ATENÇÃO INTEGRAL ÀS VÍTIMAS DE ESCALPELAMENTO NO
ESTADO DO PARÁ
MATOS, Maria Luzia de 1 - FSCMPA
SALDANHA, Gilda Maria Maia Martins2 - SEDUC/PA
MOTA, Denise Corrêa Soares da3 - SEDUC/PA
FIGUEIREDO, Rita de Cássia Reis Rosa4 - SEDUC/PA
Grupo de Trabalho – Educação e Saúde
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho apresenta a problemática da população ribeirinha que sofre escalpelamento
ocasionado por acidente de barco nos rios do Estado do Pará. O escalpelamento ocorre
quando os cabelos são puxados bruscamente pelos eixos descobertos dos motores de
embarcações deixando cicatrizes e mutilações na cabeça, rosto e pescoço de mulheres
ribeirinhas. O Governo do Estado do Pará passou a ser referência no tratamento desse tipo de
acidente por meio da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA, que em 2008,
criou o Programa de atenção Integral às Vítimas de escalpelamento - PAIVES, organizando o
atendimento desde o município de origem até a capital. Também foi criada a Comissão
Estadual para Erradicação aos Acidentes de Escalpelamentos - CEEAE, envolvendo vários
setores do poder público e da sociedade civil, com o objetivo de promover ações de prevenção
e prestar assistência às pessoas já acidentadas que não conseguiram dar continuidade ao
tratamento. Para explicar essa tragédia, que ainda hoje escalpela crianças, adolescentes e
jovens, partiu-se de uma contextualização do processo de ocupação para o desenvolvimento
da Amazônia, que ao desconsiderar as populações tradicionais, acarretou exclusão e mazelas
sociais para os povos dessa região. O texto também aborda as fases do tratamento; os
principais procedimentos cirúrgicos, conforme o tipo de acidente; os traumas físicos, sociais e
1
Mestranda em Ciências da Saúde. Especialista em Ensino Superior. Graduação em Serviço Social.
Coordenadora do Espaço Acolher da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará.E-mail:
[email protected]
2
Mestre em educação pela Universidade Federal do Pará. Professora da Classe hospitalar do Espaço Acolher e
Pedagoga da Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Pará. Membro do Grupo de Estudos
e Pesquisas de Educação e Saúde- GEPES. E-mail: [email protected]
3
Especialização em Currículo. Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará. Professor
responsável pelo Espaço Acolher. E-mail: [email protected]
4
Mestranda em Ciência da Educação. Especialista em Educação Inclusiva. Especialista em Língua Portuguesa.
Professora na Classe Hospitalar do Espaço Acolher. Professora da Classe Hospitalar do Hospital João de Barros
Barreto. E-mail:[email protected]
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psicológicos vivenciados pelas pacientes. Por fim, discorre sobre as atividades realizadas por
equipe multidisciplinar no Espaço Acolher - local criado pela FSCMPA para receber os
pacientes e acompanhantes no período que necessitam permanecer em Belém para o
tratamento, contextualizando na prática o Programa Nacional de Humanização - PNH de
atenção e gestão no SUS.
Palavras-chave: Amazônia. Ribeirinhos. Escalpelamento. Políticas Públicas.
Introdução
Este trabalho apresenta a problemática da população ribeirinha que sofre
escalpelamento ocasionado por acidente de barco no Estado do Pará, e ainda, a ações
compartilhadas entre Educação e Saúde desenvolvidas no Espaço Acolher - local criado pela
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA para receber esses pacientes
vitimados e seus acompanhantes, no período que necessitam permanecer em Belém para o
tratamento.
O escalpelamento é a retirada, acidental e de maneira brusca, do couro cabeludo pelo
eixo descoberto de motores de embarcações que trafegam pelos rios da Amazônia. Esse
acidente acontece, principalmente, com mulheres e crianças deixando cicatrizes e mutilações
na cabeça, rosto e pescoço dessas pessoas.
Há aproximadamente 10 anos, o Estado do Pará iniciou uma ação para o tratamento e
acompanhamento dos casos de escalpelamento e centralizou o atendimento às vítimas, na
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará-FSCMPA.Também criou o Espaço Acolher
para dar suporte a esses pacientes e acompanhantes, durante os períodos de tratamento.
O Governo do Estado do Pará constituiu, no ano de 2007, uma Comissão Estadual de
Erradicação aos Acidentes de Escalpelamentos - CEEAE, com o objetivo de desenvolver
ações preventivas para erradicação desse tipo de acidente.
Ainda, em 2008, instituiu o Programa de Atenção Integral as Vítimas de
Escalpelamento - PAIVES, estabelecendo protocolo específico para todas as fases do
tratamento, como forma de padronizar os procedimentos e acompanhamentos realizados pela
equipe de profissionais de saúde.
Neste texto, relata-se, primeiramente, como se deu o processo de ocupação da
Amazônia e suas consequências para a vida dos povos ribeirinhos.
A seguir descreve-se como acontecem os acidentes nos rios da Amazônia, as fases do
tratamento, os traumas físicos, sociais e psicológicos vivenciados pelas pacientes.
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Também apresenta a atuação da equipe multidisciplinar formada por profissionais de
diversas áreas, com destaque para as ações da classe hospitalar.
Por fim, a busca pela integração de políticas públicas que garantam o atendimento das
necessidades integrais desses indivíduos e acesso a rede de serviços públicos, é o grande
desafio dos profissionais que atendem no Espaço Acolher.
Desenvolvimento
O início de uma experiência: A ocupação da Amazônia
Inicialmente, se faz necessário contextualizar o proceso de desenvolvimento da
Amazônia e sua ocupação desordenada, com a consequente exclusão das populações
tradicionais.
O desenvolvimento da Amazônia é caracterizado contraditoriamente pela apropriação
do espaço geográfico e expropriação da natureza, que se deu inicialmente nas áreas rurais com
a extração de produtos naturais para a comercialização em mercados fora da região. Em
seguida aconteceu um exaustivo processo de extração da borracha, voltado ao mercado
internacional.
Na década de 1960, o Governo Federal tomou iniciativas
objetivando ocupar e
integrar a Região Amazônica às economias nacional e mundial, dando inicio ao processo de
implantação dos grandes projetos voltados à acumulação capitalista. Para tal tornava-se
imprescindível abrir novas fronteiras de expansão do capital, o que o “plano de metas” do
Governo Juscelino Kubitschek (1955-1959) - “cinquenta anos em cinco” garantiu ao ampliar
o processo de industrialização, tornando a Amazônia um espaço territorial propício à extração
de materia prima e à implantação dos grandes projetos destinados à exploração dos recursos
naturais.
Esses grandes empreendimentos tornaram-se pilares estruturais da sociedade brasileira
no sentido de readequá-la à dinâmica internacional do modo de produção capitalista.
Entretanto, segundo Santos (1998), este processo também trouxe efeitos negativos
para a Região Norte como, por exemplo, a exclusão social das populações ribeirinhas que
para ele não se manifesta apenas na exclusão do progresso material ou do uso de novas
tecnologias, mas também na exclusão da própria possibilidade de exercer a cidadania como
participante efetivo da sociedade.
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Assim, a população é desconsiderada no processo de desenvolvimento econômico e o
espaço geográfico passa a ser ocupado a partir do mito da riqueza fácil, da exploração das
riquezas, da exclusão dos povos tradicionais, na criação de uma pobreza sem limites, com
ausência do poder público e de políticas públicas que garantam a vida com dignidade.
Desta forma, esse processo de apropriação e expropriação dos recursos naturais,
ocasionou desdobramento de agravos de saúde como: a malária, febre amarela, doenças de
chagas, entre outras, que ainda hoje, mesmo com o avanço da tecnologia e incremento no
processo de gestão das políticas públicas, continuam sendo encontrados em diversos
municípios de forma relevante.
População Ribeirinha X Acidentes com escalpelamento
No cenário amazônico, as comunidades ribeirinhas constituem grupos populacionais
que ainda hoje preservam características peculiares de vida. Os ribeirinhos são homens,
mulheres e crianças que nascem e vivem a beira dos rios, estabelecendo uma relação bem
particular com a natureza, tendo o rio como meio de satisfação de suas necessidades
materiais, e ao mesmo tempo, de construção de simbologias de vida e cultura (MATOS,
2008).
Para as populações ribeirinhas os barcos são os elos de socialização dos indivíduos. A
rua é o próprio rio, é ele que dá acesso à vida social e leva ao trabalho, a escola, a igreja, ao
lazer, aos familiares e amigos. O rio é esse espaço de satisfação de necessidades materiais e
de construção de simbologias de vida e cultura.
Vale (2007, p.14) relata que,
Nas cidades ribeirinhas não se costuma ter ensinamentos escolares sobre tal arte ou
ofício. Pilotar barcos e canoas é um aprendizado que passa de pai pra filho. A
criança na sua tenra idade é colocada dentro do barco não somente como passageira,
mas também como auxiliar de piloto, ora na tarefa de retirar a água que entra no
barco, ora remando.
É nesse cenário que ocorre o escalpelamento, acidente grave e cruel, cujos primeiros
registros são encontrados a partir da década de 1960, quando os ribeirinhos começam a
utilizar em suas embarcações, motores, para agilizar as viagens antes feitas a remo, porém
sem a apropriação dos recursos de segurança necessários.
Estima-se que no Pará existam cerca de cem mil embarcações sem registros oficiais na
Capitania dos Portos, e a maioria delas, construídas de forma artesanal. O difícil controle das
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embarcações se dá pela vastidão territorial do Pará (1.248.042,515 km²), onde dos 144
municípios paraenses, 72 têm influencia hidrográfica.
O escalpelamento ocorre quando os cabelos são puxados bruscamente pelos eixos
descobertos dos motores. Geralmente quando as pessoas se abaixam para tirar a água,
pegando algum objeto, escorregam com o movimento, ou outro qualquer descuido. É tão
grave que algumas vítimas não resistem a ele (figura 1).
Figura 1- Imagem ilustrativa do acidente
Fonte: OSCIP - ASSOCIACAO SARAPO
Desta
forma o acidente com escalpelamento apresenta-se como uma tragédia que
mutila, desfigura e deforma crianças, adolescentes e mulheres, modifica suas vidas e de seus
familiares. Vale (2007, p.20) afirma: “às vezes, o sofrimento é tão intenso que a pessoa pensa
não poder suportá-lo, sem vislumbrar possibilidades de superá-lo então, manifesta-o através
do choro, do isolamento, de mudanças na sua rotina, de desequilíbrio emocional e até mesmo
da ideação de morte”.
Para Vale (2007) as mulheres que sobrevivem ao acidente, carregam consigo para toda
a vida as sequelas físicas e psicológicas, feridas que não se fecham mesmo após anos de
tratamento penoso, traumático e caro, para suas famílias e para o sistema de Saúde Pública.
Também, tão sofrido quanto à perda dos cabelos e das sobrancelhas, é ter que cobrir com
lenço as chagas de uma dor que corrói a autoestima, compromete o direito tão feminino à
vaidade e exclui socialmente crianças que deveriam ter o direito de uma infância e
adolescência felizes.
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O Tratamento para acidentes com escalpelamento
O tratamento é longo e passa por diversas fases, dependendo do tipo de
escalpelamento: total sem outras áreas lesadas; total ou parcial com outras áreas lesada e
parcial, conforme se observa na figura 2.
Figura 2- Escalpelamento total com
outras áreas lesadas.
Fonte: Arquivo da FSCMPA.
Para cada paciente são realizadas inúmeras cirurgias, por isso não é raro encontrar
pessoas que sofreram o acidente há mais de 10 e até 30 anos, e ainda realizam algum tipo de
procedimento.
Os procedimentos principais são: Trepanação, quando há a exposição da Calota
craniana (figura 3); a enxertia, quando o couro cabeludo é arrancado (figura 4); colocação de
expansor(figura 5) nos casos de escalpelamento parcial ou necessidade de restruturação de
pele do rosto, pescoço, ombros ou perna.
Figura 3- Procedimento de trepanação.
Fonte: Arquivo da FSCMPA
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Figura 4- Procedimento de enxertia.
Fonte: Arquivo da FSCMPA
Figura 5- Implante de expansor
Fonte: Arquivo FSCMPA
São realizados vários outros procedimentos para correção conforme a necessidade de
cada caso, e ainda, é considerado o fator idade e o desejo de cada paciente, pois diante do
sofrimento intenso e da falta de condições, as famílias optam por desistir de dar continuidade
ao tratamento corretivo, realizando apenas o tratamento básico até a cicatrização do tecido.
O Espaço Acolher e a atenção multiprofissional
A Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), no ano de 2006, inaugurou
o Espaço Acolher como parte de um conjunto ações para assegurar o atendimento
humanizado aos pacientes oriundos de municípios distantes do Estado do Pará, vítimas de
escalpelamento.
O Espaço é mantido com recursos do Governo do Estado pela de rubrica específica no
Plano Plurianual- PPA. Atualmente conta com uma estrutura física para acomodar 26 pessoas,
entre pacientes e acompanhantes, garantido leito, refeições e transporte durante o tratamento.
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O Espaço Acolher está organizado em suas ações de forma a atender as diversas
faixas etárias, desde crianças a adolescentes, jovens e pessoas idosas.
No espaço Acolher, as ações de educação e saúde são desenvolvidas a partir da
atuação de uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de diversas áreas, como:
Assistentes Sociais, Psicólogos, Enfermeiros, Pedagogos, Professores, Bolsistas da
Universidade Estadual do Pará e demais profissionais de apoio.
O campo da saúde vem avançando em seus conceitos, e hoje, falar em saúde não
significa falar em ausência de doenças, mas sim em qualidade de vida, que só pode ser
entendida como resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, lazer, liberdade e acesso à rede de atenção à saúde.
A Política Nacional de Humanização- PNH de atenção e gestão no SUS ratifica
valores como a autonomia, corresponsabilidade, protagonismo dos sujeitos envolvidos,
solidariedade entre os vínculos estabelecidos, respeito ao direito dos usuários e participação
coletiva no processo de gestão (BRASIL, 2007).
Nesse sentido, o fortalecimento do trabalho em equipe multiprofissional e a gestão do
trabalho em saúde passam a ser um dos norteadores da PNH. E no que diz respeito às vítimas
de escalpelamento, marcada pela dor física e emocional após a retirada brusca do escalpo, o
entendimento dessa realidade e a busca de definir as diversas possibilidades a serem
impulsionadas pelos profissionais está acima das rotinas institucionais (IAMAMOTO, 2001).
A equipe do Espaço Acolher atua buscando a integração de ações, para que a
população usuária seja considerada de forma abrangente.Isso envolve os aspectos sociais,
educacionais, psicológicos, jurídicos, de saúde, entre outros.
Nesse sentido a equipe do Espaço Acolher, diante de todas as necessidades
apresentadas, tanto pela pessoa acidentada como de seu acompanhante, busca na rede de
atenção o atendimento para tantas outras demandas como documentação, atendimento médico
em diversas especialidades, encaminhamento para requerer benefício, educação e ainda
cultura, lazer e formas de entretenimento.
O Espaço Acolher e Classe Hospitalar
A classe hospitalar do Espaço Acolher iniciou suas atividades no ano de 2011, como
parte de um programa de Governo do Estado do Pará para assegurar o direito à educação às
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crianças, jovens e adultos (pacientes e acompanhantes) que por tratamento de saúde
interromperam seus estudos.
Para tal, foi firmado um Convênio de Cooperação Técnica entre a Fundação Santa
Casa de Misericórdia do Pará e a Secretaria de Estado de Educação (SEDUC).
O Objetivo da Classe hospitalar no Espaço Acolher é dar continuidade ao processo de
desenvolvimento e aprendizagem de pacientes vítimas de escalpelamento e seus
acompanhantes, assegurando os vínculos escolares durante o todo o tratamento.
Também visa: criar condições para o resgate da autoestima dos pacientes e
acompanhantes que residem no espaço; minimizando suas perdas físicas, sociais, psicológicas
e cognitivas; favorecer a humanização; diminuir a ociosidade e problemas decorrentes desta e
valorizar as potencialidades dos residentes.
A Classe hospitalar do Espaço Acolher apresenta como proposta um trabalho
estruturado, com atendimentos específicos, para cada nível de ensino, com ações de
escolarização e projetos pedagógicos interdisciplinares, que contribuem para assegurar o
direito a educação, cidadania e resgate da autoestima dos alunos atendidos.
Os alunos do 1º e 2º ciclos (1º, 2º, 3º 4º e 5º anos) trabalham com cadernos
pedagógicos individualizados, devidamente preparados de acordo com o nível de
aprendizagem de cada criança e baseado nos conteúdos curriculares de cada ciclo.
Da mesma forma, materiais pedagógicos de apoio são construídos pelos próprios
professores da classe hospitalar partindo das realidades regionais dos diversos municípios do
Pará.
Para os 3º e 4º ciclos (6º, 7º, 8º, 9º anos) os cadernos pedagógicos são
interdisciplinares, confeccionados por áreas de conhecimentos, a saber:
a.
Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: Língua Portuguesa, Redação,
Literatura, Arte, Educação Física, Inglês e Espanhol.
b.
Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias: História, Geografia e Vida Cidadã
(Sociologia e Filosofia).
c.
Área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias: Física, Química e Biologia.
d.
Área da Matemática e suas Tecnologias: Álgebra, Geometria, Gráfica e Tabelas.
Na educação de Jovens e Adultos - EJA toda a dinâmica de trabalho é desenvolvida a
partir da concepção teórica e metodológica freireana. O planejamento acontece todas as sextas
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feiras com objetivo de organizar atividades pedagógicas decorrentes dos temas geradores
surgidos pelos diálogos com as alunas nas atividades diárias.
Todo o trabalho educativo tem a parceria da Universidade Estadual do Pará, por meio
do Núcleo de Educação Paulo Freire- NEP, que dá o suporte técnico com o referencial teórico
freireano.
O NEP disponibiliza bolsistas da graduação em pedagogia para desenvolverem
atividades da educação infantil e EJA, em conjunto com os professores da SEDUC.
A Classe hospitalar do Espaço Acolher também desenvolve ações de arte , cultura
lazer e inclusão digital, como complemento das atividades educacionais, e visa promover a
socialização das vítimas de escalpelamento.
Considerações finais
O acidente de barco que provoca o escalpelamento de meninas e mulheres ocorre há
varias décadas, e está relacionado à introdução do motor entre os hábitos da população
ribeirinha. O ofício de pilotar veículos de locomoção nas águas da Amazônia é aprendido da
mesma forma como aprender a andar e falar, ou seja, faz parte da existencia do homem
ribeirinho. E ese oficio passa de pai para filho ao longo das gerações.
Nesse sentido, o progresso que faz ir cada vez mais rápido e mais longe é o mesmo
que pode mutilar e deformar pessoas, desestruturando famílias inteiras, quando não se tem
uma política pública que garanta as necesidades básicas dessa população.
O acidente com escalpelamento não existe de forma isolada em determinada
sociedade. Ele é a consequência de um somatório de causas existentes, que caminha entre a
busca da modernidade e fragilidades de conhecimento.
As políticas públicas, geralmente apresentam-se norteadoras de ações pré
estabelecidas, sem considerar as diferenças regionais, ou mesmo por deconhecimentos de
realidades tão específicas.
Desta forma o acidente com escalpelamento, por ser característico da região norte
esteve por muitos anos invisível às políticas públicas que não reconheciam a gravidade das
ocorrências, ou mesmo ignoravam, uma vez que epidemiológicamente os números não se
faziam denunciar.
Com o atendimento multiprofissional foi possível perceber, a partir do contato com
essas famílias e do conhecimento de suas realidades, as fragilidades no atendimento da
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atenção primária da saúde. As demandas na atenção bucal, a dificuldade de acesso das
mulheres adultas aos serviços de genicologia e mastologia; a incidencia de doenças
dermatológicas crônicas sem o devido cuidado; o comprometimento da coluna vertebral pelo
grande esforço realizado no trabalho rural; hábitos alimentares precários; saúde mental
comprometida, entre outros.
No campo da educação encontramos severas distorções entre, a idade, o ano escolar e
a fundamentação curricular que apresenta falta de harmonia entre as área de conhecimento.
Assim, constatou-se que o sistema educacional desenvolvido nas regiões onde vivem
as usuárias se apresenta de forma fragmentada e disciplinar, o que fragiliza o aprendizado.
A experiencia da equipe de Educação por meio da classe hospitalar implantado no
Espaço Acolher com as vítimas de escalpelamento e seus acompanhantes vem se dando de
forma interdisciplinar por áreas de conhecimento.
São ainda utilizados temas transversais como: meio ambiente, saúde, ética e
sexualidade como forma de harmonizar e enriquecer o currículo em busca da ampliação do
conhecimento.
Observou-se na prática que a importancia de buscar a integração de políticas públicas
que garantam o atendimento das necesidades dos ribeirinhos é cada vez mais urgente. Nesse
contexto o Espaço Acolher vem tentando cumprir sua misssão com a oferta de serviços
humanizados.
Nesse sentido a busca pela integração de políticas públicas que garantam o
atendimento das necesidades dos ribeirinhos é cada vez mais urgente, no sentido de assegurar
serviços públicos que no seu conjunto contribua para a felicidade da população que diante de
uma natureza tão intensa, não precise sair de suas terras para atender familiares acidentados,
mas sim, buscar nos ríos e floresta formas de nutrição para uma vida com dignidade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de
Humanização da Saúde. Documento base. 4ª Ed. Brasília: Ministério da Saúde (MS); 2007.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e
formação profissional. 4º Ed.- São Paulo. Cortez, 2001.
MATOS, Maria Luzia. Acidentes com escalpelamento e Políticas Públicas: questões para
análise. In: CONFERÊNCIA MUNDIAL DE SERVIÇO SOCIAL, SALVADOR – BA
Anais... Conferência Mundial de Serviço Social, 19, Salvador – BA, 2008.
27725
SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo- Globalização e Meio Técnico-científico
informacional. São Paulo, Editora Hucitec, 1998.
VALE Josiane Calderaro Costa. A compreensão do sofrimento no escalpelamento: um
estudo utilizando o grafismo e o teste das fábulas. 2007. 87 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Para, Belém, 2007.
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atenção integral às vítimas de escalpelamento no estado do pará