UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS RODRIGO MIRANDA PEREIRA Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Área de Concentração: Odontologia Legal. São Paulo 2003 Deontologia e UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS RODRIGO MIRANDA PEREIRA Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Área de Concentração: Deontologia Odontologia Legal. Orientador: Prof. Dr. Moacyr da Silva São Paulo 2003 e A DEUS, Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as coisas, que é a razão de minha existência. Aos meus pais, Newton e Niza, que ensinaram - me o caminho do amor e a importância da Educação. À minha querida esposa Anna Andréa e ao amado filho Germain, pelo amor, carinho e união, dedico esta dissertação. Ao Professor Doutor Moacyr da Silva, um amigo que me cativou pela sua humildade e sinceridade. Ao Professor Doutor Jorge Sousa Lima, que aprendi a admirar pela sua dedicação e grande contribuição à Odontologia Legal no Brasil. Ao Amigo e Professor Sérgio Augusto Wanderley Pinto de Oliveira, o reconhecimento pelo incentivo a mim dispensado, e principalmente pelo sábio conselho para que eu cursasse Direito, a minha eterna e saudosa gratidão. AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Dalton Luiz de Paula Ramos, Vice-Coordenador do Curso de Pós–Graduação em Deontologia e Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), pelo apoio, amizade e ajuda nos primeiros passos no campo da Bioética. À Professora Doutora Maria Ercília de Araújo, chefe do Departamento de Odontologia Social da FOUSP, pela sua dedicação e apreço. Aos Professores Doutores do Departamento de Odontologia Social da FOUSP, Ida Tecla Prellwitz Calvielli, Hilda Ferreira Cardozo, Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, José Leopoldo Ferreira Antunes e Rogério Nogueira de Oliveira, pela competência e amizade. Ao Comando da Aeronáutica do Brasil, especialmente nas pessoas do Major Aviador Ricardo Magno Silva Rosa e Major Aviador Wagner Cyrillo Júnior (SERAC 4), e do Capitão Dentista Nélson Shikio Cawagoe (Hospital da Aeronáutica), pela atenção, generosidade e empenho na elaboração do trabalho. Aos colegas do curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP: Aiko, Cecília, Cilene, Evelyn, Fábio, Fernando, José Reynaldo, Julie, Leonardo, Luciana, Luís Cherubini, Luís Fernando, Márcio, Mutsumi, Nilcéa, Plínio, Regina, Sara, Solange, Tatiana, Ulisses e Vítor, pela nossa união, alegrias e amizade. À Secretária do Curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP, Marieta Trancoso de Castro, pelo carinho e atenção dispensados. Às Funcionárias do Departamento de Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP, Andréia dos Santos Teixeira e Sônia Castro Lúcia Lopes, sempre solícitas e prestativas. À Bibliotecária Luzia Marilda Zoppei Murgia Moraes e Cidinha (???), pelo carinho, serenidade e eficiência. À amiga Albanita Bandeira, pelo apoio e dedicação na elaboração do Summary. SUMÁRIO p. LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS RESUMO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................1 2 REVISÃO DA LITERATURA .....................................................................6 2.1 Identidade e identificação ..........................................................................7 2.2 Aspectos legais para o exercício da odontologia...................................9 2.3 Acidentes aeronáuticos ............................................................................11 2.4 O terrorismo na aviação civil ...................................................................13 2.5 Serac 4: a segurança é o resultado .......................................................16 2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro .............................................19 2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo............................................20 2.7 Desastres de massa .................................................................................22 2.8 Métodos de identificação .........................................................................27 2.8.1 Reconhecimento visual............................................................................28 2.8.2 Roupas e pertences pessoais.................................................................29 2.8.3 Exame das impressões digitais ..............................................................30 2.8.4 Exame odontológico .................................................................................30 2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais utilizados em odontologia.................................................................36 2.9.1 Efeitos do fogo..................................................................................37 2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca .........................................40 2.9.3 Mandíbula e maxila...........................................................................40 2.9.4 Esmalte .......................................................................................................41 2.9.5 Dentina e cemento ....................................................................................41 2.9.6 Restaurações em amálgama ..................................................................42 2.9.7 Resinas compostas...................................................................................42 2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses......................................43 2.9.9 Tratamento de canal.................................................................................43 2.10 A importância da radiografia dentária ....................................................46 2.11 Radiografia digital na odontologia legal.................................................49 2.12 Radiografias panorâmicas e sua utilização nas especialidades odontológicas.............................................................................................52 2.13 Exame médico e radiológico ...................................................................55 2.14 Exame antropológico ................................................................................56 2.15 Identificação por exclusão .......................................................................57 2.16 O odonto-legista no desastre de massa................................................58 2.16.1 Fatores internos e externos que dificultam a identificação odonto legal em desastres de massa..................................................................68 2.17 Procedimentos de identificação utilizados pela força de defesa de Israel (I.D.F) ..............................................................................................73 2.18 A identificação de vítimas de desastres de massa pela INTERPOL 75 2.19 A odontologia legal e o acidente aeronáutico.......................................78 3 PROPOSIÇÃO...........................................................................................87 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................88 4.1 Amostra.......................................................................................................88 4.2 Coleta de dados ........................................................................................91 5 RESULTADOS ..........................................................................................92 5.1 Número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal ..........92 5.2 Regime de trabalho dos odonto -legistas nos IMLs..............................93 5.3 Tipos de aparelhos de raios X odontológicos disponíveis nos IMLs para a realização de perícia de identificação humana ........................94 5.4 A importância do odonto-legista para a identificação humana em acidentes aeronáuticos ............................................................................96 6 DISCUSSÃO..............................................................................................98 6.1 Considerações gerais...............................................................................98 6.2 Planejamento prévio de desastres de massa.....................................100 6.3 A identificação de corpos carbonizados em acidentes aeronáuticos.............................................................................................104 6.4 A importância das radiografias dentárias para a identificação ........105 6.5 Análise dos resultados da pesquisa/odonto -legistas nos Institutos de Medicina Legal e equipamento de raios-x odontológicos ............... 109 6.6 Da importância do odonto -legista na identificação humana em acidentes aeronáuticos ..........................................................................119 6.7 Considerações finais ..............................................................................119 7 CONCLUSÕES........................................................................................121 ANEXOS .................................................................................................................123 REFERÊNCIAS .....................................................................................................129 SUMMARY APÊNDICES LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de decolagens ..........................................................................................19 Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de vôo (vôos de 1:30 h em média) .......................................................21 Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação Dentária Internacional – FDI.............................................................34 Figura 2.4 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico em Lockerbie, 1988 ..................................................................................83 Figura 2.5 - Métodos de identificação empregados no desastre aeronáutico em Sainte-Odile (França), 1992.......................................................84 Figura 2.6 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico nas Ilhas Canárias, 1977 ..........................................................................86 Figura 4.1 - Questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal – Brasil 2003.....................................................90 Figura 5.1 - Distribuição do número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal, quanto ao regime de trabalho – Brasil 2003.....94 Figura 5.2 - Panorama dos equipamentos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal para o trabalho dos odonto -legistas – Brasil 2003 .................................................96 Figura 5.3 - Importância do odonto-legista na Identificação Humana em Acidentes Aeronáuticos. Brasil 2003 ..............................................97 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 2003 ...................................................................................................21 Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 .........................................................24 Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e os locais de perdas anatômicas, acidente TAM – Vôo 402, Brasil 1996 ........................................................................................25 Tabela 4.1 - Ranking dos aeroportos segundo tráfego de passageiros. Brasil, 2002...............................................................................89 Tabela 4.2 - Relação de data da postagem nos Correios dos questionários respondidos pelos Diretores dos IMLs....................................91 Tabela 5.1 - Número de odonto -legistas que trabalham nos Institutos de Medicina Legal por cidade pesquisada. – Brasil 2003.............92 Tabela 5.2 - Distribuição dos Odonto-Legistas nos IMLs de acordo com o regime de trabalho. – Brasil 2003.............................................93 Tabela 5.3 - Tipos de Aparelhos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal - Brasil, 2003..............................95 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos DAC Departamento de Aviação Civil DDVI Identificação Dentária de Vítimas de Desastres DIPAA Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos DVI Identificação de Vítimas de Desastres FDI Federação Dentária Internacional FSF Flight Safety Foundation GASAG Grupo de Assessoramento e Segurança da Aviação Mundial HASP Hospital de Aeronáutica de São Paulo IML Instituto de Medicina Legal INTERPOL Organização de Polícia Internacional INTERPOL DVI Comitê Permanente para Identificação de Vítimas de Desastres SERAC Serviços Regionais de Aviação Civil RESUMO A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS O objetivo deste estudo foi verificar a importância da Odontologia Legal na identificação humana em acidentes aeronáuticos e detectar a situação dos odonto-legistas e dos equipamentos de radiologia odontológica, nos Institutos de Medicina Legal, das cidades onde estão localizados os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil, em movimento de passageiros obtidos no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002. Na revisão da literatura especializada e na análise de 18 (dezoito) questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal pesquisados, verificou-se: O total de odonto-legistas que trabalham nestes Institutos de Medicina Legal é em número de 102 (cento e dois), sendo 79 (setenta e nove) odonto-legistas efetivos e 23 (vinte e três) odonto-legistas contratados. A maior parte destes Institutos de Medicina Legal (10 casos), não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, equipamentos essenciais para a realização de perícias de identificação humana. O Instituto de Medicina Legal da cidade de Vitória e o da cidade de Campinas, não possuem odonto-legistas.Todos os 18 (dezoito) Diretores dos Institutos de Medicina Legal, por unanimidade, afirmaram que o trabalho do odontolegista na perícia de identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos, é muito importante. A situação atual da Odontologia Legal em grande parte dos Institutos de Medicina Legal pesquisados é deficiente tanto na quantidade de odonto-legistas, quanto na inexistência de equipamentos de raios X odontológicos, para realizar perícias de identificação humana, para realizar um trabalho importante de identificação, mediante a ocorrência de um acidente aeronáutico, que tem como uma de suas características principais, a falta de previsibilidade. O mais grave é que no Brasil, inexistem equipes especializadas e capacitadas para o trabalho de identificação de vítimas de desastres de massa – acidentes aeronáuticos. 1 INTRODUÇÃO A Odontologia Legal está intimamente relacionada com a identificação humana em acidentes aeronáuticos. Portanto, torna -se oportuno uma homenagem a Alberto Santos Dumont, que com seu invento, mudou a História da Humanidade. Filho do engenheiro Henrique Dumont e neto de François Dumont, joalheiro francês do século XIX, o brasileiro Alberto Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873 em “Cabangu”, no distrito de João Gomes (atual Santos Dumont), em Minas Gerais. Os livros de Júlio Verne alimentaram seus sonhos. Devorou os livros: Cinco semanas em balão, Da terra à lua, Vinte mil léguas submarinas e A volta ao mundo em oitenta dias. Ficou fascinado com a história de Olivier de Malmesbury, o monge inglês, que construiu asas e se lançou do alto de uma torre no século XI. Estudou com afinco os trabalhos de Leonardo da Vinci sobre a estrutura das asas dos pássaros e admirou a tentativa da Bartolomeu de Gusmão que, em Lisboa no ano de 1709, conseguiu se elevar a 200 pés de altura. No século XIX, durante uma década inteira, o engenheiro Santos Dumont construiu e pilotou vários balões dirigíveis. Em 4 de junho de 1898, o dirigível Brasil atravessou a cidade de Paris, surpreendendo os INTRODUÇÃO 2 parisienses. A partir daí, suas invenções passam a atrair multidões. Resolveu então combinar o balão com um motor de explosão. Era o modelo Santos Dumont número 1. Em setembro de 1898, leva seu novo invento ao Jardin de l’Aclimatation. O balão sobe, mas termina batendo nas árvores do jardim. Dias depois ele tenta novamente. O balão alça vôo, mas na descida quase é destruído. Finalmente, evitando bater nas árvores, pousa normalmente, sem problemas. Dedicado a aperfeiçoar sua invenção, Santos Dumont parte para a construção do modelo Santos Dumont 2, que é maior que o anterior, tem a forma de um charuto e conta com um ventilador.O número 2 não dura muito. Bate de encontro às arvores e é destruído. Com o número 3, que vai de Vaugirard até o Campo de Marte, Santos Dumont consegue o mais absoluto controle do balão, faz curvas, sobe e desce sem dificuldades. O modelo Santos Dumont 3 é cilíndrico e o hidrogênio foi substituído por gás de iluminação. Em seguida o engenheiro constrói o modelo 4 em Saint Cloud. Essa aeronave tem um selim e um guidão de bicicleta. Santos Dumont ainda não tinha dezoito anos, quando na Exposição do Palácio das Indústrias em Paris, descobriu que os motores dos automóveis, mais leves que o das locomotivas a vapor, poderiam ser a solução para criar a máquina de seus sonhos. Antes da construção do número 6, Santos Dumont perde duas de suas invenções: os números 4 e o 5 são destruídos em acidentes. O Aeroclube de Paris oferece um prêmio em dinheiro a quem conseguir, RODRIGO MIRANDA PEREIRA INTRODUÇÃO 3 partindo de Saint Cloud, dar uma volta completa à Torre Eiffel e voltar em menos de trinta minutos. Em 12 de outubro de 1901, Santos Dumont completa a volta em trinta e um minutos com o balão número 6. O júri fica hesitante por causa da diferença de um minuto, mas a multidão ovaciona a performance e o prêmio é entregue ao brasileiro, que divide os cem mil francos franceses, com os técnicos, operários e colaboradores de sua equipe. Nessa altura, nosso aviador já é uma celebridade no mundo inteiro. É homenageado em Londres, recebe convite do Príncipe de Mônaco para construir um hangar e uma oficina no principado, é visitado pela viúva de Napoleão III. Por fim é contratado pelo Governo Francês a construir o primeiro aeródromo do mundo em Neuilly. Depois de construir o Santos Dumont 7 e saltar para o número 9 (porque não gostava do número 8), ele bati za o dirigível com o nome de Balladeuse. O Balladeuse fica famoso em Paris, porque o seu inventor passa a utilizá-lo como meio de transporte. Os modelos vão se sucedendo cada vez mais aperfeiçoados, até que, em 1905, surge o número 14, seguido pelo famoso 14-Bis. Finalmente chegou o dia da consagração, depois de várias tentativas. Avisou a todos que pretendia ganhar o Prêmio Archedeacon, criado pelo Aeroclube da França. No dia 23 de outubro de 1906, uma multidão se reuniu para assistir à proeza. Do Campo Bagatelle, junto da Torre Eiffel – na região central de Paris – Santos Dumont decolou no seu célebre 14-Bis, subiu a uma altura de três metros do solo, voando ao todo um percurso de sessenta RODRIGO MIRANDA PEREIRA INTRODUÇÃO 4 metros. Assim, o brasileiro conseguiu provar a dirigibilidade do seu invento, voando num aparelho mais pesado do que o ar, com propulsão própria. Com o 14-Bis, ganhou os Prêmios Aeroclube Archedeacon e foi carregado nos braços pela multidão que considerava um milagre a façanha de Santos Dumont. Os países civilizados passaram a construir fábricas, hangares e pistas. Iniciam-se as primeiras linhas postais e de passageiros. Atualmente, este meio de transporte é utilizado diariamente por milhões de pessoas em todo o mundo. Embora os irmãos norte-americanos Wright e o francês Clément Ader tivessem reivindicado a autoria da façanha, no mundo inteiro, Santos Dumont foi o pioneiro. Em 1998, o então Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, reconheceu oficialmente que Alberto Santos Dumont foi o verdadeiro “Pai da Aviação”. Comemora-se atualmente, em todo o mundo, o Centenário de Santos Dumont, em alusão ao prêmio oferecido pelo Aeroclube de Paris, conquistado pelo Pai da Aviação – Santos Dumont, que em trinta e um minutos no dia 12 de outubro de 1901, deu uma volta completa na Torre Eiffel, e retornou a Saint Cloud dirigindo o balão Santos Dumont número 6. (Centenário, 2001). Considerando este relevante marco histórico, a partir do qual o homem vence o tempo entre longas distâncias, com o objetivo de agilizar relações comerciais e turísticas, há de se considerar também a probabilidade de acontecimentos nefastos como os acidentes aeronáuticos, RODRIGO MIRANDA PEREIRA INTRODUÇÃO que são 5 provocados por falhas humanas, mecânicas, ou fatores meteorológicos, quando inúmeras pessoas perdem a vida. A Odontologia Legal contribui para esta difícil missão de identificação de corpos carbonizados, que são freqüentes nestes acontecimentos. RODRIGO MIRANDA PEREIRA 2 REVISÃO DA LITERATURA “Um dos aspectos irônicos do mundo natural é que a dentição humana, local de decomposição prevalente e crônica em vida, dura mais que todos os outros tecidos após a morte” – SOPHER, 1976. O incêndio no Bazar de La Charité em Paris, em 04 de maio de 1897, levou o Dr. Oscar Amoedo, cubano, naturalizado argentino, ao interesse da Odontologia Legal e, subseqüentemente, ele foi condecorado como o fundador deste ramo da Ciência Forense. O Bazar de La Charité tinha lugar em Paris desde 1885, e, em 1897, estava sendo realizado pela 13ª vez. Era um barracão retangular de madeira envernizada, com cerca de 72 (setenta e dois) metros de comprimento e 30 (trinta) metros de largura, com teto de lona. Este barracão era uma réplica de uma rua medieval parisiense com fachadas de casas e lojas de ambos os lados cobertas por tetos de lonas. Como atração especial, um cinema foi instalado na longa galeria, quase em frente de uma das saídas. Por volta de 16:00 horas, uma explosão ocorreu na lâmpada de gás do cinema e levou o fogo aos panos ao redor e internamente atingindo o teto da tenda, e rapidamente todo o seu interior ficou em chamas. Os bombeiros REVISÃO DA LITERATURA 7 iniciaram seus trabalhos às 16:23 horas mas toda a construção ruiu às 16:30 horas, matando 126 (cento e vinte e seis) parisienses nas chamas. Os registros das investigações feitas pelos Cirurgiões-dentistas envolvidos nesta tragédia, permitiram a identificação das vítimas, através dos dados odontológicos antemortem, e que formaram a maior parte da tese do Dr. Oscar Amoedo para o seu doutorado em 1898, relatou Botha (1986). 2.1 Identidade e identificação Para França (1995), o conceito de identidade segundo Morais: “É a qualidade de ser a mesma coisa e não diversa”. Carvalho et al. (1992) confirmaram que “de fato, todo o ser apresenta um conjunto de caracteres que o definem, que são a sua identidade. Uma cousa, um corpo, um ente só pode ser idêntico, a si mesmo, diferenciandose assim o conceito de identidade do de semelhança”. Identificação segundo França (1995) “é o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou de uma coisa, ou um conjunto de diligências cuja finalidade é levantar uma identidade”. Buchner (1985) confirmou que a identificação humana de corpos desconhecidos é essencial em sociedades modernas por razões jurídicas e humanas. Por lei, a maioria dos países requer que o atestado de óbito seja emitido para comprovar civilmente a morte de uma pessoa e como conseqüência, as questões que envolvem pensões alimentícias, seguros de vida, a nova situação civil do cônjuge, a preparação do funerário, que só é RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 8 realizado mediante o atestado de óbito. O sofrimento da família poderá ser diminuído, se o corpo é identificado e enterrado formalmente. Delattre & Stimson (1999) afirmaram que a percepção da população de que a Odontologia Legal é surpreendente e eficaz em sua atuação científica nos casos de identificação humana através do exame dos dentes, pois atualmente é comum nos jornais e noticiários a divulgação de que em acidentes graves quando a identificação das vítimas com a utilização de métodos tradicionais como a dactiloscopia, o reconhecimento visual estão prejudicados, a utilização dos registros dentais é um método vastamente conhecido para a identificação de corpos carbonizados. Para Delattre & Stimson (1999), todo o indivíduo merece a dignidade de ter um nome e uma identidade, até mesmo depois da morte. No mundo que vivemos hoje, existem várias maneiras nas quais nós podemos morrer sem a possibilidade de ter nossos corpos identificados por meios visuais ou pela comparação de impressões digitais ou até mesmo pela análise do DNA. Várias razões conduzem à identificação pelo exame dos dentes, por ser um método científico, rápido e de baixo custo. Botha (1986) afirmou que no resultado de um acidente aeronáutico, após o salvamento dos sobreviventes, a identificação das vítimas é a tarefa mais urgente que as autoridades enfrentam. O número de casos nos quais a identificação dentária desempenha um papel importante na identificação de vítimas de desastres de massa, está crescendo. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 2.2 9 Aspectos legais para o exercício da odontologia legal Conforme Silva (1997), “a Lei Federal 5081 de 24 de agosto de 1966, que regula o exercício da Odontologia no Brasil, estabelece: Art. 6º - Compete ao Cirurgião-dentista: IV – proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa; IX – utilizar, na função de perito-odontólogo, em caso de necropsia, as vias de acesso do pescoço e cabeça”. O Conselho Federal de Odontologia através da Resolução CFO- 22 / 2001, de 27 de dezembro 2001, estabelece no seu artigo 4º, o elenco das especialidades odontológicas, entre as quais a Odontologia Legal, cujas atribuições encontram-se definidas nos artigos 27 e 28, nos seguintes termos: Art. 27. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Parágrafo único: A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do Cirurgião-dentista, podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. Art. 28. As áreas de competência para atuação do especialista em Odontologia Legal incluem: RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 10 a) identificação humana; b) perícia em foro civil, criminal e trabalhista; c) perícia em área administrativa; d) perícia, avaliação e planejamento em infortunística; e) tanatologia forense; f) elaboração de : 1) autos, laudos e pareceres; 2) relatórios e atestados; g) traumatologia odonto -legal; h) balística forense, i) perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes em fragmentos; j) perícia em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; l) exames por imagens para fins periciais; m) deontologia odontológica n) orientação odonto-legal para o exercício profissional; e, o) exames por imagens para fins odonto-legais. Delattre (2001) afirmou que o odonto-legista trabalha como parte de uma equipe de pessoas dedicadas e talentosas: os peritos. Vítimas de incêndios em carros , residências, explosões em fábricas ou de acidentes aeronáuticos, que freqüentemente são carbonizadas e apresentam deformidades faciais, serão identificadas através de uma avaliação odonto- RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 11 legal com a comparação dos dados do odontograma antemortem e postmortem que conduzem a uma identificação positiva. 2.3 Acidentes aeronáuticos O Decreto Nº 70.050 de 25 de janeiro de 1972, do Ministério da Aeronáutica - Brasil, que trata do Regulamento para o serviço de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, estabelece a seguinte definição para Acidentes Aeronáuticos: Toda ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave, havida dentro do período compreendido entre o momento em que qualquer pessoa entra na aeronave, com a intenção de realizar um vôo, até o momento em que todas as pessoas tenham desembarcado, durante o qual: a) qualquer pessoa morra ou receba lesões, como resultado de estar dentro ou sobre a aeronave ou, ainda, por ter contato direto com a mesma ou com qualquer coisa ligada a ela; b) a aeronave sofra danos. Informou Botha (1986), que o Instituto Britânico Tecnologia investigou Cranefield de acidentes aeronáuticos entre 1955 a 1979 e descobriu que em mais de 60% destes acidentes, metade das fatalidades foram causadas pela fumaça oriunda do fogo. Esta fumaça produzida no interior de uma aeronave em incêndio, pode incapacitar passageiros em 30 (trinta) segundos e uma pequena labareda pode se transformar em uma bola de fogo através do revestimento interno do plástico em segundos. A RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 12 Organização Internacional de Aviação Civil concluiu que o fogo é o maior assassino em acidentes aeronáuticos, com chance de sobrevivência. Concluiu Botha (1986), que Firotex é um material de revestimento de cabine capaz de suportar temperaturas de até 1.000º C e foi desenvolvido em 1981, mas foi abandonado pelas companhias aéreas, devido ao seu alto custo. Felizmente, materiais resistentes ao fogo estão sendo instalados nas aeronaves, para permitir a evacuação de um avião em chamas em 2,5 minutos a mais do que anteriormente. Engenheiros do Instituto Britânico de Química, estão desenvolvendo um combustível à prova de fogo que possa coagular quando sacudido violentamente na aeronave durante o acidente, ao invés de se espalhar pela fuselagem e escapar. Muñoz (1999) descreveu a metodologia utilizada para a realização da perícia médico-legal do maior acidente aeronáutico ocorrido no Brasil em número de vítimas, no dia 31 de outubro de 1996, com o avião Fokker-100 da TAM (vôo 402), envolvendo 98 (noventa e oito) pessoas identificadas: “A companhia aérea informou o nome de 96 (noventa e seis) pessoas que haviam embarcado nesse vôo, sendo 90 (noventa) passageiros e 6 (seis) tripulantes. A tripulação estava assim discriminada: 1 (um) comandante, 1(um) co-piloto, 3 (três) comissárias e 1 (um) comissário de bordo. Duas pessoas compareceram ao IML informando que seus parentes haviam morrido no acidente. Um estava em uma das casas atingidas pela aeronave; o outro caiu nas chamas quando tentava sair de sua casa, atingida pelo incêndio que se seguiu à queda da aeronave. Este fato foi presenciado e descrito pelos seus familiares”. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 13 “Os cadáveres que se encontravam bastante deteriorados pela carbonização, impossibilitando o reconhecimento direto e a dactiloscopia, foram submetidos ao exame odonto-legal (descrição dos arcos dentários) e à averiguação de características físicas não detectadas no exame necroscópico, como por exemplo a avaliação da estatura pelos ossos longos. Uma primeira fase do exame odonto-legal foi efetuada mesmo não havendo suspeita que o corpo fosse o de determinada pessoa. Nesta fase foi realizada a abertura da boca e a descrição dos arcos dentários. A segunda fase – levada o efeito quando se suspeitava que o corpo fosse de uma pessoa definida – o procedimento do exame era determinado pelo material que se dispunha para confronto. Se houvesse ficha dentária era realizado o exame direto dos arcos dentários; havendo radiografias, o cadáver era submetido a tomadas radiográficas (oblíqua direita e esquerda) de mandíbula – que permite a visualização dos dentes posteriores – e a póstero-anterior dos seios da face para análise dos dentes anteriores. Em casos especiais os arcos dentários foram removidos para uma análise mais minuciosa e tomada de radiografias de diferentes posições, para a visualização de elementos especiais, relatou Muñoz (1999). 2.4 O terrorismo na aviação civil Destacou Visser (2002), que o relatório da Assembléia do Atlântico Norte descreve o terrorismo como: “a utilização sistemática de assassinatos e destruição, assim como ameaças de assassinato e destruição para RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 14 aterrorizar indivíduos, grupos, comunidades ou governos e fazer com que aceitem os objetivos políticos dos terroristas”. Para Rocha (2002), “11 de setembro de 2001, uma data que mudou a perspectiva de risco da aviação.O uso de aeronaves comerciais em deliberados ataques como virtuais mísseis, intencionalmente pilotados para a sua auto destruição contra “alvos”, fugiu do que se previa e temia. A ação “inominável” daquele dia de 2001 extrapolou o que se previa de pior”. Koeing (2002) afirmou que a crescente preocupação com as ameaças do terrorismo internacional vem intensificando o debate a respeito da adequação de alguns dos atuais sistemas de seguranças doa aeroportos, assim como tem levantado questões de privacidade e de legitimidade relacionados à utilização de novos equipamentos de alta tecnologia para a triagem de passageiros. Visser (2002) destacou que “os métodos dos terroristas também mudaram com o surgimento do ativista suicida. Se o indivíduo não preza a própria vida, ele geralmente preza menos ainda as vidas alheias. A morte heróica substitui qualquer sabedoria política disponível no passado. Com este tipo de grupo ainda em movimento é impossível garantir um futuro pacífico para a aviação civil”. Para Koeing (2002) “os especialistas acreditam que a aviação provavelmente continuará sendo alvo atrativo para os terroristas durante boa parte do futuro próximo. A segurança da aviação é baseada em uma cuidadosa mistura de informações de inteligência, procedimentos, tecnologia e pessoal de segurança, mas nunca serão a solução completa do problema”. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 15 Para Vinner (2002), “da perspectiva dos terroristas, ataques a aeroportos trazem dividendos de várias formas às suas causas. Os seqüestros de aeronaves têm um enorme impacto sobre a opinião pública, especialmente quando duram vários dias ou semanas. Os seqüestradores que têm um aguçado senso do poder da publicidade, permitem que câmaras de televisão e fotógrafos de jornais registrem imagens ao vivo”. Rocha (2002) apresentou o resumo do Relatório de Segurança de 2001 do Comitê de Operações da IATA, reunião realizada em Montreal nos dias 02 e 03 de outubro de 2001, quando o tema das melhorias na segurança dominou a agenda. A discussão veio na esteira dos eventos de 11 de setembro, que tiveram efeito profundo na indústria da aviação. Um dos acordos resultantes deste encontro foi o da formação do Grupo de Assessoramento de Segurança na Aviação Mundial (GASAG – Global Aviation Security Advisory Group), cujo objetivo é oferecer uma visão coordenada da indústria para uma harmonização global de procedimentos de segurança. O GASAG, desde sua formação, já emitiu comentários a respeito de várias iniciativas relativas à segurança de aeronaves e procedimentos de vôo como por exemplo: • reforço nas portas e restrição de acesso à cabine da aeronave; • agentes de segurança a bordo da aeronave; • instalação de câmaras para monitorar passageiros; • treinamento sobre manuseio de armamentos e situações de combate para a tripulação; • manobras agressivas de vôo e de despressurização, e RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA • 2.5 16 aprimoramento da segurança em solo e nos aeroportos. SERAC 4: a segurança é o resultado Guimarães (2001) afirmou que o Brasil “vem se destacando por índices muito bons, nos últimos anos, em todos os segmentos da aviação civil. No entanto por estar inserido no cômputo da região Latino-Americana e Caribe, passa despercebido o bom trabalho aqui realizado por toda comunidade aeronáutica. As grandes empresas brasileiras, operando quase que totalmente com equipamentos de última geração, têm buscado a excelência dos serviços em todas as áreas e a Segurança de Vôo apresenta -se como prioridade em suas diretivas. Na prevenção, é fundamental que todos colaborem. A indústria sabe que a perda de uma aeronave é fácil de repor, as vidas nela embarcadas, jamais. Continuaremos mostrando à comunidade internacional que, além de sermos o berço de Santos Dumont e a segunda frota de aviões do mundo, também sabemos voar com eficiência e segurança”. Rocha (2001) destacou “que a Aviação Civil Brasileira – mormente as linhas aéreas- têm motivos para comemorar por esses três últimos anos com “Zero-Acidente Fatal / Perda de Casco”. Um dos ditos mais famosos mais famosos em Safety: “Se achas que prevenção custa caro; experimente um acidente”. O Brasil apresentou uma curva de progresso realmente positiva e o esforço integrado operadores-governos-fabricantes influiu nesse processo. Para Garcia (1999), o Brasil, país do inventor do avião, e de dimensões continentais, é predestinado ao transporte aéreo. Depois da RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 17 Grande Guerra, a aviação comercial se expandiu no Brasil, e o Correio Aéreo Nacional foi fator integrador entre o litoral e o vasto interior inexplorado. Já em 1931 foi necessário criar o Departamento de Aviação Civil (DAC), muito antes do Ministério da Aeronáutica. Há quase 25 anos, o DAC criou os Serviços Regionais de Aviação Civil (SERAC), para controlar e fiscalizar mais de 1.000 (mil) empresas aéreas, aeroclubes, escolas, oficinas de manutenção e atividades ligadas à aviação civil, além de fazer o registro de mais de 10.000 (dez mil) aeronaves e mais de 75.000 (setenta e cinco mil) aeronautas. O maior de todos os Serviços Regionais de Aviação Civil é o SERAC 4, que jurisdiciona os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que representam o volume de trabalho de 40% da aviação civil brasileira. Uma das áreas do SERAC 4, a Divisão Operacional, trabalha diretamente com a segurança, eficácia e modernização dos aeroportos e faz a fiscalização destes terminais, das empresas de táxi aéreo, de aviação agrícola e de outros serviços aéreos. Equipes do SERAC checam as empresas aéreas, suas oficinas de manutenção, aplicando padrões rígidos de exigência de qualidade e segurança. É para o SERAC que a população deve se dirigir em caso de denúncia de vôos rasantes, avião operando em pista clandestina, ou ação de panfletagem aérea que é proibido porque é perigoso aos demais aviões e significa lixo jogado do céu. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 18 Controlador rigoroso da segurança, é o SERAC que licencia pilotos, comissários e mecânicos. A habilitação só é conseguida ou revalidada depois de rigorosas provas de capacidade profissional. As inspeções periódicas de saúde do pessoal de bordo do SERAC 4 são realizadas no (HASP) Hospital de Aeronáutica de São Paulo, especializado nesse tipo de avaliação médica. Talvez isso explique a reconhecida competência dos aeronautas brasileiros, aos quais estão entregues milhões de vida a cada ano. É um trabalho que o passageiro não vê. Segurança é assim, não se vê, mas se sente, ao fim de cada viagem. Enquanto milhões de passageiros são transportados em aviões de todos os tamanhos, milhares de outros brasileiros estão realizando o seu trabalho silencioso, invisível, mas eficiente, para garantir uma boa viagem. No espaço aéreo de São Paulo, o mais movimentado do Brasil, cresce a responsabilidade do SERAC 4. Realizando sua parte, com outros órgãos do Ministério da Aeronáutica, ele supre com valor humano de sobra o que muitas vezes falta em meios materiais. E os resultados estão aí, com números de segurança comparáveis aos dos países do primeiro mundo, finalizou Garcia (1999). A partir do mês de novembro de 2002, o SERAC 4 ficou responsável pela jurisdição apenas de São Paulo, devido ao imenso tráfego aeronáutico. O Mato Grosso do Sul, passou para a jurisdição de Brasília (SERAC 6). RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 19 2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e o Departamento de Aviação Civil (DAC) – Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes de Aeronaves (DIPAA) - 2002 , através de dados estatísticos demonstram: No ano de 2000 ocorreu um aumento nas taxas de acidentes para 0,62 e no ano de 2001 novo aumento para 3,24 acidentes por milhões de decolagens, atingindo a média Brasil o índice de 0,90. A média mundial é de 1,2 acidentes por milhões de decolagens de acordo com a Flight Safety Foundation. Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de decolagens RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 20 No Brasil, os números de acidentes aeronáuticos, de falecidos e a frota de aeronaves registradas, sofreram variações anuais: Em 1996 ocorreram 88 (oitenta e oito) acidentes aeronáuticos com 187 (cento e oitenta e sete) falecidos e a frota de aeronaves atingiu 9.503 (nove mil quinhentos e três); em 1997 diminuiu para 73 (setenta e três) acidentes com 94 (noventa e quatro) falecidos e a frota aumentou para 9.786 (nove mil setecentos e oitenta e seis); em 1998 novamente diminuiu para 71 (setenta e um) acidentes com 80 (oitenta ) falecidos e a frota aumentou para 10.057 (dez mil e cinqüenta e sete); em 1999 houve uma diminuição significativa para apenas 47 (quarenta e sete) acidentes aeronáuticos com 67 (sessenta e sete) falecidos e a frota aumentou para 10.282 (dez mil duzentos e oitenta e dois) . No ano de 2000 o número de acidentes aeronáuticos sofreu uma elevação para 54 (cinqüenta e quatro) com 48 (quarenta e oito) falecidos e a frota aumentou para 10.371 (dez mil trezentos e setenta e um); em 2001 aumentou para 68 (sessenta e oito) acidentes aeronáuticos com 77 (setenta e sete) falecidos e finalmente em 2002 diminuiu para 53 (cinqüenta e três) acidentes aeronáuticos e com 66 (sessenta e seis) falecidos . (Tabela 2.1). [http://www.cenipa.maer.mil.br/] 2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo É importante destacar a porcentagem de acidentes aeronáuticos relacionados com as fases do vôo. Conforme a Figura 2.2, na fase de manobra da aeronave detecta -se 2% de acidentes; na fase de decolagem, por sua vez, a porcentagem é de 14%; na subida é de 17%, na fase altitude RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 21 cruzeiro é de apenas 5%, na fase de descida é de 6%, a fase de aproximação é de 34% e no pouso 22%. Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 2003 (DAC 2003. Disponível em URL http:// www.dac.gov.br/estatisticas/graficos/estat30.htm). ACIDENTES ANO AERONÁUTICOS FALECIDOS FROTA 1995 100 90 9275 1996 88 187 9503 1997 73 94 9786 1998 71 80 10.057 1999 47 67 10.282 2000 54 48 10.371 2001 68 77 10.532 2002 53 66 10.631 Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de vôo (vôos de 1:30 h em média). (Flight Safety Foudation e Boeing Commercial Airplane Group 2002). [http://sites.uol.com.br/buzaid/eng/aeroporto.html ] RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 2.7 22 Desastres de massa Para a Organização Panamericana de Saúde (1996), o desastre de massa é o evento que resulta em um elevado número de vítimas, que causa uma alteração no curso normal dos serviços de emergência e de atenção à saúde. Pueyo et al. (1994) descreveram as características mais comuns decorrentes do desastre de massa: 1. Grande repercussão social: isto significa em grande número de voluntários, intenso trabalho dos meios de comunicação, comoção e envolvimento emocional da coletividade. 2. Grande destruição com traumatismos em pessoas e residências ou apartamentos. 3. Dificuldades ou até impossibilidade de identificação principalmente quando as vítimas são de diferentes nacionalidades, como ocorre freqüentemente nos acidentes aeronáuticos. 4. Ações de saques e furtos de pertences e objetos pessoais das vítimas por alguns indivíduos inescrupulosos que estão próximos ao desastre. 5. Intervenção de múltiplas instituições governamentais e sociais: Polícia, Forças Armadas, Defesa Civil, Cruz Vermelha, Peritos do IML, Aviação Civil, Corpo de Bombeiros. Além destas características gerais dos desastres, Pueyo et al. (1994) destacaram algumas características específicas dos Acidentes Aeronáuticos: Os traumatismos são extraordinariamente graves: RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 23 1. Por ação do impacto. 2. Pela queima do combustível da aeronave. 3. Há uma grande dispersão de partes de corpos e objetos, que em algumas vezes ocupam quilômetros quadrados. 4. As vítimas sempre são de diversas nacionalidades. Não obstante, existe a lista de passageiros. Meira (1976) esclareceu que o acidente aeronáutico afeta a sociedade quando ocorre, além de provocar prejuízos físicos às pessoas a bordo e prejuízos materiais, ambos com seus reflexos econômicos. Muñoz (1999) descreveu as condições dos corpos recolhidos ao IML quanto à ação do fogo: “A maioria apresentava-se com carbonização parcial (49 casos) ou total (8 casos) ou quase total (31 casos). Consideramos como tendo carbonização quase total quando o corpo apresentava mais de 90% da superfície corporal carbonizada. Trinta e três cadáveres (33 casos) com carbonização parcial tinham mais de 50% de superfície corpórea carbonizada. Dez corpos (10 casos) não estavam carbonizados, porém 6 (seis) casos apresentavam outros graus de temperatura, conforme demonstrado na Tabela 2.2. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 24 Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 (Muñoz, 1999, p.100) Nº de ESTADO DO CADÁVER casos % Carbonização total 100% S.C.(*) 8 8 Carbonização quase total > 90% S.C. 31 32 Carbonização parcial > 50% S.C. 33 34 Carbonização parcial de 20% a 50% S.C. 3 3 Carbonização parcial < 20% S.C. 13 13 Não carbonizado / com queimaduras > 50% S.C. 3 3 Não carbonizado / com queimaduras de 20% a 50% SC 1 1 Não carbonizado / com queimaduras < 20% S.C. 2 2 Não carbonizado / sem queimaduras 4 4 98 100 TOTAL (*) S.C. = Superfície Corporal Todos exibiam traumatismos intensos, a maioria (78 casos) com mutilações, isto é, com perda de partes anatômicas. Em um caso o corpo estava fragmentado, segundo Muñoz (1999) (Tabela 2.3). Segundo a Organização Panamericana de Saúde (1996), o Sistema de Atenção às Vítimas de Massa, se refere ao grupo de unidades, organizações e setores que funcionam conjuntamente, aplicando procedimentos institucionalizados, para reduzir ao máximo as mortes decorrentes do desastre, através de utilização de todos os recursos eficazes existentes. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 25 Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e os locais de perdas anatômicas, acidente tam – vôo 402, brasil 1996 Estado do cadáver Nº de casos % Inteiro com lesões por agente mecânico 19 19 Mutilado na cabeça 30 31 Mutilado na cabeça e membros 9 9 Mutilado na cabeça e tronco 2 2 Mutilado na cabeça, tronco e membros 9 9 Mutilado nos membros 22 23 Mutilado nos membros e tronco 4 4 Mutilado no tronco 2 2 Fragmentado 1 1 TOTAL 98 100 Este Sistema se baseia em: - Procedimentos pré-estabelecidos que devem ser empregados em situações de emergência e adaptá-los para atender a desastres de grandes proporções; - Aproveitamento ao máximo dos recursos existentes; - Preparação e respostas multisetoriais; - Estrita coordenação, pré-planejada e aprovada. Este Sistema é importante para: - Agilizar e ampliar os procedimentos diários para aproveitar ao máximo os recursos existentes; - Estabelecer uma cadeia de socorros multisetoriais bem coordenada; · RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 26 - Reestabelecer com rapidez e eficiência as operações normais dos serviços de emergência e atenção à saúde que o desastre de massa originou. Pretty et al. (2001) afirmaram que os desastres de massa representam um desafio significante para a equipe de identificação dental que freqüentemente é chamada para trabalhar na identificação das vítimas, através de evidências dentais. Que o sucesso deste difícil trabalho está alicerçado na preparação prévia e nos treinamentos da equipe de odontolegistas, além de destacar os relevantes aspectos emocionais e psicológicos que envolvem toda a equipe, durante o trabalho de identificação das vítimas. Pretty et al. (2001) confirmaram que o bem estar emocional do grupo que trabalha com desastres de massa é fundamental e que nos treinamentos prévios sobre este importante tema, um trabalho sobre psicologia tem que ser abordado e desenvolvido. Relataram Doyle & Bolster (1992), em 23 de Junho de 1985, uma aeronave da Air Índia AI-182 que voava de Toronto para Bombay caiu no mar e faleceram todos os 329 (trezentos e vinte e nove) passageiros a bordo. Foram recuperados no mar apenas 132 (cento e trinta e dois) corpos o que significa 39,8% das vítimas. A equipe multiprofissional para trabalhar na identificação das vítimas deste acidente aeronáutico, compunha-se de 4 (quatro) médicos legistas, 7 (sete) patologistas forenses, 4 (quatro) odontolegistas. Apenas 1 (um) corpo não foi identificado e após 6 (seis) semanas de trabalho, todos os 131 (cento e trinta e um) corpos foram liberados para os seus familiares. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 27 Outro aspecto detectado por Pretty et al. (2001) é que como uma característica do desastre de massa é a falta de previsibilidade de sua ocorrência e que o tempo para o trabalho de identificação de vítimas em acidentes aeronáuticos é demorado, demandando na maioria das vezes várias semanas de trabalho, um problema muito comum é que o odontolegista não está preparado para abandonar todos os seus afazeres e obrigações cotidianas, como escritórios de perícias, Universidades, e em um espaço curto de tempo, viajar para o local do acidente aeronáutico e permanecer por lá por um período indeterminado, não sabendo também de antemão sobre as implicações financeiras que sofrerá durante o tempo que estiver distante de suas atividades habituais. São fatores importantes que devem ser discutidos e elucidados anteriormente ao desastre de massa, para que o profissional te nha tranqüilidade de realizar um excelente trabalho e que psicologicamente esteja tranqüilo. 2.8 Métodos de identificação De acordo com, Buchner (1985), podem ser empregados vários métodos para estabelecer a identidade de um corpo humano. Alguns desses métodos são conhecidos por possuírem caráter científico (impressões digitais), enquanto outros métodos empregados têm caráter pouco fiéis (reconhecimento visual). Porém a confirmação de dados obtidos por métodos pouco fiéis pode elevar a probabilidade de uma identificação correta, se somados com os dados obtidos através de métodos científicos. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 28 Buchner (1985), afirmou que os registros geralmente usados para comparação com os resultados do exame são as listas das pessoas falecidas, fotografias, impressões digitais, fichas odontológicas, radiografias odontológicas e médicas, resultados de exames laboratoriais (grupo sangüíneo). Os métodos de identificação incluem: 1 – reconhecimento visual ; 2 – roupas e características pessoais; 3 – exame da impressão digital; 4 – exame odontológico; 5 – exame médico e radiológico; 6 – exame antropológico; 7 – exames de DNA; 8 – identificação através de exclusão. 2.8.1 Reconhecimento visual Buchner (1985), afirmou que o reconhecimento visual representa o método mais freqüente de identificação. Só pode ser utilizado em casos onde o corpo, e especialmente as características faciais estão bem conservadas e os parentes ou amigos podem ser localizados rapidamente. O valor deste método está limitado pelo fato de que um corpo que sofreu a ação do fogo, torna-se muitas vezes, irreconhecível visualmente. Além do mais, os parentes e amigos, ao examinarem os corpos visualmente e não conseguindo identificá-los, ficarão emocionalmente abalados, pelo fracasso RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 29 desta tentativa esperançosa de identificação. É possível, por estes motivos, que uma identificação errônea possa ser feita. Por estes motivos, o reconhecimento visual é o método menos fidedigno. 2.8.2 Roupas e pertences pessoais Buchner (1985), comentou que o exame de roupas e de pertences pessoais freqüentemente é muito útil em identificação, baseado em uma descrição cuidadosa e exame de cada artigo de roupa e pertences pessoais relacionados aos corpos e uma comparação é feita com a lista de pessoas falecidas. Placas de identificação de soldados encontradas no pescoço, pulseiras com identificação encontradas no pulso, cédula de identidade encontrada no bolso da vítima, são muito úteis para estabelecer a identidade. Outros pertences úteis incluem jóias gravadas, carteiras com as iniciais do nome. Buchner (1985), insistiu em afirmar que a identificação através de pertences ou roupas não é considerado um método fidedigno, pois, podem ser objetos perdidos e soltos ou podem ser trocados. Porém é importante como uma pista útil que conduz à identificação através de métodos mais científicos como o exame das impressões digitais e das características odontológicas. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 30 2.8.3 Exame das impressões digitais O método mais fidedigno para Buchner (1985), de identificação é através das impressões digitais. A especificidade deste método não pode ser desafiada, pois não existem impressões digitais iguais de pessoas. Quando são preservadas as mãos da vítima, o exame das impressões digitais provê uma identificação positiva rápida. Buchner (1985), afirmou que embora o exame das impressões digitais seja o melhor método para a identificação, o fato que a pele é destruída depressa após a morte da vítima, causando limitação na utilidade desta técnica. Os dentes são os elementos mais duráveis dos tecidos humanos, e os materiais utilizados para confeccionar as restaurações nos dentes, também são extremamente à destruição por substâncias químicas e por elementos físicos. Assim, a identificação odontológica se torna o único entre os diversos meios precisos de identificação de corpos quando ambos os métodos visual e de exame de impressões digitais são ineficazes, como por exemplo nos casos em que houver o estado de decomposição avançado, ou carbonizado. 2.8.4 Exame odontológico Silva (1997) alertou que o Cirurgião-dentista tem um trabalho de grande responsabilidade que é o de cuidar da saúde de seus semelhantes e implica nesta responsabilidade o cuidado na elaboração da documentação do paciente que é o prontuário odontológico que contém todas as fases da RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 31 atuação do profissional como o registro da anamnese, as anotações sobre o estado geral bucal do paciente antes do tratamento odontológico (condições pré-tratamento), e posteriores ao tratamento (condições pós-tratamento). O Código de Ética Odontológica expressa que é dever fundamental do profissional em Odontologia: Artigo 4º, Vl : - elaborar as fichas clínicas do paciente, conservandoas em arquivo próprio, Conselho Federal de Odontologia, (1998). Warnick (1987) acentuou a responsabilidade moral e ética do Cirurgião-dentista em manter o prontuário odontológico com os dados atualizados dos pacientes, pois estas informações são importantes e imprescindíveis em casos de necessidade de identificação através dos registros odontológicos. Conforme Pueyo et al. (1994), a identificação através dos trabalhos odontológicos realizados durante a vida do indivíduo, é de grande utilidade na Odontologia Legal, principalmente quando o corpo tenha sido queimado ou se foi atacado por alguma substância corrosiva. As próteses com coroas em ouro são facilmente detectáveis no exame após a morte, como também as coroas de porcelana. As próteses fixas (pontes fixas), nos dão por si sós dados muito precisos, em primeiro lugar, informam uma boa situação socioeconômica da vítima, e uma coroa em ouro nos diz que o trabalho é antigo, pois atualmente é mais freqüente que as próteses fixas sejam confeccionadas em cerâmica. Em todos estes casos, reconhecer o tipo de material utilizado para realizar a restauração, pode dar-nos uma indicação da época em que se realizou a restauração e com base no tipo técnica RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 32 utilizada, em alguns casos pode-se suspeitar de qual país foi realizado o tratamento. Juhás & Melani (2000) destacaram a documentação odonto-legal que o Cirurgião-dentista registra os meios utilizados nos atendimentos clínicos incluem: ficha clínica, receitas, atestados, radiografias, modelos de gesso. Botha (1986) afirmou que a qualidade do tratamento dentário e da higiene bucal, podem quase sempre indicar a posição social e financeira de um corpo não identificado. Certos tipos de coroas e pontes fixas protéticas odontológicas, são típicas de certos países. Na Europa ocidental, teremos facilidade de encontrar coroas e pontes fixas de materiais não preciosos. O tratamento odontológico similar em dois corpos pode indicar que se tratam de marido e mulher. Botha (1986) afirmou que as restaurações e próteses odontológicas são extremamente resistentes à deterioração físico-química além de que as características morfológicas dos dentes humanos garantem uma grande individualidade. Às vezes, a recuperação de um único dente ou fragmento de mandíbula, é importante para fazer uma identificação positiva, quando os registros antemortem são adequados. A dentadura adulta completa é composta de 32 (trinta e dois) dentes, com 05 (cinco) faces visíveis cada dente ao exame clínico. As combinações inumeráveis de dentes extraídos, lesões cariosas, restaurações e próteses que envolvem estas 160 (cento e sessenta) superfícies é a base da identificação dental. Além destas, numerosas características adicionais podem ser identificadas através das radiografias odontológicas que mostram RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 33 o padrão do trabeculado ósseo da maxila e mandíbula, esboço do seio maxilar. É importante enfatizar que a recuperação de um único dente ou do fragmento de mandíbula é o bastante para fazer uma identificação positiva, quando a ficha odontológica da vítima está disponível. Outro método especial que a odontologia auxilia na identificação humana é através da rugoscopia palatina, que através da morfologia das rugosidades palatinas são comparadas com as impressões de rugosidades palatinas presentes em modelos de gesso, dentaduras, afirmou Buchner (1985). A estimativa de idade através do exame das características morfológicas dos dentes é muito importante segundo Buchner (1985), e o critério para a determinação da estimativa da idade podem se dividir em duas categorias: até 20 anos de idade e outra categoria para maiores de 20 anos. Os resultados mais precisos sobre o desenvolvimento dos dentes nos arcos superior e inferior, concentra-se principalmente na faixa etária do nascimento até 14 anos e devem ser observados no estado de calcificação da coroa, erupção dos dentes, formação das raízes. Em torno dos 20 anos de idade, geralmente os dentes apresentam a formação completa. Harris (1981) expressou os sentimentos de odonto-legistas de todo o mundo sobre a necessidade de um sistema unificado internacional de notação dentária sobre as condições bucais após o término do tratamento odontológico. Concordou Buchner (1985), que a desvantagem do sistema dentário é que não existe um Centro oficial que catalogue as fichas odontológicas para sua utilização quando necessário. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 34 Para que a contribuição da classe odontológica seja efetiva na identificação humana, Silva (1997) preconizou a necessidade de padronização dos registros comumente utilizados pelos Cirurgiões-dentistas, para que a transmissão dos caracteres seja eficiente e facilitada. Que a notação preconizada pela Federação Dentária Internacional (FDI) , aprovada em Bruxelas, em 1970, seja utilizada pelos Cirurgiões-dentistas para representar os serviços odontológicos executados e as condições dentárias encontradas nos pacientes. Na notação adotada pela FDI, cada dente é representado por um número formado por dois dígitos. Estes dígitos, para os dentes permanentes, vão de 11 a 48, e para os decíduos de 51 a 85. (Figura 2.3). DENTES PERMANENTES ARCO SUPERIOR DIREITO ARCO SUPERIOR ESQUERDO QUADRANTE 1 QUADRANTE 2 18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28 ARCO INFERIOR DIREITO ARCO INFERIOR ESQUERDO 48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 QUADRANTE 4 QUADRANTE 3 DENTES DECÍDUOS ARCO SUPERIOR DIREITO ARCO SUPERIOR ESQUERDO QUADRANTE 5 QUADRANTE 6 55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 ARCO INFERIOR DIREITO ARCO INFERIOR ESQUERDO 85 84 83 82 81 71 72 73 74 75 QUADRANTE 8 QUADRANTE 7 Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação Dentária Internacional – FDI (Silva, 1997, p.332) RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 35 Gustafson (1966) citou estudos que indicam que ao serem expostos a temperaturas muito altas, os dentes podem apresentar-se friáveis a 205ºC e serem fraturados até reduzirem-se a cinzas aproximadamente a 482ºC. Mas os dentes podem estar protegidos de tais temperaturas pelos músculos e ossos que os envolvem e é provável que os elementos dentários resistam a temperaturas consideravelmente mais altas. Conforme Arbenz (1988), “os dentes e os arcos dentários podem fornecer em certas circunstâncias, subsídios de real valor para a solução de problemas médico-legais e criminológicos, de sorte a constituir mesmo, os únicos elementos com os quais pode contar o Perito”. Poller (1975) e Saferstein (1981) ressaltaram a existência de vários milhões de diferentes combinações das impressões digitais o que resulta em, praticamente, uma individualidade. Isto pode ser transportado para a cavidade bucal. Se considerarmos um indivíduo portador dos 32 (trinta e dois) dentes com cinco faces, visíveis, cada um, teremos um total de 160 (cento e sessenta) faces e analisando-se a existência de dentes perdidos, restaurados, presença de próteses, morfologia radicular, defeitos ósseos, teremos vários milhões de combinações garantindo, dessa maneira uma individualidade. Para Simpson (1980) “há casos em que um único dente isolado pode ser suficiente para identificação”, assim, nestes casos, uma única radiografia periapical seria suficiente. Como a evidência dentária pode ser o principal método para resolver questões vitais de identificação humana, o odonto- RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 36 legista é reconhecido como um membro importante da equipe de investigação. “No desastre em pauta, 15% das vítimas foram identificadas por reconhecimento direto, 26% por dactiloscopia, 8% por exame de DNA e os demais 51% pelos exames antropológicos e odonto-legal, geralmente associados entre si ou a esses outros métodos. Cotejando esses dados com os da literatura, evidencia-se que o exame odontológico é o método mais utilizado para a identificação de vítimas de desastre de massa”, afirmou Muñoz (1999). 2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais utilizados em odontologia Pueyo et al. (1994) afirmaram que as condições em que se encontre um cadáver, a influência atmosférica, o terreno em que permanece o corpo, são fatores importantes que influenciam na maior ou menor rapidez dos fenômenos putrefativos. Estes fenômenos são mais rápidos quando se combina com o grau de umidade do terreno e sua constituição química. Para Pueyo et al. (1994) os dentes e os materiais utilizados para restaurá-los, irão sofrer uma série de alterações quando submetidos a ação do calor. As estruturas dentárias modificam-se, na dependendo da temperatura que são submetidas, o tempo de exposição e a curva de elevação da temperatura. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 37 2.9.1 Efeitos do fogo Botha (1986) relatou que em um incêndio experimental em Mímico, Ontário (EUA), uma casa de dois andares foi queimada e 42 (quarenta e dois) minutos foram necessários para se atingir a temperatura máxima de 1.274º C no andar térreo, enquanto que o segundo andar não atingiu mais do que 232º C. Quando o piso do segundo andar caiu, este atingiu 1.004º C, mas caiu logo para 870º C. Classificação de Queimaduras: Tipo I - queimadura da epiderme Tipo II - queimadura da epiderme e da derme; Tipo III - queimadura profunda Essa classificação de Wilson’s é útil para descrever achados anatômicos mórbidos em relatórios postmortem. Corpos queimados assumem a pose pugilística, que é uma típica postura dos boxeadores, onde os braços se posicionam puxados para cima e os punhos erguidos em posição de defesa. Isso é causado pela coagulação, pelo calor e pelo encurtamento dos feixes de músculos flexores mais fortes. Danos ao corpo humano: As fases de tempo-destruição para um corpo adulto após ultrapassar a temperatura de 680º C são: • braços seriamente queimados após 10 minutos; • pernas seriamente queimadas após 14 minutos; • ossos da face e dos braços expostos após 15 minutos; RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 38 • costelas e crânios expostos após 25 minutos; • fêmur e tíbula completamente queimados após 35 minutos. Chávez (1966) fez uma minuciosa e exaustiva descrição das características que apresentam os corpos carbonizados: 1. Ocorre a diminuição de volume causada pela perda de líquido e substâncias orgânicas produzidas pela combustão. 2. Variação do aspecto do cadáver (aspecto “bizzarro”), causado pela rigidez muscular produzida pela ação do calor. 3. A pele se apresenta dura e seca com fissuras regulares, de cor negra e quebradiça. 4. Os músculos podem apresentar todos os graus de “cozimento” como o apresentado por “carnes assadas”. 5. Quando a carbonização é muito avançada, resulta eventualmente em abertura da caixa toráxica, do crânio e em algumas vezes até do abdômen. 6. Se o que foi citado anteriormente é produzido, ocorre a carbonização do cérebro, e das vísceras toráxicas e abdominais. 7. Os ossos se separam a nível das articulações apresentando-se freqüentemente fraturados e carbonizados. 8. Os olhos sofrem diferentes transformações; primeiro, mudam sua cor natural, a córnea se torna leitosa, o cristalino opalescente, e se a temperatura elevada continua, terminam carbonizando-se. 9. O sangue do coração e dos grandes vasos se transformam em uma pasta dura e de cor vermelha viva. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 39 10. Os membros e mãos se encolhem, de duas a três vezes em relação ao seu tamanho natural. 11. O cérebro forma uma pequena massa. 12. A cabeça de um adulto apresenta-se como a de um menino de 7 a 12 anos. Particularmente, o crânio sofre alterações importantes: 1. Os ossos se “fissuram”, “racham” e podem até mesmo apresentar perfurações. 2. A pressão dos vapores abre a caixa craniana e destrói a duramáter e forma uma hérnia no cérebro. 3. A boca pode se fechar e formar uma espécie de caixa forte que protege os tecidos do interior da boca da ação do fogo, colaborando ao constante estado de umidade em que se encontra a boca. 4. O palato, de grande importância se levarmos em conta que aí se encontram valiosos elementos identificadores (papilas palatinas), que podem conservar a sua morfologia anátomo-macroscópica sem sofrer alterações pela ação do fogo. 5. O maxilar , na maioria dos casos, por efeito do violento traumatismo, se encontra partido em dois a nível da linha média incisal. 6. A mandíbula, ao sofrer o impacto, algumas vezes se fratura na altura do mento. 7. Quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles da boca e carboniza a língua . RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 40 2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca Botha (1986), relatou as transformações decorrentes da ação do fogo nos dentes, ossos, músculos da cavidade bucal e nos materiais odontológicos utilizados em dentística e prótese dentária: A boca se fecha e forma uma espécie de caixa forte, que protege os tecidos internos da ação do fogo, com isto, colaborando com o constante estado de umidade em que sempre se encontra a boca; A língua se entumesce e protege o palato; Os dentes conservam geralmente sua posição original em seus respectivos alvéolos; No palato, estão as papilas palatinas que geralmente conserva a sua morfologia anátomo-macroscópica, sem sofrer alteração por ação do fogo, o que é de grande importância. 2.9.3 Mandíbula e maxila A maxila na maioria dos casos por efeito do violento traumatismo, se encontra dividida e separada a nível da linha média incisal; A mandíbula, ao sofrer o impacto, muitas vezes ocorre a fratura na altura do mento; quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles do palato, carboniza a língua, impossibilitando a utilização das papilas rugopalatinas. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 2.9.4 41 Esmalte Os danos ao esmalte dentário, especialmente na superfície vestibular pode variar de um leve chamusco, à completa carbonização ou destruição. As coroas de esmalte podem também explodir em fragmentos ou se separar como uma concha, a partir do núcleo de dentina subjacente. Este fenômeno pode ser explicado pela presença de 8% a 10% de água nos túbulos dentinários, que ao alcançar o ponto de ebulição promove pressão resultando na separação ou explosão da coroa de esmalte, dependendo da exposição gradual ou repentina ao calor intenso. O núcleo de dentina subjacente também se contrai por perder seu conteúdo de água. As modificações estruturais do esmalte são importantes em altas temperaturas: o esmalte composto de 96% de matérias inorgânicas resiste bem ao calor devido a sua natureza prismática que torna friável a temperaturas superiores a 400º C. 2.9.5 Dentina e cemento Estes tecidos estão normalmente protegidos pelo esmalte ou osso, nas rachaduras multidirecionais que podem ser produzidas à uma temperatura de 400º C. A cor da dentina e cemento queimados normalmente é preto ou marrom. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 42 2.9.6 Restaurações em amálgama O amálgama é constituído de prata, estanho, cobre, zinco e mercúrio que se derrete a 100º C e ferve a 356º C. Com a perda do mercúrio, a liga usualmente começa a se pulverizar em complexos prata-estanho e cobrezinco. A prata-estanho derrete a 500º C , porém a prata sozinha derrete a 960º C e o estanho a 231º C, o complexo se rompe formando um pó preto: óxido de prata. Por volta de 500º C a 1000º C, o amálgama perde a forma, cor e integridade. As gotículas de mercúrio podem ser absorvidas por restaurações de ouro, perdendo sua verdadeira identidade. 2.9.7 Resinas compostas Trabalho experimental realizado por Botha (1986), em molares extraídos e restaurados com resina composta “P-30” e “Occlusin” e submetidos à temperatura de 900º C por 90 minutos em um forno crematório. Os resultados mostraram a quase completa destruição dos dentes com restaurações virtualmente inalteradas. O “P-30”, aquecido à temperatura entre 815º C e 900º C mudou consistentemente de uma coloração branco-amarelada, para uma cor cinza. O “Occlusin” testado similarmente, mudou de branco-amarelado para uma cor de papel branco. Conseqüentemente estas restaurações podem provir um excelente meio de identificação se as fichas dentárias apontarem o uso deste tipo de material. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 43 2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses As temperaturas mínimas de fusão para as ligas de ouro variam entre 870º C a 1070ºC, dependendo da porcentagem presente do metal nobre. Ligas de metal não precioso, utilizadas na confecção de próteses parciais, derretem entre 1275º C e 1500º C. Trabalho experimental tem demonstrado que próteses parciais de cromo-cobalto submetidas à temperatura de 900º C por 90 (noventa) minutos, resultou na aparição de mancha na superfície da prótese. A temperatura de fusão para ligas de metais nobres varia entre 1150º C e 1350º C, e a de metais não nobres, entre 1300º C e 1450º C. Dentes de porcelana têm fusão variando entre 870º C e 1370º C. Trabalho experimental tem demonstrado que os dentes de porcelana não sofrem qualquer dano quando colocados em fornalha crematória à 900º C por 90 (noventa) minutos. Bases de prótese total (dentadura) e de dentes em acrílico polimetil metacrilato despolimerizam o monômero a 450º C. 2.9.9 Tratamento de canal Pueyo et al. (1994) elucidaram que a endodontia (tratamento de canal) pode ser demonstrada através de radiografias e possui um valor extraordinário para a identificação, pois com as radiografias anteriores do Cirurgião-dentista que realizou o tratamento de canal, ficará fácil a comparação com a radiografia a ser obtida após o desastre. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 44 Botha (1986) relatou que dentes com suas raízes obturadas com cones de gutta-percha foram colocados para experiência em um incinerador à 815º C por 90 (noventa) minutos. O material obturador ferveu para fora do forâmen apical do dente com canais amplamente abertos. Isto não foi notado nos canais de raízes mais estreitas. A comparação das radiografias de pré e pós incineração revelou zonas radiolúcidas nos preenchimentos nos preenchimentos dos canais dos dentes submetidos ao calor. Endometazona e eugenol foram utilizados em uma experiência como selador ou como material de preenchimento da raiz. As radiografias de pós incineração revelaram radioluscências similares àquelas achadas nos canais preenchidos com gutta-percha, submetidos ao mesmo tratamento. Um pino de aço cimentado no canal da raiz não mostrou nenhuma mudança quando aquecido à 815º C por 90 (noventa) minutos em uma experiência. O conhecimento da radiopacidade ou radiolucidez dos materiais de preenchimento e revestimento é essencial, especialmente dos novos compostos e cimentos. Os materiais utilizados em restaurações odontológicas e próteses, sofrem as seguintes alterações, segundo Pueyo et al. (1994): 1. Porcelana. As porcelanas se classificam em três grupos: alta, média e baixa temperatura, com temperaturas de fusão de 1300º a 1370ºC para o primeiro; de 1090º a 1260ºC para o segundo; e de 870º a 1065ºC para o terceiro grupo. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 2. 45 Silicatos. Apresentam o aspecto branco leitoso entre 800º e 1000ºC, formando borbulhas a partir de 1000ºC. 3. Resinas. Desaparecem a uma temperatura entre 500º e 700ºC. 4. Compósitos. Produzem sua dissolução a partir de 500ºC. 5. Amálgamas. Aos 200ºC o amálgama se dissocia liberando o mercúrio e acima desta temperatura apresenta um aspecto pulverulento. Ao amálgamas são as restaurações que resistem menos tempo à ação do fogo: em 15 (quinze) minutos a 175ºC formam-se borbulhas gasosas voltando ao seu estado anterior depois de esfriar-se. 6. O comportamento do metal submetido a ação de temperaturas produz diferentes modificações conforme elevadas a sua composição: O primeiro grupo contém 18% de cromo, 8% de níquel e de 0,02 a 0,05% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1400º a 1450ºC. O segundo grupo contém 18% de cromo, 14% de níquel e de 0,03 a 0,08% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1290º a 1395ºC. 7. A utilização do cromo-cobalto na confecção de aparelhos de prótese dentária removível (roach), apresenta o ponto de fusão no intervalo entre 1290º a 1395ºC. Utiliza -se também para confeccionar este tipo de aparelho removível, o níquel-cromo que apresenta um intervalo de fusão ainda mais alto, entre 1350º a 1400ºC. 8. Os metais nobres nas suas formas puras são cada vez menos empregadas em odontologia devido ao seu elevado preço. O ouro RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 46 puro, que já foi utilizado a alguns anos atrás em confecção de restaurações e até mesmo em confecção de pontes fixas, apresenta o ponto de fusão em 1063ºC. As ligas de ouro possuem componentes que elevam o seu ponto de fusão conseguindo aumentá-lo para 1420ºC. 2.10 A importância da radiografia dentária Muñoz (1999) esclareceu que “no material odontológico oferecido, o de maior confiabilidade foram as radiografias”. Kogon & Maclean (1996) estudaram a validação de radiografias intraorais em função do tempo decorrido entre exposições antemortem e postmortem. Períodos de até 30 anos foram testados, nos quais houve intervenção odontológica, como por exemplo, substituição de restaurações e extrações de dentes. Os autores concluíram que após um intervalo de 20 anos, a acuidade era reduzida significativamente. Gruber et al. (2001) ressaltaram que vários métodos são empregados na identificação de restos humanos, sendo que a maioria é baseada na comparação entre dados antemortem e postmortem disponíveis. Embora a técnica da impressão digital seja considerada a mais precisa, em muitos casos ela não pode ser utilizada, especialmente quando os corpos foram mutilados, decompostos, queimados ou fragmentados. Nestas situações, os métodos utilizados pela Odontologia Legal tornam-se extremamente valiosos, uma vez que os dentes e as restaurações são muito resistentes à destruição pelo fogo, preservando numerosas características individuais. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 47 Assim, oferecem a possibilidade de uma identificação acurada e aceita pelas autoridades legais. Historicamente, para Gruber et al. (2001), a aplicação da radiologia em ciência forense foi introduzida em 1896, apenas um ano após a descoberta dos raios X por Roentgen, para demonstrar a presença de balas de chumbo na cabeça de uma vítima. Em um desastre de massa, Singleton (1951) empregou os raios X no trabalho de identificação de vítimas. Desde então, Cirurgiões-dentistas com treinamento especial e experiência em Odontologia Legal, têm sido freqüentemente requisitados para colaborar no processo de identificação de corpos individuais e de desastres de massa. A obtenção de radiografias intra-orais de boa qualidade em pacientes vivos, em geral, não apresenta grandes dificuldades, para Oliveira et al. (1999). Entretanto, quando este tipo de radiografia deve ser realizado em dentes de pessoas falecidas, cujos tecidos moles perderam a elasticidade e tornaram-se rígidos (rigor mortis), a inserção do filme, bem como sua retenção na posição correta entre a língua e a superfície lingual dos dentes, oferece, freqüentemente algumas dificuldades. Particularmente complicada torna-se esta operação em corpos parcial ou totalmente carbonizados, devido à natureza extremamente frágil dos restos dentais. O uso de força para a introdução do filme pode acarretar a destruição da dentição, com perda subseqüente de informações cruciais. As radiografias intra-orais comuns podem fornecer evidências importantes qua ndo empregadas em Odontologia Legal devido a grande RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 48 quantidade de informações registradas no filme radiográfico, Gruber et al. (2001). Características anatômicas, como o tamanho e formas das coroas, anatomia pulpar, posição e forma da crista do osso alveolar são muito úteis. O tratamento dos dentes resulta em características únicas e individuais que, na maioria das vezes, são bem visíveis nas radiografias comuns. Assim, a técnica de identificação consiste essencialmente na comparação entre as radiografias obtidas em vida (antemortem), arquivadas nos consultórios odontológicos, com as radiografias obtidas após a morte (póstmortem). Para Goldstein et al. (1998) a radiologia serve como um dos tipos mais objetivos de informação para o diagnóstico de tratamentos clínicos e é considerada como evidência definitiva em casos de identificação. Goldstein et al. (1998) afirmaram que a comparação entre as radiografias odontológicas pré e pós-morte constitui uma base importante para a identificação humana. Em casos onde os corpos necessitam de identificação utilizando métodos comparativos científicos, a radiografia odontológica está sempre presente. Fichas e radiografias odontológicas são de importância inestimáveis na identificação humana em desastres de massa. As radiografias odontológicas são de alto valor em identificação forense pois, reproduzem a condição precisa da anatomia dos dentes e da mandíbula. Para Oeschger & Hubar (1999), as radiografias odontológicas ante e pós-morte, são valiosas provas legais para utili zação na identificação de pessoas. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 49 Mailart et al. (1991) afirmaram que a radiografia dento-maxilo-facial desempenha um importante papel na odontologia forense, pois a imagem radiográfica dos dentes e dos ossos da face é um registro permanente destes tecidos. No caso de uma identificação de corpos, basta reproduzirem radiografias dos elementos dentários ou da face, e compará-las com as radiografias realizadas quando a vítima ainda era viva. Para Mailart et al. (1991) dentre os detalhes que devem ser analisados entre as radiografias pré e pós-morte estão: o formato dos dentes e raízes, formato das restaurações, forramento das restaurações, dentes cariados, tratamentos endodônticos, dentes ausentes, dentes inclusos, raízes residuais, dentes supranumerários, grau de atrição ou abrasão, fraturas coronárias, grau de reabsorção óssea por doença periodontal, diastemas, oclusão, próteses, além do padrão do trabeculado ósseo, reparos anatômicos (forâmen mentoniano, canal mandibular), patologias ósseas e apicais, canais nutritivos e contorno do seio maxilar, orientando-se a análise dos aspectos mais para os menos evidentes. 2.11 Radiologia digital na odontologia legal Gruber et al. (2001) destacaram o avanço espetacular da microeletrônica e da informática, aliado à redução no custo de equipamentos computadorizados, permitiu o desenvolvimento de novas técnicas mais poderosas e confiáveis de comparação de imagens radiológicas com aplicação em Odontologia Legal. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 50 Existem inúmeras variações da técnica radiológica digitalizada porém a metodologia consiste nas seguintes etapas: 1. digitalização de imagens radiográficas mediante a utilização de um scaner ou câmara de vídeo, ou ainda, mediante aquisição da imagem diretamente de um sistema de raios X acoplado a um computador com monitor, impressora e gravador de CD-ROM; 2. manipulação das imagens por um software adequado, permitindo comparações, seja por superposição, interposição ou subtração de imagens, de acordo com Wood et al. (1999). Para Gruber et al. (2001), estas técnicas modernas permitem comparar com precisão relações espaciais das raízes e das estruturas de suporte dos dentes em imagens antemortem e postmortem. Há softwares que apresentam recursos de rotação, translação e ajuste de tamanho das imagens, facilitando a correção do posicionamento da radiografia postmortem em relação à antemortem, sem que haja a necessidade de novas exposições, segundo Hubar & Carr (1999). Uma aplicação militar interessante, financiada pela Marinha Americana, foi descrita por Southard & Pierce (1986): radiografias digitalizadas antemortem, obtidas em diferentes consultórios odontológicos, foram arquivadas em computadores portáteis e, após um desastre, transmitidas via modem para a localidade do evento para fins de análise forense. Gruber et al. (2001) concluíram que “pouco tempo após a descoberta dos raios X, no fim do século XIX, e ao longo do século XX, a análise de RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 51 registros dentais acompanhados de radiografias antemortem e postmortem tornou-se uma ferramenta fundamental no processo de identificação em Odontologia Legal. A partir da segunda metade da década de 80 até os dias atuais, o grande avanço tecnológico na área de informática culminou em um refinamento da técnica, por meio da radiografia computadorizada, oferecendo maior acuidade nas identificações”. Hanaoka et al. (2001) destacaram a aplicação da tecnologia da radiografia dentária digital na identificação de dois casos de assassinato. Em ambos os casos, a radiografia digital provou que o seu uso é simples, rápido e efetivo, permitindo realizar a superposição e ampliação das imagens radiográficas. Foram obtidas pela utilização deste sistema no necrotério, mais de 20 (vinte) imagens digitais de diferentes ângulos no período de 5 (cinco) a 6 (seis) minutos. As principais vantagens do sistema de radiografia digital direto são: 1. A dose de radiação é relativamente baixa; 2. Somente 2 (dois) a 3 (três) segundos após a exposição da radiação são necessários para a obtenção de imagens radiográficas, não necessitando de equipamentos adicionais como câmara escura, revelador, fixador e demais componentes para a revelação dos filmes radiográficos tradicionais; 3. As imagens obtidas podem ser analisadas facilmente, aumentando-as, medindo-as ou colorindo-as; 4. As imagens eletrônicas podem ser armazenadas; RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 5. 52 Receber, enviar e armazenar as imagens de radiografias digitais por redes de computadores é muito fácil. Estas vantagens são muito importantes e pertinentes na identificação pelo exame dos dentes, principalmente para a utilização do método de comparação de radiografias anteriores à morte, com as obtidas após a morte, a angulagem do aparelho de raios x tem que ser a mesma. Será fácil obter com o sistema de radiografia digital esta mesma angulagem e principalmente realizar a superposição destas imagens pelo sistema computadorizado e obter os pontos coincidentes com maior rapidez. Ressaltaram ainda Hanaoka et al. (2001) que no futuro próximo, este sistema de radiografia digital seja utilizado para transmitir dados e registros antemortem e postmortem por redes de computadores e esta possibilidade abre oportunidades ilimitadas para a identificação dentária em todo o mundo. 2.12 Radiografias panorâmicas e sua utilização nas especialidades odontológicas Brandt et al. (2000) relataram que o conceito dos Raios X extrabucais panorâmicos rotatórios foi criado no Japão pelo Dr. Numata em 1933. Várias especialidades em odontologia utilizam rotineiramente a radiografia panorâmica com variados objetivos. No diagnóstico bucal, a interpretação radiográfica combinada às informações do paciente, resulta na elaboração do plano de tratamento. Ultimamente a radiografia panorâmica tem sido utilizada como referência para se executar exames tomográficos afim de RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 53 determinar a extensão de alguma nosologia que envolva os tecidos do sistema estomatognático. O exame radiográfico é primordial em Diagnóstico Bucal sendo uma das mais importantes fontes de informações, às vezes a única. Segundo considerações de Brandt et al. (2000), ninguém constrói uma estrutura nova numa fundação não conhecida. Quando do preparo do paciente para uma prótese dentária, o Cirurgião-dentista deve analisar radiograficamente as linhas de estruturas da área maxilofacial. Em casos de edêntulos e idosos, as radiografias panorâmicas causam menor desconforto além de permitir uma melhor visão das estruturas ósseas, da área dentária e qualquer patologia como dentes impactados, cistos e tumores intra-ósseos. Os periodontistas necessitam de detalhes e nitidez da região periapical e do osso alveolar. A capacidade das radiografias periapicais fornecerem estes detalhes e nitidez, tornam-se esta técnica a de escolha para esta especialidade. Porém as radiografias periapicais não são suficientemente grandes para mostrar os limites das lesões de maiores dimensões enquanto as radiografias panorâmicas são excelentes para avaliar os ossos do complexo maxilo -facial de forma rápida, porém mostram somente perdas ósseas moderadas ou severas. Uma completa avaliação periodontal do paciente, requer ambos os tipos de radiografias, periapicais e panorâmicas, afirmaram Brandt et al. (2000). A necessidade do exame radiográfico em crianças, no geral, é para detectar cáries e patologias. Entretanto, devido a cavidade bucal ser pequena, a criança é freqüentemente um paciente difícil para realizar a RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 54 radiografia intrabucal. Já a radiografia panorâmica é notadamente bem tolerada pelas crianças, e em casos mais difíceis, é geralmente a única técnica radiográfica praticada. A Odontopediatria está interessada na relação do crescimento maxilo-mandibular e desenvolvimento da dentição decídua e permanente. A radiografia panorâmica é um excelente caminho para obter uma visão contínua da área dental em um filme: todos os dentes presentes, dentes perdidos, supranumerários e impactados, além de enfermidades que afetam o osso podem ser facilmente detectados e acompanhados. A radiografia panorâmica é melhor entendida pelos pais da criança e por ela própria. A fácil visualização permite ao Cirurgião-dentista explicar e exemplificar o objetivo e a necessidade do tratamento, para Brandt et al. (2000). A Ortodontia está intimamente relacionada com pacientes onde a dentição permanente começa a erupcionar. Em todos estes pacientes, é de interesse vital para a ortodontia, o crescimento maxilo-mandibular, o desenvolvimento do crânio e o espaço para a dentição. A ortodontia, mais do que qualquer especialidade na odontologia, pesquisa estruturas ósseas como destacaram Brandt et al. (2000). A importância dos implantes dentários é fato aceito universalmente e qualquer Cirurgião-dentista que queira colocar implantes, necessita saber sua correta posição. A radiografia panorâmica é muito utilizada para realizar o planejamento cirúrgico e protético para a confecção do implante (Brandt et al. 2000). RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 55 As entidades anatômicas devem ser vistas de uma forma ampla, geral, possibilitando ao cirurgião buço-maxilo-facial um estudo mais detalhado para o planejamento do ato cirúrgico. As radiografias panorâmicas são bastante úteis na Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo -facial pela abrangência de estruturas que elas captam, com pequena dosagem de radiação e fácil execução. Além disso, pacientes com fraturas ou mesmo bandados e todos aqueles que apresentam enfermidades que dificultam a utilização de outras técnicas radiográficas devido à impossibilidade de abertura da boca, podem valer-se desta técnica da radiografia panorâmica, segundo Brandt et al. (2000). No entendimento de Brandt et al. (2000), apesar da evolução da utilização das radiografias panorâmicas nas diversas especialidades da Odontologia, as radiografias intrabucais também são de extrema necessidade. Uma completa a outra. “As radiografias panorâmicas (visão geral da cavidade bucal, detalhes dos dentes e partes mineralizadas) foram as que ofereceram melhores resultados” na identificação, ressaltou Muñoz (1999). 2.13 Exame médico e radiológico Buchner (1985) afirmou que o exame externo dos corpos pode fornecer informações relativo a sexo, estimativa da idade, estatura e peso, cor dos olhos e cabelo. As tatuagens da pele, cicatrizes (devido a cirurgias anteriores). Nestes casos a fotografia é indicada dos sinais particulares das vítimas, que auxiliarão muito na identificação. Ao exame interno, são obtidas RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 56 informações relativo à causa da morte, e evidências de doenças anteriores para comparação com registros médicos. A evidência de remoção cirúrgica de órgãos como apêndice indica um procedimento cirúrgico anterior e pode servir como uma base para comparação. Em casos de corpos severamente carbonizados, a distinção entre os sexos, pode ser feita pelo exame dos órgãos genitais internos. As radiografias médicas após a morte pode demonstrar características do esqueleto como fraturas antigas, parafusos cirúrgicos, anomalias ósseas congênitas. O exame radiográfico representa um papel muito importante em casos de corpos esqueletizados, queimados para a identificação. Através do exame radiográfico podem ser descobertos objetos metálicos e materiais externos (projétil) não observados durante o exame médico clínico. 2.14 Exame antropológico Buchner (1985) ressaltou que o esqueleto humano contêm uma abundância de informações que pode conduzir à determinação fidedigna da idade, sexo, raça, estatura. Pode ser necessário dissecar os ossos longos para a determinação da altura em corpos em estado adiantado de putrefação, corpos mutilados ou incinerados, ou examinar os ossos pélvicos para esclarecimentos sobre sexo, raça e estatura. A pélvis é a parte mais importante do esqueleto para determinar o sexo. Uma mina de informações está disponível nas medidas dos ossos que caracterizam muitas raças. O exame do crânio, pélvis e dos ossos longos são importantes. Os ossos da RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 57 perna, principalmente o fêmur e a tíbia traduzem em estimativas mais precisas para a determinação da estatura. 2.15 Identificação por exclusão A identificação por este método de exclusão só é possível em um desastre de massa onde está previamente determinado uma lista precisa de vítimas que corresponde com o número de corpos encontrados, segundo Buchner (1985). A identificação de uma mulher em um acidente aeronáutico pode ser feita pelo método de identificação por exclusão se é conhecido previamente que todos os passageiros à bordo da aeronave eram homens, com exceção de uma mulher, e que ao exame médico-legal comprovou a presença de características femininas em apenas um dentre todos os corpos examinados. Outro exemplo de identificação por exclusão é a identificação de várias crianças queimadas em acidente de ônibus. As características dentárias habilitam a identificação fundamentada na idade como característica de grande diferencial. Este método de exclusão não é muito fidedigno, porém em certas ocasiões, às vezes é o único método disponível para a identificação. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 2.16 58 O odonto-legista no desastre de massa Muñoz (1999) destacou que “a ajuda de um odontólogo experiente em desastres aéreos com muitas vítimas, é de extraordinária valia, principalmente porque uma ficha dentária, tecnicamente bem elaborada, permite a identificação inequívoca”. Pueyo et al. (1994) ressaltaram que a atuação do odonto -legista é fundamental na identificação dos cadáveres nos desastres de massa não esquecendo que antes que ele intervenha, devem ser empregados todos os métodos possíveis de identificação, como a dactiloscopia, exames sorológicos e exames médicos legais, nos casos em que estes exames são possíveis de serem empregados. Se apesar da prática destes métodos os resultados para a identificação são negativos, neste instante o odonto-legista entra em ação e inicia o seu trabalho para identificar as vítimas, através do exame odontológico, e das características que apresentam os arcos dentários da vítima. Os dados anteriores à morte são imprescindíveis para a utilização do método comparativo, com os elementos apresentados ao exame pós desastre. Para Muñoz (1999), “o contato e entrevistas com familiares e com outros profissionais, com a finalidade de obter os dados das pessoas desaparecidas para confronto deve ser realizado por pessoas treinadas. Além disso, deve haver maior número de profissionais (médicos e dentistas) treinados para integrarem a equipe de necroidentificação, no caso de um acidente de massa. Ainda em termos de pessoal, seria essencial ao bom RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 59 andamento do trabalho, a presença de um grupo de apoio logístico, para providenciar todo o material que se fizesse necessário às equipes periciais” Pueyo et al. (1994) asseguraram que como uma situação caótica de desastre de massa faz necessário uma reação rápida, o melhor momento para começar a organizar esta reação é antes que o desastre aconteça. Desta forma, parece estar claro que todo país com capacidade de se organizar preventivamente ao desastre de massa deveria possuir um grupo de odonto -legistas. Os grupos podem organizar-se a nível de estados, regiões geográficas ou inclusive a nível federal. O que é importante, é que toda a área geográfica do país seja abrangida pelos grupos de odonto-legistas. Recomenda-se reuniões programadas regulares e exercícios práticos simulados para elaboração de questionários, odontogramas, que auxiliem na identificação humana, assim como palestras educativas sobre diversos temas em um Programa de Educação Continuada para toda a equipe. A experiência em numerosas situações de desastres, sugere certos requisitos de organização. Primeiro, deverá haver um Coordenador claramente designado com autoridade e responsabilidade para concluir a identificação dentária. Este deverá nomear uma ou mais pessoas para atuar com ele ou substituí-lo quando precisar de se ausentar. Tanto o Coordenador como o seu imediato devem possuir à sua disposição durante todo o tempo, o número de telefones do trabalho, residência e do telefone celular de todos os membros treinados do grupo de odonto-legistas que desejam prestar serviços em casos de desastres de massa. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 60 Todo o membro do grupo deve estar previamente familiarizado com os procedimentos que devam obedecer em situação de desastre, particularmente os métodos normais de elaboração de odontogramas. Deve haver procedimentos escritos que determinem como agirá o grupo e que descrevam as tarefas que serão realizadas. O manual deve incluir um modelo de odontograma o quadro de desenvolvimento etário dos dentes, e dados de Atlas do Crânio e seus anexos. Os membros do grupo devem estar dispostos a realizar todas as tarefas necessárias, inclusive de fazerem a tomada radiográfica e o dever sagrado: os registros odontológicos. É absolutamente essencial que este grupo de odonto-legistas tenha uma relação de trabalho com os órgãos legalmente encarregados da investigação de desastres, para que juntos desenvolvam um trabalho em equipe. Quando for notificado um desastre ao Coordenador, ele deverá imediatamente contactar todos os membros do grupo e confirmar se estão dispostos ao trabalho. Também deve verificar a disponibilidade da equipe e dos materiais. Entretanto o Coordenador avaliará as exigências de pessoal, espaço, tempo. Também deverá certificar-se prontamente de que se consigam os dados antemortem dos envolvidos no desastre , pois a falta destas informações limitará o sucesso das investigações. A qualidade da investigação melhora quando o grupo de odontolegistas é enviado ao local do acidente aeronáutico. É mais provável que estes peritos identifiquem dentes enegrecidos e pedaços de mandíbulas por RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 61 exemplo, do que as pessoas que não sejam familiarizadas com a odontologia. No local do acidente, deverá ser realizado uma descrição das principais características da cena. Anotação cuidadosa da localização onde o corpo foi recolhido e o odonto-legista fará um exame rápido da boca para avaliar o estado bucal. Portanto, será capaz de observar se é necessário procurar coroas protéticas fraturadas, dentes avulsionados, próteses parciais ou totais que estão fora da boca e assim sucessivamente. Logicamente que o exame bucal definitivo será realizado no Instituto de Medicina Legal. Tudo o que possa recolher, será colocado em bolsa individual e numerada, junto ao corpo para que seja levado ao Instituto de Medicina Legal. Ressaltou Botha (1986) que a identificação é um trabalho de equipe. Como os patologistas forenses, a polícia e os técnicos têm sua contribuição própria para se fazer a identificação, é essencial que o odonto-legista não trabalhe sozinho. O odonto-legista deve acompanhar a polícia e o patologista forense ao local do acidente, e, posteriormente, fazer a identificação em local apropriado. O corpo deve ser examinado para se estabelecer o status dental que poderá auxiliar na procura de fragmentos na área ao redor do corpo. Estes fragmentos podem ser de partes da mandíbula, dentes avulsos, peças metálicas, coroas, ponte fixa, aparelho ortodôntico, dentadura parcial ou completa. Um saco plástico deve ser colocado ao redor da cabeça das vítimas e pode ser seguro por elásticos, como prevenção de perdas de dentes ou restaurações no transporte ou na manipulação dos corpos. Os fragmentos RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 62 encontrados deverão ser colocados em um saco plástico devidamente identificado e conduzido junto ao corpo da vítima. Chegando no local para exames, o patologista e o odonto-legista devem estar presentes qua ndo os sacos forem abertos e os conteúdos examinados e identificados. O odontolegista deve examinar a boca, língua, esôfago, traquéia e pulmões. No incêndio, o gás produzido nos intestinos, pulmões e estômago poderá causar a protrusão da língua, resultando uma certa proteção para os dentes. A língua deve ser retirada anteriormente, ou pressionada para a cavidade oral. O lábio superior se mostra normalmente contraído para cima, e o lábio inferior para baixo, com a língua se protruzindo entre os dentes. Os dentes anteriores devem ser limpos cuidadosamente com uma escove de dentes, algodão, instrumentos manuais e posteriormente, fotografados. O mapeamento dos dentes anteriores será completo neste estágio, pois eles poderão facilmente esfacelar-se ao toque. Os ossos faciais e mandíbula serão examinados em busca de fraturas. Para Botha (1986), o exame das estruturas bucais é melhor realizado por uma equipe constituída por dois odonto-legistas, um radiologista odontológico e um fotógrafo. As fotografias importantes para identificação deverão possuir, quando possível: 1. face completa; 2. dentes anteriores em oclusão; RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 3. 63 vistas bucais dos dentes em oclusão do lado direito e do lado esquerdo; 4. vistas oclusais mandibulares e maxilares; 5. close de qualquer característica em especial, como coroas protéticas, pontes fixas, aparelhos removíveis, aparelhos ortodônticos, torus mandibular, diastema, má-oclusões e dentes supranumerários. O número causa e uma escala devem estar em posição em cada fotografia. 6. As fotografias realizadas no local do acidente devem incluir alguns, ou preferencialmente, todos os seguintes itens: a) filmes de 35 mm coloridos; b) filmes de 35 mm preto e branco; c) filmes tipo Polaroid; Briñon (1982) ressalvou que a identificação de corpos carbonizados é uma tarefa muito difícil de se realizar e não se pode improvisar a forma correta de atuação, como também a atitude que se deve assumir. A minuciosidade e imparcialidade são premissas fundamentais para realizar a perícia e não se deve descartar nada por mais insignificante que seja, tão pouco devemos formar hipóteses sobre os fatos, para não nos levar a conclusões erradas. Briñon (1982) recomendou que sejam levadas máquinas fotográficas, e um mini gravador por ser esta uma forma rápida de registrar audiovisualmente, tudo o que acontece, inclusive os comentários de outros odonto-legistas que se encontram no local do acidente, que permitirá uma RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 64 reconstrução quase perfeita dos fatos. Serão ouvidas opiniões às mais diversas, porém muitas serão importantes. Briñon (1982) destacou: “O primeiro momento de atuação do perito é imponderável”, justamente ao recolher o material, este pode subdividir-se, romper-se, perder-se, mas, antes que isto aconteça, deve-se fazer o registro fotográfico antes da separação total, o que facilitará a reconstrução posteriormente. Vale et al. (1991) afirmaram que poderia aceitar um fragmento queimado da mandíbula como o único resto de um corpo encontrado em uma porção de ruínas quase que totalmente destruídas pelo intenso calor. O número real dos grupos de odonto-legistas será ditado pela magnitude do acidente aeronáutico, a disponibilidade dos peritos, o espaço disponível para a realização dos exames postmortem. É importante que outro grupo de odonto-legistas seja designado para receber e traduzir as informações de registros odontológicos das vítimas do acidente que são entregues pela família, para a comparação. Estes registros odontológicos deverão ser conservados em ordem e numerados, pois a perda de tempo e frustração são grandes, quando acontece o extravio destes registros. O Coordenador é o responsável pelas investigações, e pelo fluxo de trabalho desenvolvido pelos membros do grupo, devendo eliminar dificuldades, informar sobre as descobertas dentárias ao Coordenador Geral e obter informações necessárias. A segunda pessoa em autoridade deverá substituir o Coordenador principalmente quando for necessário organizar dois turnos de trabalho. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 65 Os grupos de odonto-legistas geralmente se darão conta de que devido à carbonização, a rigidez cadavérica dificulta o acesso aos dentes. Para separar a maxila da mandíbula, será necessário muita força ou poderá ser necessário cortar distalmente desde as comissuras labiais até a borda posterior da mandíbula e então cortar através do ramo ascendente da mandíbula de cada lado, o que permitirá o acesso aos dentes. Jakobsen et al. (1974) recomendaram fazer uma incisão em forma de ferradura do ângulo inferior da mandíbula de um lado até o outro lado, dissecando os músculos e expondo os dentes. Os músculos após os exames serão reposicionados e suturados, preservando o aspecto facial. Ao iniciar os exames, não se tem uma certeza de que as radiografias postmortem serão encontradas para informação geral sobre a vítima para comparação com radiografias antemortem específicas. Portanto, a princípio é aconselhável que se obtenha radiografias que possam ser usadas para uma futura comparação com dados antemortem. Insistimos em que os processos de exames e de elaboração dos odontogramas são mais eficazes, e completos, se as radiografias postmortem estiverem à disposição dos odonto-legistas para inspecioná-las no momento em que realizam o exame. A busca de informações antemortem deve iniciar tão logo os grupos de odonto-legistas sejam formados, já que algumas destas informações poderão demorar a chegar. Parte da preparação anterior ao desastre de massa, deve incluir a educação dos órgãos que cooperem no que seja necessário, com a informação da importância dos detalhes e dados odontológicos completos das vítimas, com destaque especial para as RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 66 radiografias antemortem. Este valioso material é obtido contactando com o Cirurgião-dentista da suposta vítima, com o auxílio de seus familiares e amigos. Quando não se têm à disposição informações sobre dados odontológicos convencionais, os familiares e amigos podem proporcionar informações úteis através de fotografias que demonstrem características dentais, como espaços, ausência de dentes, protrusão. A fotografia que demonstre diastema pode ser a chave necessária para identificar uma vítima e fazer uma possível identificação de uma pessoa por exclusão. Pode ser necessário fazer-se referência muitas vezes a uma informação sobre a mesma vítima, devido que os dados antemortem poderão vir de radiografias odontológicas. É aconselhável, quando possível, completar a elaboração dos odontogramas postmortem de todos os casos, antes de iniciar a identificação dos casos individuais. Esta não só é uma intervenção mais ordenada, como também assegura que se tenha disponível para posterior comparação, todas as evidências postmortem, facilitando a comparação com as evidências antemortem que forem conseguidas. Os odontogramas postmortem completos devem ser separados por sexo, e colocados em pastas etiquetadas. Em um acidente aeronáutico de grandes proporções, poderá ser útil separar as vítimas por idade. A elaboração de odontogramas postmortem costumam ser concluídos antes que se tenha recebido as informações dos odontogramas antemortem. Portanto, a comparação deverá ser realizada entre os odontogramas antemortem individuais, com todos os odontogramas postmortem de vítimas RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 67 não identificadas. Se foram divididos os odontogramas postmortem por sexo, se economiza muito tempo ao comparar o odontograma antemortem somente com os do sexo adequado. Se as coincidências não são encontradas, deverão ser revisadas com os do sexo oposto, devido a um possível erro ao fazer a subdivisão por sexo. Mesmo assim, deve considerar- se a possibilidade de erros ao preencher os odontogramas, por exemplo: se falta o dente 16 (primeiro molar superior direito) com fechamento completo do espaço deste dente ausente, os dois molares restantes podem ser denominados erroneamente e incluir-se como sendo os dentes 16 (primeiro molar superior direito) e 17 (segundo molar superior direito) ao invés de corretamente como 17 e 18 (segundo molar e terceiro molar superior direito respectivamente). Como resultado, os odontogramas poderão se apresentar com alguns destes equívocos. Em alguns casos, a coincidência será imediatamente evidente quando os dois odontogramas corretos são colocados lado a lado. Deve-se buscar a confirmação positiva comparando radiografias dentais, ou se estas não estão ao seu alcance, revisando em forma cruzada a idade ou características físicas como cicatrizes de apendicectomia, cor de cabelo, estatura, peso. Em outros casos, a coincidência das formas dará por resultado uma lista de “possibilidades” a partir da qual se estabeleceria a coincidência correta na forma acima descrita. Após a identificação dos casos “fáceis”, deve-se obter informações antemortem adicionais dos casos duvidosos. O importante processo de RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 68 associação e exclusão é utilizado para colocar a vítima desconhecida em grupos menores, até que resulte na identificação. 2.16.1 Fatores internos e externos que dificultam a identificação odontolegal em desatres de massa Branon & Kesler (1999) analisaram 50 (cinqüenta) desastres de massa para detectar a variedade de problemas surgidos que dificultaram o trabalho das equipes de identificação dental, e , sugerem que algumas atitudes preventivas devem ser consideradas e seguidas para que os mesmos insucessos não se repitam, em outros desastres de massa. Embora os desastres de massa apresentem características comuns, cada desastre de massa apresenta uma peculiaridade diferente do outro desastre. Foram classificados os problemas de identificação dental em duas categorias: 1) Os problemas que a equipe de identificação dental normalmente não teve nenhuma culpa ou forma de evitá-los, e foram classificados como problemas externos, e 2) Os problemas que tiveram sua origem no local de trabalho da equipe de identificação dental e que poderiam ser evitados pela equipe e foram classificados como problemas internos. Problemas externos detectados: 1) falta de recuperação adequada de estruturas dentais no local do acidente; RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 69 2) fragmentação e mutilação de crânio e mandíbula; 3) deslocamento de estruturas dentais para fora dos arredores bucais, e para outras partes do corpo; 4) ausência de odonto-legistas à cena do desastre é um grande obstáculo para uma identificação precisa; 5) registros dentais inadequados com o odontograma preenchido erroneamente, ilegível, ou até mesmo a sua inexistência; 6) passageiros estrangeiros dificultaram a identificação pela demora e dificuldade de enviar os dados dos registros dentais; 7) familiares não souberam informar quem era o Cirurgião-dentista da vítima para conseguir os registros dentais; 8) próteses removíveis e dentaduras que não possuem o nome gravado do paciente; 9) passageiro de avião que utiliza o passaporte com o nome de outra pessoa; 10) falta de equipamentos e instrumentais necessários para que o odontolegista exerça o seu trabalho; 11) imposição de horário rígido e extenso de trabalho do odonto-legista, para a conclusão rápida de identificação das vítimas; 12) a informação prévia da mídia sobre a identificação das vítimas, antes da conclusão do trabalho dos odonto-legistas; 13) a melhoria estética dos materiais restauradores odontológico, muitas vezes, dificulta a sua percepção ao exame clínico do odonto-legista; RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 70 Problemas internos detectados: 1) a falta de experiência de profissionais em odontologia e voluntários para o trabalho de identificação em desastre de massa; 2) odontólogos sem experiência forense responsáveis pela transcrição dos registros anteriores à morte, caracterizou 40% de erros neste trabalho de transcrição; 3) o trabalho de identificação em 24 horas por dia em equipes divididas em turnos, ficou constatado que por não estarem acostumados à mudança abrupta de hábitos e mudança do horário biológico, a equipe que trabalhou no turno da madrugada, cometeu mais erros na identificação. Para Brannon & Kessler (1999), infelizmente, muitos problemas que acontecem na identificação odontológica em desastres de massa, são inevitáveis. Morlang (1986) enfatizou que a chave para o sucesso de uma equipe de identificação dental está no treinamento, preparação prévia ao desastre de massa. As informações para a mídia sobre os trabalhos de identificação de vítimas de desastre de massa, devem ser transmitidas apenas pelo chefe do centro de identificação, segundo Morlan (1982). Brannon & Kessler (1999) concluíram ser importante utilizar todos os meios disponíveis para a identificação como as impressões digitais, exames antropológicos, exames físicos e exames odontológicos para aumentar a possibilidade de uma identificação positiva. Que os erros causados pela RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 71 imposição de uma rapidez no trabalho de identificação, é muito mais danoso do que um trabalho realizado com a calma necessária para apresentar resultados favoráveis. Brannon & Kessler (1999) alertaram para que a equipe de identificação dental devidamente treinados, deve ser proporcional à magnitude do acidente aeronáutico, pois um número pequeno de odontolegistas em um acidente aeronáutico com dezenas de vítimas, produzirá muito desgaste, tensão e conseqüentemente erros no processo de identificação, além de demandarem um maior tempo para que todas as vítimas sejam identificadas. Barsley et al. (1985) afirmaram que há uma lição muito importante a ser aprendida desta calamidade sobre acidente aeronáutico quanto à identificação dental: preparação. Para Brannon & Kessler (1999), tanto em guerra ou na paz, o treinamento avançado e planejamento de toda a equipe de identificação dental, podem eliminar a maioria dos problemas que ocorrem na identificação de desastre de massa. Friedman & Novins (1996) destacaram as pressões psicológicas exercidas pela mídia e por políticos objetivando a conclusão rápida da identificação das vítimas. Vale et al. (1991) acentuaram que é importante a presença do antropólogo e do odonto-legista no local do acidente, para supervisionar e recuperar qualquer evidência biológica e dentária que possa ter sido RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 72 negligenciada pela equipe de resgate, e que são de extrema importância para a identificação positiva. Warnick (1987) defendeu que a presença do odonto -legista no local do acidente é imprescindível porque este profissional é o mais indicado para reconhecer partes de mandíbula, dentes ou coroas protéticas que são de grande valor para a identificação. Brannon & Kessler (1999) relataram que no acidente aeronáutico ocorrido em Tenerife com as aeronaves da Panam e KLM, as autoridades locais retiraram as próteses odontológicas removíveis das vítimas, e deram números às próteses diferentemente dos números dos corpos à que estas próteses pertenciam . Todas as próteses odontológicas retiradas foram armazenadas em um mesmo local e misturadas. É quase desnecessário mencionar a frustração que a equipe de identificação odontológica experimentou ao deparar com este fato. Titsas & Kieser (1999) salientaram que a identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos pode ser difícil se os corpos se apresentam severamente carbonizados e desmembrados. Que os dentes expostos a altas temperaturas carbonizam e ficam altamente frágeis, podendo sofrer fraturas ou até mesmo serem perdidos durante o trabalho de resgate dos corpos no local do acidente. Muller et al. (1998) pesquisaram sobre os efeitos da alta temperatura em dentes pré-molares extraídos e levados ao forno com temperaturas de 150ºC a 1150ºC. À temperatura de 150ºC, o esmalte dentário apresentou RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 73 rachaduras e a dentina com rachaduras evidentes a 450ºC. De uma forma interessante, a dentina manteve sua estrutura tubular até 1150ºC. Goldstein et al. (1998) afirmaram que os métodos tradicionais de identificação incluem a identificação visual, identificação de roupas e de artefatos pessoais, impressões digitais, exame de DNA e dados antropológicos, e características dentárias. Apesar da abundância de possíveis técnicas, em casos de decomposição de corpos, carbonização, provavelmente que a dentição humana é a mais valiosa informação para a identificação humana. 2.17 Procedimentos de identificação utilizados pela força de defesa de Israel (I.D.F.) Em Israel, segundo Buchner (1985), a Divisão de Identificação da Força de Defesa de Israel desempenha um papel de grande importância nos procedimentos de identificação. Para o sucesso deste trabalho, foram associadas em 4 (quatro) principais Unidades (Unidade de resgate dos corpos, Unidade de identificação, Unidade de investigação e a Unidade comparativa) que desempenham as seguintes funções: 1. Unidade de resgate dos corpos – resgata todos os corpos no local do desastre. Esta Unidade é formada por profissionais que não possuem formação em medicina especialmente treinados e somente em casos especiais unem à esta Unidade os patologistas, médicos, odonto legistas , antropólogos forenses, que trabalham como consultores. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 74 Realizam o trabalho de colecionar informações sobre o desastre, inclusive em relação ao nome das vítimas envolvidas, a localização, data, hora e circunstâncias da morte. Esforçam-se em conseguir duas pessoas amigas ou familiares das vítimas para realizarem o reconhecimento visual, quando possível. 2. Unidade de Identificação – também é formado por duas equipes, sendo uma equipe de profissionais não médicos e a outra equipe de identificação médica que é formada por patologistas, odonto-legistas, antropólogos forenses, técnicos de radiologia, fotógrafos. A equipe de profissionais não médicos examina a roupa e pertences e examina as impressões digitais dos dedos, quando possível. Se os corpos não podem ser identificados através dos registros de impressão digital, eles são transferidos imediatamente para a equipe médica para exames através de métodos científicos. 3. Unidade Investigativa – recebe a lista das vítimas e investiga os dados anteriores à morte que possam ser encontrados, como ficha odontológica e radiografias panorâmicas que devem ser obtidas através do contato com o Cirurgião-dentista que atendeu a vítima em vida. Quando necessário, a equipe de unidade investigativa adquire prontuários médicos e radiografias médicas em hospitais como também informações do grupo sangüíneo. 4. Unidade Comparativa – Realiza a análise e compara os dados obtidos dos exames realizados em vida, com os dados obtidos após a morte. É formado por profissionais da área médica como patologistas, odonto - RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 75 legistas, antropólogos forenses, radiologistas e peritos de impressão digital. O sucesso final do procedimento de identificação depende, não só da equipe altamente treinada, mas sobretudo de uma devoção especial para esta tarefa. 2.18 A identificação de vítimas de desastres de massa pela INTERPOL Conforme De Winne (2001), quase toda a semana os desastres naturais e artificiais causam mortes múltiplas no mundo. Alguns destes desastres de massa envolvem passageiros de diferentes nacionalidades, e a INTERPOL (Organização de Polícia Internacional) desempenha um papel muito importante na identificação destas vítimas. Em 1980 durante a 49ª sessão em Manila, a Assembléia Geral através de uma resolução, foi aprovada a criação na INTERPOL, do Comitê Permanente para a Identificação de Vítimas de Desastres (INTERPOL DVI). Esta equipe é composta por policiais, odonto-legistas, patologistas e antropólogos forenses e sua formação iniciou com especialistas de 10 (dez) países da Europa Ocidental e atualmente abrange peritos de 29 (vinte e nove) países de todos os continentes. Foram desenvolvidas cooperações com outras Organizações Internacionais como as Nações Unidas para a Coordenação de Ações Humanitárias, Organização da Aviação Civil Internacional, Associação Internacional de Transporte Aéreo. Desde 1994 a INTERPOL DVI reali za reuniões anuais objetivando repassar as informações e experiências adquiridas em desastres de massa RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 76 anteriores e padronizar os procedimentos sobre identificação para os 177 (cento e setenta e sete) países sócios da INTERPOL. Em 1986 foi publicado o Manual de Identificação de Vítimas de Desastres. A forma de se realizar a necropsia é projetada em anotar todos os dados possíveis da vítima que poderão ser de grande utilidade na identificação, como no estabelecimento da causa da morte. Toda informação que pode ser obtida por parentes, amigos, médicos e Cirurgiões-dentistas, sobre a vítima presumida ou pessoa desaparecida é importante para auxiliar na identificação através do método de comparação entre as informações recolhidas e o exame da vítima. A utilização de computadores facilita a troca de informações principalmente quando estão presentes no desastre, vítimas de vários países. Conforme o número elevado de vítimas, é necessário que se aumente o número de peritos, o apoio logístico e conseqüentemente necessitará de um tempo mais prolongado para identificar todas as vítimas. Este manual descreve de modo prático a filosofia adotada pela INTERPOL de aproximação interdisciplinar que considera as diferenças culturais, religiosas, morais dos diversos países, com relação à família das vítimas. O trabalho de campo é baseado em cinco passos bem conhecidos: resgate e numeração dos corpos; exames e anotações de dados pós morte; recolhimento e informações da vítima de dados antes do desastre; comparação dos dados anteriores ao desastre, com os dados pós desastre e identificação. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 77 A utilização destes cinco passos simples de modo estruturado e bem coordenado, normalmente recompensa a equipe em sua principal meta: a identificação de todas as vítimas, porém a realidade deste trabalho é um pouco diferente. Vários problemas bastante conhecidos são comuns, isto é, uma falta de preparação, a atuação excessiva de vários órgãos sem coordenação centralizada, pequeno número de peritos forenses, falta de recursos materiais adequados, complexidades inesperadas da situação de desastre; fadiga excessiva e tensão, apesar do fato de que os padrões internacionalmente de procedimentos são bem estabelecidos, estes fatores podem comprometer o trabalho de identificação. Nos desastres de massa, o problema de quase todas organizações internacionais e provavelmente de todos os trabalhadores de campo envolvidos experimentam, é que em regra geral, organizações como a INTERPOL podem fazer somente recomendações, não possuindo real poder de execução. Por isso, em muitos casos, os parentes das vítimas sofrem pela demora na identificação. Para facilitar a disseminação dos padrões internacionais de procedimentos para a Polícia e Peritos envolvidos em identificação de vítimas, a Secretaria Geral da INTERPOL, incluiu no site htpp: // www.interpol.int / O Guia para Identificação de Vítima de Desastre. Com base na própria experiência e de histórias contadas a ele por policiais e peritos que trabalharam no campo em desastres de massa, De Winne (2001) ponderou: trabalhando na área de identificação de vítima de desastres de massa, ocorreu uma mudança na vida, a forma de ver as RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 78 pessoas, e esta é a razão que envolveram o DVI juntamente com a INTERPOL que o Comitê Permanente deve: 1. continuar promovendo e divulgando a filosofia do DVI e dos seus procedimentos nos 177 países sócios da INTERPOL; 2. auxiliar os países interessados na criação de sua própria equipe de DVI; 3. criar as estruturas para que a equipe DVI internacional composta por peritos de DVI nacionais possam ser chamadas como uma força tarefa pelos países que não possuem condições materiais e econômicas de criar a sua própria equipe; 4. continuar aprimorando os padrões de procedimentos e refinar as técnicas através de experiências adquiridas em trabalhos de identificação. 2.19 A odontologia legal e o acidente aeronáutico Nambiar et al. (1997), descreveram o acidente aeronáutico, ocorrido em 15 de setembro de 1995 com o Fokker 50 da Malaysian Airlines, durante a fase de aproximação da aeronave, ao Aeroporto de Tawau, na Ilha de Bornéu, na Malásia oriental onde morreram 34 (trinta e quatro) pessoas. Apenas 19 (dezenove) pessoas sobreviveram ao acidente. Este acidente criou uma maior consciência nos malaios sobre o importante papel da Odontologia Legal nos desastres de massa. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 79 O propósito deste relatório é apresentar a contribuição significante e experiências da Equipe de Identificação Dental de Vítimas de Desastres (DDVI), equipe que trabalhou em circunstâncias adversas, em uma pequena e remota aldeia da Malásia. A aeronave, após a queda explodiu em chamas e mais de 50 (cinquenta) casas da aldeia foram destruídas pelo fogo e nenhum aldeão morreu, pois como era uma tarde de sexta-feira, a maioria dos aldeões estavam rezando na mesquita. A Equipe de Identificação de Vítimas de Desastres (DVI) foi coordenada por um patologista forense do Hospital Geral de Kuala Lumpur. A equipe incluiu patologistas, odonto-legistas, geneticistas. A equipe de Identificação Dental de Vítimas de Desastres (DDVI) incluiu 9 (nove) odontolegistas. Estas equipes foram divididas em dois grupos principais: o grupo antemortem, e o grupo postmortem. O grupo antemortem foi responsável em adquirir toda a informação de importância dental ( prontuários, fotografias, radiografias dentárias) e era composta por 3 (três) odonto-legistas. A solicitação dos informes do prontuário odontológico aos familiares das vítimas, foi realizado através de rede de televisão, rádio e de todos os jornais nacionais. Foram recebidos muitos registros dentários através de aparelho de fax . Toda informação recebida foi transcrita para odontogramas unificados e agrupados de acordo com os tipos de tratamento odontológico realizado e disponibilizados para a equipe de postmortem. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 80 O grupo postmortem era formado por 6 (seis) odonto-legistas, que examinaram todos os 34 (trinta e quatro corpos). Vinte e dois eram homens e doze eram mulheres. Quatro odonto -legistas realizaram os exames odontológicos, sempre trabalhando em dupla no exame de cada corpo. O quinto odonto-legista anotava exclusivamente no odontograma, os dados postmortem obtidos. O sexto odonto -legista auxiliava realizando radiografias odontológicas. Cinco corpos não apresentavam qualquer parte de mandíbula ou dentes, em 14 (quatorze) corpos os dentes anteriores estavam chamuscados pelo fogo. Quinze corpos tinham ossos faciais intactos. A identificação dentária foi estabelecida através da comparação dos registros odontológicos antemortem com os registros postmortem. Devido ao excelente trabalho desenvolvido pela Equipe de Identificação de Vítimas de Desastres (DVI), todos os corpos foram identificados. Outro acidente aeronáutico de grandes proporções foi relatado por Moody & Busuttil (1994), ocorrido em Lockerbie, na Escócia, no dia 21 de dezembro de 1988 e morreram 270 (duzentos e setenta) pessoas. Vários fatores deste acidente dificultaram a identificação: a aeronave desintegrouse a 31.000 (trinta e um mil) pés de altura 9.300 (nove mil e trezentos) metros; na noite mais fria do ano; havia apenas 1 (um) policial no momento do acidente; a explosão e o impacto das asas cheias de combustível causou no solo uma cratera de 90 (noventa) metros de extensão por 9 (nove) metros de profundidade, registrando o valor de 1.3 na escala Ricther, pela estação geológica em Eskdale Muir a 24 (vinte e quatro) quilômetros de Lockerbie. A RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 81 explosão rompeu as redes de abastecimento de água, gás e de eletricidade local. Lockerbie é uma pequena cidade rural com aproximadamente 4.000 (quatro mil) habitantes. Após 24 (vinte e quatro) horas do desastre, mais de 2.000 (dois mil) pessoas dentre elas, a polícia, forças armadas, equipes de identificação formada por médicos e odonto-legistas, defesa civil, especialistas em acidentes aeronáuticos, imprensa, chegaram a Lockerbie. No dia 28 de dezembro, sete dias após o desastre, a equipe de investigação de acidente aeronáutico informou oficialmente que a aeronave foi bombardeada. Os Cirurgiões-dentistas das vítimas de 21 (vinte e um) nacionalidades, enviaram via fax as informações presentes no prontuário odontológico das vítimas, além de radiografias, modelos em gesso e fotografias, que contribuíram para o sucesso das identificações. Dos dados colecionados relativo às 270 (duzentos e setenta) vítimas, foram identificadas 253 (duzentos e cinqüenta e três) vítimas. Através dos exames odonto-legais foram identificadas 209 (duzentos e nove) casos representando 82% de identificação positiva. Foi excelente esta taxa de identificação positiva devido as circunstâncias de explosão que envolveu este desastre de massa. A dactiloscopia contribuiu com 30 (trinta) casos representando 12% e outros métodos como tatuagens, adornos, contribuíram em 14 (quatorze) casos, representando 6%. RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 82 Tabela 2.4 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico em Lockerbie – 1988. (Moody & Busuttil, 1994, p. 67 ) MÉTODO DE IDENTIFICAÇÃO NÚMERO / VÍTIMAS IDENTIFICADAS SOMENTE ODONTOLOGIA 18 ODONTOLOGIA E DACTILOSCOPIA 78 ODONTOLOGIA E OUTROS MÉTODOS 113 TOTAL 209 ( 82%) SOMENTE DACTILOSCOPIA 13 DACTILOSCOPIA / OUTROS MÉTODOS TOTAL 17 30 (12%) OUTROS MÉTODOS ISOLADOS 14 (6%) TOTAL 253 (100%) Na França, em 20 de Janeiro de 1992, ocorreu o acidente com o Airbus-320, no Monte Sainte-Odile, e dos 87 (oitenta e sete) mortos, 85 (oitenta e cinco) foram identificados. A aeronave ficou completamente destruída com a separação da cabine do piloto e da cauda da aeronave e parte da fuselagem destruída tinha pegado fogo. A equipe de identificação incluiu patologistas, odonto -legistas, radiologistas, biólogos e cientistas do Instituto de Medicina Legal de Strasbourg – França que dividiram em critérios preliminares e critérios conclusivos a metodologia para a identificação dos corpos. O primeiro consistiu na análise dos pertences pessoais, sexo, altura, cor dos olhos e cabelos. Os critérios conclusivos consistiram em pelo menos duas características morfológicas como marcas de nascimento, deformidades, cicatrizes, próteses, formação de calos de RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 83 fraturas antigas, osteosínteses, identificação odontológica positiva ou em identificação através do exame de DNA. Nº DE CORPOS IDENTIFICAÇÃO - 253 CORPOS DESASTRE LOCKERBIE - 1988 250 209 200 ODONTOLÓGICO 150 100 50 DACTILOSCOPIA 30 14 OUTROS 0 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO Figura 2.4 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico em Lockerbie, 1988. (Moody & Busuttil, 1994, p.67 ) Nove casos foram identificados por critérios morfológicos, 44 (quarenta e quatro) casos através de identificação dentária somado a dados morfológicos, 15 (quinze) casos somente através de dados odontológicos, e 17 (dezessete) casos por exames de DNA. Do total de 85 (oitenta e cinco) vítimas identificadas, a odontologia contribuiu para a identificação de 59 casos (69%), o exame de DNA com 17 casos (20%) e a dactiloscopia com 9 casos (11%), relataram Ludes et al. (1994). RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 84 Nº DE CORPOS IDENTIFICAÇÃO - 85 CORPOS ACIDENTE SAINTE-ODILE / 1992 70 60 50 40 30 20 59 ODONTOLÓGICO 17 9 10 0 EXAMES DNA DACTILOSCOPIA MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO Figura 2.5 - Métodos de identificação empregados no desastre aeronáutico em Sainte-Odile (França), 1992. (Ludes et al. 1994, p. 1149) Reals & Cowan (1979) relataram o maior acidente aeronáutico da história da aviação, aconteceu nas Ilhas Canárias ( Aeroporto de Santa Cruz de Tenerife), em 27 de março de 1977. O avião americano 747 da Pan American World Airways obedecendo as instruções da torre de controle, taxiava e de repente, o avião holandês 747 da KLM por razões inexplicáveis iniciou a manobra de decolagem, colidindo com a outra aeronave. A explosão e o fogo produzido, mataram 577 (quinhentos e setenta e sete) passageiros e tripulação das duas aeronaves. Apenas 69 (sessenta e nove) passageiros da Pan American World Airways sobreviveram ao terrível acidente. Da aeronave holandesa KLM, não houve sobreviventes. Não existia em Santa Cruz de Tenerife instalações adequadas para realizar o trabalho de identificação de 577 (quinhentos e setenta e sete) corpos, e por este motivo, o Governo dos Estados Unidos decidiu transportar os 326 (trezentos e vinte e seis) corpos que estavam na aeronave americana para a RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 85 Base Aérea de Dover localizada em Delaware e uma equipe de 120 (cento e vinte) peritos, dentre eles, médicos e odonto-legistas, especialistas em dactiloscopia, que em exaustivos 21 (vinte e um) dias de trabalho, identificaram 212 corpos. Wolcott et al. (1980) afirmaram que a comparação favorável de registros dentários antemortem e postmortem, particularmente através de radiografias dentárias, proporcionou o principal meio de identificação de vítimas do maior acidente aeronáutico da história da aviação, ocorrido nas Ilhas Canárias. Tabela 2.5 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico nas Ilhas Canárias, 1977. (Wolcott et al. ,1980, p. 1035) IDENTIFICAÇÃO POSITIVA / MÉTODO UTILIZADO Nº CORPOS ODONTOLOGIA ISOLADAMENTE 156 ODONTOLOGIA E DACTILOSCOPIA 19 ODONTOLOGIA E RADIOGRAFIA MÉDICA 8 ODONTOLOGIA E CARACTERES PESSOAIS 3 ODONTOLOGIA E RESULTADOS MÉDICOS 1 TOTAL DE IDENTIFICAÇÕES POR ODONTOLOGIA 187 DACTILOSCOPIA ISOLADAMENTE 5 RADIOGRAFIA MÉDICA 15 RADIOGRAFIA MÉDICA E RESULTADOS MÉDICOS 1 RADIOGRAFIA MÉDICA E CARACTERES PESSOAIS 1 CARACTERÍSTICAS PESSOAIS 3 TOTAL DE CORPOS IDENTIFICADOS 212 RODRIGO MIRANDA PEREIRA REVISÃO DA LITERATURA 86 Nº DE CORPOS IDENTIFICAÇÃO - ACIDENTE NAS ILHAS 187 17 3 5 CANÁRIAS - 212 CORPOS / 1977 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO ODONTOLÓGICO MÉDICO DACTILOSCOPIA CARACTERES PESSOAIS Figura 2.6 - Métodos de identificação empregados no acidente aeronáutico nas Ilhas Canárias 1997. (Wolcott et al. ,1980, p. 1035) RODRIGO MIRANDA PEREIRA 3- PROPOSIÇÃO O presente trabalho pretende analisar os resultados da pesquisa realizada através de questionários direcionados aos Diretores de 18 (dezoito) Institutos de Medicina Legal, das cidades que apresentaram o maior tráfego aéreo de passageiros no Brasil no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002, considerando: • O número de odonto-legistas pertencentes ao quadro efetivo do Instituto de Medicina Legal (IML); • O número de cirurgiões-dentistas que exercem as funções de odonto-legistas e que não pertencem ao quadro efetivo do Instituto de Medicina Legal (IML); • Os tipos de aparelhos de Raios X odontológicos disponíveis no Instituto de Medicina Legal (IML) para auxiliar o odontolegista na perícia de identificação humana; • A importância da atuação do odonto-legista na perícia de identificação humana, em acidentes aeronáuticos. O Comitê em Ética e Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, através do Parecer Nº 144 / 01, aprovou o protocolo de pesquisa desta dissertação (Anexo 2). 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Amostra Para a realização deste trabalho foram analisados os resultados obtidos da pesquisa de 18 (dezoito) questionários direcionados por carta registrada aos Diretores dos Institutos de Medicina Legal (IML) das cidades onde localizam os 20 (vinte) aeroportos que apresentaram o maior tráfego aéreo de passageiros no Brasil, no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002 (Tabela 4.1). Os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil em tráfego de passageiros de acordo com os dados da INFRAERO (2002), localizam-se em 18 (dezoito) cidades, porque na cidade do Rio de Janeiro estão localizados 02 (dois) aeroportos: Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão), e o Aeroporto Santos Dumont. Na cidade de Belo Horizonte estão localizados 02 (dois) aeroportos: Aeroporto Internacional de Belo Horizonte (Pampulha) e o Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins). MATERIAL E MÉTODO 89 Tabela 4.1 - Ranking dos aeroportos segundo tráfego de passageiros. Brasil, 2002. (INFRAERO 2002) RANKING 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 AEROPORTOS / CIDADE Aeroporto Internacional de São Paulo / Guarulhos Aeroporto Internacional de Congonhas / São Paulo Aeroporto Internacional de Brasília Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro / Galeão Aeroporto Santos Dumont / Rio de Janeiro Aeroporto Internacional de Salvador Aeroporto Internacional Salgado Filho / Porto Alegre Aeroporto Internacional do Recife / Guararapes Aeroporto Internacional de Belo Horizonte / Pampulha Aeroporto Internacional Afonso Pena / Curitiba Aeroporto Internacional Pinto Martins / Fortaleza Aeroporto Internacional Eduardo Gomes / Manaus Aeroporto Internacional de Belém Aeroporto Internacional de Florianópolis Aeroporto Internacional Augusto Severo / Natal Aeroporto de Vitória Aeroporto de Goiânia Aeroporto Internacional de Viracopos / Campinas Aeroporto Internacional Tancredo Neves / Confins / BH Aeroporto Internacional de Maceió / Zumbi dos Palmares TOTAL Passageiros (nº) 2001 2002 (Jan. / Jun.) 13.048.609 6.191.691 11.707.169 5.956.220 6.205.864 3.297.297 5.987.053 2.724.983 4.946.542 2.763.348 3.761.724 1.944.514 2.879.091 1.459.192 2.820.878 1.502.835 2.548.117 1.611.058 2.427.178 1.430.233 2.155.518 1.010.359 1.316.436 618.687 1.178.457 590.689 1.101.085 628.289 974.166 478.629 944.924 649.920 905.072 459.967 769.409 408.769 621.832 311.415 621.590 297.280 66.920.714 34.335.375 O questionário desta pesquisa foi enviado para os Diretores dos Institutos de Medicina Legal das seguintes cidades: 1. Guarulhos 2. São Paulo 3. Brasília 4. Rio de Janeiro 5. Salvador 6. Porto Alegre 7. Recife 8. Belo Horizonte RODRIGO MIRANDA PEREIRA MATERIAL E MÉTODO 90 9. Curitiba 10. Fortaleza 11. Manaus 12. Belém 13. Florianópolis 14. Natal 15. Vitória 16. Goiânia 17. Campinas 18. Maceió Todos os Diretores dos Institutos de Medicina Legal , responderam ao questionário. A amostra utilizada foi totalizada em 18 (dezoito) questionários respondidos conforme Figura 4.1. Pesquisa em 18 Institutos de Medicina Legal - Brasil - 2003 100% 0% Questionários respondidos Questionários não respondidos Figura 4.1 - Questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal – Brasil 2003 RODRIGO MIRANDA PEREIRA MATERIAL E MÉTODO 4.2 91 Coleta de dados Os 18 (dezoito) questionários estudados foram obtidos em pesquisa realizada com os Diretores dos Institutos de Medicina Legal das cidades onde localizam os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil em movimento de passageiros, no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002. O questionário analisado nesta pesquisa está em Anexos. As datas de postagem das cartas registradas com os questionários devidamente respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal, estão demonstradas na Figura 4.2. Tabela 4.2 - Relação de data da postagem nos Correios dos questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal Brasil 2003 1 IML / CIDADE DATA Guarulhos São Paulo Brasília Rio de Janeiro Salvador Porto Alegre Recife Belo Horizonte Curitiba Fortaleza Manaus Belém Florianópolis Natal Vitória Goiânia Campinas Maceió Recebimento do questionário através da Dra. a pedido do Diretor do IML de Salvador. DA POSTAGEM 17/01/03 21/12/01 22/01/02 25/02/02 1 04/04/02 27/05/02 24/04/02 14/12/02 29/10/02 26/08/02 19/09/02 12/09/02 18/07/02 19/07/02 25/07/02 04/06/02 09/09/02 03/09/02 Sara dos Santos Rocha, RODRIGO MIRANDA PEREIRA 5 RESULTADOS Terminado o levantamento de dados, foi feita a sua tabulação. Os resultados obtidos foram os seguintes: 5.1 Número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal O número total de odonto-legistas que trabalham nos Institutos de Medicina Legal das cidades pesquisadas é 102 (cento e dois) (Tabela 5.1). Tabela 5.1 - Número de odonto -legistas que trabalham nos Institutos de Medicina Legal por cidade pesquisada. – Brasil 2003 IML Cidade Número de odonto-legistas Guarulhos Congonhas Brasília Rio de Janeiro Salvador Porto Alegre Recife Belo Horizonte Curitiba Fortaleza Manaus Belém Florianópolis Natal Vitória Goiânia Campinas Maceió 2 3 2 30 2 7 1 7 3 13 2 15 3 6 0 2 0 4 TOTAL 102 RESULTADOS 5.2 93 Regime de trabalho dos odonto-legistas nos IMLs De acordo com o regime de trabalho dos odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal pesquisados, 79 (setenta e nove) odontolegistas são efetivos e 23 (vinte e tres) odonto-legistas são contratados (Tabela 5.2 e Figura 5.1). Tabela 5.2 - Distribuição dos Odonto -Legistas nos Institutos de Medicina Legal de acordo com o regime de trabalho. – Brasil 2003. IML Cidade Guarulhos Congonhas Brasília Rio de Janeiro Salvador Porto Alegre Recife Belo Horizonte Curitiba Fortaleza Manaus Belém Florianópolis Natal Vitória Goiânia Campinas Maceió TOTAL Regime de trabalho Efetivos Contratados 0 3 0 30 2 7 0 5 0 7 1 15 3 3 0 0 0 3 79 2 0 2 0 0 0 1 2 3 6 1 0 0 3 0 2 0 1 23 RODRIGO MIRANDA PEREIRA RESULTADOS 94 NÚMERO ODONTO-LEGISTAS EM 18 IMLs Brasil - 2003 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 79 Efetivos Contratados 23 REGIME DE TRABALHO Figura 5.1 - Distribuição do número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal, quanto ao regime de trabalho – Brasil 2003 5.3 Tipos de aparelhos de raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal para a realização de perícia de identificação humana O resultado referente aos tipos de aparelhos de raios X odontológicos disponíveis para radiografia periapical e para radiografia panorâmica nos Institutos de Medicina Legal para auxiliar os odonto-legistas na perícia de identificação humana pode ser visto na Tabela 5.3. Esta Tabela demonstra ainda que nos Institutos de Medicina Legal pesquisados, 53% (10 IMLs) não possuem aparelhos de raios X odontológico para radiografia periapical e não possuem aparelhos de raios X para radiografia panorâmica. RODRIGO MIRANDA PEREIRA RESULTADOS 95 Tabela 5.3 - Tipos de Aparelhos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal - Brasil, 2003 IML Cidade Aparelho de RX Periapical Aparelho de RX Panorâmico NÃO SIM NÃO SIM SIM NÃO SIM SIM NÃO SIM SIM SIM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO 08 NÃO* NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SIM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO 01 Guarulhos Congonhas Brasília Rio de Janeiro Salvador Porto Alegre Recife Belo Horizonte Curitiba Fortaleza Manaus Belém Florianópolis Natal Vitória Goiânia Campinas Maceió TOTAL Apenas 42% (8) dos IMLs possuem aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais. O aparelho de raios X para radiografia panorâmica só é encontrado em 5% (1) dos IMLs dentre todos os demais pesquisados. A Figura 5.2 demonstra a percentagem de aparelhos de raios X odontológicos para radiografias periapicais, panorâmicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal, e a percentagem de IMLs que não possuem apartelhos de raios X odontológico. RODRIGO MIRANDA PEREIRA RESULTADOS 96 APARELHOS DE RAIOS X ODONTOLÓGICO EM 18 IMLs - BRASIL - 2003 5% Não possui Aparelho RX 42% 53% Possui RX Periapical Possui RX Panorâmico Figura 5.2 - Panorama dos equipamentos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal para o trabalho dos odonto-legistas – Brasil 2003 5.4 A importância do odonto-legista para a identificação humana em acidentes aeronáuticos Quanto à importância do odonto -legista para a identificação humana em acidentes aeronáuticos, todos os Diretores dos Institutos de Medicina Legal foram unânimes em afirmar que a atuação de odonto-legista é de grande importância neste trabalho de identificação. A figura 5.3 demonstra que todos os 18 (dezoito) Diretores dos Institutos de Medicina Legal consideram importante a atuação do odontolegista na perícia de identificação humana em vítimas de acidentes aeronáuticos. RODRIGO MIRANDA PEREIRA RESULTADOS 97 O ODONTO-LEGISTA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS 100% IMPORTANTE NÃO IMPORTANTE 0% Figura 5.3 - Importância do odonto-legista na Identificação Humana em Acidentes Aeronáuticos. Brasil 2003 RODRIGO MIRANDA PEREIRA 6 DISCUSSÃO “Todo País com capacidade de se organizar preventivamente ao desastre de massa, deveria possuir uma equipe de odonto-legistas” (Pueyo et al., 1994). Para melhor avaliar a contribuição da odontologia legal na identificação humana em acidentes aeronáuticos, a presente discussão será conduzida considerando a vasta bibliografia referente ao tema, e os resultados obtidos pela pesquisa realizada junto aos Institutos de Medicina Legal consultados. Por outro lado, serão examinados os fatores dificultadores para que a identificação humana em acidentes aeronáuticos seja tecnicamente bem realizada nos Institutos de Medicina Legal das cidades onde localizam os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil, em movimento de passageiros. 6.1 Considerações Gerais O Brasil, país do inventor do avião e de dimensões continentais, possui atualmente a segunda maior frota de aeronaves do mundo. Apresentou no ano de 2001 o tráfego de passageiros nos 20 (vinte) maiores DISCUSSÃO 99 aeroportos do Brasil valores de 66.920.714 (sessenta e seis milhões, novecentos e vinte mil e setecentos e quatorze) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, o total de 34.335.375 (trinta e quatro milhões, trezentos e trinta e cinco mil, trezentos e setenta e cinco) passageiros. O Aeroporto Internacional de São Paulo – Guarulhos é o mais movimentado em tráfego de passageiros com 13.048.609 (treze milhões, quarenta e oito mil e seiscentos e nove) passageiros no ano de 2001 e apresentou 6.191.691 (seis milhões,cento e noventa e um mil, e seiscentos e noventa e um) passageiros no primeiro semestre de 2002. Seguindo o ranking em número de passageiros, o Aeroporto Internacional de Congonhas transportou 11.707.169 ( onze milhões, setecentos e sete mil, cento e sessenta e nove) passageiros no ano de 2001 e 5.956.220 (cinco milhões, novecentos e cinqüenta e seis mil e duzentos e vinte) passageiros no primeiro semestre de 2002. O Aeroporto Internacional de Brasília no ano de 2001 totalizou 6.205.864 (seis milhões, duzentos e cinco mil, oitocentos e sessenta e quatro) passageiros e 3.297.297 (três milhões, duzentos e noventa e sete mil, duzentos e noventa e sete) passageiros no primeiro semestre de 2002, conforme dados fornecidos pela INFRAERO (2002). O movimento aéreo de passageiros no Brasil é muito intenso e é importante que estes elevados números alertem as nossas autoridades quanto à importância de treinamentos e capacitação de equipes de RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 100 identificação para que possam atuar com eficiência e rapidez diante de uma catástrofe que é o acidente aeronáutico. O excelente trabalho desenvolvido pelo Comando da Aeronáutica do Brasil, através do CENIPA (Centro de Prevenção e de Investigação de Acidentes Aeronáuticos) e pelos SERACs (Serviços Regionais de Aviação Civil), na última década, foi fundamental para que a taxa de acidentes aeronáuticos do Brasil por milhões de decolagens obtida em 2001 foi de 0.9, contra a taxa de 1.2 que é a média Mundial por milhões de decolagens. No período de 7 (sete) anos compreendido entre 1996 a 2002, o maior número de falecidos em acidentes aeronáuticos ocorreu em 1996 com 187 (cento e oitenta e sete) vítimas fatais. O acidente da TAM, ocorrido neste mesmo ano, provocou 98 (noventa e oito) falecimentos. Em 1997 o total de falecidos foi de 94, em 1998 foram 80 falecidos, em 1999 foram 67 vítimas fatais, em 2000 foram 48 falecidos, em 2001 o total foi de 77 vítimas fatais e em 2002 apenas 66 faleceram. Neste período entre 1996 a 2002, felizmente não ocorreram acidentes aeronáuticos no Brasil com grande número de vítimas, e sim, acidentes aeronáuticos com números pequenos de vítimas fatais. 6.2 Planejamento prévio de desastres de massa O acidente aeronáutico geralmente causa uma enorme repercussão social na mídia, devido à grande destruição de casas ou edifícios e por causar inúmeras vítimas. Caracteriza -se como desastre de massa, pois provoca uma alteração substancial nos órgãos de emergência como RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 101 hospitais, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Cruz Vermelha, aparato policial e serviços de identificação. As causas de acidentes aeronáuticos são variadas como: falhas humanas, falhas mecânicas, condições meteorológicas desfavoráveis e atualmente, por atos de terrorismo. Terça-feira, 11 de setembro de 2001, Nova York. Às 8h48, um avião atinge uma das duas to rres do World Trade Center. As televisões de todo o mundo apontam suas câmeras para o prédio em chamas, no que parecia ser mais um trágico acidente aeronáutico. Nesse instante, o inimaginável. Ao vivo, a televisão transmite a imagem de um segundo avião acertando a outra torre. Os Estados Unidos, a superpotência cuja segurança parecia inabalável, estavam sendo alvo de ataques terroristas. E não apenas na região mais rica e nobre da cidade mais importante do país. Minutos depois, um terceiro avião se espatifaria no Pentágono em Washington, símbolo do poderio militar americano. E uma quarta aeronave, cujo alvo seria provavelmente a Casa Branca, cairia na Pensilvânia. Há a sensação de que a ousadia do terror de atacar o palco mais cosmopolita do mundo, Nova Yo rk, e o centro nervoso da Defesa dos Estados Unidos, o Pentágono, tirou o planeta dos eixos. Aviões civis foram utilizados para estes atentados terroristas. Estes atentados terroristas com a utilização de aeronaves civis, reproduziram na mídia mundial uma grande repercussão e infelizmente novos atentados deste porte serão utilizados, o que fatalmente contribuirá para o crescimento das estatísticas em acidentes aeronáuticos, sendo RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 102 portanto, mais um motivo para que estejamos previamente preparados, porque este suposto atentado a aviões norte americanos, poderá ocorrer quando o avião estiver no espaço aéreo brasileiro, ou no solo brasileiro. Para que seja obtido sucesso tanto no socorro das vítimas feridas, quanto no resgate das vítimas fatais, é importante que exista um planejamento e que treinamentos prévios sejam realizados com toda a equipe que atua no local dos acidentes aeronáuticos. A identificação é um trabalho de equipe. É essencial que o odontolegista não trabalhe sozinho. O melho r momento para começar a organizar é antes que o desastre aconteça, (Pueyo et al., 1994). A presença de odonto-legistas no local do acidente aeronáutico é de fundamental importância, pois pedaços de mandíbula , dentes enegrecidos, coroas protéticas ou próteses odontológicas, que são dados importantes para uma identificação positiva, podem, devido ao impacto do acidente ou pela ação do fogo, que é uma característica fundamental do acidente aeronáutico causado pela queima do combustível, desprenderem-se e localizarem fora da cavidade bucal, próximo ao corpo da vítima.. É mais provável que os odonto -legistas identifiquem no local do acidente aeronáutico estes dados importantíssimos para a identificação, do que as pessoas que não sejam familiarizadas com a odontologia. Os fragmentos encontrados deverão ser colocados em um saco plástico devidamente identificado e conduzido junto ao corpo da vítima. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 103 É fundamental que as equipes de odonto-legistas designadas para o local do acidente aeronáutico, tenham uma relação de trabalho com os órgãos legalmente encarregados da investigação de acidentes aeronáuticos, que no Brasil, este órgão é o CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). Os odonto-legistas farão no local do acidente um exame rápido na boca das vítimas para observar se é necessário procurar coroas protéticas fraturadas, dentes avulsionados, próteses e aparelhos ortodônticos que não estão adaptadas dentro da boca. Um saco plástico deve ser colocado ao redor da cabeça das vítimas fatais e pode ser seguro com elásticos, como forma de prevenção de perdas de dentes ou próteses dentárias durante o resgate, transporte e manipulação do corpo. Desta forma, está claro que o trabalho dos odonto-legistas se inicia minutos após a ocorrência do acidente aeronáutico e que deverão ser contactados rapidamente pelo CENIPA para realizarem este valioso trabalho que pode ser decisivo para uma identificação positiva. Um fator importante a ser considerado é que a identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos, devido ao elevado número de corpos carbonizados, demanda várias semanas e em alguns casos, vários meses. O número de odonto-legistas disponibilizados para o trabalho de identificação deve ser proporcional ao número de vítimas do acidente aeronáutico para não sobrecarregar de trabalho os odonto-legistas e como conseqüência reduzir os erros provocados pelo cansaço físico e psicológico. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 6.3 A 104 identificação de corpos carbonizados em acidentes aeronáuticos A identificação de corpos carbonizados é muito difícil por diversos fatores: as cristas papilares das polpas digitais são destruídas pela ação do fogo, impedindo a identificação pela dactiloscopia. O reconhecimento visual é prejudicado porque o fogo causa o encolhimento dos membros e dos músculos, de duas a três vezes o seu tamanho natural, diminuição do volume pela perda de líquidos e substâncias orgânicas produzidas pela combustão. O exame de DNA em corpos carbonizados é dificultado pela ação do fogo pois as proteínas são desnaturadas em altas temperaturas. Além do violento traumatismo das vítimas, que é uma característica do acidente aeronáutico. Um corpo adulto, após ultrapassar a temperatura de 680º C sofre as seguintes transformações: braços seriamente queimados após 10 minutos; pernas seriamente queimadas após 15 minutos , costelas e crânios após 25 minutos, fêmur e tíbia completamente queimados após 35 minutos. Os materiais utilizados para restaurar os dentes resistem à ação do fogo: o amálgama entre 500º a 1000º C perde a forma, resinas compostas resistem a temperaturas de 815º a 900º C, trabalhos protéticos em ouro chegam a 1070º C, ligas de cromo-cobalto atingem o ponto de fusão entre 1290º C a 1395º C e o níquel-cromo entre 1350º C a 1400º C. Dentes de porcelana atingem temperaturas para fusão entre 870º C a 1370º C. Em corpos carbonizados, devido à rigidez dos músculos da face, a boca se RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 105 transforma em uma caixa forte, protegendo os dentes e os trabalhos odontológicos realizados, da ação do fogo. As próteses removíveis e as próteses totais (dentaduras) deveriam possuir o nome do paciente gravado, o que auxiliaria enormemente o trabalho de identificação positiva. Os tratamentos dos canais dentários submetidos a temperaturas de 815º C durante 90 minutos e radiografados posteriormente, revelaram imagens semelhantes à radiografia anterior ao experimento. Dentes que apresentavam canais radiculares amplamente abertos, o material obturador ferveu para fora do forâmen apical aberto. A notação dentária utilizando-se dois dígitos preconizado pela Federação Dentária Internacional, e aprovado em Bruxelas,1970, para caracterizar o elemento dental deve ser implementado nos Cursos de Graduação e divulgada pela ABENO – Associação Brasileira de Ensino Odontológico pois esta padronização facilitará a comunicação entre os odonto-legistas ao receberem o prontuário odontológico da suposta vítima, e principalmente facilitará a transmissão destes dados importantes via rede de computadores, para outras cidades e até países. 6.4 A importância das radiografias dentárias para a identificação O cirurgião-dentista clínico geral e os especialistas nas diversas áreas da odontologia como periodontia, odontopediatria, ortodontia, prótese dentária, implantodontia, patologia bucal, odontogeriatria, cirurgia e traumatologia buço-maxilo-facial utilizam rotineiramente na clínica diária o RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 106 prontuário odontológico e as radiografias odontológicas periapicais, bitewing e panorâmicas com a finalidade de diagnóstico ou para realização do tratamento odontológico. Estas radiografias e o prontuário odontológico são documentos odonto-legais importantíssimos na identificação positiva de vítimas de desastres de massa, notadamente os acidentes aeronáuticos, pois através da comparação de dados antemortem contidos no prontuário e nas radiografias previamente obtidos com os dados postmortem, o odontolegista estará embasado cientificamente para afirmar que a identificação é positiva. A radiografia panorâmica em particular é utilizada notadamente pelos especialistas em ortodontia para detectar o crescimento maxilo -mandibular, o desenvolvimento do crânio e o espaço para que os dentes permanentes se posicionem nos arcos dentários superior e inferior. Na odontopediatria a radiografia panorâmica se destaca pois é bem mais aceita pela criança e caracteriza muito bem o desenvolvimento maxilo -mandibular e as dentaduras decídua e permanente. A implantodontia utiliza a radiografia panorâmica no planejamento cirúrgico e protético para a colocação do implante dentário, pois as entidades anatômicas são bem definidas facilitando o trabalho do implantodontista. A utilização das radiografias periapicais, bite-wing e panorâmicas é uma rotina básica na odontologia e os cirurgiões-dentistas clínicos gerais e os especialistas, utilizam frequentemente a radiologia odontológica para o diagnóstico e tratamento odontológico. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 107 Atualmente, a tecnologia da radiografia dentária digitalizada é simples, rápida, efetiva e permite realizar a superposição e ampliação das imagens radiográficas. Como ilustração, Hanaoka et al. (2001) afirmaramm que em um necrotério foram obtidas mais de 20 (vinte) imagens digitalizadas em diferentes ângulos no curto período de 5 (cinco) a 6 (seis) minutos. Além disto, a dose de radiação é relativamente baixa, somente 3 (três) segundos são necessários para obtenção das imagens radiografadas, não necessita de câmara escura, substâncias químicas como reveladores e fixadores. As imagens obtidas podem ser analisadas facilmente, aumentando-as, medindo-as e colorindo-as. O envio destas imagens digitalizadas por redes de computadores é muito fácil e importantíssimo em casos de acidentes aeronáuticos, pois facilita sobremaneira a identificação positiva. A radiologia digital é uma realidade atual e os Institutos de Medicina Legal como são centros de Polícia Técnica e Científica, necessitam estar devidamente equipados, para que realizem com eficiência e rapidez as perícias necessárias, principalmente em desastres de massa proveniente de acidentes aeronáuticos, quando normalmente o trabalho de identificação das vítimas é mais difícil pelas características que envolvem o acidente aeronáutico, e pelo número elevado de vítimas carbonizadas. Este trabalho de equipar devidamente os Institutos de Medicina Legal deverá ser realizado previamente ao acidente aeronáutico porque uma característica fundamental do acidente aeronáutico é a sua falta de previsibilidade. Além de sua eficácia, a identificação odonto-legal é economicamente viável devido ao seu baixo custo financeiro. É imprescindível que os RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO Institutos 108 de Medicina Legal possuam equipamentos odontológicos para que os odonto-legistas realizem de a raios perícia X de identificação, comparando os dados da suposta vítima antemortem obtidos através do prontuário odontológico, radiografias periapicais, bite-wing, panorâmicas, modelos em gesso, e efetuarem a comparação através de exames radiológicos em odontologia, obtendo uma identificação positiva. No acidente aeronáutico nas Ilhas Canárias / 1977 envolvendo duas aeronaves – KLM e PANAM -, na pista do aeroporto, os 212 (duzentos e doze) corpos das vítimas da PANAM foram identificados utilizando-se os métodos: • 187 corpos – odonto-legal; (88%) • 15 corpos – médicos; (7%) • 05 corpos – dactiloscopia; (3%) • 03 corpos – caracteres pessoais (2%) Em 1988 no famoso desastre aeronáutico em Lockerbie, quando 253 (duzentos e cinqüenta e três) corpos foram identificados, novamente os métodos odonto-legais se destacaram: • 209 corpos – odonto-legal (81%) • 30 corpos – dactiloscopia (12%) • 14 corpos – outros métodos (7%) Em Saint Odile / França outro acidente aeronáutico ocorreu em 1992 com 85 corpos identificados utilizando-se os métodos: • 59 corpos – odonto-legal (79%) • 17 corpos – exame de DNA (20%) RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO • 109 09 corpos – dactiloscopia (1%) No Brasil, no maior acidente aeronáutico em número de vítimas, ocorrido em São Paulo, vôo 402 da TAM no ano de 1996, a odontologia legal novamente foi importante na identificação humana, de 98 (noventa e oito) corpos a saber: • 50 corpos - odonto-legal + antropológico (51%) • 25 corpos – dactiloscopia (26%) • 15 corpos – reconhecimento direto (15%) • 08 corpos – exame de DNA (8%) Os elevados índice de sucesso na aplicação do método de odontologia legal nas perícias de identificação humana em acidentes aeronáuticos, no mundo, são surpreendentes. 6.5 Análise dos resultados da pesquisa / odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal e equipamentos de raios X odontológicos O número total de odonto-legistas que atualmente trabalham nos 18 (dezoito) Institutos de Medicina Legal das cidades onde localizam os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil em movimento de passageiros é 102 (cento e dois) sendo 79 (setenta e nove) odonto-legistas efetivos e 23 (vinte e três) odonto-legistas contratados. O problema do regime de trabalho através do contrato, é que a qualquer momento, estes odonto-legistas contratados podem ser demitidos RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 110 devido a dificuldades financeiras dos Estados, o que não aconteceria com o odonto-legista efetivo. Nos Institutos de Medicina Legal de Guarulhos, Brasília, Recife, Curitiba, Goiânia todos os odonto-legistas são contratados. O Aeroporto Internacional de São Paulo – Guarulhos é o mais movimentado do Brasil em tráfego de passageiros totalizando no ano de 2001, 13.048.609 (treze milhões, quarenta e oito mil, seiscentos e no ve) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, apresentou 6.191.691(seis milhões, cento e noventa e um mil, seiscentos e noventa e um) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Guarulhos possui apenas 2 (dois) odonto-legistas para realizarem todo o trabalho necessário; 1(um) odontolegista é efetivo pela Prefeitura Municipal de Guarulhos e está cedido para exercer a sua função no IML, mas não é efetivo do IML e 1 (um) odontolegista é contratado.O IML de Guarulhos não possui aparelhos de raios X odontológico para realizar radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, o que certamente inviabiliza a realização de perícia para identificação humana em acidentes aeronáuticos, em caso de necessidade. Devido ao enorme tráfego aeronáutico no Aeroporto Internacional de São Paulo - Guarulhos, o Instituto de Medicina Legal de Guarulhos, além de não possuir odonto-legistas efetivos no seu quadro de funcionários, não está equipado adequadamente para realizar identificações humanas em vítimas RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 111 de acidentes aeronáuticos, o que é muito preocupante e também muito grave. A capital do Brasil, Brasília, cidade da força política do nosso país, ocupa o terceiro lugar no ranking de movimento de passageiros com 6.205.864 (seis milhões, duzentos e cinco mil oitocentos e sessenta e quatro) passageiros no ano de 2001 e com 3.297.297 (três milhões, duzentos e noventa e sete mil, duzentos e noventa e sete) passageiros no período de janeiro a junho de 2002. O Instituto de Medicina Legal de Brasília possui apenas 2 (dois) odonto-legistas contratados para efetuar todo o trabalho do IML em odontologia legal e não possui aparelhos de raios X odontológicos para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, o que também inviabiliza a realização de perícias de identificação em vítimas de acidentes aeronáuticos, o que é um absurdo. Em Recife, no Instituto de Medicina Legal apenas 1 (um) odontolegista contratado para efetuar todo o trabalho no IML. Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. O movimento de passageiros no Aeroporto Internacional de Recife – Guararapes, foi no ano de 2001 de 2.820.878 (dois milhões, oitocentos e vinte mil, oitocentos e setenta e oito) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, apresentou 1.502.835 (um milhão, quinhentos e dois mil, oitocentos e trinta e cinco) passageiros. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 112 O Aeroporto Internacional Afonso Pena – Curitiba ocupa o décimo lugar no ranking do Brasil em movimento de passageiros com 2.427.178 (dois milhões, quatrocentos e vinte e sete mil, cento e setenta e oito) passageiros no ano de 2001 e apresentou no período de janeiro a junho de 2002, o movimento de 1.502.835 (um milhão, quinhentos e dois mil, oitocentos e trinta e cinco) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Curitiba possui apenas 3 (três) odonto-legistas que são contratados. Não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, o que também inviabiliza a identificação humana em acidentes aeronáuticos. O Instituto de Medicina Legal de Goiânia possui apenas 2 (dois) odonto-legistas contratados. Quanto aos aparelhos de raios X odontológico, não possui para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto de Goiânia ocupa o décimo sétimo lugar no ranking do Brasil com o movimento de 905.072 (novecentos e cinco mil e setenta e dois passageiros) no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002 obteve 459.967 (quatrocentos e cinqüenta e nove mil, novecentos e sessenta e sete) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Vitória e o Instituto de Medicina Legal de Campinas não possuem odonto-legistas. Não estão equipados com aparelhos de raios X odontológicos para realização de radiografias periapicais e não possuem estes dois Institutos de Medicina Legal aparelhos RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 113 de raios X odontológicos para radiografias panorâmicas. Em caso de acidente aeronáutico em Vitória e Campinas, será necessário que odontolegistas e equipamentos de raios X odontológicos sejam providenciados para realizarem o trabalho de identificação das vítimas. O Aeroporto de Vitória apresentou no ano de 2001 o movimento de 944.924 (novecentos e quarenta e quatro mil, novecentos e vinte e quatro) passageiros, e no período de janeiro a junho de 2002, o movimento foi de 649.920 (seiscentos e quarenta e nove mil, novecentos e vinte) passageiros. Ocupou o décimo sexto lugar no ranking de movimento de passageiros. O Aeroporto Internacional de Viracopos – Campinas apresentou no ano de 2001 o movimento de 769.409 (setecentos e sessenta e nove mil, quatrocentos e nove) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, 408.769 (quatrocentos e oito mil, setecentos e sessenta e nove) passageiros, ocupando o décimo oitavo lugar no ranking de movimento de passageiros. O segundo colocado no ranking de movimento de passageiros do Brasil com 11.707.169 (onze milhões, setecentos e sete mil, cento e sessenta e nove) passageiros no ano de 2001 e com 5.956.220 (cinco milhões, novecentos e cinqüenta e seis mil e duzentos e vinte) passageiros no período de janeiro a junho de 2002, é o Aeroporto Internacional de Congonhas – São Paulo. O Instituto de Medicina Legal de São Paulo possui apenas 3 (três) odonto-legistas efetivos para efetuar todo o trabalho de odontologia legal. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 114 Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. A cidade maravilhosa abriga dois aeroportos que ocupam o quarto e o quinto lugares no ranking de movimento de passageiros, respectivamente: O Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro – Galeão que no ano de 2001 apresentou o movimento de 5.987.053 (cinco milhões, novecentos e oitenta e sete mil, e cinqüenta e três) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002 com 2.724.983 (dois milhões, setecentos e vinte e quatro mil, novecentos e oitenta e três) passageiros, e a seguir o Aeroporto Santos Dumont – Rio de Janeiro que no ano de 2001 contabilizou o movimento de 4.946.542 (quatro milhões, novecentos e quarenta e seis mil, quinhentos e quarenta e dois) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, obteve 2.763.248 (dois milhões, setecentos e sessenta e três mil, duzentos e quarenta e oito) passageiros. O Instituto de Medicina Legal do Rio de Janeiro possui o maior número de odonto-legistas efetivos dentre os 18 (dezoito) Institutos de Medicina Legal pesquisados, contabilizando o total de 30 (trinta) odontolegistas efetivos. Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto Internacional de Salvador ocupa o sexto lugar no ranking de movimento de passageiros com 3.761.724 (três milhões, setecentos e sessenta e um mil, setecentos e vinte e quatro) passageiros no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002 apresentou o movimento de RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 115 1.944.514 (um milhão, novecentos e quarenta e quatro mil, quinhentos e quatorze) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Salvador possui apenas 2 (dois) odonto-legistas efetivos para realizarem todo o trabalho de odontologia legal. Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto Internacional Salgado Filho / Porto Alegre ocupa o sétimo lugar no ranking de movimento de passageiros no Brasil com 2.879.091 (dois milhões, oitocentos e setenta e nove mil, e noventa e um) passageiros no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002 apresentou o movimento de 1.459.192 (um milhão, quatrocentos e cinqüenta e nove mil, cento e noventa e dois) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Porto Alegre possui 7 (sete) odontolegistas efetivos. Não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. Belo Horizonte, da mesma maneira que a cidade do Rio de Janeiro, abriga 2 (dois) aeroportos que ocupam respectivamente o nono e o décimo nono lugares no ranking de movimento de passageiros: O Aeroporto Internacional de Belo Horizonte – Pampulha, no ano de 2001 apresentou o movimento de 2.548.117 (dois milhões, quinhentos e quarenta e oito mil, cento e dezessete) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, contabilizou 1.611.058 (um milhão, seiscentos e onze mil, e cinqüenta e oito passageiros), enquanto o Aeroporto Internacional Tancredo Neves – Confins RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 116 no ano de 2001 obteve 621.832 (seiscentos e vinte e um mil, oitocentos e trinta e dois) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, apresentou o movimento de 311.415 (trezentos e onze mil, quatrocentos e quinze) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Belo Horizonte possui 7 (sete) odonto-legistas, sendo 5 (cinco) odonto-legistas efetivos e 2 (dois) odontolegistas contratados. Possui aparelho de raios X para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. Na Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais não existe o cargo de odonto-legista, apenas o cargo de perito criminal, o que deveria ser alterado para que o profissional em odontologia legal seja devidamente enquadrado no cargo que representa a sua especialidade. O Aeroporto Internacional Pinto Martins – Fortaleza ocupa o décimo primeiro lugar no ranking em movimento de passageiros no Brasil, com 2.155.518 (dois milhões, cento e cinqüenta e cinco mil, quinhentos e dezoito) passageiros no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002, apresentou 1.010.359 (um milhão, dez mil, trezentos e cinqüenta e nove) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Fortaleza possui 13 (treze) odontolegistas, sendo 7 (sete) odonto-legistas efetivos e 6 (seis) odonto-legistas contratados. Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelho de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto Internacional Eduardo Gomes – Manaus, ocupa o décimo segundo lugar no ranking em movimento de passageiros e no ano de 2001 RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 117 com 1.316.436 (um milhão, trezentos e dezesseis mil, quatrocentos e trinta e seis) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002 apresentou 618.687 (seiscentos e dezoito mil, seiscentos e oitenta e sete) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Manaus possui 2 (dois) odontolegistas, sendo 1(um) odonto -legista efetivo e 1(um) odonto-legista contratado. Possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelho de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto Internacional de Belém, ocupa o décimo terceiro lugar no ranking de movimento de passageiros no Brasil e no ano de 2001 apresentou 1.178.457 (um milhão, cento e setenta e oito mil, quatrocentos e cinqüenta e sete) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002 com 590.689 (quinhentos e noventa mil, seiscentos e oitenta e nove) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Belém é o segundo colocado com o maior número de odonto-legistas com o total de 15 (quinze) efetivos. É o único Instituto de Medicina Legal que possui aparelho de raios X odontológico para radiografias periapicais, como também possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas. O Instituto de Medicina Legal de Belém é o IML que está mais bem equipado dentre todos os pesquisados, além de possuir um número considerável de odonto-legistas em seu quadro efetivo. O Aeroporto Internacional de Florianópolis ocupa o décimo quarto lugar no ranking de movimento de passageiros, com 1.101.085 (um milhão, cento e um mil, e oitenta e cinco passageiros) no ano de 2001 e apresentou RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 118 no período de janeiro a junho de 2002 o total de 628.289 (seiscentos e vinte e oito mil, duzentos e oitenta e nove) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Florianópolis possui apenas 3 (três) odonto-legistas efetivos para realizar todo o trabalho de odontologia legal. Não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelho de raios X para radiografias panorâmicas. O Aeroporto Internacional Augusto Severo – Natal , ocupa o décimo quinto lugar no ranking de movimento de passageiros e no ano de 2001 contabilizou 974.166 (novecentos e setenta e quatro mil, cento e sessenta e seis) passageiros e no período de janeiro a junho de 2002, apresentou 478.629 (quatrocentos e setenta e oito mil, seiscentos e vinte e nove) passageiros. O Instituto de Medicina Legal de Natal possui 6 (seis) odonto-legistas, sendo 3 (três) odonto-legistas efetivos e 3 (três) odonto-legistas contratados. Não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografia periapical e não possui aparelho de raios X para radiografias panorâmicas, o que inviabiliza a realização de perícias para identificação humana em acidentes aeronáuticos. O Aeroporto Internacional de Maceió – Zumbi dos Palmares, ocupa o vigésimo lugar no ranking de movimento de passageiros e no ano de 2002 contabilizou 621.590 (seiscentos e vinte e um mil, quinhentos e noventa) passageiros, e no período de janeiro a junho de 2002, totalizou 297.280 (duzentos e noventa e sete mil, duzentos e oitenta) passageiros. RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 119 O Instituto de Medicina Legal de Maceió possui 4 (quatro) odontolegistas, sendo 3 (três) efetivos e 1 (um) contratado. Não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, o que dificulta muito a realização de perícias para identificação humana em acidentes aeronáuticos. Esta visão panorâmica quanto ao número de odonto-legistas efetivos nos Institutos de Medicina Legal pesquisados, em grande parte é preocupante. Destacam positivamente os Institutos de Medicina Legal do Rio de Janeiro com 30 (trinta) odonto-legistas efetivos, e Belém com 15 (quinze) odonto-legistas efetivos. 6.6 Da importância do odonto-legista na identificação humana em acidentes aeronáuticos Todos os Diretores dos 18 (dezoito) Institutos de Medicina Legal do Brasil pesquisados foram unânimes em afirmar que é importante a atuação do odonto-legista na perícia de identificação humana em vítimas de acidentes aeronáuticos. Está reconhecido o valor do odonto-legista neste importante trabalho de identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos. 6.7 Considerações finais No Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, não existem equipes de identificação dentária, que são de grande importância para a identificação em acidentes aeronáuticos. Munõz (1999) alertou com RODRIGO MIRANDA PEREIRA DISCUSSÃO 120 bastante propriedade e responsabilidade: “No Brasil inexiste um programa ou planejamento sistematizado para a identificação de vítimas de desastre de massa.” Atualmente (em 2003), 4 (quatro) anos após a conclusão da brilhante Tese do Professor Doutor Daniel Romero Muñoz, e após quase 7 (sete) anos do maior acidente aeronáutico em número de vítimas ocorrido no Brasil – Acidente da TAM / 1996 – vôo 402, o Brasil não se preparou através de um programa ou planejamento sistematizado para a identificação das vítimas, e não possui equipes de identificação dentária e médica previamente treinadas e preparadas para atuar de forma coordenada e eficiente nestes trágicos acidentes. O que as autoridades estão esperando? O que será feito quando uma aeronave com 400 (quatrocentos) passageiros sofrer um grave acidente no Brasil? Deve-se esperar ocorrer o acidente aeronáutico para que depois as providências necessárias sejam tomadas? A literatura mundial responde negativamente a esta indagação. O planejamento prévio é o mais salutar. Ainda há tempo para se iniciar um planejamento e treinamento sério e com responsabilidade, pois uma característica básica do desastre de massa e particularmente o acidente aeronáutico é a falta de previsibilidade de sua ocorrência. RODRIGO MIRANDA PEREIRA 7 CONCLUSÕES A análise dos resultados e a revisão da literatura especializada permitiram as seguintes conclusões: 1. A odontologia legal é fundamental na perícia de identificação em acidentes aeronáuticos, devido à resistência dos elementos dentários, restaurações e próteses odontológicas, à ação do fogo e de altas temperaturas, características marcantes dos acidentes aeronáuticos. 2. Os equipamentos de raios X odontológicos para radiografias periapicais e os aparelhos de raios X odontológicos para radiografias panorâmicas são essenciais para realização de uma identificação positiva das vítimas de acidentes aeronáuticos; 3. A radiologia odontológica digitalizada facilita sobremaneira o trabalho de uma perícia de identificação humana e os dados obtidos podem ser enviados através de rede de computadores; 4. Grande parte dos Institutos de Medicina Legal pesquisados (10 casos), não estão equipados com aparelhos de raios X odontológicos para radiografias periapicais e com aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, para a realização de perícia de identificação humana em vítimas de acidentes aeronáuticos; CONCLUSÕES 5. 122 O número de odonto-legistas efeivos nos Institutos de Medicina Legal pesquisados é muito pequeno, com exceção do IML do Rio de Janeiro e do IML de Belém. 6. Os Institutos de Medicina Legal de Vitória e de Campinas não possuem odonto-legistas e não possuem equipamentos de raios X odontológico para perícias de identificação humana; 7. Por unanimidade, todos os 18 (dezoito) Diretores dos Institutos de Medicina Legal que participaram desta pesquisa, afirmaram que o trabalho do odonto-legista é de fundamental importância para a realização de perícias de identificação humana em vítimas de acidentes aeronáuticos; 8. Urge que sejam formadas e capacitadas equipes de identificação humana, com antropólogos, participação de odonto-legistas, médico legistas, patologistas forenses, radiologistas odontológicos e médicos, para atuação imediata quando da ocorrência de desastres de massa (acidentes aeronáuticos), através de um plano pré desastre, o que inexiste no Brasil. 9. Realizar parceria com a INTERPOL para a implementação desta capacitação e treinamento destas equipes de identificação brasileiras. 10. A situação atual da Odontologia Legal em grande parte dos Institutos de Medicina Legal para a realização de perícias de identificação humana em caso de acidente aeronáutico, é deficiente em recursos humanos e em equipamentos de raios X odontológicos. Isto é muito grave. RODRIGO MIRANDA PEREIRA ANEXOS ANEXOS 124 ANEXO 1 OFÍCIO E QUESTIONÁRIO ENVIADOS AOS DIRETORES DOS INSTITUTOS DE MEDICINA LEGAL RODRIGO MIRANDA PEREIRA ANEXOS 125 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM DEONTOLOGIA E ODONTOLOGIA LEGAL ORIENTADOR: Prof. Dr. Moacyr da Silva MESTRANDO: Rodrigo Miranda Pereira Prezado Senhor, Tenho a grata satisfação de comunicar-lhe que estou cursando o Mestrado em Deontologia e Odontologia Legal na Universidade São Paulo, e a minha dissertação é sobre "A contribuição da odontologia legal na identificação humana em acidentes aeronáuticos". O Comando da Aeronáutica está apoiando este trabalho científico e prontamente forneceu-me dados das cidades brasileiras que possuem o tráfego aéreo intenso, e a cidade a qual pertence este Instituto de Medicina Legal está entre as indicadas pela Aeronáutica. Em anexo estou encaminhando a V.Sª. um questionário e o envelope selado para resposta. Informo-lhe que V.Sª. não está obrigado a prestar estas informações, mas a sua colaboração será de fundamental importância para o desenvolvimento e êxito desta dissertação de mestrado. Após a coleta dos dados de todos os Institutos de Medicina Legal indicados nesta pesquisa pelo Comando da Aeronáutica, coloco-me à sua disposição para fornecer as conclusões obtidas. Certo de poder contar com a sua valiosa colaboração, agradeço-lhe antecipadamente. Atenciosamente, RODRIGO MIRANDA PEREIRA, C.D. Mestrando em Deontologia e Odontologia Legal/USP ILUSTRÍSSIMO SENHOR Dr. DIRETOR DO INSTITUTO DE MEDICINA LEGAL RODRIGO MIRANDA PEREIRA ANEXOS 126 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA SOCIAL MESTRADO EM DEONTOLOGIA E ODONTOLOGIA LEGAL ORIENTADOR: Prof. Dr. Moacyr da Silva MESTRANDO: Rodrigo Miranda Pereira IDENTIFICAÇÃO DO INSTITUTO DE MEDICINA LEGAL NOME:_________________________________________________________________ DIRETOR:______________________________________________________ QUESTIONÁRIO 01. O Senhor possui Odontolegistas no quadro efetivo deste IML? sim não 02. Quantos Odontolegistas pertencem ao quadro efetivo deste IML? Resposta:___________________________________________ 03. O Senhor possui Cirurgiões-Dentistas que não pertencem ao quadro efetivo deste IML e que exercem as funções de Odontolegistas? sim não 04. Quantos Cirurgiões-Dentistas exercem a função de Odontolegistas e não pertencem ao quadro efetivo deste IML? Resposta:_______________________________________________ 05. Quais os tipos de aparelhos de Raios X disponíveis aos Odontolegistas para auxiliar na Perícia de Identificação Humana pelo exame dos dentes? Para Radiografias Periapicais Para Radiografias Panorâmicas Não possui os aparelhos de Raios X acima discriminados 06. O Senhor considera importante a atuação do Odontolegista na Identificação Humana em vítimas de acidentes aeronáuticos? sim não RODRIGO MIRANDA PEREIRA ANEXOS 127 ANEXO 2 PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA RODRIGO MIRANDA PEREIRA ANEXOS 128 Anexo 2 RODRIGO MIRANDA PEREIRA REFERÊNCIAS ∗ Arbenz GO. Medicina legal e antropologia forense. São Paulo: Atheneu; 1988. Barsley RE, Cottone JA, Cuminale JA. Identification via dental remains: Pan American flight 759. J Forensic Sci 1985; 30(1): 128-36. Botha CT. The dental identification of fire victims. J Forensic Odontostomatol 1986; 4(2): 67-75. Brandt C, Neto AB, Ogawa CM, Fukuyama JA. Bordignon LA. 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Revising the specific literature and analyzing 18 (eighteen) questionnaires answered by the directors of the above mentioned IMLs it was confirmed that: the total of the odontolegists who works in such IMLs is 102 (one hundred e two), 79 (seventy-nine) effective odontolegists and 23 (twentythree) hired ones. There are no X-Ray Odontology equipment for peripicais X-Ray in most of these IMLs (in fact, in 10 of them), as well as no X-Ray for panoramic one, esencial equipment for an accurate proceding of human ID. There are no odontolegists at the IMLs of the cities of Vitória and Campinas. All of the 18 IMLs directors were unanimous in affirming that the odontolegists work in aircraft accident is very important for the ID of the victims. At present, the situation of Forensic Odontology in most of the studied IMLs is in deficit, not only as to the number of the odontolegists but also due to the lack of adequate equipments to make an identification work with safety, especially in aircraft accidents, in which the main characteristics is unforesseable. Most serious is that in Brazil there are no specialized and capable teams for the work of ID of the victims of aircraft accidents. APÊNDICE APÊNDICE RODRIGO MIRANDA PEREIRA