2659
LYSÍMACO FERREIRA DA COSTA. UM EDUCADOR. MEMÓRIAS E ESQUECIMENTO.
Susana da Costa Ferreira
Universidade Federal do Paraná
RESUMO
O trabalho refere-se a uma pesquisa biográfica comentada, sobre um educador paranaense que teve
atuação nacional nas primeiras décadas do século XX (1883-1941). Visamos salientar e divulgar a
larga atuação de um intelectual que impulsionou a modernização da província de Curitiba tentado
alçá-la no panorama nacional, trabalhando como engenheiro, químico, matemático e funcionário
público e mais que isso, e principalmente, dedicando-se ao ensino e às instituições pedagógicas
durante a maior parte de sua vida produtiva. Não encontramos o nome de Lysímaco Ferreira da Costa
no “Dicionário dos Educadores Brasileiros” (UFRJ – MEC – INEP) lançado em 2003.Entendemos tal
omissão como um lapso na História da Educação Brasileira. Nesse sentido, pensamos em contribuir
para a divulgação de sua vida e de sua obra. Lysímaco foi contemporâneo de Getúlio Vargas, e
segundo suas filhas, “seu inimigo íntimo”, pois, ainda segundo elas, a cada manifestação contra o
movimento revolucionário de 1930 que pudesse ocorrer no Paraná, Getúlio mandava prender
Lysímaco. Nos parece significativo situar um neto de portugueses, de família de poucos recursos, que
ao iniciar sua vida de trabalho aos dezesseis anos como atendente da Farmácia Requião, em Curitiba,
logo a seguir foi promovido a preparador de receitas pelo mérito de seus conhecimentos de química.
Início interessante para um futuro professor que seria reconhecido por Fernando Magalhães, Heitor
Lyra (fundador da ABE) com os quais se correspondia. Em uma carta datada de 7 de dezembro de
1925, Heitor Lyra revela: “A Associação Brasileira de Educação continua a progredir. Esperamos
sempre com ansiedade notícias do que possa ter feito no Paraná em benefício da causa porque trabalha
a Associação. Contamos que não esqueça de que esta nasceu de um encontro nosso no jantar que nos
ofereceu gentilmente no Hotel Glória e no qual debatemos a questão da representação do Brasil no
Congresso de Santiago. Entretanto, nada podemos fazer no Paraná sem o seu apoio”. A escolha do
Paraná para sede da Iª Conferência da ABE reveste-se de certas especificidades que convém conhecer.
A amizade de Fernando Magalhães, idealizador das Conferências, com Lysímaco, então Diretor da
Instrução pública do Estado do Paraná, bem como a impossibilidade de se realizar esse primeiro
evento num Estado do Norte, podem ser considerados fatores que estimularam o interesse e o
empenho em levar a Curitiba o novo empreendimento. O discurso de Magalhães na sede da ABE em
1934 registra que “Curitiba, por obra de seu notável educador, deu à reunião o inesperado realce que
firmou sua vitória”.Visamos salientar e divulgar a participação do referido professor e intelectual,
utilizando como fonte a documentação preservada por suas filhas no Memorial por elas organizado,
que é aberto a pesquisadores, uma biografia publicada logo após a sua morte, como também os livros
escritos por sua filha Maria José, (falecida recentemente), jornais micro-filmados da Biblioteca
Pública do Paraná, uma dissertação de Mestrado de 1988, uma entrevista filmada em 1992 com sua
filha mais velha, Esther, também professora e participante da Iª Conferência, além da observação das
histórias familiares, cartas, lembranças e objetos.
2660
TRABALHO COMPLETO
Introdução:
Para o esclarecimento de um retorno ao tema do Professor Lysímaco Ferreira da Costa e de sua
atuação no Estado do Paraná, entendemos, em primeiro lugar que o assunto torna-se hoje uma
necessidade, na medida em que:
Na pesquisa empírica é para o real que o interesse se volta, é ele a finalidade principal. O que
se visa é o seu entendimento, a sua explicação, o que certamente terá conseqüências práticas,
ativas sobre este mesmo real. Suponho até que é a necessidade de intervenção no real que
determina o esforço da pesquisa. (CARDOSO, 1976).
Após a publicação, pelo Ministério de Educação e Cultura, em 1997, das teses e pareceres da I
Conferência Nacional de Educação da Associação Brasileira de Educação realizada em Curitiba, em
dezembro de 1927 e também após a organização familiar do Memorial do Professor Lysímaco Ferreira
da Costa, seu organizador, os documentos da I Conferência assim como outros documentos pessoais,
fotos e objetos do Memorial passaram a ser utilizados como fontes para algumas análises divulgadas
em artigos de periódicos e Congressos.
Tais fontes têm dado espaço a novas possibilidades de interpretações, especialmente sobre a
História da Educação no Paraná, assim como agora passa a estimular a retomada de trabalhos já
desenvolvidos nos anos oitenta, com o objetivo de problematizar determinadas questões. Em especial,
confrontar as novas análises que ignoram a relação entre a Conferência de Curitiba e as origens do
Movimento da Escola Nova no Paraná.
Entre as análises que têm sido veiculadas, alguns clichês necessitam de esclarecimentos, pois
entendemos que “no processo da produção do conhecimento científico não se recomeça tudo a partir
do zero em cada pesquisa, mas antes se trabalha sobre conhecimentos já formulados em que o
pesquisador se apóia, ainda que seja para negá-los”1. Entretanto, os conhecimentos já formulados
precisam ser registrados, citados nas referências bibliográficas ou em notas de rodapé, para que os
leitores possam acompanhar a continuidade da pesquisa e também para que se firme a seriedade e a
honestidade do pesquisador.
Em trabalho publicado em 2001 no periódico Educar em Revista, VIEIRA, em seu artigo “O
Movimento pela Escola Nova no Paraná: trajetória de idéias educativas de Erasmo Pilotto”, entre
outras inconsistências, atribui a Lysímaco o pertencimento ao “bloco católico” que teria oferecido
resistência aos ideais da Escola Nova e liderado uma na votação de imposição do ensino religioso.
Outra afirmação categórica, que aparece no mesmo texto já citado, da qual trataremos na continuidade
do trabalho, é a de considerar como “erro” o estabelecimento de alguma relação da I Conferência com
as origens escolanovistas.
Nesse sentido, sentimos como importante e esclarecedor retomar alguns dados biográficos do
organizador da Conferência, na época exercendo o cargo de Diretor do Ensino, sem que tal cargo o
incluísse, obrigatoriamente, em uma situação de elite como sugerem alguns artigos.
Dados biográficos e um pouco de história local.
Lysímaco Ferreira da Costa, neto do professor português Antônio Ferreira da Costa,
(alcunhado como “Professor Costa Velho”), foi o primeiro dos seis filhos do professor Antônio
Ferreira da Costa Filho e de Dona Francisca Ribeiro da Costa. Nasceu em 1º de dezembro de 1883, em
Curitiba e faleceu em 24 de julho de 1941 em sua cidade natal.
Iniciou sua escolarização na “Escola dos Bons Meninos” e recebeu, em 20 de novembro de
1893, na Paróquia de Nossa Senhora da Luz de Curitiba, um diploma de primeiros estudos com grau de
distinção, assinado pelos professores Albino José da Silva, Francisco Carvalho Nobre, Julia Wanderley
e José Cleto da Silva. É importante mencionar que todos os professores citados são personagens quase
1
Miriam Limoeiro Cardoso. “ Para o Conhecimento dos Objetos Históricos – algumas questões metodológicas”,
1976.
2661
lendários em termos de desempenho de sua profissão, de sua alta versatilidade e marcante
personalidade, especialmente Julia Wanderley, professora e intelectual que se destacou na galeria de
nossos intelectuais paranaenses.
Iniciou então nosso biografado o curso de “Humanidades” do Ginásio Paranaense, que depois
viria a dirigir aos trinta e cinco anos de idade. Em novembro de 1894 prestou exames finais na “Escola
da Iª Cadeira”.
Precisando auxiliar na manutenção da casa e educação dos irmãos, aos 12 anos, em 1895, foi
admitido para trabalhar na Farmácia Requião como encarregado da escrituração. Muito breve seus
conhecimentos de Física e de Química permitiram que em pouco tempo passasse a trabalhar também
na manipulação de receitas. Permaneceu em tal atividade até ingressar no serviço militar.
Em I de março de 1896 foi matriculado no Ginásio Paranaense, atual Colégio Estadual do
Paraná. Em julho de 1900 se apresentou voluntariamente ao Sexto Regimento de artilharia de
campanha, sediado em Curitiba.
Atuou no treinamento de recrutas e também como empregado da secretaria, A aspiração de
seguir a carreira militar e a falta de possibilidades para o prosseguimento dos estudos em Curitiba
direcionaram o pedido de licença para matricular-se, em 1901, na “Escola Preparatória e de Tática do
Rio Pardo”, no Rio Grande do Sul, na qual ingressou após ter sido submetido a exame de saúde e
provas escrita e oral de conhecimentos.
Mantinha correspondência constante com o pai, que por sua vez relatava notícias da família e
de certa forma o preparava para as responsabilidades que deveria assumir como filho mais velho,
relatando aos poucos os problemas de sua saúde abalada. O falecimento de seu pai ocorreu em março
de 1902.
Ao término do ano letivo de 1902, Lysímaco foi laureado como melhor aluno da Escola de Rio
Pardo, fazendo jus ao prêmio que lhe foi concedido pelo Ministério da Guerra: trezentos mil réis em
dinheiro e um revólver com cabo de marfim.
Na Escola de Rio Pardo foi contemporâneo de Getúlio Vargas.
Ciente das necessidades de sua presença em casa, solicitou o trancamento da matrícula na
Escola Militar e foi transferido para o 14 Regimento de Cavalaria sediado em Curitiba. Em 1904
apresentou-se ao comando da Escola Militar do Distrito Federal para prosseguir seus estudos.
Em novembro de 1904, registra-se a revolta contra a obrigatoriedade da vacina para a
erradicação da febre amarela2. Esteve Lysímaco entre o grupo de cadetes que empreendeu a escalada
do “Pão de Açúcar” para hastear o pavilhão nacional em seu topo, o que assinalou o desencadeamento
da revolta da Praia Vermelha.
O combate travado entre a Escola Militar com o I Batalhão do exército e a Brigada Policial
comandada pelo General Piragibe, deixou mortalmente ferido o General Silvestre Rodrigues
Travassos, comandante da Escola Militar, que faleceu no Hospital Central do Exército, para onde tinha
sido transferido.
Em artigo publicado no jornal “O Diário da Tarde”, o nosso próprio cadete descreve: “O Rio
fervia: o povo gritava contra a vacina. Lembro-me da impressão que tive quando me disseram que o
governo começaria a vacina pelo exército para mostrar ao povo que ela era benéfica... a Escola
começou, então, a mostrar verdadeiros movimentos hostis ao governo”.
2
Tendo perdido um filho pelo ataque da “ febre amarela” o Presidente Rodrigues Alves mandou chamar em
Paris o célebre sanitarista Émile Roux, que indicou para a missão de sanear o Rio de Janeiro um “brilhante
discípulo”. Com menos de 30 anos, Osvaldo Cruz aceitou a missão de combater a febre que assolava a cidade no
verão causando mais de mil mortes por ano., a varíola, que causava 4000 mortes anuais e a peste bubônica.
Criando esquadrões que caçavam ratos e depois mosquitos, Osvaldo Cruz virou alvo da imprensa caricata. Em
31 de outubro de 1904, por iniciativa do sanitarista, o Congresso aprovou a lei que tornava obrigatória a vacina
contra a varíola. A “impudente tirania foi contestada até por Rui Barbosa que se recusou a ter seu sangue
contaminado por um vírus.” O Tenente Coronel Lauro Sodré diria que a lei era “ um ato de força ao qual se
poderia opor a própria força”. Em 10 de novembro, ele partiu para a prática. Eclodia a Revolta da vacina.
(História do Brasil, Folha de S. Paulo, 1997, p. 188).
2662
Escola Militar fechada, em 17 de novembro, Lysímaco foi enviado com seus colegas, em um
porão de navio, para a cidade de Rio Grande, Rio grande do Sul, de onde foi remetido para Curitiba.
Encerrada precocemente sua carreira militar, Lysímaco passou a ministrar aulas particulares de
Matemática, Física e Química.3. Sua rotina de aulas principiava às cinco horas da manhã. Inicia-se
assim sua carreira docente. Dava aulas particulares nas casas das famílias da cidade. Em uma delas
conheceu as filhas do Coronel Evaristo Martins Franco e apaixonou-se por Esther, com quem se casou
aos 23 anos em 8 de dezembro de 1906.
Tiveram onze filhos: Esther, Zoé, Antonio, Evaristo, Laura, Lysímaco, Carlos, Maria José,
Alberto, Maria Josefina e Plínio. A família da esposa Esther, profundamente católica, influenciou
Lysímaco a abandonar o grupo de livre pensadores da época, dos quais recebeu, por muito tempo,
graves retaliações. Esther casou-se aos 20 anos e faleceu aos 34, seis dias após o parto, deixando onze
filhos pequenos. Segundo sua biografia, o professor contraiu segundas núpcias com a irmã de Esther,
Maria Ângela, com quem não teve filhos.
É natural que as crianças tenham sido reticentes quanto à tia-madrasta que acabou por assumir
os cuidados com elas. Sem empregados nem riquezas, os filhos auxiliavam na organização da casa
arrumando e retirando a mesa, cerzindo as meias à noite e sempre estudando muito sob a orientação
paterna. As meninas formaram-se professoras normalistas e os meninos médicos (2), engenheiros (3) e
advogado (1). Todos começando a trabalhar muito cedo.
Voltando à trajetória anterior do Professor, em setembro de 1906, estando vaga a Cátedra de
Física do Ginásio Paranaense, divulgou-se um edital de concurso.
Lysímaco, com pouco mais de vinte anos concorreu com o Padre João Lacomte, que havia
lecionado a disciplina na Escola de Paris e vinha precedido de fama de grande competência como
professor. A Comissão do concurso concluiu pela aprovação dos dois candidatos e classificou
Lysímaco em primeiro lugar. Dr. João Cândido Ferreira, presidente do Estado em exercício, que
assinou o decreto de nomeação para o cargo, assim escreveu no jornal “O Dia” em 23 de dezembro de
1942:
“Não podia deixar de estar satisfeito, pois acabava de praticar um ato de inteira justiça, que
punha em relevo a inteligência e a cultura de um jovem e modesto filho destas plagas (...) Não
me enganei, mas Lysímaco excedeu minha expectativa, não se tornou somente mestre insigne,
foi, também paranaense ilustre e probo, um brasileiro patriota e culto. Como idealista de sábia
orientação, nos seus sonhos alcandorados, alguns deles já em vias de realização, era a pátria,
sempre a pátria, que deveria fruir todos os proventos das exaustivas locubrações do patriota
sem vilta (,,,) Esta que lhe recolha o nome impoluto e o conserve como símbolo de grandeza
moral, agora que ele tombou, sem nunca desertar da liça glorificante, abrindo vasta clareira na
fila dos mestres insignes e dos batalhadores sem jaça”
Em sua atuação no Ginásio Paranaense, Lysímaco substituiu Lentes4 de quase todas as
cadeiras. Em julho de 1907 iniciou a publicação de uma série de artigos sobre o ensino de geometria.
A 25 de fevereiro de 1920 foi nomeado para a Direção do Ginásio Paranaense. Como diretor
do Ginásio do Estado, da Escola Normal e da Escola Agronômica do Paraná, passa também Lysímaco
a responder pela Direção da Instrução Pública do Estado até a nomeação de Pietro Martines. Dirigiu o
Ginásio Paranaense de 1920 até 1928, quando assumiu o cargo de Secretário da Fazenda, Indústria e
Comércio do Estado. Continuou, porém a prestar seus serviços ao Ginásio, participando de bancas
examinadoras.
3
Como em tantos outros casos sobre histórias reais de professores, muitas vezes representadas em romances,
peças de teatro e em filmes, uma grande parte deles não faz inicialmente uma opção pela profissão, e passa a
lecionar por questões de sobrevivência, em razão, por exemplo, da aversão causada por uma série de
regulamentações legais e da pecha de “ profissão de fome”. Segundo ADORNO, “tabus, no sentido da
sedimentação coletiva de representações que, mesmo tendo perdido sua base, persistem teimosamente, por sua
vez tornam-se forças atuantes na realidade, tornam-se forças reais”.
4
Lente: adjetivo que qualifica aquele Que lê. Já em desuso significava: professor de curso superior ou
secundário, catedrático, dono da “cadeira” (disciplina) que lecionava.
2663
A Direção do Ginásio Paranaense compreendia ainda um Internato, que Lysímaco encontrou
com instalações precárias, problemas disciplinares e carência de professores. Requerimentos para a
organização de um corpo docente próprio, mudanças nas instalações e outras tantas providências foram
ações que levaram o internato a uma total transformação.
Como Diretor Geral da Instrução, foi pioneiro na aprovação da implantação do Método
Montessoriano, no Jardim de Infância Emilia Erichsen, iniciado pelo trabalho da professora Joana
Falce Scalco, em 1923.
Na década de 20, o Professor paranaense passou a representar o Estado em uma série de
Congressos e eventos onde travou amizade com intelectuais do Rio de Janeiro, tais como Fernando de
Magalhães, Heitor Lyra da Silva, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Barbosa de Oliveira e
Everardo Bachheuser, entre outros. Associou-se à Liga Pedagógica do Ensino Secundário e à
AssociaçãoBrasileira de Educação, entre outras sociedades educacionais.
Em 1922 participou do Congresso de Instrução Secundária e Superior, designado pelo então
Presidente do Estado, Caetano Munhoz da Rocha: “comunico-vos que tomei a liberdade de fazer a
vossa nomeação por decreto desta data, para, juntamente com os Srs. Drs João Franco e Vítor do
Amaral, representardes este Estado naquela reunião, atendendo assim ao convite feito a esta
Presidência, pelo Sr. Presidente do Conselho Superior do Ensino”.
Registra Pânfilo de Assunção no “Diário da Tarde”, que o relato sobre a instrução e a educação
paranaenses feito por Lysímaco no Rio de Janeiro, foi o que ocasionou a escolha de Curitiba para sede
da Primeira Conferência Nacional de Educação. Deslocara-se a Conferência, antes pensada para
acontecer no Rio de Janeiro ou Recife pela “interferência lisimista”. O jornalista local adjetiva como
“memorável” a palestra do conterrâneo. Entretanto, a intenção dos fundadores da ABE era de ampliar
as discussões educacionais para além do eixo Rio - São Paulo para envolver outros educadores:
“A minha primeira solicitação a um Estado do Norte para aí se iniciar a Primeira Conferência
foi inútil. Felizmente ouviu-me os desalentos desta decepção o Diretor da Instrução Pública do
Paraná, decidido e eminente companheiro, Lysímaco Costa, a energia mais lúcida e mais
serena com que tenho convivido. E Curitiba, por obra de seu notável educador, deu à reunião o
inesperado realce que firmou sua vitória”. (Fernando de Magalhães. Boletim da ABE, n. 13,
1934).
Nesse sentido, a atribuição de força a um determinado “bloco”, no caso, o católico, para trazer
para Curitiba a I Conferência, como assim já o foi atribuído por Vieira (2001) parece-nos inadequado e
distanciado inclusive das análises de GRAMSCI, para quem a existência de um “bloco” ocorre apenas
quando este vê realizada a hegemonia de uma classe sobre o conjunto da sociedade
(GRISONI&MAGGIORI, 1974, p.218 in MOCHCOVITCH, 1988).
No Congresso de Ensino Secundário e Superior de 1922, Lysímaco representou o Paraná. Em
1923 organizou as “Bases Educativas para a Organização da Nova Escola Normal Secundária do
Paraná”. Na proposta, analisa as condições da sociedade, propõe o estabelecimento de medidas e traça
as linhas mestras de um programa. Na verdade, o que o educador propunha, como demonstra o próprio
subtítulo de seu trabalho, era um “Plano de reforma radical sob bases racionais” que incluía não apenas
a alfabetização, mas a generalização da cultura, visando a disseminação de escolas e bibliotecas, a
ruralização do ensino e a formação de professores sob nova proposta curricular.
Observando o conteúdo da proposta, tal reorganização se inclui entre as primeiras iniciativas
do chamado período reformista dos anos 20, quando educadores nos vários estados opunham
resistência aos favoritismos políticos no preenchimento dos cargos de ensino que dificultavam o
desenvolvimento do trabalho educativo.
Assim, em 23 de agosto de 1927 o nosso Professor proferiu interessante conferência no
anfiteatro da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, que foi assistida pelo Diretor do Departamento
Nacional de Educação, Aloísio de Castro, pelo Diretor da Instrução no Distrito Federal, Fernando de
Magalhães, e ainda Barbosa de Oliveira, Delgado de Carvalho, Venâncio Alves, Renato Jardim,
Paranhos da Silva, Augusto Rocha, Dulcídio Pereira entre outros professores universitários,
professores do Colégio D. Pedro II, senadores e deputados.
O então Diretor da Instrução no Paraná (sucedera Pietro Martines em 1925) projetou na
ocasião uma película cinematográfica sobre a educação no Estado e fez uma exposição oral sobre o
2664
ambiente pedagógico (...) definiu de modo especial o interesse infantil citando experiências
pedagógicas feitas no Parana´: sobre o método de projetos segundo Kilpatrick e Woodhul; sobre a
função social da escola segundo os trabalhos de Decroly, dos irmãos Dewey e de Aguayo5. “ A escola
no Paraná gira em torno do aluno” _ afirma o conferencista _ e logo explana os métodos e processos
para tornar interessantes, atraentes e eficazes o ensino e a vida na escola” (“Diário da Tarde” , Curitiba,
27 de agosto de 1927).
Lysímaco e a I Conferência Nacional de Educação da ABE.
Envolvido com a Associação Brasileira de Educação desde a sua fundação, Lysímaco trocava
correspondência com seus amigos do Rio de Janeiro. Em 1925, Heitor Lyra perguntava sobre o
recebimento de exemplares da revista “Educação” e afirmava:
“A Associação Brasileira de Educação continua a progredir.(...) Esperamos sempre com
ansiedade notícias do que possa ser feito no Paraná em benefício da causa por que trabalha a
Associação.Contamos que não se esqueça de que esta nasceu de um encontro nosso no jantar
que nos ofereceu gentilmente no Hotel Glória e no qual debatemos a questão da representação
do Brasil no Congresso de Santiago. Entretanto, nada poderemos fazer no Paraná sem o seu
apoio” (carta de Heitor Lyra da Silva para Lysímaco, de 2 de março de 1925).
A realização da I Conferência da ABE foi precedida de muitas cartas e telegramas trocados
entre seus integrantes. Fernando de Magalhães comunicava-se, em carta de 17 de novembro de 1927:
“Mando-lhe um relato do Jornal do Comércio de hoje: todos os jornais publicaram nossa
notícia. Pode avaliar o trabalho da propaganda pela Conferência. Mande-me notícias daí para
publicá-las em nossos jornais. Não se esqueça de informar-me sobre o preço dos hotéis, pois
muitos inscritos desejam fazer seus orçamentos. Os hotéis farão alguma redução? Ainda agora
em Locarno, no Congresso de Educação, assim foi”.
Podemos deduzir que as dificuldades de locomoção e de estadias para os Congressos nunca
foram fáceis para os professores, mesmo que os que estejam trocando informações nessas cartas sejam
seus organizadores, e que Fernando de Magalhães aparecia como “personalidade estrelada” no evento.
Assim, a I Conferência Nacional de Educação da ABE ocorreu no Estado do Paraná, em sua
capital, Curitiba, entre 19 e 23 de dezembro de 1927, organizada por Lysímaco Ferreira da Costa. As
sessões aconteceram no “Theatro Guayra” e no Palácio Rio Branco, então sede da Assembléia
Legislativa Estadual. Apesar de ocorrer em data pouco favorável (vésperas de Natal) a quantidade de
representantes do Paraná e de outros Estados demonstrou o interesse despertado pelo acontecimento
assim como o prestígio da ABE.
No panorama dos antagonismos entre grupos e estratos sociais da década de 20, podemos
dizer que o segmento representado na I Conferência Nacional da ABE, que se percebeu com algum
prestígio nas funções educacionais, acreditava e propunha caminhos para a construção e reconstrução
social, fundamentados em uma utopia da educação redentora e apresentava contradições estruturais
básicas na medida em que correntes católicas, positivistas militares, escolanovistas ou supostamente
neutras, indistintamente reivindicavam uma atuação mais direta do Estado, que ao mesmo tempo
desejavam limitar.
Para vários pesquisadores e estudiosos da História da Educação, a tão propalada escola nova e
os métodos ativos “não constituem, neste século, um campo filosófico orgânico e autônomo, sendo
antes uma filosofia educacional heterogênea, onde se mesclam preocupações, teses, bandeiras,
5
AGUAYO, A. M., educador cubano. “Como todas las disciplinas de la educación, la didáctica há progresado
com mucha rapidez em estos últimos decênios. Lãs normas de la escuela de la tradición estaban ayunas de
sentido educativo. La escuela nueva, que se apoya em sólidos cimientos pedagógicos, há creado uma nueva
ciência __ la dirección del aprendizage ___ cuyos instrumentos de investigación son la observación atenta y
cuidadosa y la esperimentación de caráter didático”. (Prefácio : Guia Didactica de La Escuela Nueva. La
Habana: Cultural, S.A, 1938.
2665
concepções tanto de natureza democrático liberal quanto de caráter socialista” (BUFFA ; NOSELLA,
1991, p. 62).
Não houve, nem poderia haver, um consenso nos resultados dessa primeira reunião de
educadores, entretanto seu caráter pioneiro de deflagração de um processo de discussões vitais para a
educação brasileira não pode ser negado. É evidente a importância e a amplitude das possibilidades
oferecidas tanto pelo volume, quanto pela significação histórica da documentação relativa a uma
centena de trabalhos apresentados na I Conferência.
Entretanto, algumas interpretações e intervenções mais recentes sobre as fontes e o entorno da
I Conferência nos instigam a retomar um trabalho de 1988 e nos permitem levantar alguns pontos de
discordância com as análises feitas, principalmente no que tange às afirmações de desvinculação da
ABE e seu primeiro evento nacional, com as origens da Escola Nova no Brasil.
A referida desvinculação foi afirmada categoricamente por VIEIRA, ao discutir o movimento
da Escola Nova no Paraná. Escreve o autor: “é um erro associar o Movimento pela Escola Nova com a
ABE e, sobretudo, com a Primeira Conferência Nacional de Educação” (2001, p. 59) e ainda indica
como razões para a dissociação, a maior organização, presença e influência dos católicos sobre o
governo do Paraná e sobre a recém constituída ABE. Na continuidade de seu trabalho, o autor já
citado afirma ainda que a iniciativa de promover o debate das idéias e das práticas escolares que se
projetavam no Brasil, a partir de idéias norte-americanas e européias, não partiu de professores ou de
intelectuais proeminentes de Curitiba, mas sim de estudantes liderados por Erasmo Pilotto (idem, p.
60).
Cabe aqui registrar, até mesmo por questões cronológicas, um trecho do discurso de Lysímaco
Ferreira da Costa, organizador da Conferência de 1927 e membro da ABE, ao paraninfar uma turma de
normalistas de 1926. Depois de abordar inovações metodológicas, entre elas as de Fröebel, Decroly,
Dewey e Aguayo, apontava nova orientação para a educação popular do Paraná:
E assim terá início a escola da vida, que o menino vive a sua própria vida e não a do adulto, e
em que é o principal fator ou colaborador da sua própria educação, principalmente da
formação de sua consciência moral. O centro da atividade escolar desloca-se para o educando,
sendo o menino o principal artífice de seu desenvolvimento: os trabalhos manuais
desempenharão elevada tarefa na obra encetada, não como estudos especiais com tendências
vocacionais, mas como inspiradores dos métodos de vida. O método funcional faz do
professor um observador da criança e alimenta a simpatia, mútua entre um e outro. O menino,
vivendo a sua própria vida e não a do adulto, cheio de felicidade e alegria, sentindo-se amado
e compreendido, converte-se no mais ativo colaborador do seu mestre, no mais eficaz agente
de sua educação” (ERVEN, 1944, p.34).
O “realce” da I Conferência indicado por Magalhães (discurso de 1934 na ABE) pode ter sido
o resultado, entre outros aspectos, da impressão positiva da cidade, onde a imigração de variados
grupos étnicos convergentes para o Sul imprimia, localmente, características européias na economia,
na urbanização e nos costumes.
Tais características que se revelavam de maneira positiva por um lado, impulsionavam, por
outro, as preocupações de garantir uma escolarização nacionalizante. O imigrante, “ao organizar ou
expandir tipos de produção que se originavam e consumiam através do mercado interno, ajudou a
transplantar para o Brasil, predominantemente de forma socialmente inconsciente, modelos de
desenvolvimento auto-sustentado característicos das economias capitalistas integradas”
(FERNANDES, 1987, p.140).
Nesse sentido, entendemos as indicações de HILSDORF (2003, p.84) quanto ao fio condutor
dos escolanovistas de 1920, e seu alinhavo com as origens nacionalistas dos intelectuais da década de
dez. A Liga Nacionalista organizada em São Paulo, em 1917 e que tem sido associada à defesa do voto
secreto e direto, apresentava um programa bem mais amplo em seus contornos em razão da adequação
e integração dos operários imigrantes que engrossavam as fileiras do trabalho industrial e agitavam
greves em defesa de seus direitos. As questões de higiene, moral e trabalho não resolvidas com as
Ligas realmente “ecoam” na I Conferência.
Como catalogamos e analisamos exaustivamente os trabalhos inéditos de tal Congresso sob a
orientação do Doutor Flávio Luizetto, nos anos de1986 e 1987, podemos afirmar que as teses sobre a
2666
Unidade Nacional (9), Educação Moral (13), Integração do Imigrante (4) e do Escotismo (3),
aproximam-se em número daquelas que defendem pontos de vista pedagógicos (escolanovistas em sua
maioria), das incursões sobre a psicologia da educação e das propostas pedagógicas específicas das
disciplinas, que incluíam desde a idéia da “Leitura inicial pelo método das palavras geradoras”
(Antonio Tupy Pinheiro) até a sugestão de um verdadeiro programa de álcool combustível para o
Brasil, no trabalho de Isaura Sydney Gasparini, sobre a “Difusão do Ensino Popular de Geografia”.
As dispersões observadas sobre alguns aspectos pontuais e gerais quanto à realização de
evento tão importante para a História da Educação Brasileira nos moveram a retomar um trabalho
antigo (1988) e honesto que nega, pelo seu próprio registro documental, algumas afirmações
apressadas que têm sido registradas na seqüência da pesquisa inicial, muitas vezes sem as devidas
citações. A proposta é de reiterar ainda hoje, a crença da presença de idéias, direções e mesmo práticas
experimentais do que se convencionou denominar Escola Nova (nas suas origens), mesmo antes e
durante a I Conferência de Educação da ABE no Paraná, em 1927.
Entendemos que a prática de uma nova orientação (linha ou tendência) pedagógica não se
configura, generalizadamente, a partir de datados relatos teóricos e dos primeiros experimentos. Na
realidade, os relatos teóricos e os experimentos é que datam o início de um movimento educacional
(linha ou tendência) que vai tomando forma e delineando seus contornos, para mais tarde ser
considerado, nomeado, analisado e registrado como tal.
O Professor Lysímaco além da I Conferência.
Como mais uma de suas atividades, desde 1915 Lysímaco passou a lecionar no curso de
Agronomia, anexo à Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná, regendo as
disciplinas de Química Analítica e Química Agrícola. Em 1918 foi fundada a Escola Agronômica,
tendo Lysímaco como seu diretor. Em tal instituição criou cursos de seis semanas para os habitantes
do interior chamados a prestar serviço militar, destinado ao ensino da agricultura prática, o que teria
dado muito bons resultados.
A Medicina Veterinária, que fazia parte do currículo da Escola Agronômica, em 1931 foi
constituída em um curso à parte. Como seu organizador e incentivador, Lysímaco proferiu a aula
inaugural para a primeira turma. Hoje, os Setores de Ciências da Terra e Medicina Veterinária
integram o grande número de cursos oferecidos pela Universidade Federal do Paraná.
Nomeado Secretário da Fazenda para o quatriênio 1928-1932, em um primeiro momento
procurou contabilizar a situação do Estado para a racionalização das finanças. Iniciou em seguida a
resolver, como uma espécie de embaixador, as questões financeiras, com um percurso de negociações
em viagem para a Europa, tentando a conquista do mercado para a erva-mate e produtos dos Estados
do Sul, especialmente do Paraná.
Estudou as dificuldades da produção ervateira, organizou um plano de publicidade, iniciando
com a distribuição de uma monografia sobre as vantagens do mate para os mercados externos e
demonstrando as possibilidades de ligação com os (empórios) distribuidores. Indica a extinção da
variedade de marcas e textos nos rótulos e a adoção de uma embalagem única (MATTÈ-BRÈSIL).
Tratou do preço da produção e calculou inclusive as possibilidades do preço de venda ao consumidor.
Seu objetivo era o de “arrancar o mate das farmácias e transportá-lo para empórios comerciais de
gêneros alimentícios, de um modo definitivo”. Entretanto, em seu relatório para o Governo do Estado,
registra que não havia autorizado ou aprovado ainda quaisquer despesas com relação ao projeto.
Segundo o Professor Nelson de Oliveira, (publicação de julho de 1962, no jornal “Correio do
Paraná”), das conversas que ouviu de Lysímaco com seu pai, gravou que ele não gostava de política
“pela teia de amarras e de enredos que ela forma, num ambiente de ambições. Não suporto isto”.
Com a vitória da Revolução de 1930 e a deposição de todo gabinete do governador, Lysímaco
retornou à cátedra de Química. Segundo o articulista do jornal “A Tarde”, de 2 de julho de 1931,
nosso biografado “conservou as mãos limpas. Subiu por um lado e desceu pelo outro da escada da
fortuna. E por aí anda, aproveitando o tempo, procurando ganhar para comer”.
Conhecedor de mineralogia, Lysímaco percorreu, depois de 1930, todo seu Estado em trabalho
de pesquisa e propôs, em 1936, um plano de siderurgia nacional no qual se utilizariam os fornos de
Anderson, que, segundo ele, localizados onde houvessem depósitos de ferro e outros minérios
resultariam em uma produção barata e abundante.
2667
Lysímaco deu a sua última entrevista para a imprensa em 23 de março de 1941, para o jornal
“O Radical” no Rio de Janeiro, na qual falou sobre a usinagem do níquel no Brasil.
Pioneiro no desenvolvimento de realizações e projetos em vários campos do conhecimento,
relativamente desprestigiado após a Revolução de 1930, Lysímaco passa a residir no Rio de Janeiro.
Em meio a tantas atividades e projetos, entretanto, não deve haver dispersão na apreciação da
ação profissão principal de Lysímaco, a de Educador, pela qual sempre é lembrado em sua cidade e
em seu Estado, principalmente por seu esforço em participar e atuar igualmente no ensino de todos os
ramos e graus, sendo nos Jardins de Infância, na Educação Fundamental, Média, Superior e
profissionalizante.
Referências Bibliográficas:
ADORNO, T. Tabus acerca do magistério. In ADORNO, T. “Educação e Emancipação”. Tradução
de Wolfgang Leo Maar. São Paulo: Paz e Terra, 1995. P. 97-117.
AGUAYO, A M ;CANIZARES, A.E. Guia Didática de la Escuela Nueva. Habana: Cultural S/A,
1938.
BUFFA, E ; NOSELLA, P . A Educação Negada. Introdução ao Estudo da Educação Brasileira
Contemporânea. São Paulo: Cortez, 1991.
CARDOSO, M.L. Para o conhecimento dos objetos históricos. Algumas questões metodológicas.
Rio de Janeiro: mímeo, 1976.
COSTA, M.J.F. Lysímaco Ferreira da Costa (a dimensão de um homem). Documentário, Curitiba,
Imprensa da Universidade Federal do Paraná, 1987.
_______ Lysímaco Ferreira da Costa. – Lembranças que ficam. Curitiba: Vicentina, 2002.
ERVEN, H.M.V. Lysímaco, Semeador de Idéias, descortinador de riquezas. Curitiba: Tipografia
Mundial, 1944
FERREIRA, S.C. A I Conferência Nacional de Educação: contribuição para o estudo das origens
da Escola Nova no Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de São Carlos, 1988.
HILSDORF, M.L.S. História da Educação Brasileira. Leituras. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2003.
MAGALHÂES, Fernando de. Boletim n°13 da Associação Brasileira de Educação.
MOCHCOVITCH, L.G. Gramsci e a escola. São Paulo: Editora Ática, 1988.
VIEIRA, C. E. O Movimento pela Escola Nova no Paraná: trajetória e idéias educativas
de Erasmo Pilotto. Curitiba: Educar em Revista. n°18”, (53-73), 2001.
Download

Lysimaco Ferreira da Costa. Um educador