doi:10.3900/fpj.2.1.23.p EISSN 1676-5133 A flexibilidade na autonomia funcional de idosas independentes Artigo Original Rodrigo Gomes de Souza Vale Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ [email protected] Estélio Henrique Martin Dantas Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ Bolsista 2 A de Produtividade de Pesquisa do CNPq [email protected] Jani Cléria Bezerra de Aragão Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco/RJ [email protected] VALE, R.G.S., ARAGÃO, J.C.B., DANTAS, E.H.M. A flexibilidade na autonomia funcional de idosas independentes. Fitness & Performance Journal, v.2, n.1, p. 23-29, 2003. RESUMO: Este estudo tem como objetivo investigar a evolução da flexibilidade através do método de flexionamento dinâmico e sua influência na autonomia funcional de 14 idosas (60-87 anos/=66,47,3), participantes por um período de 16 semanas, com frequência de dois dias/semana, durante 30 minutos por sessão, de um programa de treinamento de flexibilidade da Academia Capacidade Vital, no município de Araruama/RJ. Foram aplicados, nas fases inicial e final, testes de flexibilidade de goniometria pelo protocolo LABIFIE (DANTAS, 1997), com um goniômetro de aço 360º (Cardiomed, Brasil), nos movimentos de abdução de ombro, flexão e extensão de quadril, flexão de joelho, flexão dorsal e plantar do tornozelo, flexão da coluna lombar, e testes de autonomia (ARAGÃO, 2002), C10m, LPS, LPDV e TUG, onde o tempo de realização foi aferido em segundos por um cronômetro (Cásio, Malaysia). O tratamento estatístico usado foi de forma descritiva, com média, desvio padrão, mínimo e máximo, e inferencial, com teste “t” de student. Os sujeitos apresentaram melhora significativa (p<0,01) para todos os movimentos articulares avaliados. Nos testes de autonomia, houve redução de todos os tempos marcados, mas de forma expressiva apenas o C10m e LPS (p<0,01). Palavras-chave: Flexibilidade, flexionamento dinâmico, qualidade de vida, autonomia funcional, envelhecimento. Endereço para correspondência: Rua Oscar Clark, 805 – Parque Mataruna – Araruama – RJ – CEP 28970-000 Data de Recebimento: novembro / 2002 Data de Aprovação: dezembro / 2002 Copyright© 2003 por Colégio Brasileiro de Atividade Física, Saúde e Esporte. Fit Perf J Rio de Janeiro 2 1 23-29 jan/fev 2003 ABSTRACT RESUMEN Flexibility on the Functional Autonomy of Independent Elderly Women La flexibilidad en la autonomía funcional de las mayores independientes The study aimed at investigating the evolution of flexibility through a dynamic flexibility method and its influence over the functional autonomy of 14 elderly women (aged 60-87 years/´C=66.4±7.3). A flexibility training program from the Academia Capacidade Vital (Vital Capacity fitness center, in English), in Araruama, Rio de Janeiro State was applied during 16 weeks, frequency of 2 days/ week, during 30 minutes for each session. In the initial and final phases, tests of goniometric flexibility were conducted according to LABIFE protocol (Dantas, 1997), using a 360o. steel goniometer (trademark Cardiomed, Brazil), and movements of shoulder abduction, hip flexion and extension, knee flexion, ankle extension and flexion, lumbar spine flexion, and C10m, USP, UVDP and TUG tests of autonomy (Aragão, 2002), where the timing of gauged in seconds, timed by a chronometer (trademark Casio, Malaysia). A descriptive statistical treatment was used, with mean and standard deviation, minimum and maximum values, and a T test. The individuals presented a significant improvement (p<0.01) of all the articulated movements considered. On the autonomy tests, there was a reduction in all the times that were marked, but only the C10m and USP (p<0.01) were seen in an expressive way. Keywords: Flexibility, dynamic flexibility; life quality; functional autonomy; aging. Este estudio tuvo como objetivo investigar la evolución de la flexibilidad por medio del método “flexionamiento” dinámico y su influencia en la autonomía funcional de catorce mayores (60-70 años/´C= 66,4 ±7,3), participantes de un periodo de dieciséis semanas, con frecuencia de dos días/ semana durante treinta minutos por sesión, de un programa de entrenamiento de la flexibilidad en el Gimnasio “Capacidad Vital”, en el ayuntamiento de Araruama/ RJ. Se aplicaron, en las fases inicial y final, testes de flexibilidad de goniometría por el protocolo LABIFIE (DANTAS, 1997), con un goniómetro de acero 360º (Cardiomed, Brasil), en los movimientos de abducción de hombros, flexión y extensión de la cadera, flexión de rodilla, flexión dorsal y plantar de tobillo, flexión de la columna lumbar, y testes de la autonomía (ARAGÃO, 2002), C10m, LPS, LPDV y TUG, donde el tiempo de realización fuera cotejar en segundos por un cronómetro (Casio, Malaysia). El tratamiento estadístico usado fue de la manera descriptiva, con media, desviación típica, mínimo y máximo, y inferencia, con test t de student. Los sujetos presentaran mejoras significativas (p< 0,01) para todos los movimientos articulares evaluados. Los testes de la autonomía, hubo reducción de todos los tiempos marcados, sin embargo la forma expresiva sólo el C10m y LPS (p<0,01). Palabras clave: flexibilidad, “flexionamiento”, dinámico, calidad de vida, autonomía funcional, envejecimiento. INTRODUÇÃO O envelhecimento não é simplesmente o passar do tempo, mas as manifestações dos eventos biológicos que ocorrem ao longo da vida (ROBERGS & ROBERTS, 2002). Tem sido definido como uma perda progressiva das capacidades fisiológicas, culminando fatalmente com a morte (ROBERGS & ROBERTS, 2002). Como a expectativa de vida média no Brasil está aumentando, conforme o último censo verificou-se que seu valor meio atual está em 68,6 anos, sendo 72,6 anos para as mulheres e 64,8 anos para os homens (IBGE, 2000), torna-se evidente para a sociedade a preocupação da saúde e bem-estar dos idosos. A qualidade física, flexibilidade, está intimamente relacionada com a mobilidade articular e a elasticidade muscular, e, portanto, com a autonomia do idoso e sua qualidade de vida, pois a sua estimulação é fundamental para a saúde do ser humano de uma forma geral, principalmente sobre o aspecto da motricidade humana. Sua definição clássica, segundo Hollman & Hettinger, citado em Dantas (1999, p. 57) é a “qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações dentro de limites morfológicos, sem risco de provocar lesão”. Logo, esta qualidade deve ser estimulada na infância, na adolescência e ao longo da vida adulta, colaborando assim, com a elevação da autonomia nas atividades diárias das pessoas, sobretudo na idade avançada, portanto a redução nas amplitudes articulares. 24 Não se encontra na literatura uma idade limitada para começar um tratamento de flexibilidade, mas esta qualidade física pode ser melhorada em qualquer idade através de exercícios que promovam a elasticidade dos tecidos moles (ROBERGS & ROBERTS, 2002). O objetivo não é atingir os componentes plásticos para aumentar a flexibilidade, mas sim os elementos elásticos (ACHOUR JÚNIOR, 1999), o que demonstra coerência com apontamentos de Dantas (1999), que dizem dever-se a perda desta qualidade física durante o processo de envelhecimento mais a diminuição da elasticidade muscular que à mobilidade articular. Não se pode esquecer que o processo de envelhecimento está quase sempre associado a doenças e incapacidade funcional, proporcionadas pelo próprio desgaste dos tecidos com o passar dos anos. O tecido conjuntivo torna-se mais rígido e as articulações menos móveis. Há a formação de ligações cruzadas entre as fibrilas do colágeno adjacente, reduzindo a elasticidade e favorecendo a lesão mecânica do tecido afetado. Os vasos sanguíneos tornamse progressivamente afetados pela aterosclerose e arteriosclerose, diminuindo desta maneira, o suprimento de oxigênio a todos os órgãos do corpo. A massa óssea diminui aproximadamente em 10% do pico de massa óssea até os 65 anos, e cerca de 20% em torno dos 80 anos (ACHOUR JÚNIOR, 1999; NIEMAN, 1999; ROBERGS, 2002). A perda da flexibilidade com a idade pode também ser o resultado de processos de doença degenerativa subjacente, tal como artrite, pois a redução da amplitude dos movimentos articulares Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 24, jan/fev 2003 resulta numa contração dos tendões, músculos e outros tecidos circundantes (NIEMAN, 1999; ROBERGS, 2002). Estes levantamentos justificam as grandes possibilidades de queda e suas graves consequências nesta população, podendo levar a danos irreparáveis. Com o processo de envelhecimento, a perda da flexibilidade vai aumentando progressivamente, e isto é inevitável. Ao alcance de todos está o treinamento físico, com o objetivo de atenuar esta perda de forma acentuada, pois os indivíduos que realizaram atividade física quando jovens ou ainda praticam exercícios com regularidade conseguem retardar este acontecimento. Relatos de Knapik et al. (2001) reforçam esta realidade, pois níveis baixos da flexibilidade também são considerados fatores de risco, possibilitando, então, prejuízos à qualidade da vida dos indivíduos em questão. Evitar esta perda é o senso comum dos profissionais que atuam nesta área. Tornar o idoso o mais independente nas suas tarefas diárias é a meta de fundamental relevância para a sociedade. Embora a densidade mineral óssea nesta faixa etária seja reduzida, é possível que a flexibilidade ativa possa ser melhor para as articulações que precisam mover-se com facilidade em amplitudes médias, bem como a flexibilidade estática, para uma faixa ampla dos movimentos (MAGLISCHO, ACHOUR JÚNIOR, 1999). Este objetivo tem se mostrado promissor, pois o adulto na idade avançada pode ser motivado a praticar exercícios regulares que promovam o desenvolvimento da força, resistência e flexibilidade, pois a aceitabilidade do programa de exercícios evolui consideravelmente em população de adultos mais velhos (CHIN A PAW, 2001). Para Matveev (1986), citado por Achour Júnior (1999), o exercício de alongamento estático não garante índices ótimos da flexibilidade ativa, deve constituir-se apenas em uma parte do treino, portanto, esta colocação sugere a necessidade de desenvolver os dois tipos da flexibilidade um programa de treinamento. Um alerta é feito sobre este tipo de treinamento da flexibilidade ativa na população idosa, sendo ressaltado que, durante o trabalho do flexionamento, as tensões sobre os ossos aumentam muito e este tipo de atividade só poderá ser executado com muita cautela e preparação prévia (DANTAS, 1999). O mesmo autor diferencia claramente o trabalho da flexibilidade em: alongamento, que proporciona a manutenção da flexibilidade, pois está a nível submáximo do limite articular; flexionamento passivo, que tem ênfase na mobilidade articular, atuando na articulação e nos componentes plásticos; e flexionamento ativo, que atua principalmente na elasticidade muscular, ou seja, nos miofilamentos, no componente elástico paralelo e em série, onde se encontra a maior causa de redução desta qualidade física neste grupo etário. Kell (2001) considera que um aspecto da saúde física é o sistema músculoesquelético, que consiste de três componentes: força muscular, resistência e flexibilidade, o que evidência a importância desta qualidade física em questão. Ainda os mesmos autores afirmam que se a força, resistência e flexibilidade não são mantidas a adaptação músculoesquelética está comprometida e pode causar impacto significativo na saúde física e bem-estar. Portanto, praticar programas dos exercícios que incluam estas qualidades é de grande valor para a manutenção da saúde. A comprovação de uma pesquisa, entre tantas, aponta mais claramente que benefícios na flexibilidade são retidos por pelo menos três semanas após um programa de alongamento (RUBLEY, 2001). Os mesmos autores mostraram que duas séries de três repetições para o teste de sentar e alcançar são estímulos suficientes para induzir benefícios de flexibilidade por longo prazo, logo, não há necessidade de sessões extenuantes de trabalho. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 25, jan/fev 2003 OBJETIVO O objetivo deste estudo é investigar a evolução da flexibilidade através do método de flexionamento dinâmico, e sua influência na autonomia de um grupo de idosas aposentadas, aparentemente saudáveis, participantes de um programa de treinamento de flexibilidade na Academia Capacidade Vital, situada na cidade de Araruama, estado do Rio de Janeiro. METODOLOGIA Características da Amostra A população pesquisada se encontra na faixa de 60 a 87 anos de idade, do sexo feminino, com pessoas fisicamente independentes, segundo Spirduso, residentes no município citado anteriormente. Deste grupo, foram selecionados, randomicamente, 14 sujeitos com média de idade ´C = 66,4 ± 7,3 anos para integrar o grupo amostral da pesquisa. Procedimentos Foram aplicados o teste angular de avaliação da flexibilidade pelo protocolo Labifie (DANTAS, 1997) de goniométrica, nos seguintes movimentos: abdução do ombro, flexão e extensão de quadril, flexão de joelho, flexão dorsal e plantar do tornozelo e flexão da coluna lombar, e testes de autonomia (ARAGÃO, 2002), de caminhar 10 m (C10m), levantar da posição sentada cinco vezes consecutivas (LPS), levantar da posição decúbito ventral (LPDV) e levantar da posição sentada, caminhar 3m e sentar novamente (TUG), onde o tempo de realização foi aferido em segundos. Foram feitos o pré-teste e o pós-teste após 16 semanas de treinamento de flexibilidade, sob o método de flexionamento dinâmico, com frequência de dois dias/semana, durante 30 minutos por sessão. O tratamento estatístico usado para a análise dos resultados obtidos foi de forma descritiva, com média, desvio padrão, mínimo e máximo, e inferencial, com o teste “t” de student pareado. 25 O grupo selecionado assinou o termo de participação consentida, conforme Resolução 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional da Saúde para as normas éticas de pesquisa envolvendo seres humanos. Figura 1 - Gráfico da Avaliação da Flexibilidade Instrumentos Como instrumentos de avaliação dos testes para este estudo, foram adotados um goniômetro de aço 360º (Cardiomed, o Brasil), um cronômetro (Casio, Malaysia), uma trena (Sanny, Brasil), um colchonete e uma cadeira com 50cm de altura do assento ao solo, e para o tratamento estatístico, foi utilizado o programa SPSS 10.0 for Windows . RESULTADOS E DISCUSSÃO melhora nas médias não reduziram os seus respectivos desvios padrão, conforme pode-se observar em Tabela 1 e na Figura 1. Os resultados da presente pesquisa são apresentados em quatro grupos distintos: avaliação goniométrica (pré e pós-testes), avaliação da autonomia (pré e pós-testes), comparação da avaliação de goniométria com os padrões de referência da American Academy of Orthopaedic Surgeons (AAOS) citada por Dantas (1999), e comparação da avaliação da autonomia com os padrões de referência (ARAGÃO, 2002). Este método de alongamento proposto neste estudo proporcionou resultados positivos na amplitude de movimentos da mostra, gerando assim uma divergência quanto sua aplicação na faixa etária em questão, visto que a recomendação do ACSM (2003) para o desenvolvimento da flexibilidade em gerontes seja para a utilização do método estático, devido à fragilidade dos tecidos e tendões. Avaliação Goniométrica (pré e pós-testes) As médias encontradas nos sujeitos da pesquisa demonstram melhora crônica em todos os movimentos avaliados, com obtenção do aumento das amplitudes articulares, e ainda com uma redução importante dos desvios padrões, caracterizando uma tendência à aproximação dos limites individuais e a uma homogeneidade da amostra. Somente os movimentos de flexão lombar e flexão dorsal do tornozelo, que embora tenham tido Avaliação da Autonomia Após decorridas dezesseis semanas de treinamento, os indivíduos deste estudo apresentaram melhora crônica da mobilidade e agilidade para as realizações de atividade da vida diária (AVDs), pois houve diminuição das médias dos tempos marcados de todos os testes, e ainda redução dos desvios padrão, também Tabela 1 - Avaliação de Goniométria da Amostra Movimentos AO FP FD FL FQ EQ FJ Média Pré Média Pós SD Pré SD Pós Mínimo Pré Máximo Pós Maximo Pré Máximo Pós Test t 183,1 191,8 6,99 5,80 172 182 194 202 4,881 71,8 85,8 10,45 8,25 58 72 94 100 5,504 20,4 26,5 6,32 7,01 16 18 37 39 4,310 22,7 33,3 7,05 8,14 12 22 36 46 6,453 96,7 106,9 12,82 12,49 77 92 122 128 4,556 20,3 30,2 8,40 7,55 6 18 28 46 5,315 143,6 147,4 8,01 7,20 132 139 156 158 3,304 p<0,01 tcritic= 3,106 Tabela 2 - Testes de Autonomia TESTES Média SD Mínimo Máximo Test t C10M pré 6,52 1,27 4,91 8,38 USP pós 5,44 0,82 4,39 7,89 4,091 pré 10,69 1,53 7,81 14,75 UVDP pos 7,70 0,79 6,34 8,40 4,696 pré 3,63 2,12 2,03 9,97 TUG pós 2,90 1,19 1,98 6,59 1,424 pré 6.53 1.94 4.89 12.72 pós 5.22 0.80 4.39 7.28 1.646 p<0,01 tcritic= 3,012 tempo em segundos 26 Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 26, jan/fev 2003 O ACSM (2003) indica que os movimentos específicos da região lombosacra e do quadril são mais difíceis de serem realizados pelos indivíduos situados na senescência, o que justifica estes resultados abaixo do padrão. Figura 2 - Gráfico da Avaliação da Autonomia Dantas (2002) aponta que o movimento de flexão de quadril é o sexto movimento a sofrer limitações com o aumento do número de anos vividos por um indivíduo, reforçando a dificuldade dos movimentos que envolvem essa articulação. caracterizando uma tendência à homogeneidade e à aproximação aos limites individuais do grupo amostral, que podem ser melhor analisado na Tabela 2 e na Figura 2. Conforme era esperado, este tipo de treinamento, por ser ativo, fez progredir a flexibilidade dinâmica, portanto, desenvolve a Enquanto isso Marom-Klibasky & Drory (2002) sugerem que a participação regular em um programa de treinamento de flexibilidade reduz o declínio funcional associado com o envelhecimento e incrementa a qualidade da vida, pois melhora os níveis de amplitude articular dos movimentos dos idosos. Em decorrência destes aumentos encontrados, as probabilidades de quedas e lesões ficam bem minimizadas, pois a estabilidade desses movimentos é restabelecida em decorrência do treinamento (FLECK & FIGUEIRA JÚNIOR, 2003). especificidade dos movimentos diários (ALTER, 1999), logo, Avaliação da Autonomia x Padrões de Referência Aragão (2002) melhora o desempenho das atividades da vida diária (AVDs). Avaliação Goniométrica x Padrões de Referência da AAOS Comparando a amplitude dos ângulos dos movimentos avaliados nas idosas participantes deste estudo, após a realização do programa de treinamento de flexibilidade, com as médias sugeridas pelos padrões de referência da American Academy of Orthopaedic Surgeons adaptado de Norkin & White, 1995) extraído de Dantas (1999), observou-se que os resultados foram positivos para os movimentos de abdução do ombro, flexão plantar e dorsal do tornozelo, flexão de joelho e extensão de quadril, pois estão acima das médias sugeridas. Os movimentos de flexão lombar e flexão de quadril estão abaixo destas referidas médias, demonstrando a grande dificuldade do idoso de ter mobilidade nestas articulações (Tabela 3 e Figura 1). O tempo apresentado pela amostra foi considerado positivo em todos os testes, dentro da classificação “muito bom”, segundo padrões de referência de Aragão (2002), pois as médias encontradas foram em menor tempo de execução em relação dos padrões, considerando que o grupo amostral é fisicamente independente, e mesmo assim houve progressão dos resultados, isto é, redução dos tempos de execução dos testes de autonomia, que estão dispostos na tabela 4 e na Figura 2. Estes resultados sugerem que a autonomia funcional deste grupo sofreu alterações positivas que podem refletir nos aspectos físicos com o melhor desempenho das AVDs e redução dos riscos de quedas e doença associadas com o envelhecimento, e nos aspectos psicológicos com a melhora da auto-imagem e da auto-estima, tornando o idoso útil e independente no contexto social em que vive (SILVA & MATSUURA, 2002). Tabela 3 - Médias da Amostra x Médias de AAOS Movimentos AO FP FD FL FQ EQ FJ Média Pré SD Pré Média Pós SD Pós Media AAOS 183,1º 6,99 191,8º 5,80 0 – 180º 71,8º 10,45 85,8º 8,25 0 – 50º 20,4º 6,32 26,5º 7,01 0 – 20º 22,7º 7,05 33,3º 8,14 0 – 80º 96,7º 12,82 106,9º 12,49 0 – 120º 20,3º 8,40 30,2º 7,55 0 – 30º 143,6º 8,01 147,4º 7,20 0 – 135º Tabela 4 - Médias da Amostra x Médias Padrões da Autonomia TESTES Média Pré SD Pré Média Pós SD Pós Ref. Padrão Classificação C10M 6,52 1,27 5,44 0,82 < 6,8 Muito Bom USP 10,69 1,53 7,70 0,79 < 10,9 Muito Bom UVDP 3,63 2,12 2,90 1,19 < 4,1 Muito Bom TUG 6,53 1,94 5,22 0,80 < 7,3 Muito Bom Tempo em segundos Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 1, 27, jan/fev 2003 27 Tabela 5 - Correlação da Goniômetria x Testes de Autonomia Goniometry Tests C10m USP TUG UVDP AO FP FD FL FQ EQ FJ -0,092 0,444 -0,162 0,029 -0,342 -0,245 0,348 -0,538 -0,398 -0,304 -0,530 -0,655 -0,341 -0,508 -0,481 -0,527 -0,002 -0,012 -0,262 -0,240 -0,343 -0,108 -0,277 -0,477 0,504 -0,082 -0,285 -0,468 p < 0,05 Conforme a observação da Tabela 5, verificou-se que não houve correlação significativa das avaliações das amplitudes do movimento, realizadas pelo protocolo de goniometria, com os testes de autonomia. Portanto, este presente estudo sugere maiores investigações sobre a temática abordada, pois se esperava encontrar relações estre essas variáveis que não ocorreu. Todavia, a amostra reportou modificações positivas na condição de vida e nos afazeres cotidianos, melhorando os níveis de autonomia funcional e de qualidade de vida, e também os aspectos relacionados com a convivência social. CONCLUSÃO Inicialmente, observou-se uma redução da amplitude de alguns movimentos articulares através das avaliações coletadas no préteste. Sendo justificada assim, a prática de exercícios regulares de flexibilidade, que neste estudo, restringiu-se ao método de flexionamento dinâmico, por ser este capaz de interferir mais na elasticidade muscular da qual na mobilidade articular, onde se encontra a maior causa de perda da qualidade física com o envelhecimento (ACHOUR JÚNIOR, 1999; DANTAS, 1999; ROBERGS, 2002). Após a realização deste programa de treinamento de flexibilidade para esta amostra, notou-se, conforme os testes e feito o tratamento estatístico inferencial para p < 0,01, que houve aumento significativo dos ângulos dos movimentos analisados, contribuindo desta forma para uma maior facilitação das tarefas da vida diária, atenuando e retardando o processo de envelhecimento, e ainda aumentando a expectativa de vida com qualidade na terceira idade. O grupo pesquisado tendeu a aproximar-se do seu limite e da homogeneidade com a redução dos desvios padrões e melhora das médias angulares. Todavia, o movimento de flexão lombar não conseguiu redução significativa do desvio padrão, embora tenha melhorado a média de ângulo de movimento, justificando os elevados índices de incidência de osteopenia e osteoporose na coluna lombar, sobretudo em L2 – L4 (ACSM, 2003). Em relação aos testes de autonomia, o programa foi eficiente pois, também realizado o tratamento estatístico inferencial para p < 0,01, verificou-se uma significativa redução do tempo dos testes C10m e LPS, corroborando para uma acentuada melhora da capacidade funcional e para a realização das AVDs. Entretanto, os testes de autonomia LPDV e TUG não obtiveram aumentos relevantes devido à grande proximidade aos limites 28 individuais da amostra, porém também foram classificados como “muito bom”, conforme a classificação de Aragão (2002). Portanto, a presente pesquisa sugere investigações sobre o assunto, sobretudo no que diz respeito às limitações dos movimentos da região lombossacra e do quadril, visto a relevância do tema em questão e que não foram encontradas correlações significativas entre as amplitudes de movimentos e os testes de autonomia. Todavia um programa de treinamento que vise desenvolver a qualidade física, citada neste estudo, certamente vem dar esperança a uma vida melhor e com mais qualidade aos indivíduos idosos, pois a autonomia e a auto-estima são restabelecidas, e, portanto, a qualidade de vida é significativamente alcançada. REFERÊNCIAS ACHOUR JÚNIOR, A. Bases para exercícios de alongamento relacionado com a saúde e o desempenho atlético. 2ª edição. Londrina: Phorte editora, 1999. ADAMS, K. J.; SWANK, A. N.; BERNING, J. M.; SEVENE-ADAMS, P. G.; BARNARD, K. L.; SHIMP-BOWERMAN, J. Progressive strenght training in sedentary, older African American women. Medicine and Science in Sports and Exercise, (Hangerstown, Md.) 33(9), p. 15671576. Refs: 49, Sept 2001. ALEXANDER, Neil B.; ULBRICH, Jessica; RAHEJA, Aarti; CHANNER, Dwight. Rising from the floors in older adults. Journal of the American Geriatrics Society. v. 45, n. 5, p. 564−569, 1997. ALTER, M. J. 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