OBRA ANALISADA
Quincas Borba
GÊNERO
Prosa, romance
AUTOR
Machado de Assis
Fundador da Cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras.
DADOS
BIOGRÁFICOS
Nome completo: Joaquim Maria Machado de Assis
Nascimento: 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro.
Morte: 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro.
BIBLIOGRAFIA
Comédia
Desencantos, 1861
Tu, só tu, puro amor, 1881
Poesia
Crisálidas, 1864
Falenas, 1870
Americanas, 1875
Poesias completas, 1901
Romance
Ressurreição, 1872
A mão e a luva, 1874
Helena, 1876
Iaiá Garcia, 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881
Quincas Borba, 1891
Dom Casmurro, 1899
Esaú Jacó, 1904
Memorial de Aires, 1908
Conto
Contos Fluminenses, 1870
Histórias da meia-noite, 1873
Papéis avulsos, 1882
Histórias sem data, 1884
Várias histórias, 1896
Páginas recolhidas, 1899
Relíquias de casa velha, 1906
Teatro
Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861
Desencantos, 1861
Hoje avental, amanhã luva, 1861
O caminho da porta, 1862
O protocolo, 1862
Quase ministro, 1863
Os deuses de casaca, 1865
Algumas obras póstumas
Crítica, 1910
Teatro coligido, 1910
Outras relíquias, 1921
Correspondência, 1932
A semana, 1914/1937
Páginas escolhidas, 1921
Novas relíquias, 1932
Crônicas, 1937
Contos Fluminenses – 2º volume, 1937
Crítica literária, 1937
Crítica teatral, 1937
Histórias românticas, 1937
Páginas esquecidas, 1939
Casa velha, 1944
Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956
Crônicas de Lélio, 1958
Conto de escola, 2002
Antologias
Obras completas (31 volumes), 1936
Contos e crônicas, 1958
Contos esparsos, 1966
Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998
RESENHA
Vamos conferir a história do protagonista - Pedro Rubião de
Alvarenga – ex-professor, pacato mineiro de Barbacena, de
agregado a capitalista (classe dominante à época).
A narrativa começa com a morte de Quincas Borba, que antes
vivera em Barbacena e era riquíssimo. Ao falecer, deixa ao amigo
como herança toda a sua fortuna e seu cachorro Quincas, para
que seja sempre lembrado. Após a morte do amigo, Rubião troca
a pacata vida provinciana pela agitação da corte. Muda-se para o
Rio de Janeiro e leva consigo o cão Quincas Borba, o qual deveria
cuidar sob a pena de perder a herança. Durante a viagem de
trem, ele conhece o casal Sofia e Cristiano Palha, que logo
percebem que ele é rico e ingênuo. Atraído pela amabilidade do
casal e, sobretudo, pela beleza de Sofia, Rubião passa freqüentar
a casa deles, confiando cegamente nos novos amigos.
Da Fortuna à Ruína em dois tempos
Quando foi para o Rio de Janeiro buscava riqueza. Passa a viver
em uma mansão em Botafogo - um ambiente que não estava
acostumado. É lesado duas vezes: pelo amor da sedutora Sofia
(um dos grandes perfis femininos do autor, percebido por sua
descrição repleta de adjetivos) e pelo poder representado por
Camacho – diretor de um jornal, ambicioso e sem escrúpulos,
que explora Rubião sem piedade.
Palha é um esperto comerciante e administra a fortuna de
Rubião, tirando parte de seus lucros. Com o tempo, Rubião
sente-se cada vez mais atraído por Sofia, que mantém com ele
atitude esquiva, encorajando-o e, ao mesmo tempo, impondo
uma certa distância. Observamos a crítica, a falsa amizade, a
amizade ao dinheiro. A esperança da conquista amorosa leva
Rubião a não se importar com valores gastos com presentes a
Sofia, e muito menos aos valores ganhos ou perdidos em seus
negócios com Palha.
“Ao vencedor, às batatas!” teoria do Humanitismo, a filosofia
inventada por Quincas Borba. Baseia-se na luta pela vida: o
grande objetivo do ser humano. Defende que a vida é um campo
de batalha onde só os mais fortes sobrevivem. Os fracos e
ingênuos, como Rubião, são manipulados e aniquilados pelos
mais fortes e mais espertos, como Palha e Sofia, que no final,
estão vivos e ricos, tal como regia sua teoria.
A obra possui conclusão ao estilo machadiano: após um
grandioso baile organizado por Sofia e Palha para inaugurar seu
palacete em Botafogo...
À medida que o tempo passa, a decadência material e o
desespero de não ter seu amor correspondido o leva a
enlouquecer (afirma ser Napoleão e repete insistentemente a
frase-síntese da filosofia). Seu destino é trágico, bem ao estilo da
tese filosófica de seu amigo falecido.
Mais uma vez, é o leitor convocado e emitir a sua “opinião”:
alegria ou tristeza com o desfecho da obra.
ESTILO DE ÉPOCA
Realismo
Publicado inicialmente em folhetins, Quincas Borba é o romance
de Machado de Assis que mais se aproxima da tradição realista
européia
do
século
XIX.
Folhetim? Na revista A Estação, entre 15 de junho de 1886 e 15
de setembro de 1891, num período de cinco anos.
Romance
documental:
retrata
uma
época.
Esta é outra obra pertencente a segunda fase do escritor:
personagens
mais
elaborados;
aborda-lhes
questões
psicológicas; faz uma análise profunda e realista do ser humano,
da sociedade brasileira da época, destacando suas vontades,
necessidades, defeitos (pessimismo e negativismo) e qualidades.
O Realismo reflete as profundas transformações econômicas,
políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. O
capitalismo se estrutura em moldes modernos, com o surgimento
de grandes complexos industriais; por outro lado, a massa
operária urbana avoluma-se, formando uma população
marginalizada que não partilha dos benefícios gerados pelo
progresso industrial, mas, ao contrário, é explorada e sujeita a
condições
subumanas
de
trabalho.
Na obra: a descrição do cotidiano da época, criticando os
casamentos por interesse, a traição, as falsas amizades e,
sempre, a falsa moral da sociedade.
Na estrutura da obra: frases e capítulos curtos.
Machado de Assis estabelece uma conversa com o leitor,
deixando a obra aberta a conclusões.
INTERTEXTUALIDADE
É interessante constatar que os cinco romances da fase realista
de Machado apresentam substantivos próprios em seus títulos:
Brás Cubas; Quincas Borba; D. Casmurro; Esaú e Jacó; Aires,
revelando clara preocupação com o indivíduo. Intertextualizam.
Quincas Borba – adaptação para o cinema por Roberto Santos
Machado de Assis escreveu o romance sob a forma de crônica
sobre a cidade do Rio de Janeiro fazendo com que o leitor
percorresse prazerosamente as ruas do antigo centro da cidade
onde seus personagens vivem um agradável passeio em
carruagens ou o footting da Rua do Ouvidor. Em Quincas Borba,
o filme, há uma verdadeira transformação do ambiente onde se
desenrola a história. A cidade de São Paulo serviu de cenário e a
trama se passa em ambientes fechados configurando uma outra
história.
A morte é tratada de maneira muito sutil no filme. Primeiro
porque toda esta filosofia (e conceituações) é transformada em
recordações de Rubião sobre Quincas. Segundo porque todos os
rituais tradicionais de morte, presentes no romance de maneira
recorrente, tais como missa de sétimo dia, sepultamento,
conversas sobre doenças, estão ausentes nas imagens e nas
palavras do filme. Assim, temos vários exemplos de morte, luto e
tristeza que são relatados no romance e suprimidos no filme,
como por exemplo: a personagem Maria Augusta, tia de Sofia,
morre e os personagens se encontram no velório. No filme, Maria
Augusta não aparece nem nas imagens nem nas palavras. O
noivo de Dona Tonica, que morreu três dias antes do casamento,
também não é citado no filme.
O filme peca pelo excesso de adaptações que o cineasta
desenvolveu. Lendo o livro e assistindo o filme temos a
impressão de que são obras distintas.
O prof. Moisés Neto adaptou para o teatro a trilogia - “Dom
Casmurro” (2001) “Quincas Borba” (2003) e “Memórias
Póstumas de Brás Cubas” (2005). Quincas Borba, o musical...
A transcrição do gênero narrativo para o gênero dramático,
categoria musical, não é tão simples quanto possa parecer para
alguns, principalmente quando se trata de um clássico do
consagrado Machado de Assis. Utiliza humor simples e
metalinguagem.
VISÃO CRÍTICA
Machado de Assis sempre foi um crítico a sociedade brasileira –
especificamente, a sociedade carioca – atacando os costumes e a
falsa moral das famílias abastadas que cercavam os teatros,
saraus literários, festas e eventos sociais comuns à época.
Traição e Loucura: tratados, ora com mais ferocidade ora com
muita leveza, em momentos diferentes; mudanças
provavelmente ocorridas pelas críticas da época.
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