste Goiano, criando um mecanismo estratégico
fábrica de rações, fábrica de sabão, laticínio e insumos,
para
constituem um grupo de negócios que abrange grande
consequentemente,
parte das atividades dos produtores rurais associados à
industrialização. A tabela a seguir mostra a capacidade
COMIGO (BRAGA e SOUZA, 2007).
de todos os armazéns da cooperativa que atinge mais de
coleta
da
produção
seu
dos
cooperados
processamento
e,
e
um milhão de toneladas.
Tabela 1: COMIGO - Capacidade Armazenadora e de Secagem, 2009
Capacidade
Unidade Armazenadora
Armazenagem (t) Secagem (t/h)
Rio Verde
358.280
1.140
Montividiu
145.000
400
Jataí - Sede
138.000
320
Acreúna
66.000
120
Paraúna
60.480
323
Jataí - Estrela Dalva
56.000
150
Jataí - Paraíso
55.500
250
Santa Helena
40.200
100
Indiara
30.000
100
Caiapônia
27.000
150
Serranópolis
15.000
125
Bom Jardim (Jataí/Serranópolis)
4.800
40
Montes Claros de Goiás
4.500
60
Total
1.000.760
3.278
Fonte: COMIGO (2010)
59
De acordo com Bialoskorski Neto et. al. (2002), a
necessidades dos seus cooperados e incentivar o
cooperativa de produção ganhou mais um elemento de
desenvolvimento regional.
fundamental
que
Conforme Lunas e Ortega (2003), a COMIGO atua em
possibilitou o fluxo de capitais no sistema. A COMIGO
diversas áreas do setor produtivo, inclusive no setor a
permitiu formação de importantes elementos de incentivo
montante
ao
fornecendo insumos e sementes para os produtores. Esta
importância,
desenvolvimento,
a
base
financeira
condições
de
produção,
do
complexo
geração de tecnologia própria, e impulso financeiro.
financei
Este
rentabilidade e um aumento no seu patrimônio, permitindo
desenvolvimento regional atraiu diversas empresas do
investimentos constantes em setores produtivos que têm
Sistema
uma
se mostrado potenciais geradores
ger
de renda na região. A
alavanca definitiva da economia local, entre os anos 80 e
cooperativa já investiu na montagem de uma fábrica de
90.
rações para atender o mercado que tem se formado
A COMIGO, ao mesmo tempo em que buscou a
desde a instalação do complexo de carne de suínos e
diversificação das
aves na região.
também
atividades
ampliou
culminando
em
Soja,
sua
um
tornando
tornando-se
dos
seus
capacidade
processo
de
asso
associados
agroindustrial,
crescimento
tem
garantido
região,
diversificação
da
empresa
da
processamento, comercialização, assistência técnica,
Agroindustrial
da
agroind
agroindustrial
uma
Para Rossés et. al. (2010), as organizações cooperativas
cooperativa
contribuem
para
desenvolvimento
socioeconômico,
relativamente acelerado. De acordo com Ferreira e Braga
através da geração de emprego e renda.
(2004), as cooperativas por sua preocupação com o lado
seguir mostra o crescimento do número de empregados e
social tendem a apostar na diversificação, enquanto
cooperados observados na COMIGO, no período de 2006
estratégia
a 2009.
de
desenvolvimento,
para
atender
às
Figura
a 1: Evolução do quadro de empregados e cooperados da COMIGO no período de 2006 a
O gráfico a
2009
Fonte: COMIGO (2010)
Assim,
a
COMIGO
tornou-se
se
uma
das
maiores
cooperativas do agronegócio de Goiás, com um grande
número de cooperados que hoje já atinge mais de 4.600.
O número de funcionários diretos é de aproximadamente
60
1.700, todavia com os empregos terceirizados, este
existir, será apenas uma decorrência de relação ética e
número alcança quatro mil (COMIGO, 2010).
habitual. Deste modo, a cooperativa é estimulada como
Gonçales (2008) explica o sucesso da cooperativa.
uma forma de promover o desenvolvimento e a garantia
Segundo este autor, a cooperativa tem credibilidade do
de renda para o associado. (GONÇALES, 2008).
produtor rural, porque o próprio cooperado tende a dar
O Encontro Tecnológico que a COMIGO realiza, a
prioridade à assistência técnica da cooperativa, a balança
TECNOSHOW
de pesagem e os critérios de sua cooperativa, bem como
referência em feiras do gênero no Brasil e atraindo a
o fertilizante. Esta situação é interessante para a
atenção de expositores e visitantes de vários Estados,
cooperativa, porque além de propiciar um faturamento
inclusive de outros países. Segundo Bialoskorski Neto et.
significativo, também garante uma recepção mínima de
al. (2002), é importante salientar que este tipo de
soja para a cooperativa. Deve-se ressaltar que o restante
atividade é realizado por meio de parcerias importantes
da produção poderá ser transacionado com quaisquer
com empresas de vários segmentos do agronegócio. A
outros agentes regionais, garantindo a estes também uma
tabela a seguir mostra a evolução do número de
produção
expositores e visitantes ao longo de todas as edições da
marginal
advinda
dos
produtores
da
cooperativa. Não há instrumento contratual que exija
COMIGO,
está
consolidado,
sendo
feira.
fidelidade entre o produtor e sua cooperativa, e quando
Tabela 2: Evolução do número de
visitantes e expositores da Tecnoshow
COMIGO de 2002 a 2010
Anos
Visitantes
Expositores
2002
5000
50
2003
16500
100
2004
40000
150
2005
38000
180
2006
36000
175
2007
41000
215
2008
50800
250
2009
56000
320
2010
61000
350
Fonte: COMIGO (2010)
Somado
ao
processo
de
agroindustrialização
e
Em 2009, a COMIGO teve um faturamento proveniente
diversificação, a COMIGO com o intuito de expandir seus
das exportações de farelo de soja de aproximadamente
mercados, vem aumentando seu volume de exportação,
US$ 23,7 milhões, um incremento de 6,01% do total de
tendo como produto principal, o farelo de soja. Neste
suas exportações de 2008, quando faturou US$ 22,4
sentido, de acordo com os graus de internacionalização, a
milhões (COMIGO, 2010). O gráfico a seguir mostra a
COMIGO encontra-se no estágio de exportação, onde a
composição parcial da receita operacional bruta da
cooperativa apenas “exporta seus produtos, mas não está
COMIGO em 2008.
estabelecida no país de destino e não há estratégias
específicas para cada país”.
61
Gráfico 2: Composição parcial da receita operacional bruta da COMIGO em 2008
Fonte: COMIGO (2010)
se
Pode-se
observar
que
a
maior
parte
da
receita
da
implantação
do
parque
industrial,
que
foi
operacional bruta, 67% é proveniente dos produtos
gradativamente se diversificando e tendo sua infrainfra
agrícolas, agroindustriais e pecuários, 32% é procedente
estrutura ampliada. Isto posto, conforme a cooperativa
das lojas agropecuárias, de insumos e rações e apenas
realiza
1% é oriundo da prestação de serviços. Neste sentido,
desenvolvimento
lvimento do município e influencia a dinâmica
nota-se que a maior parte do faturamento
aturamento da cooperativa
social ao participar ativamente de diversas atividades
está relacionada à agroindústria.
econômicas, sociais, culturais e políticas. Ao diversificar
A COMIGO, com faturamento de 1,3 bilhão de reais em
as suas atividades industriais, a COMIGO criou um
2009, conta com duas esmagadoras de soja, que
ambiente favorável para que Rio Verde e outras
outra cidades
somadas podem processar 3,5 mil toneladas ao dia.
se desenvolvessem mais do que outros municípios do
Aproximadamente 20% da produção de farelo de soja
soj são
Sudoeste Goiano, consolidando-se
consolidando
como pólo regional,
exportados, e o restante da produção é consumido em
no comércio, prestação de serviços e agroindústria.
e/ou
atrai
investimentos,
colabora
para
o
Goiás e em outros Estados (COMIGO, 2010).
O farelo é o único produto derivado da soja exportado
Considerações Finais
pela COMIGO, cerca de 80.000 toneladas por ano. Os
países de destino são os Estados Unidos e o Canadá. No
Com o mercado cada vez mais competitivo e globalizado,
mercado interno, este produto atende a demanda da
a maioria das empresas necessita de se internacionalizar,
Região Centro-Oeste,
Oeste, Minas Gerais, São Paulo e Santa
ou seja, estar presente nos mercados mundiais. Neste
Catarina.
sentido, o processo de internacionalização contribui não
Em
Rio
Verde,
a
Perdigão
consume,
mensalmente, 10.000 toneladas (COMIGO, 2010).
só para o desenvolvimento da empresa,
empr
mas também
De acordo com Gonçales (2003), a COMIGO impulsionou
para o crescimento da sociedade na qual está inserida.
o desenvolvimento
volvimento de Rio Verde, principalmente através
Através da internacionalização, o valor agregado das
62
empresas aumenta, impulsionando seu crescimento.
Dessa
forma,
o
número
de
empresas
aumenta,
DUPAS, G. E. Economia e Exclusão Social: pobreza,
emprego, Estado e o futuro do capitalismo. 2 ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1999.
diversificando os setores de atividade (transportes,
serviços, financeiras, etc.), desenvolvendo a empresa e a
comunidade.
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competitividade nas cooperativas agropecuárias. Rev.
adm. contemp. 2004, vol.8, n.4, p. 33-55.
Até meados da década de setenta, o município de Rio
Verde encontrava-se em condições difíceis, sem maiores
perspectivas
nascimento
idealizada
de
desenvolvimento.
da
cooperativa
pelos
produtores
Assim,
após
o
COMIGO,
em
1975,
de
da
região,
arroz
conseguiram com a busca de novas tecnologias e
empenho dar início a um processo de desenvolvimento
na agricultura da região. Baseado no surgimento da
COMIGO, que propiciou o desenvolvimento das áreas
cultivadas como um todo, diversas empresas de bases
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Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. (COMIGO) e o
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Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2008.
agrícolas implantaram suas fábricas na região. Hoje,
Cargill, Bunge e outras empresas de menor porte
participam ativamente da movimentação de capital dessa
área.
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e sustentabilidade: um estudo de caso em Rio Verde
– GO. 168 f. Tese (Doutorado em Ciências Ambientais),
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2010.
Neste contexto, pode-se observar que o processo de
internacionalização da COMIGO contribuiu de forma
significativa para o desenvolvimento do município de Rio
Verde,
atraindo
empresas
de
diversos
ramos
do
agronegócio, promovendo o fortalecimento da economia
local.
LUNAS, D. A. L.; ORTEGA, A. C. A. Constituição do
Complexo Agroindustrial da Soja no Sudoeste Goiano. In:
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O Processo de Internacionalização da Cooperativa