Leão em foco
James Tavares
Publicação dos alunos de jornalismo da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina
Junho de 2009 • Ano 1 • Número 1
Com a Ressacada
lotada, Avaí enfrenta
o São Paulo e
convence a torcida,
mas o placar não
sai do zero a zero
0XO
nesta edição
editorial
3
Técnico de futebol e editor de revista têm
desafios semelhantes. Ambos precisam liderar
equipes para que elas realizem o trabalho com
maestria e eficiência. Ambos enfrentam imprevistos
e obstáculos diversos.
O resultado, muitas vezes, depende da sorte. Mas
tudo fica mais fácil para quem coordena se a equipe
tem talento e garra. Os repórteres e fotógrafos
do Leão em Foco, estudantes da sexta fase de
jornalismo da Faculdade Estácio de Sá, têm essas
duas qualidades.
Se lhes falta experiência, sobra paixão; se lhes
falta segurança para cumprir algumas pautas, sobra
vontade. Isso não significa que não cometam erros,
mas sabem que é treinando (e tropeçando) que se
descobre o caminho correto. Como bons jogadores,
eles têm os olhos bem abertos e os ouvidos bem
atentos para mudar de tática quando é preciso,
repensar a estratégia e seguir em frente.
Esta primeira edição do Leão em Foco, com 16
páginas coloridas, é a cobertura completa do jogo
Avaí x São Paulo, realizada na Ressacada no último
domingo, 7 de junho. Um jornalismo bem-feito, como
um futebol bem jogado, é resultado de uma soma de
esforços. Além dos jovens repórteres, nossa revista
contou com a colaboração de outros profissionais.
A jornalista Juliana Kroeger fez o projeto gráfico
e a diagramação. O repórter-fotográfico James
Tavares fez as fotos da partida e Paulo Scarduelli,
coordenador do curso de jornalismo, produziu um
texto sobre o comércio fora do estádio. O gerente
administrativo do Avaí, Luciano Corrêa, os assessores
de imprensa, Gastão Dubois e Alceu Atherino, deram
um apoio imprescindível para a realização desta
cobertura.
Colaboradores e repórteres – todos comprometidos
com a informação séria e independente – estão
de parabéns. Que muitas outras edições sejam
produzidas.
Jorge Jr., Reginaldo Jaques, Renata
Vasques, Samantha Duarte e
Vanessa Silva
Partida sem gols
5
Geovana Santos
Avaí tem 27% de aproveitamento
6
Janaína Laurindo e Bárbara Nunes
Revista e loja do Avaí
7
Raphaela D’Ávila
Estrelas do jogo
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Celina Sales e Gabriela Wolff
O 12º jogador
10
Paulo Scarduelli
De rádio à pizza de frigideira
11
Mária Cláudia Menezes
Comerciantes otimistas
12
Bárbara Nunes
Trânsito: o pior adversário
13
Fernando Evangelista
Juliana Kroeger
Laís Novo e Mário César Gomes
Justiça Presente na Ressacada
14
Amanda Santos
Torcida de boteco
15
Lyana de Miranda
A cobertura da mídia
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leão em foco
Da esquerda para a direita: Gabriela Wolff, Vanessa Silva, Paulo Scarduelli,
Renata Vasques, Gastão Dubois, Fernando Evangelista, Celina Sales, Janaína
Laurindo, Samantha Duarte e Reginaldo Jaques
James Tavares
O Avaí pressiona,
mas o gol não sai
Avaí e São Paulo sem
gols
Jorge Jr., Reginaldo Jaques, Renata Vasques, Samantha Duarte e Vanessa Silva
Avaí recebeu o São Paulo, hexacampeão
brasileiro e tricampeão mundial, na
Ressacada nesse domingo. O time da casa
jogou bem, mostrou entrosamento e personalidade,
criou boas oportunidades, mas não conseguiu abrir o
placar e conquistar a primeira vitória na Série A. O
jogo ficou no 0 a 0.
O Avaí entrou em campo com algumas novidades.
O técnico Silas havia feito mistério durante a semana
quanto à escalação da equipe. Com a ausência de
Emerson na zaga, acreditava-se que o substituto
seria Rafael. Mas Silas preferiu o zagueiro Anderson
Luís, que fez uma excelente atuação. O volante Léo
Gago, recuperado de uma lesão, voltou à equipe.
Marquinhos comandou o meio de campo ao lado
de Muriqui. O Maestro criou jogadas, deu excelentes
assistências, fez dribles desconcertantes, deu
passes de calcanhar e chutou ao gol com perigo.
Aparentemente cansado, Marquinhos foi substituído
por Caio na segunda etapa.
Depois de todas as especulações sobre a sua
saída para a Ponte Preta, Evando, um dos maiores
ídolos da torcida azurra, formou a dupla de ataque
com Luís Ricardo. O atacante não quis falar sobre a
possibilidade de deixar o time de Florianópolis, mas
garantiu que “a verdade está somente com ele”.
Luís Ricardo foi outra boa surpresa. O atacante
teve algumas chances de matar a partida e mostrou
um bom entrosamento com Muriqui.
O São Paulo contou com a estreia do recémcontratado Jean Rolt, que substituiu Miranda no
setor defensivo. Com o empate, a equipe do Morumbi
chega aos seis pontos, com apenas uma vitória em
cinco jogos.
Primeiro tempo
Com o maior público registrado na Ressacada
até agora no campeonato, totalizando 13.688
torcedores, o Avaí começou o jogo pressionando
o São Paulo. Logo nos primeiros minutos, Evando
tentou uma bicicleta na área, após cruzamento de
Luís Ricardo, mas o “Iluminado” errou e a bola não
foi para o gol. Aos seis minutos, o são-paulino Marlos
cruzou na área e Eduardo Martini se antecipou para
evitar o gol de Washington, que estava pronto para
o arremate.
Aos 11 minutos, Léo Gago arriscou o primeiro
de seus chutes de fora da área, mas foi para fora.
Aos 16, Muriqui fez uma boa jogada pelo meio e
deixou Luis Ricardo livre para chutar, mas o atacante
balançou as redes pelo lado de fora. Três minutos
depois foi a vez de Marquinhos entrar driblando na
área e também colocar na rede pelo lado de fora.
O São Paulo assustou Eduardo Martini aos 33
leão em foco
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Juliana Kroeger
No dia dos goleiros,
atacantes não
têm vez
minutos, quando Zé Luís chutou de dentro da área a
bola no travessão. Na sobra, o meia Hernanes isolou
a bola.
O primeiro tempo terminou em 0 a 0, com o Avaí
mostrando por que está na Série A e por que é o
atual campeão catarinense.
Segundo tempo
O time da casa voltou para a segunda etapa
sem alterações. Luís Ricardo, um dos destaques
do primeiro tempo, comentou que queria marcar o
seu primeiro gol com a camisa azurra. O São Paulo
equilibrou o jogo, que na primeira etapa foi de
domínio avaiano. A entrada de Dagoberto, no lugar
de Washington, melhorou o poder ofensivo da equipe
paulista.
Aos 13 minutos, Luís Ricardo chutou da entrada
da área, porém o goleiro Denis, seguro no jogo,
defendeu. Na jogada seguinte o goleiro Eduardo
Martini executou grande defesa. Dagoberto chutou
de canhota de dentro da área e o goleiro avaiano
voou com estilo para defender.
Aos 15 minutos, Marquinhos arriscou um chute
forte de fora da área e Denis colocou para escanteio.
Muriqui, minutos depois, recebeu de Luís Ricardo na
área, sozinho, mas chutou por cima do gol.
Eduardo Martini, o nome do jogo, fez duas
importantes defesas em sequência. Na primeira
Borges, à queima roupa, fuzilou para o gol e o
goleiro tirou com o peito. No rebote, o lateral Zé
Luís emendou de primeira e o camisa um do Avaí
colocou para escanteio.
Aos 46, o Avaí teve a última chance da partida,
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leão em foco
após cobrança de falta de Odair. A bola passou pela
barreira, mas Lima não aproveitou e o goleiro Denis
segurou.
“Estamos aqui para ficar”
“Jogamos com sangue nos olhos e com o coração
no bico da chuteira”, afirmou o capitão do Avaí,
Marquinhos Santos, na coletiva de imprensa após
o jogo. O técnico Silas disse que o Avaí jogou de
igual para igual e “que agora é hora de treinar as
finalizações”. Ícone de uma geração conhecida como
“Menudos do São Paulo”, que marcou época no
time do Morumbi na década de 80, Silas enfrentou
o seu ex-clube pela primeira vez. “Série A é muito
diferente. São times muito bons, que parecem que
estão praticamente mortos e ressuscitam. Tem que
aproveitar as chances quando elas aparecem”,
concluiu. Para Marquinhos, “não é de um em um
ponto que vamos fazer história na Série A, não somos
galinhas, estamos aqui e é pra ficar!”.
Muricy Ramalho, técnico do São Paulo, ressaltou
que o jogo só terminou sem gols por causa da
excelente fase de ambos os goleiros. “O Martini é
realmente um bom goleiro. Uma pena que não saiu
o gol. As duas equipes jogaram com velocidade, se
expondo muito”, afirmou Muricy.
Com o empate, o Avaí entra na zona do
rebaixamento, ocupando o 17º lugar na tabela do
Brasileirão, com quatro pontos. O Leão volta a campo
no próximo domingo (14), às 18h30, no estádio da
Arena Barueri, contra o Barueri. O São Paulo recebe
a visita do Santo André, em jogo marcado para o
próximo sábado às 18h30.
ficha técnica
Avaí
Local: Estádio da Ressacada, Florianpólis
Data: 07/06/09 • Horário: 16h
Árbitro: Leonardo Gaciba (RS)
Auxiliares: Marcelo Bertanha Barison (RS) e
José Antônio Chaves Franco Filho (RS)
Cartões amarelos: Marlos, Dagoberto, Zé Luís
e André Dias (São Paulo) e Ferdinando (Avaí).
Público total: 13.688
Renda: R$129.650,00
Avaí tem 27% de aproveitamento
Geovana Santos
O Avaí, único representante catarinense na Série A, obteve
o quarto empate do campeonato, no jogo contra o São Paulo na
Ressacada. O placar ficou no zero a zero. O Leão vai enfrentar
o Barueri no próximo domingo, fora de casa. Nenhum dos
dois times venceu neste campeonato. O Leão está na zona de
rebaixamento, com quatro pontos na 17ª colocação. O time tem
apenas 27% de aproveitamento.
A quinta rodada terminou no último domingo com a
realização de sete jogos. E tem como líder o Internacional que
empatou com o cruzeiro em 1x1 no Mineirão. Até o momento, o
clube gaúcho tem o melhor desempenho, com 13 pontos e com
aproveitamento de 87%. Em seguida vem o Atlético-MG com 11
pontos e 73% de aproveitamento.
O jornalista Juca Kfouri, no seu blog, disse que “enquanto
isso, na Ressacada, Avaí e São Paulo disputavam uma partida
tão equilibrada, e sem graça, que se terminasse 1 a 0 para
qualquer lado não seria nada demais...Mas terminou mesmo
num 0 a 0 que não deixou o torcedor Guga, presente ao estádio,
feliz”, escreveu. Juca Kfouri não deve ter assistido a partida,
se assistiu não prestou atenção. O jogo foi eletrizante, bonito,
com jogadas e defesas memoráveis.
Dos quatro clubes que subiram para a Série A, o Corinthians
é o que está mais bem colocado na tabela com a nona posição.
O Santo André ficou com a décima quarta e o Barueri na décima
sexta posição, depois do empate com o Goiás em 2x2.
O Campeonato Brasileiro teve início em maio com a disputa
entre 20 clubes que lutam por vaga para a Taça Libertadores da
América em 2010. Mais conhecido como Brasileirão, a disputa
existe há 38 anos. A novidade deste ano é a inclusão da Série D
que contará com 40 equipes.
São Paulo
Denis; Zé Luís, André Dias,
Jean Rolt, Júnior César (Jorge
Wagner), Jean, Hernanes,
Richarlyson, Marlos (Wellington),
Washington (Dagoberto) e
Borges.
Técnico: Muricy Ramalho
Fotos: James Tavares
0x0
Eduardo Martini, Ferdinando,
André Turatto, Anderson,
Uendel Pereira, Marcos Vinícius,
Léo Gago, Marquinhos (Caio),
Muriqui, Evando (Lima) e Luís
Ricardo (Odair).
Técnico: Silas
Silas
Muricy
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Revista do Avaí está na quarta edição
Janaína Laurindo Vieira
“Você pode trocar de mulher, pode trocar
de religião, mas nunca troca de time”, diz
Alexandrino Barreto, radialista e historiador,
torcedor há mais de 40 anos do Avaí. Ele é autor
do livro Avaí Esporte Clube e colunista da Revista
do Avaí F.C. Amor pra toda vida.
A revista, que está na sua quarta edição, foi
lançada em setembro de 2008, com a intenção
de reunir os apaixonados pelo time. “Mais do
que uma revista, ela é uma relíquia para os
torcedores”, afirma Rogério Cavallazzi, colunista
e blogueiro.
Segundo
o
editor-chefe
e
jornalista
responsável, Nikolas Stefanovich, a revista relata
as notícias do momento e conta as histórias do
passado. Com grande participação dos torcedores,
as pautas são pensadas de maneira coletiva. Com
uma tiragem bimestral de dois mil exemplares,
a publicação – segundo informações do Avaí - é
a mais vendida entre as revistas de esporte nas
bancas do centro de Florianópolis.
Até mesmo a parte comercial é feita por
torcedores que, além de mostrar suas marcas e
seus estabelecimentos, relatam seu amor ao time
e parabenizam pela boa fase.
Nas bancas, nas lojas de esporte e no estádio
desde 28 de maio, a mais recente edição da
revista traz a conquista do título estadual de 2009,
um perfil do autor da melodia do Hino Oficial do
Avaí, Luiz Henrique Rosa, uma entrevista com
o arquiteto David Ferreira Lima que elaborou
o projeto da Ressacada, a torcida feminina nos
estádios, além da Musa do time Alana Campos.
Com espaço para publicação de fotos de
torcedores, a revista conta também com as
colunas fixas dos escritores Almicar Neves e
Sergio da Costa Ramos.
Para participar, o torcedor pode enviar
fotos e suas histórias para a redação no email
[email protected].
Vendas chegam a R$ 10 mil
Bárbara Nunes
A Avaí Store, loja oficial do Leão, localizada na
Ressacada, estava lotada neste domingo. Muitos
torcedores comprando camisetas, bonés, kits
infantis e até o famoso cachecol que virou moda
nesse inverno.
As vendas no jogo contra o São Paulo chegaram
a R$10 mil. Robson Andrade, gerente da loja, diz
que a Avaí Store chegou a vender o dobro na final
do Campeonato Catarinense. Nos dias comuns,
segundo Robson, as vendas ficam entre R$ 1 mil
e R$ 2 mil.
“A loja ganha por estar em um ponto
estratégico, as pessoas chegam aqui com muito
entusiasmo, e isso é ótimo para nós”, comemora
a vendedora Gabriela Montovani, que havia
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leão em foco
acabado de vender três camisetas oficiais, um
cachecol, uma meia, e um boné para apenas
uma cliente, a torcedora Renata Freitas, de 42
anos. “Tenho muito orgulho de ser avaiana, faço
questão de gastar com o meu Leão”, diz Renata
após pagar à vista as compras que passaram de
R$400.
A Avaí Store foi inaugurada na Ressacada em
agosto de 2008. Além dessa, há uma filial na
Avenida Osmar Cunha, no centro da capital. Os
torcedores podem fazer pedidos ou solicitar
informações por meio do telefone 3206-1215,
ou até mesmo mandar email: vendas@avaistore.
com.br. Acesse o site e saiba mais: www.avaistore.
com.br
Raphaela D’Ávila
Os goleiros foram os donos do jogo
na partida entre Avaí e São Paulo. De
um lado, o avaiano Eduardo Martini. Do
outro, o são-paulino Denis.
Denis, 22 anos, é natural de Jaú,
cidade do interior de São Paulo, “capital
nacional do calçado feminino”,
segundo o site da Prefeitura.
É ex-goleiro da Ponte Preta e,
em 2007, teve seu melhor ano
pela Macaca, como titular no
Brasileiro e no Paulistão.
Denis fez sua estréia como
titular no São Paulo por causa
das contusões de Rogério Ceni
e Bosco, na partida contra a
Portuguesa neste ano. O estreante
saiu do campo invicto na vitória
por 2 a 0, mostrando personalidade
e, acima de tudo, reflexo. Ceni só
retornará no segundo semestre.
Eduardo Martini, 30 anos, nasceu
em Feliz, no Rio Grande do Sul, terra
dos morangos e, como Jaú do Denis, terra
dos calçados. Ele atuou no Grêmio de
1994 a 2004, ficou dois anos no Juventus
e veio para Florianópolis em 2006. Fez
sua estréia na vitória por 1 a 0 contra o
Internacional.
No ano passado, Martini fez história,
completou cem jogos pelo time da
Ressacada, atuando com uma camisa
de número 100. Recebeu uma placa
em homenagem das mãos presidente
do clube João Nílson Zunino. No jogo
seguinte, marcou um gol da área contra o
Paraná Club, aos 12 minutos do primeiro
tempo.
Martini foi o titular absoluto do Avaí
na campanha do ano passado, quando
o Avai conquistou o acesso à Série A.
Foi considerado o melhor goleiro do
Campeonato Catarinense em 2009.
jogo
James Tavares
As estrelas do
leão em foco
7
esforço do time avaiano não foi suficiente para
furar a barreira são-paulina, e os mais de 13 mil
torcedores que estiveram na Ressacada assistiram
a mais um empate do Leão, o quarto em cinco jogos no
Brasileirão. A torcida, 12º jogador, tentou empurrar o time
com cantos de “vai pra cima deles, Leão” e “vamos, vamos,
Avaí”, mas, apesar das boas oportunidades, o gol não saiu.
No jogo do último domingo, era possível ver de tudo no
meio da torcida azurra. Desde o senhor idoso com o bom e
velho radinho de pilha ao pé do ouvido até o recém-nascido
tendo a sua “iniciação futebolística” no meio da Mancha
Azul.
Nas cadeiras sociais, estava o avaiano Arnaldo Lima, que
acompanha o Avaí desde criança. Vizinho do antigo estádio
Adolfo Konder, ele pulava o muro para assistir aos jogos.
Atualmente é conselheiro do time e vem acompanhado
de toda a família para a Ressacada. Além dos adereços e
do radinho de pilha, traz para o Estádio um papel com os
jogos da rodada e anota o placar de cada partida. Arnaldo
também viaja para assistir às partidas fora de casa, e
não interessa se o jogo é no Sul ou no Norte do país, o
importante é estar presente e dar força para o time.
Em meio aos torcedores veteranos, estava um grupo
formado por 51 garotos com idade entre 7 e 12 anos. Os
meninos são de uma escolinha de futebol da cidade de
Camboriú, e vieram assistir a uma partida da Série A pela
primeira vez. Os amigos Paulinho, Mateus e Dieguinho
estavam animados e na expectativa pela vitória do
Avaí, apesar de reconhecerem que o São Paulo seria um
adversário difícil.
A estudante Beatriz Bessa Santos também teve sua
estréia no estádio, trazida pela amiga Juliana Rosa da
Luz, que freqüenta a Ressacada com a família desde
criança. Beatriz não viu uma vitória do Leão, mas disse
que a experiência valeu a pena. “Foi tudo novidade, não
imaginava que era assim. Só faltou o gol!”.
Paixão hereditária
Faltou o gol mas sobrou alegria. Com apenas um ano
e oito meses, a pequena Lara Silveira dançava ao som da
torcida. Os trigêmeos de oito anos, Luis Fernando, Luis
Artur e Ricardo Nildo Jr. vibraram a cada lance, e os quatro
filhos do Eduardo Henrique com menos de nove anos já
ostentavam orgulhosos a bandeira e o brasão azurra.
Na família Kuerten, a tática da “paixão hereditária”
deu certo. O amor pelo time foi passado de pai para filho,
como explicou Rafael Kuerten. “Desde pequenos nós já
vínhamos ao estádio, foi algo que nosso pai passou pra
gente”, relembra. Tanto para Guga quanto para Rafael,
depois de uma semana de trabalho, assistir a um jogo do
Leão na Série A é uma maneira de descontrair. A previsão
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leão em foco
Arnaldo Lima
Gabriela Wolff
Gabriela Wolff e Celina Sales
Gabriela Wolff
A força do 12º joga
Torcedores de Camboriú
ador
Gabriela Wolff
dos irmãos era de que o jogo terminasse em um a zero
para o Avaí. Quem sabe na próxima.
Celina Sales
Família Machado
Celina Sales
Luis Fernando, Luis Artur e Ricardo Nildo Jr.
Rafael e Gustavo Kuerten
Memória
Todo bom torcedor coleciona objetos do clube.
É o caso do professor Alexandrino Barreto, escritor,
radialista aposentado e, claro, avaiano de carteirinha.
Ele coleciona, entre outras coisas, memórias do clube
e as transformou em um livro. Avaí Esporte Clube é
o registro da história do futebol em Florianópolis. “E
como falar de futebol na ilha sem falar do Avaí?”,
questiona.
É o professor quem conta a história de Dona Cecília,
ou Dona Cocota como era mais conhecida. Torcedora
número um do Leão, ela acompanhou por muitos anos
o treino do time no extinto estádio Adolpho Konder.
Dona Cocota ficava a beira do campo dando com o
guarda-chuva na cabeça dos jogadores que não se
esforçavam o suficiente. Quando, durante uma reunião
da diretoria, foi cogitada a possibilidade de se extinguir
o time, ela protestou e declarou que se não houvesse
homens capazes de dirigir o Avaí, ela mesmo o faria.
Quem disse que futebol é coisa para homem?
Outro torcedor ilustre que acompanhou atentamente
o jogo entre Avaí e São Paulo foi Rogério Cavallazzi,
filho de Tullo Cavallazzi. Poucos meses antes de
morrer, Tullo ajudou a lançar a revista do Avaí. Hoje,
o filho assina a coluna Elite Azul e Branca. A família
é sócia do Avai há 11 anos, mas desde criança o pai
já os levavam ao estádio. Rogério revela que a paixão
aumentou quando o tio, Milton Cavallazzi, passou a
jogar na equipe azul e branca.
Todos iguais
Fora do campo a movimentação começou cedo,
por volta das 11 horas na “Concentração com o
Leão”. A Concentração é uma iniciativa do clube para
“estimular os torcedores a virem mais cedo para o
estádio, promovendo a interação entre eles e também
para evitar as longas filas”, explica a coordenadora
de produtos do Avaí, Otília Pagani. No evento do
último domingo, foi servido um carreteiro a R$10 e as
bandas Iluminnat e Atrevidos foram responsáveis pela
animação da torcida.
A família Machado é sócia do Avaí e participa sempre
da Concentração. Desta vez não foi diferente e eles
chegaram cedo para saborear o almoço e a companhia
dos outros torcedores. O filho do casal, João Vitor, é
mascote do time e gosta de chegar com antecedência
para entrar em campo com os jogadores.
Todos os avaianos que estavam na Ressacada tinham
uma história para contar, uma relação que os torna
amantes e amados pelo clube. Porque o time não
tem um torcedor preferido e não se importa se ele é
famoso ou anônimo, rico ou pobre, branco ou negro.
Ali na torcida, gritando pelo time, roendo as unhas,
balançando nervosamente as pernas, ali, e talvez só
ali, são todos iguais, todos ligados pela mesma paixão.
leão em foco
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Juliana Kroeger
Bandeiras à venda
nas proximidades
do estádio
Aqui se vende de tudo: de rádio
de pilha à pizza de frigideira
Paulo Scarduelli
A partida só inicia às quatro da tarde, mas os
preparativos de Adão Mendes começaram bem cedo
no domingo. Com a ajuda da esposa Margarete, ele
amanheceu fatiando e temperando os cinco quilos
de filé mignon que serviram para preparar mais de
setenta espetinhos que ele planejava vender na
tarde do jogo Avaí e São Paulo.
O casal chegou na Ressacada às 13h com todos
os apetrechos: carvão, churrasqueira, isopor com
refrigerante, água, cerveja, farinha de mandioca.
E um banquinho. Em meia hora, já tinha espetinho
pronto. Eram 15h20 quando encontrei o casal no
ponto de venda bem próximo à Toca do Leão. “O
negócio está fraco”, reclamava Adão, 47 anos e
que há 15 vende os churrasquinhos em dia de jogo
na Ressacada. “Dia bom é quando terminamos
tudo cedo e podemos ir embora antes da partida
acabar.” Margarete está sempre sorrindo. “Prefiro
acompanhar o Adão a ficar em casa vendo TV”, diz.
O casal do churrasquinho é apenas um dos
inúmeros comerciantes informais que se estabelecem
nas imediações da Ressacada em dia de jogo. Difícil
dizer ao certo quantos são.
O garoto Jaison Luiz Borges, 15 anos, é um deles
10
leão em foco
e comercializa rádio de pilha. Ele mora com os pais a
cerca de 30 quilômetros do estádio, em São José, no
bairro Bom Viver. “Há um ano vendo esses radinhos
para o meu tio”, conta o estudante que está no
primeiro ano do Ensino Médio e nunca entrou no
estádio para ver seu time jogar.
O melhor dia de negócios de Jaison foi quando o
Avaí foi campeão contra a Chapecoense, no início
de maio. “Vendi 24 aparelhos”, revela com orgulho.
Neste domingo, ele chegou às 11 e até às 14h30
havia negociado onze.
Não foi só o zagueiro Anderson Luiz que estreou
contra o São Paulo. Fora das quatro linhas e longe
do campo, ocorria outro lançamento. Marilucia Luiz
estreou seu novo prato para os torcedores: a pizza
de frigideira. Ela veio testar a novidade, num meio
onde impera cachorro quente, churrasquinho de gato
e sanduíche. “Trouxe ingrediente para 100 pizzas,
mas não tenho a menor idéia de quanto vou vender”,
revelou ela, uma hora antes do jogo começar. O
ponto de venda de Marilucia era estratégico: o lado
do estádio onde estava a torcida visitante. “Sei que
os paulistas adoram pizza e tem muito são-paulino
hoje aqui. Quem sabe, eu tenha sucesso”.
Bom resultado no campo garante
lucro de comerciantes
Mária Cláudia Menezes
Não são só lanches e artefatos do time que
circundam o estádio. Isopores com refrigerantes e
bebidas alcoólicas ainda dominam o espaço. O que
acaba refletindo nas ruas ao final do jogo, quando se
juntam latinhas e copos no chão.
Segundo o vendedor de bebidas Carlos Goiano,
a proibição na venda de bebidas dentro do estádio
aumentou a venda do lado de fora. “Desde a
proibição de bebida alcoólica, quem lucra somos
nós que estamos aqui fora, porque as pessoas bebem
antes de entrar”, informa o vendedor.
Para a comerciante de pastéis Carla Demerlini, os
dias de jogo significam trabalho e lucro para ajudar
no sustento de casa. “Agora, quando sei que o jogo
vai ser em Floripa, fico ansiosa porque sei que é um
dinheirinho extra que vai entrar”.
Além dos torcedores que se juntam ao time para
vibrar com as jogadas em dias de partida, esses
comerciantes também entram em campo para obter
uma renda extra para suas famílias.
“Se o nosso Avaí continuar assim, pelo menos
não perdendo, pode ter certeza de que todos nós
estaremos ganhando. Tanto os que trabalham lá
dentro do estádio, quanto nós que estamos aqui do
lado de fora”, completa Carlos Goiano.
Diego Wendhausen Passos
O jogo do Avaí contra o São Paulo nesse domingo
não registrou apenas sucesso de público nas
arquibancadas do estádio. O jogo também foi um
sucesso para os comerciantes que atuavam do lado
de fora do campo.
Os ambulantes estavam contentes com o aumento
na venda de produtos, alimentos e bebidas em dias
de jogo. Segundo o vendedor Aloísio Pereira, “o
retorno à Série A e também a presença de grandes
equipes no estádio tem aumentado o número de
pessoas que visitam o local”.
Aloísio participa sempre dos jogos do Avaí, porém
do lado de fora, comercializando faixas e bandeiras
do Leão da Ilha.“Quando tem jogo, eu até me
preparo, sei que vai valer a pena trabalhar. Além
disso, eu levo meu radinho e escuto aqui mesmo, do
ladinho do jogo”.
Para Fátima da Silva, dona de uma barraquinha
de cachorro-quente, o movimento aumentou desde
a entrada do Avaí na Série A. Há dois anos ela vende
cachorro-quente naquele local, mas nunca vendeu
tanto como agora. “Neste ano, vendi 500 cachorrosquentes numa única noite. Acho que as pessoas
ficam animadas em ver o time jogando com grandes
equipes do país, além de saírem famintas de uma
partida”, comenta sorrindo.
Torcedores antes
de entrarem na
Ressacada
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Trânsito: o pior adversário
A PMR, que é responsável pelo trânsito nas
rodovias, disponibilizou 20 policiais para o dia
do jogo, onde ficavam dispostos em três pontos
da Avenida Deputado Diomício Freitas.
Após a partida, o fechamento da via
para iniciação da “mão-única”, agora em
sentido Carvoeira-Centro, começou às 17h40,
aliviando um pouco a saída dos carros, que já
haviam formado um aglomerado nas saídas dos
estacionamentos.
Muitos torcedores perderam o início do jogo Avaí
e São Paulo por causa da fila de carros que se iniciou
às 14h30 antes do trevo que dá acesso a Avenida
Deputado Diomício Freitas.
A “mão-única”, conhecida pelos torcedores
freqüentadores do Estádio da Ressacada em dias
de jogo, é ainda a única opção para que a fila não
se estenda por muitas horas. Cabo Goes, da Polícia
Militar Rodoviária de Florianópolis (PMR), conta que
os horários de fechamento de pista para iniciação
da “mão-única” ficam disponíveis em vários sites,
inclusive no da própria PMR. Esses horários, além
de facilitar o acesso à Ressacada, servem para que o
torcedor se planeje. “Mas não acontece bem assim”,
reconhece o militar, olhando a fila que ainda existia
após o início do jogo.
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leão em foco
Obra de R$ 15 milhões
O grande problema do trânsito surge no
Trevo da Seta, localizado entre a Avenida
Gov. Aderbal Ramos da Silva e a Avenida
Deputado Dionísio Freitas. É neste trecho que
os motoristas têm acesso ao Sul da Ilha, ao
Estádio da Ressacada e ao aeroporto.
A Avenida Gov. Aderbal Ramos da Silva
possui três vias. Porém, mais a frente, ela
passa a ter apenas duas e, após o Trevo da
Seta, vira apenas uma, o que acaba parando
todo o trânsito, não só em dias de jogo.
O Estádio Adolfo Konder tem capacidade
para 15.533 pessoas, imagine pelo menos um
terço indo de carro no mesmo horário. Luiz
Henrique Pellegrini, assessor da Presidência do
Conselho Regional de Santa Catarina (CREASC), diz que o projeto inicial era que a Avenida
Gov. Aderbal Ramos da Silva seguisse até o
aeroporto, mas isso não pode ser realizado
por falta de licenças ambientais que proíbem
o aterramento do local por ser um mangue. O
que fez com que a avenida desembocasse no
Trevo da Seta.
No dia 28 de maio desse ano, foi assinado
pelo Prefeito Dário Berger o Edital de Licitação
do Elevado do Trevo da Seta, no Sul da Ilha, além
de um pacote de projetos visando solucionar os
problemas da mobilidade urbana da capital. A
intenção do prefeito é construir o elevado sobre o
Trevo da Seta até o ano que vem, e reconheceu o
transtorno no acesso para o Sul da Ilha, em horários
de pico, principalmente nos dias de jogos.
De acordo com o Edital, o viaduto terá quatro
pistas: duas com acesso ao sul e outras duas fluindo
no sentindo contrário. A obra está orçada em mais de
R$ 12 milhões, além de mais R$ 3 milhões, que serão
destinados para desapropriações. E a construção da
terceira pista da SC-405, logo após o Trevo da Seta,
que estava sendo executada pelo Estado, passou
para a competência do município.
Clima de
confraternização
fora do estádio
Juliana Kroeger
Justiça Presente na Ressacada
Laís Novo e Mário César Gomes
Radinho no ouvido. Olhos atentos no campo. A
delegada Ester Fernanda Coelho não é torcedora,
mas assiste ao jogo do Leão do mesmo jeito que
milhares de avaianos. Ester integra a equipe do
programa Justiça Presente, iniciativa do Tribunal
de Justiça de Santa Catarina em parceria com
a Federação Catarinense de Futebol, Ministério
Público e Polícias Civil e Militar. A Justiça Presente
tem como objetivo garantir a paz e a tranquilidade
nas praças esportivas, com pronto atendimento para
as ocorrências consideradas de pequeno potencial
ofensivo, como discussões, agressões físicas e
morais. Os delitos são avaliados em uma minidelegacia improvisada na biblioteca do Clube.
Como todos que acompanham futebol, a delegada
sabe que a melhor maneira de assistir a uma partida
é escutar a narração do rádio e conferir, no calor do
público, os acontecimentos do estádio. Para melhor
executar a sua função, ela deixa a sala reservada para
a equipe do Justiça Presente, com vista panorâmica
do estádio, para se posicionar próxima ao gramado,
logo atrás das grades que separam as arquibancadas
do campo. Lá, parte da equipe – paciente e atenta monitora a partida e os torcedores.
Esse é um local estratégico para agir em casos
de problema porque, em primeiro lugar, está mais
próximo das zonas de conflito. Em segundo lugar,
porque está perto da sala onde funciona a delegacia,
montada nos dias de jogo para prestar serviços
judiciários e atender as ocorrências de pequenos
delitos dentro do estádio. É para lá que são levados
os torcedores envolvidos em casos de discussões,
brigas e lesões leves. Nenhuma dessas ocorrências
foi registrada na partida do último domingo contra
o São Paulo. De acordo com a delegada, nas últimas
partidas do time catarinense, não têm ocorrido
problemas graves entre as torcidas adversárias.
Torcedor Enfurecido
As grades são abertas e, em meio aos gritos
eufóricos das torcidas e a força dos jogadores em
campo, um homem aparenta estar nervoso. Ele
discute, quase aos berros, com a delegada Ester
e com o escrivão José Tiago de Albuquerque. Seu
nome é Douglas do Prado, é advogado, torcedor
do São Paulo e exige falar com a juíza. Alega que
há superlotação na arquibancada reservada para
até 1500 torcedores do time adversário. “Há mais
pessoas do que a arquibancada suporta. Estamos
todos apertados ali, minha filha está grávida e foi
agredida”, afirma, limpa o suor da testa e emenda:
“quero registrar ocorrência. Para que servem vocês
se não querem trabalhar?”.
A delegada tenta explicar ao torcedor que não
pode atendê-lo porque o problema não se enquadra
nas categorias de delitos sobre as quais a Justiça
Presente está autorizada a agir, mas Douglas não
quer ouvir.
“Precisamos acalmar este homem”, suspira
a delegada. Paciente, a equipe conversa com o
torcedor e se disponibiliza a efetuar o boletim de
ocorrência que não faz parte das suas atribuições.
“Assim, ele não precisará ir a uma delegacia fornecer
as informações do B.O., mas só poderemos efetuar o
registro amanhã”, explica.
De acordo com a delegada, o programa Justiça
Presente não tem o hábito de realizar boletins de
ocorrência no local, já que ali são solucionadas só as
pequenas ocorrências, mas neste caso ela abriu uma
exceção. Após fazer o boletim de ocorrência, Prado
afirmou que irá mover um processo contra o clube
catarinense.
Outro lado
Segundo Gastão Dubois, assessor de imprensa
do Avaí, havia lugar na arquibancada, “mas os
torcedores não queriam subir porque achavam a
localização ruim. Então preferiram ficar lá embaixo
e nas escadas. O problema não evoluiu porque a
denúncia era vazia”, conclui.
leão em foco
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Torcedor de boteco
Amanda Santos
Três tevês de plasma, chope e amendoim de
montão, muitos palpiteiros, alguns secadores
alvinegros e, claro, centenas de torcedores
avaianos. Eles estavam no continente, num
shopping de São José, longe da Ressacada,
mas ligados no jogo desse domingo. Eram
aproximadamente 350 pessoas reunidas para
assistir a quinta partida do Avaí na Série A. Fazia
um friozinho de nove graus, mas ninguém parecia
preocupado com o tempo. “Nós vamos ganhar
de cinco a zero”, disse confiante Jaime Costa, 45
anos, engenheiro agrônomo, que deixou esposa e
filhos em casa para confraternizar com os amigos
a esperada vitória do Avaí.
Em outro local, também no continente, um bar
tornou-se ponto de encontro durante as partidas do
Avaí, com direito a torcida organizada, batuques
e cerveja, muita cerveja. Nelson Ferreira, dono do
estabelecimento, diz que o clima é de rivalidade
no campo, mas de harmonia entre os clientes. Já
faz três anos que os jogos são transmitidos no bar
e não houve conflito entre torcidas adversárias.
“A torcida do Avaí é organizadíssima, ela não é
povão e nem de bagunça”, afirma Ferreira.
O tempo passa e o gol não sai. Mais um empate
em casa. “É contra o São Paulo, contra o São
Paulo”, alguém lembra, como que dizendo “um
empate não é lá algo tão ruim”. Será? Os olhos
continuam fixos na tela, as mãos se entrelaçam
e o coração dos torcedores dispara. “O time está
se acertando ao ritmo da competição”, justifica
Mário César Teixeira, 37 anos, pescador, avaiano
fanático que não abandona o time nem na Série A,
nem na B, nem C. Vixe, vira essa boca para lá. “O
Avaí vai vencer, é questão de tempo”, argumenta
Teixeira.
Mas tempo o Avaí não tem de sobra. Quem tem?
Na próxima rodada, o time azurra, que está em
décimo sétimo na colocação, encara o Barueri,
seu adversário direto para escapar da zona de
rebaixamento. O time adversário empatou com o
Goiás , no Serra Dourada e promoveu um trocatroca na zona de rebaixamento da tabela.
Muitos outros bares do continente, que ainda
não tem TV de plasma, nem TV a cabo, estão
providenciando esses equipamentos. Nada como
um bom (ou um mau) jogo de futebol para vender
cerveja e petiscos. Futebol é sempre um ótimo
pretexto para se reunir com os amigos e falar mal
de juízes, técnicos e afins. E dar palpite, muito
palpite. E, claro, torcer pelo time que se ama.
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leão em foco
Marquinhos dá
entrevista no final
do primeiro tempo
De dentro do campo,
radialista narra os
preparativos para a
partida
Luiz Ceará (Band), Lorival Guimarães (Rádio Mais Alegria)
e Aldori Silva (Rádio Vale)
Por trás da cortina: a cobertura da mídia
Lyana de Miranda
Na Era da convergência das mídias, em que tudo
acontece simultaneamente, as informações estão cada
vez mais universalizadas e diversificadas. Nesse cenário
multimidiático repleto de inovações, diversas áreas,
entre elas a esportiva, se favorecem com a eficiência
dos meios digitais. E como não poderia deixar de
ser, o futebol é uma das atividades que se beneficia
das ferramentas de mídia, tornando as transmissões
igualmente eficientes.
Prova disso são as coberturas nacionais dos jogos
do Campeonato Brasileiro da Série A. Considerada
a competição mais importante do futebol no país, o
campeonato, que reúne vinte clubes de diversas regiões,
é, durante quase oito meses, agenda de discussão para
os amantes da arte com a bola que “rasga o chão e
costura a linha”, como definiu Chico Buarque. E é em
tal competição que a alta tecnologia empregada na
“comunicação futebolística” se evidencia.
A arena do último espetáculo foi a Ressacada, que
nessa rodada enfrentou o tradicional e temido São Paulo.
Mas não houve nada a temer. No zero a zero da partida
não faltaram detalhes, comentários e, sobretudo,
emoção por parte dos profissionais responsáveis pela
cobertura do jogo. Diferentes narrações de diferentes
veículos que se confluem e se completam em um só
destino: o torcedor.
Seriedade e Descontração
Hoje o ouvinte, o telespectador, o leitor ou ainda,
o navegador de internet, além da paixão pelo futebol,
têm em comum a exigência de uma narração limpa,
detalhada e, até mesmo, personalizada. Para tanto,
os meios não deixam a desejar, se adequando às
necessidades de cada público.
Para quem quer ouvir uma narração dinâmica e
sem muitas informações técnicas, as rádios FM’s, que
outrora não se interessavam em cobrir atividades
esportivas, hoje são uma das diversas opções para se
acompanhar uma boa partida. “É o futebol tratado
com a seriedade que merece e com a descontração
que precisa”, afirma Claudiomir Miranda, comentarista
da rádio Band FM de Florianópolis. As FM’s possuem
o foco no público jovem, detentores e amantes dos
aparelhos de MP3, celulares e afins. Para Cleverson
Tanaka, narrador da rádio Cidade FM de Itapema, “as
FM’s precisam se adequar e estar sempre em busca de
renovação”.
Em contrapartida, as rádios AM continuam com
força total em suas longas e detalhadas transmissões,
que chegam a ficar três, quatro horas no ar. Para Paulo
Branchi, narrador da rádio Guarujá AM há 28 anos, por
meio do rádio “os ouvintes podem imaginar, criar a
partida em sua mente”. Muitos deles, ouvindo ao jogo
ali mesmo, das arquibancadas ou da geral, com seus
radinhos de pilha e fones de ouvido trazidos de casa ou
adquiridos na porta do estádio por R$10. “Eles querem
confirmar o que estão vendo e, até mesmo, dividir a
percepção, além de se informar com a narração da
AM”, pondera o locutor.
Mas nem sempre a presença no estádio é obrigatória
para a narração e transmissão do jogo. E assim foi com
a Rede Globo e a TV Bandeirantes, emissoras que detêm
os direitos de transmissão dos jogos da competição para
todo o país. Mesmo não sendo regra, durante a partida
os locutores e comentaristas não estavam presentes.
As imagens, geradas do estádio em Florianópolis,
abasteceram os profissionais que, assistindo pela
TV, deram conta do recado. Para Giovani Martinello,
locutor do PFC, única emissora de TV a transmitir a
partida direto do estádio e ao vivo, “acompanhar os
torcedores é muito mais bacana”.
Mas não é só de rádio e TV que se faz uma boa
cobertura de jogos. Assim como um meio não vive
sem o outro, em uma partida de futebol eles se
completam. Se a intenção é registrar, confirmar e,
sobretudo, afirmar a jogada, nada como uma conferida
na transmissão de outra mídia. No rádio, a rapidez e a
limpeza na locução é a vantagem que auxilia na coleta
da informação; se há dúvida, nada como acompanhar,
de dentro da cabine de transmissão, a repetição do
lance por meio da TV por assinatura; para registrar,
note books conectados à rede mundial que abastecerão
blogs e veículos impressos com textos e fotos enviados
dali mesmo.
Além de arena do melhor futebol catarinense
atualmente, a Ressacada foi palco do que de melhor
a comunicação esportiva oferece aos torcedores.
Ao se confluírem, as mídias evoluem, mas não se
substituem. E agradando de ouvintes a blogueiros, de
telespectadores a leitores, as linguagens e narrativas
se perpetuam e, principalmente, tentam eternizar a
arte do futebol, mesmo numa partida em que o grito do
gol tenha ficado engasgado na garganta.
leão em foco
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James Tavares
Juliana Kroeger
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Com a Ressacada lotada, Avaí enfrenta o São Paulo e