1843 ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM: A BUSCA POR PSICOTERAPIA EM UMA CLÍNICAESCOLA. Renata Freitas Ribas1, Davisson Gonçalves Giaretta1, Fernanda Cesa Ferreira da Silva2, Mônica Medeiros Kother Macedo³. 1 Bolsista de Iniciação Científica BPA/PUCRS, Faculdade de Psicologia PUCRS, 2 Psicóloga Mestranda em Psicologia Clínica do Programa de Pós Graduação PUCRS, ³Professora Doutora Orientadora PUCRS Introdução A contemporaneidade é caracterizada como um tempo marcado por transições, instabilidades e complexidades, bem como indagações a respeito do ser e estar no mundo (STAUDT, 2007). Vários papéis estão em processo de reconstrução, incluindo-se o masculino (MACHADO, 2008). Em decorrência da ausência de preparação para esta mudança, pode-se considerar que o sujeito é colocado em um estado de atordoamento frente às dicotomias de demandas as quais deve rapidamente atender (DOCKHORN E MACEDO, 2008). Atualmente, o Ministério da Saúde vem se preocupando com a saúde física e mental do homem, tendo lançado em agosto de 2008 sua “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Neste sentido, a importância da temática fez com que a Psicologia se inserisse no contexto de análise e discussão da interface entre a complexidade dos tempos atuais e os efeitos na modernidade. No âmbito da clínica psicológica, as clínicas-escola mostram-se como espaços privilegiados para a investigação de tais processos. Além disso, na experiência clínica proporcionada pelas clínicas-escola contempla-se a importância de preparar os graduandos do curso de Psicologia para atender às necessidades de saúde mental da população (MACEDO et al, 2009), em consonância com o princípio de integralidade do SUS. Metodologia O presente estudo busca caracterizar a clientela masculina que buscou atendimento psicológico no Serviço de Atendimento Psicológico e Pesquisa (SAPP), clínica-escola da X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1844 Faculdade de Psicologia da PUCRS, no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2008. Os dados foram organizados considerando-se a faixa etária, a escolaridade, a ocupação, o estado civil, o processo de procura por atendimento (espontânea ou via encaminhamento) e motivo de busca por atendimento. Utilizou-se a metodologia retrospectiva documental, por meio da consulta a 135 fichas de triagem realizadas com pacientes homens adultos (a partir de 18 anos). O método utilizado é quantitativo, do tipo transversal. Os dados foram analisados estatisticamente pelo programa SPSS for Windows, versão 11.0, envolvendo freqüências e porcentagens. Resultados Nas categorias analisadas, é possível caracterizar a amostra a partir da maior prevalência nos seguintes: 2,96% encontra-se na faixa etária de 26 a 30 anos, 33,33% com Ensino Médio Completo e 27,40% são trabalhadores com carteira assinada. No que tange à procura por atendimento psicológico 51,85% da amostra foi encaminhada ao Serviço enquanto que 48,15% buscou espontaneamente. Os motivos de maior freqüência foram ansiedade (18,89%), a qual envolve questões relacionadas ao estresse, desmotivação, baixa auto-estima, tristeza, medo, irritabilidade e agressividade; dificuldades no relacionamento interpessoal (16,67%) o que inclui os âmbitos conjugal, familiar e social. Houve, também, expressivo porcentual de número de queixas referentes às dificuldades intrapessoais (11,67%), explicitadas como: crises situacionais, lutos e perdas, ansiedade relacionada à paternidade, além de queixas quanto a alterações de peso; 10,4% da amostra apresentou como motivo de procura problemas de etiologia a ser investigada – causalidade orgânica ou psicológica e 7,78% buscaram atendimento por apresentarem sintomas depressivos. Conclusão Através dos dados analisados pôde-se constatar que, atualmente, o homem está atravessando uma crise psicológica em função das novas exigências da contemporaneidade. Os dados encontrados permitem constatar a complexidade que se reflete nos questionamentos do homem a respeito de seu papel, assim como nas modalidades de padecimento intrapsíquico e interpessoais. Wang, Jablonski e Magalhães (2006) corroboram com tal idéia ao referir que na atualidade percebe-se que o homem está atravessando uma crise na masculinidade. Entretanto, para melhor abordar toda complexidade inerente a este fenômeno é necessário X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1845 seguir realizando estudos que permitam uma compreensão aprofundada desta situação e de todos os fatores nela implicados. É importante ressaltar que o projeto apresentado ainda encontra-se em fase de análise de dados e pesquisa bibliográfica. Sendo assim, tem-se como objetivo, a partir dos dados encontrados nas fichas de triagem, produzir reflexões acerca do padecimento psíquico masculino no cenário da clínica psicológica atual, contribuindo na proposição de medidas que, efetivamente, promovam ações de atenção integral à saúde do homem. Referências DOCKHORN, C. N. B. F.; MACEDO, M. M. K. A complexidade dos tempos atuais: reflexões psicanalíticas. Revista Argumento e Psicologia. Vol 26, Nº 54 (2008), jan-mar. MACEDO, M. M. K.; NUNES, M. L. T.; CAMPEZATTO, P. M.; PADILHA, I. P. A Clínica-Escola SAPP e o fazer Psicologia. In: MACEDO, M. M. K. Fazer Psicologia: uma experiência em clínica-escola. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2009. MACHADO, F. Grupo de homens: repensando o papel masculino na sociedade contemporânea. Pesquisa Psicológica –Revista Científica de Psicologia (online)Vol.2, N°1, (2008), pp.1-31. Disponível em: http://www.pesquisapsicologica.pro.br/pub02/fabio.pdf. Acesso em: 15 dez. 2008 MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS, Brasil). Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Centro de Documentação do Ministério da Saúde - Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília, 2008. Disponível em: <http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2008/PT-09-CONS.pdf>. Acesso: 25 nov. 2008. STAUDT, A. C. P. Novos tempos, novos pais?: O ser pai na contemporaneidade. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2007. WANG, M. L., JABLONSKI, B., MAGALHÃES, A. Identidades Masculinas: limites e possibilidades. In: Psicologia em Revista. Vol. 19, N° 12 (2006), pp. 54-65. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009