GT: Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade
O ARTESANATO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE:
CARACTERIZAÇÃO E PROPOSTAS DO PONTO DE VISTA DA ECONOMIA
CRIATIVA
Alana Caroline Ferreira de Araújo
Aluna da Graduação em Gestão de Políticas Públicas da UFRN, Natal – RN
E-mail: [email protected]
Fernando Manuel Rocha da Cruz
Professor do Departamento de Políticas Públicas da UFRN, Natal – RN
E-mail: [email protected]
O artesanato, envolvendo a criatividade, o capital intelectual e o talento, é
classificado como segmento criativo pelo Plano Nacional da Economia Criativa
2011-2014. No estado do Rio Grande do Norte (RN), além de representar uma
reafirmação da cultura popular, representa igualmente uma fonte de renda para
aqueles que produzem bens artesanais, sendo necessária a atenção das Políticas
Públicas para preservar sua originalidade. As Políticas Públicas de fomento da
Economia Criativa têm por objeto o ciclo econômico dos setores criativos, elegendo
como seus principais elementos a criatividade, o empreendedorismo, os
conhecimentos de gestão e da economia, assim como, a adoção das tecnologias de
informação e comunicação. A pesquisa realizada é qualitativa devido à aplicação de
entrevistas semiestruturadas junto de seis artesãs do Rio Grande do Norte, tendo
em vista a comparação e análise das respostas obtidas. Os objetivos da pesquisa se
inscrevem na apresentação e análise do artesanato no RN, a partir das Políticas
Públicas de fomento da Economia Criativa. É ainda nosso objetivo no presente
artigo, apresentar propostas políticas para o desenvolvimento do artesanato e
consequente criação de renda para seus profissionais. Concluímos que o estado
tem um papel importante a desenvolver em todo o ciclo econômico do artesanato,
quer através do lançamento de linhas de crédito para promover a criação e a
produção, quer no apoio à participação e organização de feiras e mostras
(distribuição e mercados).
Palavras-chave: Artesanato. Economia Criativa. Políticas
Metropolitana de Natal.
Públicas. Região
INTRODUÇÃO
O Plano da Secretaria de Economia Criativa (2011-2014) busca valorizar os
talentos criativos individuais e coletivos e trata a cultura como um ativo econômico
capaz de gerar emprego e renda. Nessa nova economia, o valor econômico dos
produtos está agregado ao seu valor simbólico, ao talento, ao processo e não
apenas às matérias primas. Nessa perspectiva, o artesanato se constitui como setor
criativo.
Diríamos que o objeto artesanal é definido por uma dupla condição:
primeiro, o fato de seu processo de produção ser essencialmente
manual; segundo, a liberdade do artesão para definir o ritmo da
produção, a matéria-prima e a tecnologia que irá empregar a forma
que pretende dar ao objeto, produto de sua criação, de seu saber, de
sua cultura. (LIMA, 2007, p. 14).
O presente artigo apresenta os resultados do projeto intitulado “Estudo de
caso e mapeamento das indústrias criativas no Rio Grande do Norte”, renovado pelo
Edital PIBIC_PIBIC_AF_PIBITI_2014-2015, no que respeita ao setor do artesanato.
A pesquisa é de teor qualitativo, tendo sido aplicadas entrevistas semiestruturadas a
seis artesãs do estado do Rio Grande do Norte (RN), tendo em vista a comparação
das suas representações sociais. Por representação social, entendemos a relação
daquilo que é enunciado com a realidade, ou seja, a construção das práticas
(Almeida, 2007, pp. 363-364). Os objetivos do artigo são o de apresentar e analisar
o artesanato no RN, a partir das Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa,
propondo medidas políticas para o desenvolvimento do artesanato e para a criação
de renda de seus profissionais.
O artigo foi dividido em três partes. A primeira se debruça sobre a
conceituação da Economia Criativa, enquanto a segunda parte se refere às
características do artesanato. Finalmente, a terceira parte aferimos e analisamos os
resultados das entrevistas efetuadas junto de artesãs do RN.
1. A ECONOMIA CRIATIVA
Segundo Miguez (2007), a cultura tem despertado o interesse de campos do
conhecimento que antes não se relacionavam diretamente com ela, como é o caso
da ciência política, da comunicação, do direito, da geografia, da economia e da
gestão. No caso da Economia, a cultura tem ocupado atenção singular, diante da
emergência de uma sociedade do conhecimento, das indústrias culturais e da
relação entre cultura e outros setores.
É nesse novo contexto que surge a Economia Criativa, que representa uma
ligação entre economia e cultura, como também a valorização do capital intelectual e
criatividade para produção de bens e serviços.
A economia criativa trata dos bens e serviços baseados em
textos, símbolos e imagens e refere-se ao conjunto distinto de
atividades assentadas na criatividade, no talento ou na habilidade
individual, cujos produtos incorporam propriedade intelectual e
abarcam do artesanato tradicional às complexas cadeias produtivas
das indústrias culturais. (MIGUEZ, 2007, p. 96-97).
A Economia Criativa surge em um ambiente de mudança de paradigmas.
REIS (2011, p. 81) explicitou que, desde meados da década de 90, ocorre uma
fragmentação das cadeias de produção em escala planetária, onde cada parte do
produto pode ser produzida em um lugar diferente do mundo. Somado a isso temos
a padronização dos bens e serviços da Economia, onde o diferencial é a marca, o
design e a imagem. A mesma autora expõe ainda um terceiro traço característico
das mudanças: “a velocidade da transferência de pilares tradicionais de
competitividade.” Segundo ela, o capital e a tecnologia viajam facilmente em escala
planetária e apenas a criatividade não é assim tão facilmente transferível. Todos
esses fatores contribuíram para a criação desse novo conceito. Entendemos,
contudo que o contato com outras realidades e outras experiências pode acelerar o
desenvolvimento da criatividade, bem como, a própria educação pode alterar o
paradigma do “ter” para o “ser”, uma vez que entendemos que todos os indíviduos
são criativos (em diferentes graus) e que esta pode ser desenvolvida e potenciada
quer em termos individuais, como sociais.
O conceito, Economia Criativa deriva do termo indústria criativa, que surgiu
não no ambiente acadêmico, mas sim nas políticas públicas. Primeiramente aparece
na Austrália no ano de 1994, com o projeto Creative Nation. Nesse projeto o governo
australiano visava promover políticas públicas de valorização a cultura, incluindo o
trabalho criativo como estratégico para o desenvolvimento econômico do país.
(BENDASSOLI
et
al,
2009;
CARVALHO;
CARVALHO,
2013)
Segundo
BENDASSOLLI et al (2009) , foi na Inglaterra que a expressão Indústria Criativa
ganhou impulso. Em 1997, durante o governo de Tony Blair, foi realizado um
mapeamento detalhado das atividades criativas do país com a identificação de 13
setores com capacidade de geração de emprego, renda e dinamização da
Econômica. (BENDASSOLI et al, 2009; REIS, 2012)
O governo inglês classifica os seguintes campos como setores
criativos: publicidade, moda, cinema, software, interativos de lazer,
música, artes performáticas, indústria editorial, rádio, TV, museus,
galerias e as atividades relacionadas às tradições culturais (DCMS,
2005 apud BENDASSOLI et al, 2009, p. 11).
Mais tarde, em 2010, o Relatório da Economia Criativa 2010 da UNCTAD,
vem classificar as indústrias criativas em quatro categorias: Patrimônio Cultural
(artesanato, expressão da cultura tradicional), Artes (artes visuais e artes
dramáticas), Mídia (editoras mídias impressas, audiovisuais) e Criações funcionais
(design, novas mídias e serviços criativos). Segundo Carvalho e Carvalho (2013),
essas indústrias podem ser definidas por possuírem atividades pautadas na
criatividade e no talento individual e que tem potencialidades para geração de
emprego e renda. Acrescentamos que às indústrias culturais foram agregados
setores que utilizam a arte e a cultura como elementos de valorização das suas
atividades (CRUZ, 2015).
O Brasil por utilizar a expressão “Setores Criativos” para traduzir a expressão
inglesa de “creative industries“, utilizada nos países anglo saxões (BRASIL, 2011).
No Plano da Secretaria da Economia Criativa, os setores criativos são definidos
como:
[...] aqueles cujas atividades produtivas têm como processo principal
um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja
dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em
produção de riqueza cultural, econômica e social. (BRASIL, 2011, p.
22).
Para Howkins (2001, p. 12), “a criatividade de não é algo novo, tampouco a
economia, mas a novidade está na natureza e na extensão da relação entre elas e
como elas se combinam para criar valor e riqueza extraordinários”. O impacto das
indústrias Criativas na Economia, e o impacto de seus produtos, bens e serviços em
outros segmentos não criativos fez surgir à necessidade da criação de um novo
conceito que permitisse analisá-las em sentido mais amplo, a Economia Criativa.
Entendemos, contudo, que a novidade da Economia Criativa é não apenas a
agregação da categoria das “Criações Funcionais”, mas o modelo empreendedor
que o mesmo pretende transmitir às demais categorias culturais. Por outro lado,
importa as questões relativas à distribuição e dos mercados. O foco muda do ato
criador e produtivo para o modo como tais bens e serviços são distribuídos e
vendidos (mercados). Desse modo, passou a se valorizar a criatividade em todo o
ciclo econômico.
A partir do primeiro mandato de Lula, o Ministério da Cultura passou a participar
mais dos debates a respeito de políticas públicas de diversidade e cultura e em
sequência, no ano de 2011 foi criada a Secretaria de Economia Criativa, o que
demostra maior interesse do Brasil a respeito dessa nova Economia (CARVALHO;
CARVALHO, 2013). Com a criação da Secretaria, os setores criativos ganharam
maior visibilidade no que se refere à criação de políticas públicas.
O conceito de Economia Criativa brasileiro foi construído levando em
consideração as particularidades do nosso país, com a definição de uma carta de
princípios que guiam as ações voltadas para essa nova economia.
Seguindo os princípios da inclusão social, sustentabilidade,
inovação e diversidade cultural brasileira, busca-se
ultrapassar uma visão meramente economicista da cultura e
ressaltar o simbólico como dimensão determinante dos bens,
cujos produtos são de “riqueza cultural, econômica e social”
(MINC, 2011, p. 22).
A economia criativa tem uma dinâmica própria, a criatividade empregada no
ato criativo pesa muito mais que a matéria prima utilizada na hora de definir o preço
do produto. (BRASIL, 2011) Em uma obra de arte, o definidor do preço é a
criatividade e técnica do artista e não as matérias primas utilizadas no produto.
A criação do Plano da SEC despertou, para as políticas públicas, o imenso potencial
que os setores culturais têm para impulsionar a economia através de seus serviços e
bens criativos. O Artesanato, para além de se constituir como manifestação da
cultura popular e da sua capacidade criativa, apresenta importância econômica, com
capacidade de gerar trabalho, renda e inclusão social.
2. A ATIVIDADE ARTESANAL
O artesanato não é uma pura mercadoria, já que encerra em si “valores,
crenças e culturas” (LIMA, 2007, p. 14). Como produto cultural, ele carrega um valor
simbólico. Quando compramos artesanato, não estamos comprando apenas uma
peça, mas todo o processo que ela envolveu. De forma que não é um produto
comum, mas um produto que leva em conta o intangível. De acordo com o Programa
do Artesanato Brasileiro, o artesanato é definido da seguinte forma:
Compreende toda a produção resultante da transformação de
matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que
detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando
criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e
identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o
auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios
(BRASIL, 2012, p. 14).
Segundo Lima (2007), diferentemente dos produtos industrializados, o
artesanato é um produto que possui algumas irregularidades, por ser um produto
manual. Acresce que o mesmo possui um ritmo e um tempo de produção. “Lidando
com a comercialização, o mercado acaba por exigir uma continuidade de produção
que o artesanato muitas vezes não atende” (LIMA, 2007, p. 23). O universo do
artesanato tradicional circula ao redor das possibilidades do artesão, o tempo que
ele tem disponibilizado para dedicação ao trabalho.
Existe uma distinção entre artesanato tradicional e aquele voltado para o mercado.
Segundo Leite (2007, p. 28), a perspectiva tradicional é “uma arte de fazer
tradicional que deve ser preservada mediante a manutenção dos lastros sociais nos
quais são produzidos” enquanto a perspectiva mercadológica possui “certas
inovações estéticas na produção artesanal como meio de inseri-lo no mercado e
assegurar sua reprodutibilidade, ainda que em um estado alterado da tradição”. A
autora ainda apresenta como se manifesta essa dicotomia nos produtores
artesanais. Assim, quando se mantém rigidamente os traços mais tradicionalistas do
fazer artesanato, pode não atrair a atenção do mercado. Mas por outro lado, com a
adaptação de seus produtos a lógica de mercado corre o risco de perder as
características mais tradicionais e únicas de seus trabalhos.
A perspectiva tradicionalista defende, por isso, que para que se preserve o
artesanato tradicional seja necessária a manutenção de seu contexto original. Por
seu lado, a visão mercadológica defende algumas alterações estéticas e técnicas do
artesanato para sua inserção no mercado, mesmo que signifique o abandono da
tradição.
Não é, contudo, entendido como artesanato, o trabalho realizado a partir de
simples montagem, com peças industrializadas e/ou produzidas por outras pessoas
(BRASIL, 2012). O artesanato mercadológico quando reduzido a uma atividade
manual com produtos semi-industriais, geralmente (mas, não em sua totalidade),
tem custos baixos de venda e é vendido com souvenir. De forma que a
mercantilização do artesanato tradicional pode levar ao fim do mesmo, pois foge das
características necessárias para que o produto seja considerado artesanal.
3. O ARTESANATO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Na pesquisa que levamos a efeito, foram analisadas (através da análise de
conteúdo) as entrevistas feitas às representantes de três associações de artesanato,
duas artesãs individuais e uma representante do grupo de mulheres artesãos da
Feira de Ponta Negra. Este último grupo é o resultado de uma ação do Centro de
Cultura da Vila de Ponta Negra que busca o empoderamento das mulheres através
do artesanato. As perguntas feitas relacionam-se com a dinâmica da atividade, a
realização pessoal, as principais potencialidades e dificuldades do trabalho com o
artesanato.
As associações representadas nas entrevistas foram o Instituto Pium, a
Associação Criativa de Acari e a Associação das Artesãs de Parnamirim. O Instituto
Pium está localizado em Parnamirim, tendo envolvido cerca de 30 pessoas. A
Associação Criativa de Acari é uma associação recém-criada e reúne 17 artesãos da
cidade de Acari. Por fim, a Associação dos Artesãos de Parnamirim, reúne 18
artesãos parnamirinenses. Nela, os mesmos produzem, divulgam e vendem seus
produtos. Das artesãs individuais, três pertencem à Feira do Maior Cajueiro do
Mundo, sendo duas rendeiras de bilro e uma artesã de junco e juta, enquanto as
demais artesãs individuais exercitam a atividade na cidade de Natal.
Todas as pessoas entrevistadas são do sexo feminino, tendo relatado suas
experiências com o artesanato iniciado no seio familiar, aprendizado passado por
suas mães, avós ou outros parentes. A produção artesanal é geralmente executada
em casa, mesmo nas associações que possuem ateliê próprio. Trabalhando de
forma autônoma, essas mulheres buscam complementar a renda familiar com a
venda dos trabalhos artesanais que produzem.
A motivação para se dedicar ao artesanato são inúmeras, as mais citadas são
a motivação pessoal, se tratar de um trabalho livre, sem patrão, ser executado em
casa proporcionando tempo para cuidar da família, ser uma atividade com a qual
têm intimidade, por ser praticado desde a infância, ser relaxante e proporcionar
renda e sustento à família.
Os aspectos culturais locais se fazem presente na produção do artesanato,
possuindo valor simbólico agregado a esse sentimento de pertencimento ao lugar. O
artesanato tem atraído a atenção dos turistas que procuram adquirir objetos
relacionados com a identidade do lugar visitado, o que tem permitido a valorização
do artesanato. Todas as entrevistadas, com exceção do “BV Ateliê de Artes” que
trabalha sob encomenda, registrou que a venda dos produtos se concentra na alta
estação, havendo uma queda nos outros períodos.
A feira de Artesanato organizada dentro e fora do estado tem ajudado a
comercializar os produtos, mas essas feiras, só por si, não são capazes de sustentar
os gastos dos artesãos o ano todo, sendo necessário buscar novas formas de venda
e de divulgação do trabalho artesanal. Dentre os entrevistados, apenas as
associações registraram ter participação nas feiras de artesanato. As demais artesãs
nunca participaram de nenhuma feira ou exposição. O “BV Ateliê de Artes” mostrou
o interesse em divulgar seus trabalhos nas feiras, mas afirmou que por executar um
trabalho demorado (enxovais de patchwork- na tradução “trabalhos com retalhos”),
não consegue estocar para expor em feiras e exposições. Inclusive, existe uma
dificuldade de aceitação do Patchwork como artesanato, sendo considerado por
alguns como trabalho manual. Segundo a Base conceitual do Programa de
Artesanato Brasileiro não são consideradas artesanato “habilidades aprendidas
através de revistas, livros, programas de TV, dentre outros, sem identidade cultural.
(Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior, 2012, p. 12).
Contudo, no BV Ateliê de Artes, a proprietária se identifica como artesã.
Em relação à atualização dos conhecimentos, apenas as integrantes das
associações afirmaram fazer algum curso de aperfeiçoamento, as demais relataram
o uso da internet, revistas especializada e programa de TV como forma de
aperfeiçoamento. As principais formas de aperfeiçoamento, citadas por todas as
entrevistadas, foram o contato com os demais artesãos e a prática diária. No que se
refere a práticas de gestão, as artesãs individuais e empreendedoras como é o caso
das artesãs da Feira do Maior Cajueiro do Mundo e a proprietária do BV Ateliê de
Pactwork, afirmaram fazer cursos de empreendedorismo oferecidos pelo SEBRAE.
Uma etapa importantíssima para dar visibilidade à atividade do artesanato
seria a divulgação, mas os artesãos sentem dificuldade em fazê-lo individualmente.
As associações costumam divulgar os seus trabalhos por meio das redes sociais,
mas esse tipo de divulgação não consegue alcançar grande visibilidade para o setor.
Como proposta para responder a essa dificuldade, as artesãs afirmam que seria
necessário a criação de um órgão de divulgação municipal ou estadual.
A não valorização do trabalho manual é uma barreira a ser enfrentada pelos
artesãos. O valor cobrado pelo produto não é aceito pelo consumidor. O artesanato
como brinde, como uma coisa barata, atrelado à competição com o artesanato
industrial, é vendido nos pontos turísticos, prejudicando a sobrevivência da atividade
artesanal do estado. “O artesanato é feito em larga escala e distribuído além do
território de origem, desvinculando-se de uma localidade, tradição ou comunidade
específica, entre outras características” (COSTA, 2007, p. 3). Esse artesanato que
não tem ligação nenhuma com a comunidade se torna um grande concorrente da
produção local.
Outros desabafos das artesãs foram relativos à impossibilidade de viver
apenas com a renda adquirida com a atividade artesanal, a dificuldade de aquisição
dos materiais utilizados na produção, dificuldade de participar das feiras e de bancar
as taxas cobradas pelos stands. As associações registraram, por seu lado,
dificuldade de manter os gastos dos prédios, como aluguel, água e energia elétrica,
e dificuldade de participar das feiras de artesanato em outros estados. Quando
conseguem apoio para levar seus trabalhos para outros estados, não conseguem
apoio para as passagens aéreas e hospedagem, apenas seus trabalhos são
transportados em caminhões e representados por técnicos. Apenas, a Associação
dos Artesãos de Parnamirim registrou ter seus gastos com as instalações arcados
pela prefeitura.
Os entrevistados afirmaram receber pouco apoio do estado, o qual se resume
a ajudas de custo para participar de eventos fora do estado. A Lei Câmara Cascudo,
de Incentivo à Cultura Estadual, que pode beneficiar pessoas físicas ou jurídicas,
obriga o artesão a saber elaborar projetos para concorrer a editais. Essa prática é
porém, um grande obstáculo para muitos artesãos. Outro entrave é que muitos
artesãos desconhecem a existência da lei. A lei de incentivo da cultura de Natal, a
Lei Djalma Maranhão, é ainda mais restrititiva.
Os artesãos se reúnem em associações e cooperativas ou montam negócio
próprio visando à geração de renda e procurando atender às demandas
principalmente do turismo. O melhor aproveitamento desse potencial econômico
representado pelo artesanato requer a atenção do estado por meio de políticas
públicas que possam minimizar as principais dificuldades sentidas pelos artesãos
potiguares. Isso vai muito além da catalogação dos artesãos existentes. É
necessário identificar igualmente os materiais utilizados como matéria prima e
facilitar a sua aquisição, assim como incentivar a produção e a instalação de uma
política de crédito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As Políticas Públicas de fomento da Economia Criativa têm por objetivo apoiar
os setores criativos e seus profissionais de modo a promover o desenvolvimento
social, cultural e econômico, através da geração de renda e da formalização de seus
profissionais. Suas políticas visam o ciclo econômico, nomeadamente a criação, a
produção, a distribuição e mercado.
Assim, qualquer tipo de intervenção das Políticas Públicas na atividade
artesanal deve levar em consideração a sua originalidade e tradição. Para isso se
faz necessário uma maior interação do poder público com o setor criativo, por meio
de pesquisas que permitam identificar as principais dificuldades a serem
enfrentadas. Assim, ao nível da produção, é necessário a identificação dos materiais
utilizados pelos os artesãos e promover o acesso aos mesmos, nomeadamente
através de linhas de crédito. Ao nível da distribuição, o estado deve estar envolvido
nesse processo, devido à grande dificuldade que os artesãos têm para dar
visibilidade aos seus produtos. Um olhar empreendedor deve ser aplicado à
atividade, de forma que se possa ser garantida a sua durabilidade. Por outras
palavras, é necessário que a criatividade e o empreendedorismo estejam presentes
em todo o ciclo econômico. As Políticas Públicas devem ser capazes de fomentar
estes elementos através de medidas e políticas efetivas na promoção e distribuição
da produção artesanal.
Os investimentos em artesanato representam o desenvolvimento da
comunidade, e a valorização dos produtos culturalmente regionais. Deve-se, por
isso, se investir na formação de uma mentalidade empreendedora e na criação de
alternativas para que os artesãos possam competir no mercado, sem alterar a
origem e a essência do trabalho artesanal.
O estado deve encontrar meios para a promoção e o fomento da
profissionalização dos artesãos para além de promover a realização de mostras e
feiras, garantindo a participação dos artesãos, individual e coletivamente.
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