CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DOS TABULEIROS COSTEIROS DO RECÔNCAVO
BAIANO
G.L.B. D`Angiolella (1); M.T. Castro Neto; E.F. Coelho
(1) Engº. Agrônomo, BSc, Pesquisador FEESC/INMET/Embrapa Mandioca e Fruticultura. Rua
Embrapa S/Nº. Cx. Postal 07, Cruz das Almas, BA. Tel: (075) 721-2120 R. 193.
e-mail: [email protected]
ABSTRACT
The present work aims to provide a climatic characterization of the Recôncavo baiano tableland region
by means of calculation of monthly averages of data obtained from the Meteorological Station of
Embrapa - Cassava and Fruits. This study detected the occurrence of irregularity for the annual
rainfall, as well as a variability along the years. It was also detected temperature and thermal amplitude
oscillation, the behavior of the relative humidity, net incoming radiation, and cloudness solar radiation.
A discrepancy between data from Class A evaporation pan and Piche evaporimeter was observed, and
finally the soil-water balance was evaluated in the period 1971-1997.
I. INTRODUÇÃO:
A agricultura está fortemente sujeita aos efeitos do tempo e do clima, tornando-se uma atividade
de risco. Desta forma, o uso racional dos recursos climáticos, mediante o conhecimento do
comportamento do clima de uma região no planejamento das atividades agrícolas torna-se de
fundamental importância na determinação do potencial de um espécie vegetal ou de rendimentos de
uma cultura e conseqüentemente os lucros econômicos. Para isso deve-se enfatizar que condições
favoráveis de clima, isoladamente, não produzem altos rendimentos, devendo-se, sempre estar
associados a tecnologias adequadas.
Os parâmetros climáticos exercem influência sobre todos os estágios da cadeia de produção
agrícola, incluindo a preparação da terra, semeadura, crescimento dos cultivos, colheita,
armazenamento, transporte e comercialização (AYOADE, 1996).
A Climatologia pode contribuir para solucionar o problema da escolha de regiões para uma dada
cultura ou de uma dada cultura para uma região. A falta de um conhecimento detalhado das relações
das plantas com o clima tem prejudicado o planejamento do uso da terra. Assim até que a interação do
complexo climático com o processo fisiológico da cultura seja entendido, a produção adequada para as
condições climáticas locais, permanece no empirismo (MOTA, 1975). No Brasil, a escassez de
informações a respeito da caracterização climática das regiões agrícolas produtoras, faz com que não
se tenha uma idéia dos prejuízos causados pelas condições adversas de clima sobre a agricultura.
Este trabalho tem por objetivo a caracterização climática dos tabuleiros costeiros do Recôncavo
baiano como forma de fornecer subsídios para a compreensão das variações do clima regional.
II. METODOLOGIA:
A presente caracterização climatológica corresponde a análise dos dados do período de 1971 a
1997 da Estação Agrometeorológica da Embrapa Mandioca e Fruticultura, localizado no município de
Cruz das Almas, Bahia, a 225,87 m de altitude, com coordenadas geográficas de 12o40’39” latitude sul
e 39o06’23” longitude oeste de Greenwich, os quais foram coletados de acordo com os padrões
internacionais sugeridos pela Organização Meteorológica Mundial - OMM, sendo efetuados
diariamente em horas-padrão, correspondendo aos horários de 12:00, 18:00 e 00:00 horas TMG.
Uma vez coletados, os mesmos foram tabulados em planilhas eletrônicas correspondentes aos
mapas utilizados pelo INMET. Através das médias mensais de cada ano elaborou-se um resumo
climático mensal, plotando-se também, linhas de tendência. Foi utilizado o programa Cropwat da
FAO, versão 7, para estimar os valores da evapotranspiração de referência (ETo) diária, de acordo com
o método preconizado por Penmam & Monteith (JENSEN et al, 1990).
A disponibilidade hídrica do solo foi estimada pelo método de Thornthwaite & Mather - 1955, o
qual considera que a disponibilidade de água no solo é proporcional ao seu armazenamento, levandose em conta a evapotranspiração real. De acordo com os dados obtidos no laboratório de solos da
Embrapa Mandioca e Fruticultura, para o Latossolo Amarelo Coeso, de textura argilosa, característico
da região, foi adotada uma capacidade de retenção de água no solo de 50 mm, mediante o uso da
fórmula (TUBELIS, 1988):
ARM = CC - PM x h x g
100
Onde ARM = armazenamento de água do solo em mm, CC = capacidade de campo em percentagem,
PM = ponto de murchamento em percentagem, h = profundidade do sistema radicular em cm e g =
densidade do solo em g.cm-3.
Os dados obtidos no laboratório de solos do CNPMF para um Latossolo Amarelo Coeso,
característico da região foram: CC = 11,1%peso; PM = 7,7%peso e g = 1,65 g.cm-3. Adotou-se uma
profundidade do sistema radicular de 100 cm. O balanço hídrico do solo pode ser estabelecido pela
seguinte equação (PEREIRA et al., 1997):
P + I = + ET + DP + ES
Sendo: P = precipitação, I = irrigação, = variação da umidade no solo, ET = evapotranspiração, DP
= drenagem profunda ou percolação e ES = escoamento superficial.
III. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
III.1. Precipitação Pluviométrica
Na Figura 1 é apresentada a marcha anual da precipitação pluviométrica, máxima, mínima e
média, para a região das tabuleiros costeiros do Recôncavo baiano no período de 1971 a 1997.
Mediante seu estudo observa-se que há variações na quantidade e na distribuição das chuvas no
decorrer dos anos.
26,0
10,0
Mínima (694 mm)
Máxima (1616 mm)
9,0
Média (1143 mm)
300,0
200,0
100,0
0,0
24,0
8,0
22,0
7,0
20,0
Temperatura
Amplitude térmica
18,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Figura 1 - Perfil Pluviométrico Máximo, Mínimo e Médio
do Período de 1971 a 1997.
6,0
Amplitude térmica (ºC)
400,0
Temperatura média (ºC)
Total de Chuvas Precipitada (mm)
500,0
5,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Figura 2 - Variação da temperatura média do ar e da
amplitude térmica no período de 1971 a 1997.
III.2. Temperatura
Na figura 2 são analisados os perfis de temperatura média do ar e da amplitude térmica da
região, entre 1971 a 1997, os quais apresentam-se com médias elevadas de 23,7ºC e, por apresentar
pequenas oscilações mensais. Os meses da janeiro e março apresentam a temperatura média mais
elevadas do ano em torno de 25,4ºC, enquanto a mais baixa ocorre no mês de julho com 21,3ºC. Para a
região dos tabuleiros costeiros do Recôncavo baiano as médias máximas ficam em torno de 28,7ºC,
mínimas em 20,2ºC apresentando máximas absolutas no mês de março de 33,9ºC e mínima nos meses
de julho e agosto com 16,9ºC.
Quanto à amplitude térmica mensal, esta se apresenta mais elevada nos meses de novembro a
março com valores em torno de 9,5ºC e são decorrentes do aparecimento de períodos de instabilidades
tropicais, com conseqüente formação de nebulosidade e chuvas.
De acordo com a classificação climática proposta por Köppen, o clima da região é caracterizado
como Am, que se caracteriza por apresentar chuvas inferiores a 60,0 mm no mês mais seco e, segundo
o método preconizado por Thornthwaite, o clima da região revela-se como sendo C1 s A' a', ou seja,
subúmido com excedente hídrico moderado no inverno, megatérmico, com 31% da estação de
crescimento das plantas concentrada no verão.
III.3. Umidade Relativa do Ar
Na Figura 3 é apresentado o perfil da umidade relativa do ar média mensal dos tabuleiros
costeiros do Recôncavo baiano. Verifica-se que a mesma se mantém elevada, no período de abril a
setembro com valores médios de 85% e nos meses de agosto a março com valores mais baixos em
torno de 78%. A costa nordestina se caracteriza pelo alto teor de umidade atmosférica, como
conseqüência de grandes fluxos de vapor d’água para atmosfera devido as altas taxas de
evapotranspiração. A proximidade com o oceano Atlântico constitui-se numa fonte de umidade cuja
água evaporada é transportada e conseqüentemente estornada para as localidades litorâneas pelos
ventos alísios. Portanto, o conhecimento da estação mais úmida é de fundamental importância para o
estabelecimento da melhor época de plantio, estação de cultivos, armazenamento da produção,
propagação e controle de fungos nocivos às culturas. Assim, na região dos tabuleiros costeiros do
Recôncavo baiano, o período de abril a setembro, podendo apresentar valores até 7,4% acima da média
anual (81%).
88
250,0
200,0
Evaporação (mm)
Umidade Relativa (%)
84
80
76
Tanque "A"
Piche
150,0
100,0
50,0
72
0,0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
68
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Mês
Figura 3 - Variação média mensal da umidade relativa do
ar, no período de 1971 a 1997.
Figura 4 - Variação média mensal da evaporação no
tanque classe "A" e no evaporímetro de Piche, no
período de 1978 a 1997.
III.4. Evaporação
A Figura 4 apresenta dados referentes a evaporação do ar coletados, através do tanque classe “A”
e do evaporímetro de Piche de 1971 a 1997.
Observa-se que os valores médios mensais de evaporação coletados no tanque classe “A” (163,0
mm) são em média 79% superiores aos obtidos com o evaporímetro de Piche (113,0 mm). A
evaporação obtida no tanque classe “A” chega a valores de 219,0 mm em janeiro e 94,5 mm em junho,
enquanto que no evaporímetro de Piche chega a 126,0 mm e 53,0 mm, em janeiro e junho
respectivamente.
III.5. Radiação e Duração do Brilho Solar
A radiação solar da região (Figura 5) é bastante elevada nos meses de setembro a fevereiro,
atingindo níveis médios de 230 w/m2, mas atinge níveis mais baixos nos meses de abril a agosto,
situando-se na faixa de 170 w/m2.
Na região, a duração fica submetida a um total do brilho solar em torno de 2.232,4 horas anuais e
186 horas mensais, sendo que a duração média diária e de 6,2 horas, decorrente da elevada
nebulosidade local. Por isso, a insolação diária é, quase sempre, inferior ao comprimento do dia
mesmo se tratando de uma região próximo ao equador terrestre.
300
160
Radiação
Insolação
140
120
150
100
mm
200
Insolação (h)
Radiação solar (w/m 2)
250
100
Reposição
Déficit
148
Retirada
Déficit
162
Excesso
124
80
60
40
50
20
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Mês
Figura 5 - Variação média mensal da radiação solar e do
número de horas de insolação, no período de 1971 a
1997.
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Jul
Ago Set
Out Nov Dez
Mês
Figura 6 - Balanço hídrico segundo o método de
Thornthwaite e Mater (1955), no período de 1971 a 1997,
para uma capacidade de armazenamento de água no
solo de 50 mm.
III.6. Disponibilidade Hídrica
Mediante o cálculo do balanço hídrico (figura 6), constatou-se a ocorrência de um período de
déficit hídrico prolongado, compreendido entre os meses de setembro a março, decorrente da
variabilidade anual das chuvas e da baixa capacidade de retenção de água dos solos predominantes na
região, associados redução da umidade relativa do ar (Figura 3) à elevação da insolação (Figura 5), da
evaporação do tanque classe “A” (Figura 4), e conseqüentemente da evapotranspiração. Totalizando
310,0 mm, o déficit corresponde a 27,1% do total anual médio da precipitação pluviométrica ocorrida
na região que é de 1.143,0 mm. A reposição de água no solo se dá no período de abril a maio,
ocasionada pelo início da estação chuvosa. Seguido a isto, há um período de excedente hídrico, que se
estende até o mês de agosto e, a partir daí uma estreita faixa demonstra a retirada de água do solo a
qual cessa rapidamente, estabelecendo novamente o déficit.
IV. CONCLUSÃO
De acordo com o exposto podemos concluir que o clima da região dos tabuleiros costeiros do
Recôncavo baiano é caracterizado como BSa, não tendo uma estação chuvosa bem definida, com
médias mensais de precipitação em torno de 95,2 mm, totalizando 1.143,0 mm/ano, com uma média de
180 dias de chuva por ano. A temperatura média, apesar das variações sazonais, encontra-se na faixa
dos 23,7ºC, tendo a média máxima em torno de 28,7ºC, a média mínima de 20,1ºC e amplitude térmica
de 8,6ºC. A umidade relativa do ar média, elevada durante todo o ano, situa-se em torno de 81%. A
insolação média da região fica por volta de 6,2 h/dia, 186,0 h/mês e 2.232,4 h/ano. A evaporação de
Piche mostrou-se inferior à evaporação do tanque classe “A”, apresentando valores médios de 3,7
mm/dia, e 5,3 mm/dia respectivamente.
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Almas: EMBRAPA – CNPMF, 1991. 3p. (EMBRAPA – CNPMF. Comunicado técnico, 18).
AYOADE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 4.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1996. 322p.
JENSEN, M.E., R.D. Burman, and R.G. Allen (ed). 1990. Evapotranspiration and irrigation water
requirements. ASCE manuals and reports on engineering pratice no 70. ASCE, New york.
MARTORANO, L.G., PEREIRA, F.A., SANTOS, C.A.S., PEREIRA, A.R., VILLA NOVA, N.A.
Análise das condições climáticas na região de Cruz das Almas - Bahia. Congresso Brasileiro de
Agrometeorologia, monitoramento ambiental e agricultura sustentável: Anais do X Congresso
Brasileiro de Agrometeorologia, Piracicaba: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia, 1997.
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MOTA,F.S. da. Meteorologia agrícola. São Paulo: Nobel, 1975. 376p.
PEREIRA, A.R., VILLA NOVA. N.A., SEDIYAMA.G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ,
1997. 183p.
TUBELIS, A., NASCIMENTO,F.J.S. Meteorologia descritiva, fundamentos e aplicações
brasileiras. São Paulo: Nobel, 1988. 374p.
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