MESA REDONDA anais Belo Horizonte | Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA SUMÁRIO FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ESPAÇO DA UAB .....................................1 GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: O CASO DO IFESVITÓRIA ..........................................................................................................................................13 UM ESTUDO DAS OPERAÇÕES ELEMENTARES COM PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .........................................................................27 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: O CURRÍCULO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL .......................................................................41 TENDÊNCIAS DA PESQUISA EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO BRASIL: UMA CARACTERIZAÇÃO DAS DISSERTAÇÕES E TESES ENTRE 1990 E 2010 .................52 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS.................................................................................................61 A METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: PERSPECTIVAS À FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DA SALA DE AULA ..........................................................................................69 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E PRÁTICAS INVESTIGATIVAS ..........................................80 DISCUTINDO A RELAÇÃO ENTRE RIGOR E INTUIÇÃO NO ENSINO DE CÁLCULO E DE ANÁLISE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR ..............................................................86 PAPEL DA ABSTRAÇÃO NO PENSAMENTO MATEMÁTICO AVANÇADO ........................93 A REPRESENTAÇÃO COMO PROCESSO DO PENSAMENTO MATEMÁTICO AVANÇADO ....................................................................................................................................97 PENSAMENTO AVANÇADO MATEMÁTICO: EM DEBATE .................................................106 ETNOMATEMÁTICA E CURRÍCULO: TENSÕES E DESAFIOS NO CONTEXTO ESCOLAR.......................................................................................................................................115 ETNOMATEMÁTICA E A LEI 10639/03: POR UMA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ANTIRRACISTA ...........................................................................................................................125 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA: OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA ...............................................................................................................................132 ETNOMATEMÁTICA: ESTRATÉGIAS PARA SOBREVIVER E TRANSCENDER ...............134 ETNOMATEMÁTICA E A (TRANS)FORMAÇÃO DE IDENTIDADES DOCENTES .............141 PANEL: LA SOCIOEPISTEMOLOGÍA: SUS BASES, ALCANCES Y PERSPECTIVAS ............................................................................................................................148 LA PERSPECTIVA SOCIOEPISTEMOLÓGICA Y LAS COMPRENSIONES DE LA CONSTRUCCIÓN Y RECONSTRUCCIÓN DE SABERES MATEMÁTICOS ..........................150 PESQUISAS EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: DESAFIOS NA PRODUÇÃO ...................153 A PESQUISA NO CAMPO DAS RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: TRÊS EXEMPLOS ............................................................................................154 POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA ...........................................................................................163 PESQUISAS EM EAD ONLINE X POLÍTICAS PÚBLICAS EM EAD NO BRASIL ................173 A GESTÃO EM EAD: SISTEMA E COMPLEXIDADE ..............................................................176 TECNOLÓGIA EM EAD: USO DE VIDEOCONFERENCIA E WEBCONFERENCIA PARA MEDIAÇÃO ........................................................................................................................188 EL CURRÍCULO DE MATEMÁTICA EN INGENIERÍA: UNA VISIÓN CON EL USO DE LA TECNOLOGÍA. .................................................................................................................199 MODELACIÓN MATEMÁTICA ESCOLAR. ALGUNAS REFLEXIONES FRENTE A SU RELACIÓN CON LA CULTURA ...........................................................................................210 APRENDIZAGEM E MODELAGEM NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA .................................220 PROFESSORES E FUTUROS PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM CENÁRIOS DE MODELAGEM MATEMÁTICA: TENSÕES E DESAFIOS .................................................221 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ESPAÇO DA UAB Cristiano A Muniz e Silvana Lunes – UAB/UnB RESUMO A produção de conhecimento na formação inicial e continuada tem valor dentro da comunidade escolar que merece nossa atenção e reflexão. É notório constatar que no âmbito da Educação Matemática, os conteúdos e processos tratados na formação estão presentes nas discussões nas coordenações da escola. São estes levados para escola pelos cursistas que já atuam como professores ou por intermédio das práticas escolares e estágios. Materiais fornecidos revelam-se de alto interesse aos professores que demandam por materiais didático-pedagógico na busca de aprendizagens matemáticas significativas. TRABALHO Investir no desenvolvimento curricular, conceber, produzir e difundir materiais de ensinoaprendizagem, realização de avaliações em larga escala, promover políticas para a melhoria da qualidade dos livros didáticos a serem adotados pelas escolas, investir na inserção de novas tecnologias, estruturar a escola, com recursos físicos e humanos para a real efetivação da inclusão, programas de formação de professores, dentre outras possibilidades, articuladas entre si, são alguns dos muitos caminhos para a melhoria da aprendizagem de nossos alunos. Portanto, revelamos neste texto como a formação busca, no campo da Educação Matemática, tratar de temas, conceitos, procedimentos, que hoje são verdadeiros tabus e muitas vezes obstaculizam a aprendizagem dos alunos. Ainda assim, fortalecer a ideia pilar 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Conscientes desta realidade, os autores das disciplinas de Educação Matemática buscaram favorecer uma formação alicerçada na Educação Matemática de forma que, os egressos do curso de Pedagogia da UAB/UnB possam ser agentes de transformação das suas futuras comunidades educacionais, levando novos paradigmas e proposições críticas, criativas e éticas, voltados à maior garantia de aprendizagem matemática significativa e humana. 1 Dentre todas estas, optamos pela formação como caminho de fazer chegar à escola conhecimentos e processos que visam a efetiva aprendizagem de nossos alunos. Em especial, aqui trataremos da Educação Matemática na formação inicial de professores a distância. Tal opção é também pelo fato de reconhecermos na formação um instrumento de fazer chegar não apenas na práxis, mas também na comunidade educacional, conhecimentos e discussões essenciais ao desenvolvimento da educação escolar. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA de que os alunos sobre nossa responsabilidade são seres matemáticos, cujos futuros acerca de suas relações com os objetos matemáticos, dependem certamente da natureza do trabalho realizado nos anos iniciais do ensino fundamental. A construção da estrutura do número natural, decimal e fracionário: estruturas por vezes negligenciadas pelo currículo e livros didáticos. PÁGINA 2 Mais de trinta anos de investigação no campo da Educação Matemática, com possibilidade de analisar inclusive produções matemáticas de crianças escolarizadas fora do Brasil, são suficientes para nos revelar nitidamente que muitas das dificuldades matemáticas, dos alunos e por vezes dos professores, apoiam-se na incompreensão da estrutura do número: posicionamento, noção de agrupamento, ideia de valor (dentre outras) que causam dificuldades na leitura e interpretação de quantidades numéricas, sejam elas discretas ou contínuas, na escrita ao buscar registrar resultados de medições ou contagens. Em especial, tais incompreensões ocasionam dificuldades na construção e entendimento de procedimentos operatórios. Muitas das dificuldades na realização das operações aritméticas por nós realizadas são decorrentes, dentre outros problemas (como do conceito das operações, que trataremos adiante neste capítulo) de uma não construção conceitual da estrutura do número pelo aluno. Um exemplo de produção em sala de aula de anos iniciais do EF do centro-oeste brasileiro: Observemos que o aluno tem absoluta certeza quanto à validação de sua produção, que não pode ser negligenciada pela escola. Se não há uma correção matematicamente falando na produção deste aluno (que sem dúvida, está produzindo) esta não chega a ser considerada como obstáculo na perspectiva da criança, que ao fazer a prova real, reforça a veracidade de 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA sua produção. Ao multiplicar 25 por 12, realiza a multiplicação 25 por 2 e depois por 1, demonstrando, no contexto da multiplicação, a não compreensão que o 12 é composto por 10 e 2, problema que se origina nos processos da alfabetização matemática que deve ser enfrentado tanto na formação inicial quanto na continuada. Este é um desafio que os autores do componente de Educação Matemática na UAB/UnB se colocam como enfretamento necessário. Três principais são as causas possíveis de tal fato: 1) Na formação inicial dos professores não são trabalhados de forma consistente os conceitos dos números, muitas das vezes tratados de forma reducionista; 2) Nos currículos dos anos iniciais, não há revelação de uma construção da gênese do número, de forma a permitir que o aluno seja o primeiro protagonista da construção conceitual a partir de situações de contagem e medida, com registro, comparações e reflexões empíricas e abstrativas; e, 3) Os livros didáticos propostos nos anos de alfabetização negligenciam o trabalho da construção de estruturas pilares do conceito do número, tanto no que diz respeito à contagem (correspondências, recitação e registro, zoneamento, dentre outros) quanto à noção do número no sistema de numeração decimal, ou seja, as estruturas de agrupamento e posicionamento. Estes se propõem a serem instrumentos no processo de alfabetização, mesmo os aprovados pelo PNLD - Plano Nacional do Livro Didático apresentam a escrita e a leitura dos números naturais de forma mágica, sem tratar de favorecer a construção gradativa e significativa pelo aluno do agrupamento e posicionamento. Este processo presente no material de formação acaba por “empoderar” matematicamente o aluno que, ao compreender a estrutura do número no sistema decimal e o conceito das operações, é capaz de desenvolver e revelar procedimentos operatórios que muitas das 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Associados aos jogos matemáticos (MUNIZ, 2010) que recheiam a proposta didáticopedagógica da formação, os materiais que são base das contagens, representações simbólicas das quantidades, também evoluem passando essencialmente por: dedos das mãos, palitos, material dourado, dinheirinho, dinheiro chinês (quando o valor depende da cor, forma ou outro atributo), ábaco aberto, ábaco fechado, dentre outros até chegarmos na construção e no uso de calculadoras eletrônicas. 3 Na formação de Educação Matemática da UAB/UnB, procura-se, apoiado inicialmente em Bertoni (2007), oferecer uma proposição epistemológica e metodológica na qual o aluno, enquanto ser matemático, possa gradativamente conceber e estruturar as ideias estruturantes do número no sistema decimal. O agrupamento, base para quantificação de quantidades não perceptivas (as que requerem contagem) é tomado como proposta central na construção do número na forma de atividade lúdica, na qual o agrupar quantidades é regra de jogo matemático a ser ensinado e aprendido. Isto faz com que a estrutura matemática de agrupamento, base essencial do conceito do número no sistema decimal, seja assumida pelo alfabetizando como um processo em construção pleno de significação nas quantificações concretas e simbólicas. Por outro lado, a estrutura de posicionamento decimal, é igualmente inserida nos jogos matemáticos de forma que o jovem aluno conceba em processo de aprendizagem e ensino, onde ele próprio é proponente das estruturas matemáticas que vão tornado-se cada vez mais significativas quanto complexas para dar conta da necessidade de quantificações cada vez mais amplas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PÁGINA 4 vezes não encontramos na literatura matemática, assim como no repertório cognitivo do professor e nem no currículo da escola. Muitos são os exemplos que poderemos tomar para demonstrar a capacidade de produção inusitada dos alunos quando são efetivamente alfabetizados no contexto da Educação Matemática, o que é para os alunos em formação da UAB/UnB, casos que surpreendem em comparação com suas próprias trajetórias educativas que se pautaram pela imposição de lógicas formais e raciocínios matemáticos engessados em determinados esquemas mentais estritos e pobres, cognitivamente falando. Vejamos a produção a seguir de uma criança em alfabetização, quando se sente livre e valorizada a produção criativa, enquanto pensamento e registros, e calcada em sua compreensão do número: Vemos que esta menina de 7 anos de idade não se intimida diante da necessidade de retirar 12 de 30, uma vez que compreende o 30 enquanto 3 grupos de dez. Inicialmente retira uma dezena (o 10 dos 12 a serem retirados) e troca uma dezena por 5 notas de 2, o que lhe permite a retirada dos 2 que ainda faltavam retirar. Em que isto é importante? Na proposta de formação em Educação Matemática da UAB/UnB, tais perspectivas da aprendizagem matemática pela criança colocam em cheque a própria noção e significado de ensinar: diante destas possibilidades de produções das crianças, sem estarem a reproduzir algoritmos presentes na cabeça do professor ou no livro didático: O que é ensinar? Qual é o papel do professor? Frente a tais questões, capitais na formação assim como na atuação pedagógica, somos lançados à estudos de fundamentação psicológicas sobre as noções de mediação e intervenção pedagógica. A instrumentalização profissional e humana do professor para dar conta destes desafios nos remetem necessariamente a estudos da psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento tais como Vigotski (2000), Bruner (1987), e mais recentemente, de Vergnaud (1990 e 1994) e sua teoria dos Campos Conceituais, na busca da compreensão dos complexos processos cognitivos de produção de esquemas mentais, funções superiores, apoiadas no desenvolvimento da conceitualização e linguagem de nossos alunos. Isto acaba por garantir que a formação em Educação Matemática tenha uma forte conotação interdisciplinar. A interdisplinaridade do produzir e aprender matemática na escola, e por consequência na formação dos educadores (D`AMBRÓSIO, 2009 e SKOVSMOSE, 2009) está presente também na necessária e desejável ampliação da noção do número natural para contextos significativos mais amplos. É assim que na formação a proposta epistemológica e metodológica motiva buscar nos contextos socioculturais 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA situações com valores monetários e medidas que vão requerer a ampliação da noção e do registro do número quando as quantidades envolvidas não são mais estritamente inteiras. Como lidar e registrar partes do inteiro? Na proposta, o que mais uma vez aparece como inovador para nossos cursistas da UAB/UnB é a articulação de materiais, contextos e processos dos números naturais com os decimais, sempre valorizando as ideias das próprias crianças, muitas vezes trazidas de seus contextos socioculturais, e outros produzidos e apresentados em situações de desafio propostas no grupo dentro da sala de aula pelo professor. É assim que vemos nos professores a capacidade de identificar nas crianças a construção de significados de valores simbólicos atribuídos aos números, os quais geram registros poderosos do fazer matemática de nossas crianças, que são fundamentais a serem inseridos nos tempos presentes e futuros nos processos de formação de nossos educadores. Por exemplo, uma criança indica uma soma de valores de produtos de uma situação de compra de lanche na cantina por: 2 + 50 + 50 + 2 e coloca o resultado 5. Mas como pode 2+50+2+50=5 estar certo? Este é justamente nosso desafio no contexto da Educação Matemática, e, em especial, na busca de uma formação dos professores, trazendo a possibilidade do reconhecimento dos significados atribuídos pelos alunos à sua construção de saber (em especial, saber matemático). Afinal, no contexto, para o aluno os 50 referemse à centavos, e que 100 centavos formam um real. Muitas das vezes a distância entre significação, registro e interpretação gera um contexto de dificuldade, que pode levar a produção de fracasso de aprendizagem, que em nada contribui com o processo educativo. Aprender a reconhecer e valorizar a produção da criança e construir com ela um processo em direção às notações sociais é a função da professora que também vai se constituindo educadora quanto percebe e valida estas produções de seus alunos. Com isto descobrimos que estar professor (Freire, 2005) implica num permanente processo de constituir-se a partir da relação com o outro. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O investimento num trabalho pedagógico voltado para a construção do número pleno de significados permite que o futuro professor favoreça a construção de atividades mais significativas na escola. Isto implica na produção de uma matemática, que além de contextualizada, que valorize a diversidade de processos de aprendizagem na educação básica. A seguir tratamos do segundo ponto, igualmente importante, que é a construção de procedimentos em situações de resolução de problemas. 5 Outro conteúdo bastante polêmico é o das frações, que normalmente é trabalhado de forma restrita e limitante, e na nossa formação UAB/UNB este conceito é abordado de maneira ampla e revestido de múltiplos significados com a valorização da exploração das frações maiores que a unidade, a fração de quantidade e a fração como operador. Investir na formação inicial com novas concepções e possibilidades curriculares é, para nós, uma forma de influir no sistema educacional, revelando o quanto podemos ter o espaço de formação na UAB, que abrange diferentes regiões e realidades, como difusão para o sistema de ensino de novas possibilidades curriculares visando aprendizagens mais significativas e consolidadas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Contextualização, diversidade conceitual e procedimental: bases para a produção diversa e criativa do produzir e validar matemática na escola. PÁGINA 6 Para que existe a Matemática e para que sua presença na escola? A grosso modo, podemos afirmar, que é para resolver problemas, problemas impostos na relação do ser humano com a natureza, com seu mundo sociocultural, tecnológico, ético, estético e, em especial, para sua transcendência. A resolução de problemas, enquanto possibilidade de construção de caminhos, concebe a ideia de uma produção matemática na escola que pauta-se pela rica e incontestável diversidade de saberes, de valorização e socialização de múltiplas formas de pensar, registrar e validar o conhecimento. Assim, ensinar e aprender matemática na escola básica não pode ser mais concebido como imposição de processos únicos de pensamento: mesmo na matemática não há uma verdade única, as respostas são construídas por sujeitos que pensam em situações-problemas desafiantes, mobilizando conceitos, resignificando-os (VERGNAUD, 1900, 1994), ampliando-os, desestruturando-se e gerando novos procedimentos. Assim, a organização do trabalho pedagógico (RESENDE, 2006) assume uma nova conotação na sala de aula matemática, apoiada na investigação, na comunidade investigativa, onde há a busca e valorização dos processos diversos de resolução, onde cada estratégia reflete formas distintas de interpretar, proceder e validar o conhecimento em ação (VERGNAUD, 1900, 1994). A alma da aula de matemática, e isto é parte essencial da formação na UAB/UnB, é o espaço pedagógico de socialização que o professor instaura em sala de aula entre os alunos das múltiplas formas de produção do saber. Isto implica em mobilizar competências que estavam esquecidas no currículo de matemática brasileiro, que é o poder de externalização de seus pensamentos matemáticos, seja na forma de registro material, gráfico, ou oralidade, num contexto de argumentação, justificação e prova de suas atividades matemáticas. Nesta dinâmica o professor entra como animador, instigador, provocador, e, em dado momento, como o agente da institucionalização do saber mobilizado em situação pelos alunos e socialmente validado. É o momento em que o professor volta-se para o aluno ou o grupo e diz: “Você pode fazer assim, sim”; “Que legal! Nunca tinha visto isto antes, mas dá certo, podemos fazer assim também”; “Isto que você está fazendo aparece no livro didático de outra forma, mas parecido, vamos ver lá”; “Vamos fazer um cartaz e fixar no mural para que todos também aprendam desta forma”, ou “Vamos fazer um box no caderno e escrever e explicar nosso jeito de fazer”. É quando o pensamento e esquemas mentais do professor não é o conhecimento mais importante, nem o único válido e nem sempre o ponto de partida ou chegada. O professor precisa, na fala Freiriana (FREIRE, 2005), estar pronto a aprender com seus alunos, sobretudona produção da matemática mergulhada em situações e contextos significativos. Se na formação em Educação Matemática na UAB/UnB aprendermos isto, ganhamos a vida e seremos melhores educadores que a maior parte dos professores que tivemos, e poderemos participar da construção de uma escola melhor para nossas crianças e jovens. Não apenas na resolução de problemas, mas isto deve valer também na construção dos procedimentos das operações aritméticas. Se o ensino de matemática pauta-se na imposição de algoritmos ortodoxos, muitas vezes incompreensíveis, pois são desprovidos de 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA significados, a proposição nesta formação é também a valorização da construção pelo aluno de esquemas próprios que potencializem a capacidade de produção criativa e crítica. O trabalho pedagógico com as operações enfatiza três momentos centrais: 1) A construção de conceitos - que deve ser a base da aprendizagem das operações aritméticas. Neste momento o trabalho com os alunos deve ser intenso de atividades que os propiciem de gradativamente, construírem cada conceito; 2) O desenvolvimento de procedimentos caracterizado pela diversidade e criatividade na produção matemática dos alunos. Cada criança vai desenvolver e expressar seu pensamento e a compreensão dos conceitos através de estratégias próprias de registros que serão validadas e socializadas pela professora; e, 3) A hermetização dos procedimentos - a desejável evolução dos procedimentos para algoritmos. Neste momento chega a hora da evolução para processos mais estáveis, socialmente validados, implica num processo de “hermetização” (fechamento, conclusão, isolamento) dos procedimentos iniciais da criança. O tratamento didático às operações no Brasil restringe-se ao terceiro momento, indo diretamente para o ensino de processos historicamente construídos, de forma que os alunos têm que reproduzi-los. Tal ensino inclusive é desprovido da dimensão histórica destes processos, uma vez que a escola não trata do longo trajeto percorrido pela história para a consolidação de tais algoritmos. São algoritmos que mesmo os professores não compreendem seus significados. Na formação, na práxis pedagógica, no currículo, nas políticas públicas, tornar aquilo que oprime, que reprova, que discrimina e exclui em elementos de valorização, de inclusão de ânimo e motivação lúdica pelo fazer matemática dentro e fora da escola, eis mais um dos desafios que abraçamos nesta formação de educadores matemáticos no contexto da UAB/UnB Além dos desafios no campo dos números e operações, esta formação busca avançar em muitos pontos no que refere ao trabalho com grandezas e medidas, o que trataremos a seguir. Sujeitos ativos, medindo, comparando, registrando, discutindo: a ação como base essencial para a produção de saber e de aprendizagens na escola, dentro e fora da sala de aula. Numa visão geral da formação no que refere às grandezas e medidas, busca-se levar a ideia que tal aprendizagem será significativa a partir do momento que comecemos a abrir as 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Buscamos na proposição da UAB/UnB construir uma visão didático-pedagógica do ensino e da aprendizagem das medidas apoiada na ação efetiva de medir e registrar. Resgatar junto aos nossos cursistas o conceito fundamental da medida enquanto comparação. Para tanto, a proposta coloca como gênese da aprendizagem das medidas o necessário trabalho que permita aos alunos dos anos iniciais o desenvolvimento da percepção das grandezas, o que é fundamental no processo de conceito e procedimentos da medição. 7 Um desafio que nos impomos na formação em educação matemática da UAB/UnB é ultrapassar a visão restrita do ensino de medidas no currículo dos anos iniciais que normalmente se resume a, de forma teórica, sem vivências, apresentar as unidades legais de medidas e ensinar as transformações via tabela de todos os múltiplos e submúltiplos. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA portas e janelas da escola para sociocultura. É fundamental que os formandos da UAB/UnB possam aprender a planejar e ofertar contextos que requeiram a medição, comparações, registros, construção e uso de instrumentos de medidas. Valorização de jogos de simulação de compras, vendas, concepção de produtos, estudo de materiais impressos distribuídos no comércio, assim como excursões in lócus no mundo do comércio, agropecuária, indústria, artesanato, esportes, descobrindo o quanto a matemática está presente no mundo por intermédio das medidas. Pressupomos que ao realizarem tais propostas, nossos alunos possam contaminar toda a escola promovendo uma mudança curricular no que diz respeito às medidas e sua aprendizagem. Outra centralidade é construir propostas pedagógicas para a sala de aula onde o corpo é assumido como primeiro instrumento de medida, fornecendo unidades de medidas, mesmo que não padronizadas. Esta é mais uma vez a oportunidade de trazer para a escola a dimensão histórica do conhecimento matemático. Isto possibilitará ver a matemática no contexto sociocultural por meio do mundo das medidas. Conhecer de fato as reais dimensões das unidades de medidas, os principais múltiplos e submúltiplos, articulando sempre a medida, seus registros e comparações com os números decimais e fracionários e construir necessárias articulações com as demais áreas de conhecimentos. PÁGINA 8 Tudo isso faz conceber uma sala de aula repleta de instrumentos de medidas de uso cotidiano dos alunos tais como fita métrica, relógios, calendários, balanças e termômetros, etc. Constituir um ambiente pedagógico onde MEDIR é parte essencial do cotidiano escolar. Sempre propondo situações problemas e desafios envolvendo medidas, em especial mobilizando contextos de motivação dos alunos. Estarmos atentos as capacidades dos alunos a criarem, proporem, discutirem, decidirem sobre procedimentos mais adequados, justos e socialmente validados para realização de medidas cada vez mais justas e precisas, tomando consciência de que o desenvolvimento científico e tecnológico está bastante associado ao desenvolvimento das formas e procedimentos da civilização humana medir. Compreender este processo histórico é assimilar a dimensão humana, histórico-cultural, nem sempre precisa e justa, da produção matemática que varia, em especial quando se trata de medidas, de cultura para cultura, de país para país, em cada tempo histórico. Compreender que fazer matemática é a busca desta pretensa precisão, que muitas vezes não podemos obter nos trabalhos práticos da sala de aula, que podem ocorrer no nível do imaginário, das hipóteses, da teorização, da idealização de um mundo mais justo e preciso, no campo das idéias e dos conceitos matemáticos. Desenhar e saber nome das figuras: uma pequena parte do grande mundo das geometrias, com necessária ampliação dos conceitos e ideias o espaço vivido, concebido e representado. Identificar e dizer o nome das figuras planas e tridimensionais, segundo número de lados e vértices é muito pouco diante da riqueza de possibilidades do estudo da geometria na escola básica. Um desafio que nos impomos, tutores de Educação Matemática da Pedagogia da UAB/UnB é ter a formação como uma oportunidade impar de ampliar as concepções epistemológicas e metodológicas do estudo da geometria na escola, tendo os egressos da UAB/UnB como importantes agentes de transformação da aprendizagem da geometria escolar. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA O ensino da geometria é associado ao estudo dos espaços e formas, e somente numa revisão conceitual do que compreendemos por espaço, enquanto espaço vivido, percebido e mental e afetivamente representado, assim como de formas não presas e fixas nas folhas do livro ou do caderno, mas com movimento, de ir e vir, de rotacionar, de desmontar e remontar, são alguns caminhos propostos para na formação que concebermos como possibilidades de uma geometria mais viva. Acontece que no currículo escolar observa-se uma forte priorização da geometria formal com significativo abandono da geometria como ferramenta de resolução de problemas da vida concreta. Na escola, com excessiva valorização dos aspectos formais da geometria, constata-se um distanciamento do seu ensino das situações de vida que dão origem e sentido aos conceitos e procedimentos geométricos. Portanto, nesta formação é necessário resgatar uma geometria mais significativa impregnada de motivação sociocultural. Isso implica a descoberta de outros aspectos epistemológicos acerca desta área de conhecimento, para o desenvolvimento de uma postura diferente em relação à mesma. Assim, será possível que estes profissionais, a partir de um novo paradigma, concebam novas e diferentes formas de mediação pedagógica da geometria na sala de aula nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Na verdade há uma grande diferença entre aprender álgebra ou análise e aprender geometria. Teóricos da epistemologia das ciências matemáticas, tal como Poincaré (1968), francês do início do século XX, apoiados em Kant (apud PIAGET, 1947) já diziam que enquanto a aprendizagem da álgebra se sustenta num “olhar para dentro”, a aprendizagem de conceitos geométricos apoia-se num “olhar para fora”. É importante que reflitamos sobre tal afirmação e suas implicações de ordem tanto psicológica quanto didática, as quais são de fundamental importância na formação e na atuação dos professores. Enquanto a fonte da produção dos conhecimentos algébricos sustenta-se na lógica, na reflexão, na abstração de conceitos formais, ao contrário, a fonte primária e primeira da construção do conhecimento geométrico pelo homem, é a observação do seu meio ambiente e a ação efetiva na conservação e na transformação da natureza na busca da própria preservação, proliferação, sobrevivência, desenvolvimento e transcendência da vida humana. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Na formação busca-se discutir como trazer para a práxis pedagógica essa perspectiva que concebe que o aluno deva agir sobre seu mundo para aprender geometria. Como conceber uma proposta pedagógica da ação, da representação, da reflexão, permitindo que os conceitos geométricos sejam produtos mentais produzidos pelos próprios alunos, em sua efetiva ação sobre seu mundo? O debate acerca da aprendizagem da geometria ainda 9 Observar a natureza, os produtos culturais, agir sobre eles, produzi-los, reproduzi-los, transformá-los e representá-los mentalmente, criar projetos mentais e buscar concretizá-los, deve, nesta perspectiva teórica, ser a fonte geradora de saber geométrico, que insere grande importância para a didática de sala de aula: aprende-se geometria na observação e na ação efetiva sobre o mundo real. Ninguém pode construir conceitos geométricos pela simples contemplação inerte do mundo. É sendo agente ativo sobre o mundo que podemos construir, nos anos iniciais, os conceitos fundamentais da geometria. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA apresenta um grande desafio tanto para os professores quanto para os pesquisadores. O conceito geométrico aparece num primeiro estágio atrelado às experiências físicas e sensoriais (tatos, movimentos e olhares) realizadas no mundo físico que nos cerca. Este primeiro estágio é concebido como o nível perceptivo, quando os conceitos geométricos surgem e são dependentes dos sistemas sensoriais. Desde bem cedo, a criança, agindo sobre contextos reais e próximos a ela, realiza experiências, levanta hipóteses, planeja ações, avalia resultados e revê posições consideradas importantes na construção dos primeiros conceitos geométricos. Associadas as experiências temos as representações mentais: o que o sujeito constrói mentalmente a partir das ações bem ou mal sucedidas. Tais representações têm a ver como o sujeito concebe mentalmente suas experiências; como se dá a interiorização do espaço nas estruturas mentais. Isso nos leva aos objetos geométricos construídos mentalmente que servem como instrumento para as representações mentais do espaço circundante. As formas geométricas são exemplos disso, que aparecem como forma de representação do mundo e dos objetos dele pertencentes. Uma vez concebidos no sistema nervoso central, são por ele utilizados para assimilar e representar o espaço. Círculo, quadrado, retângulo, esferas e pirâmides passam a servir para um novo olhar sobre a natureza. Utilizamo-nos das formas geométricas para representar o mundo à nossa volta e, através de sua representação, expressar nossos pensamentos e sentimentos. A escola deve levar em conta o desenvolvimento infantil, uma vez que sendo a representação via desenho uma das dimensões da geometria, a competência da criança em mobilizar tal representação depende, dentre outros fatores, do desenvolvimento de sua representação por meio de desenhos. PÁGINA 10 Terminada a experiência, o que fica de mais significativo em termos de aprendizagem são os conceitos construídos na experiência – o aquilo que a experiência permite ao aluno conceber em termos geométricos. A ação internalizada passa a fazer parte da estrutura conceitual, constituindo nas ferramentas utilizadas pelo sujeito para resolver problemas. O que o sujeito concebe das experiências é parte essencial da aprendizagem. Portanto, a aprendizagem geométrica é alicerçada por essa tríade construída a partir da ação do sujeito no seu mundo: o que percebe, o que representa e o que concebe da experiência. A pedagogia deve levar em conta essa tríade na ação educativa. A nossa discussão acaba por canalizar toda a argumentação acerca da aprendizagem e do ensino da geometria para a importância da ação efetiva do sujeito para que haja construção de conceitos: é na ação efetiva, refletindo e representando-a que construímos nossos conceitos geométricos. Isso trás duas consequências importantes: uma de ordem psicológica e outra de ordem pedagógica, ambas vitais para a formação do professor. A dimensão pedagógica desta discussão nos leva à necessária constituição de um currículo sustentado na ação, reflexão e representação multimediatizada. Não é, portanto, fazendo com que o aluno fique sentado na carteira, permanecendo entre quatro paredes, lendo o livro didático, que o educador participará eficazmente do processo de conceitualização geométrica. Ao contrário, um contexto que favoreça tal processo deve privilegiar, dentre outros, aspectos como extrapolar o espaço da sala de aula; resgatar o corpo como elemento vital na orientação e deslocamento espacial; delimitar, demarcar, comparar, medir e representar, via desenho, diversos espaços de significado sociocultural para o aluno 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA (moradia, esporte, escola, etc.); desmontar, projetar, construir embalagens; trabalhar com jogos tipo quebra-cabeças, explorando a noção de superfície e sua conservação; explorar as noções de espaço presentes nos esportes; desenvolver jogos por meio dos quais as noções de espaço sejam centrais, tais como a finca, bolinha de gude, queimada, pipa (sua confecção e soltar a pipa); trabalhar com croquis, plantas, mapas; valorizar o papel do desenho no processo de representação de espaços. Essas são apenas algumas ideias de consequências pedagógicas da valorização da ação efetiva do aluno sobre seu espaço na construção de conceitos geométricos. Mais que “reproduzir” tais proposições, cabe ao futuro professor observar os interesses e as situações que envolvem o espaço e sua representação para, então, propor atividades mais significativas para o aluno. Ter a ação sobre os objetos geométricos como base da construção dos conceitos, deve implicar a introdução de novos materiais no processo pedagógico, novas configurações da relação professor-aluno, novas concepções acerca do processo de formalização e institucionalização do saber. Trocar um ensino baseado nas atividades estáticas do livro didático pela efetiva ação dos alunos sobre os objetos requer um repensar mais amplo da práxis pedagógica, e, em especial, reenvestir na formação inicial e continuada dos professores. Neste sentido tratar da Educação Matemática no contexto da UAB foi, é e ainda será um grande desafio para os educadores envolvidos no processo formativo, o que, por vezes, implica numa própria desconstrução e reconstrução diante do desafio em formar professores na perspectiva da Educação Matemática via educação a distância, atingindo pólos de variadas regiões com realidades bem diversas. REFERENCIAS BERTONI, N. E. Educação e Linguagem Matemática II: Numerização. Módulo II do PEDEaD. Brasília: UnB, 2007. BRUNER, J. Le développement de l’enfant: Savoir Faire, Savoir Dire. Paris : PUF, 1987 MUNIZ, C. A. (Org.); BITTAR, Marilena (Org.) . A aprendizagem matemática na perspectiva da Teoria dos Campos Conceituais. 1. ed. Curitiba: CRV, 2009. v. 1. 93 p MUNIZ, C. A. Diversidade dos conceitos das operações e suas implicações nas resoluções de classe de situações. In: Gilda Guimarães e Rute Borba (Org.). Reflexões sobre o ensino 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, São Paulo: Paz e Terra, Brasil: 45a. edição, 2005. 11 D’AMBRÓSIO, U. Filosofia, matemática e formação de professores. In: FÁVERO, Maria Helena; CUNHA, Célio da. Psicologia do conhecimento: o diálogo entre as ciências e a cidadania.Brasília: UNESCO, Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília: Liber Livro Editora, 2009. 332p. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA de Matemática nos anos iniciais de escolarização. 1 ed. Recife: SBEM, 2009, v. 1, p. 101118. MUNIZ, C. A. A produção de notações matemáticas e seu significado. In: Maria Helena Fávero e Célio da Cunha. (Org.). Psicologia do Conhecimento: o diálogo entre as ciências e a cidadania. 1 ed. Brasília: Unesco e UnB, 2009, v. 1, p. 115-143. PIAGET, J. La naissance de l’intelligence chez l’enfant, Lausanne, Delachaux et Niestlé, 1947. POINCARE, H. La science et l’hypothèse, Paris: Flammarion, 1968. POINCARE, H. La valeur de la science, Paris: Flammarion, 1970. RESENDE, L. M. G. “Paradigma e Trabalho Pedagógico” in Tacca, C. V.R. (Org) Aprendizagem e Trabalho Pedagógico, Campinas: Ed Alínea, 2006. SKOVSMOVE, O. Preocupações de uma educação matemática crítica. In: FÁVERO, Maria Helena; CUNHA, Célio da. Psicologia do conhecimento: o diálogo entre as ciências e a cidadania.Brasília: UNESCO, Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, Liber Livro Editora, 2009. 332p. VERGNAUD, G. La théorie des champs conceptuels , in Recherches en Didactique des mathématiques, Vol.10.2.3, Grenoble : Ed. La pensée sauvage, 1990. VERGNAUD, G. L’enfant, la mathématique et la réalité, Paris : Peter Lang, 1994. VERGNAUD, G. A contribuição da psicologia mas pesquisas sobre educação científica, tecnológica e profissional do cidadão. In: FÁVERO, Maria Helena; CUNHA, Célio da. Psicologia do conhecimento: o diálogo entre as ciências e a cidadania.Brasília: UNESCO, Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília: Liber Livro Editora, 2009. 332p. PÁGINA 12 VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Ed Martins Fontes, 2000. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA GRUPOS DE ESTUDOS E PESQUISAS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA: O CASO DO IFES-VITÓRIA Maria Auxiliadora Vilela Paiva1 [email protected] Sandra Aparecida Fraga da Silva2 [email protected] INTRODUÇÃO A formação inicial e continuada de professores que ensinam Matemática tem sido amplamente discutida atualmente. São diversas atuações realizadas a partir de demandas existentes nos diferentes âmbitos da educação. Em se tratando de ações para Formação Continuada de Professores no Brasil intensificaram-se a partir da década de 80 (SEF, 1999). Mas somente na década de 90 a formação passou a ser considerada como uma das estratégias fundamentais para o processo de construção de um novo perfil profissional do professor. Dessa forma, vários são os espaços e tempos que a formação de professores vem ocorrendo. Em nosso caso, muitas foram as experiências com a formação de professores ao longo desses 30 anos. Neste artigo destacamos experiências vivenciadas em grupos de estudos e pesquisas no Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes - de 2007 a 2012 envolvendo alunos e professores. Professora doutora em Matemática pela PUC-Rio, área de concentração Educação Matemática. Aposentada da Ufes e professora da Licenciatura em Matemática e do Mestrado Profissional em Ciências e Matemática do Ifes-Vitória. 2 Professora doutora em Educação pela Ufes, atua na licenciatura em Matemática e no mestrado profissional em Ensino de Ciências e Matemática no Ifes/Vitória, é coordenadora de área do Pibid e do Laboratório de Matemática, e participa dos grupos de estudos e pesquisas Geem-Ifes, Gepem-ES e Gepep. 3 Em dezembro de 2009 o Cefestes passou a constituir o Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 1 13 Ressaltamos que desde que o Ifes, antigo Cefetes3 tomou como uma de suas metas a formação de jovens e adultos trabalhadores, por meio do EMJAT (2001), posteriormente o Proeja (2006), e a formação de professores por meio das Licenciaturas, em particular a de Matemática (2007, essa política de formação de professores foi impulsionada e, durante esse processo, grupos de estudos e pesquisas foram se organizando nesse sentido. Foram introduzidos o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBID e a criação do Mestrado Profissional do Ensino de Ciências e Matemática - Educimat, este último em 2011. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Dentre os vários espaços de formação do Ifes vamos nos ater em ações do Grupo de estudos e pesquisas em Educação Matemática do Espírito Santo – Gepem-ES, composto por alunos da Licenciatura em Matemática do programa PIBIC, professores/pesquisadores do Ifes que atuam na Matemática e no Mestrado e alunos do Mestrado; e do Grupo de estudos em educação Matemática do Ifes – Geem/Ifes, vivenciada por alunos da que atuam no projeto Mais Educação em escolas públicas municipais da Grande Vitória e por professoras da licenciatura em Matemática. O GEPEM-ES Com a criação do EMJAT em 2001, e o Ifes aderindo ao Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na modalidade de Jovens e Adultos – Proeja, em 2006, teve início um projeto de formação dos professores que atuam nessa modalidade de ensino. Em 2008, professores da coordenadoria de Matemática criaram um grupo de estudos denominado: Grupo de Educação Matemática do Proeja - Gemp. As discussões do grupo concentravam-se na elaboração de materiais didáticos de Matemática para o Proeja, na discussão sobre práticas de sala de aula, a metodologia de resolução de problemas, na valorização de experiências e de culturas de alunos jovens e adultos e no currículo. Esse grupo contava com o apoio do grupo de pesquisa CAPES/Proeja/SETEC, convênio da UFES com o Ifes, por meio de suas pesquisas e espaços de discussão. Vale salientar que, além desse grupo, todos os professores do Proeja participavam, às segundas feiras, de um grupo no qual se discutiam os sujeitos da EJA, ações de sala de aula do Proeja e currículo integrado. Com apoio do grupo de pesquisa CAPES/Proeja foram elaborados novos currículos e discutidos materiais didáticos para áreas afins direcionados ao público jovem e adulto trabalhador. PÁGINA 14 O Gemp surgiu basicamente da necessidade de formação e busca de uma identidade de professores do Proeja. Mas o foco foi crescendo junto aos anseios e as necessidades, o que levou, em 2011, a ampliá-lo para um grupo de estudos e pesquisa em Educação Matemática do Espírito Santo – Gepem-ES4. Abrimos a outros professores e alunos de Matemática do Ifes que não atuam somente no Proeja, mas também nos cursos técnicos integrados, nas Licenciaturas e no Mestrado. O nosso objetivo neste trabalho é trazer para a discussão a forma com que diferentes grupos de estudos e pesquisas do Ifes, constituindo-se como grupo colaborativo, tem contribuído na construção de aprendizagens e saberes de professores e de alunos que deles participam. Ressaltamos também a relação desses envolvidos com os saberes e as mudanças para o desenvolvimento profissional docente e para a criação de uma identidade profissional desses atores. Os grupos colaborativos são nossos objetos de investigação, tanto no que tange ao seu papel e à sua importância nos estudos sobre a gestão de sala de aula de Matemática, e consequentemente, na aquisição de saberes docentes e sobre a relação desses professores com esses saberes. Analisamos situações vivenciadas nos encontros e nas trocas nos grupos, destacamos que consideramos que todos são epistemologicamente iguais e que as 4 Pontuamos que a partir dessa explicação vamos utilizar ora Gepem-ES e em algumas situações vamos utilizar Gepem, quando estivermos nos referindo ao grupo antes de 2011. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA diferenças emergem por meio das experiências vivenciadas por cada um dos componentes dos grupos. Nesse processo de troca de experiências, de construção de saberes e de mudanças de postura, o diálogo é fundamental, já que o verdadeiro diálogo mantém vivo a dialética entre ação e reflexão e contribui para a emergência da aprendizagem e da mudança de postura do professor nas relações com os saberes (CHARLOT, 2005). O diálogo é essencial para que possamos “construir uma cultura que implique uma atitude de vida, avançando na construção de saberes próprios da profissão e projetando o que está por realizar-se” (PAIVA, 2011, p. 164). O Grupo que se constituiu como colaborativo partia do princípio de que “a resposta aos desafios da realidade problematizadora é já a ação dos sujeitos dialógicos sobre ela, para transformá-la” (FREIRE, 2005, p. 193). E como diz Skovsmose (2007) a aprendizagem é pessoal, mas tem lugar nos contextos sociais e nas relações interpessoais, emergindo da comunicação entre participantes. O que move os grupos é a certeza de que todos constroem conhecimentos na interação com o outro, mesmo que o façam de pontos de vista e experiências diferentes, sendo a investigação no grupo um espaço do diálogo comum em busca de formas coletivas de transformar práticas docente e superar barreiras. Fiorentini (2004) destaca algumas características que se apresentam nesse tipo de trabalho, como voluntariedade, identidade e espontaneidade; liderança compartilhada ou corresponsabilidade; apoio e respeito mútuo. O respeito mútuo e o apoio, seja ele intelectual, técnico ou afetivo, são características no grupo colaborativo, prevalecendo a confiança e a cumplicidade. Voltamos a discutir o conceito de colaboração como apresentado por Boavida e Ponte (2002), sendo um processo mais abrangente, onde colaborar pressupõe o compartilhamento de processos, incluindo o planejamento, a execução (operar) e a avaliação. Acrescentamos ainda o sentido de trabalho colaborativo como um grupo que se reúne para compartilhar ideias e sentimentos, práticas docentes, anseios e medos, expectativas, saberes e vontades. Partimos do princípio de que, além dos saberes pessoais e da formação escolar, professores reconstroem saberes provenientes da formação profissional e da socialização nas 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Estudamos sobre Resolução de Problemas numa perspectiva metodológica, pois embasam o material didático e também o papel das crenças num trabalho de resolução de problemas por ser parte da pesquisa de três membros do grupo. As discussões realizadas contribuem para a construção de novos saberes sobre a prática e na prática de sala de aula dos componentes do grupo e, ainda, para a construção de uma identidade profissional ligada ao que seja atuar como professor no Proeja. 15 Nos últimos anos, o grupo tem centrado suas pesquisas no Proeja, tanto pela forma que foi constituído, como pela demanda desses cursos e pelo interesse de seus membros. Para dar suporte às ações do grupo que se refere à produção do material e criar um conhecimento maior do que seja trabalhar no Proeja, foram incorporadas às discussões e reflexões do grupo teorias que embasassem o trabalho e relatos de experiências de sala de aula. A princípio as reuniões eram semanais, mas a partir do segundo semestre de 2009 elas passaram a ser quinzenais, devido ao acúmulo de trabalho dos professores. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA instituições de formação, em contato com os currículos e materiais didáticos que utilizam em sua prática. Todos esses saberes são realmente utilizados pelos professores no contexto da profissão e em sala de aula. De 2008 a 2010, foram produzidos pelo grupo um total 10 módulos5 e já testados durante 2 anos no Proeja. No momento, o grupo está revendo e adequando esses materiais construídos e escrevendo os manuais do professor para cada módulo. Para esta tarefa contamos com alunos do PIBIC que tem como projeto de iniciação científica esse olhar epistemológico ou conceitual para os materiais e uma aluna do Mestrado Profissional que se debruça em analisar como o professor interliga o ensino-aprendizagem da Matemática do Proeja e o Projeto Integrador. Novos materiais estão sendo discutidos e elaborados e, novas problemáticas surgem nessas discussões. A formação dos alunos da Licenciatura em Matemática que estão no PIBIC possui interseções com o grupo colaborativo GEPEM-ES já que esses alunos participam ativamente. Dentre os trabalhos desenvolvidos até o momento temos: PÁGINA 16 Projeto de iniciação científica Período de realização do projeto As crenças que os alunos do PROEJA/ IFES sustentam sobre sua aprendizagem num trabalho via resolução de problemas 2009-2010 A construção colaborativa do material didático de Matemática do Proeja e sua contribuição na integração curricular 2009-2010 As crenças que os alunos do PROEJA/ IFES sustentam sobre sua aprendizagem num trabalho via resolução de problemas 2010-2011 As crenças sobre resolução de problemas dos professores do Proeja/ Ifes a partir de suas histórias de vida 2010-2011 A produção de materiais didáticos como um caminho para formação de professores de Matemática do Proeja 2010-2011 Experiências de alunos do Proeja: uma possibilidade de inclusão 2010-2011 O conceito de função como elemento de integração curricular e sua abordagem em um material didático para o Proeja 2011-atual O conceito de proporcionalidade como elemento de integração curricular e sua abordagem em um material didático para o Proeja 2011-atual Conceitos geométricos em bordados manuais de artesanato: organizando atividades e analisando construções do conhecimento matemático em turmas de Proeja 2011-atual 5 Maiores informações sobre a elaboração e concepção do material ver Freitas (2010) 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Quadro 1 – Projetos de PIBIC realizados por alunos da licenciatura em Matemática A formação inicial dos alunos da licenciatura em Matemática com atuação no PIBIC e o Gepem-ES Muitos são os depoimentos desses alunos sobre a importância das participações no grupo em sua formação como professor de Matemática. Os conteúdos discutidos na elaboração do material, a teoria de resolução de problemas, os relatos de experiência dos professores que atuam no ensino Médio do Ifes, em particular no Proeja , e os relatos das pesquisas do PIBIC são uma fonte para produção de saberes e de reflexões. A aluna Gisely6 ao falar da pesquisa sobre crenças de alunos do Proeja sobre a resolução de problemas coloca como foi importante para sua formação e como conseguiu perceber a relação dessa aprendizagem com outros projetos que participa, Aprendi o que era fazer uma pesquisa, o papel da teoria na análise dos dados e, sobretudo, a ter um novo olhar para o Proeja. Eu gostava muito da pesquisa que desenvolvia, mas ao ingressar no Mais Educação, nas ações do ensino fundamental - enquanto monitora de Matemática, não achava que fosse ter o mesmo olhar que tinha no PROEJA - enquanto pesquisadora. E, no entanto, tive (Gisely– questionário do grupo GEEM/Ifes dez/2011). A vivência no grupo e a pesquisa desenvolvida lhe ajudaram a desenvolver o espírito crítico e sobre tudo a dialogar e a lidar com a diferença. O Olhar sobre as crenças, o que aprendeu na pesquisa desenvolvida no Gepem, também fez diferença nesse trabalho e lhe ajudou a ver o outro e a aprender na interação. Assim ela diz: 6 Utilizamos nomes fictícios tanto para licenciandos como para os professores dos grupos citados. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Não somente ela, mas a aluna Edna ao se referir ao papel do Gepem em sua formação afirma que nele aprendeu a pesquisar e a se relacionar e a trabalhar em grupo. Diz ela que aprendeu muito na interação com o outro e ao ouvir e refletir com as experiências relatadas pelos professores, pois ao ver as relações que eles estabeleciam ao refletirem e discutirem as questões ligadas ao material elaborado, ou à gestão de sala de aula, ou às crenças de alunos e professores, muitos foram os saberes estabelecidos. Essas alunas continuam no grupo, mas agora já no desenvolvimento do TCC. É nítido que a postura dessas alunas mudou ao longo desses dois anos. São mais conscientes de suas responsabilidades em relação ao seu próprio desenvolvimento profissional e à formação de sua identidade docente. 17 Ao lidar com uma turma heterogênea no ensino fundamental (composta por alunos de 2º, 3º, 4º e 5º anos), com diferentes idades e experiências com a Matemática, identifiquei neles alguns tipos de crenças e tentei desenvolver um trabalho – o que incluiu mudança de minha própria postura enquanto docente – no sentido de modificar crenças e, por conseguinte, atitudes. O mais interessante é que só me dei conta de tudo isso com o tempo. Enfim, eu também modifiquei minhas crenças com relação à atividade docente e por que não dizer, com a Matemática (Gisely – questionário do grupo GEEM/Ifes dez/2011). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A formação continuada dos professores participantes do Gepem-ES Mudanças de atitudes e concepções ocorrem nessa interação, e nesse momento nos reportamos aos professores que constituem o grupo colaborativo em seus processos de reflexão ao relatar suas experiências. Iniciamos com a fala do professor Bernardo, ao se referir ao grupo e à sua prática: Antes de relatar o que aconteceu na sala de aula e como eram feitas as abordagens, gostaria de informar que primeiramente deve ser feito um trabalho com o professor, nós professores de uma forma geral temos as mesmas dificuldades de inovar, assim como as demais profissões. [...] tais mudanças de comportamento não podem ser impostas e sim debatidas, acredito que no grupo de discussão de professores de Matemática das turmas Proeja“GEMP”,[...], foi um fator preponderante para eu confiar na mudança. Na verdade os alunos sentem menos impactos que o professor, pois o mesmo agora se encontra frente de um novo desafio, que nem ele mesmo sabe se terá sucesso. Lecionar sem responder perguntas de imediato, propor trabalhos em grupos, fazer diversas perguntas para os alunos sobre um mesmo assunto ou cálculo, auxiliar no desenvolvimento do raciocínio lógico nos alunos, é algo extremamente desgastante, mas o retorno profissional em termos de satisfação de um trabalho bem feito é muito gratificante (Bernardo, 2008). A afirmação do professor sobre o papel do grupo nas mudanças de suas atitudes em aula, ao dizer: “foi um fator preponderante para eu confiar na mudança”, mostra como o grupo propicia ao professor espaço de relação com novos saberes, gerando um sentimento de confiança para inovar, aceitar o desafio de trabalhar numa outra perspectiva, sem medo, pois tem o grupo para compartilhar dúvidas e avanços. PÁGINA 18 O mesmo ocorreu com a professora Claudia, que relata numa entrevista como o grupo tem sido importante na construção de seus saberes acerca do Proeja, da resolução de problemas, da gestão de sua sala de aula e na interação com os alunos. Percebemos em sua fala a confiança em seu crescimento profissional, como professora do Proeja. Durante os trabalhos do Gemp eu desenvolvi muito profissionalmente. Todas as discussões e reflexões me ajudaram a entender o aluno PROEJA, eu passei a conhecer melhor a realidade dos alunos e aprendi a ouvi-los mais, a dar mais valor a cada sucesso alcançado pelo meu aluno. Outro ponto que considero fundamental foi aprender a trabalhar com Resolução de Problemas. Sempre tive muitas dúvidas e medos quanto à forma de trabalhar a resolução de problemas. Não sabia se estava no caminho certo, se os alunos estavam entendendo e, principalmente, como sistematizar o conteúdo. As discussões do Gemp sempre me apoiaram muito. Foi no grupo que eu aprendi a ensinar a Matemática de uma forma mais prazerosa (Professora Claudia, 2010). No caso em questão, verificam-se como os conhecimentos relacionados à forma de ensinar Matemática no Proeja, à Resolução de Problemas e à importância do diálogo na 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA aprendizagem foram construídos na interação com o grupo. São esses conhecimentos parte do saber pedagógico-disciplinar (SHULMAN, 1986) que integram um conjunto de saberes próprios dos professores, conhecimentos sobre a Matemática; sobre como ensinar e que conteúdos ensinar. A professora Claudia e o professor Bernardo atribuem ao grupo a confiança adquirida para trabalhar com Resolução de Problemas. Encontraram no grupo respaldo para inovar e refletir sobre os novos conhecimentos, transformando-os em saber da e na prática. O professor Alexandre também nos mostra na entrevista a importância da troca de experiências nas reuniões, que, conforme diz, ajuda na relação com os alunos e nas ações de sala de aula: Penso que nossas reuniões são de extrema importância. Nelas podemos trocar experiências e tratar de nossas ações com os alunos [...]. Acho que uma questão importante construída nessa troca é a atenção ao diálogo, seja com os alunos seja com os colegas professores. Coloca ênfase no diálogo como um saber construído a partir das interações do grupo e da reflexão sobre as experiências relatadas. Constatamos mais uma vez que o grupo colaborativo contribui eficazmente para a formação do professor já que proporciona a ele uma relação com seus pensamentos, com uma forma de agir baseada no princípio de que “toda relação com o saber é também relação com o outro” (CHARLOT, 2005, p.27). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Gostaria de relatar o que está acontecendo comigo. Um aluno me procurou e falou: ‘professor, eu quero te contar uma coisa que não vai ser muito legal’. Eu falei: ‘o que foi?’ As suas aulas você está debatendo, você leva a conversa para o lado do social, usamos muito a máquina, mas está faltando um pouco pegar no quadro, [...] Eles falam que eu devia ir ao quadro, fazer para eles e entregar as resposta e não deixá-los pensar. A parte chata nisso é que ao usar a proposta de trabalho que nós estamos discutindo aqui têm uns três caras, meninas falando que eu não estou dando aula de Matemática. Que a minha aula parece mais um debate social, porque eu levo a Matemática para outras áreas e que eu dou poucas respostas no quadro, resumindo, eu ensino pouco, eu os deixoeles pensarem mais, e que o caderno de Matemática sempre tinha dez páginas de exercícios por semana, agora só tem três páginas de exercícios. Eu ouvi e nem falei que eu estava certo ou que estava errado, falei que ia ver. Eu falei assim, eu nunca recebi uma crítica dessas, que não estou dando aula, que isso não é aula de Matemática. Esse tipo de trabalho gerou problemas para com a minha pessoa de que não estou dando aula. (Prof. Bernardo, 2008) 19 Outra contribuição importante do trabalho via colaboração, presente nesses relatos, é constituir-se uma estratégia fundamental para lidar com problemas e questões com que não nos sentimos confortáveis, por falta de conhecimento e prática, pois o grupo nos põe diante de parceiros que nos ajudam a refletir e tomar decisões. As angústias relatadas pelo professor Bernardo reforçam o papel do grupo na construção de saberes e na mudança de atitudes dos professores. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Essa reunião ficou marcada com nitidez, bem como o desabafo e a expressão angustiada do professor. Colocamos nossas experiências no que tange à mudança de paradigma. Outros colocaram a importância do grupo nessa hora e a necessidade de se estudar a teoria que embasa uma prática via resolução de problemas. Freitas (2010), ao relatar em sua tese a elaboração do material didático do Proeja e discussões e reflexões no grupo colaborativo, se reporta à fala desse professor e reforça a importância do espaço de trocas que o Gemp proporciona. Era interessante termos espaço para esse tipo de trocas de experiências, ao mesmo tempo em que compartilhávamos nossas angústias e dávamos força um para o outro na mudança de paradigma, o que era bastante doloroso para alguns de nós. Imagina um professor, considerado bom profissional ouvir críticas de uma hora para outra em relação à sua forma de ação (FREITAS, p.198). O que foi interessante nesse processo foi o outro relato do professor Bernardo após alguns minutos que estávamos discutindo a questão de iniciar um processo novo que ainda não nos sentimos confortáveis. Eu acho que estou no caminho certo, estou gostando de dar uma aula onde eu não dou a resposta pronta e eles têm que pensar. Só que eu não quero também que a cultura de achar que eu não estou dando aula se espalhe na sala. Eu tenho certeza que estou fazendo o trabalho certo, [...] Mas é uma crítica que eu não podia deixar passar em branco, eu tenho que tentar sanar (Professor Bernardo, 2008). PÁGINA 20 O grupo todo se mobilizou para tentar entender o que se passava com o professor Bernardo e esse relato permitiu que novos saberes sobre a sala de aula fossem construídos, bem como o conhecimento de que mudanças de atitudes e de metodologias precisam ser revistas e revisitadas a todo o momento, pois geram insegurança. E, como nos fala Freire (2005), o aluno da EJA, excluído do sistema escolar, quer para sua formação uma sala de aula com a mesma metodologia que o tirou desse sistema, pois é essa a escola que conhece. Seria esse o motivo dos questionamentos dos alunos ao professor Bernardo? Várias são as falas que remetem á concepção do material e à importância de discutirmos no grupo os conteúdos e a proposta metodológica nele contido. Uma das questões postas pelo grupo é a que professores que não participaram dessa elaboração, precisam ter um espaço para falar e refletir sobre a concepção que o embasa. Dessa forma, as discussões sobre o material didático têm ocupado uma grande parte das reuniões. A Professora Julia em 2011, também, antes de fazer a narrativa de suas aulas no Proeja, fez uma ressalva: “Depende se eu vou usar o material [referindo-se ao material didático do PROEJA] ou não”. Nas discussões chegamos à conclusão que sem o material sua aula ficaria bastante tradicional. No entanto, com o material, mesmo sem muito conhecimento sobre o trabalho com a Resolução de Problemas, a aula se torna um pouco mais centrada nos alunos. Essas falas nos mostram como as reuniões e discussões do grupo podem modificar ou levar a mudanças de posturas do professor. Discutir sobre as atividades a serem trabalhadas com a turma do Proeja, verificando objetivos e, permitindo que outros olhares sobre a atividade 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA surjam nas interações do grupo, tem sido uma constante em nossas reuniões. Isso contribuiu para o crescimento do professor e construção de novos saberes sobre a prática. Mais uma vez os saberes pedagógico-disciplinares se fazem presentes no grupo colaborativo e o professor, a partir das reflexões com o grupo, os incorpora à sua prática. Outro grupo o Geem-Ifes, no qual alguns dos componentes, sejam alunos ou professores participam também do Gepem-ES, vivenciam diferentes discussões nas quais as experiências vividas e as reflexões se entrelaçam muitas vezes. O GEEM-IFES Esse grupo de estudos propõe discussões e análises de experiências vivenciadas por alunos da licenciatura em Matemática do Ifes/Vitória que atuam no projeto Mais Educação em escolas públicas municipais da Grande Vitória. As reuniões iniciaram em março de 2011 e acontecem quinzenalmente, contam com a participação de duas professoras da licenciatura em Matemática que possuem importante experiência em sala de aula do ensino fundamental. A dinâmica organizada para esse grupo é análise e reflexão sobre os espaços tempos que atuam, sobre o processo de ensino e aprendizagem de Matemática, sobre questões éticas e pedagógicas e sobre a Matemática necessária para o ensino fundamental. Discutimos as atividades que os licenciandos preparam para desenvolverem nas oficinas com os alunos e sugerimos modificações, ampliações e/ou reduções das sequências didáticas elaboradas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Defendemos a necessidade de constituir espaços de formação tanto inicial como continuada com grupos de estudos e pesquisas. Quando realizamos essas experiências com licenciandos estamos oportunizando diferentes aprendizagens, desde realizar uma análise sobre sua prática nas oficinas como perceber sutilezas que a pouca experiência ou a não compreensão total do processo de ensino e aprendizagem podem proporcionar. Esses grupos se tornam espaços-tempos de aprender a “ser e tornar-se” professor. A prática de sala de aula do professor passa de campo de aplicação de conhecimento a campo de 21 Utilizamos como proposta metodológica a reflexão crítica sobre as práticas vivenciadas por acreditarmos, assim como Llinares e Krainer (2006), que professores e futuros professores precisam ser vistos como construtores ativos dos seus próprios conhecimentos. Por esse motivo, precisam ser encorajados a refletir sobre suas próprias práticas e modificá-las quando for apropriado. Esse processo de trabalhar oficinas de Matemática gera momentos em que os alunos vivenciam práticas que precisam ser refletidas criticamente e analisadas para que possam se tornar fonte de conhecimento e saberes. Nossa intenção em realizar tais práticas é por defendermos que é a partir da reflexão sobre as experiências vividas e, não apenas, pelo fato de vivermos experiências que produzimos significados e aprendizagens. Percebemos que ao ouvirmos outras experiências também aprendemos, seja para repetir alguma prática que deu certo ou para servir de impulso para a produção de outras práticas. Relembrar os acontecimentos e relatá-los de relatar de “forma clara para os outros membros do grupo, pois precisamos reviver, analisar e reconstruir as experiências vividas, ou seja, refletir criticamente sobre nossas práticas” (SILVA, 2011, p. 3). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA produção de conhecimento, dentro de uma perspectiva de reflexão sobre essa prática conferindo voz ao aluno/professor. Retomamos “à dimensão humana da prática educativa e a uma relação que permita ouvir e dar voz ao professor, conferindo status de grande importância aos seus relatos, quando fala de seu trabalho” (PAIVA, 2006, p. 95) percebendo que essas histórias de vida promovem construção de saberes. Iniciamos as atividades desse grupo de estudos com relatos dos alunos sobre a participação dos mesmos no projeto Mais Educação. Eles comentaram sobre os anseios e as dificuldades que vivenciaram em 2010, quando ainda não participavam do grupo. As ações eram pensadas por eles e executadas sem reflexões aprofundadas. Os licenciandos apontaram como positiva a possibilidade de partilhar as experiências vivenciadas e ter um grupo no qual poderiam discutir questões relacionadas as oficinas que preparavam e executavam em três escolas diferentes. Uma questão que nos chamou a atenção foi o fato dos licenciandos atenderem alunos de diferentes séries/anos numa mesma oficina. O aluno Altair7 atuava em 2011 com crianças que cursavam do 5º ao 8º anos, ele pontuou que era complicado atender as diferentes demandas dos participantes da oficina, pois alguns já sabiam conteúdos de Matemática que outros ainda não tinham aprendido. Gisely partilhou que atuava com alunos de 4º e 5º anos e que a maior preocupação era em atender as dificuldades desses alunos de maneira adequada. O licenciando Lucas comentou que estava atuando com alunos de 9º ano e que tinham alunos que estava participando do programa pelo segundo ano, o que facilitava o desenvolvimento dos trabalhos. Já Talita e a Carla comentaram que atuavam em dois grupos de alunos, um do 5º ano e outro do 7º ano e que tinham alunos que já haviam participado do projeto. Notamos que com o início das atividades do Geem-Ifes os licenciandos ficaram menos ansiosos e mais seguros, pois tinham com quem partilhar suas experiências, dúvidas e vitórias. Nesse grupo lançávamos alguns questionamentos e deixávamos os integrantes à vontade para partilhar suas próprias ações. Essa atitude de escuta influenciou positivamente o desenvolvimento das atividades. Percebemos que a atuação desses licenciandos no projeto Mais Educação é algo que está colaborando com o crescimento desses alunos na sua formação docente. Em um questionário realizado no grupo ao final de 2011, Gisely destacou a abertura de visão dela em relação ao atuar na escola. PÁGINA 22 O Projeto Mais Educação surgiu como a primeira oportunidade que tive de atuar em sala de aula. A partir de então, as discussões realizadas na graduação começaram a ter significado para mim. O modo como teoria e prática se completava em minha atuação no projeto foi algo que me surpreendeu. Em um dos encontros Lucas nos relatou que estava preocupado com uma aluna que participava das oficinas disse que essa aluna era quieta, mas que realizava as atividades propostas, porém, nos últimos encontros ela não estava progredindo nas aprendizagens. Iniciamos um debate sobre questões pertinentes ao olhar atento do professor aos alunos com necessidades especiais. Pontuamos histórias de sucessos e insucessos, o que nos 7 Nomes fictícios para preservar a identidade dos licenciandos. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA permitiu refletir sobre a necessidade de valorizar os alunos e estar atentos a mudanças de posturas. Sugerimos que ao invés de brigar com a aluna que valorizasse algo que ela realizasse bem. No encontro seguinte, o licenciando comentava satisfeito o resultado, afirmando que ao elogiar a aluna numa atitude dela a mesma se transformou e voltou a realizar as atividades da oficina. Um destaque pontuado por Lucas em uma das reuniões foi a importância de ouvir o relato de outras licenciandas, o que num momento de adequação as demandas vividas lembrou-se do relato e aproveitou a situação para desenvolver algo semelhante. Essa atuação do grupo marcou o Lucas, como podemos verificar nas próprias palavras dele sobre a aprendizagem no grupo: Ainda que tivesse liberdade para escolher conteúdos e metodologias, no primeiro ano faltou um apoio efetivo em relação à área específica. As discussões feitas nas reuniões grupo de estudo promoveram reflexões sobre atividades realizadas e mudanças em minhas práticas docentes. O maior exemplo dessas mudanças que guardo é do episódio com uma aluna, que chamarei de Maria (nome fictício). Ela sempre foi uma aluna introvertida, que sentava no fundo da sala, que realizava todas as atividades, mas não se manifestava durante as aulas. Certo dia, notei que Maria havia mudado seu comportamento. Ela de repente passou a não realizar as atividades propostas. Sem saber o que fazer, compartilhei essa situação em uma das reuniões do grupo. As professoras orientadoras do grupo sugeriram tratar Maria de uma forma diferente, elogiando-a e valorizando-a. Na aula seguinte, fiz o que me foi sugerido. Foi impressionante a mudança de comportamento de Maria. Neste dia, fiquei muito feliz e vi na prática a importância de discutir minhas práticas num grupo de estudo. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Outra oportunidade proporcionada nesses encontros foi em relação ao conhecimento sobre os alunos. Os participantes começaram a prestar mais atenção as reações dos alunos e a tentarem realizar diferentes tarefas e de diversos modos para tentar atingir a todos. O interessante é que a partir da reflexão sobre a prática foi possível que os próprios licenciandos buscassem compreender as relações estabelecidas entre professores e alunos e entre os próprios alunos. 23 Como uma das atividades a ser relatada ao grupo, os licenciandos precisavam apresentar os locais da escola nos quais realizavam as oficinas de Matemática. Refletir sobre esses locais foi interessante, pois nos fez refletir sobre as condições de ensino e aprendizagem dos alunos da educação básica. Com base em fotos e filmagens cada licenciando apresentou seu ambiente de atuação nas oficinas fazendo considerações sobre o próprio trabalho pontuando o que o ambiente lhe fornecia de positivo e de negativo e refletindo sobre a dinâmica necessária para a continuidade das oficinas de Matemática. Essas falas contribuíram para o processo de formação desses licenciandos, pois percebemos como o ambiente e seus agentes contribuem ou atrapalham o processo educacional. Inclusive, após a fala de Gisely, na qual mostrou uma situação quase caótica de atuação, os demais membros do grupo reformularam suas falas, em especial, suas reclamações. Eles perceberam que as condições nas quais atuavam estavam melhores do que outras e que precisavam repensar suas afirmações. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Uma aprendizagem adquirida nos encontros do grupo Geem-Ifes é a necessidade de realizar registros das atividades desenvolvidas durante as oficinas para ajudar nas reflexões sobre o processo que foi realizado e para planejar os próximos passos. Notamos que o Altair faz as oficinas intuitivamente, participa pouco do grupo e não possui o hábito de preparar, com isso possuía dificuldades de relatar o que tinha desenvolvido até por não possuir registros escritos sobre o processo. Percebemos a pouca maturidade desse graduando e como a não reflexão crítica do processo não lhe ajudava a compreender o processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Lucas pontuou como era importante para ele o registro e como essa prática o ajudava a compreender o processo já ocorrido e a planejar novos passos. Em diferentes momentos pedimos para que os licenciandos redigissem relatos dessas práticas para que pudessem ser debatidos nos encontros. O grupo como espaço que proporciona reflexões e como ambiente em que se partilha experiências positivas e negativas foi pontuado por Gisely ao afirmar que: O grupo de estudos foi o espaço em que pude contar minhas experiências (e, muitas vezes, desabafar!), ouvir sobre as atividades desenvolvidas pelos demais monitores, receber sugestões, etc.. A partir das reuniões, comecei a me pressionar menos no sentido de alcançar resultados quantitativos no que se refere ao desempenho dos alunos. Também entendi que os desafios que enfrentamos na atividade docente, na verdade, ocultam possibilidades que somente são vistas quando se tem sensibilidade. Percebi que atividades simples podem fazer toda a diferença na aprendizagem dos alunos quando os objetivos estão bem definidos. Enfim, o grupo propiciou a mim reflexões que talvez não tivessem ocorrido sem a participação no mesmo. Os participantes desse grupo de estudos e pesquisas comentam sobre a importância desse espaço de troca para proporcionar uma visão mais ampla de trabalhos e atitudes em atividades desenvolvidas nas aulas e/ou oficinas de Matemática. Acreditamos na influência desse tipo de ações para o processo de formação “para que os professores compartilhem suas experiências, reflitam sobre seus fazeres e possam ouvir e serem ouvidas, para relatarem suas vitórias, seus anseios e buscarem juntos caminhos possíveis para desenvolverem em sala de aula” (SILVA, 2011, p. 9). PÁGINA 24 CONCLUSÕES As interações e discussões no coletivo nos mostraram os entraves e possibilidades desse processo, corroborando com a conclusão de que a aprendizagem depende das relações interpessoais e, consequentemente, da qualidade do contexto. Nessa partilha de experiências com alunos e professores, nesses dois grupos, percebemos que a colaboração com o grupo é no sentido de que novos saberes sobre a prática são construídos e saberes já fortalecidos são reavaliados, como é o caso da aluna que relatou sua pesquisa sobre crenças, por exemplo. O importante caminho trilhado pelos alunos da Licenciatura e pelos professores de Matemática do Ifes e as relações vividas no processo de formação, tanto inicial como 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA continuada, justificam a permanência e a necessidade desses grupos para o desenvolvimento profissional de todos os envolvidos. Ressaltamos a importância de que as relações entre professores/pesquisadores e licenciandos, compartilhando saberes e experiências docentes, com um objetivo comum conduzem à formação profissional com vistas à construção de uma identidade docente. Os alunos e professores do Gepem e do Geem trazem consigo o desejo de aprender e de mudar o que contribui para dar movimento aos grupos, que a cada dia constituem-se colaborativos. Ao aliar esse desejo aos saberes, experiências, espírito investigador e reflexões conjuntas, uma nova cultura de formação que dê voz ao professor vai se constituindo, diálogos vão se estabelecendo e mudanças se tornam possíveis. Entendemos que o processo de construção de saberes e a forma como o professor se relaciona com esses saberes são o caminho para o desenvolvimento profissional e para mudanças. Autores como Schulman, Charlot, Paiva, Freitas, Freire, Silva nos ajudaram a olhar para os diversos saberes construídos pelos professores e alunos no que se refere ao trabalho colaborativo, ao ensino-aprendizagem da Matemática no ensino fundamental, ao Proeja, à Matemática a ser ensinada no Proeja, valendo-se para isto da elaboração do material didático, discussões do currículo e de experiências de sala de aula e de oficinas de matemática elaboradas por professores e alunos da licenciatura. Paiva (2011a, p. 12) nos diz que “constatamos que o caminho percorrido pelo trabalho colaborativo é, quase sempre, imprevisível, mas determinado por todos os integrantes do grupo, além de ser um espaço privilegiado para a tomada coletiva de decisões”. Por esse motivo, acreditamos nos grupos de estudos e pesquisas como espaços de formação docente. E é esta certeza que nos move. REFERÊNCIAS BOAVIDA, A. M.; PONTE, J. P. Investigação colaborativa: potencialidades e problemas. In: GTI(Ed). Reflectir e investigar sobre a prática profissional. Lisboa: APM, 2002. pp.43-55. CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, Formação dos Professores e Globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed Editora, 2005. FREITAS, Rony Claudio de Oliveira. Produções colaborativas de professores de Matemática para um currículo integrado do Proeja-Ifes. Dissertação de Doutorado em Educação - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2010. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 46ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005. 25 FIORENTINI, Dario. Pesquisar práticas Colaborativas ou pesquisar colaborativamente? In: BORBA, M. C.; ARAUJO, J. L. Pesquisa Qualitativa em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA LLINARES; S.; KRAINER, K. Mathematics (student) teachers and teacher educators as learners. In: Gutierrez, A., & Boero, P. (Ed.). Handbook of research on the psychology of mathematics education: past, present and future. Rotterdam, The Netherlands: Sense Publishers, 2006, p. 429-460. PAIVA, M. A. V. O Grupo Colaborativo do GEMP como contexto de construção de saberes e de relação com os saberes. Caderno de Pesquisa em Educação. UFES – CE/PPGE, v.17, n.35. Vitória: PPGE, 2011, p.161-193. PAIVA, M. A. V. O professor de Matemática e sua formação: a busca da identidade profissional. In: PAIVA, M. A. V. & NACARATO, A. M.(ORG). A Formação do professor que ensina Matemática: perspectivas e pesquisas. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, pp.89-112. PAIVA, M. A. V. Professores, construção de saberes e a relação com esses saberes num grupo colaborativo. IN: ANAIS da XIII Conferência Interamericana de Educação Matemática – CIAEM. Recife, 2011a. SHULMAN, L. S. Those who understand: knowledge growth in teaching. EUA: Educational Researcher, v.15, n.2, pp. 4-14, 1986. SILVA, S. A. F. Da. Grupos de estudos sobre Matemática e sua influência em aprendizagens de professoras. IN: ANAIS da XIII Conferência Interamericana de Educação Matemática – CIAEM. Recife, 2011. PÁGINA 26 SKOVSMOSE, Ole. Tradução de Orlando de Andrade de Figueiredo. Diálogo e Aprendizagem em Educação Matemática: Incerteza, Matemática, Responsabilidade. São Paulo: Cortez, 2007. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA UM ESTUDO DAS OPERAÇÕES ELEMENTARES COM PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Marilena Bittar, Rosane Corsini Silva Nogueira. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Rede Municipal de Ensino de Campo Grande. [email protected], [email protected] RESUMO O presente texto relata e traz impressões, observações e intervenções relativas a um projeto desenvolvido no ano de 2010 com professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental de duas escolas Municipais de Campo Grande. O objetivo desse projeto foi suscitar discussões acerca do trabalho sobre operações aritméticas básicas com e sem a utilização de materiais diversos. É possível observar que um trabalho de formação continuada em serviço e em ambiente de colaboração favoreceu o surgimento de questões tanto relativas a conceitos matemáticos quanto ao o uso de materiais didáticos. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA No 1º semestre de 2010 propusemos um projeto de extensão para discutir as quatro operações com professoras dos anos iniciais do ensino fundamental de duas escolas de Campo Grande. A origem dessa proposta foi uma oficina realizada no segundo semestre de 2009, por uma professora da escola, dos anos finais do ensino fundamental que utilizava o quadro valor de lugar materializado (que chamaremos nesse texto de sapateira). Durante a oficina, ao perceber as dúvidas das professoras em relação ao trabalho com a operação de adição utilizando a sapateira, a professora ministrante sentiu a necessidade de prosseguir com o trabalho, conversou com as equipes técnicas de duas escolas municipais, que concordaram em dar continuidade ao trabalho com as professoras regentes dos anos iniciais. Essa professora nos procurou propondo um projeto que viabilizasse o estudo das quatro operações com as professoras supracitadas. O projeto foi feito e demos início às reuniões que duravam cerca de uma hora e meia e eram realizadas aos sábados com alternância de 08 semanas. No intervalo entre uma reunião e outra as professoras participantes do grupo podiam trocar ideias com uma das coordenadoras do projeto que também é professora das duas escolas envolvidas com o projeto. No primeiro encontro esclarecemos que não se tratava de oferecimento de um curso, com aulas nas quais a posição dos participantes é passiva, mas sim de debates em torno do tema As operações aritméticas. Nossa proposta era desenvolver uma parceria entre professores da universidade e da escola. No quadro a seguir fornecemos um resumo do tema tratado em cada reunião, 27 O CONTEXTO XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA para dar ao leitor uma ideia de todo o projeto realizado, e em seguida passaremos à apresentação das principais questões discutidas. A adição e o sistema de numeração decimal (SND) Para dar início ao debate e levantar questões sobre o sistema de numeração decimal, apresentamos slides contendo extratos de avaliações aplicadas no 6º ano, contendo exercícios desenvolvidos incorretamente pelos alunos. O primeiro slide tinha três extratos e foi solicitado que o grupo buscasse compreender as razões dos erros. Figura 1: Erros em avaliação do 6º ano Após um tempo de discussão uma das professoras fez a seguinte observação: Para mim ficou claro que a dúvida desse aluno está relacionada ao não conhecimento das unidades, dezenas e centenas. Ele não colocou unidades embaixo das unidades e dezenas embaixo de dezenas. PÁGINA 28 Outra participante disse que na segunda resolução (376-98) o aluno parece ter tido dúvidas quanto ao posicionamento do 98. Nesse momento houve uma breve discussão sobre o significado de valor posicional no sistema de numeração decimal. Decidimos então propor a realização do jogo Nunca 4, com o auxílio da sapateira. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Reunião Assunto tratado 1ª Apresentação do grupo. Análise de resolução de alunos sobre adição e subtração. Jogo “Nunca 10”. Sistemas de numeração decimal 2ª Apresentação do Jogo do Pirata. 3ª Adição, com e sem o auxílio de materiais diversos. 4ª Continuação da discussão sobre o SND e Valor Posicional com e sem o auxílio de materiais diversos. Introdução à subtração: conceitos, ideias relacionadas. 5ª Continuação da subtração. Início da Multiplicação: ideias e construção do algoritmo. 6ª Conclusão da multiplicação. 7ª Divisão: do conceito à construção do algoritmo. Durante a discussão todos do grupo participavam com ideias, ajudando a formar números e representar nos sistemas vistos. Um ponto forte desse debate deu-se quando o grupo foi convidado a responder se o sistema de numeração Romano tem ou não valor posicional e para auxiliar foi fornecida a escrita do 9 e do 11, IX e XI, respectivamente. A maioria das 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Após essa explicação foram realizadas algumas adições com o referido material. Nesse momento as participantes afirmaram terem compreendido melhor a ideia de agrupamento. Visando melhor discutir valor posicional e a importância do zero apresentamos outros sistemas de numeração, iniciando com o Babilônio, em seguida o Egípcio, o Romano e o Maia. Nas explicações ressaltávamos características de cada um, tais como suas bases e propriedades (aditivo e/ou subtrativo, existência do elemento neutro,...). Salientamos, por exemplo, que o sistema de numeração egípcio não tem valor posicional, e que o símbolo , usado no sistema de numeração babilônio, pode representar o 1 ou o 60 e assim, para sabermos a que o símbolo está fazendo referência é necessário conhecer o contexto do problema: se lemos, por exemplo, que uma pessoa tem “ ” anos de idade, não temos condições de saber se é 1 ou 60 anos, mas se dissermos que é o filho de uma amiga, ou a mãe de alguém, conseguimos definir a idade a qual nos referimos. Discutimos também o surgimento, com o sistema de numeração maia, de um símbolo para o zero. 29 Como funciona: Vamos agrupar os canudos na sapateira (quadro valor de lugar materializado), colocando-os no primeiro bolso à direita formando grupos de no máximo 3 canudos. Quando chegarmos ao quarto canudo amarramos os canudos e colocamos este amarradinho no primeiro bolso à esquerda; quando tivermos quatro amarradinhos neste bolso amarramos novamente obtendo outro amarrado e colocamos no outro bolso, e assim sucessivamente. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA participantes respondeu que sim, porém, quando questionadas pareciam ficar em dúvida, discutindo entre si, até que uma delas disse que antes das discussões pensava que tinha valor posicional, mas depois percebeu que embora os símbolos IX e XI representem 9 e 11, o X e o I não mudam seus valores como ocorre com o SND. Nesse momento, como houve concordância do restante do grupo, fomos ao quadro de giz e estabelecemos alguns paralelos entre o Sistema de Numeração Decimal e o Romano discutindo sua contribuição para a apreensão do SND. Por fim, salientamos que não se deve exigir que os alunos decorem os símbolos; ao contrário, estes devem ser disponibilizados para consultas no momento de realizar as atividades. A história da matemática deve ser utilizada para ajudar a apreensão da matemática. Na segunda reunião, foi proposta, e aceita, pelas participantes, a discussão do Jogo do pirata, utilizado por uma das professoras. Essa solicitou que o grupo se dividisse em duplas, e em seguida distribuiu os jogos contendo cartinhas que representavam respectivamente, 10 moedas, 10 saquinhos e 1 baú. Além das cartinhas, entregou a cada dupla um dado. Relatou que inicia o trabalho com o jogo contando uma estória sobre um pirata, chamado barba azul, que encontrou um tesouro; ao contar as moedas não conseguia segurar mais de 10 moedas, então as colocava em um saquinho e o amarrava na ponta cada vez que inteirava 10 moedas, quando inteirava 10 saquinhos, os colocava dentro de um baú. Figura 2: Jogo do pirata PÁGINA 30 A professora explicou que conversa com os alunos para certificar-se que compreenderam as regras e então dá início ao jogo. O aluno deve jogar o dado e iniciar sua coleção de moedas de acordo com o número sorteado na jogada; ao completar dez moedas, deve trocar por um saquinho e ao inteirar dez saquinhos troca pelo baú. Ganha o jogo quem ganhar o baú primeiro. Essa professora relatou que não gosta do trabalho com o material dourado, pois não vê sentido em juntar cubos, por esse motivo optou pelo trabalho com o jogo do pirata, por achar que é “significativo” para os alunos. Essa discussão teve continuidade em uma reunião realizada no período noturno. Nesse dia aproveitamos para questionar se achavam que o jogo do pirata ajuda (e como ajuda) a compreender o sistema de valor posicional. Inicialmente o grupo achava que sim, porém, após debate chegou à conclusão de que o jogo trabalha apenas a ideia de troca. Acreditamos que reflexões sobre os aspectos do conhecimento que cada material permite abordar, é essencial em um curso de formação de professores, ajudando a própria apreensão do conceito. Para finalizar essa discussão, realizamos o cálculo 17 + 7, com a sapateira e, paralelamente, fizemos a transposição do que era feito nesse material para o registro no Quadro Valor de Lugar. Na reunião seguinte, uma professora da educação infantil contou que em um trabalho com dados, jogou o dado, deu 5, jogou novamente, deu 3, depois contou o total com os alunos 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA para ver quanto deu. Após algum tempo uma aluna veio até ela com o caderno para mostrar o registro que havia feito com pauzinhos, mas não reconhecia o numeral. Isso levou a professora a se questionar e pensar que poderia ter deixado que eles pensassem antes, para depois formalizar. A importância de se ter um grupo com o qual seja possível trocar experiências foi ficando cada vez mais evidenciada para todos do grupo, como observou uma das professoras afirmando que “participar desse grupo permite a cada participante um novo olhar sobre o próprio fazer pedagógico, verificar as possíveis falhas e retomar de modo diferenciado e talvez mais eficaz.” O clima de cooperação criado no grupo permitia que todos se sentissem a vontade para colocar suas dúvidas e experiências. Outra professora relatou que no início do ano pensou que seus alunos dominavam as quatro operações, mas com os resultados das provas percebeu que eles não sabiam nem montar os algoritmos corretamente. Hoje se sente mal por ter, de certo modo, atropelado os trabalhos e está dando aulas de reforço para os que apresentam mais dificuldades e está pensando em montar outro grupo de reforço utilizando material concreto. Ela disse que iniciou certo trabalho envolvendo adição com o dominó em uma aula e na aula seguinte propôs exercícios. Aqui fica evidenciada a separação entre atividades com material e sem material sem um trabalho que permita uma passagem mais natural do concreto para o abstrato. No trabalho com a sapateira, cremos ser importante deixá-la disponível na sala para que o aluno a manipule, resolvendo exercícios de acordo com sua vontade e necessidade. A subtração Pegamos uma barrinha e cinco cubinhos, do material dourado, e dissemos: “Tenho 15 figurinhas, devo dar 7 para meu colega. Como os alunos podem tentar resolver essa 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Uma professora no 4º ano relatou que orientava aos alunos para que observassem a pergunta: quando informava que sobrou, era de menos, quando dizia que tem a mais, era de mais. Aproveitamos essa fala para discutir brevemente o campo aditivo (VERGNAUD, 1990). A pergunta“quanto tem a mais” é uma marca de linguagem que indica ao aluno que a situação deve ser resolvida com uma adição (conta de mais). A técnica da secretaria disse que quando o professor coloca entonação maior em uma palavra como ganhou, perdeu, é na intenção de ajudar, o que é um fato, mas deve ser evitado, pois implica em automatismos. 31 Iniciamos o estudo da subtração questionando: “Quando se fala em subtração, qual a primeira ideia que vem à mente?” Uma participante respondeu: “Tirar”. Essa é de fato sempre a primeira ideia que temos, pois fomos ensinados dessa forma. Propusemos então a seguinte situação para o grupo discutir possíveis estratégias dos alunos: “João tinha 9 balas, deu 3 para seu irmão. Com quantas balas ficou?” Uma participante propôs usar a ideia de comparar e questionamos como isso poderia ser feito. Uma professora (técnica da secretaria presente à reunião nesse dia) disse que poderia desenhar pauzinhos e depois riscá-los. Salientamos que essa forma de resolução é muito importante. Outra participante disse que no início do ano seus alunos faziam nos dedos e ela ensinou que eles poderiam partir do que deveriam tirar e contar até chegar no 9, assim encontrariam a resposta desejada. De fato, essa é a ideia de completar e é importante apresentar todas essas ideias às crianças por meio de situações. Por exemplo, pode-se propor um problema, depois inverter a situação: “João tinha um tanto de figurinhas, resolveu dar 3 para seu irmão, ficou com 6, quantas ele tinha inicialmente?” XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA situação?” Salientamos que se fôssemos usar a sapateira, seria melhor iniciar com um valor com duas dezenas, como no cálculo 27 – 9, para que sobrasse uma dezena. Uma professora questionou se na sapateira o aluno poderia retirar 9 do amarradinho e respondemos com outra questão: “Se tirar 9 do amarradinho, o que acontece?” É importante lembrar à criança que sempre que se desamarram os canudos, eles devem ser colocados na casa posterior. Uma participante contou que antes de trabalhar cálculos, fez o jogo do “nunca dez” mostrando a colocação dos canudos, amarradinhos e amarradões e disse: “por isso se trabalha que na casa das dezenas não se pode colocar grupos com menos de 10 canudos amarrados”. Na ocasião observou que é preciso explorar bem o material e a atividade para então usar em sala de aula. Contou que, nesse período, em uma situação utilizando a sapateira para trabalhar adição, ficou eufórica com o aparente entendimento por parte dos alunos e decidiu aproveitar o material para trabalhar a subtração na mesma aula. Entretanto, como representou tanto o minuendo quanto o subtraendo no material, ficou em dúvida sobre como realizar a subtração e, depois de algumas tentativas frustradas desistiu. Em casa procurou no livro que estávamos usando como suporte para os trabalhos a forma sugerida para o trabalho com a subtração e percebeu que não deveria ter colocado o subtraendo, mas ressaltou que pretender retomar o trabalho com seus alunos. PÁGINA 32 Observamos que deve começar com adições que não precisa “emprestar”, como 27 – 6, e depois abordar cálculos como 27 – 9. Ressaltamos que no caso do algoritmo da subtração deve-se simbolizar o minuendo, retirar o subtraendo e então obter o valor da diferença, resolvendo os dois exemplos na sapateira. Salientamos ainda que somente ficará claro para a criança se no início for bem trabalhada a questão das trocas. Nesse momento dissemos que temos o hábito de colocar no quadro mais de um exemplo de resolução incorreta, coletadas entre os próprios alunos da turma, para que os colegas possam identificar e ajudar os alunos com dúvidas a compreender os procedimentos corretos. A acadêmica comenta, então, que dessa forma eles se tornam os protagonistas. De fato, quando o aluno resolve uma questão e percebe, pela correção do professor no quadro de giz, que errou, ele imediatamente apaga tudo o que fez, sem parar para refletir sobre o que errou. Ressaltamos a importância de se buscar outras formas de resolução em diversas situações. Muitas vezes, na Matemática, não temos o hábito de fazer com que o aluno valide os resultados obtidos. Como fazer para ver se está certo? O problema não acaba com o resultado, visto que às vezes chega-se a uma resposta absurda e o aluno não percebe. É importante levá-lo a refletir sobre o resultado encontrado: “esse resultado parece estar correto? Se tomarmos o caminho inverso encontraremos o valor inicial?” Uma participante lembra que seus professores não trabalhavam com o lúdico e acredita que por esse motivo sente dificuldades em ver a eficácia da utilização dos materiais diversos, o que remete também à formação inicial que não deu conta de ajudar na superação dessa dificuldade. Nesse momento outra professora quis dar um depoimento dizendo que sempre foi muito esforçada e que está aprendendo muito com as discussões. Nem sempre coloca em prática, mas ela está conseguindo dirimir suas dúvidas. Acredita que quando trabalha com materiais diversos está oferecendo àqueles que têm dificuldades a possibilidade de compreender realmente como fazer. Esse depoimento ilustra a importância da formação continuada em serviço que discuta conhecimento do conteúdo e também conhecimento pedagógico do conteúdo (SHULMAN, 2001) 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A multiplicação Iniciamos essa reunião com o seguinte problema: “Quatro amigas se encontram. Se todas forem apertar a mão uma da outra, sem repetir o aperto, quantos apertos de mão terão sido dados ao final?” Uma professora disse que eram 6 apertos de mão, mas que inicialmente imaginou serem 12. Outra colega fez o registro utilizando diagramas, fez a contagem e verificou serem 6. Perguntamos: e se fossem 6 amigas? O grupo refletiu e respondeu que seriam 15 apertos de mão, mas afirmou não compreender como associar essa situação à multiplicação. Uma professora disse que pensou “são 4 amigas e 3 apertos de mão, então 4 x 3 = 12 e como não vou contar o aperto de mão de 2 pessoas duplamente, dividi o resultado por 2”. Uma professora disse não ter compreendido ainda e uma colega foi ao quadro para lhe explicar, produzindo o seguinte registro: Figura 3: ilustração sobre a atividade "apertos de mão". Nesse tipo de situação é indicado trabalhar com dramatização e assim sugerimos que 4 professoras encenassem a situação. Após essa atividade, traduzimos para o quadro de giz a situação encenada. Cláudia Maria Joana Fernanda Maria Claudia Joana 33 Fernanda Cláudia Maria PÁGINA Joana Fernanda Utilizando esse mesmo processo para seis pessoas, realizamos a contagem considerando as flechas em tons de cinza, uma vez que se trata de apertos de mão já realizados obteremos o 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA resultado de 15 apertos de mão: 6 x 5 = 30 é o total de apertos de mão e para desprezar os repetidos dividimos esse total por 2, obtendo 15 como resposta. Uma participante disse ter gostado da atividade, pois não pensou em explorar todo o processo; normalmente teria pulado registros (os repetidos). Afirmou ter percebido que mais importante que o resultado é o processo de construção dele. Nesse momento discutimos sobre a importância de nos colocarmos no papel da criança e deixar que ela tire suas conclusões sobre a situação. Por exemplo, para que as crianças percebam que é para dividir por 2, deve-se subtrair a metade, até que elas mesmas cheguem a essa conclusão. Nesse momento uma professora lembrou que foi ensinada “entendendo” o que era feito, mas não compreendendo o processo. Nesse momento achamos oportuno iniciar uma discussão sobre o modo de olhar os erros dos alunos. Na maioria das vezes não os exploramos muito. Na ânsia de obter bons resultados, quando um aluno em um grupo de 40 acerta a resposta, ela é aceita como se fosse produção de toda a turma, como se todos tivessem compreendido. Uma professora disse que é igual o “bendito sinal de +” na multiplicação: Quando multiplicamos, por exemplo, 12 por 10, fazemos zero vezes o 12 e no momento de passar para o 1 x 12 “pulamos uma casa e colocamos o sinal +”. A pedido do grupo efetuamos uma multiplicação no quadro de giz para discutir essa dúvida. C D U É importante o trabalho com o significado do 1 2 algoritmo. Assim, ao multiplicar o zero pelo dois 1 0 deve ficar claro que se trata de zero vezes duas 0 0 unidades e zero vezes uma dezena. Em seguida, 2 0 ao passar para o um isso significa que estamos 1 0 0 fazendo uma dezena, que são dez unidades, 1 2 0 multiplicada por duas unidades, por isso o X resultado é 20 unidades. E ao efetuar uma centena por uma dezena, Isso equivale a cem vezes uma PÁGINA 34 dezena obtendo, como resultado, 100 unidades. Em seguida discutimos sobre a importância de trabalhar todos os significados da multiplicação e perguntamos qual achavam que era trabalhado na escola. “A soma, não é?”, disse uma participante. Para ilustrar o significado de combinatória, propusemos um problema bastante comum em livros dos anos iniciais, o de combinar saias e blusas. Nesse momento uma colega contou que fez essa atividade com as crianças, mas não as deixou realizarem seus próprios registros. Tecemos um breve comentário a respeito, em seguida voltamos à discussãop sobre marcas de linguagem: “jogou e perdeu então é menos”. Devemos mudar os problemas para que a criança identifique a operação que deverá ser realizada. Vergnaud diz que a criança apreendeu quando consegue resolver problemas sem marcas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A quinta reunião foi realizada no período noturno. Uma participante contou que propôs aos alunos do 2º ano a situação dos apertos de mão. Realizou com eles a dramatização, colocando 5 alunos enfileirados. Ela apertou a mão dos 5 e ficou parada ao lado, o 2º apertou a mão dos demais e ficou ao lado, assim sucessivamente. Dois alunos entenderam que não precisavam apertar a mão daqueles que já haviam apertado anteriormente. Depois discutiu com os alunos o que aconteceu para posteriormente registrar com eles o desenvolvimento da situação citada. Relatou ainda que antes de começar a participar do grupo, propunha exercícios de múltipla escolha, aceitando a resposta assinalada corretamente, não se preocupava em questionar acerca da maneira que o aluno pensou ou o que ele fez para chegar ao resultado. Além disso, passou a questioná-los para ver se compreenderam determinados conteúdos, por exemplo, perguntando quantas dezenas tem o número 150. Ela conta que aprendeu com a acadêmica, participante do grupo, uma técnica bastante interessante relativa à orientação sobre a realização da atividade. Diz a eles antes de iniciar as questões: “Fechem os olhos e pensem; ninguém fala antes que eu fale já. Levantem a mão e só fala quem eu chamar”. Antes de conhecer essa técnica, quando trabalhava coletivamente, os alunos ficavam chutando até acertar, o que não era muito produtivo para o desenvolvimento cognitivo de cada aluno. Além disso, verificou que quando faz o aluno pensar, as respostas ficam mais próximas da correta. Eles começam a organizar seus pensamentos. Essa mesma professora relatou uma situação em que ao perceber o erro de um aluno e questioná-lo acerca do que havia pensado para obter a resposta registrada, surpreendeu-se, pois embora errado o raciocínio tinha “lógica”. Isso facilitou perceber o que o aluno estava confundindo e intervir positivamente em seu processo de compreensão. A situação está ilustrada a seguir: A divisão 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Em seguida, contou que passou a questionar os alunos. Perguntou a eles o que era necessário para resolver um problema. Eles responderam que era fazer conta. Ela disse que não, ressaltou que o mais importante era interpretar o problema, depois fazer contas. Contou que ao mostrar a algumas colegas os exercícios que propõe a seus alunos recebeu críticas, pois acharam que os alunos não conseguiriam entender tais atividades. “Mas eles conseguiram”, ela conta. 35 Figura 4: exemplo de erro apresentado por uma professora XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Demos início às discussões dizendo que há uns dez anos as operações fundamentais eram apresentadas separadamente. Hoje já se defende a importância de se apresentar desde o início todas as operações, mesmo antes de se apresentar os algoritmos. É importante partir do conhecimento prévio dos alunos para ajudá-los a construir o algoritmo da divisão Citamos um exemplo de divisão não exata de bonecas no qual não faz sentido dividir a boneca restante em partes entre as crianças. Dividir em partes iguais nem sempre é possível. Foi então proposto o seguinte problema extraído de (BITTAR e FREITAS, 2005, p. 45): Distribuindo 45 lápis entre 5 crianças de modo que cada criança receba a mesma quantidade de lápis e que não sobre nenhum lápis, quantos lápis cada criança receberá? Questionamos o grupo acerca de possíveis formas de trabalhar essa atividade. Uma participante disse que pegaria 5 crianças com um montante de lápis, distribuiria um para cada um, em seguida distribuiria novamente dessa vez de dois em dois, até chegar de cinco em cinco. Perguntamos: “Como você acha que sem sua ajuda eles pensariam?” e a professora respondeu: “de um em um”. Outra participante ressaltou que dependendo do nível, acha que tem que utilizar o algoritmo. Continuou dizendo que não sabe se nós professores passamos essa ideia aos alunos, mas eles acham que sempre tem que ter conta. Dissemos que nesse exemplo estamos supondo que eles não conhecem o algoritmo. Estamos caminhando para construí-lo. Se distribuímos os lápis de 5 em 5, cada vez tira-se 5 para dar um para cada um. Daí, podemos tirar duas ideias, a de dividir em partes iguais e a de medir, sendo que nessa última o raciocínio é “quantas vezes 5 quantidades cabem no valor total”. É é claro que não devemos pedir que os alunos gravem essas ideias, mas trabalhar diversos problemas envolvendo-as para que eles cheguem a essa conclusão. Depois que a criança trabalha manipulando é importante fazer o registro, “o que aconteceu”? PÁGINA 36 Nesse momento uma professora observou que no 2º ano os números devem ser bem menores, e todos concordaram e a situação foi então ilustrada com a divisão de 6 por 2. Propusemos, então, o problema 2: “Vou distribuir 45 lápis entre as crianças da minha sala de modo a não sobrar lápis e que cada uma das crianças receba 5 lápis. Quantas crianças receberão lápis?” (BITTAR e FREITAS, 2005, p. 45) Uma professora desenhou 45 lápis e agrupou de 5 em 5. Outra colega desenhou as crianças (9). Dissemos que é possível também desenhar várias crianças, distribuir lápis de 5 em 5 até acabar os lápis. Uma professora disse que vai com o montante de lápis, distribui até acabar e conta quantas crianças vão ganhar lápis. Dissemos não há uma única estratégia, mas várias. Vergnaud considera que problemas como esses parecem ser o mesmo, mas não é. No primeiro são fornecidos o estado inicial e o intermediário e queremos saber o final: : 45 Estado inicial 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil 5 Estado intermediário ? Estado final XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Para um adulto os problemas parecem idênticos (45:5=9), mas para as crianças são diferentes. : 45 ? Estado inicial Estado intermediário 9 Estado final Propusemos a seguinte situação: “Uma professora deu a cada um de seus alunos 6 lápis. Se quisesse dar 8 lápis precisaria de mais 26 lápis. Quantos alunos ela tem?” (BITTAR e FREITAS, 2005, p. 49). Pedimos que as professoras pensassem uma possível forma de resolução utilizada por seus alunos. Uma participante fez 8-6=2 depois foi ao quadro e fez a divisão com o algoritmo euclidiano de 6 por 2. Prova 13 Ela foi ao quadro e fez algo dessa forma. X6 78 +26 104 8 -8 13 24 -24 00 Uma professora visitante diz que foi pelo complemento, completou... “6 para 8 são 2” e depois pensou “ dois vezes quanto é igual a 26” encontrando 13 como resposta. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Uma participante desse serem diferentes, pois utilizaram caminhos inversos: a primeira subtraiu e a segunda somou. Uma colega complementa dizendo que a primeira subtraiu e dividiu e a segunda somou e multiplicou. Nesse momento ressaltamos que são procedimentos e raciocínios diferentes; por mais que a criança não saiba fazer conta, ela tem os mecanismos dela para descobrir a resposta. Pode ser por tentativas, por exemplo. Muitos professores ao se depararem com problemas como esses acham que faltam dados. Uma professora diz que nesse caso é questão de interpretação. Concordamos e complementamos que interpretação também é questão de matemática. 37 Perguntamos ao grupo se são resoluções parecidas ou diferentes. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Uma participante diz que estamos acostumadas a pedir a resposta; quando modificamos a configuração do problema eles não conseguem fazer. Dissemos que é preciso propor outros tipos de problemas aos alunos, pois eles ficam, de certo modo, condicionados a resolverem situações semelhantes, sempre com as mesmas marcas, o que deve ser evitado. Para evitar essa situação é precisa mudar os enunciados. Ressaltamos que nesse problema o importante é descobrir que se deve dar dois a mais para cada aluno e depois dessa descoberta o restante fica mais fácil. Lançamos a questão: “Como chegar ao algoritmo? Queremos saber como dividir 128 por 3”. Uma das participantes diz que dá para fazer quantas vezes o 3 cabe no 128, é necessário ter bem claro as Unidades, Dezenas e Centenas, e de trocas. Os alunos ainda não têm ideia das trocas, o que dificulta o entendimento. Temos que ter uma forma de realizar os cálculos sem utilizar o concreto, uma vez que andar com um saco de coisas para ficar repartindo, como fazer com 1000, 2000, ...? Daí a necessidade de um algoritmo. Comentamos como transpor a divisão de 8 por 4, do material concreto para a escrita: devemos iniciar registrando exatamente o que foi feito, como a seguir: 8 4 -4 1+1 4 -4 0 Orientamos que se devem aumentar os valores gradativamente, resolver várias atividades com os alunos, respeitando suas ideias para que cheguem à conclusão de tentar encontrar a quantidade máxima que pode distribuída, construindo, paulatinamente, a ideia até chegar à seguinte resolução: 62 6 -60 10 02 38 D U PÁGINA Fomos ao quadro e comentamos como proceder no cálculo de 62 : 6 sem utilizar as expressões “abaixa, vai, empresta”. 6 2 -6 0 6 10 2 Considerando dezenas como barrinhas, distribuiu uma para cada um e não sobrou nenhuma, sobraram 2 cubinhos/ unidades, desses não conseguimos dar um para cada um, ou seja, o máximo que consigo dar a cada um é 0, que foi para o lado do 1 abaixo da chave. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Uma professora conclui que esse zero é porque “eu tenho 2 cubinhos e dão dá para dividir, então ele não vai ganhar nada de cubinhos (unidades)”! Alertamos que é preciso que a criança passe por todos os processos para apreender o conceito. Outra professora diz que com tudo que está vendo de divisão, estamos mudando sua visão da matemática, “para nós é mais difícil, como nós aprendemos a matemática, pelo algoritmo. Estou achando que estou fazendo muita coisa com o baú do pirata, mas vou direto ao algoritmo. Pulei tudo o que veio antes”. O algoritmo deve ser construído. Não devemos usar a sapateira somente na adição e na subtração, na divisão também pode ser usado. A vantagem disso é a visualização das trocas. No caso de 2 dezenas para dividir por 3, pergunta-se como fazer? E então realizamos a divisão de 128 dividido por 3, retirando o elástico do amarradão (centena) e registrando simultaneamente no quadro. C D U 1 2 8 -1 2 0 0 3 42 8 1 centena não dá um para cada um, então desamarrei, ficamos com 10 dezenas mais as duas que já tínhamos ficamos com 12 dezenas. Sobraram 8 unidades, que dá 2 para cada um e sobram 2. -6 Uma participante conta que trabalhou adição e 2 subtração na sapateira, mas a divisão não. Dissemos que gostamos da sapateira porque ela guarda a ordem, respeita o valor posicional. A participante em questão complementa que a sapateira possibilita o entendimento da quantidade, visualiza que quando muda a ordem do algarismo, muda-se a quantidade. Questionamos se trabalhando com o jogo, os alunos sabem o que é uma dezena. Uma professora afirma que sim. Dissemos que o problema está no entendimento da sintaxe de valor posicional presente nos livros. Em 128 quantas dezenas têm? Geralmente a resposta é 2, mas na verdade são 12. Na verdade posso agrupar da forma que quiser, de 2 em 2, de 4 em 4, 12 em 12...é a famosa questão das bases diferentes. Antes de construir a base 10, devem-se mostrar outras bases. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Ao final das atividades do projeto de extensão, realizamos uma discussão com o grupo todo para a avaliação do que foi desenvolvido. Todos foram unânimes em afirmar que o trabalho coletivo, a troca no grupo, a oportunidade de discutir com todos, experimentar em sala de aula e voltar à discutir foi muito apreciado. Sentiram-se tendo apoio, diferentemente de outras experiências de formação continuada. Isso reforça nossa hipótese de que para que haja mudanças no processo de ensino e aprendizagem é preciso que as ações de formação continuada sejam efetuadas sempre em serviço e de forma a considerar a ação dos professores. E isso deve ser feito com idas e vindas entre as propostas elaboradas e discutidas conjuntamente e sua realização em sala de aula. Após essa realização a volta ao grupo para discussão permite refletir sobre os resultados alcançados e buscar novas mudanças, se necessário. 39 Algumas considerações finais XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Por fim, cabe ressaltar que o modo como o projeto foi realizado permitiu que as professoras atribuíssem novos significados a conceitos e procedimentos matemáticos e a forma de trabalhar esses conceitos. Por esses motivos, cremos que ações que busquem esse tipo de parceria são fundamentais para todas as partes envolvidas no processo. REFERÊNCIAS BITTAR, M., FREITAS, J. L. M. de. Fundamentos e metodologia de Matemática para os ciclos iniciais do ensino fundamental. Campo Grande: Ed. UFMS, 2005. SHULMAN, L. Knowledge and teaching: Foundations of the new reform. Harvard Educational Review. Tradução: Alberto Ide. nº 1, vol. 57, p. 163-196, 2001. PÁGINA 40 VERGNAUD, G. La théorie des champs conceptuels, Recherches en Didactique des Mathématiques, vol. 10, n°2.3, pp. 133-170. La Pensée Sauvage, 1990. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: O CURRÍCULO COMO CONSTRUÇÃO SOCIAL Elisabete Zardo Búrigo Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil [email protected] RESUMO O texto discute as contribuições da pesquisa e da discussão sobre a História da Educação Matemática para os processos de formação de professores, enfatizando aspectos relacionados à compreensão dos currículos como historica e socialmente construídos e à construção das identidades profissionais docentes. Tais dimensões da formação são consideradas relevantes para subsidiar a interveniência reflexiva e crítica dos professores nos processos de reconfiguração dos currículos escolares e de suas próprias práticas. A discussão é referenciada na experiência da autora como docente de curso de Licenciatura e de Mestrado Profissional em Ensino de Matemática. Ainda é incipiente, contudo, a valorização desses estudos nos cursos de licenciatura ou de pós-graduação em ensino de matemática ou em educação matemática. Neste texto, argumentamos em favor de que a abordagem histórica do ensino seja assumida como uma dimensão relevante nos processos de formação de professores de matemática, articulada à construção de perspectivas críticas sobre o currículo escolar. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A História da Educação Matemática vem se afirmando como campo de investigação e de debate, no Brasil, nos últimos dez anos, mobilizando docentes e pós-graduandos de diversas instituições e abrangendo um amplo leque de temas. Esse crescimento das pesquisas pode ser atribuído, entre outros motivos, a um interesse renovado pelo estudo das culturas escolares e dos currículos, considerados como aquilo que se ensina e se aprende na escola. A compreensão de que os currículos praticados não são a mera tradução, no âmbito de cada estabelecimento, das normatizações legais, mas expressão de tradições, de condições locais e constrangimentos materiais, da interveniência de diferentes atores, de modos de pensar e interesses contraditórios e conflituosos, tem motivado o estudo dos movimentos de modernização do ensino de matemática e das práticas escolares, e a valorização de fontes até então consideradas secundárias, como depoimentos orais, cadernos, fotografias e registros esparsos. 41 TRABALHO XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Um olhar em perspectiva O lugar de destaque que a matemática ocupa nos currículos escolares, a presença de traços de heranças tão antigas como a geometria euclidiana e a visão difundida da Matemática como ciência imutável e infalível contribuem para a crença de que o ensino de matemática seria também impermeável às mudanças da sociedade e da própria escola. Nessa ótica, os professores de matemática teriam o encargo de transmitir uma herança milenar e de tornar acessível um conhecimento de relevância inquestionável, tanto pelo seu caráter instrumental, de ferramenta para as demais ciências, como pelo seu papel na construção do raciocínio lógico-dedutivo. Essa grande responsabilidade de que os professores se vêem investidos se defronta, cotidianamente, com a apatia de boa parcela dos estudantes e com as condições materiais e institucionais precárias e, até mesmo, frequentemente penosas de exercício da docência. A missão é difícil de ser cumprida, senão impossível. O olhar dirigido ao passado permite que as contradições enfrentadas no cotidiano do ensino sejam percebidas em perspectiva, como expressões de tensões relativas ao lugar e ao papel da escola. E que o professor se perceba como um dos muitos atores que participam do processo através do qual a escola é permanentemente reconfigurada, atuando em um campo dinâmico de constrangimentos e possibilidades. PÁGINA 42 Da margem ao topo – o lugar da matemática na escolarização As investigações sobre o passado mostram que o ensino de matemática não ocupou sempre o lugar de destaque que hoje ocupa no currículo escolar. Até o século XVIII, segundo Cardoso (2004), os jesuítas praticamente monopolizaram a educação escolar no Brasil. Valente (2007) explica que a formação oferecida pelos colégios jesuítas era sobretudo uma formação literária, dominada pelo latim. Embora houvesse, na Companhia de Jesus, estudiosos das matemáticas, o lugar ocupado pela matemática no ensino era marginal. Nos cursos mais avançados, o estudo da lógica e da metafísica organizava a introdução às ciências: “Alijada de suas aplicações, a matemática, principalmente em Portugal, disputava lugar com a especulação filosófica” (Ibid., p. 33). Mesmo na França, onde teria havido, entre os jesuítas, alguma influência dos estudos de Descartes, o estudo da matemática ficava relegado à última classe dos colégios, frequentada por uma pequena fração dos alunos (DAINVILLE apud SCHUBRING, 2005, p. 15). Algumas décadas após a expulsão dos jesuítas de Portugal, já no final do século XVIII, organizaram-se as chamadas “aulas régias” no Brasil, esparsas e em geral dedicadas ao estudo da gramática do latim (CARDOSO, 2004). Segundo Valente (2007), a matemática seria incorporada à cultura escolar geral, já em meados do século XIX, como componente de um ensino secundário voltado à preparação dos candidatos aos exames de ingresso no ensino superior. É importante observar que a importância atribuída à matemática, nessa formação, estava relacionada sobretudo ao exercício da lógica e do pensamento rigoroso 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA (Ibid., p. 114-119). O caráter aplicado da matemática ficava circunscrito à formação militar, desde a preparação de artilheiros, no século XVIII, até os primeiros cursos de engenharia, criados no século XIX. No ensino secundário institucionalizado pela Reforma Francisco Campos, em 1931, a matemática foi constituída como disciplina escolar, ocupando três horas semanais do estudo em cada série do Curso Fundamental - uma das maiores cargas horárias, secundando apenas a disciplina de Português. As orientações oficiais para execução dos programas, redigidas por Euclides Roxo, diretor do modelar Colégio Pedro II, repercutiam os movimentos internacionais de modernização do ensino da disciplina, enfatizando os vínculos com as demais disciplinas e as aplicações do cálculo diferencial ou da geometria. Estudos sobre a implementação da reforma indicam, contudo, que as aplicações da matemática às demais áreas do conhecimento não foram incorporadas nas práticas docentes dos professores do ensino secundário (ALVAREZ, 2004; ESPERANÇA, 2012). Sem assumir o caráter instrumental proposto pela reforma, a matemática cumpria um papel destacado na seleção dos alunos, decidindo não apenas sobre o ingresso, nos exames de admissão ao curso fundamental e, depois, ao ginásio, mas sobre a continuidade de estudos, ao final de cada série. Os altos índices de reprovações, abandonos e o reduzido número de concluintes não eram objeto de preocupações governamentais num período em que a finalidade principal atribuída ao ensino secundário era a da formação das elites do país (RIBEIRO, 2010). O papel da matemática escolar na determinação dos percursos escolares 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA É interessante confrontar esse processo com o de valorização da matemática escolar na França. Nos anos 1930, os professores de matemática franceses, ocupados em elevar o estatuto da disciplina, identificavam-na com o latim: ambos cumpririam um papel relevante na “formação e na cultura do espírito” (D’ENFERT, 2010, p. 15). Nos anos 1950, associavam-se aos professores de física para rejeitar o ensino das línguas antigas, afirmando a importância da matemática e das ciências como disciplinas do presente e do futuro, enfatizando o papel desses conhecimentos na produção de tecnologia, na esfera industrial e econômica e na vida dos cidadãos (Ibidem, p. 16). Nos anos 1960, afinal, a matemática teve seu estatuto reforçado, de fato, pelas políticas governamentais e pelas 43 O efeito excludente da matemática persistiria ao longo das décadas, despontando como uma das preocupações principais dos professores reunidos no I Congresso Nacional de Ensino de Matemática no Secundário, realizado em 1955, e como alvo do movimento da matemática moderna, nos anos 1960. Esse caráter seletivo evidente se esvairia mais tarde, com a eliminação do exame de admissão pela Lei 5.692/1971 e com a ampliação progressiva do acesso e da permanência no ensino pós-primário. O desempenho na matemática escolar continuaria – e continua – partipando dos processos seletivos de acesso ao ensino superior, atingindo não apenas os candidatos às carreiras técnicas, mas todos os aspirantes aos cursos de acesso mais disputado. O papel da matemática nesses processos fica, de todo modo, menos explícito porque diluído no quadro de uma dualidade instaurada entre ensino público e privado. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA demandas sociais de acesso ao ensino superior: não apenas os horários dedicados à disciplina foram ampliados, mas seu papel na determinação dos percursos escolares passou a sobrepor-se ao das demais disciplinas (PROST, 2004). Após a unificação dos diversos ramos anteriormente existentes de ensino pós-primário, o sucesso em matemática passou a ser decisivo nas avaliações sobre o desempenho escolar que orientam as decisões sobre o encaminhamento dos alunos para as carreiras profissionais ou propedêuticas, no liceu, e sobre o prosseguimento na carreira scientifique, mais valorizada entre as propedêuticas. Os tempos e as motivações são diversos, mas na França, como no Brasil, a valorização da matemática escolar – e, pode-se dizer, também a aversão ou rejeição à disciplina - aparece, então, associada não apenas às mudanças de finalidade da escola, mas também aos processos de seleção e classificação que se realizam no âmbito do sistema educativo. No caso brasileiro, não são as aplicações da matemática que explicam a importância a ela atribuída na escolarização – o lugar de destaque atribuído à matemática na escola precede as preocupações com o seu caráter instrumental (preocupações, aliás, cujos efeitos parecem ser muito tênues, mesmo hoje). Do mesmo modo que, na França, não é a utilidade do latim que explica sua proeminência até o período do pós-guerra. Mas a importância atribuída à matemática, ora por se tratar de conhecimento milenar, tido como irrefutável, ora por se tratar de conhecimento atual, implicado nas técnicas mais modernas, permite que ela cumpra essa função seletiva sem enfrentar maiores questionamentos. As crenças na universalidade e na neutralidade da matemática e na existência de um “talento” ou “dom” para a disciplina colaboram para essa aceitação: é como se todos tivessem tido, de fato, oportunidade de realizar as mesmas aprendizagens, que apenas alguns valorizam ou estão em condições de aproveitar. As classificações realizadas através de provas de matemática não colocam em questão o mito da potencialidade democrática da educação escolar, uma vez que cada estudante é considerado responsável pelo seu sucesso ou fracasso. PÁGINA 44 O disciplinamento do espírito pela matemática A constituição da matemática como disciplina escolar, contudo, não pode ser explicada a partir do seu papel seletivo ou discriminatório. Até mesmo para que pudesse cumprir esse papel, teria sido necessário que a ela fossem atribuídas finalidades educativas relevantes. Assumindo, como propõe Chervel (1990), que as disciplinas escolares são, sobretudo, um modo de “disciplinar o espírito” (Ibid., p. 180), de que tipo de disciplinamento a matemática foi incumbida? Uma das tarefas atribuídas à matemática foi, já no século dezenove, a do exercício da lógica e do rigor, como comentado anteriormente. O estudo da geometria euclidiana teria sido um terreno particularmente favorável para o desenvolvimento do pensamento dedutivo. Entretanto, encontramos vários registros de demonstrações expostas pelo professor e decoradas pelos alunos, indicando que a escola não disciplinava para o pensamento dedutivo, mas para a memorização de argumentações cuja ordem deveria ser fielmente reproduzida. Segundo Elza Babá: 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Antigamente, os alunos simplesmente decoravam teoremas. O professor colocava o teorema, e o aluno decorava, não entendia. (BECHARA SANCHEZ; BABÁ, 2007). O estudo de Esperança (2012) sobre as provas aplicadas aos alunos do Curso Complementar do Instituto Júlio de Castilhos, em 1936 e em 1937, nos dá outras pistas. Eram comuns, nessas provas, as questões em que era explicitado o método a ser adotado na resolução, como, por exemplo: “Resolver aplicando a teoria das raízes iguais a equação x4 – 6x3 + 13x2 – 12x + 4 = 0 ”. Não se pretendia verificar se o aluno conseguiria encontrar uma maneira de resolver a questão, mas se conseguiria aplicar o método dado (Ibidem, p. 137). A presença de conteúdos que hoje nos pareceriam irrelevantes e artificiais, como a equação das diferenças entre as raízes de uma cúbica dada, também indica que um critério adotado na seleção de tópicos de estudo era o do seu potencial no desenvolvimento da destreza na manipulação de expressões algébricas. A análise das atas de prova mostra que a maioria dos alunos fracassava na resolução das questões, ao menos segundo os critérios adotados pelos professores. Assim, ainda que essa finalidade não estivesse expressa nos documentos oficiais, pode-se concluir desse e de outros estudos, como o de Alvarez (2004), que um efeito importante da matemática escolar era a representação da matemática como um repertório de teoremas, de fórmulas e de métodos a serem aplicados no tratamento de expressões numéricas e algébricas. O tratamento da matemática como ferramenta para a resolução de problemas ficava reservado aos cursos superiores. O movimento da matemática moderna, nos anos 1960, anunciou um ensino mais eficaz, com a substituição da memorização de algoritmos e demonstrações pela compreensão de conceitos e propriedades. O movimento inspirou muitas experiências didáticas e provocou algumas reconfigurações no currículo escolar, como a introdução do conceito de função, desde o ensino fundamental, ou a reorganização do estudo dos conjuntos numéricos. Algoritmos e técnicas complicadas foram deixados de lado, mas a reprodução de métodos segundo modelos continuou sendo incentivada pelos livros didáticos, que influenciam largamente a ação dos professores. A compreensão do currículo como construção social As disciplinas não são, com efeito, entidades abstratas com uma essência universal e estática. Nascem e se desenvolvem, evoluem, se transformam, engolem umas às outras, se atraem e se repelem, se desgarram e se unem, competem entre si, se relacionam e 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Em primeiro lugar, a história nos mostra que o lugar ocupado pelas disciplinas, no processo de escolarização, é transitório. Como explica Viñao Frago (2008): 45 Qual a relevância dessas considerações para a formação de professores? Nosso principal argumento é que o estudo do passado permite percebermos a escola e os currículos como historica e socialmente construídos. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA intercambiam informações (ou as tomam emprestadas de outras) etc. (Ibidem, p. 204) O lugar marginal que a matemática ocupou no ensino, até o século dezenove, e a inversão de papeis entre a matemática e o latim, no século vinte, são evidências dessa transitoriedade. A compreensão do caráter dinâmico dos currículos nos permite compreender os questionamentos dos alunos, relativos à relevância ou à utilidade da matemática, como expressão de uma interrogação legítima, no âmbito da sociedade, acerca das tarefas da escola e dos processos através dos quais se decide o que deve ser ensinado ou estudado. A história coloca em questão os discursos que tratam a matemática escolar como herdeira direta da matemática grega, e como disciplina cuja importância se justifica por si só; sua presença no currículo, com problemas, conceitos e métodos que a distinguem das demais, depende do reconhecimento, pela sociedade, do seu caráter educativo. A discussão acerca desse caráter educativo da matemática é, também, iluminada pelo olhar em direção ao passado. Não é o caso de se de considerar a contribuição para o “desenvolvimento do raciocínio” ou a aplicação a outras áreas do conhecimento como inerentes à matemática escolar. Os estudos históricos mostram que as práticas dos professores e, principalmente, os efeitos do ensino em geral não corresponderam aos objetivos proclamados. É preciso então interrogar-mo-nos não apenas sobre as finalidades atribuídas ao ensino de matemática, mas também sobre aquilo que Chervel designa como os “ensinos reais” (1990, p. 191) e como se constituíram. PÁGINA 46 A interrogação estende-se aos conteúdos ensinados e aos critérios que orientaram sua incorporação nos currículos. Se o papel da matemática escolar não é o de transmitir todo o conhecimento acumulado desde Euclides, cabe nos questionarmos sobre os processos através dos quais determinados conteúdos são privilegiados, em detrimento de outros, e a quais finalidades eles correspondem. O estudo histórico nos mostra, em terceiro lugar, que as reformas e as normatizações do ensino, na sua implementação, defrontam-se com as condições e a cultura escolar peculiares a cada instituição. Não são recentes as distâncias e dissonâncias entre aquilo que é anunciado nos documentos oficiais e aquilo que se ensina e aprende nas escolas. Mesmo nos anos 1950, em que vigoravam a uniformidade nacional e a centralização, encontramos registro de descumprimentos das normas ou, melhor dizendo, de interpretações, por parte dos professores, dos conteúdos que deveriam ser priorizados, face à impossibilidade de cumprimento dos programas elaborados pela Congregação do Colégio Pedro II (BÚRIGO, 2010). A compreensão de que o currículo escolar praticado é, de fato, construído no âmbito dos estabelecimentos de ensino nos leva a considerar com reserva as políticas governamentais que anunciam grandes mudanças a partir de decisões centralizadas. Essas reflexões nos remetem às considerações sobre o campo de possibilidades em que se inscrevem as ações dos professores. Não se trata de conferir aos professores a responsabilidade pelo sucesso do ensino, que resulta de múltiplas interveniências, mas, sim, um papel mais ativo no planejamento curricular. O trabalho e a formação docente devem 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ser organizados de modo a possibilitar que cumpram esse papel, interrogando-se, propondo, experimentando e avaliando alternativas de ensino. Aliás, também nesse aspecto a história é elucidativa. O movimento da matemática moderna exemplifica as possibilidades de mobilização dos professores em torno da inovação curricular, quando engajados nas mudanças. No Brasil, as experimentações de modernização dos anos 1960 e 1970 foram implementadas por grupos de professores, em um número pequeno de turmas e de estabelecimentos, e os resultados alcançaram uma divulgação modesta. Na França, os professores, através de sua Associação, propuseram e participaram de uma ampla experimentação conduzida pelo Ministério, analisaram e debateram seus resultados, influenciando a versão final dos novos programas (BÚRIGO, 2011). Experiências como essa mostram as possibilidades de um planejamento curricular em que os professores não são meros executores, que considera os saberes docentes e a experiência viva das salas de aula. O estudo histórico propicia, ainda, a desconstituição das idealizações sobre a escola do passado, como aponta Chervel (1990): O estudo da aculturação real dos alunos dos séculos passados permitirá, em primeiro lugar, terminar de uma vez por todas com um certo número de mitos sobre o nível de conhecimentos e de cultura que se supõe que eles tenham alcançado. [...] Ora, de fato parece que sobre esse ponto tenha operado, de um modo constante, uma forte tendência a supervalorizar o passado: não há provavelmente época onde essa tendência não seja atestada. (Ibidem, p. 210-211). Como observa ainda Prost (2004), em relação aos lamentos sobre a deterioração do nível de ensino na França: Tampouco é o caso de se desprezar o passado como imobilista ou arcaico, como nos lembra Matos (2007): 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Depoimentos e estatísticas relativos ao ensino dos anos 1930 a 1950, no Brasil, mostram que os extensos programas não correspondiam às aprendizagens dos alunos. E se a escola secundária tinha a aparência de um espaço tranquilo e ordeiro, é porque só acolhia jovens que tinham sido já submetidos a um longo e seletivo processo de disciplinamento. Ainda assim, há registros de indisciplina, já nos anos 1930, em instituições tão respeitáveis como o Instituto Júlio de Castilhos ou o modelar Colégio Pedro II. Quanto à escola primária, Schneider (1993) e Vidal (1998) mencionam, em diferentes períodos e espaços, episódios não raros de violência por parte de professores contra alunos e por parte de alunos contra professoras. 47 Frente às queixas relativas ao declínio do nível de ensino, o historiador é tanto mais cético quanto mais ele as reencontra ao longo de todo o século dezenove e todo o século vinte: segundo esse cálculo, e considerando todo esse tempo passado, deveríamos ser todos analfabetos! (Ibidem, p. 409, tradução nossa). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Em suma, quem se debruça sobre documentos educativos históricos encontra uma diversidade de posturas pedagógicas, tal como, aliás, o que podemos encontrar nos dias de hoje, e, nem os bons velhos tempos eram tão bons como por vezes ouvimos afirmar, nem a escola tradicional utilizaria exclusivamente métodos desadequados. Estudando o passado não encontramos o estereótipo do ensino tradicional, mas antes múltiplas metodologias e conteúdos, posturas, filosofias, problemáticas, debates que se interligam naturalmente com os consensos e os conflitos de cada época. Em última análise, as idealizações ou as diabolizações do ensino do passado mascaram uma profunda ignorância, e apenas são feitas para consolidar crenças sobre o ensino do presente. (Ibidem, p. 10). A escola em meio aos conflitos sociais O estudo histórico nos mostra, também, como as mudanças da escola se inscrevem nos processos mais amplos de mudança da sociedade. As demandas de qualificação de trabalhadores, em uma economia ainda predominantemente agrícola e de industrialização incipiente, dedicada à produção de bens de consumo, não se chocavam com o perfil excludente do ensino secundário do Brasil dos anos 1930. Mas as aspirações de escolarização dos setores médios urbanos impuseram uma progressiva abertura dos ginásios e colégios a novos contingentes de alunos, acarretando também o recrutamento de um amplo contingente de professores, com formações diversas e incidindo sobre a reconfiguração da cultura escolar. PÁGINA 48 As camadas populares, contudo, não conseguiram conquistar um investimento por parte do Estado na educação que propiciasse uma expansão com qualidade. Daí as condições precárias das redes públicas de ensino com as quais nos defrontamos ainda hoje. Aos professores, foram impostos vencimentos modestos e extensas jornadas, que obstaculizam a reflexão, a pesquisa e a formação continuada. Com a Lei 5692/1971, a escolarização obrigatória foi estendida aos oito anos. Na passagem para o século vinte e um, o acesso ao ensino fundamental estava praticamente universalizado, e a frequência ao ensino médio tinha também se expandido aceleradamente. A educação escolar se democratizou. Entretanto, os diplomas escolares vinham concomitantemente perdendo seu valor, em alguma medida pelo esvaziadamento do seu caráter distintivo, mas sobretudo devido à elevação dos requerimentos de escolaridade exigidos para o ingresso e permanência no mercado de trabalho. Desde o início dos anos 1990, quando o colapso de empresas e ramos industriais e a reestruturação produtiva acarretaram expressiva redução do emprego formal no Brasil, a certificação de conclusão do ensino médio passou a ser exigida nas contratações para os postos de trabalho menos qualificados, sem que houvesse qualquer correspondência entre os conhecimentos aprendidos na escola e os conteúdos das tarefas a serem desempenhadas (DEDECCA, 1998). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Considerando as mudanças no mundo do trabalho, compreendemos melhor as demandas que incidem sobre a escola hoje. O aumento da frequência à escola não expressa exatamente um interesse ampliado pelo ensino e pela aprendizagem. O desemprego juvenil e a exigência do diploma para ingresso no mercado do trabalho constrangem os adolescentes a permanecerem na escola, até mesmo para que possam ocupar uma vaga de estágio, forma de trabalho precarizada comum entre os jovens. Ao mesmo tempo em que a escolarização deixa de ser um direito para converter-se em imposição, a almejada inserção no mercado de trabalho é incerta, mesmo para os que concluem o ensino médio. É nesse contexto que deve ser entendido o deslocamento das aspirações de escolarização, por uma expressiva parcela dos setores populares, em direção ao ensino superior, percebido como único canal de acesso a um trabalho mais valorizado, menos rotineiro e embrutecedor. As políticas governamentais têm respondido a essas demandas com a ampliação de vagas, criação de cursos e de novos mecanismos de acesso às universidades, como o Programa Universidade para Todos (PROUNI) e as cotas para afrodescendentes e estudantes oriundos de escolas públicas. Com medidas, enfim, que não incidiam diretamente sobre o ensino médio. Outro exemplo de política que tenta mudar a escola a partir de cima é a reforma do ensino médio em curso na rede estadual do Rio Grande do Sul. Uma das principais consequências da reforma é a redução em cinquenta por cento da carga horária das disciplinas, que devem 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A obrigatoriedade de frequência a um curso regular como condição de acesso ao ensino superior é, conforme comentado anteriormente, bastante recente no Brasil. O Estado hoje retira da escola as atribuições que a ela conferiu, nos anos 1930: dotada de relativa autonomia, a escola não pode determinar, a partir do seu interior, a extensão dos seus poderes. A certificação pelo ENEM tem a aparência, então, de um retorno ao passado, em que a frequência ao ensino secundário podia ser substituída pela aprovação nos exames parcelados. Mas os efeitos são diferentes: se no passado as elites podiam dispensar a escola porque seu interesse estava concentrado na obtenção do título de doutor, outorgado pelos cursos superiores, hoje a escolarização básica é a norma e são os conteúdos heterogêneos dessa escolarização que determinam maior ou menor chance de acesso às instituições de maior prestígio. 49 Entretanto, algumas iniciativas governamentais recentes revelam uma intenção de mudar a escola, para que deixe de ser o que é, sem apontar claramente o que seria. Por exemplo, a certificação de conclusão do ensino médio através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), estabelecida através da Portaria Ministerial n° 807, de 18 de junho de 2010, pode ser entendida como concretização do reconhecimento, inscrito na Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9394/1996), do conhecimento adquirido em espaços educativos informais. Mas é também uma medida que esvazia as funções da escola, retirando-lhe o monopólio da certificação e da avaliação dos conhecimentos dos estudantes, e o poder de decidir sobre a continuidade de estudos. O certificado deixa de se referir a um percurso escolar de duração e formato estabelecidos pelo sistema educativo; passa a ser um atestado de conhecimentos e habilidades que autoriza, do ponto de vista formal, o prosseguimento de estudos. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA dar lugar a projetos e atividades de interesses dos estudantes. A mudança é justificada a partir da avaliação de que a principal causa dos elevados índices de evasão e de repetência seria o desinteresse dos adolescentes por aquilo que a escola ensina ou tenta ensinar. Mas esse desinteresse não pode ser simplesmente atribuído aos conhecimentos escolares, percebidos como pouco atrativos, artificiais, descontextualizados ou dispensáveis no exercício das ocupações que os jovens consideram acessíveis, num futuro próximo. Nos períodos de maior prestígio da escola moderna, o currículo nunca se organizou, afora algumas experiências pontuais e localizadas, segundo os interesses imediatos dos estudantes. A constestação desorganizada dos jovens ao ensino escolar repercute um processo mais amplo de depreciação da escola pela sociedade. Os adolescentes devem frequentar por mais tempo uma escola que seus pais abandonaram cedo, para obter ocupações de menor reconhecimento social. É nesse quadro conflituoso que se inscreve a ação docente. A missão de que os professores se vêem encarregados pode ser redimensionada se compreendemos que não é incumbência exclusiva da escola afirmar a sua relevância. Que matemática ensinar e para quê, em uma sociedade de futuro tão incerto? Os professores, pela sua formação e experiência docente, têm interesses a defender e estão em condições de cumprir um papel relevante nessa discussão e na reconfiguração dos currículos. Mas para isso é preciso reconhecer que não há nada de eterno ou imutável no ensino e que, para que a matemática ocupa um lugar importante na escolarização, para além da sua função seletiva, é preciso que a sociedade esteja convencida de sua relevância. REFERÊNCIAS PÁGINA 50 ALVAREZ, Tana Giannasi. A Matemática da Reforma Francisco Campos em ação no cotidiano escolar. São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Disponível em <http://www.pucsp.br/pos/edmat/ma/dissertacoes_2004.html> . BECHARA SANCHEZ, Lucilia; BABÁ, Elza. Nos tempos do GEEM (2). Depoimentos concedidos a Wagner Rodrigues Valente em 22 de setembro de 2007. Áudio-visual. Disponível em: <www.unifesp.br/centros/ghemat/paginas/teses.htm>. Arquivos do GHEMAT. BÚRIGO, E. Z. Matemática moderna na sala de aula: protagonismos de professores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, PUCPR, v.11, p.663 - 686, 2011. ______. Tradições modernas: reconfigurações da matemática escolar nos anos 1960. Bolema (Rio Claro), n. 36, 2010. CARDOSO, Tereza F. L. As aulas régias no Brasil. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena C. Histórias e memórias da educação no Brasil. V. I: séculos XVI-XVIII. Petrópolis: Vozes, 2004. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 2, 1990. p. 177-229. D’ENFERT, Renaud. Matemáticas modernas e métodos ativos: as ambições reformadoras dos professores de matemáticas do secundário na Quarta República Francesa (1946-1958). História da Educação, ASPHE, v. 11, n. 322, p. 7-30, set./dez. 2010. DEDECCA, Claudio Salvadori. Emprego e qualificação no Brasil dos anos 90. In: OLIVEIRA, M. A.(org). Reforma do Estado e Políticas de Emprego no Brasil. Campinas, UNICAMP, 1998. ESPERANÇA, Antonio Cesar dos Santos. O ensino de matemática no Instituto Júlio de Castilhos: um estudo sobre as provas do Curso Complementar. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012. MATOS, José M. História do ensino da matemática em Portugal – a constituição de um campo de investigação. MATOS, José M; VALENTE, Wagner R, orgs. A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: primeiros estudos. São Paulo: GHEMAT, 2007. PROST, Antoine. Histoire de l’enseignement et de l’éducation. v. IV: Depuis 1930. Paris: Perrin, 2004. RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira: a organização escolar. São Paulo: Autores Associados, 2010. SCHNEIDER, Regina P. A instrução pública no Rio Grande do Sul: 1770-1889. Porto Alegre: UFRGS/EST, 1993. SCHUBRING, Gert. Pesquisar sobre a história do ensino da matemática: metodologia, abordagens e perspectivas. In: MOREIRA, D.; MATOS, J. M. (org). História do ensino da matemática em Portugal. Portugal: SPCE, 2005. p. 5 – 20. VALENTE, Wagner R. Uma história da matemática escolar no Brasil (1730-1930). São Paulo: Annablume, 2007. VIDAL, Diana G. Sexualidade e docência feminina no ensino primário do Rio de Janeiro (1930-1940). In: BRUSCHINI, C.; HOLLANDA, H.B. (orgs.). Horizontes plurais: novos estudos de gênero no Brasil. São Paulo: Fundação Carlos Chagas/Ed. 34, 1998. p. 281-314. PÁGINA 51 VIÑAO FRAGO, A. A história das disciplinas escolares. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas, n. 18, p. 174-215, set./dez. 2008. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA TENDÊNCIAS DA PESQUISA EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA NO BRASIL: UMA CARACTERIZAÇÃO DAS DISSERTAÇÕES E TESES ENTRE 1990 E 2010 Iran Abreu Mendes Universidade federal do rio Grande do Norte – Brasil E-mail: [email protected] RESUMO Neste artigo apresento os primeiros resultados de uma pesquisa em desenvolvimento sobre as pesquisas em história da Matemática no Brasil. Meu objetivo principal foi identificar e caracterizar as bases da fundamentação e sustentação epistemológica e metodológica dos estudos relacionados à História da Matemática em diversos programas de pós-graduação do Brasil, nos quais se originaram cerca de onze tendências que configuram um panorama histórico da pesquisa brasileira em história da Matemática e da Educação Matemática. Algumas tendências já consolidadas ou em consolidação, sinalizam modalidades mistas de investigação que contribuíram para ampliar a produção historiográfica da matemática brasileira. Palavras chave: história da Educação Matemática, Sociologia da Educação Matemática, Historia da Matemática, Pesquisa em História da Matemática. PÁGINA 52 Nota introdutória Os estudos em história da Matemática, história no ensino da Matemática e em história da Educação Matemática, têm gerado valiosos resultados e apontado novos caminhos e focos de abordagem para a melhoria do processo de formação docente e de aprendizagem na Educação Matemática. Isso possivelmente ocorre porque as reflexões sobre tais estudos evidenciam a importância do processo formativo na superação de obstáculos encontrados na trajetória dos sujeitos da docência em matemática. Desde 2010 iniciei uma pesquisa, intitulada “Cartografias da produção em História da Matemática no Brasil: um estudo centrado nas dissertações e teses defendidas entre 199020108”, com a finalidade principal de catalogar a produção cientifica na área de História da Matemática nos programas de pós-graduação stritu sensu do país, das áreas de Educação, 8 Pesquisa financiada pelo CNPq,por meio do programa de Bolsa Produtividade em Pesquisa do CNPq. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Educação Matemática, Ensino de Ciências Naturais e Matemática e áreas afins. A meta é traçar uma cartografia dos estudos em História da Matemática oriundos das pesquisas realizadas pelos estudantes de pós-graduação dos diversos programas existentes no Brasil entre 1990 e 2010, com vistas a agrupar as dissertações e teses em cinco tendências: 1) Estudos e pesquisas em História e Epistemologia da Matemática; 2) Estudos e pesquisas em História da Educação Matemática; 3) Estudos e pesquisas em História e Pedagogia da Matemática; 4) Estudos e pesquisas em Formação de Professores de Matemática e 5) Estudos e pesquisas em elaboração e testagem de métodos para o ensino de Matemática. Além disso, me propus também a identificar e analisar os fundamentos teóricos e metodológicos que norteiam tais pesquisas de modo a obter subsídios conceituais e didáticos que possam contribuir para a formação inicial e continuada de professores de matemática no país. A pesquisa em desenvolvimento baseia-se, principalmente, em uma investigação documental nos arquivos da CAPES e dos programas de Pós-graduação, existentes no país, que focam seus estudos no tema objeto desta pesquisa. O meu objeto de pesquisa, portanto, é a produção gerada na área de História da Matemática no Brasil, nos Programas de Pós-Graduação em Educação, Educação Matemática, Ensino de Ciências e Matemática e áreas afins, correspondente ao período de 1990 a 2010. Em estudos anteriormente realizados por Sad (2005) e Mendes (2008, 2011), fiz uma análise preliminar dos estudos apresentados e publicados nos Anais dos Seminários Nacionais de História da Matemática - SNHM ao longo de 13 anos, apontando como as abordagens das pesquisas em ciências humanas e sociais se incorporaram aos estudos relacionados à História da Matemática, originando onze tendências. Para tanto, tomamos como referência os trabalhos relacionados à história da Educação Matemática presentes nesses Anais dos Seminários Nacionais de História da Matemática, realizados em Recife (1995), Águas de São Pedro (1997), Vitória (1999), Natal (2001), Rio Claro (2003), Brasília (2005), Guarapuava (2007) e Belém. Dos 350 trabalhos publicados ao longo dos 8 eventos, 230 referiram-se às investigações em História da Matemática com a maioria dos temas ligados à: evolução de algum conceito ou teoria, temas específicos de Matemática, relações entre matemática e outras áreas, aplicações da História da Matemática, História da Matemática: Livros didáticos, desenvolvimento de produções sobre História da Matemática. Os outros 120 trabalhos 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Para melhor encaminhamento dessa discussão temática, tomei como elementos de apoio para nossas interlocuções os seguintes aspectos: a diversidade de fontes na pesquisa historiográfica e as tendências da pesquisa em História e Antropologia, suas relações e implicações nas pesquisas em história da Matemática, visando assim, apontar contribuições dessas abordagens para a Educação Matemática e a formação de professores. 53 Notei que há uma consolidação de algumas dessas tendências, evidenciando o crescimento das pesquisas na área. Percebi, ainda, que ao longo dos seminários houve um aumento na variedade de abordagens, bem como o surgimento de modalidades mistas de investigação e análise das informações históricas visando descrever com o maior detalhe possível, os caminhos pelos quais a pesquisa em história da Matemática e seus desdobramentos na Educação Matemática veio seguindo ao longo dessas duas décadas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA publicados centraram-se às abordagens voltadas para relacionados com a história da Educação Matemática, com temas diretamente relacionados com biografias de matemáticos e educadores matemáticos, história e memória sobre instituições e disciplinas relacionadas à matemática escolar ou alguma abordagem similar, sempre envolvendo as atividades de algum matemático ou professor de Matemática em contexto histórico de determinada época. Em cada uma das três categorias estabelecidas, os trabalhos foram reorganizados em onze categorias: 1. Investigação sobre a vida de matemáticos ou educadores; 2. Investigação sobre a evolução de algum conceito ou teoria; 3. Investigação sobre uma área de conhecimento; 4. Investigação sobre instituições; 5. Investigação sobre o contexto cultural de uma criação; 6. Investigação sobre uma época determinada; 7. Investigação sobre um grupo específico; 8. Investigação sobre as relações da Matemática com outras áreas do conhecimento; 9. Investigação sobre as aplicações da História da Matemática; 10. Investigação sobre livros didáticos; 11. Investigação sobre o desenvolvimento de produções sobre História da Matemática. PÁGINA 54 Para a realização de minha análise sobre tis categorias, retomei os anais dos Seminários Nacionais de História da Matemática já realizados e agrupei os trabalhos de acordo com as temáticas dos mesmos, organizando-os em dois eixos: os trabalhos voltados para a pesquisa em História da Matemática e aqueles voltados para a História da Educação Matemática. Com base nessa investigação e nos encontros luso-brasileiros de história da Matemática foi possível estabelecer alguns pontos conclusivos sobre o itinerário da pesquisa em história da Matemática e os modos de abordagem construídos ou reestruturados entre 1995 e 2009. Os resultados analisados apontam que houve um crescimento significativo na qualidade dos trabalhos, bem como um acréscimo valioso na variedade de abordagens e na conjunção de tendências de modo a gerar formas mistas de investigação e análise das informações históricas que possam contribuir para se tecer um painel mais detalhado dos caminhos pelos quais a história da Matemática, história no Ensino da Matemática e da Educação Matemática seguiram ao longo dos últimos 20 anos. Sobre os fundamentos teóricos das pesquisas Outro indicativo verificado no estudo é que as pesquisas realizadas por estudiosos da área de Ciências Humanas e Sociais têm contribuído fortemente para que outras áreas que se 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA desenvolvem com base na pesquisa histórica ou no exercício da historiografia. A história da Matemática e a história da Educação Matemática, por exemplo, puderam ampliar as possibilidades de construção dos seus objetos de estudos, bem como dar uma conotação científica às verdades estabelecidas no processo historiográfico a partir do uso dessas modalidades metodológicas adotados pelas Ciências Humanas e Sociais, quando incorporadas em suas pesquisas. Para Michel de Certeau (1991, p. 28), por exemplo, “a Antropologia insinua na História uma outra relação com o tempo: já não se trata de um tempo que se repete, que evolui em espiral, que tem nós e volta atrás, um tempo manhoso, enganador e cheio de sinuosidade”. Essa perspectiva implica que ao emergirmos num processo de observação, descrição e interpretação da realidade pesquisada, é necessário estabelecermos alguns patamares de comparação nos quais deve ficar evidente que a diferença entre a história do presente e a do passado não deve fazer esquecer um terceiro elemento que já não diz respeito ao objeto estudado, mas à perspectiva em que se faz o estudo, ou seja, uma historicização da própria história. O que está, então, em jogo é a capacidade da história se explicar como efeito de técnicas contemporâneas, de um meio social de posições econômicas e políticas. (CERTEAU, 1991, p. 29). O autor afirma, ainda, que o trabalho histórico inscreve-se no interior das lutas sócioeconômicas e ideológicas presentes nas narrativas da escrita de si e na história de vida reconstruída. A partir de reflexões como a apresentada por Certeau, fica evidente que cada uma dos envolvidos no processo de descrição histórica, deixa transparecer a sua forma de ver e analisar o mundo com todos os seus aspectos em cada época e local, dando a historiografia construída uma evidência do seu foco de olhar sobre o objeto descrito. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Todavia, os historiadores da ciência atual têm enfrentado uma série de obstáculos que interferem na legitimação das informações obtidas por meio de determinadas fontes utilizadas. Dentre elas está o problema de acesso aos documentos originais e a utilização de comentadores desses materiais. Outro fato refere-se ao enquadramento quantitativo das informações obtidas desses documentos e da sintetização crítica de tais materiais históricos. A opção adotada pelos pesquisadores é a utilização de métodos apoiados pela pesquisa antropológica em todas as suas dimensões visando assim, diminuir o caráter de exatidão exigido nas informações, mas garantindo, de antemão, a abordagem científica necessária para validação do estudo histórico. 55 A respeito dos estudos referentes à historiografia da ciência e tecnologia contemporâneas, Söderqvist (1997) nos apresenta um balanço temporal acerca dessa história mostrando que a atual orientação a respeito dos estudos da área tem se manifestado na direção de uma sociologia da ciência, dos estudos sociais, do conhecimento científico, dos estudos sobre a construção social do conhecimento científico, dos estudos bibliográficos críticos, dos estudos sobre controvérsias científicas e da retórica da ciência. Esses e outros temas que evidenciam os estudos de casos na história da ciência recente apontam uma variedade de tendências teórico-metodológicas das pesquisas na nova história da ciência mostrando as contribuições que essas tendências têm dado para a emergência de novos estudos históricos com significado para a ciência recente. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Um das modalidades que melhor vem se estruturando nesse movimento de reconstrução da recente história da ciência refere-se à localização e exploração das informações mantidas por interlocutores que estiveram incluídos direta ou indiretamente nos fatos históricos pesquisados. O modo de se praticar esse exercício de pesquisa se manifesta fortemente nos estudos sobre memória e história, via uma abordagem apoiada na história oral ou na abordagem biográfica e história de vida. As tendências atuais das pesquisas em história da Matemática, incluindo a história da Educação Matemática, têm mostrado algumas modalidades que se caracterizam pela migração conceitual e pela hibridação conceitual, ou seja, as informações são rearranjadas de modo a dar significados aos estudos realizados. Isso significa que há uma reorganização de técnicas e formas de conceber e construir a verdade na história do conhecimento tendo em vista tecer um novo panorama da história em diversos contextos, áreas e épocas. É dessa reorganização metodológica de pesquisa caracterizada por uma bricolagem de técnicas que o historiador traça seus planos de estudos e pesquisas de modo a aproximar-se, o máximo possível, da verdade que pretende instituir no seu percurso historiográfico. Desse movimento surgiu, então, uma série de relações que implicaram nas novas tendências nas pesquisas em história da Matemática. Relações e implicações nas pesquisas em História da Matemática A respeito das relações e implicações das tendências em história da Matemática, consideramos oportuno iniciar nossos comentários sobre esse aspecto, com um questionamento atribuído a Certeau (1991) quando indaga por que é que a Matemática ocupou um lugar da história, ou seja, daquilo que foi, durante muito tempo, o fundamento de identificação e justificação de um poder social. Certeau (1991) afirma que esse fato ocorreu porque os critérios de seleção social mudaram. Uma sociedade privilegia, nos seus modos de iniciação, o que é privilegiado no seu funcionamento. PÁGINA 56 Com base nesse questionamento Certeau afirma que a Matemática desempenha atualmente, o papel ocupado anteriormente, pela retórica, o latim e a história. Isso se deve a mudança nos programas escolares. É necessário, entretanto, nos interrogarmos a respeito dos fatores que ocasionaram tais mudanças atribuindo à matemática a função de uma taxonomia socialmente eficaz e à história a figura de narrativas para o serão e para os tempos livres da televisão, narrativas tanto mais manipuláveis quanto dizem respeito a fatos que já deixaram de existir. (CERTEAU, 1991, p. 12-13). É nessa perspectiva que a pesquisa voltada para a construção de uma historiografia para Matemática e para a Educação Matemática que encontramos uma ampliação do campo referente aos métodos e abordagens de pesquisa nessa área, nos Seminários Nacionais de História da Matemática, nos Seminários Luso-brasileiros de História da Matemática, bem como nos estudos e pesquisas realizados por meio das teses e dissertações realizadas em programas de pós-graduação que envolvem essa área de estudos. Nesse sentido, apresentamos a seguir o quadro referente ao número de trabalhos publicados nos Anais desses eventos e seu enquadramento em algumas dessas tendências da pesquisa na área. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA O referencial teórico está apoiado em documentos e estudos que abordam essa questão da pesquisa, da pós-graduação em Educação Matemática. Além disso, utilizamos os referenciais teóricos sob as tendências da pesquisa em Educação Matemática para organizar uma chave de classificação dos trabalhos nas seguintes categorias: A - Estudos e pesquisas em História e Epistemologia da Matemática; B - Estudos e pesquisas em História da Educação Matemática; C - Estudos e pesquisas em História e Pedagogia da Matemática; D - Estudos e pesquisas em Formação de Professores de Matemática; E - Estudos e pesquisas em elaboração e testagem de métodos para o ensino de Matemática; F - Estudos e pesquisas em Etnomatemática e Educação Matemática; G - Outras tendências. Primeira caracterização da pesquisa em história da matemática no Brasil Após o levantamento, organização e uma primeira análise do material de pesquisa é possível assegurar que produção gerada na pesquisa se constitui em contribuições importantes para que os pesquisadores em história da Matemática e história da educação matemática possam compreender o processo de construção metodológica dessa área de estudos e pesquisas bem como a produção originada nas pesquisas em História da Matemática no Brasil e suas contribuições para a organização do patrimônio da matemática e da Educação matemática brasileira. A investigação efetivada nas dissertações e teses com enfoques em história da matemática e história da Educação Matemática, realizadas até o presente momento, apontam algumas considerações conclusivas sobre a complementaridade estabelecida entre os métodos de pesquisa nessas duas áreas e os modos de abordagem construídos ou reestruturados nos últimos 20 anos. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Há uma tendência para a hibridação do modelo de pesquisa com vistas ao estabelecimento da complementaridade dos fatores que sustentam a busca de verdades históricas por meio das pesquisas. A inclusão da literatura como uma fonte suplementar de contextualização do momento histórico já se mostra como uma forte aliada das pesquisas com vistas a dar melhor composição explicativa da verdade histórica a ser estabelecida. 57 Essas conclusões parciais mostram que houve um crescimento significativo na qualidade e quantidade dos trabalhos elaborados, significando um exercício de criatividade na pesquisa histórica em Educação Matemática, ocasionado também por um acréscimo valioso na variedade de abordagens e na conjunção de tendências, de modo a gerar formas mistas de investigação e analise das informações históricas que tecem um painel dos caminhos da história da Matemática e da Educação Matemática no mesmo pesquisado. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A retomada dos princípios da arqueologia como forma de construção dos discursos e proposições da verdade histórica em construção se mostra como outro fator importante para se estabelecer processos de conexões entre aspectos de constituição da realidade histórica nas quais poder-se-á mostrar uma convergência dos divergentes e a (re)união dos convergentes, ou seja, uma história da Matemática na qual as histórias hegemônicas, consideradas convergentes, se conectam às histórias das culturas matemáticas, não hegemônicas, mas que também são convergentes, podendo assim complementar-se. Por outro lado, entretanto, as “etnohistórias” das culturas matemáticas, consideradas não hegemônicas, admitidas como divergentes em outros tempos, quando aliadas às histórias das praticas culturais e de seus agentes de construção, também consideradas não hegemônicas, poderão tornar-se convergentes, de modo a poder complementar também o processo de construção das verdades históricas. Nesse contexto de finalização, é importante mencionar que a partir desses primeiros apontamentos, a busca de uma cartografia das pesquisas em história da matemática e história da Educação Matemática no Brasil apontam claramente que não nos é possível tomar a unicidade do método histórico como caminho para a construção dessa historiografia, uma vez que a pesquisa histórica é um processo cognitivo, no qual as informações das fontes são buscadas, apreendidas e elaboradas para concretizar ou modificar empiricamente as perspectivas (teóricas) referentes às experiências humanas vividas, memorizadas e narradas por outros. PÁGINA 58 É, portanto, o critério de adoção de alguns métodos de pesquisa sobre história das práticas matemáticas em suas três dimensões que terminam por tecer em todos os momentos da pesquisa, uma aproximação entre as abordagens sobre história da obra e da vida de matemáticos e professores de Matemática ou trabalhadores de outras áreas profissionais, história das instituições, história da arte, história das disciplinas escolares, dentre outras atividades sociais e culturais. Dessa tentativa de aproximação se constituem as bases das interlocuções nas quais a diversidade de fontes na pesquisa historiográfica com origens na pesquisa em história, antropologia e sociologia podem viabilizar o estabelecimento de relações e implicações para uma compreensão possível acerca de uma história social da Educação Matemática e das práticas matemáticas no contexto da sociedade e da cultura. BIBLIOGRAFIA BACELLAR, Carlos. Fontes documentais. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. Sâo Paulo: Contexto, 2005. (p. 23-79). BURKE, Peter. O que é história cultural? Tradução Sérgio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989). A revolução francesa da historiografia. Tradução Nilo Odalia. 3ª Reimpressão. São Paulo: Ed. da UNESP, 1997. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA BURKE, Peter. (Org.). A escrita da história. Novas perspectivas. Tradução Magda Lopes. 3ª Reimpressão. São Paulo: Ed. da UNESP, 1992. (Coleção Biblioteca Básica). CERTEAU, Michel de. A história: uma paixão nova. In: LE GOFF, Jacques et al. A nova história. Lisboa: edições 70, 1991. (Série Lugar da história). DUBY, Georges. A história continua. Tradução Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. FOSSA, John A. (Ed.). Anais. Seminário Nacional de História da Matemática. Rio Claro: SBHMat, 2001. FOSSA, John A. (Org.). Anais. I Colóquio Brasileiro de História da Matemática e IV Encontro Luso-brasileiro de História da Matemática. Natal: SBHMat; EDUFRN, 2005. FOUCAULT, Michel. Arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. FUNARI, Pedro Paulo. Fontes arqueológicas. Os historiadores e a cultura material. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. Sâo Paulo: Contexto, 2005. (p. 81 – 110). KRAGH. Helge. An introduction to the historiography of science. Cambridge: Cambridge university press, 1989. LE GOFF, Jacques. História e memória. 4. ed. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1996. LE GOFF, Jacques et al. A nova história. Lisboa: Edições 70, 1991. (Série Lugar da história). LOMBARDI, José Claudinei; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. (Orgs.). Fontes, história e historiografia da educação. Campinas: Autores Associados: HISTEDBR; Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); Palmas, PR: Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná (UNICS); Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), 2004. (Coleção Memória da Educação). MENDES, Iran Abreu. Uma radiografia dos textos publicados nos Anais dos SNHM. In: Anais. 11º Seminário Nacional de História da Ciência e Tecnologia. Niterói: SBHC, 2008. p. 1-11. MENDES, Iran Abreu. História na Educação Matemática no Brasil: uma caracterização dos seminários nacionais. Covilhã (Portugal): Congresso Iberoamericano de História da educação Matemática, 2011. MENDES, Iran Abreu; CHAQUIAM, Miguel. (Orgs.). Anais do VIII Seminário Nacional de História da matemática. CD-ROM. Belém: SBHMat, 2009. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA MENDES, Iran Abreu. Cartografias da produção em História da Matemática no Brasil: um estudo centrado nas dissertações e teses defendidas entre 1990-2010. 59 MENDES, Iran Abreu. Conversas profissionais: memórias de professores e história da Educação Matemática. In: Anais. III Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica. CR-ROM. Natal: EDUFRN, 2008. P. 1-14. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA NOBRE, Sergio R. (Ed.). Anais. II Seminário Nacional de História da Matemática e II Encontro Luso-brasileiro de História da Matemática. Rio Claro: UNESP, 1997. PACHECO, Edilson Roberto; VALENTE, Wagner Rodrigues (Orgs.). Caderno de Resumos. VII Seminário Nacional de História da Matemática. Guarapuava: Ed. da UNICENTRO, 2007. PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. Sâo Paulo: Contexto, 2005. REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. SAD, Ligia Arantes (Ed.). Anais. VI Seminário Nacional de História da Matemática. Rio Claro: SBHMat, 2005. SCHAFF, Adam. História e verdade. 2. ed. Lisboa: Estampa, 1994. SILVA, Circe Mary Silva da. (Ed.). Anais. III Seminário Nacional de História da Matemática. Vitória: EDUFES, 1999. SÖDERQVIST, Thomas. Who Will Short out the hundred or more Paul Ehrlichs. Remarks on the historiography of recent and contemporary technoscience. In: SÖDERQVIST, Thomas. (Ed.). The historiography of comtemporary science and technology. Amsterdam: Harwood academic publishers, 1997. (Coleção Studies in the history o science, technology and medicine, v. 14). PÁGINA 60 TEIXEIRA, Marcos V.; NOBRE, Sergio R. Anais. V Seminário Nacional de História da Matemática. Rio Claro: SBHMat, 2003. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS Wagner Rodrigues Valente GHEMAT - UNIFESP www.unifesp.br/centros/ghemat RESUMO A comunicação guia-se pela resposta à questão: que papel a História da educação matemática poderá ter na formação de professores de matemática, do ponto de vista dos conteúdos matemáticos necessários à sua formação? Para respondê-la lança-se mão de referencial teórico-metodológico vindo da História Cultural, em particular, da História das Disciplinas Escolares. Discute-se o tema da Matemática na formação do professor, abordam-se as tendências na Educação Matemática em termos de metodologias e concluise pela necessidade do uso da História da educação matemática como uma tendência da Educação Matemática para a formação de professores, na abordagem dos conteúdos envolvidos na prática cotidiana do profissional da escola básica. TRABALHO O papel da História da educação matemática na formação de professores tem sido tema de nossas investigações há algum tempo. Neste texto, voltamos a ele, abordando-o numa perspectiva até agora pouco tratada: que papel a História da educação matemática poderá ter na formação de professores de matemática, do ponto de vista dos conteúdos matemáticos necessários à sua formação? Anteriormente a essas considerações, procurando dar uma contribuição ao debate sobre a presença da disciplina História da Matemática nos cursos de licenciatura, advogamos a necessidade de que a formação de professores deveria incluir “(...) não estritamente a história da matemática dos matemáticos, mas o que foi se constituindo num saber escolar” (VALENTE, 2002, p. 94). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA (...) a dimensão formativa da História da educação matemática parece ser de outra natureza àquela da História da Matemática. Ela aponta para a formação profissional do professor, para a sua necessidade de compreender que heranças reelaboradas o seu ofício traz de outros tempos e que estão presentes na sua prática pedagógica cotidiana (VALENTE, 2010, p. 133). 61 Em sentido lato já discutimos a importância da História da educação matemática na formação do professor de matemática anteriormente: XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Poderá a História da educação matemática abordar os conteúdos matemáticos necessários à formação do professor? Que Matemática na formação do professor de matemática? Muitos estudos têm sido desenvolvidos para responder a essa indagação. Para referenciar o assunto, iremos considerar o trabalho dos pesquisadores Manuela David e Plínio Moreira. Em colaboração, esses investigadores elaboraram o estudo intitulado “O conhecimento matemático do professor: formação e prática docente na escola básica”. Nas conclusões do trabalho, tem-se: PÁGINA 62 O estudo que apresentamos procurou mostrar que a abordagem lógico-dedutiva – nos termos em que se organiza a matemática científica – não somente é insuficiente para a sistematização da matemática escolar como é também muitas vezes inadequada. Essa inadequação provém de várias características apontadas no estudo, mas uma das principais está associada ao fato de que a abordagem lógico-dedutiva é profundamente “econômica” na busca da “essência abstrata” dos conceitos e de características gerais das estruturas matemáticas particulares. Isso muitas vezes resulta numa identificação de certas interpretações e construtos associados aos conceitos ou às estruturas que, do ponto de vista da matemática escolar, é fundamentalmente inconveniente identificar. Em suma, o que o estudo nos sugere é que, tendo em vista as inadequações e insuficiências apontadas, a articulação do processo de formação na licenciatura com as questões postas pela prática docente escolar, mais do que tentar integrar à prática escolar uma formação específica orientada pela matemática científica – o fracasso histórico das disciplinas integradoras reforça a hipótese de que tal formação possa não ser “integrável” – demandaria uma concepção de formação “de conteúdo” que leve em conta a especificidade do destino profissional do licenciado e tome como referência central a matemática escolar. Isso pressupõe evidentemente o desenvolvimento, por meio de outros estudos e pesquisas, de uma compreensão aprofundada das relações entre matemática científica e matemática escolar e do papel de cada uma delas na prática docente escolar (2005, p. 59). A longa citação coloca em debate questões epistemológicas relativas à matemática e à matemática escolar. A análise das relações entre essas duas matemáticas é tema de estudos, com diferentes posicionamentos teórico-metodológicos, já de algum tempo. Um deles, nos parece, refere-se aos estudos estreitamente ligados ao campo didático. E, neste caso, a “transposição didática” é elemento emblemático9. Outro aporte teórico-metodológico ligase à compreensão das relações entre “matemática científica e matemática escolar”, ao longo do tempo, em termos da produção dos saberes elementares. Neste segundo caso, os estudos 9 A referência a estudos que tomam essa perspectiva remete ao pesquisador francês Yves Chevallard e sua obra basilar “La transposition didactique – du savoir savant au savoir enseigné” (VALENTE, 2005, p. 29). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA têm caráter histórico. Em nossas pesquisas, optamos por essa perspectiva, com o intuito de trazer uma contribuição ao debate, sobre o papel da História da educação matemática na formação do professor de matemática. Explicitando um pouco a nossa perspectiva, para o trato histórico do tema, cabe discorrer, mesmo que de modo bastante sintético, sobre história cultural e história das disciplinas escolares, que configuram o enquadramento teórico desta comunicação. História Cultural, História das Disciplinas Escolares e questões epistemológicas. Dada a sua complexidade e extensão, não é tarefa simples caracterizar em poucas linhas, como se dá a pesquisa que tem por referência a História Cultural. No entanto, algumas balizas parecem indicar o caminho a seguir nesses estudos. Uma delas refere-se ao tratamento dado ao termo cultura. O historiador francês Roger Chartier menciona haver duas famílias de significados para ele: uma delas é a que designa por cultura as obras e os gestos que, em uma dada sociedade se subtraem das urgências do cotidiano para submeterem-se a um juízo estético ou intelectual; a outra família se refere às práticas ordinárias através das quais uma sociedade ou um indivíduo vivem e refletem sobre sua relação com o mundo, com os outros ou consigo mesmo (CHARTIER, 2007, p. 50). Assim, será considerando esta segunda acepção, que toma a noção de cultura agarrada a um grupo e à sua vida comum de existência, que nos localizamos no âmbito de uma História Cultural; em específico, à vida cotidiana das escolas, aos significados construídos no meio escolar que dão vida e funcionamento ao dia-a-dia pedagógico. Ou seja, ao que se pode chamar de cultura escolar. E, nesse contexto, interessam as transformações ao longo do tempo que ocorrem com a matemática nela presente: a matemática escolar. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Na opinião comum, a escola ensina as ciências, as quais fizeram suas comprovações em outro local. Ela ensina à gramática porque a gramática, criação secular dos linguistas, expressa a verdade da língua; ela ensina as ciências exatas, como a matemática, e, quando ela se envolve com a matemática moderna é, pensa-se, porque acaba de ocorrer uma revolução na ciência matemática; ela ensina a história dos historiadores, a civilização e a cultura latina da Roma antiga, a filosofia dos grandes filósofos, o inglês que se fala na Inglaterra ou nos Estados Unidos, e o francês de todo o mundo (CHERVEL, 1990, p. 180). 63 Faz já mais de uma vintena de anos que um texto de André Chervel vem constituindo referência fundamental para o estudo das disciplinas escolares . Esse pesquisador traz contribuição fundamental, a partir de suas pesquisas sobre a gramática escolar francesa, à análise dos conteúdos escolares. Chervel, de modo original, analisa historicamente as relações entre ciência, pedagogia e as disciplinas escolares. Para Chervel, a forma consagrada de tratamento dos ensinos escolares pode ser sintetizada, considerando-se que: XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Contrapondo-se a essa concepção comum, os estudos de Chervel apontam a originalidade das produções escolares, em termos de elaboração das disciplinas. Elas são o resultado histórico do que a escola produz ao longo dos séculos de sua existência. E, mais: ajunte-se a isso, uma verdadeira revolução epistemológica na forma de analisar os conteúdos escolares. O tema surge quando o autor aborda as relações entre ciência, pedagogia e disciplinas escolares. A concepção comum existente sobre os ensinos escolares, mencionada anteriormente, ancora-se, igualmente, num modo clássico de perceber a pedagogia: um lubrificante que age sobre os conteúdos produzidos pela comunidade científica, de modo a vulgarizar a ciência para crianças e adolescentes. Tratar-se-ia de uma metodologia, de modos de trabalhar os conteúdos de maneira a que pudessem ser ensinados. Segundo essa visão, de um lado estão os conteúdos científicos e, de outro, os métodos. Em suma: Ciências apartadas da Pedagogia. No entanto, o trabalho de André Chervel rompe com essa perspectiva à medida que alerta para o fato de que: Excluir a pedagogia do estudo dos conteúdos é condenar-se a nada compreender do funcionamento real dos ensinos. A pedagogia, longe de ser um lubrificante espalhado sobre o mecanismo, não é senão um elemento desse mecanismo; aquele que transforma os ensinos em aprendizagens (CHERVEL, 1990, p. 182). Este texto adota essa postura teórico-metodológica. Desse modo, não separa método e conteúdo, pedagogia e ciência na escola, matemática e pedagogia. Estuda a matemática escolar: elemento produzido historicamente no embate da cultura escolar com outras culturas, esta constituída do imbricamento inseparável de métodos e conteúdos definidores da matéria a ensinar. PÁGINA 64 Como modo ampliado de designação, este estudo adota os termos “História da educação matemática” como a representação construída sobre os processos e dinâmicas elaborados ao longo do tempo na produção da matemática escolar em termos de seu ensino e aprendizagem10. Assim, recoloca-se, a questão: que papel tem a História da educação matemática na formação do professor de matemática relativamente aos conteúdos matemáticos? História da educação matemática na formação de professores: recurso ou metodologia? Uma discussão que parece muito importante, em termos das práticas pedagógicas do professor de matemática, diz respeito aos elementos envolvidos em sua ação didática com 10 Cabe aqui ressaltar uma distinção importante: “História da Educação Matemática” refere-se à história da constituição do campo de pesquisa recente denominado Educação Matemática, diferentemente de “História da educação matemática”, rubrica tratada neste texto. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA vistas à aprendizagem da Matemática por seus alunos. Dentre esses elementos, o professor lança mão de metodologias e de recursos. O exemplo da resolução de problemas é emblemático para esta discussão. E, neste caso, a afirmação de uma prática pedagógica que incorpore as tendências da Educação Matemática11, leva em conta a resolução de problemas como uma metodologia e não como um mero recurso de ensino. Uma das referências mais importantes sobre esse tema - a professora e pesquisadora Lourdes Onuchic - destaca o movimento em torno da resolução de problemas em sua passagem de recurso para metodologia. No seu entender, a partir do final da década de 1980, os pesquisadores começam a discutir novas perspectivas didático-pedagógicas dessa alternativa de ensino. Assim, a resolução de problemas “(...) passa a ser pensada, então, como uma metodologia de ensino, como um ponto de partida e um meio de se ensinar matemática. Essa forma de ensinar matemática passa a ser vista como um modelo ‘pós-Polya’” (ONUCHIC, 2008, p. 7). Problemas nas aulas de matemática tem referência longínqua. Ao correr do tempo, o significado de seu uso parece estar ligado, sobretudo, como um recurso de fixação do conteúdo matemático. Algo muito diferente refere-se à sua utilização como uma metodologia. E, neste caso, leva-se em conta que a formulação de problemas matemáticos é um meio de possibilitar que os estudantes estejam em situação de construção do conhecimento matemático, em sua aprendizagem. Dessa forma, o estudante, diante de situações que precisam ser resolvidas por meio da Matemática, lança mão de conhecimentos que já possui. No entanto, esses conhecimentos revelam-se insuficientes. Impulsionado a resolver a situação problemática, o estudante constrói novos aportes provisórios de fundo matemático que, no processo de trabalho coletivo com a classe e com a mediação do professor, resultará na sistematização e aquisição de novos conceitos. Dessa forma, a resolução de problemas implica na aquisição de novos conteúdos matemáticos, diferentemente de seu uso como recurso para fixação de conteúdos já ensinados. Resolver problemas passa, dessa maneira, a representar um modo de aquisição de conteúdos matemáticos e não, simplesmente, um ingrediente de verificação do quanto um estudante fixou ou não os ensinos do professor. 11 Tendências da Educação Matemática é título que vem sendo utilizado para designar novas possibilidades trazidas pelo desenvolvimento do campo da Educação Matemática. Referências curriculares, livros, disciplinas dos cursos de formação de professores e outras apropriações do título acabam relacionando o uso da tecnologia, da resolução de problemas, da História da Matemática, da modelagem matemática, da Etnomatemática dentre outros elementos, como novas possibilidades para as práticas pedagógicas do professor de matemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 65 Se há muitas dificuldades no cotidiano escolar em considerar a presença da resolução de problemas enquanto uma metodologia (MEDEIROS, 2012; TRINDADE, 2012), levar em conta outro eixo metodológico inscrito nas tendências da Educação Matemática, como o do uso da História da Matemática, parece ser algo mais difícil ainda. Pesquisas recentes mostram a fragilidade da disciplina História da Matemática no currículo de formação de professores (FRAGOSO, 2011); além disso, indicam que o dia-a-dia escolar pouco ou nada tem levado em conta essa perspectiva em termos de uma metodologia de ensino. Em boa medida, considerar a História da Matemática é algo visto como perda de tempo, pois XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA roubaria espaço do ensino-aprendizagem dos conteúdos matemáticos necessários a cada grau de ensino (SANTOS, 2012). Não é difícil concluir, assim, que um duplo e difícil problema a enfrentar está posto para a História da educação matemática na formação de professores. Um primeiro aspecto referese ao status acadêmico ainda não obtido por esses estudos a ponto de serem valorizados nas referências curriculares nacionais. Se nelas está presente, como tendência da Educação Matemática, o uso da História da Matemática, não se tem, ainda, praticamente, qualquer menção à História da educação matemática. Isso é compreensível, pois o acúmulo de conhecimentos nessa área é muito recente. De todo modo, na medida em que cresce a produção ligada à História da educação matemática12 vai sendo possível a construção de um movimento mais e mais incisivo para incorporar esses saberes na formação do professor de matemática. O segundo aspecto onde é possível vislumbrar grande dificuldade diz respeito a tratar a História da educação matemática como uma metodologia. Como se disse anteriormente parece que ainda não há exemplos, e conhecimento acumulado sobre experiências tratadas no cotidiano escolar em termos do uso da História da Matemática. Dificuldades de natureza semelhante, ao que tudo indica, devem ser vencidas em termos de se ter presente a História da educação matemática como uma metodologia. Mas, qual seria o significado de pensá-la como uma metodologia? História da educação matemática: uma metodologia na formação de professores PÁGINA 66 Retome-se a discussão método versus recurso de ensino. A discussão metodológica remete à possibilidade de construção do conhecimento pelo estudante, pelo professor em sua formação inicial. E, neste caso, poderá haver um primeiro estranhamento: necessita o professor construir conhecimentos básicos de matemática? À parte as discussões da formação precária obtida na escola básica, não se pretende advogar que os cursos de licenciatura em matemática realizem revisões da matemática elementar e muito menos que isso seja tarefa da História da educação matemática. Assim, em que sentido a História da educação matemática liga-se aos conteúdos matemáticos? A resposta à questão remete à formação profissional do professor de matemática. Seu ofício implica na condução da disciplina escolar Matemática, forma organizadora da matemática escolar historicamente constituída. Acrescente-se, também, que em níveis iniciais, a condução da Matemática se dá em termos de matérias escolares, também historicamente constituídas. Mas seja em termos de disciplinares ou de matéria de ensino, tem-se os conteúdos matemáticos a serem trabalhados na escola. O entendimento da construção histórica da matemática escolar não ocorre, por certo, como vulgarização da Matemática, em termos de “transposições didáticas”, como sustenta o 12 A publicação de dois exemplares temáticos, em 2010, para abrigar a enorme quantidade de estudos sobre História da educação matemática pela revista Bolema – principal referência da Educação Matemática – é, neste caso, emblemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ferramental teórico-metodológico vindo dos estudos da Didática da Matemática. Assim, há necessidade de aprendizagem da construção histórica de produção dos saberes elementares matemáticos. Ela leva ao processo de dar sentido aos conteúdos que são ensinados na escola elementar. Por que a escola básica ensina o que ensina em matemática? Essa parece ser a questão central. Colocar o professorando em situações de desequilíbrio, onde o seu saber matemático não dá conta de explicar as razões da existência ou ausência de temas matemáticos no rol das atividades matemáticas presentes na prática do professor, poderá levá-lo à reconstrução dos saberes elementares em termos historicamente sustentáveis. Como explicar, por exemplo, que a década de 1940, no Brasil, alijou dos programas de matemática ginasiais o conteúdo “função”, tendo ele sido referência para o ensino na década de 1930? Questões como essa remetem ao tratamento da História da educação matemática como uma metodologia de ensino na formação do professor de matemática. Na resposta a ela, o futuro mestre irá deparar-se com a necessidade de reconstruir os conteúdos da matemática escolar presentes no ofício cotidiano de ser professor. A compreensão da presença de função como saber matemático da escola básica remete às discussões internacionais do início do século XX, ao entendimento de trabalhos de Félix Klein, ao papel do Colégio Pedro II na organização da matemática escolar brasileira, às ações do professor Euclides Roxo; de outra parte, o entendimento da exclusão desse conteúdo em nível ginasial nos anos 1940 necessita da compreensão de um novo momento do governo Vargas, da presença no debate educacional de professores das escolas militares e seus programas de formação, das escolas confessionais e a produção de livros didáticos para o ensino de matemática dentre muitas outras coisas. Em síntese: se, de fato, é importante, para a formação do professor de matemática ter conhecimento das contribuições, ao longo do tempo, de como cientistas, estudiosos e matemáticos desenvolveram e sistematizaram função como conteúdo matemático, fundamental para o professor em formação, também, é a ciência de como, a matemática que ele irá ensinar em sua profissão organizou-se/reorganizou-se levando em conta a forma escolar mutante desse conceito em diferentes épocas escolares. Finalmente, a possibilidade da História da educação matemática ser pensada como uma metodologia remete à sua inclusão como uma tendência da educação matemática. Não basta, ao que tudo indica, pensá-la como um apêndice da História da Matemática. Seus conteúdos, processos e finalidade formativa são diferentes. CHARTIER, R. La historia o la lectura del tempo. Barcelona: Editorial Gedisa, 2007. CHERVEL, A.. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, 2, 1990. p. 177-229. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA DAVID, M. M. S.; MOREIRA, P. C. O conhecimento matemático do professor: formação e prática docente na escola básica. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro. Jan /Fev /Mar /Abr , 2005 No. 28. p.50-61. 67 REFERÊNCIAS XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA FRAGOSO, W. C. História da Matemática: uma disciplina do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Juiz de Fora. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática) – Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. 2011. MEDEIROS, J. S. Resolução de problemas matemáticos - estudo de caso com professoras dos anos iniciais em escola alagoana. Dissertação (Mestrado em Programa de PósGraduação em Educação) - Universidade Federal de Alagoas. 2012. ONUCHIC, L. de La R. Uma história da Resolução de Problemas no Brasil e no Mundo. IN: I Seminário em Resolução de Problemas – Palestra de Encerramento. São Paulo. 2008. Disponível em (acesso no dia 28 de abril de 2012): http://www.rc.unesp.br/serp/trabalhos_completos/completo3.pdf TRINDADE, D. A. Entendimentos sobre o uso da resolução de problemas matemáticos - o caso de professores de Matemática do 6o. ao 9o. ano da rede municipal de Aracaju/SE. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Sergipe. 2012. SANTOS, R. P. O. Uma investigação sobre as tendências metodológicas da educação matemática a partir das formações continuadas - Sergipe, 1988-2006. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Federal de Sergipe. 2012. VALENTE, W. R. História da Matemática na Licenciatura. Educação Matemática em Revista. Revista da Sociedade Brasileira de Educação Matemática. Ano 9, No. 11A. Edição Especial, 2002. ______________ A matemática escolar: epistemologia e história. Revista Educação em Questão, v. 23, n. 9, p. 16-30, maio/ago. 2005. PÁGINA 68 ______________ História da educação matemática: considerações sobre suas potencialidades na formação do professor de matemática. Bolema, Rio Claro (SP), v. 23, nº 35A, p. 123 a 136, abril 2010. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: PERSPECTIVAS À FORMAÇÃO DOCENTE NO CONTEXTO DA SALA DE AULA Profa. Dra. Célia Barros Nunes Universidade do Estado da Bahia – UNEB/Campus X, Brasil [email protected] RESUMO A aprendizagem matemática não ocorre simplesmente pela transmissão de saberes do professor para o aluno. É possível aprender matemática com tarefas que incentivem a construção do conhecimento que poderá favorecer o prazer pela descoberta, promover a autonomia e incentivar a comunicação. Além disso, o processo de construção do conhecimento leva o aluno a pensar mais, raciocinar mais, potencializando, dessa forma, um nível de conhecimento bem alicerçado. Nesse sentido, a resolução de problemas se apresenta como uma perspectiva metodológica que tem sido reconhecida mundialmente como uma meta fundamental no ensino-aprendizagem da Matemática. Assim, o presente texto pretende apresentar a Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas como uma proposta didática para se trabalhar em sala de aula. Palavras-chave: Resolução de Problemas, Ensino-aprendizagem-avaliação da matemática, Formação de professores. Resolver problemas é o processo de reorganizar conceitos e habilidades, aplicando-os numa nova situação, atendendo a um objetivo. Um dos objetivos principais do ensino e da aprendizagem matemática é fazer o aluno pensar produtivamente e, para isso nada melhor que lhe apresentar situações problemas que o envolva, o desafie e o motive a querer 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O tema Resolução de Problemas tem sido discutido e analisado nas últimas duas décadas, tanto entre professores e educadores quanto entre pesquisadores e elaboradores de currículos. Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempenhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóteses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimento adquirido anteriormente pelos alunos. 69 INTRODUÇÃO XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA resolvê-las. Essa é uma das razões pela qual a resolução de problema tem sido reconhecida no mundo todo como uma meta fundamental do ensino e da aprendizagem matemática. Entretanto, enfrentar e resolver um problema matemático não significa apenas a compreensão do que é exigido, a aplicação das técnicas ou fórmulas adequadas e a obtenção da resposta correta, mas, além disso, uma atitude de investigação científica em relação àquilo que está pronto. Vários são os pesquisadores que defendem um trabalho de ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas (ONUCHIC, 1999; VAN DE WALLE, 2009; ONUCHIC e ALLEVATO, 2004; NUNES, 2010; NUNES, 2011). Segundo eles, conceitos e procedimentos matemáticos importantes podem ser melhor ensinados através da resolução de problemas. Ou seja, tarefas ou problemas podem e devem ser colocados de forma a engajar os estudantes em pensar e desenvolver a matemática importante que precisam aprender. A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PSICOLÓGICAS DE APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DAS TEORIAS A história da pesquisa em Resolução de Problemas é muito recente e tem sido objeto de interesse mundial. Seu estudo vem sendo focado em duas vertentes: uma relacionada a seu estudo em sala de aula e a outra enquanto objeto de pesquisa. Recorrendo à história, o limiar do século XX, ao longo das reformas sociais, mostrou-se um provocador de muitos movimentos de mudanças na Educação Matemática de todo o mundo, buscando sempre aprimorar as formas de ensinar, de aprender e de avaliar o progresso dos alunos e o trabalho dos professores. Mais recentemente, 2007, o mesmo tema foi abordado por Lambdin e Walcott, descrevendo outras três fases, ampliando as citadas por D’Ambrosio (1983) que se seguiram no período da Matemática Moderna, a saber: De volta ao Básico, Resolução de Problemas e Padrões e PÁGINA 70 Beatriz D’Ambrósio13, em seu trabalho de 1983, fez uma análise das fases – Exercício e Treino, Aprendizagem Significativa e Matemática Moderna – pelas quais passou o ensino da Matemática desde o início do século XX até décadas de 60 e 70, enfatizando a influência que essas fases tiveram na Teoria Psicológica da Aprendizagem em conexão com a evolução do currículo matemático. Segundo a autora, os fatores que deram início a cada fase curricular foram complexos, uma mistura de fatores sociológicos, políticos, tecnológicos e psicológicos. Dentre esses fatores, o objetivo principal desse trabalho foi examinar a influência do fator psicológico com suas teorias de aprendizagem. 13 D’AMBROSIO, B. Influência de Teorias de Aprendizagem na Evolução do Currículo Matemático. Série de Palestras e Debates: Solução de Problemas, Computadores e aspectos culturais no ensino de Matemática. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação – DEME, 1983. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Avaliação e Responsabilidade. Segue abaixo, um quadro resumo, elaborado pelas autoras, de cada fase. Fases Exercício prática Principais Teorias Foco e Teóricos e Coneccionismo e Facilidade Associacionismo cálculo. (aprox. 1920 – (Thorndike) 1930) Como atingir com Rotina, memorização de fatos e algoritmos. Quebrar todo o trabalho em séries de pequenos passos. Aritmética Teoria da Gestalt significativa (Brownell, (aprox. 1930 – Wertheimer, Van 1950s) Engen, Fehr) Compreensão de Ênfase nas relações ideias e habilidades matemáticas. aritméticas. Aplicações da Aprendizagem incidental. matemática em problemas do mundo Abordagem de real. atividade orientada. Matemática Psicologia do Compreensão Moderna (aprox. desenvolvimento, estrutura 1960 – 1970s) teoria sociocultural disciplina. (ex: Brunner, Piaget, Dienes) da Estudo da estruturas matemáticas. das Currículo espiral. em Aprendizagem descoberta. por Volta às bases (Retorno ao) (Retorno à) (Retorno à) (aprox. 1970s) coneccionismo. preocupação com o aprendizagem de desenvolvimento do fatos por exercício conhecimento e das e prática. habilidades. Padrões, avaliação, 15 Psicologia cognitiva, Guerras teoria matemáticas: de Retorno e aprendizagem de descoberta. à por Aprendizagem através da resolução de problemas. NSF15 – desenvolvimento de NSF – National Science Foundation – Fundação Nacional de Ciência 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil 71 Resolução problemas processos pensamento matemático. PÁGINA Resolução de Construtivismo, problemas psicologia (aprox. 1980s) cognitiva e teoria sociocultural (Vygotsky) XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA responsabilidade sociocultural vs preocupação com a (aprox. 1990 até renovada ênfase na alfabetização psicologia matemática dos o presente) experimental. indivíduos vs (NCBL14) preocupação com a gestão dos sistemas educacionais. currículos baseados em padrões e orientados ao estudante vs foco na preparação para os testes com expectativas específicas. Tabela 1: Relações entre as Fases da Educação Matemática e as Teorias Psicológicas de Aprendizagem Segundo Lambdin e Walcott (2007), essas fases merecem atenção, pois cada uma delas corresponde a um período em que a Educação, em geral, estava caminhando através de mudanças radicais e fundamentais e cada uma introduzia práticas novas e inovadoras para a Educação Matemática. A essas razões, acrescenta-se o fato de que algumas das fases apontadas também foram vivenciadas em outros lugares do mundo e exerceram forte influência nos rumos que o trabalho com a matemática escolar tomou a partir de então. Considere-se aqui a fase da Resolução de Problemas e a influência que a Teoria Psicológica de Aprendizagem trouxe a essa fase, cujas ideias apoiavam-se, especialmente, nos fundamentos do Construtivismo e na Teoria Sociocultural de Vygotsky. O foco nessa fase foi colocado sobre os processos de pensamento matemático e de aprendizagem por descoberta no contexto da Resolução de Problemas. Segundo González (2010), tal interesse pelos processos de pensamento de estudante se conecta com a ideia de que a Educação não pode consistir apenas em acumulação de conhecimentos, ao contrário, eles devem ser reflexivos; que possuam um extenso repertório de ferramentas de pensamento formal e informal e que saibam como e quando usá-las; que tenham uma boa quantidade de conhecimentos acerca da cognição humana e como manejar efetivamente suas próprias ações cognitivas (metacognição). PÁGINA 72 As investigações sistemáticas sobre resolução de problemas e suas implicações curriculares tiveram início na década de 70, do século XX, e, ganharam espaço no mundo inteiro já no final da referida década. Começando, então, o movimento a favor de um ensino baseado em resolução de problemas. Nos Estados Unidos, em 1980, o NCTM – National Council of Teachers of Mathematics (Conselho Nacional de Professores de Matemática) já manifestava sua preocupação com essas questões e, então, publicou o documento An Agenda for Action: Recomendations for School Mathematics of the 1980’s (Uma Agenda para Ação: Recomendações para a matemática escolar nos anos 80), que chamava todos os interessados, pessoas e grupos, para juntos, num esforço cooperativo massivo, buscarem uma melhor compreensão matemática para todos. A primeira dessas recomendações dizia: resolver problemas deve ser o foco da matemática escolar para os anos 80. Os educadores matemáticos daquela 14 NCLB – No Child Left Behind Act – Nenhuma Criança Ficará para Trás 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA época tinham um grande interesse em fazer da resolução de problemas um foco do currículo de Matemática. AS DIFERENTES ABORDAGENS DADAS À RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA DÉCADA DE 80 Devido a uma falta de consenso entre pesquisadores, educadores matemáticos sobre a recomendação deixada pelo documento Uma Agenda para a Ação ocorrida, possivelmente, pelas diferenças existentes entre as concepções que pessoas e grupos, envolvidos com a Educação Matemática, tinham sobre o significado de Resolução de Problemas ser o foco da matemática escolar, o trabalho da década de 80 não chegou a um bom termo. Para ajudar a refletir sobre essas diferenças, Schroeder e Lester (1989) citaram duas maneiras distintas de abordar resolução de problemas: (1) ensinar sobre Resolução de Problemas; (2) ensinar para resolver problemas, que foram as adotadas nessa década. Livros escritos sobre esses dois caminhos, isto é, livros da década de 80, sempre se referiam ou aos quatro passos de Polya16 ou a variação deles, ou ao uso de estratégias indicadas para a resolução de problemas17. Entendia-se ensinar sobre resolução de problemas com o significado de trabalhar esse assunto como um novo conteúdo, adicionando a esse trabalho um número de heurísticas ou estratégias. O professor que ensina sobre resolução de problemas realça o modelo de Resolução de Problemas de Polya ou alguma variação dele. Esse modelo descreve um conjunto de quatro fases interdependentes no processo de resolução de problemas matemáticos: compreender o problema; devisar um plano; levar o plano adiante; e olhar de volta ao problema original, no intuito de analisar a validade da solução encontrada. Aos estudantes, dentro dessa ideia, são ensinadas claramente as fases que, de acordo com Polya, um esperto resolvedor de problemas as utiliza quando está resolvendo problemas matemáticos, e ele é encorajado a tomar conhecimento de seu próprio progresso, através dessas fases, enquanto resolve o problema. 16 o Ver Math – monograph n 7, proof of Alberta – Problem Solving in the Mathematical Classroom (MCATA), 1982. 17 Ver Strategies for Problem Solving – Lesson plans for developing mathematical thinking – Kaye Stacey and Susie Groves, 1985. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Acabando a década de 80, em 1989, Schroeder e Lester alertaram sobre a falta de consenso na interpretação da primeira recomendação deixada pelo documento Uma Agenda para Ação, que pedia que a resolução de problemas fosse o foco da matemática escolar nos anos 80. Com isso, pesquisadores passaram a questionar o ensino e o efeito de estratégias e modelos e começaram a discutir as perspectivas didático-pedagógicas da resolução de 73 Ensinar para resolver problemas tinha o significado de concentrar-se na maneira como a matemática é ensinada e o que dela pode ser aplicado na resolução de problemas rotineiros e não rotineiros. Além disso, o professor que ensina para resolver problemas está muito preocupado sobre a habilidade dos estudantes em transferir aquilo que eles já aprenderam no contexto de um problema para outros. Uma forte justificativa dessa abordagem é a de que a única razão para aprender Matemática é a de ser capaz de usar o conhecimento adquirido em sala de aula para resolver problemas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA problemas, da qual passou a ser pensada como uma metodologia de ensino, como um ponto de partida e um meio de se ensinar matemática. Nesse ano de 1989 estudiosos passam a trabalhar o ensino de Matemática “via” resolução de problemas, entendendo via como um meio de se aprender Matemática. Como afirmam Schroeder e Lester (1989, p. 33) No ensino via resolução de problemas, os problemas são trabalhados não apenas com o propósito de se aprender Matemática, mas também como o principal meio de se fazer isso. Nessa abordagem, o ensino de um tópico de Matemática começa com uma situação problema que incorpora aspectos chave do tópico, e técnicas matemáticas são desenvolvidas como respostas razoáveis a problemas razoáveis. Um objetivo de se aprender Matemática é o de transformar certos problemas não rotineiros em rotineiros. A aprendizagem matemática, nessa forma, pode ser vista como um movimento do concreto (um problema do mundo real que serve como um exemplo de conceito matemático ou de técnica matemática) para o abstrato (uma representação simbólica de uma classe de problemas e técnicas para operar com estes símbolos). Observa os autores que essa é uma abordagem para se ensinar matemática e que merece ser considerada, desenvolvida, experimentada e avaliada. De fato, ensinar matemática via resolução de problemas é a abordagem mais consistente com as recomendações da Comissão de Padrões do NCTM, que dizem: habilidades e conceitos matemáticos devem ser aprendidos no contexto da resolução de problemas; o desenvolvimento de processos de pensamento de nível superior deve ser estimulado através de experiências em resolução de problemas; o ensino de Matemática deve acontecer numa atmosfera de resolução de problemas, orientada para a pesquisa. PÁGINA 74 a resolução de problemas desenvolve nos estudantes a crença de que eles são capazes de fazer matemática e de que ela faz sentido; a resolução de problemas proporciona uma avaliação contínua de dados que podem ser usados para tomar decisões instrucionais, ajudar os estudantes a terem sucesso na aprendizagem e dar informação aos pais; trabalhar com resolução de problemas é prazeroso. Os professores que experimentam trabalhar nessa maneira nunca voltam ao modo do ensinar-falando. Foi, a partir de 1990, que a abordagem ensinar via resolução de problemas (Teaching via Problem Solving) passou a ser ensinar através de resolução de problemas (Teaching through Problem Solving). Nela o que se pretende é ensinar, aprender e avaliar a matemática construída pelos alunos com a guia e direção do professor através da resolução de problemas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Segundo Nunes (2010, p. 84) o que diferencia essa abordagem da anterior é que a expressão através de significa do começo ao fim, inteiramente, ao longo da resolução do problema e não simplesmente um recurso para se resolver o problema dado. É uma forma de ensinar e, consequentemente, aprender e, durante o processo, fazer matemática, pois o aluno diante do problema deve se mostrar como um co-construtor do seu próprio conhecimento. Nessa abordagem o objetivo primeiro é apresentar para os alunos problemas que gerarão novos conceitos ou conteúdos. Professores e alunos, juntos, desenvolvem esse trabalho e a aprendizagem realiza-se de modo cooperativo e colaborativo em sala de aula. Hoje, Devido a sua natureza hoje essa abordagem é considerada uma forte tendência na Educação Matemática e vem ganhando força e consistência no currículo de Matemática. A METODOLOGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM-AVALIAÇÃO MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DE No nome dessa metodologia há de se observar que a palavra composta ensinoaprendizagem-avaliação, segundo Onuchic (1999) foi criada para expressar a ideia de que ensino e aprendizagem devem acontecer simultaneamente durante a construção do conhecimento, tendo o professor como guia e os alunos como co-construtores desse conhecimento. Além disso, essa metodologia integra uma concepção mais atual sobre avaliação. Ela é construída durante a resolução de problemas, integrando-se ao ensino com vistas a acompanhar o crescimento dos alunos, aumentando a aprendizagem e reorientando as práticas de sala de aula, quando necessário (ONUCHIC e ALLEVATO, 2009). Com isso, entende-se que o papel da avaliação muda. Ela deve ser expandida para além do conceito tradicional da realização de provas. Trabalhar a avaliação continuamente poderá ajudar a tornar o pensamento dos estudantes visíveis para eles mesmos, para seus colegas e para os professores. A Metodologia de Ensino-Aprendizagem-Avaliação de Matemática através da Resolução de Problemas se apresenta como uma proposta didática para se trabalhar em sala de aula. Defende-se nela que o aluno aprende matemática a partir de um problema, tendo como objetivo um foco particular de Matemática e, usando estratégias convenientes, busca-se a solução do problema, com a participação efetiva dos alunos, seja individual, aos pares ou em pequenos grupos. Nela, os alunos têm a possibilidade de ver os conhecimentos e procedimentos matemáticos surgirem com significado e compreensão. E, para isso, Onuchic, em 1998, elaborou algumas questões que poderão ajudar o professor a refletir sobre elas e a bem escolher os problemas com os quais irá trabalhar: Isso é um 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Em sala de aula, além de gerir o trabalho dos alunos, o professor precisa interpretar e compreender como eles resolvem o problema e de explorar as suas respostas de modo a aproximar e articular as suas ideias com aquilo que é esperado que aprendam. Os alunos, por sua vez, devem entender e assumir essa responsabilidade. 75 É crucial o papel e a ação do professor que começa com a escolha e preparação do problema apropriado ao conteúdo ou ao conceito que pretende construir com vistas ao cumprimento do seu propósito matemático, orientado pelos programas curriculares estipulados pela escola; precisa deixar de ser o centro das atividades, passando para os alunos a maior responsabilidade pela aprendizagem que pretendem atingir. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA problema? Por quê?; Que tópicos de Matemática podem ser iniciados com esse problema?; Haverá necessidade de se considerar problemas menores (secundários) associados a ele?; Para que séries acredita ser este problema adequado?; Que caminhos poderiam ser percorridos para se chegar à sua solução?; Como observar a razoabilidade das respostas obtidas?; Como professor, você teria dificuldade em trabalhar esse problema?; Que grau de dificuldade acredita que seu aluno possa ter diante desse problema?; Como relacionar o problema dado com aspectos sociais e culturais? Todo esse conjunto de ações nos mostra o quanto o professor refletiu sobre a prática que pretendia desenvolver nessa aula. Nunes (2010), ao defender a Resolução de Problemas como uma metodologia de ensino-aprendizagem da Matemática ressalta [...] Um professor pesquisador se configura para nós como um professor que pesquisa quando busca problemas que podem ser utilizados, em sala de aula, para trabalhar determinados tópicos matemáticos pertinentes ao programa planejado; pesquisa quando identifica os focos matemáticos importantes e as grandes ideias subjacentes; pesquisa quando estabelece as melhores estratégias disponíveis para resolver os problemas; pesquisa quando prepara as questões com as quais conduzirá os alunos, durante a plenária, ouvindo-os em suas respostas; pesquisa quando planeja a formulação rigorosa da nova matemática construída durante essa aula, tendo os alunos como co-construtores desses novos conceitos e conteúdos (NUNES, 2010, p. 95). PÁGINA 76 Como a preocupação de Onuchic e dos integrantes do Grupo de Trabalho e Estudos em Resolução de Problemas, GTERP18 sempre foi desenvolver pesquisas que atinjam efetivamente a sala de aula, bem como das experiências com formação de professores, um roteiro foi elaborado em 1998, por Onuchic e professores, para ajudar os professores a empregar essa metodologia em suas aulas e que já se encontra em sua segunda versão. A princípio, o professor deverá preparar o problema visando à construção de um novo conceito, princípio ou procedimento, que chamaremos de problema gerador. Escolher as estratégias que poderão ser adotadas para resolver o problema dado; resolver completamente o problema usando as estratégias adotadas; preparar as questões que poderão ser feitas na plenária e levar a formalização do material matemático novo construído a partir do problema. Vale salientar que o professor deverá escolher um problema que seja acessível aos alunos a fim de proporcionar-lhes uma aprendizagem matemática sofisticada que vá além da aplicação de conceitos e treinos de procedimentos. Já em sala de aula, depois de entregar o problema a cada aluno, dá-se um tempo para que faça uma leitura individual e logo após, formar grupos e solicitar nova leitura do problema em conjunto. De posse do problema, os alunos, em seus grupos, num trabalho cooperativo e colaborativo, buscam resolvê-lo. É importante que o professor saiba gerir o 18 GTERP – Grupo de Trabalho e Estudos em Resolução de Problemas, coordenado pela professora Dra. Lourdes de La Rosa Onuchic, desde 1988. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA tempo de modo que o problema seja trabalhado e explorado completamente, evitando o máximo adiar para a aula seguinte a discussão e ou síntese dos conhecimentos produzidos durante a aula, o que acarretaria na perda do envolvimento dos alunos e o seu distanciamento das produções matemáticas realizadas, que dificilmente poderiam ser recuperadas após algum tempo. O professor, numa atitude de observador e incentivador, observa, analisa o comportamento dos alunos e estimula o trabalho colaborativo. Ainda, como mediador leva os alunos a pensar, dando-lhes tempo e incentivando a troca de ideias entre eles. Incentivaos, também, a utilizarem seus conhecimentos prévios e técnicas operatórias já conhecidas necessárias à resolução do problema proposto. Estimula-os a escolher diferentes caminhos (métodos) a partir dos próprios recursos de que dispõem. Entretanto, é necessário que o professor atenda os alunos em suas dificuldades, colocando-se como interventor e questionador. Acompanha suas explorações e ajuda-os, quando necessário, a resolver problemas secundários que podem surgir no decurso da resolução: notação; passagem da linguagem vernácula para a linguagem matemática e, conceitos relacionados e técnicas operatórias, a fim de possibilitar a continuação do trabalho. Dando continuidade ao trabalho, representantes dos grupos são convidados a registrar, na lousa, suas resoluções. Resoluções certas, erradas ou feitas por diferentes processos matemáticos, sobretudo os mais produtivos, devem ser apresentadas para que todos os alunos as analisem e discutam. Há de se observar que a exploração matemática de um erro é muito vezes esclarecedora e enriquecedora, tanto para os alunos que erraram quanto para os que o resolveram bem e também para o professor. Agora, num trabalho em conjunto, discutem-se as diferentes resoluções registradas na lousa, para defenderem seus pontos de vista e esclarecerem suas dúvidas. Nesta fase, o professor deverá também se colocar como guia e mediador das discussões, incentivando a participação ativa e efetiva de todos os alunos. Considera-se que este momento, denominado plenária, é bastante rico para a aprendizagem, uma vez que este momento pode-se discutir a produção de conjecturas, bem como a confirmação das mesmas , a sua justificativa matemática e uma eventual demonstração. CONSIDERAÇÕES FINAIS 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Por fim, o professor registra na lousa uma apresentação formal – organizada e estruturada em linguagem matemática – padronizando os conceitos, os princípios e os procedimentos construídos através da resolução do problema, destacando as diferentes técnicas operatórias e as demonstrações das propriedades qualificadas sobre o assunto. Esse momento é denominado de formalização. Destaque-se aqui a participação ativa dos alunos. 77 Após serem sanadas as dúvidas e analisadas as resoluções e soluções obtidas para o problema, o professor tenta, com toda a classe, chegar a um consenso sobre o resultado correto. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA O ensino-aprendizagem da matemática através da resolução de problemas não é tarefa simples. Ela requer tempo, continuidade e maturidade por parte do professor a fim de que o mesmo possa melhorar e aperfeiçoar a sua prática, o mesmo tempo para que os alunos correspondam às expectativas do professor e venham a compreender que o ensinoaprendizagem através da resolução de problemas lhes proporcionará não somente a aprendizagem de conteúdos matemáticos, mas também modos de construção/produção de conhecimento matemático no contexto de uma comunidade da qual são parte integrante. No processo de ensino e de aprendizagem através da exploração de um problema, entender as hipóteses do problema, tomar decisões para resolvê-lo, estabelecer relações entre suas variáveis, saber comunicar resultados e ser capaz de avaliar criticamente técnicas e concepções utilizadas na resolução dos mesmos são aspectos que devem estar presentes ou serem estimulados (ALLEVATO; ONUCHIC, 2008, p. 2). Vale ressaltar que nesse trabalho cabe ao professor promover, em sala de aula, um ambiente de aprendizagem estimulante de modo que os alunos sejam encorajados a participar ativamente, a desenvolver seu próprio trabalho de forma cooperativa e colaborativa, comunicando suas ideias e ouvindo a dos outros de forma construtiva. Que o professor não seja aquele que ensina Matemática, mas sim, o agente que cultiva a inteligência dos alunos de modo a conduzi-los, sempre que possível, à redescoberta. A matemática como disciplina tem suas características próprias, que para aprendê-la, quer para ensiná-la. Ao professor não basta ter o conhecimento teórico e prático da disciplina, é necessário conceber uma metodologia própria, uma participação ativa por parte do aluno. Sob essa perspectiva, trabalhar no contexto da sala de aula através resolução de problemas possibilita aos alunos um envolvimento maior nos modos de pensar e de desenvolver a Matemática que eles precisam aprender. REFERÊNCIAS PÁGINA 78 ALLEVATO, N.S.G.; ONUCHIC, L.R. Teaching mathematics in the classroom through problem solving. In: Researh and development in problem solving in mathematics education, ICME, México, 2008, p. 59-70. GONZÁLEZ, F. El Decálogo Del Resolvedor Exitoso de Problemas. Investigación y Postgrado, abr. 2002, vol.17, no.1, p.11-45. Disponível em http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S1316-00872002000100002&script=sci_abstract. Acesso em 01 de abril de 2012. LAMBDIN, D. V.; WALCOTT, C. Changes through the Years: Connections between Psychological Learning Theories and the School Mathematics Curriculum. In: MARTIN, W. G. et al(Ed.). The Learning of Mathematics. Yearbook 2007. Reston, VA: NCTM, 2007. p. 3 - 25. NCTM. An Agenda for Action. Reston: National Council of Teachers of Mathematics, 1980. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ______ . Curriculum and Evaluation Standards for School Mathematics. Reston, VA: National Council of Teachers of Mathematics, 1989. ______. Professional Standards. Reston, VA: National Council of Teachers of Mathematics, 1991. ______. Assessment Standards for School Mathematics. Reston, VA: National Council of Teachers of Mathematics, 1995. ______. Principles and Standards for School Mathematics. Reston, VA: National Council of Teachers of Mathematics, 2000. NUNES, C.B. A Resolução de Problemas na Formação Inicial e Continuada de Professores. In: Anais do II Seminário em Resolução de Problemas – II SERP, 2011. Rio Claro, Anais ... São Paulo, UNESP, 2011. NUNES, C.B. O processo ensino-aprendizagem-avaliação de geometria através da resolução de poblemas: perspectivas didático matemáticas na formação inicial de professores de matemática. Tese de doutoramento (não-publicada), Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Rio Claro, São Paulo, Brasil, 2010. ONUCHIC, L. R., ALLEVATO, N. S. G. Formação de professores – mudanças urgentes na Licenciatura em Matemática In. REZENDE, M.C.; NASSER, L. Educação Matemática no ensino superior: pesquisas e debates. Biblioteca do Educador. Coleção SBEM, vol. 5, 2009, p. 169-187. ONUCHIC, L. R., ALLEVATO, N. S. G. Novas Reflexões sobre o ensino – aprendizagem de matemática através da resolução de Problemas. In: BICUDO, M. A e BORBA, M. (orgs) Educação Matemática – pesquisa em movimento, São Paulo, Editora Cortez, 2004, p. 213-231. ONUCHIC, L.R. Ensino-aprendizagem de Matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani (org). Pesquisa em Educação Matemática: concepções & perspectiva. São Paulo, SP: Editora UNESP, 1999, p. 199-220. PÁGINA VAN DE WALLE, J. A. Matemática no ensino fundamental: formação de professores e aplicação em sala de aula. 6a edição. Tradução de Paulo Henrique Colonese. Editora Artmed, 2009. 79 SCHROEDER, T.L., LESTER Jr., F.K. Developing Understanding in Mathematics via Problem Solving, TRAFTON, P.R., SHULTE, A.P. (Ed.) New Directions for Elementary School Mathematics. National Council of Teachers of Mathematics, 1989. (Year Book). VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E PRÁTICAS INVESTIGATIVAS Professora Doutora Eliane Scheid Gazire PUC MINAS-Belo Horizonte [email protected] Resolução de Problemas: Um breve cenário histórico A matemática, como outras áreas do conhecimento, desenvolveu-se por meio de uma combinação entre problemas e teorias. Os conceitos matemáticos têm sido elaborados ao longo da história como fruto de uma atividade que surgiu da necessidade de resolver problemas. Os problemas geraram a formulação de conceitos, teorias e técnicas para resolvê-los. Teorias, por sua vez, sugeriram novos problemas e ampliaram as áreas de aplicação. Desde os primórdios de sua história, o ser humano tem se deparado com problemas e os tem resolvido. Porém, a reflexão sistemática sobre problemas e resolução de problemas não tem uma história tão antiga assim... pelo menos em documentos gravados. Pappus, matemático grego, que viveu provavelmente por volta do ano 300 da nossa era, no livro VII das suas “Collectiones”, descreve um ramo de estudo que ele chamou de analyomenos. Este pode ser traduzido como: “ Tesouro da Análise” ou “Arte de Resolver Problemas”, ou mesmo, “Heurística”. PÁGINA 80 Percebe-se em Pappus alguns indícios de sistematização da Heurística. Mas, as mais famosas tentativas de sistematização da Heurística devem-se a Descartes e Leibnitz, ambos matemáticos, e ao filósofo Bernardo Bolzano. No século XVII, René Descartes (1596-1650), filósofo, matemático, astrônomo, fisiologista e literato tentou estabelecer uma estrutura capaz de envolver, de maneira coerente e completa, a ciência de seu tempo. Apesar de não ser bem sucedido em todo o seu projeto, conseguiu dar importantes contribuições com seus trabalhos na tentativa da criação de um método universal para a resolução de problemas. Leibnitz (1646-1716), matemático e filósofo, também se preocupou com a sistematização da Heurística. Chegou a pensar em escrever uma “Arte da Invenção”, mas nunca realizou fragmentos dispersos que revelam um grande interesse pelo assunto. Aléxis-Claude Clairaut (1713-1765), matemático e astrônomo francês, nasceu e morreu em Paris. De todos os livros que escreveu, os “Elementos de Geometria” (1741) e os “Elementos de Álgebra” (1746) são particularmente significativos na história da didática da Matemática e na visão do ensino através da Resolução de Problemas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Clairaut nunca ensinou em uma sala de aula e seus livros portanto não visavam a atender a jovens colegiais. É bom salientar que até o século IX jamais se ensinava o conteúdo contido nos livros acima citados a alunos menores de vinte anos. Os dois livros podem ser qualificados como manuais matemáticos, mas certamente não de manuais didáticos. Foram escritos para servir à instrução da marquesa de Chatelel (1706-1749). Portanto os dois manuais eram destinados a um público composto de adultos desocupados e esclarecidos. Sendo assim, seus livros apresentavam uma doutrina pedagógica claramente formulada, baseada nos seguintes princípios: a) Não enfadar o aluno sob nenhum pretexto mesmo que para isso seja preciso sacrificar aspectos essenciais do assunto tratado; b) Minimizar o rigor lógico para não cansar o auditório com uma axiomática rígida demais; c) Fazer todas as exposições através de exemplos concretos; d) Tornar heurístico o ensino; e) Renunciar à exposição dogmática e seguir o verdadeiro desenrolar da descoberta. Uma vez que o histórico da descoberta nem sempre era conhecido, Clairaut imaginava o caminho que os sábios poderiam seguir para solucionar determinado problema. Bernardo Bolzano (1781-1844), lógico e matemático, dedicou grande parte de sua obra lógica, Wissenschaftsle, à questão da heurística. Por volta de 1900, o interesse pela questão da invenção matemática aumentava e já começava a ser discutida publicamente como evidencia a publicação, em 1902, de um questionário na revista “L´Enseignement Mathématique”. Pouco depois, Poincaré (1854-1912), pronunciou em 23 de março de 1908 no Instituto Geral de Psicologia, em Paris, a célebre conferência “L´Invention Mathématique”, onde analisou as condições do descobrimento cinetífico. Essa conferência foi publicada posteriormente em seu livro “Science et Méthode”. Polya (1888-1993), em seu livro “A Arte de Resolver Problemas” (1977), mostra que o trabalho com a resolução de problemas em Matemática contribui para o desenvolvimento da inteligência humana. Esse autor considerava que: 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Nessa obra Hadamard faz um estudo dos aspectos que envolvem a invenção matemática. Alerta que esse assunto não é simples de ser estudado, pois a dificuldade está no fato de envolver duas áreas de conhecimento, ou seja, a Matemática e a Psicologia. Para que fosse realizado um estudo perfeito, seria necessário um trabalho de pesquisa conjunta entre matemáticos e psicólogos. Esclarece que até então esse tipo de estudo tinha sido realizado por matemáticos, por psicólogos e mesmo por neurologistas, porém, cada um trabalhando por si. 81 Jaques Hadamard (1865-1963) foi um matemático que também se interessou pela Resolução de Problemas. Inspirado na conferência “L´Invention Mathématique” de Poincaré, escreveu “Psicologia da Invenção no Campo Matemático”. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Se a educação não contribui para o desenvolvimento da inteligência, ela está obviamente incompleta. Entretanto, a inteligência é essencialmente a habilidade para resolver problemas: problemas científicos, quebra-cabeças, toda sorte de problemas. O aluno desenvolve sua inteligência usando-a; ele aprende a resolver problemas resolvendo-os. (POLYA, 1966, p.137). Por isso, Polya (1966) priorizava um ensino ativo para a Matemática, acreditando que, para um aprendizado eficiente, o estudando deve descobrir por si mesmo a maior parte do material dependendo das circunstâncias dadas. Nesse sentido, diz o autor que: A Matemática não é um esporte para espectadores; não se pode desfrutar dela nem aprendê-la sem a participação ativa; por isso, o princípio da aprendizagem ativa é particularmente importante para nós, professores de Matemática, especialmente se considerarmos como nosso principal objetivo, o primeiro de nossos objetivos, o de ensinar o estudante a pensar. (POLYA, 1966, p.138). Mas, para fazer com que os estudantes pensem matematicamente, Polya (1966) acreditava que as atividades desenvolvidas com os alunos devem seguir uma determinada ordem. Isso porque, para os estudantes, algumas atividades se apresentam mais naturais que outras; pode-se prever mais facilmente que criar estruturas conceituais. Em geral, o concreto se apresenta antes do abstrato; ação e percepção antes das palavras e conceitos, conceitos antes de símbolos e assim sucessivamente. Com isso, o estudante não deve aprender passivamente, mas sim pelo seu próprio esforço, ou seja, “familiarizar-se com o concreto antes do abstrato, com a variedade de experiência antes do que com o conceito unificador e assim sucessivamente.” (POLYA, 1966, p.137). PÁGINA 82 Ainda segundo Polya (1966), isso nos leva à solução de problemas matemáticos, que é, em sua concepção, a atividade mais próxima do nosso pensar cotidiano. Por isso, ele afirmava que os problemas da vida cotidiana conduzem a simples problemas matemáticos e o passo da abstração do cotidiano ao problema matemático pode fazer-se fácil e natural para o aluno. Enfatiza-se que com um pouco de habilidade do professor, e sendo os problemas o centro do pensar diário, pode-se esperar que os problemas matemáticos sejam o centro do ensino de Matemática. Partindo, então, do estudo de como os matemáticos procediam na resolução de seus problemas, Polya (1977) procurou sistematizar este trabalho intelectual. Isso porque ele acreditava que a experiência na resolução de problemas e na observação dessa atividade, por parte de outros, deve construir a base em que se assenta a Heurítistica. Segundo o autor, neste estudo não se deve desprezar nenhum tipo de problema, e sim procurar aspectos comuns na maneira de tratar problemas de toda sorte: deve-se considerar os aspectos gerais, independente do assunto específico do problema. Polya (1977) ainda alertava que: O estudo da Heurística tendo como objetivos práticos, melhor conhecimento das típicas operações mentais que se aplicam à 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA resolução de problemas; pode exercer também uma certa influência benéfica sobre o ensino particularmente o da Matemática. (POLYA, 1977, p.87). Heurística, portanto, é o caminho, as categorias que as pessoas usam para resolver problemas. Por isso, elaborou uma série de questões agrupando-as no que ele chamou de fases de trabalho. Segundo Polya, quando se tenta resolver um problema,o ponto de vista, a maneira de encarar o problema pode ser modificada muitas vezes.Geralmente quando se inicia o trabalho com um problema, a concepção que se tem dele é muito incompleta.À medida que se vai progredindo, a nossa perspectiva vai sendo modificada.Por isso, no seu ponto de vista pode-se agrupar em quatro as fases de trabalho com o problema.São elas: compreensão do problema; estabelecimento de um plano; execução do plano e retrospecto. A Resolução de Problemas na Sala de Aula A resolução de problemas é um dos aspectos mais importantes da Matemática com o qual os professores devem estar preocupados. Se observarmos, cuidadosamente, poucos adultos precisam usar uma fórmula matemática ou lembrar como provar um teorema. O que eles podem e devem ter, como conseqüência de sua Educação Matemática, é a habilidade de raciocinar cuidadosamente e fazer uso inteligente e eficiente dos recursos à sua disposição. A atividade matemática é parte essencial de quase toda profissão: comércio, administração, previsão do tempo, arquitetura, engenharia, medicina e economia são apenas algumas. De fato, a necessidade de o homem comum ser matematicamente alfabetizado é maior hoje do que em qualquer outra época. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A partir dos anos 1980, inicia-se um movimento em prol da resolução de problemas, quando o NCTM (National Council of Teachers of Mathematics) declarou a resolução de problemas como foco da escola de Matemática, influenciado pelas pesquisas realizadas por Polya. Porém, ainda naquele momento, a resolução de problemas era superficial e consistia, apenas, em ensinar estratégias ou métodos rotineiros de resolução aos estudantes. Algum tempo mais tarde, Schoenfeld (1985) afirma, apresentando um “aprimoramento” científico das idéias iniciais de Polya, que a resolução de problemas é muito mais do que solucionar 83 É comum ouvir que o ensino da Matemática pode contribuir para o desenvolvimento da habilidade de resolução de problemas, na medida em que auxilia o indivíduo a utilizar o seu raciocínio analítico e a sua capacidade de abstração. Mas, na escola, a concepção restrita ao que seja Resolução de problemas geralmente limita o assunto apenas à solução de problemas verbais, na qual o processo de solução envolve apenas a escolha de uma operação e, conseqüentemente, a utilização de algoritmos e fórmulas. Isso proporciona um aprendizado limitado apenas por memorização ao invés de um aprendizado amplo e significativo. Polya acreditava, que se os professores observassem essas fases ao trabalharem com a resolução de problemas favoreceriam o desenvolvimento de uma atitude mental mais clara e produtiva em seus aluno. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA problemas fornecidos pelo professor, e sim que o aluno identifique e se aproprie do sentido que cada procedimento matemático tem e requer, com o currículo da disciplina voltado em instrumentos de comunicação, ou seja, escrever e falar Matemática como parte do movimento de ensinar para pensar e sendo a resolução de problemas ponto de partida para as discussões em sala de aula. Diante do exposto, podemos delimitar a resolução de problemas na prática educativa, segundo Gazire (1988), em três perspectivas, como veremos a seguir. Perspectivas para a resolução de problemas Resolução de problemas como um novo conteúdo: Essa abordagem surge da crença de que levar o aluno ao conhecimento de várias técnicas e estratégias de resolução de problemas contribui para desenvolver nele a sua habilidade em resolver problemas. Esse é o estudo do problema pelo problema, independentemente do conteúdo. Resolução de problemas como forma e aplicar um determinado conteúdo: Essa abordagem vem da crença de que se aprende melhor um conteúdo quando ele é aplicado na resolução de problemas. É o estudo do conteúdo por meio de aplicações em problemas, ou seja, o exercício do conteúdo. Resolução de problemas como um meio de ensinar Matemática: Essa abordagem surge por se crer que se todo o conteúdo a ser aprendido for iniciado por um problema desafio, ocorrerá uma construção interiorizada do conhecimento a ser adquirido. PÁGINA 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como podemos verificar, as perspectivas da resolução de problemas com a Educação Matemática são as mais promissoras possíveis; nunca, no passado, tantas possibilidades existiram juntas e não é de se estranhar que ainda hoje os professores sofram ao serem questionados sobre a importância ou o papel da resolução de problemas no ensino da Matemática e a sua relação com o desenvolvimento do pensar matemático. Apesar de todas as dificuldades, a resolução de problemas deve ter um papel de destaque no ensino, uma vez que pode embasar os caminhos a serem seguidos no desenvolvimento do pensamento matemático nos alunos. Portanto, se em vez de encorajarmos os alunos a apenas dominar as técnicas e exercícios típicos, escolhermos bons problemas e lhes oferecermos oportunidades de se comunicarem, falarem, escreverem em Matemática, com boas formas de fazê-lo, a resolução de problemas poderá ser, com certeza, potencialmente valiosa para o ensino e a aprendizagem matemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA REFERÊNCIAS GAZIRE, Eliane Scheid. Resolução de problemas: perspectivas em Educação Matemática. Rio Claro, SP: UNESP. Dissertação de Mestrado, 1988. POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro, Interciência, 1977. POLYA, G. Enseñando a resolver problemas. In: ______. El papel de la axiomática y solución de problemas matemáticos. Junto Directiva de las Ciencias Matemáticas. Washington, D.C. Gina y Companhia, 1966. SCHOENFELD, Alan H. Mathematical problem solving. Orlando: Academic Press Inc., 1985. SCHOENFELD, Alan. Porquê toda esta agitação acerca da resolução de problemas?. In: ABRANTES, P.; LEAL, L. C. ; PONTE J. P. (org.). Investigar para aprender matemática. Lisboa: Projecto MPT e APM. 1996. p. 61-71.. HANDERSEN, Kenneth B. & PINGRY, Robert E. Problem Solvin in Mathematics. In the Learning of Mathematics Its Theory and Practice. Twenty First Year Book. Wahshington D.C., The National Council of Teachers of Mathematics, 1953 POZO, J. I. (org.). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998. SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas. Porto Alegre: Artmed, 2001. BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática – 1o e 2o ciclos (1997); 3o e 4o ciclos (1998); Ensino Médio (1999). Brasília, DF. National Council of Teachers of Mathematics. Principles and Standards for School Mathematics. Reston, VA: NCTM, 2000. ONUCHIC, L. R. Ensino-aprendizagem de Matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.(Org.). Pesquisa em Educação Matemática. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p.199-220. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 85 ONUCHIC, L. R.; ALLEVATO, N. S. G. Novas reflexões sobre o ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas. In: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Org). Educação Matemática-pesquisa em movimento. 2ed. São Paulo: Cortez, 2005. p.213-231. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA DISCUTINDO A RELAÇÃO ENTRE RIGOR E INTUIÇÃO NO ENSINO DE CÁLCULO E DE ANÁLISE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O DEBATE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO ENSINO SUPERIOR Frederico da Silva Reis Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] RESUMO O presente trabalho intenta discutir alguns aspectos relacionados ao ensino de Cálculo Diferencial e Integral e de Análise Real, especialmente em cursos de Licenciatura em Matemática. De uma forma especial, investigamos a relação entre rigor e intuição como elementos fundamentais dos processos de ensino e aprendizagem dessas disciplinas. Com isso, pretende-se levantar algumas questões que contribuam para o debate corrente em Educação Matemática no Ensino Superior e também para as discussões relacionadas à Formação do Professor de Matemática. Palavras-chave: Ensino de Cálculo e Análise; Rigor e Intuição; Educação Matemática no Ensino Superior. TRABALHO 1. Discutindo o Ensino de Cálculo PÁGINA 86 O ensino de Cálculo nas universidades brasileiras tem sido objeto de questionamento em diversos fóruns em função das dificuldades apresentadas pelos alunos na sua aprendizagem, bem como pela alta evasão dos estudantes dos primeiros períodos, matriculados nesta disciplina (SBM, 1995, p. 4). Com esta abordagem inicial, a Sociedade Brasileira de Matemática – SBM, destaca a necessidade de se aprofundar a discussão sobre o ensino de Cálculo, em um de seus boletins informativos do ano de 1995. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA É óbvio que o questionamento dos problemas no ensino de Cálculo, ali levantados, é feito, basicamente, à luz da perspectiva de se resolver o problema do alto índice de reprovação e a consequente evasão dos alunos. Se considerarmos índices na faixa de 30 % a 50 % de reprovação, verificados numa grande parte das universidades públicas brasileiras, que em algumas o índice chega a 60 % e que em poucas o índice se aproxima de 20 %, o ensino de Cálculo realmente deve se transformar num sério objeto de investigação por parte dos pesquisadores em Educação Matemática, que terão pela frente um enorme desafio no âmbito do ensino superior. Comparando, ainda que de forma simplista, a situação com uma encenação teatral vemos, de um lado, os atores (professores) atuando em uma peça mal ensaiada e mal dirigida, fazendo com que o público (alunos), de outro lado, não capte sua mensagem e se retire antes do último ato. De quem é a culpa no palco da sala de aula? Dos atores e sua má performance ou do público e sua insensibilidade? Ou seria do diretor? Uma das coordenadoras de um projeto especial de apoio ao ensino de Cálculo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, chamado "Atendimento Especial em Cálculo I", realizado no Instituto de Matemática da UFRJ, Barreto (1995), ao ser questionada a respeito dos altos índices de reprovação nas disciplinas iniciais de Cálculo e dos motivos que levam os alunos a não apresentarem um bom desempenho nas mesmas, não vacila em afirmar que o aluno e a escola são os principais responsáveis: As causas são muitas e já bem conhecidas, principalmente a má formação adquirida durante o 1º e 2º graus, de onde recebemos um grande contingente de alunos passivos, dependentes, sem domínio de conceitos básicos, com pouca capacidade crítica, sem hábitos de estudar e consequentemente, bastante inseguros (BARRETO, 1995, p. 4). Está aí retratada uma visão muito comum entre os professores de Cálculo, de que a formação inadequada dos alunos é a principal causa dos problemas no processo ensinoaprendizagem de Cálculo. Por outro lado, na visão discente, as deficiências maiores se encontram no ensino, sobretudo na forma como o professor conduz sua prática pedagógica. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA a) Uma pedagogia centrada no professor, que tende a valorizar relações hierárquicas que, em nome da transmissão do conhecimento, acabam por produzir ditadores por um lado e indivíduos subservientes, anulados em sua capacidade criativa, por outro. A epistemologia empirista fundamenta e legitima essa forma pedagógica; 87 O professor, segundo Becker (1995), tende a encaminhar o processo de ensino e aprendizagem sob uma das formas pedagógicas seguintes: XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA b) Uma pedagogia centrada no aluno, que pretende enfrentar os desmandos autoritários do modelo anterior, atribuindo ao aluno qualidades que ele não tem, como: domínio do conhecimento sistematizado em determinada área, capacidade de abstração suficiente, especialmente na área de atuação específica do professor e volume de informações devidamente organizadas. A epistemologia apriorista fundamenta e legitima essa forma pedagógica; c) Uma pedagogia centrada na relação, que tende a desabsolutizar os pólos da relação pedagógica, dialetizando-os, sem que nenhum disponha de hegemonia prévia. Professor e aluno trazem suas próprias bagagens que, diferenciadas, entram em relação e, na medida dessa relação, professor e aluno constróem conhecimento. A epistemologia construtivista fundamenta e legitima essa forma pedagógica. Em síntese, Becker (1995, p.27) acredita que “o compromisso, mesmo inconsciente, com determinada epistemologia, redunda em determinação – não a única ! – da prática pedagógica”. Ao se analisar a prática pedagógica de uma grande parte dos professores de Cálculo, acreditamos que a pedagogia centrada na relação é a forma menos adotada no encaminhamento do processo ensino-aprendizagem de Cálculo e possivelmente, de várias disciplinas de conteúdo matemático. Analisando os pontos de vista descritos anteriormente, parece que chegamos a um processo cíclico, já que os argumentos docentes tropeçam na seguinte barreira: os próprios professores universitários são os responsáveis pela formação dos professores dos ensinos fundamental e médio que, por sua vez, são os responsáveis pela formação dos alunos que (mal preparados!) ingressam na universidade. PÁGINA 88 Refletir especificamente sobre este entrave não é objetivo deste trabalho. Entretanto, na tentativa de atender aos argumentos discentes não podemos desprezar a ação de diversos grupos formados por professores de Cálculo de universidades brasileiras que, através de inovações pedagógicas, vêm buscando elementos que possam contribuir efetivamente para tal discussão . No Instituto de Matemática, Estatística e Ciência da Computação da Universidade Estadual de Campinas – IMECC / UNICAMP, um grupo de professores buscou desenvolver projetos voltados para o ensino de Cálculo com aplicações. Sob uma ótica exploratória e construtiva do conhecimento, Figueiredo & Costa & Grou (1995, p.1) acreditam no ensino de Cálculo com auxílio do computador: “Nós temos proposto aos estudantes, projetos de pesquisa onde computadores são usados como um Laboratório Experimental de simulação de trajetórias, estabelecendo conjecturas e visualizando conceitos”. É óbvio que softwares computacionais podem ser utilizados como ferramentas valiosas na aprendizagem de conceitos analíticos, especialmente aqueles com grande apelo geométrico. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Também é reconhecida a importância do trabalho de projeto enquanto método educativo, conforme ressalta Abrantes (1995), lembrando ainda que: No entanto, o valor educativo do trabalho de projeto como componente do currículo está ligado a fatores de natureza pedagógica que incluem a escolha dos problemas a abordar, o ambiente de aprendizagem e a própria gestão do projeto (ABRANTES, 1995, p. 22). Entretanto, uma questão que precede à elaboração de currículos e ementas, à escolha de bibliografias e livros didáticos e à opção por uma determinada metodologia ou recursos metodológicos, é que a prática pedagógica do professor de Cálculo deve se pautar, primeiramente, na reflexão e compreensão do papel fundamental do Cálculo Diferencial e Integral na formação matemática de seus alunos. Somente estabelecendo elementos que esclareçam a real função do Cálculo na formação matemática do aluno, o professor terá condições de refletir sobre que objetivos traçar, que conteúdos e metodologias estabelecer, enfim, que prática pedagógica desenvolver! Observemos que as noções do Cálculo formam um conteúdo integrante de diversas disciplinas para cursos universitários que formam profissionais com os diferentes perfis, como por exemplo: Engenharia, Física, Economia e Farmácia, além, obviamente, de Matemática. Uma prática muito comum, entre os professores de Cálculo, é ministrar esta disciplina sempre da mesma forma (mesmos conteúdos, mesma metodologia, mesmos exemplos, mesmas aplicações), sem levar em consideração a natureza do curso. Não concordando com essa prática, entendemos que cada um desses cursos profissionalizantes exige do professor uma transposição didática própria, de modo que a produção de significados das idéias do Cálculo esteja em estreita relação com o contexto profissional do curso. Pois bem, mas como pretendemos contribuir para uma reflexão do professor de Cálculo sobre sua prática pedagógica? Pretendemos criar ou propor uma nova metodologia mágica, capaz de magicamente zerar os índices de reprovação e tornar a aprendizagem totalmente eficaz? Não, definitivamente não é este o nosso objetivo com o presente trabalho. - Pretendemos, também, abordar o ensino de Análise Real, o qual ocorre, no ensino de graduação, apenas nos cursos de Matemática; 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 89 Inicialmente, achamos por bem colocar que, apesar de, vez ou outra, reportarmo-nos ao Cálculo enquanto disciplina integrante do currículo de cursos da área de exatas, humanas ou biológicas, neste trabalho nosso foco é o ensino de Cálculo para estudantes de Licenciatura em Matemática por dois motivos principais: XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA - Pretendemos, ainda, discutir uma relação que julgamos crucial no ensino destas duas disciplinas: a relação entre rigor e intuição. 2. Discutindo o Ensino de Análise Ao se discutir o ensino de Cálculo para o Licenciando em Matemática, somos levados, inevitavelmente, a refletir também sobre o ensino de Análise, enquanto disciplina formadora do Professor de Matemática. Isto porque os tópicos fundamentais de um curso de Análise são os mesmos de um curso de Cálculo. Entretanto, se no Cálculo os temas são abordados sob uma perspectiva aplicativa, com a interpretação intuitiva das noções, na Análise eles são abordados, geralmente, sob uma perspectiva lógico-formal, com a definição rigorosa dos objetos estudados. O Prof. Geraldo Ávila, no prefácio de seu livro Introdução à Análise Matemática, diz acreditar que uma análise histórica permite mostrar que desde o surgimento do Cálculo, com Newton e Leibnitz no século XVII, vários matemáticos célebres como os irmãos Bernoulli, Euler, D’Alembert e Lagrange tentaram, sem sucesso, dar ao Cálculo uma formulação rigorosa, só obtida no início do século XIX, com Dedekind e Peano, após as contribuições fundamentais de Cauchy e Weierstrass. Em seu livro Abrégé D’Histoire des Mathématiques, Dieudonné (apud ÁVILA, 1993, pref.) conclui que: “A falta de rigor imputada aos matemáticos do século XVIII provém sobretudo, das dificuldades por eles enfrentadas em definir de maneira precisa as noções básicas do Cálculo, das quais, todavia, tinham muitas vezes uma boa concepção intuitiva”. PÁGINA 90 Entretanto, o Prof. Ávila acredita ter sido esta concepção intuitiva que os levou ao estabelecimento de importantes resultados o que justifica, segundo o professor, a necessidade de um “equilíbrio” entre o rigor necessário à Análise e a intuição tão fundamental no desenvolvimento das idéias matemáticas. Seria este “ponto de equilíbrio”, talvez, o divisor de águas entre o ensino de Cálculo e o ensino de Análise na formação matemática do aluno, colocando de um lado, o pensamento diferencial intuitivamente construído e do outro lado, o pensamento analítico formalmente construído? E mais, que tipo de “equilíbrio” deve existir? É realmente possível, na prática pedagógica, se atingir um “equilíbrio”? De fato, isto é importante para a formação do Professor de Matemática? Mesmo que ele só atue nos Ensinos Fundamental e Médio? A Análise Real está presente na maioria das grades curriculares dos cursos de Matemática das universidades brasileiras. Presença obrigatória no currículo dos bacharelados, é de se estranhar que algumas licenciaturas não possuam a disciplina “Análise I” no grupo das disciplinas obrigatórias, remetendo-a para o grupo das disciplinas eletivas. Afinal, ao professor que irá atuar nos Ensinos Fundamental e Médio, é dispensável o conhecimento analítico do Cálculo ou, então, dos campos numéricos? 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 3. Discutindo a relação entre Rigor e Intuição Analisando os cursos de Análise ministrados na graduação, parece-nos que numa boa parte deles há um excesso de formalismo e rigor na exposição dos temas, o que precisamos compreender. Diante desta prática, resta aos alunos a memorização dos principais resultados e de suas demonstrações que, espera-se, tenham sido entendidos intuitivamente no Cálculo. Novamente então, deparamo-nos com a necessidade de compreender melhor a forma como o rigor e a intuição são explorados / entendidos, o que certamente nos remeterá ao estudo da história do desenvolvimento destas áreas e, especialmente, de que forma a busca pelo rigor foi um determinante histórico (BARON e BOS, 1985; EVES, 1995). Por outro lado, a intuição é um elemento fundamental em qualquer situação de ensino, especialmente no ensino dessas disciplinas, tão passível de questionamentos. Em nossa Tese de Doutorado (REIS, 2001), discutimos de maneira mais aprofundada a relação dicotômica que existe entre rigor e intuição no ensino de Cálculo e de Análise. O nosso estudo, em síntese, parece mostrar que intuição e rigor são dimensões interdependentes, uma não podendo existir sem a outra, embora possamos, equivocadamente, privilegiar uma delas em detrimento da outra. Ambas estão presentes no ensino de Cálculo e de Análise, onde cumprem papéis importantes e complementares na formação do pensamento e do conhecimento diferencial, integral e analítico, tanto do Professor de Matemática quanto do Matemático. 4. Considerações Finais Por fim, destacamos a importância do Professor de Matemática do Ensino Superior investigar e situar sua prática pedagógica à luz das relações entre rigor e intuição nos processos de ensino e aprendizagem. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Também acreditamos que há que se desenvolver um curso de Análise de acordo com as condições intelectuais dos alunos e seus conhecimentos prévios. Se o pensamento analítico implica numa mudança no modo de conceber e encarar o conhecimento matemático, essa ruptura não pode acontecer sem a busca de uma continuidade com a forma como o aluno pensa e trata o conhecimento matemático, ou seja, com o pensamento diferencial e integral previamente construído. 91 Dentro da perspectiva acima descrita, existe ainda um grande caminho a ser construído pelos docentes formadores de professores. Em primeiro lugar, deve-se pensar num curso de Cálculo que prime pelas idéias e aplicação de conceitos e que não tenha foco na manipulação de fórmulas e regras. Daí, a importância das novas tendências da Educação Matemática no Ensino Superior, como a utilização de Tecnologias Informacionais e Comunicacionais e a realização de projetos de Modelagem Matemática. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA À guisa de conclusão, ressaltamos que as discussões aqui iniciadas são abordadas de forma mais aprofundada em vários capítulos do livro Educação Matemática no Ensino Superior, da Sociedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM, trazendo diversas pesquisas produzidas em instituições de ensino superior brasileiras, por professores-pesquisadores da área de Ensino Superior, obtidas a partir de projetos de pesquisas acadêmico-científicas. Recomenda-se a leitura e discussão deste livro a todos os professores de cursos de Licenciatura em Matemática preocupados com a formação de Professores de Matemática críticos e diferenciados. REFERÊNCIAS ABRANTES, P. Projetos, Matemática e Aprendizagem. Anais do II Congresso Brasileiro de Ação Pedagógica. Belo Horizonte, p. 21-24, 1995. ÁVILA, G.S.S. Introdução à Análise Matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1993. BARON, M. E.; BOS, H. J. M. Curso de História da Matemática: Origens e Desenvolvimento do Cálculo. Brasília: Universidade de Brasília, 1985. BARRETO, A. O Ensino de Cálculo I nas universidades. Informativo da Sociedade Brasileira de Matemática – SBM, n. 6, p. 4-5, 1995. BECKER, F. A Epistemologia do Professor. Anais do II Congresso Brasileiro de Ação Pedagógica. Belo Horizonte, p. 27-28, 1995. EVES, H. Introdução à História da Matemática. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1995. FIGUEIREDO, V. L. X.; COSTA, S.; GROU, M. A. Mechanical Curves – A kinematic greek look trough computer. Campinas: IMECC / UNICAMP, p. 1-10, 1995. PÁGINA 92 REIS, F.S. A Tensão entre Rigor e Intuição no Ensino de Cálculo e Análise: A visão de professores-pesquisadores e autores de livros didáticos. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação – UNICAMP – Campinas, 2001. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PAPEL DA ABSTRAÇÃO NO PENSAMENTO MATEMÁTICO AVANÇADO Lilian Nasser IM- UFRJ e CEIQT/SENAI [email protected] RESUMO A evolução do pensamento matemático elementar para o avançado envolve a transição da descrição para a definição, do convencimento para a demonstração. Essa transição requer uma reconstrução cognitiva, levando à abstração. Três processos contribuem para a abstração: representação, generalização e síntese. Neste trabalho, a diferença entre generalização e abstração é esclarecida, por meio de exemplos. Também serão abordados os três tipos de abstração destacados por Piaget: as abstrações empírica, pseudo-empírica e reflexiva. Os alunos devem perceber que não basta verificar uma afirmativa para alguns exemplos, mas é preciso justificá-la de modo genérico, chegando à abstração para casos mais gerais. Palavras-chave: pensamento matemático avançado, abstração, aprendizagem TRABALHO Em geral, na Escola Básica, o aluno toma conhecimento dos resultados principais da Matemática já prontos, sem ter a oportunidade de acompanhar sua evolução histórica. Segundo Tall (1991), 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Muitas vezes os professores do Ensino Superior não atentam para o fato de que os alunos necessitam fazer uma transposição cognitiva para construir uma aprendizagem significativa. 93 São muitas as dificuldades enfrentadas por alunos ingressantes no Ensino Superior nas disciplinas da área de Matemática, notadamente em Cálculo e Álgebra Linear. Essas dificuldades se devem, principalmente, a lacunas na aprendizagem da Matemática básica e ao caráter abstrato dos conceitos abordados nessas disciplinas. O ensino, na grande maioria das disciplinas do Ensino Superior, segue o esquema ‘teorema – demonstração – exemplo – aplicação’. Esse modelo tem diversas vantagens e até funciona bem para alunos de graduação em Matemática, mas não atende à grande maioria dos alunos da licenciatura ou dos demais cursos que têm o Cálculo como disciplina de serviço. Dreyfus (1991) relata várias pesquisas que mostram os problemas de aprendizagem gerados por esse modelo de ensino. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA a mudança do pensamento matemático elementar para o avançado envolve uma transição significativa: da descrição para a definição, do convencimento para a demonstração de uma maneira lógica, baseada naquelas definições. (p. 20) Essa transição requer uma reconstrução cognitiva, cuja ausência contribui para as dificuldades enfrentadas pelos alunos calouros, ao lidar com as abstrações. Enquanto na Matemática elementar os conteúdos seguem uma coerência, na Matemática avançada, os alunos devem construir entidades abstratas, por meio de deduções a partir de definições formais. Desenvolvendo a habilidade de abstração A habilidade de abstração deve ser desenvolvida desde os primeiros anos de escolaridade. Os conceitos de número, reta e quadrado são exemplos de objetos matemáticos que dependem de uma abstração. Três processos contribuem para a abstração: representação, generalização e síntese. No caso dos números, por exemplo, é imprescindível que os alunos entendam a diferença de representação de um número natural e de um número racional: enquanto o número natural tem uma representação numérica única, um número racional representa uma classe de equivalência, com infinitos elementos, que são representações distintas para o mesmo número. Se esse conceito não for bem construído, os alunos não dominam o conceito de frações equivalentes, e essa dificuldade cria obstáculos para a aprendizagem de diversos conceitos, como porcentagem e escalas de ampliação ou redução. A generalização implica na identificação de elementos comuns ou de um padrão, permitindo a expansão de domínios de validade. Uma prática para desenvolver a habilidade de generalização é explorar o reconhecimento de padrões desde os anos iniciais, que mais tarde podem facilitar a introdução à álgebra e na representação em linguagem algébrica de uma lei de formação. Por exemplo, o seguinte problema foi exposto para alunos ingressantes num curso técnico pós- médio: PÁGINA 94 Num campeonato, cada time deve enfrentar todos os seus concorrentes apenas uma vez. Determine o número de partidas desse campeonato, quando há: a) 5 times; b) 8 times; c) n times. Por meio de esquemas, tabelas ou representação gráfica, os alunos foram capazes de perceber que no caso de 5 times, há 10 partidas, e que quando há 8 times disputando o campeonato, são necessárias 28 partidas para definir o campeão. No entanto, a grande maioria dos alunos não foi capaz de fazer a generalização para n times. A instrução de que n representava um número qualquer levou muitos alunos a escolherem um determinado valor para o n e calcular o número de partidas num campeonato com esse número de times. O raciocínio e a representação usados para definir o número de partidas com os números definidos de times podem ajudar na generalização. Neste caso, a confecção de uma tabela para o campeonato facilita a visualização de que cada um dos n times joga com todos os outros (n – 1) times. Portanto, são n x (n-1) partidas. Como os times se enfrentam uma 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA única vez, é preciso dividir por 2, para eliminar a duplicidade de jogos, chegando ao número de partidas para o campeonato com n times: . A tabela a seguir mostra a representação do número de partidas num campeonato com 5 times. A configuração triangular facilita a obtenção da lei de formação para o caso de n times (generalização). Times T 1 T2 T3 T4 T5 T1 X X X X X X X X X T2 T3 T4 X T5 Quando esses alunos tiveram que encontrar o número de partidas de um outro campeonato, seguindo outra modalidade, muitos ignoraram as novas regras e responderam como se fosse o mesmo esquema já visto anteriormente. Ou seja, mesmo alguns alunos que conseguiram generalizar o problema do 1o tipo de campeonato, não conseguiram pensar num esquema “mata-mata”, ou seja num campeonato que, em cada partida, um competidor é eliminado. Nesse caso, os alunos não chegaram à abstração. Mas é preciso distinguir entre generalização e abstração. O conceito de espaço vetorial é um bom exemplo para ilustrar essa distinção. Trabalhando inicialmente com os espaços IR2 e IR3, a generalização para o espaço de n variáveis, o IRn, é praticamente automática, preservando as operações de adição e multiplicação por escalar. No entanto, a transposição para a noção de um espaço vetorial V constitui uma abstração, em que é preciso identificar as operações inerentes a esse espaço vetorial, e suas propriedades. Tipos de abstração pseudo- A abstração empírica depende da observação externa de cada indivíduo a respeito de propriedades do objeto em questão. As propriedades estão no objeto, mas são percebidas externamente do ponto de vista de cada indivíduo. De acordo com Piaget, esse tipo de abstração leva à extração de propriedades comuns de objetos e a generalizações 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil 95 abstração PÁGINA Piaget distinguiu três tipos de abstração: a abstração empírica, a empírica e a abstração reflexiva. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA extensivas, isto é, a passagem de “alguns” para “todos”, do específico para o geral. (Dubinsky, 1991, p. 97) No caso da abstração pseudo-empírica, entram em jogo também ações introduzidas nos objetos pelo sujeito. Considere, por exemplo, uma abstração alcançada a partir de um esquema ou representação do objeto criada pelo sujeito. Nesse caso, a abstração é empírica porque depende das propriedades do objeto, mas também depende da configuração criada pelo sujeito. É, portanto, um exemplo de abstração pseudo-empírica. A abstração reflexiva se origina no indivíduo e depende de suas ações. Esse tipo de abstração está associado não apenas às ações propriamente ditas, mas também às interrelações entre essas ações. O mais importante neste tipo de abstração é a construção de novas combinações a partir da conjunção de abstrações. Esse aspecto construtivo da abstração reflexiva exerce um papel fundamental no pensamento matemático avançado. Dubinsky (1999, p. 98) cita vários conceitos matemáticos considerados por Piaget como resultados de abstrações reflexivas, como o conceito de grupos, a teoria geral de categorias, a impossibilidade de construir o conjunto de todos os conjuntos e o conceito matemático de função. Portanto, a abstração reflexiva pode ser uma ferramenta poderosa no ensino e aprendizagem de conteúdos da educação superior que envolvem o pensamento matemático avançado. Por meio da sua compreensão, é possível criar caminhos e desenvolver sequências didáticas que ajudem nossos alunos a desenvolver habilidades para construir significativamente conceitos básicos. REFERÊNCIAS DREYFUS, T. Advanced Mathematical Thinking Processes. In Tall, D. (Ed.): Advanced Mathematical Thinking, p.25-41. Kluwer Academic Publishers, 1991. DUBINSKY, E. Reflective abstraction in Advanced Mathematical Thinking. In Tall, D. (Ed.): Advanced Mathematical Thinking, p.95-123. Kluwer Academic Publishers, 1991. PÁGINA 96 TALL, D. The Psychology of Advanced Mathematical Thinking. In Tall, D. (Ed.): Advanced Mathematical Thinking, p.3-21. Kluwer Academic Publishers, 1991. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A REPRESENTAÇÃO COMO PROCESSO DO PENSAMENTO MATEMÁTICO AVANÇADO Maria Clara Rezende Frota Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Brasil Nível: Superior Categoria: Pensamento matemático avançado RESUMO Representações mentais e simbólicas são apresentadas enquanto constitutivas do pensamento matemático avançado. Estratégias de ensino e aprendizagem são propostas a partir de experiências e pesquisas, objetivando incentivar a leitura e escrita compreensiva em Matemática e favorecer os processos de representação e comunicação em Cálculo. Aponta-se a necessidade de pesquisas sobre estratégias de ensino e aprendizagem que incentivem o desenvolvimento da linguagem matemática formal e do pensamento matemático avançado. Palavras-chave: representação em matemática, pensamento matemático avançado, estratégias de ensino e aprendizagem TRABALHO Dreyfus (1991) enfatiza que: “É possível pensar em tópicos matemáticos avançados numa forma elementar e pode ter-se pensamento avançado sobre tópicos elementares” (p. 26). Zazkis e Applebaum (2007) referem-se a um debate nos últimos 15 anos, ou seja, desde o 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Esses processos matemáticos desenvolvem-se ao longo da trajetória escolar de cada pessoa, não apenas no Ensino Superior, ao se abordarem conteúdos da Matemática Avançada. Na realidade são as formas de pensamento que são avançadas, mesmo ao se abordar conteúdos da Matemática Elementar. Segundo Zazkis e Applebaum (2007), Harel and Sowder articulam essa tensão através do uso de expressões em que o hífen aparece de duas maneiras: “advanced-mathematical thinking” dizendo respeito a pensar em Matemática Avançada, enquanto “advanced mathematical-thinking” significaria pensar Matemática de uma forma avançada. 97 O pensamento matemático avançado (PMA) é caracterizado pela integração dos vários processos matemáticos entre eles: investigar, ter intuições, levantar conjecturas, abstrair, formalizar, generalizar, representar, argumentar, deduzir, provar. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA início dos anos 90 sobre o que seja o pensamento matemático avançado, caracterização para a qual não parece haver um consenso. Para Harel, Selden e Selden (2006) o pensamento matemático consiste em “todo o pensamento matemático desde os anos da escola secundária, até a Matemática axiomática formal baseada na definição e prova” (p.147). Tall (1991) destaca que ao resolver um problema de Matemática Elementar muitas das ações desencadeadas são também executadas ao se trabalhar com a Matemática no Ensino Superior, que se caracterizaria pelo nível de formalização das definições e demonstrações. A partir das colocações acima é possível dizer que o que distingue os dois tipos de pensamento é o nível de complexidade exigido para cada um dos processos matemáticos. Segundo Tall (1991) “a mudança do pensamento matemático elementar para o avançado envolve uma transição significativa: do descrever para definir, do convencer para provar, numa maneira lógica baseada nessas definições” (p. 20). Nesse trabalho o foco são as representações, enquanto processos do pensamento matemático avançado, que se interligam aos processos de intuição, rigor, abstração, generalização e formalização. Representação em Matemática PÁGINA 98 Dreyfus (1991), ao discutir os processos do pensamento matemático avançado, destaca o processo de representação em matemática. Representações matemáticas podem ser mentais, nesse caso implícitas, ou simbólicas, na forma oral ou escrita, objetivando a comunicação de uma ideia ou um conceito matemático. Segundo esse autor o sucesso em matemática depende de se ter representações mentais ricas, ou seja, representações que conectam vários aspectos de um mesmo conceito. Representações mentais construídas são explicitadas na forma de registros, que podem ser orais ou escritos. O acesso a um objeto matemático mental depende de um sistema de representação para designá-lo. A necessidade de um sistema de representação e a grande variedade de representações semióticas usadas em matemática caracterizam a atividade matemática do ponto de vista cognitivo, segundo Duval (2003). Para esse autor a mobilização simultânea de ao menos dois tipos de representação semiótica, ou a troca que ocorre a todo tempo de um tipo de registro para outro, definem a originalidade da atividade matemática. Assim, além de representações mentais ricas às quais se refere Dreyfus (1991), teríamos representações simbólicas ricas, na medida em que mais de um tipo de registros de representação são conectados, no sentido de comunicar uma idéia matemática. As colocações anteriores nos levam a questionar acerca do que importa para a formação Matemática de nossos alunos. Cuoco, Goldenberg e Mark (1996) destacam que mais importante que resultados matemáticos específicos, são os hábitos de pensamento matemático das pessoas que criam esses resultados. Nessa linha, os autores propõem a organização de um currículo de modo que o foco não seja aprender conteúdos, mas 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA aprender e adotar algumas das formas que os matemáticos usam para pensar e resolver problemas. Cuoco, Goldenberg e Mark (1996) partem de formas de pensamento mais gerais, para caracterizar as formas de pensamento da matemática e, dentro da matemática, os hábitos de pensamento dos geômetras e dos algebristas. Ao desenvolver os vários hábitos de pensamentos o aluno deve ser incentivado a descrever, formal e informalmente, relações e processos. Descrever consiste em: dizer o que significa; inventar notações; discutir com os colegas, na tentativa de convencer que determinado resultado é possível ou verdadeiro; descrever evidências; exibir as passagens e cálculos matemáticos da prova; escrever conjecturas, argumentos, resultados, perguntas e opiniões sobre a questão matemática que está sendo abordada. Segundo Tall (1995) é importante considerar a diferença entre a matemática elementar em que objetos são descritos, da matemática avançada em que os objetos atemáticos são definidos. Segundo esse autor a linguagem é instrumento para descrever um objeto matemático, apresentando suas propriedades, variando o fato que na matemática elementar as descrições se fundamentam nas experiências com os objetos e posteriormente a construção das propriedades decorre da definição e dedução. Atribuir significado aos termos matemáticos e expressar-se de forma oral e escrita são parte do que podemos chamar de leitura e escrita compreensiva em Matemática (FROTA, 2011b). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Resultados de pesquisa apontam dificuldades por parte de estudantes de ensino médio e superior no registro por escrito de idéias matemáticas. Lage (2008), em pesquisa desenvolvida com três grupos de estudantes de ensino médio, alunos de licenciatura e estudantes de um curso de especialização, constatou uma maior facilidade dos alunos em se expressarem oralmente, na sala de aula, nos momentos de socialização das atividades desenvolvidas, resultado que confirma evidências da pesquisa de Freitas e Fiorentini (1998). A maior dificuldade constatada por Lage (2008), entre os três grupos de estudantes pesquisados, foi a de efetuar registros escritos das conjecturas levantadas e argumentar, utilizando a linguagem matemática formal. 99 Experiências que envolvem descrições orais e escritas sobre um assunto devem ser incorporadas à sala de aula, como uma forma de desenvolvimento da capacidade de comunicação em Matemática. Uma maior compreensão em Matemática pode decorrer da realização de atividades em que é preciso comunicar suas idéias para os outros, aprendendo a expressar-se de modo claro e, da mesma forma, aprendendo a ouvir os colegas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Médio destacam entre as finalidades do ensino de Matemática, a de levar o aluno a “expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas e valorizar a precisão da linguagem e as demonstrações em Matemática” (BRASIL, 1999, p.254). Se, por um lado, o mercado de trabalho demanda um bom desempenho de oralidade (PAIS 2006), não se pode descuidar da passagem de descrever oralmente de modo formal ou informal, para aprender a registrar por escrito as relações quantitativas, espaciais, hierárquicas ou de inclusão observadas, os processos e conexões lógicas entre idéias matemáticas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Na Matemática costumamos usar exemplos para tornar mais claros conceitos matemáticos ou procedimentos. O exemplo apresentado a seguir, escolhido de uma situação de teste proposta para alunos de um curso de engenharia, envolvidos no estudo de integrais duplas, procura ilustrar com um exemplo, em que consiste a leitura e escrita compreensiva em Matemática, mais especificamente a leitura e escrita compreensiva em Cálculo (FROTA, 2011a). A tarefa proposta objetivou que os alunos tivessem uma experiência matemática de descrever e representar um objeto matemático, relacionando-o com outros conceitos e processos. Resolver a tarefa demandou utilizar diferentes formas de pensamento que os matemáticos empregam, criando representações mentais ricas e coordenando diferentes registros de representação, para comunicar idéias matemáticas. Foi proposta aos alunos a seguinte atividade: 2 a) Expressar usando coordenadas polares e calcular I 2 4 y2 ( x 2 y 2 ) dxdy 0 b) Descrever e representar graficamente o sólido cujo volume pode ser expresso pela integral dada na letra (a); c) Fornecer duas outras interpretações para a integral dada em (a); d) Expressar por meio de uma integral tripla o volume do sólido descrito em (b). Figura 1. Trabalho Prático da Turma A - Questão 3 Fonte: FROTA, 2011a. Quais os processos matemáticos de representação envolvidos na condução da tarefa? PÁGINA 100 Três aspectos precisam ser levados em conta no processo da leitura e escrita compreensiva que a tarefa demanda: ler a informação, ler dentro da informação e ler além da informação (FROTA, 2011b). Primeiramente é necessário ler a informação, ou seja, ler a integral: identificar o integrando; identificar a ordem de integração, identificar a variação de x e y. Para resolver a tarefa proposta é necessário ler dentro da informação, para identificar os limites de acordo com a ordem de integração e identificar a região de integração, esboçando o seu gráfico. Expressar em coordenadas polares a região de integração para, então expressar em coordenadas polares a integral são duas tarefas que demandam ler além da informação, buscando no contexto da própria matemática a equivalência da representação cartesiana da região do plano como D ( x, y); 0 x 4 x 2 , 2 y 2 e da representação polar dessa região como 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil D (r , ); 0 r 2 , 2 . 2 Expressar a integral em XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA coordenadas polares exige integrar dois sistemas de representação de uma forma rica, lançando mão de uma série de conhecimentos prévios. O integrando expresso inicialmente como ( x2 y 2 ) no novo sistema de representação assume a forma r 2 e ao elemento diferencial de área, dA dxdy é associado o elemento diferencial de área em coordenadas polares dA rdrd . A compreensão dessa última passagem pressupõe que o aluno seja capaz de colocar em paralelo e relacionar duas representações de um mesmo conceito, no caso o elemento diferencial de área. Finalmente, calcular o valor da nova integral obtida I 2 2 (r 2 2 ) rdrd demanda ler dentro da informação, operando com as informações 0 disponíveis, acionando conhecimentos prévios para resolver a integral. Para resolver a letra (b) é preciso ler além da informação dada, acionando conhecimentos prévios no contexto da própria matemática, ao realizar as tarefas de interpretar a integral como o volume do sólido de altura z ( x2 y 2 ) , cuja projeção no plano xy é a região D ( x, y); 0 x 4 x 2 , 2 y 2 . Exige-se, ainda, estabelecer relações entre dois tipos de representação para associar a representação algébrica do sólido com a sua representação gráfica. Na resolução da letra (c) o aluno precisa ler além da informação, no contexto não mais da Matemática, mas, por exemplo, da Física, para interpretar a integral como sendo a massa da placa delgada na forma de D, com densidade ( x, y) ( x2 y 2 ) , ou, ainda, o momento polar de inércia da placa delgada na forma de D com densidade constante, igual a 1. Se uma nova tarefa é proposta buscando interligar estudos de integral dupla e tripla, novos processos de representação são demandados para que o aluno integre as duas 2 representações do volume do sólido, usando uma integral dupla V 2 0 4 y 2 x2 y 2 0 dzdxdy . 0 A discussão detalhada do exemplo, aqui conduzida, objetivou ressaltar os inúmeros processos demandados na leitura e escrita compreensiva do texto matemático, consistindo em ler a informação, ler dentro da informação e ler além da informação e interligando os processos de abstração, intuição, generalização, formalização, entre outros. A resolução da tarefa permitiu revelar aspectos do processo de leitura e escrita em matemática dos alunos, relativos à: utilização da linguagem matemática natural e a simbólica para descrever objetos matemáticos (descrição); representação gráfica de idéias (esboço); atribuição de sentido às integrais representadas algebricamente (interpretação). Dados de pesquisa (FROTA, 2011a, b) evidenciaram uma falta de prontidão dos estudantes para ler e escrever em matemática de forma compreensiva. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil 101 2 ( x 2 y 2 ) dxdy , PÁGINA 2 ou uma integral tripla V 4 y 2 XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A complexidade exigida na consecução da tarefa é caracterizadora do pensamento matemático avançado. Uma ênfase na leitura e escrita para aprender Cálculo, exigindo ler a informação, ler dentro da informação e ler além da informação demanda conectar conceitos e suas diferentes representações para, não apenas resolver uma integral, mas expressar por meio de integrais a massa de um corpo ou o momento de inércia, ou para atribuir significado a uma integral dada. Nesse processo de ler e escrever com compreensão a utilização de recursos computacionais pode permitir ao aluno realizar vários cálculos matemáticos com mais eficiência e rapidez, sendo o tempo maior dedicado a testar conjecturas levantadas, desenvolvendo argumentos para apresentá-las oralmente ou por escrito (PAIS, 2006). As estratégias para aprender a ler e escrever de forma compreensiva, sistematizadas na seção seguinte, foram desenvolvidas com alunos do ensino superior, cursando a engenharia ou a licenciatura e os resultados das pesquisas foram analisados e divulgados (FROTA, 2007, 2011a, b). Estratégias para incentivar a representação de idéias matemáticas De modo geral considera-se que o aluno do Ensino Superior é portador de uma série de competências para lidar com as diversas formas de representação em matemática. Entretanto, resultados de pesquisa ilustram que a prontidão para a leitura e a escrita não necessariamente se fazem presentes na sala de aula de matemática da Educação Superior. As evidências apontam para a importância de propor estratégias para incentivar as diversas formas de representar as idéias matemáticas. PÁGINA 102 Experiências e pesquisas conduzidas levam a destacar como relevantes, entre outras, as seguintes estratégias de ensino, por parte de professores de Matemática: ler com os alunos trechos do texto didático; elaborar textos para a revisão de tópicos importantes estudados anteriormente; desenhar atividades que remetem o aluno à leitura e discussão do texto matemático, acerca de um tópico ainda não introduzido na sala de aula; discutir e modelar com os alunos problemas incentivando a leitura além da infomação, estabelecendo conexões entre conceitos dentro da própria Matemática ou em contextos de outras ciências aplicadas. O texto matemático apresenta caracteríscas que podem torná-lo complexo. Entender uma notação, por exemplo f ( x, y )dA , demanda a assimilação de um conjunto significativo de D símbolos, atribuindo sentido a cada um deles. A compreensão do modelo matemático envolve, conforme exemplificado, ler a integral, ler dentro da integral e além da integral, para resignificar o modelo no contexto da própria matemática e de outras ciências. O exercício de descrever e refletir sobre o processo de leitura compreensiva do modelo pode 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA conduzir o professor a um maior conhecimento pedagógico do conteúdo, identificando as dificuldades do aluno. Os alunos, por sua vez precisam ser incentivados a desenvolver estratégias de aprender a ler e escrever em matemática, entre as quais: • fazer uma primeira leitura de uma seção do livro didático; • ler o texto marcando os resultados principais; • ler o texto assinalando as dúvidas; • fazer anotações no caderno; • elaborar textos-resumo. À medida que exercita a leitura compreensiva o aluno aprende a escrever, criando suas anotações e elaborando resumos. Frota (2007) divulgou resultados de uma pesquisa que teve como instrumento um resumo personalizado, elaborado por estudantes de engenharia e utilizado como instrumento de consulta para realizar avaliações escritas e individuais. A elaboração do resumo mostrou-se importante para o aluno de engenharia tornando-se um instrumento que pode ajudar o aluno a resignificar as fórmulas matemáticas que utiliza, bem como atribuir significado a conceitos relevantes do Cálculo, instruindo, por vezes a escolha da melhor estratégia para resolver um problema. O resumo personalizado possibilitou a avaliação da aprendizagem pelo professor e a auto-avaliação pelo aluno, sendo ao mesmo tempo útil para a organização de idéias, fixação dos principais resultados de um assunto e instrumento para aprender a escrever em matemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O desenvolvimento de cada uma das estratégias apontadas como importantes para o desenvolvimento do processo de representar em Matemática demanda por parte de professores e alunos o envolvimento na construção de habilidades que colocadas em ação constituem o que considero competências de leitura e escrita em matemática. Competência é aqui entendida como competência em ação, uma das acepções teóricas propostas por Wienert (1999), incluindo todos os pré-requisitos cognitivos motivacionais e sociais necessários e/ou disponíveis para aprendizagem. O conceito de competência como ação combina, dessa forma, aspectos cognitivos, motivacionais e sociais relativos a metas e demandas e a situações matemáticas em um contexto particular de ação, entendida aqui como a ação de ler e escrever em Cálculo, com compreensão. 103 A elaboração de resumos é um processo que requer envolvimento e aprendizagem. Trechos da entrevista conduzida com Márcia (FROTA, 2007, p.8) explicitam seu envolvimento: “está difícil colocar todas as idéias apenas em uma página no tamanho A4... Já estou no terceiro resumo... Acho que ainda vou ter de excluir algumas coisas ou vou ter de diminuir mais a letra!” (M) No processo de fazer e refazer resumos a aluna memorizou os principais resultados do assunto, conforme ela mesma comentou: “na realidade eu acabei não necessitando de consultar o resumo... era apenas uma segurança na hora da prova” (M). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Considerações Finais Articular as idéias a partir da forma oral de expressão é relevante, enquanto uma experiência de leitura coletiva e compartilhada. Entretanto, é necessário ir além do texto oral e apropriar-se da escrita enquanto instrumento de reflexão e de aprendizagem. Torna-se importante aprender a ler e escrever para incorporar a leitura e escrita compreensiva em matemática. O pensamento matemático avançado concretiza-se na medida em que diferentes registros de representação são interligados para fazer uma matemática com significado na sala de aula do Ensino Superior. A tarefa não é isolada ou individual. Os processos de representação em matemática ocorrem de forma processual, lenta e gradativa, em momentos, alguns de trabalho individual, outros de trabalho coletivo. A metodologia de escrever para aprender cálculo possibilita conhecer os alunos do ponto de vista cognitivo (o que sabem do conteúdo abordado, suas dificuldades e facilidades) e metacognitivo (como regulam sua própria aprendizagem), motivando ações no sentido de proporcionar uma formação matemática pautada em uma reflexão compartilhada, entendida como uma reflexão que envolve professor e aluno no processo de pensar sobre a matemática e através da matemática, efetuando registros orais e escritos. Espera-se que essa reflexão a partir da leitura e da escrita seja incorporada às estratégias de estudo de Matemática de estudantes de Ensino Superior. Novas investigações precisam ser conduzidas, para analisar os fatores que têm se constituído como obstáculos ao desenvolvimento da leitura e escrita compreensiva em Matemática e, portanto, ao desenvolvimento do pensamento matemático avançado. REFERÊNCIAS PÁGINA 104 BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. CUOCO, A., GOLDENBERG, E. P., and J. Mark. 1994."Habits of Mind: an organizing principle for mathematics curriculum" Journal of Mathematical Behavior 15, 375-402 1996. DREYFUS, Tommy. Advanced mathematical thinking processes. In: TALL, D. (ed.), Advanced Mathematical Thinking. Kluwer Academic, 1991, p.25-41. DUVAL, Raymond, Registros de representações semióticas e funcionamento cognitivo da compreensão em matemática. In: Aprendizagem em Matemática: registros de representação semiótica, MACHADO, Silvia D. A. (org.), p.11-33, 2003. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA FREITAS, Maria Tereza; FIORENTINI, Dario. Desafios e potencialidades da escrita na formação docente em matemática. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n.37, p. 138189, 2008. FROTA, Maria Clara R. Sintetizar ideias e atribuir sentido às fórmulas para aprender cálculo. In: Congresso Brasileiro de Educaçâo em Engenharia, 35., 2007, Curitiba. Anais... Curitiba: COBENGE, 2007. FROTA, Maria Clara R. Escrever para aprender Cálculo. In: Conferência Interamericana de Educação Matemática, XIII. Anais... Recife, Pernambuco, jul. 2011, p.1-10. Disponível em http://www.gente.eti.br/lematec/CDS/XIIICIAEM. Acesso em 18 de ago. 2011a. FROTA, Maria Clara R. Leitura e Escrita em Cálculo. Educação Matemática Pesquisa, v. 13, n.3, 2011b, p.489-508. HAREL, G.; SELDEN, A.; SELDEN, J. Advanced mathematical thinking. In: GUTIÉRREZ A.; BOERO P. (Eds.), Handbook of research on the psychology of mathematics education: Past, present and future. Rotterdam: Sense Publishers, p. 147172, 2006. LAGE, M. A. Mobilização de formas de Pensamento Matemático no Estudo das Transformações Geométricas no Plano. Dissertação de Mestrado. PUCMinas, Belo Horizonte, 2008, 173 páginas. PAIS, Luiz C. Ensinar e aprender Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. TALL, David. The psychology of advanced mathematical thinking. In D. Tall Ed. Advanced mathematical thinking, Dordrecht: Kluwer, p. 3-21, 1991. TALL, David. Cognitive Growth in Elementary and Advanced Mathematical Thinking. In L. MEIRA; D. CARRAHER (Eds.), Proceedings of the 19th Conference of the International Group for the Psychology of Mathematics Education, 1995,v. 1, p. 61-75. Recife, Brasil: PME. WEINERT, F. E. Concepts of Competence, DeSeCo Expert Report. Swiss Federal Statistical Office. Neuchâtel. 1999 Disponível em< http://www.deseco.admin.ch>. Acesso em 10 ago. 2011. PÁGINA 105 ZAZKIS Rina; APPLEBAUM, Mark . Advancing Mathematical Thinking: looking back at one problem. In: Demetra PITTA- PANTAZI; George PHILIPPOU (Eds.). Proceedings of the Fifth Congress on the European Society for Research in Mathematics Education,2007, p.2389-2397. Larnaca, Cyprus: CERME 5. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PENSAMENTO AVANÇADO MATEMÁTICO: EM DEBATE Sonia Barbosa Camargo Igliori Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] RESUMO A pesquisa em Educação Matemática no Ensino Superior, crescente nas últimas décadas, é de certa forma dependente da noção de PMA. A diversidade de concepções atribuídas a ela pode interferir na aplicação dos resultados das pesquisas. Isso porque, uma gama de possibilidades para a investigação de fenômenos similares pode abrir caminhos, até divergentes, para as aplicações. O nosso objetivo, para esta mesa, é o de iniciar a busca de definições mais consensuais para conceitos teóricos como, por exemplo, o PMA com vistas a contribuir com a elaboração de teorias pedagógicas potentes e mais coerentes para o ensino da Matemática no nível Superior. PÁGINA 106 TRABALHO O questionamento sobre o significado atribuído ao PMA é indicado em Downs e Downs (2008). Para esses autores, se por um lado é crescente o interesse, nos últimos anos, dos pesquisadores em Educação Matemática pelo ensino e aprendizagem da Matemática no Ensino Superior, por outro é preocupante, o que trazemos para a discussão nesta mesa, a existência de diversidade significativa para a abordagem do tema. Como forma de enfrentamento eles recomendam a revisão da literatura das referências utilizadas nas pesquisas com vistas a se constituir uma sinopse do que tem sido compreendido sobre as diversas noções que referenciam a pesquisa. A recomendação se sustenta na ideia de que a unificação das questões de investigação contribuiria com a constituição de instrumentos teóricos mais potentes, porque menos dispersivos. E que assim sendo tais instrumentos favoreceriam a análise dos fenômenos complexos relacionados ao ensino e aprendizagem da Matemática Superior e a construção de uma prática pedagógica coerente. A diversidade de abordagens nas pesquisas não é privilégio das direcionadas ao Ensino Superior, mas da Educação Matemática, e porque não dizer das Ciências Humanas de um modo geral. Essa diversidade é resultante dos diferentes modos de abordar um determinado fenômeno, o que é desejável, e, de certo modo impossível de se evitar. Mas, a busca de consensos dos resultados de pesquisas também é desejável com vistas ao fortalecimento da aplicabilidade dos mesmos. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Neste texto pretendemos levantar algumas reflexões sobre a dificuldade de se conceituar PMA, considerando mesmo a dificuldade de se conceituar pensamento matemático e sua evolução. Muitos avanços têm sido feitos e esta mesa contribui para isso. É apenas um começo e há um longo caminho a ser percorrido, mas vale a pena, pois o sucesso da aplicação dos resultados das pesquisas, que almejamos, é a retribuição de nossa dedicação árdua à investigação dos fenômenos tão complexos e tão multifacetados do processo do ensino e aprendizagem da Matemática em qualquer nível de ensino. O PMA em debate Conforme Down e Down (2008, p.154) “as contribuições de pesquisas recentes sobre PMA apenas acrescentaram mais percepções sobre temas previamente indicados”. Isso reforça a importância dos trabalhos organizados por Tall () quando várias direções foram expostas sobre a compreensão do que vinha a ser PMA. Tall desenvolve sistematização da evolução do PMA numa perspectiva cognitivista. Ele separa três componentes da atividade humana: a percepção como entrada, o processo interno e a ação como saída. Em Tall e Peg (2010), essa sistematização é retomada. E de forma sintética ousamos dizer que nela os autores propõem que a formação de conceitos em Matemática ocorre em ciclos que perpassam o desenvolvimento do pensamento matemático e evolui da compressão ação-esquema a uma forma mais avançada de pensamento, qual seja aquela em que há aumento de compreensão de conhecimento expresso na interpretação do significado dos símbolos. A formação de conceito, sustentada na noção de Piaget de abstração reflexiva, pode ser considerada como um mecanismo pelo qual ações são transformadas em objetos mentais. Vários teóricos da Educação Matemática a consideram assim. Dubisnky (1991) descreve a transformação de ação em objetos mentais como parte dos elementos de sua teoria APOS (ação- processo-objeto- esquema). Sfard (1991) a propõe como um crescimento “operacional” por meio do ciclo interiorização – condensação reificação. Essas teorias têm diferenças e semelhanças. Entre as semelhanças podemos elencar a ideia de que “o ciclo de formação de um pensamento se inicia com ações sobre objetos conhecidos (que podem ser físicos ou mentais) e elas são praticadas para se tornarem procedimentos rotineiros na forma “passo a passo” (2008, p. 180). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Consideremos a expressão x2 – 3x. Ela pode-desencadear a seguinte sequência de ações: substituir x por um número dado, elevar esse número ao quadrado, depois se multiplica esse número por 3, subtraí-lo de x2 para se obter o valor de x2 – 3x; ou então outra que é: substituir x por um número dado, subtrair esse número de 3, e depois multiplicar o resultado por x. Nesse caso há dois diferentes procedimentos “passo a passo” que resultam no mesmo output para certo input. Eles são diferentes como processos, mas de um modo global os dois são o mesmo, pois resultam um mesmo output para certo input. Gray e Tall (1994) apontam essa semelhança que eles denominam de processo e é no aumento de 107 Para indicar o que pode se assemelhar nas teorias e como o pensamento matemático evolui para um estágio considerado avançado, Tall e Peg (2010) apresentam o exemplo a seguir. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA compreensão de conhecimento que eles reconhecem a evolução para o pensamento dito avançado em Matemática. No caso da expressão x2 – 3x o processo pode se sofisticar como um estudo de equivalência ). O aumento da sofisticação está o papel entre as funções ( )= ou ( ) = ( desempenhado pelo símbolo. No exemplo, 3+4, o símbolo + indica para um estudante jovem uma instrução para a operação de adição; e para um estudante mais experiente indica o conceito de soma que resulta em 7. Gray e Tall consideravam que esse aumento de compreensão de conhecimento significa a passagem de um procedimento que ocorre ao longo do tempo, a um processo que finaliza e que fornece resultado. Para eles os ciclos de construção de conceitos matemáticos acontecem uma vez, acontecem de novo, e de novo em diversos momentos do desenvolvimento do pensamento matemático. Isso ocorre “da compressão ação-esquema de contar ao conceito de número, da aritmética da adição de números inteiros, multiplicação, potências, frações, inteiros, decimais a manipulações de símbolos em aritmética, álgebra, trigonometria, cálculo e até ao mais avançado pensamento em matemática” (p.181). O aumento de compreensão, em Tall (1991), significava a passagem da descrição para a definição, ou ainda a transição da coerência da matemática elementar para a consequência da matemática avançada. Indicava também que o último nível da matemática elementar fosse um estádio preliminar do PMA. Nesse último nível, numa hierarquia de conteúdos matemáticos, estavam Demonstração Euclidiana; a Análise e Álgebra Avançada. Dreyfus (1991, pp.26) já considerava possível pensar em tópicos da matemática avançada de uma forma elementar. E para ele é a complexidade e a forma de se lidar com ela que distingue os dois tipos de pensamento. Dessa forma ele indicava em 1991, e essa concepção tem adeptos atualmente, que não há uma distinção profunda entre os dois pensamentos, mas o que há são processos poderosos, de representação e de abstração, que possibilitam evoluir de um ao outro e dar conta da referida complexidade. PÁGINA 108 Essas considerações sobre recortes dos pensamentos de Tall e Dreyfus objetivam indicar que há dificuldades em se identificar o PMA, se se pretende distinguir o que é elementar e o que é avançado no pensamento matemático, na perspectiva cognitivista. Down & Down (apud Mason 1995b) indicam que para vários autores a noção PMA é vaga. Isso porque há ao menos três interpretações para ela: em uma primeira na qual o pensamento matemático é que seria avançado; na segunda seria pensamento sobre matemática avançada e por fim poderia se atribuir o qualificativo avançado para a matemática, ou seja, seria pensamento sobre matemática avançada. Ou seja, seria uma noção vaga por falta de clareza a qual dos dois conceitos o qualificativo “avançado” se refere ao Pensamento ou à Matemática. Para esse autor pensamento relativo à matemática avançada formaria uma parte distinguida da Educação Matemática que trata de fenômenos para os quais não há paralelo com os conteúdos matemáticos mais elementares ou intuitivos. A complexa natureza da interrelação entre definições, teoremas e provas deve parecer ser um exemplo. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA As considerações de Down e Down sobre a falta de clareza dada ao PMA podem se respaldar nas temáticas escolhidas para as pesquisas destinadas a investigar os processos de ensino e aprendizagem da matemática no nível superior. Elas, em geral, se dividem em ora em estudos de fenômenos relacionados à formação do pensamento e ora às dificuldades de aprendizagem de conceitos de disciplinas desse nível do ensino, principalmente aqueles que não têm, aparentemente, paralelos com conceitos apresentados no ensino elementar, como é o caso dos limites. Mas, se pode indicar sem receios que o qualificativo “avançado” tem se adaptado melhor ao “Pensamento”, numa aceitação às considerações de Skemp quando ele defende que para o ensino da Matemática “o processo do pensamento matemático é mais importante do que o produto matemático do que é pensado” (Skemp, apud Down e Down, p.155). Mas há também pesquisadores que consideram que o “avançado” está no tratamento a ser dado aos conteúdos da Matemática ensinados no nível superior. E aí voltamos a Dreyfus para o qual há uma fronteira tênue entre o que é elementar e o que é superior em Matemática. Para alguns a abstração e o rigor são elementos fortes da caracterização do PMA, mas para outros eles são mais sintomas do que pontos cruciais, considerando que o nó dessa caracterização está mesmo nas questões do significado e da existência de um objeto matemático (Thom (1973), apud Otte, 2003, p. 203). Otte (2003), aliás, trata da questão de dar significado aos objetos matemáticos a partir da noção de complementaridade. Para ele a existência dos objetos matemáticos é complexa porque eles não podem ser apontados com o dedo e nem são colhidos no jardim. Ele indica que na realidade, a existência de um conceito matemático, tal como o conceito de número ou de função, depende da totalidade de suas representações possíveis, mas com as quais eles não podem e não devem ser confundidos. A conceituação do PMA como processo joga um papel na elaboração de cursos de Matemática para o Ensino Superior se maior ênfase for dada ao processo do pensamento matemático mais do que no desenvolvimento de conteúdos teóricos. Em geral nesse caso são escolhidas abordagens de resolução de problemas, como uma preparação introdutória de apoio. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Nesse debate da dualidade do pensamento matemático Otte destaca a obra de Cassirer (1977), neo-kantiano, que dá forte ênfase aos aspectos operativos e instrumentais do conceito.. E também o trabalho de Richard Skemp (1971) que trata do aprender e do compreender, denominadas por Skemp de compreensão instrumental e relacional. Down e Down vão propor uma definição ao PMA buscando equilíbrio entre os papeis desempenhados pelos objetos e as relações. Eles propõem uma abordagem por meio das estruturas matemáticas. 109 Otte (2003) toma a complementaridade como um apoio teórico para tratar da transformação de conceitos matemáticos em objetos e entidades, desembaraçando-os de suas existências físicas originais. Nessa perspectiva, mais madura, de se conceber os conceitos matemáticos Otte (ibdem) faz objetos matemáticos se tornarem relacionais e instrumentais, dando muita importância ao papel das relações. Para Otte há essa dualidade é inerente ao pensamento matemático. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Com essa perspectiva, de preparação dos estudantes para o ensino de conceitos da matemática avançada, são relatadas experiências de cursos de transição entre Ensino Médio e a Universidade, em que se buscava a formação de competências na resolução de problemas e efetivação de demonstrações e provas. Os cursos tinham por alvo a formação de concepções básicas sobre conjuntos, variável e função. Os resultados não são muito encorajadores. (Down e Down, p.157) Em nossas experiências, no ensino de Cálculo, vivenciamos situações similares ao trabalhamos em cursos introdutórios com ênfase na formação do pensamento. As abordagens de resolução de problemas, com essa finalidade, acabavam se tornando rotineiras, e nos momentos destinados à introdução dos conteúdos mais complexos do Cálculo como infinito, limites e derivadas, a impressão que ficava é que a fase anterior não havia existido, e todos os investimentos para auxiliar a aprendizagem, deveriam ser nesse momento buscados. Ficava sempre a pergunta: o que é difícil para aprendizagem desses conceitos? Nesta mesa essa pergunta pode se transformar em: qual ou quais as característica do PMA que se deve levar em conta para favorecer a aprendizagem dos conceitos matemáticos tratados no Ensino Superior? PÁGINA 110 Em continuidade à nossa reflexão sobre as características do PMA vale destacar o estudo de Vinner (1991) sobre o papel das definições no ensino e aprendizagem da Matemática e no estudo do PMA reforçada pela proposta de Tall de que a passagem do pensamento elementar para o avançado é expressa por: da descrição para a definição. Vinner (1991, p.65) destaca entre outros aspectos que: “Conceitos são em geral adquiridos por suas definições. Estudantes usam definições para resolver problemas e provar teoremas” Para tratar das definições como meio de aquisição de conceitos matemáticos Vinner introduz os dois conceitos o conceito imagem e o conceito definição. A imagem se refere à forma individual do aprendiz conceber mentalmente um conceito apresentado por meio de uma definição matemática. Essa noção permite interpretar a acomodação de um conceito ou percepção das falhas e compreensões inadequadas que um aprendiz retém em sua mente. O conceito definição é o modo que o aprendiz expressa, por meio de palavras, a imagem do conceito que tem em sua mente. A proposta é que haja alinhamento entre a imagem e a definição do indivíduo e a definição matemática. Se isso ocorre há uma ampliação do grau de articulação passando para uma argumentação. Mas o que se tem observado é que, usualmente, o estudante mesmo o mais preparado não consegue formar ideias ou dar explicações a a um conjunto de tarefas proposto a ele. Sobre esse assunto Down e Down (2006, p.157, apud Moore 1994) observa que a diferença entre definições equivalentes de um conceito pode ser incomensurável em termos cognitivos. Na discussão sobre a aquisição de um conceito devem ser também abordada a superação de obstáculos, epistemológicos ou não, esses entendidos como uma má adaptação do aprendiz frente a novos problemas, descontinuidades entre conhecimentos comuns e científicos ou ainda inconsistências entre a intuição e a interpretação induzida por uma definição matemática. As conceituações de obstáculos pela comunidade de pesquisadores não se acomodam em uma definição. Por essa razão Down et all (2008) apontam a necessidade de se revisar também o papel dos obstáculos epistemológicos na formação do PMA. Logo que Brousseau inseriu em 1976, a noção e a classificação dos obstáculos à 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA aprendizagem da Matemática em sua Teoria das Situações Didáticas houve interesse pelo tema entre os pesquisadores da Educação Matemática, com destaque especial ao papel dos obstáculos epistemológicos (Bachelard, 1938) na formação do pensamento matemático. Nos anos que se seguiram muitos questionamentos apareceram até mesmo sobre a contestação do fato de um determinado obstáculo ser considerado na literatura como epistemológico. (IGLIORI, 2010, p. 134, apud RADFORD, 1997). Problemas teóricos apresentados em (Safuanov, 2000) sobre o desenvolvimento do pensamento matemático são pertinentes aos dois níveis, elementar ou avançado. Esses problemas são atuais e devem ser relembrados. A discussão, feita em 2000, era num amplo contexto, o do desenvolvimento de uma personalidade, destacando então o desenvolvimento mental. E aí o desenvolvimento do pensamento “porque é o pensamento que determina todas as outras funções intelectuais: imaginação, flexibilidade da mente, liberdade e profundidade do pensamento, etc” (p.17). O que diz Rubistein (apud. Safuanov) é indicativo da complexidade do tema que estamos discutindo, complexidade aumentada se desejamos atribuir qualificativo de elementar ou avançado. Diz ele: “A correta compreensão da interpretação do pensamento como processo assume, que pensamento é compreendido como atividade do sujeito interagindo com o mundo exterior. O pensamento é um processo exatamente porque é interação contínua do homem com o objeto...” , (p.17) E nessa interação, no caso da pesquisa sobre o processo de formação do pensamento matemático, podemos colocar outros ingredientes, caso o pêndulo esteja de um lado ou do outro. Se do lado do sujeito há que se considerar as teorias sobre a formação do pensamento referenciadas no transito desse sujeito com os registros de representação semióticas dos conceitos (linguagem natural, simbólico e figural), como é o caso da teoria de Duval (apud Machado, 2010). Se a perspectiva de análise está do lado do objeto, elementar ou avançado, há que se considerar a dialética ferramenta ou objeto de Douady (apud Maranhão, 2010) que os conceitos matemáticos assumem. Essa mudança de ênfase é para argumentar que o crescimento do pensamento matemático dos estudantes é um processo em desenvolvimento e que a natureza do pensamento matemático poderia ser estudada então 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Harel e Soweder (2005) fizeram brincadeiras com um ifen variando as posições entre os termos Advanced, Mathematical ou Thinking. Eles justificavam: se entre advanced e mathematical queria dizer pensamento em matemática avançada; se entre mathematical e thinking queria dizer pensamento matemático de natureza avançada. E ainda diziam : 111 O papel da motivação na aquisição de um conhecimento é destacado por esses autores. A atualidade desse papel é indiscutível. Como exemplo eles indicam aqueles casos de pessoas que resolvem, com sucesso, problemas lógicos e matemáticos no contexto de atividades profissionais (ou em outra forma habitual). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA de modo a levar instrução coerente voltada na direção do pensamento matemático de natureza avançada (p.27) Para finalizar ressaltamos a importância do tema que trazemos para a discussão desta mesa, pois, ela busca chamar a atenção para o fato de que há pesquisadores da área que sua consolidação como um alvo a ser perseguido. E para isso propõem um direcionamento: a constituição de uma definição mais consensual sobre o PMA com vistas a organização de teorias pedagógicas mais potentes, pois mais coerentes. Essa é a posição de Harel (2010) quando aponta algumas fragilidades da pesquisa em Educação Matemática como, por exemplo, a compreensão inadequada do que significa, para pesquisadores, adotar uma instância teórica ou conceitual, em sua própria investigação; e a condição periférica dada aos conteúdos matemáticos em muitos estudos atuais. Harel ressalta que não se pode negar a contribuição significativa que a área apresentou, nas três últimas décadas para chegar a uma compreensão da natureza da aprendizagem e do ensino das ideias e conceitos matemáticos. Essa contribuição muniu a Educação Matemática de uma identidade que a diferenciou de outros domínios como a Psicologia, Sociologia, Etnografia entre outros. Mas, no entanto, Harel destaca também a preocupação com o que vem ocorrendo atualmente quando diversos estudos rigorosos e importantes têm relegado a inserção de conteúdos para segundo plano. De tal modo que resultados desses estudos em nada se alteram se se trocar conteúdos matemáticos por outros de História, Biologia ou Física, trazendo com isso risco da área ir perdendo sua identidade. E nesse contexto que Harel, com base em Schoenfeld (2000) reforça a proposta de se buscar a compreensão da natureza do pensamento matemático. PÁGINA 112 Para os autores que motivaram este nosso artigo, Down e Down (2008) a proposta é utilizar da noção de estrutura, relevante para todo pensamento matemático, mas admitem que em geral, sua a palavra estrutura evoca com maior frequência o termo PMA. E que eles então dizem “ter crença que estrutura é uma expressão apropriada para meditar sobre o que o PMA constitui. REFERÊNCIAS Bachelar, G (1938) . La formation de l´esprit scientifique. Paris. J. Vrin. Cassirer, E. (1977) Substance et Function: éléments pour une théorie Du concept. Traduit de l´allemand para Pierre Caussat. Paris-France. Les Editions de minuit. Dreyfus, T. (1991). Advanced Mathematical Thinking Process. In D.O. Tall (Ed) Advanced Mathematical Thinking (pp. 25-41). Dordrecht: Kluwer. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Dubinsky, E. (1991). Reflective abstration in advanced mathematical thinking. In D.O. Tall (Ed) Advanced Mathematical Thinking (pp. 95-123). Dordrecht: Kluwer. Gray, E.M. & Tall, D.O (1994) Duality, ambiguity and flexibility. A proceptual view of simple arithmetic. Journal for Research in Mathematical Education, 26(2), 115-141. Harel, G. e Sowder, L. (2005). Advanced Mathematical - Thinking at any age: its nature and its development. Mathematical Thinking and Learning. 7(1) – pp. 27-50 Harel, G. (2010) DNR-Based Instruction in Mathematics as a Conceptual Framework. In Sriramn, B. and English, L. (Ed) Advances in Mathematics Education. Theories of Mathematics Education. Seeking New Frontiers. Springer. Igliori, S.B.C. (2010). A noção de obstáculo epistemológico e a Educação Matemática. In Machado, S. (org) Educação matemática. Uma (nova) introdução. 5a edição. EDUC-SP, (pp.113-142) Maranhão, M.C.S.A. (2010) Dialética Ferramenta – Objeto. In Machado, S. (org) Educação matemática. Uma (nova) introdução. 5a edição. EDUC-SP –(pp.143-166) Mason, J. (1995b) The advance party. Educational Studies in Mathematics, 29, 97-122 Sfard, A (1991) On the dual nature of mathematical conceptions: Reflections on processes and objects as different sides of the same coin. Educational Studies in Mathematics, 22, 136. Safuanov, I.S. e Gusev, V. (2000) Some Theorical Problems of the Development of mathematical thinking. Proceedings of the 24th International Group for the Psychology of Mathematics Education. Vol 3. p.17-23. Schoenfeld, A. (2000) Purposes and methods of research in mathematics education. Notices, American Mathematical Society. Otte, M. Complementarity, sets and numbers. Educational Studies in Mathematics, 53, 203228. Skemp, R.R (1971) The Psycology of Learning Mathematics. Great Britain: Penguin Books. Thom, R. (1973) Modern Mathematics: Does it exist? In A.G. Howson (Ed), Developments in mathematical education (PP. 194-209). Cambridege, Cambridge, University Press. Vinner, S. (1991) The role of definitions in the teaching and leraning of mathematics. In D.O. Tall (Ed) Advanced Mathematical Thinking (pp. 95-123). Dordrecht: Kluwer. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Tall, D. e Pages, J. (2010) The fundamental Cycle of Concept Constructions Underlyng Theorical Framworks. Advances in Mathematics Education. Theories of Mathematics Education. Seeking New Frontiers. Springer 113 Tall, D. (1995) Cognitive growth in elementary and advanced mathematical thinking Em L. Meira and D. Carraher (Eds) Proceendings of the Nineteenhth International Conference for the Psycology of Mathematical educational (Vol.1, PP.61-75). PÁGINA 114 XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA E CURRÍCULO: TENSÕES E DESAFIOS NO CONTEXTO ESCOLAR Alexandrina Monteiro Universidade São Francisco- SP-Br [email protected] RESUMO O campo das teorias curriculares, em especial a partir dos trabalhos de Michael Young, passa a problematizar alguns dos elementos que o constituem tais como: objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação gerando novos questionamento. Assim, os estudos curriculares passam a questionar não apenas o “como” ou “o quê” ensinar, mas, também sobre “o por quê” ensinar um conteúdo e não outro, neste caso, ressalta-se a ética que respalda as escolhas. É a partir dessa última questão que pretendo pensar o currículo escolar e não uma disciplina específica, na perspectiva do Programa Etnomatemática. Palavras_Chaves: Currículo, Etnomatemática, Educação 1. Notas para um inicio de conversa Se considerado como uma prática discursiva, o currículo é uma prática de poder, ou ainda, 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O desafio de pensar na organização curricular numa perspectiva Etnomatemática me leva a propor como questão: O que é um currículo? O que há em comum ou se distingue entre currículo e documentos curriculares? Segundo Lopes e Macedo (2011), o objeto currículo é constituído por discursos homogeneizantes de distintas tradições teóricas. Assim, para cada tradição (tradicional, crítica, …) o currículo possui um sentido próprio e, acrescento que nesse sentido esses discursos atravessam, muitas vezes ao mesmo tempo, um mesmo documento curricular. 115 –Esta explicação eu encontrei na rua; ouvi alguém do povo dizer: “Ele me reconheceu”–: então me perguntei: o que entende mesmo o povo por “conhecimento”? O que quer ele, quando quer “conhecimento”? Não mais do que isto: algo estranho deve ser remetido a algo conhecido. (...) nossa necessidade de conhecimento não é justamente essa necessidade do conhecido, a vontade de, em meio a tudo que é estranho, inabitual, duvidoso, descobrir algo que não mais nos inquiete? (NIETZSCHE, 2005, p. 251). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA como defende Silva (2001) um documento de identidade, de significação de governamento e disciplinamento. É um discurso que só é possível de se constituir pelo atravessamento de outros discursos advindos de campos sociais e culturais que, juntos, constituem diferentes sentidos e projetam identidades. Nesse sentido, pretendo organizar esse texto em três momentos. Num primeiro, destacar alguns enunciados constitutivos da sociedade de consumo em que nos encontramos inseridos, depois, apresentarei uma breve discussão sobre as teorias curriculares advindas das perspectivas críticas e pós-criticas e por fim, teço algumas considerações sobre a Etnomatemática, buscando compreender a potencialidade da trama discursiva que se pretende estabelecer entre etnomatemática e teorias curriculares pós-críticas. Entendemos que a possibilidade em se potencializar um discurso curricular resulta da capacidade deste em tornar-se não homogeinizador ou propositivo de metas fixas pré-elaboradas, ou seja, tal potencialidade se mostra nas possibilidades inventivas, provocadas por discursos voltados para a experiência e para o devir. Assim vamos iniciar o percurso! A globalização do mundo contemporâneo vem se constituindo por novas racionalidades vinculadas as diferentes tecnologias e atividades de consumo. Bauman (2008) destaca que as atividades de consumo, aparentemente banais: por participarem de todas as formas de vida conhecida –; na contemporaneidade se apresenta numa forma modificada e mais profunda denominada de consumismo. Segundo esse autor, a atividade consumista e de consumo se diferem pelo fato desta última estar relacionada as necessidades de sobrevivência enquanto que a primeira se sustenta pela nossa capacidade de 'querer', 'desejar', 'ansiar por' e particularmente de experimentar tais emoções repetidas vezes de fato passou a sustentar a economia do convívio humano. Ou seja: PÁGINA 116 (…) o consumismo é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, (…) uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vidas individuais. Bauman (2008, p.41) Em outros termos, o consumo refere-se a uma característica humana de ocupação de cada pessoa no mundo, ou seja é um atributo dos seres humanos enquanto indivíduos, enquanto consumismo é um atributo da sociedade que se caracteriza por promover, encorajar e reforçar seus membros a uma escolha de estilo de vista consumista, ao mesmo tempo que rejeita opções culturais alternativas. Nesse sentido, a sociedade de consumidores amplia o controle sobre o corpo - próprio da sociedade disciplinar de produtores19 - abarcando também, a administração do espírito. Assim acredita-se que: (…) obedecer aos preceitos [da sociedade de consumidores] dependa apenas da disposição e do desempenho individuais em 19 Bauman (2005) distingue os sujeitos da sociedade de produtores (os quais fazem uso do consumo) dos sujeitos (consumistas) da sociedade de consumo. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA função desse pressuposto, toda 'invalidez social' seguida de exclusão só pode resultar de faltas individuais. (…) Consumir, portanto, significa investir afiliação social de si próprio, o que, numa sociedade de consumidores, traduz-se em vendabilidade: obter qualidades para as quais já existe uma demanda de mercado, ou reciclar as que já se possui, transformando-as em mercadorias para as quais a demanda pode continuar sendo criada. (p.75) Para Bauman (2008) a condição consumista ao nos atravessar, nos torna mercadorias, isto é, somos consumistas e objetos de consumo aos quais, atrelamos valores de mercado em função dos objetos que consumimos. Diante disso, cabe-nos perguntar, quais seriam os objetivos da escolarização na e para essa racionalidade da sociedade de consumidores? Somos levados a crer que nesse modelo o que se busca é criar/moldar o sujeito-cliente que sustenta a sociedade de consumo. Moldar o sujeito cliente, por sua vez, não exclui as tecnologias de subjetivação disciplinar, tais tecnologias sofrem mudanças a fim de atender aos novos objetivos de governamentalidade, como indica Veiga-Neto (1999): (…) se não há (necessariamente) o apagamento da função disciplinadora da escola, é preciso saber o quanto e em que circunstância essa função continua sendo ainda importante. Nesse ponto, valho-me de Bauman (1992); ao comentar Foucault, ele nos diz que o poder disciplinar está agora destinado a controlar aqueles que não estão ao alcance das tecnologias de sedução ao mercado. Isso significa que o mercado —já central, essencializado e retificado no neoliberalismo— poderá funcionar também como um quase-substituto do panoptismo e das outras práticas de disciplinamento e normalização —como o confinamento, o quadriculamento do espaço, o fracionamento do tempo, os currículos segmentados em disciplinas estanques, os exames rotineiros, etc. (p.33) 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Essa pergunta não anseia por examinar transformações históricas, avaliar as mudanças, ou propor novos encaminhamentos metodológicas. Seu foco centra-se nas possibilidades que as análises daí decorrente têm em problematizar, e inventar problemas que nos permitam pensar em fissuras, ou rotas de fuga do (e no) interior do emaranhado social consumista que pretende nos aprisionar. No contexto escolar, entendo que se trata de problematizar, por exemplo, as inovações administrativas e pedagógicas centradas em discursos empresariais os quais têm de forma invasiva assumindo cada vez mais o campo educacional, inclusive, transformando e denominado os alunos por clientes. A essas mudanças se agregam os circuitos fechados de vídeos em corredores e salas de aula, os atrativos tecnológicos como “brindes” para tornar-se alunos de uma determinada instituição, a corrida pelos ranques de 117 Assim, me parece relevante que o campo educacional reflita seu lugar frente as essas mudanças e deslocamentos sociais. Ou seja, é necessário perguntar: que efeitos essa novas configurações culturais e sociais: na qual se destacam os sujeitos consumidores que vivem um encurtamento da relação tempo espaço, jamais experienciado antes -; têm provocado aos sujeitos envolvidos nas atividades escolares e também nos discursos curriculares? XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA avaliações externas – buscando no mercado os alunos com mais potencia e oferencendo bolsas, entre outros. Tais mudanças se aproxima daquilo que Deleuze disse — e lamentou — sobre as sociedades de controle: Estamos entrando nas sociedades de controle, que funcionam não mais por confinamento, mas por controle contínuo e comunicação instantânea. [...] Pode-se prever que a educação será cada vez menos um meio fechado, distinto do meio profissional —um outro meio fechado—, mas que os dois desaparecerão em favor de uma terrível formação permanente, de um controle contínuo se exercendo sobre o operário-aluno ou o executivo-universitário. Tentam nos fazer acreditar numa reforma da escola, quando se trata de uma liquidação. Deleuze (1992, p.216. apud Veiga-Neto 1999. p. 35). Diante das novas perspectivas emergentes da sociedade de consumo, os discursos e pesquisas no campo educacional voltam-se para a busca constante por novos produtos, novos saberes, pelo conhecimento, que em geral refletem em novas propostas de documentos curriculares que são impostos às escolas. Em geral tais propostas tendem a mover-se por trilhas conhecidas, por caminhos que nos parece familiar, mas, num ritmo frenético que nos impossibilita de exercitar a prática da ruminação. Somos chamados a fazer um novo que tem sabor de repetição de já conhecido, de (re) conhecido. PÁGINA 118 Essa familiaridade, com o que se apresenta como novo, tanto nos angustia pela aparente repetição como nos desafia. Quando somos movidos pela angustia, tendemos a optar pelos caminhos conhecidos ou traçados pelas das massas, em que somo convocados a apenas seguir a multidão. Porém ao nos sentirmos desafiados, esse velho/novo é questionado, é problematizado e, nosso desafio, o qual tem sido proposto por muitos autores advindos das teorias curriculares críticas e especialmente das pós-criticas, é a de buscar na fissura da solidez da estrutura escolar e da rigidez de muitas propostas curriculares, novas trilhas, a novos caminhos ainda não experimentados. E, nesse sentido volto-me para os discursos do Programa Etnomatemática por acreditar ser ele um elemento potencializador para essas rupturas. Sua potencialidade encontra-se no seu caráter não prescritivo de pensar o saber, a educação. Por ser uma proposta comprometida mais com o devir do que com o futuro, ou seja, que se coloca aberta para caminhar e inventar caminhos se descompromissados com o olhar futurístico de cumprimento de metas. 2. Sobre o saber escolar: desafios curriculares. Segundo Foucault (1999), a escola é uma das instituições mais eficientes no processo de vigilância e controle de corpos e almas e, tal controle se faz por meio da vigilância, da punição e, especialmente pelo controle e aprisionamento do tempo. Para tanto o autor recorre a técnicas elaboradas por ordens religiosas, e depois modificadas para atender as demandas e as novas instituições como exército, escolas: Durante séculos, as ordens religiosas foram mestras de disciplinas: eram os especialistas do tempo, grandes técnicos do ritmo e das atividades regulares. Mas esses processos de 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA regularização temporal que elas herdam as disciplinas os modificam. Afinando-os primeiro. Começa-se a contar por quartos de hora, minutos e segundos (...). Nas escolas elementares, a divisão do tempo torna-se cada vez mais esmiuçante; as atividades são cercadas o mais possível por ordens a que se tem que responder imediatamente. (FOUCAULT, 1999. P.176). A instituição escolar se constitui, assim, na fragmentação do tempo/espaço e do saber. O conhecimento dividido em disciplinas escolares impõe a disciplinarização escolar por meio de regimes de verdade que consideram esses saberes como única fonte de verdade. Assim a instituição escolar se organiza de forma fechada e convergente ou seja: (...) só há uma maneira legítima de pensar, só há uma verdade a ser apregoada, só há um caminho a ser observado para se atingir a verdade, o verdadeiro conhecimento. (Clareto, 2011. P. 6). Essa disciplinarização, como já discutimos, ainda se faz fortemente presente no processo de governamentalidade que atravessa a instituição escolar, ou seja, ela faz parte da maquinaria que leva o estudante a tornar-se aluno e o aluno em cliente e futuro consumidor. As tecnologias disciplinadoras, quando aplicadas ao saber tendem a consolidar o saber escolar como "a" verdade, entretanto, a diversidade de saberes e informações produzidos pelas novas tecnologias, têm criado disputas e até mesmo desconfianças quanto a sua validade. Arrisco afirmar que tais desconfianças tendem a desestabilizar os sujeitos - alunos, professores, gestores - responsáveis por fazer a instituição escolar funcionar. Entretanto essa desestabilização pouco têm gerado de problematização ou de questionamento à racionalidade que institui a verdade e a ordem disciplinar. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Machado (1999) ao abordar a questão a verdade em Nietizche destaca que esse pensador afirmava que mais importante que a verdade das coisas é garantir que elas se pareçam verdadeiras. Nesse sentido importa muito mais o valor das coisas (saber) do que sua suposta verdade. Na atual contemporaneidade esse valor das coisas-saberes está associado a potencialidade que tais coisas possuem em se tornarem produtos consumíveis, vendáveis, com ampla visibilidade na sociedade mídiatica. 119 Diante disso, buscar por um novo, como nos alertou Nietzsche (2005) no início desse texto, está associado a tarefa de trilhar pelo já conhecido, pelo familiar. Nesse sentido, a desestabilização da legitimidade das instituições escolares e universitárias, geram deslocamentos geográficos mas não estruturais, ou seja, as agencias legitimadoras mudam de lugar mas não de princípio. Assim, temos assistido as mudanças de agências legitimadoras antes, escolas e Universidades, agora centros de pesquisas privatizados, indústrias, ou laboratórios universitários financiados pelas indústrias que por seus interesses impedem, muitas vezes, a participação dos pesquisadores em eventos científicos em função do segredo de mercado. Essas novas agencias legitimadoras vinculam a legitimação à lógica da ciência instituída mas agregam fortemente o potencial dos saberes em se tornarem engrenagens do processo de consumo ou seja, seu potencial de vendabilidade. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Preocupados com essa nova configuração do saber, novos caminhos têm sido apontados pelas teorias curriculares, em especial a partir das propostas pós-estruturalista. Segundo Lopes e Macedo (2011), no Brasil, tais propostas passam a ser mencionadas em meados de 1990. Os trabalhos do estudioso Tomaz Tadeu da Silva e muitas de suas traduções foram os principais responsáveis pela divulgação dessas perspectivas teóricas no campo educacional brasileiro. Silva (2001) apresenta, neste texto, de forma muito didática uma síntese de três perspectivas teóricas do campo curricular a saber: as tradicionais, as criticas e as póscriticas sendo que, cada uma delas são permeadas por inúmeras variações. Dentre as diversas características aproximações e distanciamentos entre essas tendências, esse autor destaca algumas questões que mais as caracterizam cada uma delas. No caso das teorias tradicionais – o foco volta-se para “o como” ensinar, já as teorias críticas secundarizam “o como” e passam a problematizar o "o quê" ensinar e, por fim, as teorias pós-críticas submetem esse “o quê” a um constante questionamento. Para as teorias pós-criticas, a questão central foca, então, o "por que" de se ensinar determinado conhecimento e não outro. Ou seja, quais interesses fazem com que determinado conhecimento e não outro esteja no currículo? Por que privilegiar um determinado tipo de identidade e subjetividade e não outro? As teorias pós-criticas e também as críticas, preocupam-se, com as conexões entre saber, identidade e poder. Entretanto, enquanto as teorias críticas centram-se nas relações de poder de classes, as póscriticas ampliam esse dimensão incluindo questões de raça, etnia, gênero e sexualidade. Nessa perspectiva: PÁGINA 120 O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, currículum vitae: no currículo se forja identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (Silva, 2001. p.150) Lopes e Macedo (2011), ampliam as discussões apresentadas por Silva e destacam que as teorias curriculares advindas das perspectivas pós-críticas ou pós-estruturalistas compreendem o currículo como um jogo de forças entre saberes. Para elas, tais teorias consideram, também, a necessidade de se buscar caminhos potencializadores dessas forças. As propostas pós-críticas exaltam, assim, a necessidade de problematizar as discussões do campo educacional e, nesse sentido - sem desqualificar ou negar os trabalhos pedagógicos propositivos: relacionados a novas metodologias, ou encaminhamentos de políticas públicas - apostam na problematização como um processo de se inventar novos caminhos que devem ser traçados no contexto de subversão das ordem, de estranhamentos. É uma aventura ao Devir. Nesse sentido, Kastrup (2005) afirma que o processo problematizador mostra-se fértil ao campo educacional e adentrando no campo da aprendizagem, essa autora discute o sentido de criar e inventar afirmando que problematizar é um ato inventivo e não criativo, pois: (...) invenção não se confunde com criatividade. (...) criatividade é uma capacidade de produzir soluções originais para os problemas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Mas a invenção de que eu falo, e para isso me baseio na filosofia de G. Deleuze (1988), não é uma capacidade de solução de problemas, mas, sobretudo, de invenção de problemas. Além disso, a invenção é sempre invenção do novo, sendo dotada de uma imprevisibilidade que impede sua investigação e o tratamento no interior de um quadro de leis e princípios invariantes da cognição. A própria idéia de uma teoria da invenção, nos moldes da ciência moderna, é uma contradição de termos (...). Pois se houvesse uma teoria da invenção, ou mesmo leis da invenção, seus resultados seriam passíveis de previsão, o que trairia o caráter de novidade e imprevisibilidade que toda invenção comporta. Kastrup (2005, p.1274) Diante disso, pensar um currículo que subverta a ordem disciplinar estabelecida pelos discursos curriculares estabelecidos requer a invenção, ou seja, requer um exercício de problematização, de invenção de problemas que nos instigue a novas rotas, a arriscar na imprevisibilidade. E, é neste momento, que considero significativo introduzir a discussão sobre a Etnomatemática por considerar que tal proposta tem esse potencial inventivo, ao se arriscar por caminhos imprevisíveis. Sobre a Etnomatemática A Etnomatemática tem se constituído num campo de pesquisa híbrido e fértil. Criada nos anos oitenta20, essa proposta se contrapõe aos discursos hegemônicos e totalizantes da ciência moderna ocidental e, tendo sido gerida no campo da matemática foi fortemente criticada e algumas vezes desqualificada - como algo menor, carente de fundamentos. Entretanto, foi seu caráter não pragmático, não prescritivo bem como a participação de teóricos de outras área nas diversas pesquisas realizadas que a tornou um espaço aberto e inquietante. A Etnomatemática pode ser entendida, assim, como um espaço de interrogação. Ou seja, pensar a educação numa perspectiva Etnomatemática é colocar a educação em questão. (…) O Programa Etnomatemática não se esgota no entender o conhecimento [saber fazer] matemático das culturas periféricas. Procura entender o ciclo da geração, organização intelectual, 20 Meados da década de 1980. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Ao problematizar a ordem do saber disciplinar, (des)construindo os alicerces da ciência moderna ocidental, a Etnomatemática abre brechas e constitui-se como um campo de pesquisa abrangente e rizomático, potencializador de novas configurações (invenções) entre saberes e poderes, pois: 121 Desse modo a imprevisibilidade de seu alcance, ao mesmo tempo que impede uma definição, potencializa seu caráter inventivo possibilitando que estudos realizados a partir de seus princípios atravessem diferentes campos do saber como: educacional, histórico, antropológico, filosófico. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA organização social e difusão desse conhecimento; (...) tem como referências categorias próprias de cada cultura, reconhecendo que é próprio da espécie humana a satisfação de pulsões de sobrevivência e transcendência, absolutamente integrados, como numa relação simbiótica, (...) [o que] leva a desenvolver modos, maneiras, estilos de explicar, de entender e aprender, e de lidar com a realidade perceptível. D’Ambrosio (1999, p. 32) A citação acima, considerando-se inclusive sua data, nos mostra como o educador Ubiratan D'Ambrosio, de forma “inventiva” não desqualifica os saberes produzidos pela ciência moderna - fugindo de dicotomizações, e, também não apresenta um discurso prescritivo sobre o que é ou deve ser considerado verdade. Ao se propor a problematizar os caminhos que levaram a matemática tornar-se no discurso hegemônico da ciência moderna, ou seja, ao desconfiar dos processos que naturalizam essa suposta hegemonia, propôs novos traçados, novos caminhos em que os saberes passam a se constituírem na e pela experiência - que é aqui entendida como racional e emocional - vão proporcionando visibilidade a outros sujeitos - sujeitos esses constituídos e constituintes de outros saberes, que muitas vezes se mostram indisciplinados, ou seja, subvertem a ordem disciplinar da ciência e por essa razão são excluídos ou omitidos. Desse modo, pensar o currículo a partir do programa Etnomatemática, não significa apresentar uma proposta curricular solucionadora de problemas de aprendizagem ou reformuladora de objetivos e métodos, mas, numa outra direção, visa apresentar problematizações que possibilitem aos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, se tornarem inventares de outros caminhos. O desafio é, assim, o de se arriscar pelo porvir. Tal proposta não é, por sua vez, algo irresponsável ou resultado de um relativismo extremo em que tudo é possível, ao contrário, ela é limitada e se limita no processo de subjetivação que exala o sujeito da experiência, ou seja: Não há uma decisão autônoma e voluntária quanto à atuação segundo essas ou aquelas práticas cognitivas, mas há o cultivo de práticas que podem potencializar modos de existir que fecundem essas ou aquelas práticas cognitivas. A noção da experiência centraliza esse cultivo assim como centraliza a questão da problematização e da construção efetiva de uma política de invenção: é na experiência que se dá a aprendizagem e a cognição, a invenção de si e do mundo. (Clareto 2011, p.12). PÁGINA 122 O desconforto em subverter à ordem provocado pela Etnomatemática, associado ao seu caráter não prescritivo ora geram pesquisas de cunho disciplinares, que usam alguns de princípios mas, remetem-se aos caminhos (re)conhecidos. Mas, tais desconfortos podem também nos permite pensar o conhecimento emergindo das pulsões humanas, do saber da experiência e adentrando ao desconhecido – substituindo as metas do futuro pela inquietante instabilidade provocado pelo devir. Ao considerarmos essas perspectivas no campo da educação escolar as discussões passam a 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA se situar para além das questões didático-metodológica ou político-administrativa. Elas buscam espaços de inventividade. Um processo em que o Outro possa se fazer presente, ou seja, um processo em que indivíduos tornem-se sujeitos por meio de atos de criação e invenção. Em outros termos trata-se de: (…) um currículo instituinte em contraposição à ideia de currículo como expressão do instituído, o que aproxima o currículo da cultura, definindo-o como enunciação. A tarefa de tornar o currículo instituinte envolve desconstruir os discursos que visam a controlar a proliferação de sentido, dentre os quais podemos destacar as identidades estereotipadas (…) Trata-se de um movimento no sentida da desconstrução de hegemonias, não com a esperança de substituí-las por contra-hegemonias, mas com o objetivo de impedir que se fortaleçam de tal maneira que se torne impossível questionála. (Lopes e Macedo, 2011. P. 232) Nessa perspectiva, a instituição escolar atravessada pela sociedade de consumo, passa a ser um locos de problematização, e (des)construção dos discursos neoliberais, totalizadores e redutores dos sujeitos em mercadorias. Atualmente isso significaria problematizar a própria instituição escolar como as próprias políticas públicas de investimento e avaliação. E esse é um caminho do não conhecido, pois, não é possível se (re)conhecer o que ainda não existe. Desse modo, tal currículo almeja por um sujeito sem identidades fixas, que se aventurem mais, por caminhos (des)conhecido, do que pelos (re)conhecidos. Ou seja, um sujeito que permita alterar a citação de Nietzsche com a qual abrimos esse texto como segue: – O que entende mesmo o povo por “conhecimento"? O que quer ele, quando quer “conhecimento”? Não mais do que isto: algo estranho que não necessite ser remetido a algo conhecido. (...) Nossa necessidade de conhecimento é justamente a de descobrir algo que nos inquiete? REFERÊNCIAS CLARETO, Sônia Maria. Matemática e Inventividade: Diálogos com o Pensamento Etnomatemático. In Anais XIII CIAEM-IACME, Recife, Brasil, 2011. ________. Tecnologías del yo. In: ________. Tecnologías del yo y otros textos afines. Barcelona: Paidós América, 1991. p.45-94. 123 KASTRUP, Virgínia. (2001). Aprendizagem, arte e invenção. In LINS, Daniel (org.). Nietzsche e Deleuze: pensamento nômade. Rio de Janeiro: Relume Dumará, p. 207-223. PÁGINA FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1999. 20a. Ed. 288p __________, Políticas cognitivas na formação do professor e o problema do devir-mestre Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 93, p. 1273-1288, Set./Dez. 2005 Disponível em 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA <http://www.cedes.unicamp.br> LARROSA, Jorge. (2002). Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi. In Revista Brasileira de Educação, n. 19, p. 20-28. LOPES, Alice C.; MACEDO, Elizabeth. Teorias de Currículo. São Paulo. Cortez. 2011. MACHADO, Roberto. (1999). Nietzsche e a Verdade. Rio de Janeiro: Edições Graal SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2001. Belo Horizonte, Autêntica. PÁGINA 124 VEIGA-NETO, Alfredo. Educação e governamentalidade neoliberal: novos dispositivos, novas subjetividades. Anais do Colóquio Foucault, realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em novembro de 1999, acessado em http://www.lite.fae.unicamp.br/cursos/nt/ta5.13.htm. 24/04/2012.às 12h20min. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA E A LEI 10639/03: POR UMA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ANTIRRACISTA Cristiane Coppe de Oliveira Universidade Federal de Uberlândia/UFU – Brasil [email protected] Pesquisa RESUMO O Programa Etnomatemática pode ser visto como potencializador e dinamizador na implementação da Lei 10639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar. Para o contexto da prática docente em Matemática, acredita-se em ações afirmativas e didático-pedagógicas que ressaltam os valores civilizatórios afro-brasileiros, presentes nos saberes e fazeres de matriz africana. Essa proposta ganha força no estabelecimento de novos diálogos teóricos, a fim de promover uma Educação Matemática antirracista, ressaltando a reconstrução do discurso pedagógico, o respeito e o estudo da recriação nas diferentes raízes da cultura brasileira. Palavras-chaves: Etnomatemática, Educação Matemática, Lei 10639/03 A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural da UNESCO em 2002, aponta que a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A temática diversidade, associada à pluralidade cultural, nunca foi tão discutida e utilizada em discursos políticos e pedagógicos como no presente contexto. Desde a declaração de Nova Delhi de 16 de dezembro de 1993, considerou-se que a educação é o instrumento preeminente da promoção dos valores humanos universais, da qualidade dos recursos humanos e do respeito pela diversidade cultural e que os conteúdos e métodos de educação precisam ser desenvolvidos para servir às necessidades básicas de aprendizagem dos indivíduos e das sociedades, proporcionando-lhes o poder de enfrentar seus problemas mais urgentes – combate à pobreza, aumento da produtividade, melhora das condições de vida e proteção ao meio ambiente – e permitindo que assumam seu papel por direito na construção de sociedades democráticas e no enriquecimento de sua herança cultural. Outros documentos como a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e o Plano Nacional de Direitos Humanos legitimam e reconhecem os direitos que toda e todo cidadão brasileiro, independentemente, de suas crenças, etnia, gênero e opção sexual possuem para o exercício da cidadania. 125 INTRODUÇÃO XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. A cultura se encontra no centro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a coesão social e o desenvolvimento de uma economia fundada no saber. A declaração ainda afirma que o respeito à diversidade das culturas, à tolerância, ao diálogo e à cooperação, em um clima de confiança e de entendimento mútuos, estão entre as melhores garantias da paz e da segurança internacionais. A diversidade cultural ganhou caminhos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que apontam para o compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental. Nessa perspectiva, a Pluralidade Cultural foi incorporada como Tema Transversal em 1997. Os PCN consideram que o grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos na sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural. PÁGINA 126 Diante das realidades e contextos observados, na grande maioria dos espaços escolares, percebe-se a necessidade de se pensar em vertentes afirmativas e pedagógicas que se abram como possibilidades para a discussão da construção do conhecimento matemático em África. Essa proposta apóia-se, por um lado, na Lei Federal 10639 de 03 de janeiro de 2003, altera a Lei 9394 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática que envolve a história e cultura africana e afro-brasileira. No parágrafo segundo da Lei 10639/03, encontramos a informação de que os conteúdos referentes a Historia e cultura Afro-brasileira serão ministrados no âmbito escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Este fragmento da lei nos dá margem para interpretações reducionistas, principalmente, no que tange à inserção da temática nas ciências exatas. Por outro lado, podemos considerar as tendências presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e Médio, paralelamente, às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais para a discussão dessa temática. A temática etnicorracial nas universidades brasileiras Pode-se afirmar que o racismo e a exclusão social dos negros foram instrumentos historicamente construídos por meio de práticas racistas e excludentes. E, somente poderá ser superado na nossa sociedade por meio de práticas sociais reparatórias às injustiças cometidas contra as populações afro-brasileiras. Sendo assim a implementação de políticas de ações afirmativas para negros e afrodescententes nos espaços de onde foram historicamente excluídos ou onde se promoveu este processo de exclusão social representa ações humanitárias nesta perspectiva. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Considera-se que a criação dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros no âmbito das universidades brasileiras foi uma ação importante em nível nacional para a discussão/reflexão da temática etnicorracial. Pautando-se nessa ideia aponta-se o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de Uberlândia ( NEAB/UFU) que vem formando, continuamente, agentes da Educação Básica desde sua criação em 2006. O projeto UNIAFRO no ano de 2006, contou com 124 participantes diretos e aproximadamente 400 participantes indiretos (participaram do II Seminário Racismo e Educação: Desafios para a formação docente & I Seminário de Gênero, Raça e Etnia). Em 2007 o núcleo conseguiu a participação de 60 cursistas, sendo que as turmas foram divididas em níveis I (iniciação) e II (avançado) em que os módulos foram totalmente ministrados no Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais (CEMEPE) na cidade de Uberlândia/MG. No ano de 2008 contou com os mesmos níveis de formação I e II, dentro do Programa de Formação Continuada de Docentes da Educação Básica da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O NEAB/UFU promoveu o Curso de Formação Inicial em História e Cultura africana e afro-brasileira para todos os cursos de graduação da UFU no período 2010-2012, finalizando com a publicação de um livro apresentando todos os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em formato de artigo. Nesse mesmo período, promoveu ainda o Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-brasileira, publicando em 2012 recortes das monografias envolvendo temáticas interdisciplinares. O NEAB/UFU compôs – por meio de edital - no ano de 2010/2011 um polo de formação do projeto A Cor da Cultura. O projeto A Cor da Cultura tem um caráter educativo de valorização da cultura afro-brasileira, fruto de uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobrás, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, a TV Globo e a Seppir – Secretaria especial de políticas de promoção da igualdade racial. O projeto teve seu início em 2004 e, desde então, tem realizado produtos audiovisuais e escritos, ações culturais e coletivas que visam práticas positivas, valorizando a história deste segmento sob um ponto de vista afirmativo. Compõem-se de dois grandes componentes: a produção áudio-visual e a formação de professores. No que se refere à implementação da lei 10639/03 no ensino superior, constatou-se que não há muitas ações envolvendo a temática etnicorracial. Em geral, as universidades possuem propostas com programas de Ações Afirmativas e sistema de cotas sociais e/ou raciais. Recentemente, com a aprovação - por unanimidade - do Supremo Tribunal Federal do 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A formação de educadores inclui a produção de um kit educativo e ações de capacitação para quatro mil professores para sua utilização em sala de aula. Neste planejamento prevêse a distribuição de dois mil kits do projeto “A cor da Cultura” para escolas públicas de ensino fundamental em diversos estados brasileiros. 127 A produção áudio-visual inclui cinco grades de programação. Os programas são o “Ação”, exibido na TV Globo e no Canal Futura, “Livros Animados” e “Nota 10”, do Canal Futura, além dos inéditos “Heróis de todo mundo” e “Mojubá”, que serão exibidos também na Canal Futura e na TVE. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Brasil (STF) das cotas raciais para as universidades sabe-se que haverão mobilizações internas para a adoção de novas políticas nas instituições superiores de todo o país. A aprovação das cotas raciais nas universidades brasileiras implica em ações que demandam legalmente a dedicação de uma porcentagem específica de suas vagas para estudantes de origem negra e/ou indígena. Em um âmbito mais geral e político, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) instituiu uma comissão, nomeada pelo reitor em que os pesquisadores do NEAB/UFU e outros docentes de diversos cursos de graduação, tecem discussões políticas para a sustentação e argumentação da importância do cumprimento da lei 10639/03 nos cursos de Graduação da UFU. Atualmente, há uma proposta elaborada por essa comissão em que pesquisadores do NEAB/UFU e docentes de vários cursos de graduação e pós-graduação, apontam temáticas que devem ser incorporadas em todos os projetos pedagógicos. Em uma perspectiva mais específica, lidando com as questões da Etnomatemática, a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) possui o grupo de Estudos e Pesquisas em Etnomatemáticas Negras e Indígenas (GEPENI) que tem como interesse estudar os processos de geração, institucionalização, transmissão e difusão de conhecimentos relacionados às diferentes formas de contar, classificar, ordenar, localizar-se, explicar e inferir produzidos pelas comunidades indígenas e pelos povos africanos e afro-brasileiros. A partir daí, estuda também formas de se implementar ações de divulgação desses conhecimentos nos processos de formação de professores. O grupo procura desenvolver perspectivas teóricas e metodológicas que embasam suas pesquisas e atividades de extensão. O alcance e repercussão dos trabalhos do grupo manifestam-se por meio das ações a serem realizadas na formação inicial e continuada de professores de Matemática, assim como na prática dos pesquisadores - cujas investigações já concluídas ou em desenvolvimento têm produzido conhecimentos e inovações teóricometodológicas na Etnomatemática, e cuja ação acadêmica vem contribuindo para o avanço dos debates relativos às relações etnicorraciais e para a valorização das diferentes etnomatemáticas. PÁGINA 128 A Etnomatemática no contexto etnicorracial Sabe-se que a Lei 10639/03 é uma conquista não apenas do Movimento Negro - que resiste e luta para legitimar sua cultura e direitos na sociedade que, historicamente, o excluiu e que, infelizmente, ainda o exclui – mas uma luta de todos nós. Em 2011, comemorou-se o ano internacional dos afrodescendentes. Podemos nos perguntar: - “Quantos professores de matemática mencionaram este fato em suas aulas?” E mais: - “Quantos pesquisadores conheciam a existência dessa comemoração?” Ao refletir-se um pouco sobre o porquê destas Ações, que consideramos Afirmativas, percebe-se que elas foram criadas e são necessárias, por que ainda temos a discriminação etnicorracial em todos os espaços de nossa sociedade, ou seja, não há como negar que o nosso país é racista. E essa problemática deve passar pelos fóruns estabelecidos pela Educação Matemática. O Programa Etnomatemática, segundo D´Ambrosio (2001) é um programa de pesquisa com óbvias implicações pedagógicas. Outros pesquisadores na área como Frankenstein e Powell (1997) e Knijnik (1996), interpretam o termo, apontando-o como um programa de pesquisa 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA que se desenvolve junto com a prática escolar, reconhecendo que todas as culturas produziram e produzem conhecimentos matemáticos. O Programa Etnomatemática considera relevante a inserção desses conhecimentos no currículo escolar para que possam ser contemplados e compreendidos em sua diversidade, considerando a visão da Pluralidade Cultural, apontada pelos PCN, à medida em que a temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, as desigualdades e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, p.19). Nesse sentido, podemos ver o Programa Etnomatemática como potencializador e dinamizador na implementação da Lei 10639/03. A lei não deve ser vista como uma nova disciplina ou metodologia a ser empregada, mas como a possibilidade de novos diálogos e novas posturas, a fim de proporcionar o surgimento de uma educação transformadora, em relação à discriminação etnicorracial, em todas as disciplinas do currículo escolar. Considera-se relevante a prioridade de aprofundamento dessa discussão, no que se refere à formação continuada do professor de Matemática, pois conforme apontam Costa e Oliveira (2010), são recorrentes os discursos de que o ensino da matemática deve estar voltado para uma melhor compreensão da realidade, dos fenômenos sociais, do desenvolvimento da cidadania, contribuindo para com as transformações socio-históricas. Entretanto, cotidianamente, muitos professores de matemática consideram que, no ensino da disciplina, não lhes cabe explorar questões de importância fundamental tais como os preconceitos raciais e/ou culturais. Outros, alegam que sua formação (tradicional) não contribui para que eles façam as necessárias associações entre conteúdos matemáticos e tais problemas. De fato, não são raros aqueles que manifestam o desejo, mas também as dificuldades de redimensionar suas ações, de modo a abrigar reflexões referentes à diversidade cultural e racial. Essa ação ganha força na afirmação de Santomé (1995) em que devemos buscar afastar as armadilhas ideológicas do preconceito, da discriminação de gênero, das etnias oprimidas, do recalque, da exclusão social, desvendando algumas situações que são silenciadas e que normalmente se colocam como problemáticas da sociedade que se encontra na escola. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Como educadores e educadoras, reconhecendo-se ou não o racismo, reconhecendo-se ou não as africanidades presentes em nossa cultura, não se pode deixar, em hipótese alguma, que esta tendência à discriminação ocupe os espaços escolares. 129 Percebe-se, por um lado, o fato de que a área de Matemática apresenta dificuldades em contribuir significativamente com a divulgação e valorização social da história e cultura africana e afro-brasileira. Por outro lado, vê-se a implementação da lei 10639/03 como uma medida importante que pode, além de modificar uma situação de racismo institucional, levar os educandos a perceberem as dimensões culturais, sociais e políticas da matemática. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Considerações Finais Precisamos lutar por uma Pedagogia Anti-racista! (Gonçalves e Silva, 2003). Acredita-se que as ações apontadas anteriormente, fazem parte de uma gama de contribuições que se somam a outras ações já desenvolvidas por algumas universidades e núcleos de pesquisa, na perspectiva da construção de relações sociais que sejam capazes de superar a herança racista da escola, da educação e da sociedade brasileira. Além disso, a consolidação dos NEAB é um fato relevante para o Movimento Negro, pois permite o estabelecimento de diálogos com os movimentos sociais e instituições não governamentais que se tornam parceiras em diversas ações e projetos. Acredita-se que valorizar os saberes matemáticos intuitivos e culturais, poderá, por um lado, aproximar o saber escolar do universo cultural de matriz africana e afro-brasileira, em que o aluno está inserido, o que é considerado de fundamental importância para o processo de ensino e aprendizagem sem qualquer discriminação etnicorracial. Por outro lado, ao darse importância a esses saberes, a escola contribuirá ainda, para a superação do preconceito de que a matemática é um conhecimento produzido, exclusivamente, pelo pensamento eurocêntrico. Nessa perspectiva, é possível parafrasear (Gonçalves e Silva, 2003) e afirmar que: Precisamos lutar por uma Educação Matemática Antirracista! Em que novas vivências de pesquisa e a mudança de olhar para a prática pedagógica em Matemática em todos os níveis de ensino, passem por lentes que rompam com a ideia da não valorização dos etnoconhecimentos de matrizes africana e afro-brasileira. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997. PÁGINA 130 COSTA, W.N.; OLIVEIRA, C.C. Educação Matemática e preconceitos raciais: as culturas africana e afro-brasileira na sala de aula. In: Anais do X Encontro Nacional de Educação Matemática. Salvador: SBEM, 2010. D’AMBROSIO. U. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FRANKENSTEIN, M; POWELL, A. Ethnomatematics: challenging eurocentrism in Mathematics education. Albany: State University of New Yorl Press, 1997. GONÇALVES E SILVA, P.B. Africanidade: esclarecendo significados e definições. In: Revista do Professor, nº 19: Porto Alegre, 2003. KNIJNIK, G. Exclusão e resistência: educação matemática e legitimidade cultural. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PÁGINA 131 SANTOMÉ, J. T.; DA SILVA, T.T. (org.) Alienígenas a na sala de aula: Uma introdução aos Estudos Culturais em Educação.Vozes: Petrópolis. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA: OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AÇÃO PEDAGÓGICA Coordenador: Milton Rosa Etnomatemática e a (trans)formação de Identidade Docentes Wanderleya Nara Gonçalves Costa Universidade Federal de Mato Grosso – Brasil [email protected] Formação de Professores Embora o conceito de identidade muitas vezes remeta às ideias de permanência, unidade e similitude, ele também pode ser compreendido como uma possibilidade de transformação de si mesmo, como problematização e ação sobre âmbitos da sociedade onde o exercício do poder parece-nos intolerável. Então, impõe-se o desafio pedagógico de problematizar quem somos e conformar o que podemos ser. Trata-se da tarefa de (re)construir a identidade como inquietação, mutabilidade, que nos leve a constituir, nas aulas de matemática e nos cursos de formação de professores, espaços de crítica e de possível modificação da nossa relação com os clamores indígenas e afro-brasileiros. PÁGINA 132 Etnomatemática E Currículo: tensões e desafios no contexto escolar Alexandrina Monteiro O campo das teorias curriculares, em especial a partir dos trabalhos de Michael Young, passa a problematizar alguns dos elementos que o constituem tais como: objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação gerando novos questionamento. Assim, os estudos curriculares passam a questionar não apenas o “como” ou “o quê” ensinar, mas, também sobre “o por quê” ensinar um conteúdo e não outro, neste caso, ressalta-se a ética que 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA respalda as escolhas. É a partir dessa última questão que pretendo pensar o currículo escolar e não uma disciplina específica, na perspectiva do Programa Etnomatemática. Etnomatemática e a Lei 10.639/03: por uma Educação Matemática Antirracista Cristiane Coppe de Oliveira UFU, Brasil [email protected] Pesquisa O Programa Etnomatemática pode ser visto como potencializador e dinamizador na implementação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar. Para o contexto da prática docente em Matemática, acreditamos em ações didático-pedagógicas que ressaltam os valores civilizatórios afro-brasileiros, presentes nos saberes e fazeres de matriz africana. Essa proposta ganha força no estabelecimento de novos diálogos teóricos, a fim de promover uma Educação Matemática antirracista, ressaltando a reconstrução do discurso pedagógico, o respeito e o estudo da recriação nas diferentes raízes da cultura brasileira. Etnomatemática: estratégias para sobreviver e transcender Ubiratan D’Ambrosio UNIBAN, Brasil [email protected] Pesquisa PÁGINA 133 Etnomatemática como um programa de pesquisa, deve ser entendida como Etno+matema+tica e não como etno+matemática. O Programa Etnomatemática tem como objetivo entender como a espécie humana, desde os hominídeos, desenvolveu, acumulou e transmitiu, de geração a geração, estratégias de sobrevivência e de transcendência nos distintos ambientes naturais em que se encontra. Dentre essas estratégias são essenciais a capacidade de abstração, de inferência e de pensamento simbólico. O Programa Etnomatemática procura identificar diferentes modos e maneiras de observar, de classificar, de ordenar, de comparar, de medição e de numerorisar que levam a essas capacidades. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA: ESTRATÉGIAS PARA SOBREVIVER E TRANSCENDER Ubiratan D’Ambrosio UNIBAN [email protected] RESUMO A Etnomatemática como um programa de pesquisa deve ser entendida como Etno+matema+tica e não como etno+matemática. O Programa Etnomatemática tem como objetivo entender como a espécie humana, desde os hominídeos, desenvolveu, acumulou e transmitiu, de geração a geração, estratégias de sobrevivência e de transcendência nos distintos ambientes naturais em que se encontra. Dentre essas estratégias são essenciais a capacidade de abstração, de inferência e de pensamento simbólico. O Programa Etnomatemática procura identificar diferentes modos e maneiras de observar, de classificar, de ordenar, de comparar, de medição e de numerorisar que levam a essas capacidades. Palavras-chave: Etnomatemática, Matemática, Educação, História, Civilizações. CONSIDERAÇÕES GERAIS PÁGINA 134 A Etnomatemática como um programa de pesquisa deve ser entendida como Etno+matema+tica e não como etno+matemática. O Programa Etnomatemática tem como objetivo entender como a espécie humana, desde os hominídeos, desenvolveu, acumulou e transmitiu, de geração a geração, estratégias de sobrevivência e de transcendência nos distintos ambientes naturais em que se encontra. Dentre essas estratégias são essenciais a capacidade de abstração, de inferência e de pensamento simbólico. O Programa Etnomatemática procura identificar diferentes modos e maneiras de observar, de comparar e classificar, de ordenar, de medição e de quantificação, e de inferência, que levam a essas capacidades. Como disse Paulo Freire na entrevista de 2004, “há uma forma matemática de estar no mundo”, que é inerente ao seres humanos. Neste trabalho dou minha versão de como o ser humano foi desenvolvendo, na sua evolução, os conhecimentos e comportamentos que hoje são identificados com a matemática que todo indivíduo pratica no seu dia-a-dia. Essa matemática tem pouco a ver com o que é hoje identificado como matemática acadêmica ou matemática escolar, que tem um simbolismo próprio, com códigos, regras e formalismo próprios, é de certo modo contraditório falar em matemática do dia-a-dia. Prefiro recuperar a raiz grega matemá, que inclui, a grosso modo, o conceito de aplicar a razão para lidar com 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA situações concretas que se apresentam no dia. O lidador no dia-a-dia utiliza modos, maneiras, artes, técnicas, que eu chamo ticas, que são executadas num determinado espaço e tempo, portanto situados num contexto, que podemos chamar um etno. Assim, seria mais apropriado dizer que “há uma forma etno-matema-tica de estar no mundo”. De fato, no texto completo da entrevista entende-se que é isso que Paulo Freire queria dizer. Muitas idéias deste trabalho já foram apresentadas e discutidas em outras publicações minhas, o que é inevitável. A espécie humana O que sabemos da espécie humana? Nossa espécie é, de acordo com fontes científicas conceituadas, uma evolução de mamíferos primatas, e nossos primeiros ancestrais, os australopitecos, cujos fósseis foram encontrados na África Central, desenvolveram bipedismo, um cérebro evoluído, um sistema sofisticado de comunicação, que é a linguagem, e a capacidade de fabricação e utilização de instrumentos, como o fogo, utensílios de pedra lascada e a lança. 21 Uma síntese interessante, com muita discussão, está no artigo de Christopher S. Henshilwood e Curtis W. Marean: The Origin of Modern Human Behavior. Origins of the Models and Their Test Implications, Current Anthropology, vol.44, nº 5, Dec. 2003, pp.627-651. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A busca de sobrevivência, que consiste essencialmente na utilização de recursos naturais para satisfazer necessidades fisiológicas e na aquisição de modos de lidar com o ambiente, é comum a todas as espécies. Mas a espécie humana vai além da busca de sobrevivência. Procura explicações, que vão além do aqui e agora, tentando entender o como e o porquê de fatos e fenômenos. Organiza essas explicações em sistemas. Transcende as necessidades fisiológicas imediatas. A nossa espécie obedece aos pulsões de sobrevivência, como todas as demais espécies vivas, e de transcendência, como nenhuma outra espécie. As respostas a esses pulsões dependem de condições naturais e ambientais. Certos povos, ao longo de 135 No curso dessa evolução, após cerca de 6 milhões de anos, chega-se a duas espécies diferenciadas, o homo sapiens e o homo neanderthalensis, que conviveram há cerca de 100.000 anos. Uma história fascinante, da qual resultou a extinção do homo neanderthalensis e o surgimento de uma outra espécie, o homo sapiens sapiens, que somos nós. Essa espécie vai acumulando experiência, conhecimentos e modos de comportamento modernos21. A invenção da agricultura, há cerca de 20.000 anos, é a grande transição para a fase moderna da espécie. Onde se deram todas essas etapas? Em todo o planeta, com diferença de alguns milhares de anos, e com modalidades diferentes, em resposta às enormes diferenças de clima, de solo, de recursos, que se notam em nosso planeta. Contextos naturais distintos provocam respostas distintas. É desnecessário perguntar por que a agricultura não se inventou no círculo polar Ártico. Nem por que os indígenas da Amazônia não inventaram a sofisticada habitação, chamada iglu, feita de blocos de gelo. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA muitas gerações, compartilham elementos comuns das respostas aos pulsões de sobrevivência e transcendência. Isso caracteriza as civilizações22. O que chamamos Matemática é uma resposta à busca de sobrevivência e de transcendência, acumulada e transmitida ao longo de gerações, desde a pré-história23. O mesmo se dá com as religiões, com as técnicas, com as artes e com as ciências, em geral. Em suma, todos os fazeres e saberes são respostas do homem a informações recebidas da realidade, que é o complexo de tudo que é material, ampliado por experiências vividas e acumuladas, na forma de memórias24. Essas respostas, em permanente transformação, são as estratégias desenvolvidas pela espécie para responder aos pulsões de sobrevivência e de transcendência. Essas estratégias, que são geradas pelo indivíduo, são por ele organizadas intelectualmente e, através de comunicação no seu sentido geral, são compartilhadas com o próximo e são organizadas socialmente. Na busca da sobrevivência, se desenvolvem os meios de lidar com o ambiente mais imediato, que fornece o ar, a água, os alimentos, o outro, e tudo o que é necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie. São as técnicas e os estilos de comportamento individual e coletivo. Na busca da transcendência, se desenvolvem meios para explicar fatos e fenômenos, a percepção e o encadeamento de passado, presente e futuro. Os meios, a percepção e o encadeamento, estão na origem da memória, individual e coletiva, dos mitos e das artes. A memória, os mitos e as artes, organizam-se como história e tradições, que incluem as religiões e os sistemas de valores. Ao procurar, no passado, explicações e causas para o presente, busca-se antecipar o futuro. Apoiadas principalmente nas religiões, estão às chamadas artes divinatórias, que consistem de sistemas que procuram antecipar o que pode acontecer. Dentre esses sistemas distinguem-se a astrologia, os oráculos, o I Ching, a numerologia, a lógica e, em geral, as ciências. Não nos esqueçamos que, por meio de princípios e leis, as ciências nos dizem o que pode acontecer em determinadas condições. As ciências permitem uma incursão no futuro. PÁGINA 136 22 O historiador Arnold J. Toynbee, na sua monumental obra A Study of History, vols. I-XII, Oxford University Press, Londres, 1934-61, reconhece 14 civilizações independentes, 17 satélites e 6 abortivas. Muitas de suas idéias influenciaram a importante obra de Helio Jaguaribe: Um Estudo Crítico da História, 2 vols, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2001. Essa é uma leitura recomendável, eu diria mesmo necessária. 23 Para uma história da matemática pré-histórica, ver Manoel de Campos Almeida: Origens da Matemática, Editora Champagnat, Curitiba, 1998. 24 As informações são captadas pelos sentidos e processadas. A memória é encarada, também, como uma realidade expandida pela acumulação de experiências, que igualmente informa o indivíduo. Como se dá esse processamento é o principal objetivo das chamadas “ciências da mente”, com a contribuição essencial do que se chama “Inteligência Artificial”. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Uma primeira manifestação de transcendência está na criação de mitos que, organizados socialmente, constituem as religiões. Um sentimento forte, misto de reverência e temor, de que existe algo, não visível nem conhecido, inexplicável, responsável por tudo, dominou a espécie homo sapiens sapiens desde os primeiros tempos de sua evolução. Compartilhados, esses sentimentos se organizam como religiões e, para se manifestar, desenvolvem uma série de comportamentos sagrados, tais como rituais, alimentos, música, danças, mitos, símbolos, metáforas, topologias e cronologias, edificações, sistemas de valores e sistemas de explicações. Uma das questões mais fascinantes do que chamamos as ciências da mente refere-se à inerência desse sentimento à mente humana25. As grandes civilizações Todas as estratégias de sobrevivência e de transcendência são organizadas intelectualmente e compartilhadas socialmente, graças a um sofisticado sistema de comunicação característico da espécie humana. Constituem os sistemas de conhecimento. Esses consistem de explicações e de estratégias de lidar com fatos e fenômenos, que possibilitam sobreviver e transcender nas situações típicas do ambiente natural e social específico, compartilhados por famílias, comunidades, uma população. Os sistemas de conhecimento são, eventualmente, expropriados por indivíduos e grupos, organizados no que se identifica como poder. A estrutura de poder fica, então, detentora dos sistemas de conhecimento e, portanto, das estratégias de sobrevivência e transcendência, e as institucionaliza. Uma vez institucionalizados, os sistemas de conhecimento e as estratégias de sobrevivência e transcendência são devolvidos à população. Essa mesma população que, em primeira instância, foi responsável pela geração desse conhecimento e das estratégias. Mas a devolução, na forma de transmissão e difusão, é submetida a filtros, com o objetivo que seja transmitido e difundido apenas o que interessa à estrutura de poder. Grupos de indivíduos e sociedades subordinados a uma estrutura de poder que se assemelham, constituem as civilizações. Adoto a conceituação proposta por Hélio Jaguaribe26, que vê civilização como um conjunto de sociedades com 1 - uma ocupação ordenada de espaço; 2 - uma percepção de tempo (passado, presente, futuro encadeados); Dá-se maior atenção a algumas grandes civilizações na Europa e na Ásia. No 3º milênio a.C. à Egito (Rio Nilo), Babilônia (Mesopotâmia: entre os Rios Tigre e Eufrates) e Índia (Rio Indo); no 2º milênio a.C. à Etruscos, Mar Egeu, particularmente Tróia (no final do 2° 25 Veja a excelente obra de John Bowker: God. A brief history, Doring Kinderley, Londres, 2001, que examina a espiritualidade em todas as regiões do mundo. 26 Helio Jaguaribe, op.cit. em Nota 2. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 4 - um sistema político estruturado. 137 3 - uma cultura dominante, incluindo língua, religião, uma cosmovisão e um repertório de costumes, técnicas e valores; XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Milênio a.C.), Lung-shan (Rios Huang e Yang-Tse) ,Israel (Moisés, Êxodo ca 1.250 a.C.); no 1º milênio a.C. à Grécia, Índia, Pérsia, China, Roma. Deve-se lembrar também as grandes civilizações africanas e pré-colombianas, particularmente as Andinas (Aztecas, Maias e Incas), as das planícies norte-americanas e as da Amazônia. Sobre conhecimento e Matemática Não se pode entender conhecimento sem se atentar para o ciclo completo do conhecimento, desde sua geração, organização intelectual e social, transmissão, expropriação, institucionalização e difusão. Obviamente, isso se dá com características, maneiras e estilos diferentes em cada ambiente natural e cultural. O ser humano desenvolve suas estratégias para sobreviver e transcender criando um conjunto de artes ou técnicas, que são acumuladas, ao longo da história, para explicar, conhecer e lidar com o seu determinado ambiente natural e cultural. Para exprimir artes ou técnicas uso a raiz grega techné≈tica ; para explicar, lidar com e conhecer, empresto a raiz grega máthéma≈matemá ; e o ambiente natural e cultural é referido como etno. Assim, falo em uma tica de matemá num determinado etno. Esse é o conceito de Etnomatemática (=etno+matemá+tica). Nosso foco é apenas a etnomatemática que provém da Bacia do Mediterrâneo, isto é, a Matemática Acadêmica, ou simplesmente Matemática.27 Uma questão, múltipla, que se coloca é por quê?, onde?, quando? e como? nasce a Matemática. Mas há uma outra pergunta, preliminar a essa: O que é matemática? Já se disse que “matemática é aquilo que os matemáticos fazem, e matemáticos são aqueles que fazem matemática”. A História da Matemática tem se apoiado nessa pseudo-definição redundante. Embora seja comum aceitar que esse apoio é muito cômodo, é importante, talvez mesmo necessário, tecer algumas considerações sobre o fazer matemático. PÁGINA 138 Gosto de fazer análises etimológicas. Claro, sempre que se recorre à etimologia, as interpretações variam e há muito espaço para fantasias e críticas. Mas é difícil fazer história sem fantasia! No grego arcaico, a raiz máthema significa algo como apreender, estudar, explicar, conhecer. A palavra matemática, obviamente ligada a essa raiz, é usada na antiguidade e na Idade Média, em sentidos muito variados. Como a entendemos hoje, ela aparece na Europa pelo século XIV, e sua adoção é ampla a partir do século XVI. É comum dizer, e o conceituado Dicionário Houaiss adota essa generalidade vaga, que matemática é a “ciência que estuda objetos abstratos (números, figuras, funções) e as relações existentes entre eles, 27 Uma introdução à etnomatemática está nos meus livros Etnomatemática. Arte ou Técnica de Explicar e Conhecer, Editora Ática, São Paulo, SP, 1990, e Etnomatemática. Elo entre as tradições e a modernidade, Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2001, escritos com uma diferença de cerca de 10 anos, e que se complementam. Também em meu livros mais recentes, Uma História Concisa da Matemática no Brasil, Petrópolis: Editora Vozes, 2009 e Uma Síntese Sociocultural da História da Matemática, São Paulo: PROEM Editora, 2011, há referências à evolução da etnomatemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA procedendo por método dedutivo”. Certo. Mas isso não é tudo. Prefiro examinar o fazer matemático como uma atividade humana mais geral. No mundo acadêmico, principalmente a partir do século XVII, há uma forma de "profissionalização" de Matemáticos. A produção desses matemáticos profissionais deve ser reconhecida por obedecer a critérios de rigor, de formalismo, e mesmo de métodos. Assim, fica muito bem estabelecido quem são os matemáticos, e qual a produção desses profissionais. Aos poucos, os critérios de reconhecimento foram se definindo melhor e foram sendo criadas revistas e academias especializadas. Assim, hoje é fácil identificar indivíduos reconhecidos como matemáticos. De modo geral, podemos considerar aqueles identificados na União Matemática Internacional, segundo um critério para elaborar o Diretório Internacional de Matemáticos. O critério é ter artigos indexados na Mathematical Reviews/Zentralblatt fûr Mathematik, que são as referências internacionais na área. Esse é o critério formal. Mas há muita matemática que foi feita por indivíduos considerados "não-matemáticos". E isso continua. As idéias matemáticas são muito importantes e centrais no conhecimento humano para serem restritas a um grupo de profissionais reconhecidos como "matemáticos". O reconhecimento de que muita coisa relevante no saber e no fazer matemático seja resultado de situações e indivíduos que não são identificados como matemáticos, deu origem ao Programa Etnomatemática. Como todas as civilizações, as da antiguidade na bacia do Mar Mediterrâneo, elaboraram suas etnomatemáticas. Costumo dizer que essa Matemática é a espinha dorsal da Civilização Moderna. É o sustentáculo de nossa ciência, tecnologia, urbanização e arquitetura, sociedade e política, sistemas de produção e economia. Como diz a destacada historiadora Mary Lefkowitz, (...) a evolução de teorias matemáticas gerais a partir de seus fundamentos [matemática dos egípcios, sumérios e outros] é a verdadeira base do pensamento ocidental. É importante lembrar que no Mediterrâneo estão algumas das primeiras civilizações de que temos registro. As pesquisas para entender a evolução da espécie humana e as origens do homem moderno ou homo sapiens sapiens têm privilegiado certas regiões da Eurásia, chamada Velho Continente. Há um forte apoio à teoria que nossa espécie teve sua origem 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Mas o pensamento abstrato não é privilégio exclusivo da Grécia Antiga. Encontra-se nas civilizações da Mesopotâmia, do Egito, do Egeu, de Israel, da Pérsia, de Roma, de Bizâncio, do Islã e em outras regiões do planeta, da China, da Índia, da África, do Pacífico, das regiões polares e das Américas. Todas essas civilizações contribuíram para o que hoje identificamos como Civilização Moderna, que começa a se moldar a partir do século XV, na chamada Era das Navegações. 139 A Matemática, que se origina da Antiguidade Grega a partir de tradições dos egípcios, sumérios, judeus, possivelmente também dos indianos, é abstrata e é identificada com um padrão de racionalidade. Essa Matemática, assim como a Filosofia da Antiguidade Grega, serviu de base para o surgimento da Ciência Moderna. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PÁGINA 140 na África, onde hoje são Quênia e Tanzânia e, a partir daí, migrou pelo Velho Continente e posteriormente atingiu o que hoje chamamos a Oceania e as Américas. Nessa migração foi adquirindo os conhecimentos e comportamentos essenciais para a sobrevivência, como indivíduos e como espécie, e para a transcendência. Vejo o Programa Etnomatemática como o estudo e a análise de como foram desenvolvidas e como são praticadas, pelos diferentes grupos de seres humanos, a busca da sobrevivência e da transcendência. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA ETNOMATEMÁTICA E A (TRANS)FORMAÇÃO DE IDENTIDADES DOCENTES Wanderleya Nara Gonçalves Costa Universidade Federal de Mato Grosso (Brasil) [email protected] RESUMO Embora o conceito de identidade muitas vezes remeta às ideias de permanência, unidade e similitude, ele também pode ser compreendido como uma possibilidade de transformação de si mesmo, como problematização e ação sobre âmbitos da sociedade onde o exercício do poder parece-nos intolerável. Então, impõe-se o desafio pedagógico de problematizar quem somos e formar o que podemos ser. Trata-se da tarefa de (re)construir a identidade como inquietação, mutabilidade, que nos leve a constituir, nas aulas de matemática e nos cursos de formação de professores, espaços de crítica e de possível modificação da nossa relação com as culturas indígenas e afro-brasileiras. Palavras-chave: Formação de professores. Cultura Afro-brasileira. Culturas Indígenas. TRABALHO Muitos dos trabalhos realizados por educadores matemáticos brasileiros ao longo desses mais de vinte anos se referem a ações pedagógicas que pesquisadores e formadores de professores fundamentados na Etnomatemática têm realizado em áreas indígenas ou em 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Inicialmente, cabe pontuar que, ainda hoje é recorrente a afirmação de que a explicitação e a exploração de implicações pedagógicas da Etnomatemática são recentes e pouco exploradas. Entretanto, podemos detectar a presença de tal preocupação desde a primeira dissertação brasileira defendida na área (BORBA, 1987), assim como a constância desta temática ao longo dos anos (D’AMBROSIO, 1993, 1998, 2001; KNIJNIK, 1996; MONTEIRO, 1998, ROSA e OREY, 2004, dentre vários outros). 141 Este artigo tem como objetivo discutir sobre a ação pedagógica pautada pela Etnomatemática que ocorre na Licenciatura em Matemática, argumentando que ela pode contribuir para problematizar e modificar determinados valores e discursos que geralmente estão presentes na constituição da identidade dos professores da Educação Básica. Destaca ainda que tal ação pode levar este professor a ampliar e inovar o espaço de sala de aula, notadamente no sentido de incluir, em seu fazer pedagógico, discussões sobre as histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA áreas de quilombos remanescentes, mas vários outros contextos também têm sido foco de atenção. Embora cada um dos trabalhos realizados sirva a funções diferentes, evidenciando opostas diferentes, podemos estabelecer relações entre eles, o que nos permite, a partir de tais relações, esboçar outras propostas de ações pedagógicas. Mesmo assim, permanecem atuais os questionamentos acerca das possibilidades pedagógicas da Etnomatemática e a busca por diferentes formas de explorá-las e efetiválas, notadamente porque as relações entre as diferentes propostas já esboçadas, obviamente, não vêm prontas, mas precisam ser estabelecidas por aqueles que, de fato, irão executar as ações em sala de aula: os professores. Então, pode-se dizer que ainda são muitos os desafios para que ocorram, corriqueiramente, ações pedagógicas pautadas pela Etnomatemática. Mas quero aqui me referir à oportunidade advinda da obrigatoriedade ditada pela Lei 11.645/08, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB), incluindo no currículo oficial dos estabelecimentos de ensino básico das redes pública e privada a obrigatoriedade do estudo das histórias e das culturas indígena e afrobrasileira. PÁGINA 142 Segundo a Lei, não se trata de mais uma disciplina no currículo escolar, mas de uma orientação para que todas as disciplinas que constituem o currículo escolar básico inclusive a matemática - incorporem a discussão sobre a contribuição dos negros e dos índios à cultura brasileira. Assim, a legislação que trata da introdução da temática cultural afro-brasileira, africana e indígena na educação básica e na formação de professores orienta que a questão deve ser trabalhada na matriz curricular da educação básica e dos cursos superiores a partir da interlocução com outras práticas. Contudo, até mesmo uma análise superficial sobre o cotidiano das escolas de diferentes níveis de ensino, assim como de seus documentos (regimentos, projetos pedagógicos e projetos escolares), nos leva a perceber que, na maioria das instituições, não há práticas sistemáticas de abordagem das culturas e histórias afro-brasileira e indígena (COELHO, 2009). De fato, são bem poucos os professores de matemática que agregam tais discussões às suas aulas. Mas, de modo geral, professores de todas as áreas apontam o fato de que os cursos de formação de professores, em especial as licenciaturas, não têm atentado, como deveriam, para a importância da questão etnicorracial. Não se discute, com os futuros professores, por exemplo, como tal questão se reflete na construção da auto-estima do estudante, algo que trará implicações para o desempenho escolar do aluno. E o professor, ao sentir-se incapaz e também desobrigado de aplicar a Lei 11.645/08, deixa de ficar atento para o fato de que a ausência de um discurso sobre questões etnicorraciais não implica a ausência de práticas discriminatórias que ocorrem a partir da multiplicidade de sujeitos e culturas presentes na sala de aula. Na sua aparente ausência nas salas de aulas, alguns sentidos atribuídos à questão etnicorracial são reiterados, o não dito torna-se o já dito, e professores e estudantes acabam por reproduzir o mesmo, movimentando-se no sentido historicamente construído e que a Lei pretende mudar. Percebe-se, pois, que é fundamental o papel do professor na constituição e na efetivação de propostas que venham satisfazer as exigências da Lei 11.645/08. É a partir do 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA reconhecimento deste fato que convido a uma reflexão acerca da identidade docente, ou melhor, acerca da formação ou da transformação desta identidade. Segundo Enriquez (1993, p. 56), o conceito de identidade remete a três ideias essenciais: a) a ideia de permanência no tempo, isto é, a constância; b) a ideia de um objeto separado que tem uma unidade e; c) a ideia de similitude, por meio do qual é possível alguém reconhecer o seu semelhante. Contudo, as teorias pós-estruturalistas trazem outra noção de identidade, visto que ela passa a ter caráter diferenciado em relação à identidade iluminista, já que desarticula estabilidades e discorre sobre identidades abertas, contraditórias, plurais e fragmentadas (sujeito pós-moderno). O sociólogo Bauman (2005) afirma que a identidade não é algo a ser “descoberto”, mas sim algo a ser inventado como objeto de um esforço, de um objetivo, e salienta que a condição precária e inconclusa da identidade tende a ser laboriosamente suprimida e ocultada. Por sua vez, Stuart Hall (2003) afirma que as identidades, que parecem invocar uma ideia de origem, têm, na realidade, a ver com a utilização de recursos da história, da linguagem e da cultura para produzir o que nos tornamos e não o que somos. Ele destaca que as identidades são construídas no interior das práticas discursivas específicas, como sendo produzidas em locais históricos e institucionais específicos, e por estratégias e iniciativas específicas. Em vista disto, a formação das identidades pode ser considerada um jogo de poder onde uma determinada coletividade tem a possibilidade de auxiliar ou entravar a assunção de verdades, valores e posturas. Tal modo de conceber a constituição de identidades é válido para as identidades pessoais, as identidades sociais, as identidades coletivas e também para as identidades profissionais. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Penso que contribui para a manutenção desta ideia acerca do papel do professor de matemática o ato de que, nos momentos/espaços institucionais dedicados à constituição da identidade deste professor, sobretudo na Licenciatura em Matemática, estão pouco presentes práticas discursivas que se refiram ao papel do professor de matemática frente aos clamores dos povos indígenas e afro-brasileiros e que isto se reflete posteriormente na não percepção de que a Lei 11.645/08 também diz respeito a ele. Mas a partir de uma postura marcada por uma conotação política na formação de professores, a Etnomatemática nos convida a pensar na instauração de práticas pedagógicas capazes de mudar o que temos sido. Penso que esta é tanto uma oportunidade quanto um desafio para os professores que atuam na Licenciatura em Matemática. 143 Restrinjamos nossas reflexões colocando em foco as identidades profissionais e, mais especificamente, a constituição da identidade dos professores de matemática. Rocha e Fiorentini (2006, p. 147) salientam que a constituição desta identidade tem a ver com a questão da internalização e assunção de papéis, de valores e de normas do grupo profissional, fazendo com que o professor de matemática – ou o futuro professor de matemática – interligue objetivos pessoais e profissionais e desenvolva uma imagem de si como professor, produzindo um sentido tanto sobre o que tem sido quanto sobre como será. Analisando segundo esta perspectiva, logo notamos que, historicamente, o professor de matemática tem internalizado o papel de que é responsável por abordar uma disciplina neutra, que nada tem a ver com questões tais como as discriminações raciais. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA De diferentes formas, alguns colegas e eu temos argumentado com os licenciandos que um mesmo conceito matemático pode ser abordado de variadas maneiras e algumas delas são capazes de provocar questionamentos e interpretações socialmente relevantes, como nos tem mostrado Skovsmose (2001), dentre outros. Para contribuir neste sentido, criamos, na Universidade Federal de Mato Grosso, o Grupo de Pesquisas em Etnomatemáticas Negras e Indígenas, que inclui entre seus objetivos: a) Gerar conhecimentos que possam ser utilizados para um ensino de Matemática que ressalte as culturas negra e indígena, de modo a apoiar as práticas dos professores desta área na implementação da Lei 11.645/08; b) Indicar à Universidade ações a serem tomadas na formação inicial e continuada de professores de Matemática, de modo a redimensionar as propostas de ação para uma formação multicultural. Em nossas pesquisas, percebemos que muitos trabalhos que procuraram explorar as questões pedagógicas relacionadas à Etnomatemática apresentam aproximações metodológicas – por exemplo, grande parte deles sugere que a modelagem ou a modelação matemática seja o caminho mais promissor ou adequado para que a Etnomatemática se faça presente na sala de aula. Trilhando outro caminho, nossas propostas têm-se pautado pelo diálogo intercultural. Este caminho não é inédito, visto que, por exemplo, Ferreira (1994) sugeria que o professor de matemática poderia abordar a concepção de frações para os Krahó, a importância das diagonais nos retângulos para os Tapirapés e a simetria de rotação na pintura corporal dos Kadawel, dentre outros. O que talvez seja inédito para a área da etnomatemática é o uso dos diálogos interculturais para abordar, concomitantemente, a história e a cultura dos negros e dos índios brasileiros. PÁGINA 144 O interesse pela abordagem conjunta das etnomatemáticas, das histórias e das culturas negras e das indígenas não se deve somente às dificuldades enfrentadas pelos professores com relação a um tempo já escasso para o ensino de conteúdos matemáticos. Essa forma de abordagem se deve também à adoção da ideia de que as identidades são relacionais; e por esta razão, um grupo humano é melhor compreendido tendo como “pano de fundo” um outro grupo (HALL, 2003). Mas deve-se, sobretudo, à ideia de que a abordagem conjunta das histórias e das culturas indígenas e das negras nas escolas incita ao debate sobre a constituição das diferentes formas de dominação entre os grupos que deram origem ao povo e à cultura brasileira — e o faz de modo que, ao fugir da armadilha dos discursos que fazem a apologia de uma democracia racial, não “derrape” para os discursos identitários ortodoxos. De qualquer modo, a adoção do diálogo intercultural como orientador das nossas ações pedagógicas não significa que, ao discutirmos, na formação de professores, a Lei 11.645/08, deixemos de mencionar autores que optam pela modelagem matemática. Por exemplo, os trabalhos do Prof. Paulus Gerdes quase sempre encontram espaço quando discutimos a relação entre ensino de matemática e culturas negras. Por vezes, também se torna necessário remetermos a uma abordagem que prima, sobretudo, pela análise de contexto. Por exemplo, algumas abordagens históricas sobre o tráfico negreiro estão repletas de informações matemáticas e estatísticas, como é o caso do trabalho de Florentino et all (2004). Nas ocasiões nas quais optamos por tal abordagem, pontuamos também que a história é vivenciada a cada dia e não se refere apenas a um passado remoto. Em vista disto, 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA estudos realizados pelo IPEA, IBGE e outros órgãos brasileiros podem ser utilizados nas aulas de matemática para abordar conceitos dessa disciplina e analisar, concomitantemente, as atuais condições de vida de negros e de índios brasileiros. Mas a abordagem das etnomatemáticas, das culturas e das histórias dos povos negros e as indígenas sob o ponto de vista do diálogo intercultural ocorre segundo outro ponto de vista histórico, a partir da chamada História Cultural. Este é um ramo da História que tem empreendido um diálogo profícuo com a Antropologia e, em vista disto, considera que os símbolos, as imagens, as pinturas, os mitos, os ritos, as mentalidades e as práticas culturais são acontecimentos que podem ser estudados para responder questões do tipo: como se constituíram os mecanismos de dominação e de exploração entre os grupos humanos? Como esses mecanismos, no que se refere à constituição cultural de um povo, se difundem, se confrontam e se perpetuam? Foi a partir desta aproximação com a História Cultural que passamos a destacar e explorar aspectos educativos presentes em festas populares, visto que elas propiciam a constituição de identidades por meio da transmissão de saberes, de valores, de modos e ser e de saber considerados válidos e relevantes para a uma determinada comunidade. Por exemplo, os maracatus foram objeto de minhas análises (COSTA, 2009), pois eles, além de envolverem vários conceitos matemáticos da geometria plana e espacial e da teoria de contagem, dentre outros, se constituem como uma rede de mito e história do qual emergem as formas pelas quais os colonizadores europeus, os africanos escravizados e os índios autóctones se relacionavam com o sagrado. Ao olhar para outra festa popular, a congada, a Profa. Cristiane Coppe de Oliveira e eu (COSTA e OLIVEIRA, 2010) propomos e analisamos, junto com diferentes grupos de professores, abordagens para o ensino de frações. Detectamos semelhanças e diferenças entre as festas realizadas no Mato Grosso e em Minas Gerais, destacando não só a origem da festa a partir das culturas africanas, mas também as diferenças ditadas pela interferência da cultura indígena e as formas de vivenciar a religiosidade cristã, ao mesmo tempo em que abordamos o conceito de frações, suas representações e até mesmo operações. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Sob o meu ponto de vista, o que realmente importa é que possamos intervir para a constituição individual e coletiva de práticas pedagógicas inéditas ao professor de matemática, práticas estas pautadas pelo ‘rompimento’ e ‘descontinuidade’, para a constituição da identidade docente como um processo de desestabilização, de conflito, de crítica e de possível modificação na relação que temos estabelecido não só com as culturas indígenas e afro-brasileiras, mas também com outras práticas. Pois bem, isto tem a ver não só com a necessidade de re(pensar) o papel da Matemática e do professor de Matemática, mas também com a necessidade de abrir fissuras nas práticas de formação dos professores 145 Contudo, quero aqui destacar que, para a (trans)formação de identidades docentes voltadas para a ação sobre âmbitos da sociedade onde o exercício do poder parece-nos intolerável, como é o caso do preconceito etnicorracial, não me parece ser especialmente importante se a ação pedagógica se pauta pelo uso da contextualização, da modelagem matemática ou do diálogo intercultural inspirados pela Etnomatemática. Também não penso que, como pesquisadores em Etnomatemática e formadores de professores, nosso principal fazer seja o de formalizar propostas pedagógicas voltadas para determinada cultura ou grupo humano. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA de matemática investindo em processos que envolvam a pesquisa em articulação com a docência, de modo que todos compreendamos que as propostas de ações pedagógicas não cabem apenas àqueles que se voltam para as pesquisas acadêmicas. Importa, sobretudo, que principalmente os professores em formação inicial se tornem capazes de perceber que a Etnomatemática contribui para que o ensino de matemática possa ser reinventado a todo momento, inclusive por eles próprios. REFERÊNCIAS BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Ed.: JZE, RJ, 2005 BORBA, Marcelo de Carvalho. Um Estudo de Etnomatemática: Sua Incorporação na Elaboração de uma Proposta Pedagógica para o “Núcleo-Escola” da Favela da Vila Nogueira - São Quirino, Dissertação de Mestrado, IGCE/UNESP, Rio Claro, 1987. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Publicado no DOU de 11.3.2008. COELHO, Fares Frade. A Abordagem da História e Cultura Afro-brasileira na Matemática do Ensino Fundamental e Médio. 2009. Relatório de Iniciação Científica. (Graduando em Licenciatura Em Matemática) - Universidade Federal de Mato Grosso, Programa de Bolsas de Iniciação Científica. COSTA, Wanderleya Nara Gonçalves. As histórias e culturas indígenas e as afro-brasileiras nas aulas de matemática. Educação em Revista, UFMG, v. 25, p. 175-197, 2009. COSTA, Wanderleya Nara Gonçalves; OLIVEIRA, Cristiane Coppe. Educação matemática e preconceitos raciais: as culturas africana e afrobrasileira na sala de aula. In: X ENEM Encontro Nacional de Educação Matemática, 2010, Salvador. Educação Matemática, Cultura e Diversidade, 2010. 146 D’AMBROSIO, U. Etnomatemática – Elo entre as Tradições e a Modernidade, Belo Horizonte, Ed. Autêntica, 2001. PÁGINA D’AMBROSIO, U. Educação Matemática: Da Teoria à Prática, 4a edição [1a ed. 1996], Campinas, Ed. Papirus, 1998. D’AMBROSIO, U. Etnomatemática. Arte ou Técnica de Explicar e Conhecer, 2a edição [1a ed. 1990]. São Paulo, Ed. Atual, 1993. ENRIQUEZ, Eugene. El sujeto humano: de la clausura identitaria a la apertura al mundo. In: DOREY, Roger et all. El inconsciente y la ciencia. Buenos Aires: Amorrortu, 1993, p. 51-80. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA FLORENTINO, M., RIBEIRO, A.V. e SILVA, D. D. Aspectos comparativos do tráfico de africanos para o Brasil (séculos XVIII e XIX). Afro-Ásia, n.31, 2004, pp. 83-126. HALL, Stuart. “Quem precisa de Identidade?”. In: Identidade e Diferença: A Perspectiva dos Estudos Culturais. SILVA, Tomaz Tadeu da. (Org). Petrópolis: Vozes,2003. KNIJNIK, G. Exclusão e Resistência: Educação Matemática e Legitimidade Cultural, Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1996. MONTEIRO, A. Etnomatemática: As Possibilidades Pedagógicas num Curso de Alfabetização para Trabalhadores Rurais Assentados, Tese de Doutorado, FE/Unicamp, Campinas, 1998. ROCHA, L.P.; FIORENTINI, D. Desenvolvimento profissional do professor de Matemática em início de carreira no Brasil. Quadrante: Revista teórica e de investigação. Lisboa: APM, v.15, n.1-2, p.145-168, 2006. ROSA, M.; OREY, D.C. Etnomatemática com ação pedagógica. In: MOREY, B.B. (Ed.). Coleção introdução à etnomatemática. Natal: UFMTN, 2004, v. 5. PÁGINA 147 SKOVSMOSE, O. Educação matemática crítica: a questão da democracia. Campinas, SP: Papirus, 2001. – Coleção Perspectivas em Educação Matemática. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PANEL: LA SOCIOEPISTEMOLOGÍA: SUS BASES, ALCANCES Y PERSPECTIVAS Dra. Rosa María Farfán (Cinvestav - IPN, México) Participantes: Dra. Cecilia Crespo (Argentina), Dra. Leonora Díaz (Chile) y Dr. Ricardo Cantoral (Cinvestav-IPN, México) PÁGINA 148 La socioepistemología surge con el reconocimiento de que el discurso matemático escolar es fuente de dificultades en el aprendizaje de los estudiantes. A partir de ello se buscó dotar de significación a los conceptos matemáticos y en el transcurso hemos detectado diversas prácticas de referencia de las que se desprenden prácticas sociales. Una necesidad básica requería dotar a la investigación de una aproximación sistémica y situada, que permita incorporar las cuatro componentes fundamentales en la construcción del conocimiento; su naturaleza epistemológica, su dimensión sociocultural, los planos de lo cognitivo y los modos de transmisión vía la enseñanza. Por ejemplo, el pensamiento y el lenguaje variacional es entendido como una línea de investigación que, ubicada al seno de la socioepistemología, permite tratar con la articulación entre la investigación y las prácticas sociales que dan vida a la matemática de la variación y el cambio en los sistemas didácticos. Actualmente se desarrollan estudios sobre currículo, en los que se busca determinar cuáles deben ser los contenidos por enseñar, considerando la evolución de la matemática y las necesidades sociales que el sistema educativo espera cubrir con la escuela; otra mas sobre la instrucción, es decir de las actividades que acompañan al aprendizaje, se busca la mejora de los métodos de enseñanza, los problemas que se enmarcan en torno a la transmisión oral del conocimiento, los procesos cognitivos, la motivación y creación de actitudes positivas. Se pone cierta atención sobre recursos, específicamente sobre aquellos que refuerzan el proceso de enseñanza, los materiales educativos, las calculadoras y computadoras, y la manera en que los medios audiovisuales se habrían de introducir en las aulas. Así mismo se realizan investigaciones que tratan de la vida del conocimiento en la escuela. Se busca determinar la influencia que el sistema escolar ejerce en los aprendizajes; se determinan las matemáticas que se aprenden en y fuera de la escuela y se trata del papel de los medios de comunicación, los entornos familiares o gregarios con los grupos de estudiantes. Se quiere también investigar sobre el sistema escolar para saber el rumbo y sentido de las decisiones políticas o sociales que modifican el funcionamiento del sistema educativo. En síntesis, nuestros esfuerzos consideran como objeto de estudio a la socioepistemología de los saberes matemáticos e incluye las intuiciones primarias del alumno con el fin de rediseñar el discurso matemático escolar. En el panel los participantes abordarán sus investigaciones especificas y consideraciones generales sobre la teoría socioepistemológica. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 149 XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA LA PERSPECTIVA SOCIOEPISTEMOLÓGICA Y LAS COMPRENSIONES DE LA CONSTRUCCIÓN Y RECONSTRUCCIÓN DE SABERES MATEMÁTICOS Leonora Díaz Moreno Postgrado en Educación Matemática, U. de Los Lagos, Chile [email protected] Todos los niveles, Socioepistemología RESUMEN Los estudios socioepistemológicos, para ser propositivos y útiles a la comunidad, deben enfocarse en determinados aspectos, por lo que los matices que toman las unidades básicas de análisis de prácticas sociales, prácticas de referencia, actividades, resignificaciones y prácticas socioescolares difieren entre ellos. Se propone una matriz analítico-interpretativa para caracterizarlos, tomando en cuenta como una unidad dialéctica a las cuatro dimensiones polares de sus ejes de sujetos y construcciones consideradas en ella. Se sitúan estudios con referencia a esta matriz ilustrando cómo la perspectiva socioepistemológica toma presencia entre las comprensiones acerca de la construcción y reconstrucción de saberes matemáticos. Palabras clave: Socioepistemología, Estudios en Matemática Educativa. PÁGINA 150 TRABAJO Acerca de la socioepistemología. El acercamiento socioepistemológico considera necesario dotar a la investigación - sobre la enseñanza y los aprendizajes matemáticos - de una aproximación sistémica y situada, o sea que atiende a las circunstancias y escenarios socioculturales particulares, que permita incorporar las cuatro componentes fundamentales en la construcción del conocimiento: su naturaleza epistemológica, su dimensión sociocultural, los planos de lo cognitivo y los modos de enseñanza, ópticas que a su vez permiten comprender al conocimiento matemático como una construcción sociocultural. En términos de Lezama (2005, pp.341, citado por Crespo, 2007): “La socioepistemología se plantea el examen del conocimiento situado, aquel que atiende a las circunstancias y escenarios socioculturales particulares. El conocimiento, en este caso, se asume como el fruto de la interacción entre la epistemología y los diversos factores sociales”. Por medio del reconocimiento de la naturaleza y construcción social del conocimiento matemático, se prioriza la actividad humana contrastando con los enfoques teóricos que giran alrededor del objeto matemático. Esta aproximación permite por ejemplo a Martínez (2005) arribar a que 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA la noción de convención matemática, usualmente considerada como preestablecida e inmóvil, se revele como un proceso de construcción del conocimiento, a saber, como una conveniencia para la matemática con el objeto de evitar contradicción o darle unidad, cuestionando entonces la idea de validez universal del conocimiento matemático. Así, las comunidades de matemáticos, en escenarios adecuados, construyen conocimiento a partir de las prácticas sociales de ese escenario y de las instituciones de ese escenario, mismas que corporalizan, validando, objetos matemáticos. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA La noción de prácticas socioescolares. Se propone esta noción para dar cuenta de desarrollos socioepistemológicos latinoamericanos que apuntan a visibilizar las complejas imbricaciones de la actividad de las personas en escenarios escolares, con las prácticas sociales. El estudio socioepistemológico germinal se enfocó en una escala mayor o macro social, condicionando los otros niveles. Buscó paradigmas de base epocales de la actividad matemática con base en la cosmología sistémica newtoniana, levantando argumentos a ese nivel: “una gran traslación del problema, el pasaje de dependencias funcionales al análisis del principio fenomenológico. Sobre la naturaleza de las leyes que regulan el comportamiento de los sistemas” (Cantoral, 2001, p5). Es natural en ese contexto hablar de lo normativo como central a una práctica social, asociado a una visión sistémica, alejándose de la acción y de la actividad directamente expresadas. En esa escala argumentativa acciones y actividades involucrados en los aprendizajes quedan subordinadas, a una mirada sistémica, en que ese orden se torna el centro de las significaciones. Por su parte, lo pedagógico y lo didáctico que se responsabilizan de los aprendizajes suele focalizarse en una escala menor, en un espacio ecológico y temporal, es decir un micro espacio de construcción de significados. Se propone entonces a las prácticas socioescolares como otra noción central a los estudios socioepistemológicos, para estudiar la actividad de las personas en la microecologia escolar y la cultura asociada a ello. Este foco de mirada socioepistemológica desde las tramas de las relaciones en el cual el evento educativo se encuentra inserto, hace emerger como objetos válidos de investigar, entre otros, las epistemologías de los sujetos y sus prácticas educativas, últimas que también enactúan en el triángulo didáctico en el escenario del aula. Ello es coherente con una concepción de 151 Desde la perspectiva socioepistemológica se han establecido unidades centrales de análisis a tener en cuenta en una investigación (Martínez, 2005; citado por Crespo, 2007): (1) La noción de actividad humana, que permite explicar el conocimiento en términos de herramientas usadas por las personas para hacer matemáticas; (2) La noción de resignificación que se orienta a presentar el conocimiento con significados propios, contextos, historia e intención, contraponiéndolo a la idea platónica de preexistencia de los objetos y procesos matemáticos; (3) La noción de práctica social, medular en la socioepistemología, que se refiere a las acciones intencionales de los grupos humanos para transformar la realidad social y material. Otra unidad central de análisis: (4) las prácticas de referencia, observables tanto en los individuos como en los grupos humanos, como un conjunto articulado de actividades, por lo que permiten dar visibilidad a elementos de las prácticas sociales (Montiel, 2005). Las prácticas de referencia permiten la articulación de la actividad de las personas con las prácticas sociales. A su vez, esas fungen como reguladoras de las prácticas de referencia y de las actividades de las personas relacionadas a estas prácticas de referencia. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA realidad social donde los sujetos, por el hecho de formar parte de esa trama compleja de interacciones, se encuentran involucrados en una estructura dinámica de significados sociales y culturales. Para explicar una realización estudiantil específica de aula o unas prácticas docentes cotidianas, se estudian prácticas socioescolares, epistemes socioculturales y construcciones socio-históricas de saberes desde marcos socioepistemológicos. Toman relevancia la disposición e interrelación de los diversos ámbitos componentes, que se juegan en distintos planos y tiempos, configurando una peculiar forma y propiedades agregadas para esa realización o esa práctica. Cierra esta presentación proponiendo una matriz analítico–interpretativa para caracterizar aproximaciones de estudio a los procesos de construcción y reconstrucción de saberes matemáticos. Este contempla dos ejes categoriales, uno constituido por los sujetos personales - institucionales y el otro por las construcciones sociales-locales. REFERENCIAS Crespo, C. (2007) Las Argumentaciones Matemáticas desde la visión de la Socioepistemología. Tesis Doctoral en Ciencias en Matemática Educativa. Cicata – IPN. Ciudad de México. Cantoral, R. (2001) Matemática Educativa. Un estudio de la formación social de la analiticidad. Grupo Editorial Iberoamérica. Ciudad de México. Díaz, L. (2010) Construcción y reconstrucción de saberes matemáticos escolares. Proyecto Diumce 2008-2009. Informe Final en repositorio institucional. Chile. Martínez, G. (2005). Los procesos de convención matemática como generadores de conocimiento. RELIME, 8(2), 195-218. PÁGINA 152 Montiel, G. (2005) Estudio socioepistemológico de la función trigonométrica. Tesis Doctoral, CICATA – IPN, México. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PESQUISAS EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: DESAFIOS NA PRODUÇÃO Ligia Arantes Sad UFES – Brasil [email protected] Pós-Graduação/ História da Matemática RESUMO PÁGINA 153 Um dos maiores desafios da atualidade do pesquisador em História da Matemática no Brasil é conseguir a harmonia coletiva entre as fontes, a escrita e o lugar de produção argumentativa das análises. Com esta preocupação central, apresento reflexões sobre esses enfrentamentos a partir das pesquisas de um grupo capixaba. Os interesses destes pesquisadores em história da matemática têm se direcionado a temáticas variadas. Contudo, embora seja um quadro de pesquisas de pouco mais de duas décadas, pode-se notar um movimento das tendências interpretativas da história e das considerações aos documentos e fontes. Observa-se inicialmente passagens por uma história mais centrada nos relacionamentos factuais dos documentos, até as raízes atuais da micro-história, com interface mais social e cultural. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A PESQUISA NO CAMPO DAS RELAÇÕES ENTRE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: TRÊS EXEMPLOS Maria Laura Magalhães Gomes Departamento de Matemática Programa de Pós-graduação em Educação –FAE-Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). PÁGINA 154 Em um texto publicado em 2001, Antonio Miguel e Maria Ângela Miorim apresentaram os resultados de um estudo minucioso que buscou levantar e analisar as circunstâncias históricas que teriam levado à autonomização de três campos de investigação originariamente indissociados no interior do campo da matemática: a história da matemática, a educação matemática e as relações entre a história e a educação matemática. Nesse texto (MIGUEL; MIORIM, 2001), os autores, a partir do pressuposto de que a configuração da autonomia entre campos de investigação estaria estabelecida quando se pudessem identificar, em seu desenvolvimento, os três indicadores que serão descritos logo adiante, analisam como esses indicadores teriam se manifestado, no decorrer do tempo, para os campos da história da matemática, da educação matemática e das relações entre história e educação matemática. Os três indicadores fixados por Miguel e Miorim (2001) são: o surgimento dos primeiros textos específicos sobre questões relativas ao campo considerado; a existência de discussões coletivas a respeito de questões referentes ao novo campo de conhecimento e investigação refletidas ou não em publicações, mas caracterizando uma passagem de uma etapa de preocupações individuais e isoladas para um estágio de difusão, penetração e preocupação coletiva em relação às mesmas questões; o aparecimento de instituições interessadas no desenvolvimento de investigações e na delimitação do novo campo do conhecimento. Miguel e Miorim realizaram um levantamento referente a esses indicadores para os três campos e apresentam, em seu texto, muitos exemplos desses mesmos indicadores especificamente para a história da matemática, a educação matemática e as relações entre história e educação matemática. Embora esse levantamento aponte para uma conclusão quanto à existência de uma autonomia efetiva da história da matemática, da educação matemática e das relações entre história e educação matemática como áreas de investigação, os autores, ao finalizar seu trabalho, sinalizam também para o fato de que não há, a rigor, um rompimento completo entre campos originalmente vinculados como os referidos. Para concluir, é importante observar que o processo de constituição da autonomia de um campo de investigação é bastante complexo, sobretudo pelo fato de ser um movimento 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA politicamente condicionado por solicitações contextuais de naturezas diversas. A configuração epistemológica do novo campo em constituição se altera ao longo do tempo, uma vez que os campos do saber com os quais mantém diálogo são ampliados, modificados ou concebidos de novas maneiras, além de modificar-se também a própria forma como esse diálogo é estabelecido. Deste modo, ao mesmo tempo em que existe um movimento de afastamento do novo campo em relação àquele ao qual estava originalmente vinculado, nunca há, a rigor, uma ruptura total com este. No caso dos três campos a que nos referimos neste artigo, isto pode ser confirmado de várias formas e em vários momentos. É claro que em todos eles, a matemática constituiu e ainda constitui um campo natural de diálogo (MIGUEL; MIORIM, 2001, p. 59). Em um trabalho recente, Miguel e Miorim, agora com a contribuição adicional de Arlete Brito, tornam mais precisa a diferenciação entre história na educação matemática e história da educação matemática quanto a temáticas e métodos. É importante que se ressalte a caracterização de ambas, pelos autores, como campos complexos e diversificados. Para a história da educação matemática, Miguel, Miorim e Brito (2012) assinalam, indispensavelmente, a presença de métodos históricos em investigações que se voltam, em 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Antes, porém, de apresentar e comentar essas pesquisas, penso que é oportuno destacar as duas principais formas de relações entre história e educação matemática, uma vez mais me valendo do estudo de Antonio Miguel e Maria Ângela Miorim. Em seu artigo, os autores identificam essas duas formas como se explica a seguir. O tipo de relações no qual os interesses se concentram, preponderantemente, na participação da história em diversas áreas da educação matemática é a forma denominada história na educação matemática. O segundo tipo de relações entre história e educação matemática é aquele em que os interesses principais residem na constituição de histórias de vários aspectos ou áreas da educação matemática. Essa segunda forma é chamada de história da educação matemática. 155 Nesta mesa dedicada à pesquisa em história da matemática no Brasil durante um evento nitidamente localizado no campo da educação matemática, torna-se importante lembrar outra conclusão específica de Miguel e Miorim: referindo-se aos campos específicos da história da matemática e das relações entre história e educação matemática, eles salientam que, conquanto seja claro o processo de constituição de autonomia entre ambos, “por outro lado é inegável que esses campos ainda possuem uma estreita relação de dependência” (MIGUEL; MIORIM, 2001, p. 259). Lembram os autores que, desde que a história da matemática passa a ser vista como um campo fértil de interlocução com a educação matemática, o sentido de fazer história da matemática se amplia e passa também a significar realizar diferentes tipos de investigações, entre elas as que concernem mais propriamente às relações entre história da matemática e educação matemática. É com essa ideia que justifico a escolha do tema a ser focalizado em minha participação nesta mesa. Minha intenção é, assim, abordar algumas possibilidades de pesquisa no campo das relações entre história e educação matemática. Para isso, recorrerei a três exemplos distintos de trabalhos desenvolvidos por mim e meus orientandos no Programa de Pósgraduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA quaisquer épocas e contextos, na direção de aspectos quaisquer de diferentes campos da atividade humana nos quais práticas mobilizadoras de cultura matemática são realizadas com propósitos intencionalmente educativos. Em relação à história na educação matemática, os três autores indicam o envolvimento de métodos variados constituídos no âmbito das ciências sociais e humanas para pesquisas relacionadas a diferentes usos da história (particularmente da matemática e da educação matemática), bem como a potencialidades, implicações e problematizações desses usos em diferentes campos da atividade humana nos quais práticas mobilizadoras de cultura matemática se realizam com propósitos intencionalmente educativos e/ou investigativos28. Os três trabalhos que pretendo apresentar brevemente para ilustrar as possibilidades de pesquisa no campo das relações entre história e educação matemática se distribuem entre as duas formas anteriormente mencionadas – história na educação matemática e história da educação matemática. Desse modo, a pesquisa de mestrado, já concluída, de Roque (2012), promoveu uma investigação sobre a participação da história da matemática em salas de aula do 7º ano do Ensino Fundamental, caracterizando-se como um trabalho de história na educação matemática. Por sua vez, os trabalhos de doutorado em andamento de Diogo Alves de Faria Reis e Shirley Patrícia Nogueira de Castro e Almeida, que investigam, respectivamente, práticas e propostas de formação de professores para os anos iniciais da educação escolar no que se refere à matemática, em Minas Gerais, no período de 1927 a 1946, e a história da formação de professores de matemática no norte do estado de Minas Gerais, no curso de licenciatura da atual Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES, são investigações de história da educação matemática. PÁGINA 156 Uma pesquisa sobre a participação da história na educação matemática O trabalho de Ana Catarina Cantoni Roque buscou investigar as potencialidades pedagógicas da história da matemática, particularmente em relação ao conteúdo “números inteiros” no trabalho pedagógico em salas de aula do 7º ano do Ensino Fundamental. A investigação foi conduzida à luz de uma perspectiva de aprendizagem situada, com base nos estudos de Lave (1988), Lave e Wenger (1991) e Wenger (1998), e teve três objetivos: 1) identificar potencialidades pedagógicas da história da matemática mais evidentes em sala de aula; 2) identificar as formas de participação dos alunos durante a realização de atividades com a presença de aspectos históricos, na perspectiva de aprendizagem situada adotada; 3) investigar mudanças de participação e consequente aprendizagem desses estudantes, buscando compreender como a presença da história contribui para essas mudanças. 28 Ainda que Miguel, Miorim e Brito sublinhem o fato de não pretenderem que as linhas demarcatórias entre esses campos e o da história da matemática sejam vistas como rígidas ou consensuais, eles também enfatizam que a tipificação dos três campos coloca em evidência diferenças político-metodológicas e metodológicas que, no Brasil, se manifestam nas práticas de pesquisa de uma comunidade acadêmica heterogênea de pesquisadores. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Partindo do pressuposto de que a história, se constituída para fins pedagógicos e em articulação com outras variáveis que intervêm no processo de ensino-aprendizagem, pode trazer contribuições importantes para a educação matemática escolar, foi elaborado, em cooperação com uma professora (Josi) de uma escola da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, um conjunto de atividades relacionadas à História da Matemática referentes ao tema “números inteiros”, que foram utilizadas nas práticas pedagógicas desenvolvidas em turmas de 7º ano do Ensino Fundamental. A coleta de material empírico foi realizada durante aproximadamente três meses de observação participante em aulas dessa professora, especialmente naquelas em que essas atividades foram desenvolvidas. Como instrumentos de coleta de material empírico, foram utilizados diário de campo, gravações em áudio e vídeo, aplicação de dois questionários aos alunos e entrevistas com a professora e com alguns alunos. Deve ser observado que a investigação, de acordo com o que assinalam Miguel, Miorim e Brito em relação a pesquisas de história na educação matemática, não fez uso de métodos históricos, baseando-se na observação participante em sala de aula e na cooperação com a professora das turmas envolvidas, ao mesmo tempo que a análise do material empírico valeu-se de diálogos com pesquisadores do campo da antropologia e da educação matemática. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA No que se refere aos demais objetivos do estudo, a perspectiva teórica que orientou a pesquisa concebe a aprendizagem como parte integral da prática social, de tal forma que não existe aprendizagem desvinculada de uma prática. Nessa perspectiva, o interesse se desloca do indivíduo para as atividades e práticas de aprendizagem nas quais ele está inserido, sendo a aprendizagem vista como algo que ocorre socialmente, coletivamente, nas atividades desenvolvidas pelos alunos dentro de práticas efetivas e situadas. A aprendizagem é vista, então, como mudança de participação do indivíduo numa prática. Buscamos, então, observar e identificar as formas de participar das aulas da professora Josi, atentando para o reconhecimento dessas práticas, pela professora e pelos alunos, como formas de participação. Considerando-se essas formas, percebemos que os alunos tinham níveis diferentes de participação, que iam desde a participação marginal até a participação plena, e observamos que a participação, de modo geral, foi mais intensa quando eram desenvolvidas atividades relacionadas à história. Assim, os alunos que participavam de 157 No que diz respeito à identificação das potencialidades pedagógicas da história da matemática mais evidenciadas, as conclusões da pesquisa, a partir do trabalho de Miguel (1997), Miguel e Miorim (2004) e Tzanakis et al (2000) concernem à percepção da história como fonte de motivação para o ensino-aprendizagem, como fonte de métodos pedagogicamente adequados e interessantes para a abordagem dos números negativos, como um instrumento capaz de promover uma aprendizagem significativa e compreensiva do mesmo conteúdo. Além disso, há evidências de que os estudantes passaram a compreender melhor que a matemática é uma criação humana desenvolvida ao longo do tempo, bem como perceberam que dúvidas, erros e incertezas fazem parte de seu desenvolvimento. A investigação também mostrou a contribuição das atividades trabalhadas para o enriquecimento do repertório didático da professora que cooperou com a investigação. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA maneira plena nas aulas de Matemática da professora Josi continuaram a ser participantes plenos nas aulas em que as atividades propostas por nós foram desenvolvidas, ou seja, nenhum aluno deixou de ser participante pleno para ser participante periférico legítimo ou participante marginal nas aulas em que a História esteve presente. Com relação aos estudantes que eram participantes marginais ou participantes periféricos legítimos, vários deles mudaram sua forma de participação, movendo-se rumo a uma participação mais intensa. Duas investigações em história da educação matemática As duas pesquisas a que me referirei agora aqui têm como propósito investigar a história da formação de professores para ensinar matemática no Brasil. Envolvendo práticas mobilizadoras de cultura matemática com intenções educativas e conduzidos por métodos históricos, esses trabalhos em andamento configuram-se claramente como investigações do campo da história da educação matemática segundo Miguel, Miorim e Brito (2012). Além disso, inserem-se, inequivocamente, em um dos cinco eixos temáticos29 identificados por esses autores a partir de um levantamento realizado em dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil no período 1984-2010 – o das histórias de formação de professores. PÁGINA 158 No entanto, como veremos, essas duas investigações são trabalhos completamente distintos no que diz respeito à época, ao tipo de formação e de professor visado por essa formação e, ainda, em relação às fontes mobilizadas. O projeto de Reis (2011) investiga práticas e propostas de formação de professores para os anos iniciais da educação escolar no que se refere à Matemática, em Minas Gerais, no período de 1927 a 1946, no contexto da Escola de Aperfeiçoamento, instituição situada na capital do estado, Belo Horizonte, e criada como um dos componentes das reformas educacionais realizadas pelo governo do presidente estadual Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. A Escola de Aperfeiçoamento visava oferecer às docentes mineiras em exercício no ensino primário um curso sintonizado com os princípios dessas reformas, associadas ao movimento da Escola Nova, para preparar adequadamente profissionais que seguissem as novas diretrizes pedagógicas. Foi, assim, uma importante instância de formação continuada de professores para a escola primária mineira, que permaneceu em funcionamento de 1929 a 1946. A investigação de Diogo Reis se realiza a partir do estudo do arquivo pessoal da professora mineira Alda Lodi (1898-2002), responsável pela disciplina Metodologia da Aritmética na Escola de Aperfeiçoamento. Alda Lodi fez parte de um grupo de cinco professoras enviadas pelo governo de Minas Gerais para aperfeiçoar-se (visando a atuação na Escola de Aperfeiçoamento) nos Estados Unidos, no Teacher’s College da Universidade 29 A partir de seu estudo, Miguel, Miorim e Brito apontam os seguintes cinco eixos temáticos nas investigações em história da educação matemática no Brasil no período 1984-2010: histórias de formação de professores de matemática; histórias do ensino de matemática, em qualquer nível; histórias de artefatos didáticos relacionados e/ou voltados à educação matemática; histórias de grupos culturais ou comunidades de prática envolvidos com educação matemática; histórias da produção científico-acadêmica em educação matemática (MIGUEL; MIORIM; BRITO, 2012). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA de Columbia, em Nova York, e esteve nessa instituição por dois anos, entre 1927 e 1929 (FONSECA, 2010). O arquivo de Alda Lodi consta de uma coleção de quase dois mil livros; documentos institucionais; correspondências privadas e institucionais; agendas de uso pessoal e profissional; cadernetas de anotações de gastos pessoais e das instituições onde trabalhou; boletos bancários e contracheques; planos de aulas, cadernos, exercícios e provas de exalunas; manuscritos; recortes e exemplares de jornais e revistas nacionais e estrangeiras; fotografias avulsas e álbuns fotográficos; trabalhos escolares e desenhos de crianças da família; diplomas; itens ligados à sua fé católica; pequenos objetos e uma grande coleção de receitas culinárias. A pesquisa de Diogo Reis explora, assim, um acervo bastante significativo, que pertenceu a uma professora cuja atuação na formação docente para a escola primária teve destaque no estado de Minas Gerais. O trabalho focaliza um momento cujas características, no que se refere ao ensino da Matemática para a escola primária, até agora foram pouco investigadas – trata-se do período em que tem força, no Brasil, o complexo ideário escolanovista. É fundamental lembrar a importância do modelo pedagógico específico da Escola Nova30 por sua ampla e duradoura repercussão: segundo Souza (2008), foi um modelo cujos efeitos se fizeram sentir até 1970 em nosso país. A segunda pesquisa em história da educação matemática que focalizarei é, como já foi dito, também referente à formação de professores para o ensino da matemática. O trabalho de Almeida (2011) intenciona, como já foi dito, constituir uma história da formação de docentes de Matemática para os anos posteriores à antiga escola primária, que atualmente correspondem ao final do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, isto é, pretende investigar um curso de licenciatura – o da atual Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Essa instituição se localiza na cidade de Montes Claros, no norte de Minas Gerais. O período abordado se estende desde a década de 1960, quando foi criada uma instituição privada, a FUNM – Fundação Universidade Norte-Mineira – até o início dos anos 1990 – marco de criação da UNIMONTES. A FUNM foi estabelecida pela Lei Estadual nº 2.615, de 24 de maio de 1962, enquanto a UNIMONTES resultou da transformação dessa fundação em universidade estadual por lei de 21 de setembro de 1989. Peyronnie e Vergnioux (2011) afirmam que o escolanovismo poderia ser caracterizado por alguns traços: conhecimento psicológico da criança, experiência e experimentação, métodos e instrumentos pedagógicos específicos, ação sobre os contextos e pedagogia ativa. 31 O GHOEM é um grupo de pesquisa formalmente constituído desde 2002. Informações sobre as pesquisas 31 desenvolvidas e os participantes do grupo podem ser encontradas no site www.ghoem.com. O projeto de mapeamento histórico da formação e atuação de professores de Matemática já realizou trabalhos sobre os estados de São Paulo, Goiás, Maranhão, Tocantins, Santa Catarina, entre outros, focalizando diferentes níveis e tipos de ensino (GARNICA; FERNANDES; SILVA, 2011). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 30 159 A investigação, que se encontra em fase inicial, integra o projeto de caráter amplo e sem previsão de conclusão empreendido pelo Grupo de História Oral e Educação Matemática – GHOEM31 cuja meta é “mapear” historicamente as práticas de formação e atuação de professores de Matemática no Brasil. Utilizaremos a metodologia da História Oral, segundo XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA os parâmetros do grupo (GARNICA; FERNANDES; SILVA, 2011). De acordo com esses parâmetros, serão constituídas fontes a partir da oralidade por meio da realização de entrevistas com sujeitos envolvidos na criação e na atuação do curso referido anteriormente. Em síntese, a aplicação dos procedimentos regulares do GHOEM nessa pesquisa particular envolve: 1) a seleção de um grupo inicial de colaboradores cuja memória é considerada relevante para se compreender a história do curso de Licenciatura em Matemática da UNIMONTES no período de referência, esperando-se que esses colaboradores apontem outras pessoas que possam contribuir na pesquisa (de acordo com o chamado “critério de rede”); 2) a elaboração de roteiros de entrevistas que serão colocados à disposição dos colaboradores, se eles os solicitarem, anteriormente à realização das entrevistas; 3) o direcionamento das entrevistas (quantas forem necessárias, dentro das necessidades da pesquisa e da disponibilidade dos colaboradores) para os temas da criação, estabelecimento e funcionamento do curso de Licenciatura em Matemática da UNIMONTES até o momento da estadualização da universidade, levando-se em conta, também, as experiências de vida dos colaboradores e sua interação com o tema da investigação; 4) a gravação, transcrição e textualização das entrevistas32 e sua apresentação a cada depoente com a solicitação de sua autorização para uso no trabalho. PÁGINA 160 Diversas outras fontes se reunirão ao material das entrevistas (gravação, transcrição, textualização) para a constituição de uma história do curso de Licenciatura em Matemática da UNIMONTES no período de interesse: recorreremos a fontes escritas/documentais, tais como o acervo bibliográfico da instituição; projetos político-pedagógicos, programas das disciplinas e demais documentos do curso; periódicos científicos de Educação e Educação Matemática; impressos produzidos nas instituições que antecederam a UNIMONTES; jornais e legislação educacional; diários de classe, provas, anotações dos professores e cadernos de alunos; fontes iconográficas representadas por filmes e fotografias. A década de 1960 foi um período de expansão da oferta educacional em todos os níveis no Brasil (CUNHA; GÓES, 1999) e particularmente dos cursos de Licenciatura em Matemática (MARTINS-SALANDIM, 2012). Foi também o momento em que ocorreu a reforma do Ensino Superior, regulamentada pela Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, e um período no qual se acentuou, no estado de Minas Gerais, a busca da modernização econômica, política e educacional. Montes Claros é uma cidade que polariza muitos outros municípios do norte de Minas, e a UNIMONTES é uma instituição importante na formação de professores de Matemática. A enorme diversidade do Brasil se reflete também nas histórias de formação e atuação desses docentes, o que tem sido evidenciado pelas pesquisas do GHOEM em várias regiões. O trabalho de Shirley Almeida inscreve-se, assim, com pertinência, no projeto de amplo espectro em realização pelo grupo. PARA FINALIZAR Com os três exemplos de investigações de que venho participando como orientadora, tive a intenção de mostrar que há diferentes possibilidades de trabalho para os interessados no 32 A textualização pode ser feita de diversas maneiras, mas é sempre uma edição da entrevista transcrita que é realizada pelo pesquisador. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA campo das relações entre história e educação matemática. Entre as duas formas principais dessas relações – história na educação matemática e história da educação matemática – a segunda parece ter crescido mais em nosso país. É o que atesta o estudo recente de Miguel, Miorim e Brito (2012), que localizou mais de 200 trabalhos entre dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas no Brasil entre 1984 e 2010. Devemos lembrar que, embora em menor número, as investigações em história na educação matemática também têm se constituído em interesse dos pesquisadores brasileiros. Um estudo que sistematizou e analisou as produções nesse campo apresentadas nos Seminários Nacionais de História da Matemática e nos Encontros Luso-Brasileiros de História da Matemática até 2007 foi realizado por Souto (2010). A autora afirmou, em sua conclusão, que “a defesa das potencialidades didáticas da História da Matemática, há muito veiculada pelos discursos de professores, de autores de livros didáticos e de gestores da educação pública, ainda não se materializou em experiências ou investigações que promovam efetivamente essa articulação” (SOUTO, 2010, p. 535). Como o estudo de Souto não abrangeu o período posterior a 2007, é possível, porém, que já contemos, atualmente, com mais pesquisas realizadas. REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. P. N. de C. Um lugar: muitas histórias – O processo de formação de professores de Matemática na região de Montes Claros – norte de Minas Gerais (1960-1990). Projeto de pesquisa de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. CUNHA, L. A.; GOÉS, M. de. O golpe na educação. 10ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1999. FONSECA, N. M. L. Alda Lodi, entre Belo Horizonte e Nova Iorque: um estudo sobre formação e atuação docentes – 1912-1932. 2010. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. GARNICA, A. V. M; FERNANDES, D. M.; SILVA, H. da. Entre a amnésia e a vontade de nada esquecer: notas sobre Regimes de Historicidade e História Oral. Bolema, Rio Claro, v. 25, n. 41, p.213-250, 2011. LAVE, J; WENGER, E. Situated learning: Legitimate Peripheral Participation. New York: Cambridge University Press, 1991. 161 MARTINS-SALANDIM, M. E. A interiorização dos cursos de Matemática no estado de São Paulo: um exame da década de 1960. 2012. 379 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática). Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2012. PÁGINA LAVE, J. Teaching, as Learning, in Practice. Mind, culture and activity, v. 3, n. 3, p. 149161, 1996. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA MIGUEL, A.; MIORIM, M. A. A constituição de três campos afins de investigação: História da Matemática, Educação Matemática e História & Educação Matemática. Teoria e Prática da Educação, Maringá, v. 4, n. 8, p. 35-62, 2001. MIGUEL, A.; MIORIM, M. A.; BRITO, A. J. History of mathematics education in Brazil (Article 6.132.55). 2012. No prelo. MIGUEL, A. As potencialidades pedagógicas da História da Matemática em questão: argumentos reforçadores e questionadores. Zetetiké, Campinas, v. 5, n. 8, p. 73-105, jul./dez. 1997. MIGUEL, A.; MIORIM, M.A. História na Educação Matemática: propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. 198p. (Coleção Tendências em Educação Matemática). PEYRONNIE, H.; VERGNIOUX, A. Escolanovismo. In: ZANTEN, A. V. (coord.) Dicionário de Educação. Vários tradutores. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 346-352. REIS, D. A. F. História da formação de professores de Matemática para os anos iniciais em Minas Gerais: um estudo a partir do acervo de Alda Lodi (1927-1946). Projeto de pesquisa de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. ROQUE, A.C. C. Uma investigação sobre a participação da história da matemática em uma sala de aula do Ensino Fundamental. 2012. 147f. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012. SOUTO, R. M. A. História na Educação Matemática – um estudo sobre trabalhos publicados no Brasil nos últimos cinco anos. Bolema, Rio Claro, v. 23, n. 35-B, p.515-536, 2010. SOUZA, R. F. Lições da escola primária. In: SAVIANI, D. et al. O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2004, p. 109-161. WENGER, E. Communities of practice: learning meaning and identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. PÁGINA 162 TZANAKIS, C.; ARCAVI, A. et al. Integrating history of mathematics in the classroom: an analytic survey. In: FAUVEL, J; VAN MAANEN, J. (Ed.). History in Mathematics Education: the ICMI study. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2000. p. 201-240. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA Dra. Maria do Carmo Vila Universidade Federal de Ouro Preto (Brasil) [email protected] RESUMO Este artigo tem como finalidade descrever e analisar a oferta de cursos de Licenciatura de Matemática, na modalidade a distância, por instituições públicas de ensino superior com o apoio de políticas públicas de fomento à Educação a Distância. Apresenta um retrospecto das políticas que apoiaram a formação de professores de Matemática na modalidade a distância, descreve o cenário atual da oferta de licenciaturas de matemática no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e discute alguns desafios que se impõem na continuidade dessa oferta. Palavras-chave: políticas públicas; educação a distância; Licenciatura de Matemática. INTRODUÇÃO Em 1923 surgiu o rádio educativo com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e, nos anos 60, começa a ser usada no Brasil a televisão educativa, Nas décadas de 60, 70 e 80, uma quantidade expressiva de cursos e programas educacionais passaram a ser veiculados através do rádio, da televisão ou de ambos. Alguns deles usavam material 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA A segunda geração de Educação a Distância foi caracterizada pela integração ao material impresso dos meios de comunicação audiovisuais (rádio, televisão, fax, videocassete, audiocassete, etc.), aumentando significativamente a oferta de programas e cursos na modalidade a distância no país. Eles podem ser categorizados em três tipos: formação geral, formação de professores e formação profissional. 163 Como na maioria dos países, a Educação a Distância (EAD) no Brasil passou por três gerações. Na primeira delas, iniciada em 1904 e que vem sendo caracterizada pela utilização do correio e de material didático impresso, fase conhecida como ensino por correspondência, instituições privadas ofereciam cursos de iniciação profissional em áreas técnicas ou em artes. Nessa primeira geração da EAD, os cursos ofertados não exigiam nenhuma escolarização anterior e não tinham reconhecimento formal do sistema de ensino brasileiro. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA impresso como suporte e/ou recursos como o fax, o audiocassete e o videocassete. Dentre os que tiveram maior impacto no país podem ser citados: o Projeto Minerva (1970), o Projeto Logos (1973) e o Telecurso (1978). Infelizmente, os projetos e experiências inovadoras em educação a distância até então desenvolvidas no Brasil sofreram descontinuidade poucos anos depois. Alguns fatores têm sido considerados para justificar essa situação e, também, a descontinuidade no desenvolvimento da EAD no Brasil. O principal deles é que as ações governamentais não eram fundamentadas em políticas de educação a distância ou na consolidação de um sistema de EAD. Desse modo, as experiências implementadas constituíam-se em experiências isoladas, sem perspectivas de continuidade. Na década de 90, a Educação a Distância experimenta um desenvolvimento significativo. Três fatores principais podem justificar o incremento dessa modalidade no país: a) expansão da Internet; b) publicação de lei envolvendo a modalidade a distância; c) criação de uma secretaria de educação a distância no seio do Ministério da Educação. De fato, em 1994, tem início a informatização e a expansão da Internet nas instituições brasileiras de ensino superior. Quatro anos depois, os primeiros ambientes virtuais de aprendizagem desenvolvidos no país já davam suporte à veiculação de cursos usando as novas tecnologias de informação e comunicação. Por sua vez, em 1996, com a reforma educacional brasileira, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Com o aumento das demandas educacionais do país e a necessidade de democratização do conhecimento, foi incluído, na LDB, o artigo 80 voltado para a educação a distância. Desse modo, a EAD torna-se oficialmente reconhecida como modalidade válida e equivalente para todos os níveis de ensino. É a primeira vez que o Brasil reconhece a EAD através de lei; isto depois de um século de experiências na área. PÁGINA 164 O terceiro fator de desenvolvimento da EAD, a criação da Secretaria de Educação a Distância (SEED), órgão do Ministério da Educação, ocorreu em 1966. Ela tinha como missão atuar como agente de inovação dos processos de ensino aprendizagem, fomentando a incorporação das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e da educação a distância aos métodos pedagógicos das escolas públicas. A criação da SEED veio demonstrar a disposição do Ministério da Educação de apoiar as iniciativas na modalidade a distância. A partir desses eventos, a Educação a Distância, até então rejeitada pela maioria das instituições de ensino superior, começa a ser vista como uma alternativa possível e viável para oferta de cursos de graduação e, em particular, de cursos de formação de professores de Matemática. Contudo, seriam ainda necessários quase 12 anos, após o início da informatização e expansão da Internet nas instituições públicas de ensino superior, para que a Internet e as novas tecnologias de informação e de comunicação (TICs) passassem a ser usadas de forma significativa na oferta de cursos na modalidade a distância. É assim que, por volta de 2006, inaugura-se a terceira geração da EAD no Brasil, no âmbito das universidades públicas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Políticas Públicas de EAD A primeira década do Século 21 foi vital para a implementação e consolidação da Educação a Distância no país no que concerne à educação superior e, em decorrência, à formação de professores. Pressionado, de um lado, por universidades públicas, reunidas em um consórcio interuniversitário criado em dezembro de 1999 com o nome de Universidade Virtual Pública do Brasil (mais tarde, Unirede), e, por outro lado, pela expansão da oferta de cursos a distância por instituições privadas, alguns deles com qualidade duvidosa, governos estaduais e o Governo Federal implementaram políticas públicas relativas à EAD. Nesse sentido, um importante passo foi dado, em 2000, pelo Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (Cederj), consórcio formado por seis universidades públicas daquele estado em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, por intermédio da Fundação Cecierj, com o objetivo de oferecer cursos de graduação a distância, na modalidade semipresencial para todo o Estado. Em 2001, foi realizado o primeiro vestibular do Cederj. Dentre outros cursos, estava sendo ofertado o Curso de Licenciatura em Matemática em quatro Polos de Apoio Presencial do Estado do Rio de Janeiro, com a disponibilização de 40 vagas em cada Polo. De lá para cá, o Consórcio vem ofertando anualmente o Curso de Licenciatura em Matemática com a chancela das universidades Federal Fluminense e Federal do Rio de Janeiro. Possui material didático impresso, ambiente virtual de aprendizagem, vídeos e CDs. Políticas públicas de fomento à formação de professores através da modalidade a distância também foram implementadas pelo Estado de Minas Gerais (Projeto Veredas) e por um convênio entre a Universidade Federal de Mato Grosso e a Secretaria de Educação daquele Estado. Os cursos tinham como objetivo formar professores para atuarem no primeiro segmento do Ensino Fundamental. Portanto, tais políticas não contemplavam a formação de professores de Matemática. O público-alvo do Programa eram os alunos egressos do Ensino Médio, aprovados nos processos seletivos realizados pelas IES participantes A demanda foi identificada pelas IES públicas proponentes dos cursos e estimada com base nos dados estatísticos do INEP. O programa tinha como meta a oferta de 18 mil vagas. Essa chamada pública foi denominada Pró-Licenciatura Fase I. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O Pró-Licenciatura foi instituído em 2004 pela Chamada Pública SEED/MEC nº 01/2004. Este programa se inseria no esforço pela melhoria da qualidade do ensino na Educação Básica realizado pelo Governo Federal por meio do Ministério da Educação (MEC), com a coordenação das Secretarias de Educação Básica (SEB) e de Educação a Distância (SEED) e com o apoio e participação das Secretarias de Educação Especial (SEESP) e Educação Superior (SESu). 165 De iniciativa do Governo Federal, foram implementados dois importantes programas para a oferta de cursos de graduação na modalidade a distância, dentre os quais se encontrava a licenciatura de Matemática: Pró-Licenciatura e Universidade Aberta do Brasil (UAB) XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA O Pró-licenciatura Fase II, foi instituído pela Resolução FNDE nº 34/2005. Dados do Censo Escolar 2004 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP haviam apontado a existência de cerca de 180 (cento e oitenta) mil funções docentes, nas redes públicas da Educação Básica, ocupadas por profissionais que estavam atuando sem a formação legal exigida para a função. Em 06 de abril de 2005, o Ministério da Educação divulgou o documento “Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (Pró-Licenciatura) - propostas conceituais e metodológicas”. Ele vinha acompanhado de uma consulta pública às instituições de ensino superior públicas, comunitárias ou confessionais interessadas em oferecer cursos de licenciatura a distância em parceria com o governo federal. Portanto, o programa visava atender aos professores das redes pública, estadual e municipal, que não possuíam formação superior na área em que exerciam a docência e estavam em exercício na rede pública de ensino, há pelo menos um ano. Com a consulta, o MEC pretendia obter informações sobre os cursos que as instituições tivessem interesse em oferecer. O edital da Fase II exigia a formação de consórcios entre as instituições que possuíam os cursos na modalidade presencial e que as instituições fossem credenciadas, ou estivessem em processo de credenciamento junto ao Ministério da Educação, para atuarem na modalidade a distância. PÁGINA 166 Tanto na fase I como na Fase II, o Pró-Licenciatura apresentava em seu portfólio cursos de Licenciatura de Matemática. Na fase II foram aprovados os projetos pedagógicos de oito (08) cursos de Licenciatura de Matemática a distância, mas nem todos eles foram financiados pelo Programa. O Pró-Licenciatura não teve uma vida muito longa, tendo sido incorporado ao Sistema Universidade Aberta do Brasil. Assim, a oferta de cursos de formação de professores de Matemática sofreu descontinuidade no âmbito desse Programa. Um segundo programa denominado Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) foi lançado pelo Ministério da Educação no ano de 2005, em parceria com a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) e Empresas Estatais, no âmbito do Fórum das Estatais pela Educação com foco nas Políticas e a Gestão da Educação Superior. Tratava-se de uma política pública de articulação entre a Secretaria de Educação a Distância - SEED/MEC (extinta em 2011) e a Diretoria de Educação a Distância - DED/CAPES com vistas à expansão da educação superior. A proposta lançada concretizou-se em 2006 com a aprovação do Decreto No 5.800 (8/06/2006). Em seu artigo primeiro, constavam os objetivos do Sistema UAB: I - oferecer, prioritariamente, cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da educação básica; II - oferecer cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; III - oferecer cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; IV - ampliar o acesso à educação superior pública; 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA V - reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do País; VI - estabelecer amplo sistema nacional de educação superior a distância; e VII - fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação a distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação. De acordo com o Diretor da Educação a Distância da CAPES, em março de 2012, um total de 91 instituições integravam o Sistema UAB, entre universidades federais, universidades estaduais e Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFETs). Atualmente, há cerca de 210.000 alunos matriculados no Sistema em cursos de formação e formação continuada de professores (especialização, aperfeiçoamento e extensão). Desse total, 60% estão matriculados em cursos de graduação e 104.707 são alunos de licenciatura que participam de um dos 237 cursos atualmente ofertados por 69 IES. Até o final de 2012, a UAB/CAPES espera alcançar o índice de 300.000 alunos matriculados no Sistema e a meta para 2014 é de 600.000 alunos matriculados. A Universidade Aberta do Brasil tem se constituído em uma política pública de grande envergadura para a implementação e desenvolvimento da educação superior a distância no país e, em especial, para a formação e formação continuada de professores. Alguns fatores contribuíram para o seu êxito. A flexibilidade da gestão da UAB, tendo em vista os diferentes projetos pedagógicos dos cursos e condições de funcionamento das IES, foi outro elemento que contribuiu para o êxito da UAB. Isso se traduzia em interlocução entre os entes envolvidos (UAB/CAPES, IES, Estados e Prefeituras) visando as melhores condições para a oferta e implementação dos cursos com a metodologia a distância. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Outro fator importante refere-se ao financiamento dos cursos. A UAB tem um aporte anual de recursos que permite o repasse para as IES para o custeio dos cursos, quanto às passagens e diárias para os encontros presenciais nos Polos de Apoio Presencial, à contratação de serviços para a produção de material pedagógico impresso e digital e distribuição de material didático aos Polos, à aquisição de material de expediente e combustível, à contratação de equipe de apoio para auxiliar na oferta dos cursos. Além disso, quando foi criada, a UAB se previu a concessão de bolsas de pesquisa sobre a EAD para professores cadastrados nos cursos, de bolsas para tutores e de bolsas para os coordenadores dos Polos de Apoio Presencial. 167 O primeiro deles refere-se à estrutura do Sistema UAB. De fato, ele foi concebido como uma rede nacional formada por instituições públicas de ensino superior, Estados e Municípios em articulação com os Polos de Apoio Presencial. Isto implica em um trabalho coletivo, onde cada ente é responsável por ações específicas. As universidades propõem e fazem a gestão de seus cursos; os Estados e/ou Municípios mantêm os polos de apoio presenciais; o MEC se encarrega da avaliação e aprovação das propostas de cursos e de Pólos. Portanto, vários entes trabalham em conjunto visando atingir um objetivo. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Ao longo da implementação da UAB, os gestores perceberam que ações complementares deveriam ser executadas para que o Sistema se consolidasse. Nesse sentido, como parte da política de estruturação dos pólos UAB, foi financiada a aquisição de parte do acervo bibliográfico dos cursos e, também, de equipamentos para os laboratórios de informática dos Polos. Com relação às IFES partipantes da UAB, elas concorrerram a editais para a aquisição de equipamentos e mobiliário para os centros de educação a distância e para os Polos. Em outra oportunidade, a UAB destinou recursos para construção ou reforma de espaços para abrigarem os centros de educação a distância das IFES. Tais decisões foram muito importantes para a manutenção da oferta dos cursos. Licenciaturas de Matemática no Sistema UAB Desde a concretização da UAB em 2006, algumas IFES têm ofertado Cursos de Licenciatura de Matemática. Assim como ocorreu no Pró-Licenciatura, os primeiros cursos de licenciatura de Matemática da UAB eram ofertados sem fazer apelo às novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Naquele período, a maioria dos Polos de Apoio Presencial não dispunha de uma conexão internet com a velocidade necessária para acessar ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Eles, também, não possuíam equipamentos adequados à recepção de videoconferências e webconferências. Por sua vez, as IFES também não estavam preparadas para usar tais recursos, seja porque os desconheciam, seja porque lhes faltavam condições técnicas e/ou financeiras para implantálos. Dadas as condições tecnológicas então vigentes, as IFES usavam um modelo de EAD que consistia no uso de recursos didáticos como material impresso, CDs, telefone, fax, fitas de vídeo. PÁGINA 168 Tal situação foi rapidamente ultrapassada. Decorridos seis anos, a situação se inverteu. Embora ainda haja Polos e IFES com dificuldades no uso das TICs, parte significativa desse universo já faz uso desses recursos. Entre as IFES, foi disseminado o uso de ambientes virtuais de aprendizagem. No momento a mais usada é a Plataforma ou Ambiente Moodle. Sua escolha deve-se a três razões principais: a) trata-se de um software livre e, portanto, sem ônus para os usuários; b) sua arquitetura está assentada em uma concepção construcionista social do conhecimento; c) apresenta um ambiente amigável e facilidade na navegação. Vídeos pedagógicos, acessados pela Internet ou produzidos pelas IFES, web e videoconferências, bibliotecas virtuais, laboratórios virtuais, objetos de aprendizagem, tablets, lousas virtuais, celulares, entre outros, são recursos hoje usados na oferta de cursos de Licenciatura de Matemática na modalidade a distância no âmbito da UAB. Carvalho (2008, pg. 2), considera que o “desenvolvimento de cursos na modalidade a distância, instituiu a utilização de tecnologias da informação como agregado indissociável de sua proposta pedagógica.” Na opinião de Carvalho, ...a formação de professores nesta modalidade, alicerçada na mediação pedagógica por novas tecnologias e as possibilidades de mudança paradigmática na atuação docente, poderá abrir caminhos para a compreensão das estratégias governamentais 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA para a educação brasileira e as necessidades reais de mudança paradigmáticas e culturais nas escolas. (2008, pg. 2) No site informacional SISUAB da UAB/CAPES, consta atualmente a oferta de 36 cursos de Licenciatura de Matemática nas cinco regiões do país, conforme ilustrado no Gráfico 1. Gráfico 1 Distribuição, por regiões, dos Cursos de Licenciatura de Matemática do Sistema UAB 18 16 Número de Cursos 16 14 12 10 10 8 6 5 4 3 2 2 0 Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Região Como se pode observar, o maior número de cursos de Licenciatura de Matemática está sendo ofertado na região Nordeste (16), seguida da região Sudeste (10). A menor oferta encontra-se na região Centro-Oeste (2). Cada um dos 36 cursos considerados no gráfico anterior está sendo ofertado em um determinado número de Polos de Apoio Presencial, que varia entre 3 e 27 Polos. No Gráfico 2, é mostrado o número de Polos por região que está sendo contemplado por cursos de Licenciatura de Matemática a distância, no contexto da UAB. Gráfico 2 Distribuição, por regiões, dos Polos onde estão sendo ofertados PÁGINA 169 cursos de Licenciatura de Matemática do Sistema UAB 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 200 172 180 Número de Polos 160 140 120 100 88 80 60 40 68 39 19 20 0 Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Região O gráfico mostra que a maior concentração de Polos, que estão recebendo cursos de formação de professores de Matemática, encontra-se na Região Nordeste (172 Polos). Em segundo lugar, aparece a região Sudeste, com 88 Polos. Na região Centro-Oeste, somente 19 Polos estão sendo contemplados com cursos de Licenciatura de Matemática a distância. Os Desafios que se Impõem Os dados revelam que a formação de professores de Matemática no contexto da UAB está ocorrendo nas cinco regiões do Brasil e está sendo bem aceita pela população, haja vista que o número total de Polos que solicitaram estes cursos se eleva a 386. PÁGINA 170 Contudo há questões que devem ser analisadas para que a oferta desses cursos possa ser incrementada e com qualidade. Uma delas consiste em vencer os preconceitos que a modalidade a distância ainda desperta na comunidade universitária e em uma parte da população. Essa desconfiança tem fundamento? De certa forma, sim. Em décadas passadas, a EAD era utilizada na veiculação de cursos considerados “menos nobres” como o da capacitação profissional (técnico em rádio, curso de violão, corte e costura, etc). Ainda, hoje, essa lembrança permeia o imaginário de algumas pessoas. Por outro lado, cursos de qualidade duvidosa foram ofertados nos últimos anos por algumas instituições privadas, que viram na modalidade a distância uma oportunidade para obter lucro mais fácil do que ofertando cursos presenciais. Sem dúvida, esse fato contribuiu para aumentar a desconfiança de alguns sobre essa modalidade de educação. Assim sendoo, faz-se mister que ações sejam efetivadas a fim de que os preconceitos sobre a EAD, e em consequência sobre a formação de professores de Matemática a distância, sejam minimizados. Outro tema importante a ser considerado e discutido é aquele relacionado com os materiais pedagógicos. É fato que eles devam ser atualizados após algum tempo, pois as ciências e a sociedade evoluem. Para que eles não se tornem ultrapassados ou mesmo obsoletos, os conhecimentos contidos nos materiais didáticos devem ser objeto de análise e reformulação. Haverá recursos financeiros para essa finalidade? A UAB patrocinará esse empreendimento? 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Os recursos tecnológicos utilizados nos Polos para a oferta dos cursos e, em particular, dos cursos de Matemática seguem a mesma linha. A tecnologia evolui a uma velocidade espantosa. Em consequência, os equipamentos estão tendo uma vida útil de, aproximadamente, três a quatro anos. Eles se tornam obsoletos após esse tempo. Se não forem substituídos por outros mais modernos e eficientes, até mesmo a migração dos conhecimentos armazenados em uma base de dados torna-se difícil de ser processada. As IES e os Polos terão condições de acompanhar essa evolução tecnológica, renovando seus equipamentos e capacitando seus técnicos? De onde virão os recursos para essa finalidade? Outro ponto a ser discutido refere-se à função exercida atualmente pelos tutores junto aos cursos de formação de professores de matemática. Evidentemente, essa é uma questão que atinge todas as demais licenciaturas e cursos no âmbito da UAB. Embora sejam professores, os tutores são bolsistas, atuando em caráter temporário junto ao Sistema. Como bolsista da UAB, o tutor recebe menos do que se exercesse sua profissão em um dos sistemas regulares de ensino do país. Além disso, não havendo contrato de trabalho, o tutor pode, a qualquer momento, deixar o Sistema ou ser dispensado de suas funções. Trata-se, portanto, de uma situação instável que não é vantajosa, nem para o tutor, nem para a IES à qual ele presta serviços. Como resolver esse problema, de modo que o Sistema continue viável? Para finalizar, mas não esgotando o tema dos desafios, uma questão se impõe à comunidade que está atuando nos cursos de Licenciatura de Matemática e, evidentemente, nos demais 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Menos de sete anos se passaram no que concerne à oferta de cursos de formação de professores de Matemática no contexto dos programas Pró-Licenciatura e Universidade Aberta do Brasil. Mas esse tempo já foi suficiente para que emergissem indagações diversas como: qualidade dos cursos, procedimentos de recuperação de alunos, aprendizagem em ambiente virtual, eficácia das webconferências, videoconferências e vídeos pedagógicos na aprendizagem de conteúdos matemáticos, a interatividade proporcionada pelo AVA adotado, retenção e evasão de estudantes, etc. Poucas pesquisas foram até aqui realizadas visando dar respostas às indagações e, assim, servirem de base para a tomada de decisões por coordenadores, professores e pelas próprias IES. Portanto, constitui-se ainda em um desafio a produção de pesquisa na área de formação de professores de Matemática através da modalidade a distância. 171 A institucionalização dos cursos de Licenciatura de Matemática é outro tema que vem sendo discutido entre professores e gestores da área. Aliás, esse é um assunto que tem sido discutido por participantes dos demais cursos da UAB e pelas IES. Por institucionalização entende-se que os cursos na modalidade a distância devam ser considerados como cursos regulares das IES e não como ofertas especiais e temporárias. Diversas IES, que fazem parte da UAB, já caminharam bastante nesse sentido. De fato, procedimentos como a seleção de estudantes, a inserção dos cursos no sistema acadêmico, a oferta continuada de vagas nos Polos, a possibilidade de os alunos concorrerem a bolsas de pesquisa e a outros tipos de bolsas da instituição, a avaliação interna dos cursos, dentre outros, já fazem parte da rotina dessas IES. É necessário, porém, que as demais instituições do Sistema UAB busquem a institucionalização de seus cursos para que eles alcancem o mesmo status que os cursos presenciais. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA cursos do Sistema UAB: - Até quando esse programa perdurará? O que se reserva aos cursos de Licenciatura de Matemática, modalidade a distância, que estão sendo ofertados no âmbito da UAB? Evidentemente, a resposta virá com o tempo, mas é necessário, desde já, que o assunto seja discutido e decisões sejam tomadas para garantir que os cursos de Licenciatura de Matemática a distância continuem a ser ofertados pelas IES públicas, de modo a dar continuidade a sua missão de formar professores em regiões longínquas, onde há dificuldade de acesso a cursos presenciais. REFERÊNCIAS BRASIL (2007). Referenciais de qualidade para Educação Superior a Distância. BRASIL (1996). Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei de diretrizes e bases da educação nacional. CAMPOS, G.H.B, ROQUE, G.O.B, AMARAL, S.B., Dialética da Educação a Distância. Rio de Janeiro, Editora PUC Rio, 2007. CAPES (2012). Sistema da Universidade Aberta do Brasil – SISUAB. Disponível em <http://www.uab.capes.gov.br/sisuab/Login_input.action>. Acesso em: 20/05/2012. CARVALHO, A. B.. A educação a distância e as novas tecnologias na formação de professores na perspectiva dos estudos culturais. Disponível em: <http://www.gente.eti.br/site/attachments/040_COBESCANABEATRIZGOMES.pdf>.Ace sso em: 20/05/2012. FRANCO, S.R.K. O programa Pró-Licenciatura: gênese, construção e perspectivas In. Desafios da Educação a Distância na Formação de Professores. Brasília, 2006. RUIZ, A. I.; RAMOS, M. N.; HINGEL, M. (2007). Escassez de professores no Ensino Médio: Propostas estruturais e emergenciais - Relatório produzido pela Comissão Interna do Conselho Nacional de Educação. PÁGINA 172 GIOLO, J. A educação a distância e a formação de professores. In: Educação & Sociedade, 2008, v. 29, n°. 105, set./dez, (pp. 1211-1234). VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PESQUISAS EM EAD ONLINE X POLÍTICAS PÚBLICAS EM EAD NO BRASIL Marcelo de Carvalho Borba GPIMEM, UNESP, Rio Claro, SP [email protected] GPIMEM no Facebook, Twitter: @GPIMEM RESUMO Nesta apresentação discutirei a pesquisa em educação matemática online no Brasil nos últimos quinze anos. Ilustrarei como que os resultados de tais estudos nem sempre estão em sintonia com as políticas públicas que lidam com o tema. Com o crescimento em número da formação de professores de matemática em cursos a distância, a implementação de políticas que se apoiem em pesquisas se torna ainda mais importante. Um análise inicial dos cursos oferecidos por algumas das unidades da Universidade Aberta do Brasil (UAB) será apresentada. TRABALHO 33 Grupo de Pesquisa em Informática, http://www.rc.unesp.br/gpimem. outras Mídias e Educação Matemática. Home-page: 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA As pesquisas já realizadas por vários membros do GPIMEM33 (BORBA, 2004; SANTOS; BORBA, 2008; ROSA, 2008; BORBA; MALHEIROS; AMARAL, 2011) se basearam em pequenos grupos de alunos e enfatizaram a necessidade de interação entre professores e estudantes. E, além disso, a noção de seres-humanos-com-mídias (BORBA; VILLARREAL, 2005, BORBA, 2009), que fundamentou boa parte destas pesquisas, realça a ideia de que são necessários problemas novos quando “novas” mídias se tornam atores em ambientes didáticos. Assim sendo, tais estudos alertaram que não devemos “domesticar” novas mídias reproduzindo nelas práticas feitas com uma mídia mais antiga. Explorar a 173 Nesta apresentação discutirei a pesquisa em Educação Matemática online no Brasil nos últimos quinze anos. Ilustrarei como que os resultados de tais estudos nem sempre estão em sintonia com as políticas públicas que lidam com o tema. Com o crescimento em número da formação de professores de matemática em cursos a distância, a implementação de políticas que se apoiem em pesquisas se torna ainda mais importantes. Uma análise inicial dos cursos oferecidos por algumas das unidades da Universidade Aberta do Brasil (UAB) será apresentada. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA visualização, a multimodalidade da Internet e materiais digitais são demandas que se colocam para a Educação Matemática presencial e, certamente, para a Educação a Distância (EaD). A temática sobre o uso das potencialidades pedagógicas das tecnologias digitais parece ter ganhado espaço nas políticas públicas nacionais, como analisa Gatti e Barreto (2009). Todavia, a análise feita por membros do nosso grupo apontam que nem sempre os resultados das pesquisas têm sido considerados nos documentos que regem a implantação de projetos voltados para a formação inicial de professores a distância. Nossas investigações revelam possibilidades, limites e sugerem encaminhamentos visando à melhoria de cursos a distância, contudo não temos indicativos de que tais pesquisas têm causado algum impacto na elaboração de propostas em EaD, em particular na formação de professores. Rodrigues e Borba (2010) mostram que às vezes a interação via tecnologia acontece de forma bem diminuta em uma licenciatura a distância implantada em universidade pública no Brasil. Esse descompasso, entre documentos e práticas, gera críticas contra a Educação a Distância até mesmo dos que são amplamente favoráveis ao uso de tecnologia em educação (LAPA; PRETTO, 2010). A presença restrita de tecnologia digital em parte considerável de cursos à distância, ou o uso domesticado da tecnologia, onde o que se faz é digitalizar o livro impresso, geram problemas para a EaD como pesquisas desenvolvidas pelo GPIMEM sugerem fortemente (MALTEMPI; MALHEIROS, 2010; VIEL, 2011). Aliados a esses problemas, as péssimas condições salariais e de trabalho dos tutores, grandes responsáveis pelo funcionamento das licenciaturas a distância no Brasil, geram reações. PÁGINA 174 Vivemos, pois, um dilema. Gatti e Barreto (2009) reúnem dados que mostram o crescimento exponencial das matrículas em licenciatura a distância. Assim, há possibilidades novas de educação sendo oferecidas para um público normalmente não atendido por cursos ofertados presencialmente. Em contrapartida, não está claro se há incorporação das pesquisas feitas em Educação a Distância dentro do cotidiano da Educação Matemática a distância. Em suma, a EaD (online) no Brasil parece ter passado por um processo de massificação que muitas vezes justifica o parêntesis acima, na medida em que poucas interações online acontecem, ou mesmo poucas interações entre docentes universitários e discentes acontecem. Entretanto, há inúmeros exemplos de que ela é possível de ser feita com qualidade, tanto aqui quanto no exterior (e.g. Borba e Gadanidis, 2008). Fica, então, em aberto a pergunta: será que novas pesquisas vão conseguir apontar caminhos para superar as limitações da massificação da formação inicial de professores (de matemática)? Essa será a tônica do debate desta apresentação. REFERÊNCIAS 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA BORBA, M. C. As Dimensões da Educação Matemática a Distância. In.: BICUDO, M. A. V.; BORBA, M. C. (Org.). Educação Matemática: pesquisa em movimento. São Paulo: Cortez, 2004. BORBA, M. C.; GADANIDIS, G. Virtual communities and networks of practising mathematics teachers: The role of technology in collaboration. In: KRAINER, K.; WOOD, T (Org.). International handbook of mathematics teacher education: Vol. 3. Participants in mathematics teacher education: individuals, teams, communities, and networks.. 1 ed. Rotterdam: Sense Publishers, 2008, v. 3, p. 181-206. BORBA, M.C. Potential scenarios for Internet use in the mathematics classroom. ZDM: Zentralblatt für Didaktik der Mathematik, 41(4), 453-465. BORBA, M. C.; MALHEIROS, A. P. S.; AMARAL, R. B. Educação a Distância online. 3 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. ZDM 41 (4), 453-465 BORBA, M. C.; VILLARREAL, M. E. Humans-With-Media and the Reorganization of Mathematical Thinking: information and communication technologies, modeling, experimentation and visualization. v. 39, New York: Springer, 2005. GATTI, B. A.; BARRETO, E. S. S. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. LAPA, A.; PRETTO, N. D. L. Educação a distância e precarização do trabalho docente. Em aberto, Brasília, v. 23, n. 84, p. 79-97, Nov. 2010. MALTEMPI, M. V.; MALHEIROS, A. P. S. Online distance mathematics education in Brazil: research, practice and policy. ZDM: Zentralblatt für Didaktik der Mathematik, 42(34), 291-303, 2010. RODRIGUES, S. R. V.; BORBA, M. C. Um modelo de licenciatura a distância em matemática em ação. In: X EPEM - Encontro Paulista de educação matemática, 2010, São Carlos. X EPEM - Encontro Paulista de educação matemática, 2010. p. 1-8. ROSA, M. A Construção de Identidades Online por meio do Role Playing Game: relações com o ensino e aprendizagem matemática em um curso a distância. 2008. Tese (Doutorado em Educação Matemática) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2008. PÁGINA VIEL, S. R. Um Sobre a Formação de Professores de Matemática a Distância: o caso do CEDERJ/UAB. 2011. Tese (Doutorado em Educação Matemática) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2011. 175 SANTOS, S. C.; BORBA, M. C. Internet e softwares de Geometria dinâmica como atores na produção Matemática on-line. Zetetiké, v. 16, n. 29, 2008. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA A GESTÃO EM EAD: SISTEMA E COMPLEXIDADE Tania Rossi Garbin UFOP [email protected] RESUMO Na modalidade de educação à distância os processos de gestão devem oferecer a possibilidade da relação entre os recursos tecnológicos e os recursos humanos para que o processo ocorrer de forma facilitada. Nesta modalidade a dinâmica é complexa e envolve diferentes atores, como professores, tutores, alunos, técnicos e coordenadores, que estão em diferentes espaços e utilizam recursos e horários diferentes para o desenvolvimento das atividades. A tecnologia deve oferecer suporte aos diferentes processos envolvido na organização, planejamento e execução de todas as etapas, determinando a necessidade do desenvolvimento de métodos e técnicas. Este trabalho teve como objetivo demonstrar e discutir o complexo processo de gestão. Serão apresentados os processos administrativos e pedagógicos incluindo o sistema acadêmico, o sistema do ambiente de aprendizagem e as relações de interação e colaboração que determinaram a elaboração da proposta do modelo de gestão. Palavras chave: educação a distancia, gestão da ead, complexidade. PÁGINA 176 1.INTRODUÇÃO A educação a distancia (ead) é uma modalidade de ensino que utiliza recursos tecnológicos para os processos de gestão acadêmica, administrativa e para o desenvolvimento de atividades de ensino. Os processos de EAD exigem organização e o planejamento em todas as fases, e todos os recursos, materiais e equipamentos, precisam estar em consonância com a proposta acadêmica do curso. Nos cursos a distancia uma nova rede de relações precisa ser construída para não ocorrer o isolamento do aluno. As informações precisam ser processadas a partir da utilização de recursos tecnológicos, e a mediação entre os diferentes atores deve ser desenvolvida com base nas diretrizes acadêmicas. Os ambientes educativos devem proporcionar aos indivíduos a possibilidade real de interação, colaboração e construção. Conforme Decreto 5622 de 2005, “a Educação a Distância é a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, envolvendo estudantes e professores no desenvolvimento de atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. No Brasil, as bases legais para a modalidade de educação a distância foram estabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regulamentada pelo Decreto n.º 5.622, publicado no D.O.U. de 20/12/05 (que revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998) com normatização definida na Portaria Ministerial n.º 4.361, de 2004 (que revogou a Portaria Ministerial n.º 301, de 07 de abril de 1998 ). A ead no Brasil vem crescendo de forma significativa, oferecendo a possibilidade do acesso a educação superior a indivíduos que antes eram impossibilitados pela distancia ou pela ausência de oferta ou mesmo pelo custo econômico dos cursos presenciais. A legislação determina normas e diretrizes para a oferta, que estão relacionadas ao aluno, a instituição ofertante e aos processos de ensino. Dentre estes está claramente indicado que o aluno precisa estar vinculado a um Pólo de Apoio Presencial, que o Curso precisa ser reconhecido pelo Ministério da Educação e siga as mesmas diretrizes curriculares dos cursos presenciais. Outra determinação refere-se às avaliações, estas devem ser presenciais, conforme decreto N.º 2.494, DE 10 DE FEVEREIRO DE 1998. A Portaria Normativa Nº 2 de 10 de janeiro de 2007, dispõe sobre os procedimentos de regulação e avaliação da educação superior na modalidade à distância. Quantos aos atos de regulação dizem respeito a: Credenciamento de instituições para oferta da modalidade de EAD; credenciamento de pólos de apoio presencial; autorização de cursos; reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos. 1.1. A Complexidade do Modelo de Gestão na EAD 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Os processos de gestão acadêmicos e administrativos devem estar em consonância com as determinações e orientações nacionais e apoiadas ao projeto da instituição e do projeto pedagógico do curso. Serão apresentados neste estudo os modelos de gestão utilizados para oferecer o curso de graduação em Administração Pública, focalizando as etapas do processo de tecnologia para atender a esfera acadêmica e administrativa considerando principalmente a interatividade e interação no processo de ensino. A seguir será apresentada uma breve contextualização teórica sobre a concepção de gestão que orienta a análise. 177 A grande oferta de cursos determinou ampla discussão nacional e foi elaborado os Referenciais de Qualidade para a EAD, conseqüentemente ocorreu à elaboração pela CONAES e pelo CNE dos instrumentos que subsidiam as avaliações “in loco”. Para que ocorra o processo de avaliação de instituições e pólos de apoio presencial, objetivando o credenciamento, o INEP esta atuando em procedimentos para capacitação de avaliadores e desenvolvimento de sistema para organização e sistematização dos dados da EAD, para oferecer maior transparência. Atualmente algumas instituições que oferecem cursos na modalidade a distancia estão passando pelo processo de supervisão, que tem como objetivo fiscalizar, verificar e orientar sobre os processos para a oferta dos cursos de ead. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Para Pimenta (2003), quando afirmamos que uma situação é “complexa” pretende-se freqüentemente transmitir a idéia de que é “complicada”, que tem muitos aspectos, que tem muitos elementos. Para o autor, essa “complicação” é simultaneamente a “atribuição espontânea de uma certa característica à coisa-em-si” e o reconhecimento de que “não possuímos uma explicação satisfatória” para o que observamos, não temos um modelo que nos permita interligar todos os aspectos. Com relação ao tratamento científico da complexidade (qualidade de ser complexo) ou do complexo, não pode satisfazer-se com este entendimento do conhecimento corrente, mesmo que tal estivesse presente no início da linguagem científica da complexidade. Parece que a própria caracterização e estudo da complexidade é complexa, entrando-se num emaranhado por vezes profundamente ilusório, ao ponto de admitir-se, que a origem de uma situação complexa é necessariamente “complexa”, “complicada” quando hoje é sobejamente conhecido que sistemas simples podem dar lugar a situações complexas e que sistemas complexos podem dar lugar a situações (soluções) simples. O ambiente educativo deve oferecer a possibilidade do individuo desejar interagir e construir interrelacionando suas memórias, seus desejos e suas experiências com novos objetivos, desenhados a partir da relação com novas informações. Para isto, deve ocorrer ampla interação entre aluno-tutor, aluno-professor, professor-tutor, instituição/sistemasujeitos, gerando situações comunicantes e produzindo novas informações para possibilitar a construção de conhecimentos. PÁGINA 178 Quebrar o isolamento do aluno da ead através de uma nova rede de relações com o mundo exterior, onde o pensamento e o sentimento possam ser percebidos pelo outro é um desafio que precisa ser alcançado pelo educador. O aluno, mesmo distante precisa atuar na situação para produzir uma relação interativa, precisa produzir utilizando seu lado racional e emocional utilizando o potencial criativo, os sentimentos as emoções devem ser percebidos e possibilitar inter-relações. Os ambientes educativos devem proporcionar ao indivíduo a possibilidade de desejar interar e construir (ASSMANN, 2002; ALMEIDA, 2003; CAPRA, 2003). Um ambiente educativo deve ser atrativo e interessante, oferecendo através de situações claras e diretas atividades que proporcionem o desenvolvimento cognitivo. A interface deve ser planejada para promover a flexibilidade em relação à escolha sobre a direção para a ação (CAPRA, 2003). Para que a aprendizagem ocorra, os sistemas não devem ser linearfechado, onde apenas um tipo de ação/resposta pode ser considerada correta frente a um tipo de solicitação apresentada. A aceitação de uma interface depende de sua linguagem de interação, e da capacidade de comunicar suas funções com clareza. Para os desenvolvedores de software educacional o maior desafio está em criar ambientes flexíveis para permitir ao usuário fazer suas descobertas e representações, deixando espaço suficiente para que ele sinta livre sem ficar perdido ou confuso a ponto de abandonar as explorações (MASETTO, 2003a). O ambiente de aprendizagem deve permitir que o indivíduo utilize a tecnologia e aproveite os recursos de forma a garantir flexibilidade intelectual, capacidade de criar, inovar e, principalmente, enfrentar o desconhecido para promover reflexão. Quando o ambiente é 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA contextualizado e significativo proporciona o envolvimento. A tecnologia pode auxiliar os indivíduos a reconhecer, interagir e compartilhar experiências (MASETTO, 2003b). Selecionar ferramentas, utilizar recursos, organizar atividades são tarefas que podem ser caracterizadas como simples e mecânicas, porem quando é atribuída ao professor ou tutor à responsabilidade de escolher, definir e desenvolver, está ocorrendo à relação entre ação↔reação↔ação que pode determinar a interação. A fascinação e inventividade devem fazer parte do ambiente educacional, o ambiente não deve inibir, deve “propiciar, aquela dose de alucinação consensual entusiástica requerida para que o processo de aprender aconteça como mixagem de todos os sentidos com os quais sensoriamos corporalmente o mundo” (MORAES, 2003, p.210). O desenvolvimento de processos de gestão que tenham como objetivo facilitar os processos de comunicação devem utilizar linguagens que alcançam os usuários. As relações interpessoais, as estratégias coletivas para transmissão de informação precisam considerar os requisitos materiais e humanos. A partir da relação com o outro o conhecimento ocorre e a dialética ação/conhecimento torna-se ação/conhecimento/comunicação. A seguir, a Figura 1 ilustra o processo. AÇÃOCONHECIMENTO COMUNICAÇÃO SENSIBILIDADE/AFETIVIDADE Figura 1. Modelo apresentado para representar a relação exterior/interior do aparelho neurocerebral. (MORAES, 2003b) 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O processo de gestão no cenário da EAD deve ser focalizado nas redes de comunicações que geram por um lado idéias e contextos de significados e por outro, regras de comportamento ou estruturas sociais. Estas estruturas devem possibilitar a criação e favorecer a comunicação. As redes de comunicações geram a si mesmas, e “cada comunicação cria pensamentos e um significado que dão origem a outras comunicações, e assim a rede inteira se regenera – é autopoeética. Como as comunicações se dão de modo recorrente em múltiplos anéis de realimentação, produzem um sistema comum de crenças, explicações e valores – um contexto comum de significado – que é continuamente sustentado por novas comunicações. Através desse contexto comum de significado, cada indivíduo adquire sua identidade como membro da rede social, e assim a rede gera o seu próprio limite externo. Não se trata de um limite físico, mas de um limite feito de 179 Conforme a Figura 1, o desenvolvimento da ação exterior e da comunicação com o outro, permite que a sensibilidade interior se manifeste. A sensibilidade transforma os acontecimentos interiores, e a afetividade é projetada em manifestações e reações e a relação ação/comunicação/conhecimento se transforma e interage com a sensibilidade/afetividade. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA pressupostos, de intimidade e de lealdade – um limite continuamente conservado e renegociado pela rede de comunicações (ASSMANN, 2002) Os seres humanos são capazes de representar o mundo exterior simbolicamente, pensar, comunicar símbolos, conceitos e idéias, utilizando a linguagem abstrata e também a nãoverbal, através da pintura, música e outras formas de arte. O cenário da EAD deve oferecer a oportunidade da interação entre instituição e aluno através do ambiente de aprendizagem que simboliza sua sala de aula, porém este espaço precisa permitir que ocorra a interação entre diferentes dimensões sociais, econômicas, políticas presente em todas as relações humanas. Os mundos interior e exterior estão sempre interligados no funcionamento de um organismo humano; eles interagem e evoluem juntos (MORIN, 1996) A gestão dos processos educativos podem determinar diferentes fatores que interferem de forma direta e indireta no contexto da aprendizagem. Os processos de organização dos fluxos de informações deve ser o foco do projeto administrativo. O trabalho de organização do fluxo de informações do sistema deve orientar e alimenta o fluxo de informações do sistema acadêmico e do sistema administrativo. A interação exige ação recíproca com mutua influencia nos elementos inter-relacionados (MASETTO, 2003b). Nas situações educacionais a linearidade pode ser quebrada com a utilização de processos dinâmicos e abertos, porem estes devem ser previstos e não totalmente aleatório, pois os agentes do processo são orientados por padrões estabelecidos por regras internas e externas a instituição ofertante de um curso de EAD. Os mecanismos de registro podem ser úteis para a análise de padrões de comportamento e orientar ações futuras, mas para que estes processos possam ser desenhados é necessário amplo estudo sobre os usuários do sistema (alunos, professores, tutores e técnicos). PÁGINA 180 Quanto a dimensão da gestão pedagógica, o currículo deve orientar as ações educativas permitindo que os fatores físicos, mentais, emocionais e sociais possam estar totalmente relacionados a dimensão do conhecimento. O Currículo deve ser também um agente comunicante oferecendo a possibilidade de constantes inovações partindo das reais necessidades. Construir um currículo apoiado no paradigma da complexidade pressupõe considerar o todo que interage e interfere nos processos educativos (CAPRA, 2003). Conceber um currículo na dimensão do paradigma complexo é considerar um sistema que envolve diferentes elementos pedagógicos, tecnológicos, ambientais, sociais e afetivos que se integram e se relacionam a partir da dinâmica das relações dos envolvidos. Fatores relacionados ao processo de gestão podem impedir o processo educativo principalmente quando os indivíduos não apresentam recursos, materiais, suporte e informações básicas para o estabelecimento de interações. Um ambiente de aprendizagem deve oferecer significado e ser significante e pode ser construído com apoio de recursos tecnológicos. Os recursos devem ser utilizados para atender as necessidades e oferecer melhores condições para o processo de aprendizagem, assim não podem ser considerados como fonte única da eficácia ou fracasso do processo educativo. Os ambientes de aprendizagem devem fudamentar-se na complexidade da ciência (LEVY,1996). A educação deve se apropriar do conhecimento e da tecnologia para oferecer ambientes de aprendizagem de colaboração, cooperação e interatividade. A seguir será apresentado o modelo de gestão da EAD 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 2. UM MODELO DE GESTÃO Para Del Nero (1994), a Teoria de Sistemas Dinâmicos mostra que sistemas em que grandezas variam temporalmente podem apresentar sensibilidade às condições iniciais e chegar ao caos. Três corpos atraídos pela gravitação apresentam, em alguns intervalos ou valores, imprevisibilidade quanto à trajetória ou quanto aos estados que assumem no espaço de fase, ou seja, aquele que retrata a evolução temporal do sistema. Embora se mantenha a equação que descreve a dinâmica do sistema, nos valores de bifurcação a previsão do estado seguinte resulta difícil, senão impossível. A Teoria dos Sistemas Dinâmicos, para Del Nero (1994), fornece metáfora que ensina como a forma se ordena e desordena, mas, acima de tudo, como os estados de um sistema, ao longo de sua história, podem ser interpretados como imprevisíveis e, se o sistema for adaptado a uma Cultura, e não apenas às intempéries naturais, nomear alguns deles, estados, livres e soberanos. Rondão (1992), apresenta questionamentos relevantes: -Será adequado manter uma lógica curricular baseada nos pressupostos da seqüência do pensamento concreto/pensamento abstrato e no exclusivo desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, quando se sabe cada vez mais da imbricação do lógico no emocional e quando se reconhece a presença de competências de abstração de crianças pequenas? -Partindo do pressuposto de que a informação e o saber, genericamente falando, estão hoje facilmente acessíveis, mas que a informação só ganha sentido quando é enquadrada e contextualizada, importa então discutir o papel da escola - que faz ou pode e deve fazer a escola no quadro da sociedade da informação e da comunicação que é a de hoje? (ROLDÃO, 1992, p.9) PÁGINA 181 A concepção da escola nesta perspectiva pressupõe uma maior ênfase no ensino explícito de estratégias cognitivas. O essencial da passagem da informação a conhecimento reside na maior ou menor capacidade de organizar e estruturar a informação disponível, dando-lhe sentido. Tomando currículo no sentido de “conjunto de aprendizagens socialmente necessárias que à escola cabe garantir “(Roldão, 1998), estas aprendizagens incluem certamente o domínio de competências de organização e formulação do conhecimento. Ou seja, os processos também são conteúdos curriculares porque e enquanto objetivos de aprendizagem. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Modelo Figura 2. Modelo organizacional Conforme Figura 2, as relações são tratadas por decisões que afetam o conjunto como um todo, são propostas duas frentes de trabalho: organização interna e organização externa. A organização interna esta estruturada em três níveis, sendo: 1.Nível estratégico: corresponde ao planejamento e às tomadas de decisões a partir da direção e de conselhos (departamental e cursos) e que influenciam a organização interna. 2. Nível organizacional: diz respeito à estruturação hierárquica de pessoal (chefia, professores, alunos, secretaria, linhas de pesquisa, tecnologia) em núcleos e grupos e que determinam as políticas de contratação e de relacionamentos; PÁGINA 182 3. Nível de infra-estrutura: está relacionada aos projetos e aquisição de recursos em hardware, software, mobiliários, rede, e demais recursos para as atividades administrativas e acadêmicas a partir da avaliação das necessidades e de resultados obtidos. Estas fases são dinâmicas e estão em constante desenvolvimento. apresentado o Modelo de Gestão da Tecnologia. A seguir será 2.3. Modelo de Gestão da Tecnologia O modelo de gestão de tecnologia foi estruturado em 3 níveis, um de suporte, desenvolvimento e comunicação definido com estrutura hierárquica de agentes e atividades (Figura 3). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Figura 3. Modelo de Gestão da Tecnologia A Coordenação de Tecnologia tem como função à organização, planejamento e desenvolvimento dos projetos de tecnologia a partir das necessidades apresentadas pelo setor administrativo e pedagógico. É fundamental o estabelecimento de diálogo permanente entre os diferentes atores envolvidos diretamente nos cursos de EAD. Para que as atividades possam ser realizadas, a Coordenação organiza as equipes de suporte, desenvolvimento e comunicação. Quadro1. Descrição das equipes de tecnologia. 1.Equipe de hardware: diz respeito ao pessoal de suporte, rede e manutenção de servidores, com atividades de instalação e manutenção de hardware e software, montagem e serviços de redes, quanto estruturação dos serviços dos servidores de Web, Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), Email, Webcasting, Vídeo/Áudio. 2.Equipe de desenvolvimento/Aplicativos: são serviços destinados a editoração de conteúdos em áudio e vídeo, serviços de Web e estruturação das disciplinas no AVA (está sendo utilizada a plataforma Moodle como sugestão do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Os serviços de editoração estão relacionados ao suporte ao professores para elaboração de conteúdos multimídia. Os serviços de Web estão relacionados ao desenvolvimento de páginas da Internet, manutenção e desenvolvimento de aplicativos e novos ambientes de aprendizagem/ensino. Atuam 5 pessoas para estas atividades; 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Apesar do diálogo centralizado a partir do coordenador, que estabelece uma relação entre o grupo as demais instâncias da Unidade, ela não é uma estrutura rígida. Ao estabelecer o diálogo entre todas as partes, o sistema se mostra como dinâmico. As ações indicam claramente que os processos de desenvolvimento e implementação são dinâmicos e complexos, exigindo recursos, informações e constante capacitação, pois o todo não é a soma das partes. 183 3.Equipe de Comunicação: são serviços relacionados à videoconferência e webconferência com atividades de formação para atuar nas atividades acadêmicas que envolvam estes recursos, suporte à professores, manutenção, suporte aos pólos, desenvolvimento de calendário. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 2.4. Organização Pedagógica Quebrar o isolamento físico através de uma nova rede de relações com o mundo exterior, onde o pensamento, os sentimentos e as informações possam ser percebidos e processado, é um desafio que precisa ser alcançado na EaD. Os ambientes educativos devem proporcionar ao indivíduo a possibilidade interação e construção. O Pólo de Apoio Presencial é um espaço que deve privilegiar as ações promovendo situações educacionais e culturais, permitindo que o vínculo entre aluno/pólo/universidade seja estabelecido. São propostas atividades colaborativos planejadas em ambientes multimídia centrado nas necessidades do estudante, nas necessidade de organização social e identificação da realidade. São oferecidos suporte para a integração entre recursos físicos do Pólo, tecnológicos relacionado a metodologia pedagógica. A metodologia utilizada em cada disciplina é definida pelo professor em diálogo com a equipe pedagógica (Figura 4). Em função das características inerentes da metodologia, a educação a distância exige novas formas de apresentação de materiais, procedimentos e ambientes, de forma a facilitar o papel dos professores e tutores. A utilização de mídias interativas passa a ser ferramenta entre a tecnologia e a mediação pedagógica, possibilitando desenvolver ambientes que tem por objetivo inovar e identificar alternativas para procedimentos participativos e interativos. PÁGINA 184 Figura 4. Modelo de curso 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Figura 5. Modelo de gestão de curso A participação, colaboração e interação são fatores que determinam o processo de aprendizagem. Conforme figura 5, o professor/tutor e aluno precisam estar “conectados” por meio de objetivos comuns. Esta relação não envolve apenas estados de transmissão de informação, e sim, de intervenções que devem ser observadas em função do nível de dependência entre professor-alunos. 3. DISCUSSÃO SOBRE O MODELO DE GESTÃO No processo de gestão da EAD, é necessário a definição de papeis de todos os atores envolvidos, assim como a identificação de todas as atividades a serem realizadas por todos os setores/unidades da universidade e do Pólo. O detalhamento das ações deve priorizar o grau de importância, estratégias, rotinas e atividades acadêmicas e administrativas. O projeto educacional deve ser baseado em uma concepção teórica que ofereça ao professor subsídios para sua ação educativa. A capacitação deve ser considerada objetivo estratégico e deve ter como principio a qualidade do ensino. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Foi possível constar que no modelo estudado os professores e tutores mantem contato com os alunos no decorrer das disciplinas para oferecer suporte as atividades. Assim a utilização de uma Ambiente Virtual de Aprendizagem e suas ferramentas de comunicação, editoração, interação e componentes multimídia podem auxiliar professores e tutores a desenvolver com os alunos estratégias relevantes para a apropriação do conhecimento. Entretanto, o planejamento do uso dessas ferramentas deve estar relacionado com objetivos de ensino, às características individuais dos alunos e as necessidades coletivas [10]. Foi possível verificar que o processo de gestão administrativa e tecnológica precisam auxiliar os processos acadêmicos. 185 Para o estudante da modalidade à distância, novas situações de aprendizagem podem causar certas expectativas. O professor deve estabelecer um relacionamento com os alunos e firmar procedimentos que serão utilizados para alcançar os objetivos do curso. Envolver interativamente e colaborativamente alunos, tutores e professores pode reduzir a apreensão causada pela nova situação. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Portanto, é no contexto de uma atividade centralizada na qualidade do processo de ensino que se propõe este modelo de gestão em EAD, com objetivo de permitir o estabelecimento de relações mais próxima dos agentes e comunidades como meio de ambientes que traduzam novas experiências, competências, estilos de aprendizagem. Nessa perspectiva, todas as atividades propostas são orientadas para a construção do conhecimento pela relação ação↔reflexão através da comunicação e da interação entre estes agentes. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M.E.B. Tecnologia e Gestão do Conhecimento na Escola. In: VIEIRA, A. T.; ALMEIDA, M.E.B.; ALONSO, M. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003. p.113–130. ASSMANN, H. Reencantar a Educação: Rumo à sociedade aprendente. 6.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, 251p. CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. 3.ed. Trad. Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Cultrix, 2003, 296p. DEL NERO, H.S. Complexos e complexidade. ESTUDOS AVANÇADOS 8(20), 1994 MASETTO, M.T. Cultura educacional e gestão em mudança. In: VIEIRA,A.T.; ALMEIDA, M.E.B.; ALONSO,M. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003b.p.69-83. MASETTO, M.T. Mediação Pedagógica e o Uso da Tecnologia. In: MORAN, J. M. M.; MASETTO, M.T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 7 ed. Campinas: Papirus, 2003a. p.133-173. MORAES, M.C. Educar na Biologia do Amor e da Solidariedade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003a. 293p. MORAES, M.C. O Paradigma Educacional Emergente. 9.ed. Campinas, SP: Papirus, 2003b, 239p. MORIN, E. O Método III. O conhecimento do conhecimento/1. 2. ed. Trad. Maria Gabriela de Bragança. Portugal: Europa-América, 1996, 230p. 186 ROLDÃO, M.C. (1992). O Pensamento Concreto das Crianças: uma perspectiva a questionar no currículo. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. PÁGINA OKADA, A.L.P.; ALMEIRA, F.J. Avaliar é bom, avaliar faz bem: Os diferentes olhares envolvidos no ato de aprender. In: SILVA, M.; SANTOS, E. Avaliação da aprendizagem em educação online. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 267-287. ROLDÃO, M.C.(1996). A educação básica numa perspectiva de formação ao longo da vida. Inovação, 9 (3), 205-217. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. VALENTE, J. A. Curso de Especialização em desenvolvimento de projetos pedagógicos com uso das novas tecnologias: descrição e fundamentos. In: VALENTE, J.A.; PRADO, M.E.B.B.; ALMEIDA, M.E.B. Educação a distância via internet. São Paulo: Avercamp, 2003. p.23-54. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 187 XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA TECNOLÓGIA EM EAD: USO DE VIDEOCONFERENCIA E WEBCONFERENCIA PARA MEDIAÇÃO Carlos Alberto Dainese [email protected] RESUMO Utilização da videoconferência e webconferência como recurso tecnológico para realização da mediação entre professores, alunos e tutores de curso na modalidade de Educação a Distância (EaD). Inicialmente foi realizado o desenvolvimento de procedimento para distribuição de videoconferência e webconferência, assim como a organização da distribuição. Posteriormente foi realizado estudo para verificar a funcionalidade das tecnologias para a mediação. A utilização da tecnologia, assim como a definição de estratégias ou metodologias de ensino, deve estar pautada no projeto de curso, nos objetivos educacionais e principalmente no modelo teórico. O avanço das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, da Web e da internet, propicia o aprendizado online através da utilização de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) contendo ferramentas para comunicação, editoração, interação e procedimentos avaliativos, auxiliando professores e tutores a desenvolverem estratégias com os alunos para a apropriação da informação e gestão do conhecimento. Entretanto, o planejamento do uso dessas ferramentas deve estar relacionado com os objetivos de aprendizagem e ensino, às características individuais dos alunos e as necessidades coletivas (Okada 2006;Oliveira, 2004). Neste sentido, o projeto educacional deve ser embasado em uma concepção teórica que ofereça ao professor subsídios para sua ação educativa (Almeida, 2003). Na Figura 1 pode ser observada a relação entre concepção teórica, o papel do professor e tutor, conteúdos e metodologia de ensino. PÁGINA 188 1. INTRODUÇÃO 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Figura 1. Relação entre concepções teóricas e a metodologia em EAD (Garbin; Dainese, 2009). O papel do professor deve ser sustentado, conforme indicado na Figura 1, na concepção teórica que, por sua vez, está relacionada ao “fazer”, conforme indicada pela metodologia escolhida e utilizada para alcançar os objetivos (Cortelazzo, 1996). A sustentação epistêmica oferece a condução para o desenho do processo, podendo este ser diferente a partir da base teórica que orienta a ação para a aprendizagem, e a partir de ações envolvendo o professor, tutor e os alunos (Masetto, 2003a; Masetto, 2003b). Nessa perspectiva, todas as atividades propostas são orientadas para a construção do conhecimento pela relação ação↔reflexão através da comunicação, da interação e criação entre estes agentes. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA São muitos os que ainda criticam os procedimentos educativos que utilizam a tecnologia para auxiliar o processo de ensino – aprendizagem – construção – produção de conhecimento. Esses críticos acreditam que a única função da tecnologia seria a de ajudar o professor a ensinar os conteúdos tradicionais do currículo, mas deve ser usado como ferramenta de aprendizagem, o que pode ser de estimável valia para ajudar no desenvolvimento intelectual do aluno. Um exemplo do que estamos chamando aqui de “ferramenta” seria a Multimídia, que é uma aplicação gerenciada pelo computador que oferece a possibilidade do usuário (aluno, professor e tutor) interagir, fazendo uso simultâneo de diversos meios: áudio, imagens estáticas e dinâmicas, incluindo textos e objetos e outro fator relevante da tecnologia é a possibilidade de acompanhar o aluno através dos comportamentos emitidos em todas as fases do processo de ensino, utilizando 189 Para o desenvolvimento de modelos que favorecem a criatividade e a descoberta são necessárias mudanças na própria estrutura do ensino, menos preocupado com o cumprimento de rígidos currículos uniformes e de processos avaliativos somativos (Silva, 2008). É necessário preparar o profissional formador para assumir uma nova responsabilidade como mediador de um processo que oriente o aluno à aquisição, exploração, criação e desenvolvimento de outros conhecimentos, quanto habilidades e competências. Inseridas neste contexto, as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação podem auxiliar novas experiências através da interação entre o formador e o aluno. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA os recursos de banco de dados para verificar o desenvolvimento auxiliando na avaliação real da aprendizagem. (Oliveira, 2004). Na EaD a separação física e temporal entre formadores e alunos, e o aparecimento de grupos sociais no processo de aprendizagem, exigem novas formas de apresentação de materiais, procedimentos, ambientes e formas de avaliação. Assim, na EaD a utilização de mídias interativas passa a ser ferramenta entre a tecnologia e a mediação pedagógica, possibilitando desenvolver ambientes que tem por objetivo o processo de instrução ou informação, ou pode utilizar a tecnologia para inovar e identificar alternativas para procedimentos formativos, colaborativos e interativos. Considerando a necessidade da oferta de cursos de graduação com a crescente inserção dos alunos, a expansão dos ambientes para distribuições geográficas distintas e a necessidade de atender as necessidades educativas, elencamos alguns requisitos : a) É necessário planejar a inclusão de municípios localizados em regiões geográfica de difícil acesso a informação, com dificuldade de conexão de internet; b) Deve ser considerada a diversidade culturas e proporcionar a participação colaborativa; c) Devem ser consideradas as características dos alunos; d) A Inclusão tecnológica precisa ser planejada considerando a realidade de infraestrutura e projeto pedagógico dos cursos; e) Deve ser priorizado o processo de interação entre os pólos e instituições de ensino; f) É fundamental a capacitação de professores, tutores e alunos; PÁGINA 190 g) Deve ser estabelecida a relação entre Instituição e os municípios de apoio. Estas convergências de fatos e interesses geram uma nova configuração do ambiente educativo e reforçam a necessidade de repensar novas estratégias formativas que auxiliem responder algumas questões: “quais são as melhores práticas para a educação à distância?”, “que estratégias podem ser utilizadas para estimular os processos de aprendizagem/ensino?”, “como engajar ativamente os estudantes para o estudo?” “como a tecnologia pode auxiliar os procedimentos educativos?”. A partir dos problemas de interação, de número de usuários, da relação tempoXespaço, da infra-estrutura, da velocidade da rede e a necessidade de ocorrer à interação-mediação através da tecnologia, foi desenvolvida a proposta de arquitetura que será apresentada a seguir. 2. METODOLOGIA O estudo teve como objetivo desenvolver uma proposta para oferecer suporte tecnológico como instrumento de mediação às atividades acadêmicas para os cursos para atender 5000 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA alunos dos Cursos de graduação para 29 Pólos de Apoio Presencial. Para oferecer a possibilidade da ocorrência de relações interativas foi desenvolvida a proposta de arquitetura híbrida que possibilita streaming de áudio e vídeo a partir do sistema de videoconferência, quanto seu uso para webconferência, considerando: a) distribuição de videconferência e webconferência em tempo real para os pólos; b) gravação e editoração das sessões de videoconferência e webconferência, c) distribuição do sinal de videoconferência a partir da Web, d) interação via chat e email durante a sessão de videoconferência; e) apresentação de conteúdos. O procedimento utilizado foi o desenvolvimento de um ambiente computacional utilizando Flash CS3 e Flex, sendo composto de três janelas: a) para streaming de vídeo e áudio para apresentação de conteúdos, b) uma janela para troca de mensagens (bate papo) e outro de participantes e c) capacitação de técnicos, professores e tutores para utilização do sistema. O estudo foi desenvolvido de agosto de 2009 a abril de 2010, no CEAD/UFOP, 29 Pólos de apoio presencial totalizando 5000 usuários. 3. RESULTADOS Neste estudo vamos apresentar os resultados obtidos durante o período de agosto de 2009 a abril de 2010, considerando os dados coletados a partir do controle de utilização dos sistemas desenvolvidos. PÁGINA Para a comunicação entre Universidade e Pólos de EAD foi desenvolvida uma arquitetura de videoconferência e streaming com hardware e software distribuídos em três salas (Figura 2): a) sala de videoconferência, contendo um aparelho de vídeo conferência Polycom VSX 7000s, servidores com Flash Interactive Server e Flash Media Encoder, interface de vídeo Pinacle, mesa de som de quatro canais, 2 caixas de som, projetor multimídia e aparelho de televisão LCD de 37”; b) sala de edição, contendo uma ilha de edição Duo Core, 2.4 Ghz, 2 MB de memória RAM, rodando os softwares de edição e editoração de vídeo Adobe Premier Pro CS3 e de edição de som Sound Forge 9, e mesa de som de quatro canais e c) sala de distribuição de streaming e gestão do sistema gerenciador de aprendizagem Moodle. 191 3.1. Arquitetura para distribuição de aulas online 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Figura. 2. Modelo de distribuição das videoconferencia Foi a partir do sistema de videoconferência que se estabeleceu uma das formas de interação entre professores, tutores, alunos e pólos. O processo se iniciou com a conexão dos pólos no IP do sistema videoconferência da universidade, feito nas formas: P2P, em que a conexão é feita entre a instituição de ensino com apenas um pólo, ou multicast em que a conexão é feita entre a videoconferência local com outras videoconferências em demais pólos. Neste caso, todos os pólos conectados trocaram informações simultâneas de áudio e vídeo. Salienta-se, que foram distribuídos os sinais em forma de streaming aos pólos que não continha videoconferência, cujas atividades são descritas a seguir. PÁGINA 192 A Figura 3 apresenta os recursos da sala de videoconferência e o uso do sistema para a formação de um espaço virtual de interação promovida entre o professor e mais três pólos. Figura 3. Distribuição de aulas para Pólos. Ao ministrar os conteúdos foram obtidas a imagem e o áudio do professor pelo sistema de videoconferência (Figura 3). Estas foram enviadas para a sala de edição de áudio e vídeo para editoração dos conteúdos, disponibilizando-os como material pedagógico, ou enviado pela rede a partir de um link dedicado de 8 MB para que os pólos conectados pudessem interagir nas atividades. Com isto, a restrição imposta pela distância geográfica não 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA impediu a troca de informações e relacionamentos entre o professor e o aluno, ao contrário, a diversidade cultural dos participantes motivou-os para novas informações, atitudes e colaboração. 3.2. Interação e engajamento do aluno na EAD Para o estudante da modalidade a distância novas situações de aprendizagem podem causar certas expectativas. Neste caso, o professor pode estabelecer um relacionamento com os alunos e firmar procedimentos que serão utilizados para alcançar os objetivos da disciplina. A Figura 4 mostra o agendamento dos encontros para as sessões de videoconferência ou da webconferência envolvendo atividades para soluções de problemas, aulas, seminários e atendimento às dúvidas. Figura 4. Videoconferência, agenda, e opções de mídias. PÁGINA 193 Envolver interativamente e colaborativamente alunos, tutores e professores pode reduzir a apreensão causada pela nova situação que é determinada pela distância física. Na Figura 4, pode ser identificado o professor em situação de videoconferência, a agenda e os itens que o aluno pode escolher com relação as mídias. Os professores precisam utilizar métodos para diversificar as apresentações, selecionando atividades e interações entre alunos e professores, escolhendo situações e práticas relevantes que contribuam para sua atividade do cotidiano, pois sua organização de material para o ensino a distância tem característica diferenciada quando comparada com a presencial. A seguir apresentamos a representação do modelo de interação e mediação desenvolvido. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PÁGINA 194 Figura 5. Representação do processo de mediação com tecnologia. Conforme pode ser observado, os recursos se interam e tem como objetivo o processo de aprendizagem. Segundo Cervi (2008), o planejamento e a avaliação nos sistema educativo devem ser pautados em quatro conjuntos de variáveis como: variáveis de contexto, variáveis de recursos, variáveis de processos e variáveis de resultados. A identificação e avaliação do sistema educacional frente a estes conjuntos de variáveis permitem identificar a eficácia do sistema, a relação entre processos, recursos, rendimento e a pertinência do sistema educacional. A mediação pode favorecer o aprendizado, pois possibilita o envolvimento e acompanhamento do aluno. Para Valente (2003), “o estar junto virtual envolve múltiplas interações no sentido de acompanhar e assessorar constantemente o aluno para pode entender o que ele faz e, assim, propor desafios que auxiliem a atribuir significado ao que está desenvolvendo” (p. 31). Os alunos devem estar engajados na resolução de atividades, e estas devem ser pensadas a partir da realidade do aluno e do projeto do curso. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA É comum nos processos de mediação o uso de ferramentas de comunicação síncrona e assíncrona como chat, fórum de discussão, wiki ou diário de bordo. Contudo, estas ferramentas limitam-se às suas funcionalidades, não permitindo integrar outros instrumentos que promovam outras formas de relacionamentos entre professores/tutores e alunos. A videoconferência e webconferência podem ser soluções na medida em que é possível anexar outros dispositivos ou reunir um conjunto de ferramentas em um mesmo ambiente. Com isto, são possíveis novas experiências educativas e disponibilizar outras formas de apresentação de conteúdos. Contudo, o uso de destes recursos só é viável dentro do modelo educacional se há infra-estruturar adequada daqueles que oferecem e recebem os serviços, além de um protocolo de ações que estabelece o que será desenvolvido. A Tabela 1 mostra as ações interativas que foram utilizadas nas atividades utilizando videoconferência e webconferência. ATIVIDADES PROPOSTAS CONDIÇÕES OFERECIDAS RESULTADOS ALCANÇADOS Realização de testes para conexão online – Webconfêrencia verificação de qualidade Videoconferência 100% Atividades em tempo real – aulas, sessões de Webconferência duvidas, orientações e reuniões. Videoconferência 90,8% Controle dos participantes – Pólos/alunos Controle Webconferência de alunos participantes no chat em tempo real Videoconferência 100% Gravação e disponibilização das sessões 100% Webconferência Videoconferência Atendimento a Pólos com problemas de conexão Webconferência em função da banda da rede ou ausência do recurso Videoconferência de videoconferência 80% Atendimento aos alunos fora do Pólo ou Sede. Webconferência 30% Controle de acesso off-line Webconferência 20% Vídeocoferência 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA O conjunto de experiências resultantes apresentados na Tabela 1 corresponde as mediações proporcionadas pelos recursos de videoconferência e webconferência para atendimento aos 29 pólos e aos 5000 alunos matriculados nos cursos de EaD da UFOP. Salienta-se que há alunos de cursos que não se vinculam a pólos, como é o caso do Curso de Especialização em Gestão Pública. Outro dado importante é a que o nem todos os pólos contém aparelho de videoconferência, sendo necessário a acesso pela Web. A seguir são apresentadas análise da Tabela 1. 195 Tabela 1 – Mediação com uso de videoconferência e webconferência XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA - Realização de testes para conexão online – verificação de qualidade: é uma ação preventiva para garantir o funcionamento e uso da videoconferência e webconferência. Em caso de problemas, outras estratégias são tomadas para não comprometer as atividades. Isto foi feito para os 29 pólos de atendimento, correspondendo a 100% de interação; - Atividades em tempo real – aulas, sessões de duvidas, orientações e reuniões: correspondem às ações interativas entre professores-professores, professores-alunos, professores-tutores, tutores-alunos e alunos-alunos para processo formativos, além de reuniões com os pólos. Utilizou-se tanto a videoconferência quanto a webconferência, atendendo os 29 pólos. - Controle dos participantes – Pólos/alunos Controle de alunos participantes no chat em tempo real: a webconferência permitiu o registro dos acessos pelos participantes ao ambiente quanto interação por chat entre professor-aluno. No caso da videoconferência, é apenas registrado o pólo conectado; - Gravação e disponibilização das sessões: toda sessão de videoconferência e webconferência são gravadas e disponibilizadas como material de consulta. Este acesso é restrito aos professores, alunos e tutores matriculados nas disciplinas, e é feito a partir do site www.cead.ufop.br; - Atendimento a Pólos com problemas de conexão em função da banda da rede ou ausência do recurso de videoconferência: alguns pólos carecem do recurso de videoconferência, e foi necessário disponibilizar as sessões de videconferência pela web. No caso do problema de rede, foi necessário configurar os sistemas de videoconferência com a mesma banda, garantindo a conexão; - Atendimento aos alunos fora do Pólo ou Sede: transmissão de webconferência fora do pólo ou da Sede; - Controle de acesso off line: outra opção de acesso às aulas gravadas a partir da disciplina do professor contido no ambiente virtual de aprendizagem. A seguir será apresentada uma breve discussão. PÁGINA 196 4. DISCUSSÃO SOBRE MEDIAÇÃO COM USO DA TECNOLOGIA A Educação a Distância é uma forma de ensino que possibilita a aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação. Para Hoffmann (1993) o processo de avaliação pode auxiliar o professor a identificar a realidade do aluno e facilitar a tomada de decisão sobre os processos educativos. Em função da distância física, devem ser propostas atividades colaborativas planejadas em ambientes multimídia centrado nas necessidades do estudante, nas necessidades de organização social e identificação da realidade. Deve ser oferecido o suporte para a integração entre recursos físicos do Pólo e às tecnologias relacionadas à metodologia pedagógica. Portanto, é no contexto de uma atividade centralizada no estudante que se 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA propõe este modelo de gestão em EAD, com objetivo de permitir o estabelecimento de relações mais próxima dos agentes e comunidades como meio de ambientes que traduzam novas experiências, competências, estilos de aprendizagem e impactos nos objetivos de aprendizagem. Promover a capacitação de todos os atores envolvidos no processo de ensino é uma condição para a realização da gestão. Identificamos através da literatura (Almeida, 2003; Valente, 2003) que um fator relevante é o vinculo que o aluno estabelece com o Pólo e Curso, a distancia física entre Pólo e Universidade não deve determinar a dificuldade do aluno em se manter no curso. Mas é fundamental que o Pólo ofereça ao aluno condições para a interação, e para o desenvolvimento das atividades previstas no curso. Os atores envolvidos no processo de ensino precisam estar interagindo continuamente, assim a tecnologia deve auxiliar a organização administrativa, e acadêmica. No processo de gestão da EAD é necessária a definição de papeis de todos os atores envolvidos, assim como a identificação de todas as atividades a serem realizadas por todos os setores/unidades da universidade e do Pólo. O Planejamento das ações é o fator que pode realmente contribuir com a eficácia dos processos educacionais. O detalhamento das ações deve priorizar o grau de importância, estratégias, rotinas e atividades acadêmicas e administrativas. O Planejamento deve ser considerado objetivo estratégico e deve ter como principio a qualidade do ensino e principalmente os procedimentos de avaliação de todo processo educativo. Considerando os dados obtidos podemos concluir que a tecnologia especificamente a videoconferência e webconferência está auxiliando o processo de mediação na EAD. REFERENCIAS ALMEIDA, F. J.; FONSECA JÚNIOR, F.M. Aprendendo com Projetos. Brasilia: Ministério da Educação, 2000. 48p. ALMEIDA, M. E. B. Educação, ambientes virtuais e interatividade. In: SILVA, M. Educação online. São Paulo: Edições Loyola, 2003. p.201-215.ALMEIDA, M.E.B. Tecnologia e Gestão do Conhecimento na Escola. In: VIEIRA, A. T.; ALMEIDA, M.E.B.; ALONSO, M. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003. p.113–130. CERVI, R.M. Planejamento e Avaliação Educacional. 2 ed. Curitiba: Ibpex, 2008. 184p SILVA, C.A.J. Formação do Educador. São Paulo: Editora da UNESP, 1996. p.85-96. GARBIN, T. R. ; DAINESE,C.A.. Tecnologia para interação e colaboração na EAD: Um estudo utilizando sistemas de realidade aumentada.. In: I Encontro Internacional do Sistema Universidade Aberta do Brasil, 2009, Brasília, 2009. v. 1 HOFFMANN, J. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1999. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil 197 Utilização Pedagógica de redes eletrônicas. In BICUDO, PÁGINA CORTELAZZO, I.B.C. M.A.V.; XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA MASETTO, M.T. Mediação Pedagógica e o Uso da Tecnologia. In: MORAN, J. M. M.; MASETTO, M.T.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 7 ed. Campinas: Papirus, 2003a. p.133-173. MASETTO, M.T. Cultura educacional e gestão em mudança. In: VIEIRA,A.T.; ALMEIDA, M.E.B.; ALONSO,M. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003b.p.69-83. MATURANA, H.; REZEPKA, S. N. Formação humana e capacitação. Petrópolis: Vozes, 2003. 88p. OKADA, A.L.P.; ALMEIRA, F.J. Avaliar é bom, avaliar faz bem: Os diferentes olhares envolvidos no ato de aprender. In: SILVA, M.; SANTOS, E. Avaliação da aprendizagem em educação online. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 267-287. OLIVEIRA NETTO, A.A. Interação Humano Computador: Modelagem e Gerência de Interfaces com o usuário. Florianópolis: VisualBooKs, 2004. 120p. PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001. SILVA, F.D.A. Planejamento e avaliação educacional no exercício profissional docente. Pontes Revista Virtual, 2008 [online]. ISSN 1678-8419. PÁGINA 198 VALENTE, J. A. Curso de Especialização em desenvolvimento de projetos pedagógicos com uso das novas tecnologias: descrição e fundamentos. In: VALENTE, J.A.; PRADO, M.E.B.B.; ALMEIDA, M.E.B. Educação a distância via internet. São Paulo: Avercamp, 2003. p.23-54 VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA EL CURRÍCULO DE MATEMÁTICA EN INGENIERÍA: UNA VISIÓN CON EL USO DE LA TECNOLOGÍA. Dr. Eugenio Carlos Rodríguez Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría. La Habana, Cuba [email protected] RESUMEN Por lo general no existe coherencia entre el diseño de los currículos de Matemática en las carreras de ingeniería y el uso que se hace de las tecnologías en el proceso de enseñanzaaprendizaje. La introducción de las tecnologías puede contribuir a que los conocimientos, habilidades y modos de la actividad mental se desarrollen de manera que los alumnos se habitúen a reflexionar, plantear hipótesis y conjeturas, validarlas y valorarlas. Un currículo diseñado con el uso de las tecnologías, deberá contribuir al desarrollo tanto del alcance del contenido matemático como del rango de situaciones problemáticas al que pueden enfrentarse los estudiantes. INTRODUCCIÓN Los obstáculos. Entre los obstáculos que impiden el logro de estos propósitos se pueden mencionar los siguientes: 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Las tecnologías, ayudan en la recolección, grabación, organización y análisis de datos. Aumentan además la capacidad de hacer cálculos y ofrecen herramientas convenientes, precisas y dinámicas que dibujan, grafican y calculan. Con estas ayudas, los estudiantes pueden extender el rango y la calidad de sus investigaciones matemáticas y enfrentarse a ideas matemáticas en ambientes más realistas. Sin embargo, en las carreras de ingeniería, estos resultados no siempre se alcanzan. 199 El desarrollo de las TIC ha traído aparejado importantes cambios sociales y culturales y tiene particular relevancia en el ámbito educativo. En especial en las Matemáticas, la introducción de las tecnologías hace que los conocimientos, habilidades, modos de la actividad mental y actitudes que se desea formar en el proceso de enseñanza – aprendizaje, se desarrollen de forma tal que los alumnos se habitúen a reflexionar, plantear hipótesis y conjeturas, validarlas y valorarlas. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Los profesores no siempre tienen la preparación adecuada para enfrentar el reto que significa aplicar las tecnologías en el proceso de enseñanza aprendizaje de las matemáticas. Los estudiantes no siempre tienen los conocimientos y habilidades necesarias en el uso de las tecnologías para enfrentar el aprendizaje de las Matemáticas haciendo uso de ellas. El diseño de los currículos de Matemática no poseen la coherencia necesaria para lograr desarrollar habilidades en el uso de las potencialidades que brindan las tecnologías. Como resultado, el estudiante transita por las asignaturas de Matemática y no logra desarrollar las habilidades necesarias para aprovechar las potencialidades de las tecnologías. Para lograr lo anterior se hace imprescindible realizar cambios en los currículos, así como en los métodos y estilos de trabajo y en los enfoques de las tareas que se les presentarán a los alumnos. Un primer acercamiento a la solución de esta problemática se encuentra en (Durán, 2001), donde se plantea que, a pesar de que a primera vista se aprecian como componentes del proceso docente educativo el aprendizaje, la enseñanza y la materia de estudio, el resultado de un análisis más profundo de este proceso permite distinguir como componentes fundamentales del proceso los siguientes: objetivos, conocimientos, habilidades, métodos, formas de enseñanza, entre los más importantes. Objetivos, conocimientos y habilidades (Durán, 2001). El uso de distintas tecnologías, permite ahondar en la formación del pensamiento matemático de los estudiantes y en consecuencia, plantearse objetivos de mayor alcance e importancia imposibles en épocas pretéritas. Esa influencia de las tecnologías sobre los objetivos se refleja de forma directa sobre los contenidos, y no solamente sobre los contenidos específicos, por la relación que existe entre ambas categorías. El uso de las tecnologías tiene una incidencia directa en el tratamiento de los contenidos específicos pues permite abordar ejercicios de mayor complejidad y que pueden producir un mayor acercamiento a los problemas reales de la ciencia y la técnica. PÁGINA 200 Los métodos (Durán, 2001). Otra de las categorías didácticas que reciben la influencia de los medios son los métodos, considerados como una serie de pasos u operaciones estructuradas lógicamente, con las que se ejecutan distintas acciones encaminadas a lograr un objetivo determinado. En el proceso docente educativo el método es la principal vía que toman el profesor y el estudiante para lograr los objetivos fijados en el plan de enseñanza, para impartir y asimilar el contenido de ese plan. Las formas de enseñanza (Durán, 2001). Se considera que las formas de enseñanza varían considerablemente si se utilizan las tecnologías, pues la forma de desarrollar la clase adquiere nuevos matices, así como la consulta y la autopreparación del estudiante alcanzan otras dimensiones. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA La evaluación (Durán, 2001). La utilización de la tecnología brinda la posibilidad de ampliar la concepción de la evaluación del aprendizaje. La evaluación se modifica sustancialmente al utilizar estas herramientas ya que la posibilidad de cumplimiento de las funciones de la evaluación aumenta, en particular la función educativa, motivadora pues, favorece que el alumno defienda y argumente sus explicaciones contribuyendo a la formación de convicciones, formación de hábitos de estudio, el desarrollo del sentido de la responsabilidad y la autoevaluación. El currículo de Matemática. Un programa de Matemáticas diseñado con el uso explícito de las tecnologías (Rico, 1998), deberá contribuir al desarrollo tanto del alcance del contenido matemático como del rango de situaciones problemáticas o tipos de problemas al que pueden enfrentarse los estudiantes (Guerrero, Laffita y Chávez, 2002). El uso de herramientas de cálculo poderosas, así como las construcciones y representaciones visuales ofrecen a los estudiantes acceso a contenidos matemáticos y a contextos que de otro modo serían para ellos muy difíciles de explorar. El uso de herramientas tecnológicas para trabajar en contextos de problemas interesantes puede facilitar el logro de los estudiantes en una variedad de categorías de aprendizaje de orden superior tales como reflexión, razonamiento, planteamiento de problemas, solución de problemas y toma de decisiones. La falta de coherencia entre el diseño de los currículos de Matemática en las carreras de ingeniería y el uso que se hace de las tecnologías en el proceso de enseñanza-aprendizaje de estas materias, limita el uso de las potencialidades que brindan las herramientas tecnológicas de que se dispone. La investigación. 1. Los sistemas de objetivos y habilidades de los Programas de Disciplinas y asignaturas. 2. Los sistemas de evaluación de las asignaturas y el diseño de las evaluaciones. 3. Los tipos de clases que se utilizan para impartir las asignaturas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Se requiere entonces una investigación seria que, como resultado, muestre importantes transformaciones en el diseño de los currículos de Matemática (Guerrero et al., 2002) en las carreras de ingeniería, en los cuales, la contradicción que requiere ser transformada se manifiesta en: 201 La investigación en Didáctica de la Matemática cubre desde los fundamentos teóricos del desarrollo cognitivo y las diferencias individuales entre los estudiantes hasta los problemas de toma de decisiones en el aula y la escuela y los programas de formación de maestros y profesores (Begle y Gibb, 1980). Un análisis a los distintos paradigmas de investigación en Didáctica de la Matemática, así como de sus principales problemas de investigación (Godino, 2001) nos llevan a una gran variedad de temas, entre ellos (Kilpatrick, 1995): los cambios curriculares, el proceso de aprendizaje, las prácticas de evaluación, el desarrollo profesional, el contexto social y el empleo de la tecnología, entre los más importantes. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 4. El diseño de los ejercicios, problemas y tareas. Una investigación de este tipo debe dar como resultado un Sistema Didáctico para la Disciplina Matemática para carreras de ingeniería, que contribuya al desarrollo de habilidades en el uso de herramientas tecnológicas específicas para aprovechar las potencialidades de su utilización, a partir de un programa curricular diseñado con el uso explícito de la tecnología. Las bases teóricas de la investigación que aquí se presenta se sustentan fundamentalmente en el aprendizaje desarrollador (Zilberstein, 2006a; Zilberstein, 2006b; Zilberstein y Portela, 2002), y en el uso de estrategias metacognitivas (Labarrere, 1994) en el proceso de enseñanza-aprendizaje de la Matemática sustentadas en el uso de tecnologías. PÁGINA 202 Asumimos una concepción desarrolladora que se ha ido conformando y sistematizando en los últimos años a la luz de diferentes investigaciones pedagógicas realizadas, enriquecida con la práctica docente en Cuba […] La Didáctica debe ser desarrolladora, es decir, conducir al desarrollo integral de la personalidad del estudiante, siendo esto el resultado de un proceso activo de apropiación de la experiencia histórica acumulada por la humanidad El proceso de enseñanza- aprendizaje, no puede realizarse teniendo en cuenta solo lo heredado por el alumno, debe considerar que es decisiva la interacción sociocultural, lo que existe en la sociedad, la actividad, la socialización, la comunicación. (Zilberstein, 2006a, p. 33) Para llevar a cabo la investigación será necesario identificar las habilidades que poseen los alumnos de los primeros años de las carreras de ingeniería para resolver problemas que requieren de la Matemática, utilizando herramientas tecnológicas, así como la preparación que poseen los profesores de Matemática en carreras de ingeniería, para utilizar herramientas tecnológicas específicas en el proceso de enseñanza aprendizaje. En este último sentido se plantea fundamentar el diseño de un sistema de entrenamiento para profesores de Matemática en carreras de ingeniería, para utilizar herramientas tecnológicas específicas en el proceso de enseñanza-aprendizaje, de manera que propicien el desarrollo de habilidades mediante el uso de la tecnología que aprovechen las potencialidades de estas. Para el diseño del currículo, con las exigencias que plantea la investigación es imprescindible determinar los elementos que deben caracterizar el diseño de los Programas de la Disciplina Matemática para carreras de ingeniería, y las asignaturas que la componen, de manera que, mediante el uso de herramientas tecnológicas específicas, contribuyan al desarrollo de habilidades que potencien el uso de la tecnología. Un objetivo importante será identificar las situaciones prácticas y conceptuales pertinentes para el diseño de materiales didácticos y bibliografía complementaria a los libros de texto, que contengan un sistema de ejercicios y problemas que contribuyan al desarrollo de habilidades mediante el uso de tecnologías, aprovechando sus potencialidades. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA La investigación que se expone está centrada en el segundo de los obstáculos mencionados, específicamente en lo referente a las habilidades. Un paso importante es el estudio de las habilidades matemáticas que poseen los estudiantes de los primeros años de las carreras de ingeniería y las que se tienen que desarrollar, para utilizar las tecnologías en la solución de problemas que requieren del uso de las Matemáticas. El estudio realizado es la primera etapa del desarrollo del proyecto de investigación “El currículo de Matemática con Tecnología”, que está dirigido a la elaboración de un Sistema Didáctico para la Disciplina Matemática en carreras de ingeniería, que aproveche las potencialidades de las herramientas tecnológicas para lograr en los estudiantes modos de actividad mental y actitudes que les permita extender el rango y la calidad de sus investigaciones matemáticas y enfrentarse a ideas matemáticas en ambientes más realistas, alcanzando categorías de aprendizaje de orden superior, tales como reflexión, razonamiento, planteamiento de problemas, solución de problemas y toma de decisiones (Carlos y Ansola, 2010). En esta etapa de la investigación se determinan las habilidades matemáticas que deben poseer los estudiantes para poder hacer un uso adecuado de las tecnologías, el agrupamiento de estas habilidades en dimensiones y los indicadores que permitirán elaborar los instrumentos para el diagnóstico de la situación real en el desarrollo de estas habilidades. En la primera fase de la metodología aplicada en la investigación se emplean diferentes métodos como son: histórico-lógico, que posibilita la aproximación a los referentes teóricos del tema, profundizar en sus relaciones, analizar diferentes criterios relacionados con la teoría curricular, la Didáctica de la Matemática y el uso de las herramientas tecnológicas en el proceso de enseñanza y aprendizaje; el enfoque sistémico, que posibilita modelar el objeto de la investigación mediante la determinación de sus elementos básicos; y el análisis documental para el estudio y análisis de diferentes documentos normativos. Las Habilidades Generales Matemáticas. En concordancia con esta definición se puede señalar que la habilidad es el saber hacer, es el dominio por parte del sujeto, de las operaciones que se manifiestan desde un saber hacer elemental, que transita hacia un elevado nivel de calidad en la ejecución y un alto grado de 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Desde el punto de vista psicológico la habilidad constituye el dominio de operaciones (psíquicas y prácticas) que permiten la regulación racional de la actividad. Es la comprensión de la interrelación entre el fin de la actividad y las condiciones, los medios de su puesta en práctica (Álvarez de Zayas, 1995), concepto que se asume en este trabajo. 203 Las habilidades constituyen una de las formas de la asimilación de la actividad del hombre. Teniendo como fundamento la teoría psicológica de la actividad sustentada en el Enfoque Histórico Cultural, “no se puede separar el saber, del saber hacer, porque siempre saber es saber hacer algo, no puede haber un conocimiento sin una habilidad, sin un saber hacer”. Talízina (1984). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA perfección y destreza en la realización de estas operaciones. Las habilidades siempre parten del conocimiento y se apoyan en el conocimiento, es el conocimiento en acción. Varios autores, tales como Hernández (1989) y Delgado (1995 y 1997), por citar algunos, han desarrollado estudios sobre el sistema básico de habilidades matemáticas específicas y generales, resultado de gran valor didáctico y metodológico, tanto para los docentes como para la formulación de los programas de las diferentes asignaturas. Identificar las habilidades específicas que son necesarias para usar la tecnología, resulta un requisito indispensable para la utilización de las mismas en el proceso de enseñanza y aprendizaje. Los elementos anteriormente analizados fundamentan el hecho de que un programa de Matemática diseñado con el uso explícito de las tecnologías, deberá contribuir tanto a la asimilación del contenido matemático como a la solución de situaciones problemáticas o tipos de problemas al que pueden enfrentarse los estudiantes. El uso de herramientas informáticas de cálculo poderosas, así como las construcciones y representaciones visuales ofrecen a los estudiantes acceso a contenidos matemáticos y a contextos que de otro modo serían para ellos muy difíciles de explorar. Las herramientas tecnológicas utilizadas durante el proceso de enseñanza y aprendizaje de las Matemáticas pueden facilitar el desarrollo en los estudiantes de una variedad de categorías de aprendizaje de orden superior tales como: reflexión, razonamiento, planteamiento de problemas, solución de problemas y toma de decisiones (Carlos y Ansola, 2010). Para operacionalizar las habilidades necesarias en el uso de las tecnologías para enfrentar el aprendizaje de las Matemáticas se aplicará lo indicado por Hernández, R., Fernández, C. y Baptista, P. (1991) en cuanto a identificar dimensiones e indicadores para dichas habilidades. Partiendo del sistema de Habilidades Generales Matemáticas planteadas por Delgado (1995 y 1997), se determinó que ellas forman parte imprescindible de las que un estudiante debe desarrollar, y son las siguientes: Interpretar, Identificar, Recodificar, Calcular, Algoritmizar, Graficar, Definir, Demostrar, Modelar, Comparar, Resolver, Optimizar y Controlar. 204 Dimensión correspondiente a las Habilidades Conceptuales: Son aquellas que operan directamente con los conceptos. PÁGINA En este proceso se utilizaron las cuatro dimensiones que se definen teniendo en cuenta las funciones que realizan las habilidades y que están en correspondencia con lo planteado por varios autores, entre ellos Polya (1945), Scoenfeld (1992) y Delgado (1997), entre otros, estas son: Dimensión correspondiente a las Habilidades Traductoras: Aquellas que permiten pasar de un dominio a otro del conocimiento Dimensión correspondiente a las Habilidades Operativas: Son aquellas que funcionan generalmente como auxiliares de otras más complejas y que están relacionadas con la ejecución en el plano material o verbal. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Dimensión correspondiente a las Habilidades Heurísticas o Metacognitivas: Son aquellas que emplean recursos heurísticos y metacognitivos y están presentes en un pensamiento reflexivo, estructurado y creativo. El resultado obtenido fue la clasificación de las habilidades determinadas anteriormente dentro de estas dimensiones, tal y como se muestra a continuación: En la dimensión Conceptueles clasifican las habilidades Definir, Demostrar, Identificar y Comparar. En la dimensión Traductoras clasifican las habilidades Interpretar, Modelar y Recodificar. En la dimensión Operativas clasifican las habilidades Algoritmizar, Graficar, Calcular, Aproximar y Optimizar. Y, por último, en la dimensión Heurísticas y Metacognitivas clasifican las habilidades Conjeturar, Resolver, Representar y Controlar La tarea siguiente fue determinar el conjunto de indicadores que servirán para diagnosticar las habilidades matemáticas que deben poseer los estudiantes de los primeros años de las carreras de ingeniería. Un ejemplo de los resultados es el obtenido para la dimensión Conceptuales, como se muestra a continuación. Dimensión Habilidades Indicadores Reproducción verbal Definir Reproducción gráfica Reproducción Numérica Reproducción Simbólica Por reducción al absurdo Conceptuales Demostrar Por contraejemplo Método constructivo Determinar propiedades esenciales. Identificar Estructura lógica del concepto Fundamento de la comparación. Agrupar en clases Los indicadores determinados para cada habilidad se corresponden con el punto de partida para el diseño de los instrumentos que servirán para diagnosticar el estado de desarrollo actual de estas habilidades. El paso siguiente en el diseño del instrumento para diagnosticar 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Comparar 205 Situación de pertenencia. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA será diseñar los ítems (Hernández, Fernández y Baptista, 1991), el esquema de un ejemplo se muestra a continuación: Dimensión Conceptuales Habilidad Definir Definición Operacional Es establecer mediante una proposición las características necesarias y suficientes del objeto de estudio. Indicadores Ítems Reproducción verbal Reproducción gráfica Reproducción numérica Reproducción simbólica Por reducción al absurdo Habilidades matemáticas agrupadas atendiendo a los efectos que producen las tecnologías. Otro aspecto de la investigación que está en desarrollo, con respecto a las habilidades generales matemáticas, es el relacionado con la influencia de la tecnología para ampliar las capacidades cognitivas en algún sentido fundamental (Salomon y Perkins, 2005). PÁGINA 206 El diálogo inteligente con herramientas computacionales requiere que las funciones cognitivas deban ser distribuidas en una manera óptima entre estudiante y herramienta. En el paradigma viejo, la enseñanza de la Matemática estaba basada en una práctica repetitiva hasta perfeccionar ciertos conocimientos. Con el uso de la tecnología esta práctica debe cambiar en una manera inteligente, por lo tanto debemos tener una mejor comprensión de los efectos que la tecnología causa a los procesos cognitivos. Al respecto Salomon, G y Perkins, D. (2005) al analizar si la puesta en práctica de la tecnología amplía las capacidades cognitivas introducen los conceptos de "Efectos con la tecnología", cuando esta es usada para mejorar el desempeño intelectual mientras uno está operando la herramienta; "Efectos de la tecnología", cuando el uso de la tecnología puede dejar residuos cognitivos que aumentan el desempeño incluso después de que uno deja de usarla; y "Efectos a través de la tecnología", cuando la tecnología no sólo aumenta el desempeño, sino que, fundamentalmente, lo reorganiza. Estos efectos tienen diferentes objetivos, frecuencia de ocurrencia y magnitud de impacto: Efectos con la tecnología. Cuando una calculadora o una computadora es usada por el estudiante en la solución de problemas matemáticos, por ejemplo durante un examen, se establece una colaboración intelectual, con el propósito de que las funciones cognitivas sean 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA distribuidas entre el estudiante y la herramienta. Los objetivos básicos son liberar al estudiante de las distracciones de las funciones cognitivas de más bajo nivel, por ejemplo cálculos voluminosos o repetitivos, largas manipulaciones algebraicas, etc. y mostrar que la herramienta es usada de manera consciente que el beneficio de la sociedad es, probablemente, mejorar el desempeño intelectual. Efectos de la tecnología. Se refieren a aquellos efectos, positivos o negativos, que persisten sin la tecnología en mano, después de un período de haberla usado. En el caso positivo hay adquisición de nuevos conocimientos o habilidades y se logra una conceptualización. En este caso se plantea que la herramienta posee no solamente un valor práctico, sino, además, un valor epistémico. Los efectos negativos pueden aparecer, por ejemplo, cuando se genera una dependencia excesiva con la herramienta, perdiéndose habilidades que son consideradas indispensables. Otra vez, no hay consenso sobre las habilidades que deben ser consideradas indispensables y no pueden ser sustituidos por otras relacionadas con la tecnología. Efectos a través de la tecnología. Los autores Salomón, G. y Perkins, D. emplean este concepto cuando su influencia es radicalmente transformadora, o sea, cuando la tecnología, fundamentalmente, reestructura y reorganiza su dominio de la acción. Las herramientas computacionales, han modificado y continúan modificando radicalmente el trabajo matemático. Las Matemáticas Experimentales en sí mismas, surgen de los "Efectos a través de la tecnología". Queda por estudiar cuáles de las habilidades generales matemáticas: Interpretar, Identificar, Recodificar, Calcular, Algoritmizar, Graficar, Definir, Demostrar, Modelar, Comparar, Resolver, Optimizar y Controlar, desarrolladas con el uso de tecnologías producen efectos cognitivos como los definidos anteriormente. Conclusiones. Para ello es importante la identificación de las habilidades que deben poseer los alumnos de los primeros años de las carreras de ingeniería para resolver problemas que requieren de la Matemática, utilizando herramientas tecnológicas, la clasificación de estas habilidades en 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Se considera que investigaciones de este tipo serán beneficiosas tanto desde el punto de vista de la Didáctica como por el hecho de que como resultado de la misma se obtendrá un currículo de Matemática, diseñado con el uso explícito de herramientas tecnológicas específicas, de manera que, en su tránsito por las asignaturas de Matemática, los estudiantes desarrollen las habilidades necesarias para aprovechar las potencialidades de estas herramientas. 207 Las TIC pueden llegar a transformar la enseñanza y el aprendizaje de la Matemática, pero las computadoras por sí solas no transformarán este proceso. Los maestros y profesores juegan el papel decisivo en esta transformación. La clave está en la investigación profunda en estos temas: la Didáctica de la Matemática cuando se utilizan las nuevas tecnologías y el diseño de currículos de Matemática con el uso explícito de las tecnologías. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA cuatro dimensiones: conceptuales, traductoras, operativas y heurísticas y metacognitivas, la determinación de indicadores para el diseño de los instrumentos que medirán el desarrollo de estas habilidades en los estudiantes. Y, por último, la determinación de cuáles de las habilidades generales matemáticas, desarrolladas con el uso de tecnologías producen efectos cognitivos radicalmente transformadores, que reestructuren y reorganicen el dominio de la acción (efectos a través de la tecnología) REFERENCIAS 1. Álvarez de Zayas, R. (1995) Didáctica y Currículum del docente. La Habana: editorial del ISPEJ Varona. 2. Begle, E.G. y Gibb, E.G. (1980). Why Do Research. En R. J. Shumway (Ed.), Research in Mathematics Education (pp. 3-19), USA: National Council of Teachers of Mathematics Professional Reference Series. 3. Carlos, E. y Ansola E. (2010). El currículo de matemática con tecnología en carreras de ingeniería. En P. Lestón (Ed), Acta Latinoamericana de Matemática Educativa 23. México: Comité Latinoamericano de Matemática Educativa. 4. Delgado, J. R. (1995). Un sistema de habilidades para la enseñanza de la Matemática. Memorias de la 9na Reunión Centroamericana y del Caribe sobre formación de profesores e investigación en Matemática Educativa. Tomo II. México: Programa editorial del área de Educación Superior del Departamento de Matemática Educativa Cinvestav-IPN. 5. Delgado, J. R. (1997). Las habilidades generales matemáticas y la estructuración del conocimiento matemático. Acta Latinoamericana de Matemática Educativa 11, 108111. México: Grupo Editorial Iberoamericana. PÁGINA 208 6. Durán, M. (2001). La introducción de algunas herramientas de la tecnología informática en Algebra Lineal para Ingeniería Informática. Su impacto en la Didáctica. Tesis de Maestría no publicada. Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, La Habana, Cuba. 7. Godino, J.D. (2001). Paradigmas, problemas y metodologías de investigación en Didáctica de la Matemática. En Teoría y métodos de investigación en Educación Matemática. Recuperado el 15 de enero de 2005 de http://www.ugr.es. 8. Guerrero, Eloy., Laffita, P. O. y Chávez, M. (2002). Transformaciones en el currículo matemático de la enseñanza superior por el uso de las Tecnologías de la información y las Comunicaciones. PRIMER CONGRESO VIRTUAL DE APRENDIZAJE CON TECNOLOGÍA, Facultad Agroforestal del Centro Universitario de Guantánamo. Cuba. Recuperado el 13 de marzo de 2009 de http://www.universia.pr/ congreso/75/75.doc. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA 9. Hernández, H. (1989). El perfeccionamiento de la enseñanza de la Matemática en la Enseñanza Superior Cubana. Experiencia en el Algebra Lineal. Tesis de doctorado no publicada. Universidad de La Habana. Cuba. 10. Hernández, R., Fernández, C. y Baptista, P. (1991). Metodología de la Investigación. México: Mc Graw – Hill. 11. Kilpatrick, J. (1995). Investigación en educación matemática: su historia y algunos temas de actualidad. En Educación Matemática. Bogotá: “una empresa docente” y Grupo Editorial Iberoamérica. 12. Labarrere, A. (1994). Pensamiento. Análisis y Autorregulación de la actividad cognoscitiva de los alumnos. México: Ángeles Editores. 13. Polya, G. (1945). How to solve it. Pricenton: Pricenton University Press 14. Rico, L. (1998) Complejidad del currículo de Matemática como herramienta profesional. Revista Latinoamericana de Investigación en Matemática Educativa 1 (1), 22-39. 15. Salomon, G. y Perkins, D. (2005). Do technologies make us smarter? Intellectual Amplification with, of and Trough Technology. En R. J. Sternberg y D. Preiss (Eds), “Intelligence and Technology, The impact of tools on the nature and development of human abilities”. NJ: Lawrence Erlbaum Associates, Inc. 16. Schoenfeld, A. (1992). Learning to think mathematically: Problem Solving, Metacognition, and Sense Making in Mathematics. En Grows, D.(Ed), Handbook for research on mathematics teaching and learning, pp. 334-370. Nueva York: Macmillan Publishing Company. 17. Talízina, N.F. (1984). Fundamentos de la enseñanza en la Educación Superior. Conferencias no publicadas. Universidad de la Habana. Cuba 18. Zilberstein, J. (2006). Categorías de una Didáctica Desarrolladora. Posición desde el enfoque Histórico-Cultural. En Colectivo de Autores. Preparación Pedagógica Integral para Profesores Integrales (pp. 33-43), La Habana: Editorial Felix Varela. 19. Zilberstein, J. (2006). Principios Didácticos en un Proceso de Enseñanza-Aprendizaje que Instruya y Eduque. En Colectivo de Autores. Preparación Pedagógica Integral para Profesores Integrales (pp. 19-31), La Habana: Editorial Felix Varela. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA 209 20. Zilberstein, J. y Portela, R. (2002). Una Concepción Desarrolladora de la Motivación y el Aprendizaje de las Ciencias. Cuba: Editorial Pueblo y Educación. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA MODELACIÓN MATEMÁTICA ESCOLAR. ALGUNAS REFLEXIONES FRENTE A SU RELACIÓN CON LA CULTURA Jhony Alexánder Villa-Ochoa Universidad de Antioquia, Red Colombiana de Modelación en Educación MatemáticaRECOMEM [email protected] Varios niveles. Modelación Matemática RESUMEN Una revisión a la literatura internacional da cuenta que en la implementación de modelación matemática en el aula de clase pueden observarse diversas perspectivas y tendencias. En cualquier caso, tal implementación implica intencionalidades de orden didáctico, conceptual, formativo, entre otros. Así, la modelación más allá de considerarse como una herramienta pedagógica, puede también atender a otras funciones propias de la cultura y la sociedad. Este trabajo presento algunos aportes sobre modelación matemática desarrollados por miembros de la RECOMEM, en algunos de ellos se observa cómo los estudiantes al comprometerse con el estudio de los fenómenos, no solo interpretan y (re)construyen modelos matemáticos, sino que también (re)constituyen sus consideraciones frente al fenómeno mismo, convirtiéndose en un factor prominente hacia la transformación de algunos aspectos de la “cultura”. Palabras clave: Modelación matemática, tendencias y aproximaciones, cultura PÁGINA 210 1. Algunas tendencias y aproximaciones a la modelación matemática en el aula de clase En los últimos años ha habido un creciente interés en los trabajos relacionados con aplicaciones y modelación matemática en Educación Matemática; de esa forma ha llegado a consolidarse como un productivo campo de investigación al interior de esta disciplina científica. La diversidad de trabajos en este campo muestran que no existe una comprensión homogénea sobre los modelos y la modelación matemática, asimismo como sus implicaciones en el aula de clase (Kaiser y Sriramam, 2006). En su artículo, Kaiser y Sriraman (2006) presentan una clasificación de los trabajos atendiendo a criterios de tipo epistemológico y relativos a perspectivas al interior de la Educación Matemática. Desde otras miradas, la modelación matemática puede concebirse de distintas maneras, entre ellas: como una estrategia de los seres humanos para la explicación y producción del 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA conocimiento, y también para el aprendizaje (D' Ambrosio, 2009); como una herramienta didáctica (Biembengut y Hein, 2004), como una competencia y una herramienta para desarrollar competencias matemáticas (Zöttl, Ufer, y Reiss, 2011), como un herramienta para posicionarse de manera crítica frente a las demandas sociales y democráticas (Skovsmose, 1999), entre otros. En varias de estas consideraciones la implementación de procesos de modelación matemática en las aulas de clase puede defenderse por las diversas implicaciones que tiene para el aprendizaje, la motivación y las actitudes hacia las matemáticas. De manera particular, Blum y Borromeo-Ferri (2009) señalan que a través de la modelación los estudiantes pueden comprender mejor los contextos en los cuales se desenvuelven; se apoya el aprendizaje de las matemáticas (motivación, la compresión, entre otros) y se promueve el desarrollo de algunas competencias, actitudes y visiones adecuadas hacia las matemáticas. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Sea cual sea la aproximación que se adopte de la modelación matemática, lo cierto es que cada vez más se pone de relieve la necesidad de relacionar las matemáticas escolares con otros contextos, fenómenos o situaciones de la cotidianidad, la sociedad o la cultura; en parte, porque es por medio del estudio de estos contextos como se aportan elementos para alcanzar los diferentes fines que se le han atribuido a la Educación Matemática, en particular, aquellos que tienen que ver con la difusión de valores democráticos y de integración social, la realización y ejercicio de la crítica y el esfuerzo por la acción comunicativa son también elementos clave a tener en cuenta en la planificación y desarrollo de las matemáticas escolares (Rico, 1997). Con base en estas ideas, existen diferentes académicos interesados en aportar elementos frente a la relación de la modelación matemática con la cultura; en el siguiente apartado menciono algunos aspectos observados 211 Con respecto al énfasis que se puede otorgar a la identificación y delimitación de los contextos, tópicos, o fenómenos que se desean modelar, también se pueden reconocer, al menos, dos tendencias, las cuales dependen del papel activo que ejerza el profesor o los estudiantes en tal elección. El primero de ellos pone el papel protagónico en los estudiantes, quienes de acuerdo con sus necesidades e intereses identifican los contextos, fenómenos o situaciones sobre los cuales se realiza el proceso de modelación; una muestra de estos trabajos puede encontrarse en Aravena, Caamaño, y Giménez (2008), Borba, Meneghetti, y Hermini, (1997) o Borba y Villarreal (2005). En una segunda aproximación, el papel protagónico está en el profesor, quien de acuerdo con su conocimientos, los contenidos temáticos y su realidad institucional, elige tales contextos o fenómenos; sobre este énfasis pueden encontrarse trabajos que se enfocan en el estudio de un fenómeno amplio y complejo (Villa-Ochoa, 2007; Villa-Ochoa y Jaramillo, 2011; Biembengut y Hein, 2004). En este mismo sentido, se reconoce en la literatura otras aproximaciones, entre ellas los denominados problemas de relatos o problemas de palabras (word problems) algunos de los trabajos que cuestionan, y proponen nuevos desarrollos en esta aproximación se encuentran en Bonotto (2007, 2009); Verschaffel, Van Dooren, Greer, y Mukhopadhyay (2010), Gerofsky (2010), Murata y Kattubadi (2012). XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA en los trabajos de investigación de la Red Colombiana de Modelación en Educación Matemática-RECOMEM. 2. La modelación matemática y la Cultura. Algunas discusiones desde la RECOMEM De manera general, puede considerarse que en cualquiera de las aproximaciones a la modelación matemática escolar mencionadas en el apartado anterior, su incorporación atiende a intencionalidades del orden didáctico, conceptual, formativo, entre otros. Ante la diversidad aproximaciones y énfasis, existe al interior de la Red Colombiana de Modelación en Educación Matemática, un equipo de trabajo interesado en indagar por este proceso en relación con los contextos desde los cuales tiene su génesis y sus aportes a la comprensión y transformación de los contextos de los cuales pueden emerger. En ese sentido, en el seno de la RECOMEM hemos considerado al proceso de modelación matemática escolar como: […] el estudio de fenómenos o situaciones que pueden surgir tanto desde los contextos cotidianos, sociales y culturales de los estudiantes como de otras ciencias o disciplinas académicas. Dicho proceso de estudio involucra el uso y/o la construcción de modelos y de otras herramientas matemáticas con las cuales puede ofrecerse una compresión del fenómeno y/o resolver el problema. PÁGINA 212 Asumir la modelación como un proceso de estudio de un fenómeno o situación a través de la matemática, no solo delimita el campo de acción y demarca algunas discusiones de tipo filosófico (esencialmente aquellas relacionadas transición de mundo real, extramatemático, naturaleza de las prácticas de producción, etc.), sino que, principalmente, asigna a tales fenómenos y situaciones un papel constitutivo en el actividad modeladora. Es así como discutimos que la modelación, más allá de convertirse en un pre-texto para enseñar y/o aprender matemáticas, puede atender principalmente a otras funciones que se revierten en la cultura y no únicamente hacia en los desarrollos matemáticos; de esta manera vemos la modelación matemática como una actividad desde y para la cultura34. Algunos vínculos de la modelación matemática con la sociedad y la cultura han sido reconocidos desde la literatura. De manera particular, Christiansen (1999) retomando los trabajos de Niss (1990) resalta la importancia de que los individuos sean capaces de reflexionar críticamente sobre modelos y sus aplicaciones, ya que las matemáticas juegan 34 Entiendo que existen diversas acepciones sobre el término cultura. Para efectos de este documento se observará como un sistema “complejo” de conocimientos, experiencias, prácticas, creencias, mitos, etc., que se han consolidado acuerdos, convenciones y/o costumbres en las comunidades. Para una mirada más profunda sugiero dar una lectura a los trabajos de D’Ambrosio (2005, 2009). 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA un papel importante en la formación de los límites a nuestras actividades; así mismo, resalta el hecho que las matemáticas trabajan en el subsuelo de la cultura y la sociedad. En coherencia con los elementos anteriormente presentados, se han desarrollado en el seno de la RECOMEM algunas experiencias que se focalizan en el papel de los contextos propios de la cultura y la sociedad en la modelación matemática. En este documento retomo de manera sucinta tres de los últimos trabajos que aportan en este enfoque, a saber: Londoño y Muñoz (2011), Berrío (2012) y Bustamante (2012). En estos tres trabajos se desarrollan estudios de casos con el fin de indagar por la manera en que los estudiantes (re)construyen modelos, amplían sus horizontes conceptuales frente algunos tópicos de las matemáticas, pero más allá de ellos, profundizan en el (re)conocimiento de algunas características los contextos involucrados y en algunos casos, logran transformarlos. 2.1 Modelación matemática y el sistema masivo de transporte Metro de Medellín. Este trabajo se reporta en Londoño y Muñoz (2011) y corresponde a una indagación en la cual las investigadoras actuaron como profesoras de un grupo de estudiantes de último grado de Educación Media (15-17 años) quienes, de acuerdo a sus intereses, conformaron un semillero de investigación e indagaron por algunos aspectos matemáticos que se involucraban en el sistema de transporte masivo “Metro de Medellín”. El grupo de estudiantes se comprometió en la determinación de los elementos que pudieran ofrecer una aproximación a la pregunta ¿Por qué el sistema de Transporte Metro de Medellín es conveniente o no para ti como un individuo que forma parte activa de la ciudad de Medellín? A través de diferentes fuentes de información y la triangulación entre ellas, las investigadoras consiguieron observar cómo un contexto realístico se convierte en generador de dinámicas grupales de discusión y reflexión a la luz de los significados y experiencias sociales propias de los participantes y el proceso de modelación. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Por la edad de los estudiantes, el sistema de transporte masivo en mención había sido un medio existente durante “toda su vida”; en ese sentido, parecía haberse convertido en un elemento cotidiano que los estudiantes conocían de manera superficial. El proceso de modelación como tal, les permitió conocer ciertos antecedentes en su construcción, financiación, dificultades, tiempos, etc., con lo cual profundizaron en sus sistemas de conocimientos sobre ese medio de transporte. Fue así como los estudiantes fueron transformando las ideas que habían construido, desde su experiencia, sobre aquellos aspectos que reconocen del contexto. Así mismo, en el proceso de apropiación del contexto se crea en los estudiantes diferentes intereses y cuestionamientos generados por ellos 213 El contexto del Metro de Medellín se convirtió en escenario para que nociones asociadas a la variación (i.e. variables, funciones y ecuaciones lineales) emergieran con nuevos significados; pero quizás, uno de los elementos más importantes fue dicho proceso de modelación enmarcado en un escenario social y cultural, el cual posibilitó que en los estudiantes surgieran ciertas comprensiones de orden político y crítico sobre el fenómeno. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA mismos, que les exige buscar en el campo de las matemáticas aquello que les ayude a legitimar sus ideas, soluciones o hipótesis. En sus conclusiones, Londoño y Muñoz resaltan que el contexto del Metro funciona dentro del proceso de modelación matemática como un argumento de motivación, de empoderamiento y de significación para el grupo de estudiantes, pero más allá de ello, también proporciona una riqueza en cuanto a su contenido cultural y social, generando mayor interés al vincular sus experiencias de uso con diferentes interrogantes y necesidades a resolver. Los contextos de modelación permitieron conocer el contexto más a fondo y con mayor complejidad. En coherencia con esta idea, el modo de relación de los sujetos con una “realidad” no estática, tiene que ver con un proceso de construcción humana que se materializa en actividades concretas de aula, en las cuales se reflexiona intencionalmente sobre lo problemático de una realidad particular. Asimismo, se resalta que las situaciones en “contexto real”, bajo una perspectiva de modelación matemática en el aula, requieren que estén al alcance de la visión del mundo construida hasta ese momento de los estudiantes. Es decir, que haga parte de su forma de vida, para que de este modo les permita comprenderla, transformarla y ampliarla. 2.2 Hacia la construcción de modelos matemáticos pre-algebraicos PÁGINA 214 Preguntarse por la manera en que los estudiantes de grado sexto (11-13 años) se aproximan a la construcción de modelos algebraicos en los cuales intervienen relaciones aditivas y multiplicativas, fue el motor para que Bustamante (2012) desarrollara su estudio; para ello, este investigador reconoció en los fenómenos de variación un espacio propicio para que las “letras” (símbolos algebraicos) emergieran como variables y las expresiones producidas pudieran tener un significado funcional. Para el autor, su estudio surge como una manera de atender a algunas de las dificultades que se observan la producción significativa de los “símbolos algebraicos” inmersos en algunas ecuaciones lineales; por tal razón, en un primer momento el investigador se involucró en el reconocimiento de los contextos, en los cuales las operaciones entre cantidades de magnitud podrían percibirse. En esta parte del estudio, los hallazgos mostraron que los estudiantes hacen un excesivo uso de problemas de palabras estereotipados (realidades inventadas, caducadas, falseadas, etc., Alsina, 2007) como una manera de ejemplificar los usos cotidianos de las operaciones. Con base en estos resultados el autor se compromete con sus estudiantes en la identificación de cantidades de magnitud propias de la cultura del estudiante (problemas de consumo, almacenes, transportes, etc.) y a través del estudio del comportamiento de tales 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA cantidades, los estudiantes consiguieron identificar variables e invariantes con los cuales hicieron “proposiciones generales” incursionando en un razonamiento algebraico (Blanton y Kaput, 2011). Durante este proceso de razonamiento, Bustamante muestra que los estudiantes fueron construyendo representaciones icónicas, verbales, diagramas, como una manera de representar las relaciones entre cantidades. Además, con las discusiones entre los estudiantes y de éstos con el profesor, nuevas representaciones matemáticas más refinadas se fueron produciendo. Uno de los aportes más significativos del trabajo de este investigador radica en la manera no lineal en que las expresiones algebraicas (lineales) fueron surgiendo como una manera de representar algunos aspectos de sus contextos. Al observar cada una de las producciones de los estudiantes y la manera en que las representaciones se van refinando, el autor observa la modelación como un proceso de transición, no rígida ni lineal, desde unos modelos matemáticos iniciales hacia modelos matemáticos algebraicos los cuales son, convencionalmente, más aceptados. Para el autor, tanto los modelos matemáticos iniciales como los algebraicos podrían dar cuenta de algunas de las necesidades que prorrumpían de la situación; pero, que en la medida en que se profundizaba en la comprensión del fenómeno de variación, los modelos algebraicos iban adquiriendo mayor significado. 2.3 Modelos y modelación en el contexto del cultivo de café El estudio de Berrío (2012) se desarrolló con un conjunto de estudiantes de una institución educativa rural. Los estudiantes motivados encontrar las matemáticas más allá de sus aulas de clase se comprometieron, con la ayuda del profesor, a observar algunas relaciones matemáticas que intervienen en el cultivo de café. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA En un segundo momento en el estudio de este investigador, los estudiantes (re)construyeron algunos de los modelos usados para las siembras de café en los terrenos montañosos. De otro modo, usaron apoyo de un software dinámico para estudiar las características de los métodos de siembra del café, y a través de áreas sombreadas de formas circulares, establecieron algunas conjeturas y propuestas para optimizar la siembra. 215 En un primer momento, los estudiantes se involucraron en la discusión sobre la influencia que podría tener la inclinación de un terreno (montañoso) en la cantidad de de árboles que se pueden sembrar. Las discusiones de los estudiantes dieron cuenta de que existía en ellos ciertas apreciaciones sobre las áreas en las cuales se consideraba que a “mayor área corresponde mayor cantidad de árboles” (independiente de la inclinación). El trabajo de experimentación, consulta bibliográfica, discusión con otros estudiantes y confrontación con el profesor y personal técnico expertos en temas agrícolas, los estudiantes consiguieron desarrollar otras ideas frente la cantidad de árboles en un terreno, en dependencia del su área y su pendiente. Algunas ideas de la geometría euclidiana fueron “movilizadas” y otras características de las proyecciones ortogonales emergieron en el estudio. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA En su estudio, Berrío (2012) observa cómo los estudiantes al comprometerse con el estudio de los fenómenos, no solo interpretan y (re)construyen modelos matemáticos, sino que también (re)constituyen sus consideraciones frente al fenómeno mismo, convirtiéndose en un factor prominente hacia la “transformación” de algunos aspectos de la “micro-cultura”. En palabras de D’Ambrosio (2005), la cultura está relación con los sistemas de explicaciones, las filosofías, las teorías y las acciones cotidianas y de conducta que crea las comunidades frente a las situaciones contextuales. De esta manera esas explicaciones que las comunidades dan a su contexto, se transfiere a través del tiempo. En este caso, se observó que la idea de que un terreno inclinado por tener mayor área tendría mayor capacidad de árboles, había sido transferida a los estudiantes por efectos de las creencias de los miembros de la comunidad. Para Berrío, el lenguaje, las explicaciones y las creencias bajo las cuales se fundamenta la cultura de determinados comunidades pueden variar; de esta manera, en la investigación el autor evidenció dos situaciones. La primera se refiere a la “creencia inicial” sobre la medición de la tierra bajo criterios de la aparente mayor cantidad de tierra y, la segunda, a la divergencia que existe entre el lenguaje y sistemas de conocimiento que utiliza las organizaciones especializadas técnicamente en campo (para el caso, la Federación Colombiana de Caficultores) para referirse a la inclinación y el utilizado en la geometría proyectiva. PÁGINA 216 En su trabajo, Berrío retoma los planteamientos de Villa-Ochoa y Jaramillo (2011) para observar la “realidad” (en su dimensión objetiva y subjetiva) como una componente cercana a los contextos socioculturales de los estudiantes. Desde esta mirada, el estudio del contexto del cultivo de café permitió que los estudiantes exploraran, percibieran y eligieran la situación a modelar, de tal manera que sus experiencias, su “realidad”, se convirtiera en objeto de estudio a través de las matemáticas. Aunque este investigador no discute la noción de realidad desde sus fundamentos filosóficos ni epistemológicos, si usa esta noción de manera general para asegurar que mediante la modelación matemática los estudiantes ampliaron su sistema de conocimientos sobre el contexto, establecieron con mayor profundidad algunas características de los aspectos que influenciaba en él, reformularon algunas miradas sobre el fenómeno, en otras palabras transformaron su “realidad” 3. Consideraciones finales En la primera parte de este documento describí, de manera suscita, algunas maneras sobre cómo la modelación puede implementarse en el aula de clase, y que tales maneras traen consigo una serie de propósitos para los cuales la literatura muestra la modelación matemática como una vía para tender a tales “ideales”. Posteriormente señalé que uno de los fines de la formación en matemáticas está en relación con las funciones sociales de las matemáticas y, en ese sentido, señalé que algunos miembros de la Red Colombiana de Modelación en Educación Matemática se han dado a la tarea de indagar por algunos de los elementos que a través de la modelación matemática, se pueden aportar a tales fines sociales. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Asumir la cultura como un elemento vertebral en los trabajos de modelación matemática escolar ha implicado por parte del equipo, discutir sobre los elementos que la caracterizan. En ese sentido, hemos encontrado en los trabajos de D’Ambrosio (2005, 2009) algunos elementos que permiten ampliar nuestra idea sobre la cultura. En sus trabajos D’Ambrosio (2009) vincula la cultura con sus sistema de conocimientos. Para este investigador, el conocimiento individual es discutido y analizado desde su compatibilidad, hasta llegar a un conocimiento socialmente compartido. En ese sentido, D’Ambrosio considera que la cultura de un grupo está definida por las interrelaciones entre un conocimiento compartido, un comportamiento compatible, y el sistema acordado de valores. El conocimiento compartido por el grupo se organiza socialmente, convirtiéndose así en un cuerpo de conocimientos, que es una respuesta a las necesidades y la voluntad de los individuos del mismo. El camino investigativo de algunos de los miembros de la RECOMEM está orientado por nuevos retos en la relación matemáticas y cultura a través de la modelación. Muchas nuevas preguntas emergen en términos de las organizaciones curriculares, naturaleza de los objetos y situaciones, características de los contextos, y propósitos de la modelación que deben tenerse en cuenta para atender a estas necesidades. REFERENCIAS Alsina, C. (2007). Si Enrique VIII tuvo 6 esposas. cuantas tuvo Enrique IV? Revista Iberoamericana de Educación (43), 85-101. Aravena, M., Caamaño, C., & Giménez, J. (2008). Modelos matemáticos a través de proyectos. Relime , 11 (1), 49-92. Berrío, M. (2012). Elementos que intervienen en la construcción que hacen los estudiantes frente a los modelos matemáticos. El caso del cultivo de café. Tesis de maestría no publicada, Universidad Nacional de Colombia, Medellín. Biembengut, M., & Hein, N. (2004). Modelación matemática y los desafíos para enseñar matemática. Educación Matemática , 16 (2), 105-125. Bonotto, C. (2007). How to replace word problem with activities of realistic mathematical modelling. In W. Blum, P. Galbraith, H. Henn, & M. Niss (Eds.), Modelling and application in Mathematics Educations. The 14th ICMI Study (pp. 185-192). New York: Springer. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA Blum, W., & Borromeo-Ferri, R. (2009). Mathematical Modelling: Can It Be Taught And Learnt? Journal of Mathematical Modelling and Application , 1 (1), 45-58. 217 Blanton, M. L., & Kaput, J. J. (2011). Functional Thinking as a Route Into Algebra in the Elementary Grades. In J. Cai, & E. Knuth (Eds.), Early Algebraization. A Global Dialogue from Multiple Perspectives (pp. 5-23). New York: Springer. XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Bonotto, C. (2009). Working towards teaching realistic mathematical modelling and problem posing in Italian classrooms. In L. Verschaffel, B. Greer, W. Van Dooren, & S. Mukhopadhyay (Eds.), Words and worlds: Modelling verbal descriptions of situations (pp. 297–314). Rotterdam: Sense Publishers. Borba, M., & Villarreal, M. (2005). Humans-with-Media and the reorganization of mathematical thinking. New York: Springer. Borba, M., Meneghetti, R., & Hermini, H. (1997). Modelagem, calculadora gráfica e interdisciplinariedade na sala de aula de um curso de ciências biológicas. Educação Matemática da SBEM-SP , 17 (3), 63-70. Bustamante, C. (2012). Hacia la construcción de modelos algebraicos multiplicativos en el grado sexto. Tesis de Maestría no publicada, Universidad Nacional de Colombia, Medellín. Christiansen, I. (1999). Reflexiones críticas sobre modelos matemáticos en la clase: ¿sueño o realidad? Revista EMA , 5 (1), 29-50. D' Ambrosio, U. (2009). Mathematical Modeling: Cognitive, Pedagogical, Historical And Political Dimensions. Journal of Mathematical Modelling and Application , 1 (1), 89-98. D' Ambrosio, U. (2005). Sociedade, cultura, matemática e seu ensino. Educação e Pesquisa, 31 (1), 99-120. Gerofsky, S. (2010). The impossibility of ‘real-life’ word problems (according to Bakhtin, Lacan, Zizek and Baudrillard). Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education , 31 (1), 61-73. Greer, B., Verschaffel, L., Van Dooren, W., & Mukhopadhyay, S. (2009). Introduction. Making Sense of Word Problems: Past, Present, and Future. In L. Verschaffel, B. Greer, W. Van Dooren, & S. Mukhopadhyay (Eds.), Words and Worlds. Modelling Verbal Descriptions of Situations (pp. xi-xxviii). Rotterdam: Sense Publishers. Kaiser, G., & Sriramam, B. (2006). A global survey of international perspectives on modelling in mathematics education. ZDM , 38 (3), 302-310. 218 Londoño, S., y Muñoz, L (2001). La modelación matemática: Un proceso para la construcción de relaciones lineales entre dos variables. Tesis de Maestría no publicada, Universidad de Antioquia, Medellín. PÁGINA Kookhass, M. (Diciembre de 2003). Facultad de Agronomía. Universidad de la Republica. Recuperado el 12 de Agosto de 2011, de http://uneamfagro.org/: http://www.fagro.edu.uy/~topografia/docs/Capitulo_2.pdf Murata, A., & Kattubadi, S. (2012). Grade 3 students' mathematization through modeling: situation models and solutions models with multi-digit subtraction problem solving. The Journal of Mathematical Behavior , 31 (1), 15-28. Rico, L. (1997). Reflexión sobre los fines de la Educación Matemática. Suma (24), 5-19. Skovsmose, O. (1999). Hacia una filosofía de la educación matemática crítica. (P. Valero, Trad.) Bogotá: Una Empresa Docente. 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA Verschaffel, L., Van Dooren, W., Greer, B., & Mukhopadhyay, S. (2010). Reconceptualising word problems as exercises in mathematical modelling. Journal für Mathematik-Didaktik , 31 (1), 9-29. Villa-Ochoa, J. A., & Jaramillo, C. M. (2011). Sense of Reality through mathematical modeling. In G. Kaiser, W. Blum, R. Borromeo Ferri, & G. Stillman (Eds.), Trends in the teaching and learning of mathematical modelling – ICTMA14 (pp. 701-711). New York: Springer. Villa-Ochoa, J. A. (2007).La modelación como proceso en el aula de matemáticas. Un marco de referencia y un ejemplo. Tecno Lógicas, (19) pp.51-81. PÁGINA 219 Zöttl, L., Ufer, S., & Reiss, K. (2011). Assessing Modelling Competencies Using a Multidimensional IRT-Approach. In G. Kaiser, W. Blum, R. Borromeo Ferri, & G. Stillman (Eds.), Trends in Teaching and Learning of Mathematical Modelling- ICTMA 14 (pp. 427-437). New York: Springer. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA APRENDIZAGEM E MODELAGEM NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Jussara de Loiola Araújo Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil [email protected]; [email protected] RESUMO PÁGINA 220 Modelagem na educação matemática pode ser entendida como a proposição aos alunos da resolução de problemas emergentes de situações reais, utilizando o conteúdo matemático que eles já sabem ou que se deseja que venham a aprender. Muito se tem falado da potencialidade da modelagem em proporcionar a “aprendizagem” dos alunos. Entretanto, nem sempre está claro como tal “aprendizagem” é compreendida. Mais que uma escolha aleatória de formas de compreender “aprendizagem” e “modelagem”, é necessário que as escolhas sejam compatíveis do ponto de vista teórico-metodológico. Neste trabalho, buscarei analisar a harmonia entre uma concepção de modelagem na educação matemática e uma concepção de aprendizagem. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil XXVI REUNIÃO LATINOAMERICANA DE MATEMÁTICA EDUCATIVA PROFESSORES E FUTUROS PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM CENÁRIOS DE MODELAGEM MATEMÁTICA: TENSÕES E DESAFIOS Mónica E. Villarreal Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) Facultad de Matemática, Astronomía y Física - Universidad Nacional de Córdoba Argentina RESUMO O desenvolvimento de atividades de modelagem matemática aparece mencionado como recomendação em documentos curriculares nacionais, em particular da Argentina. Entretanto, os modos de entender tais recomendações podem ser variados e na montagem de cenários de modelagem ativa na escola surgem tensões e desafios para os professores. Neste painel vou me referir a algumas dessas tensões e desafios a partir da pesquisa que estamos desenvolvendo, que focaliza o desenvolvimento profissional de professores em cenários de modelagem. Experiências desenvolvidas tanto com estudantes da graduação, futuros professores de matemática, como com professores que implementaram projetos de modelagem em suas aulas, serão apresentadas e analisadas. VOLTAR 23 a 28 | Julho | 2012 Belo Horizonte Minas Gerais | Brasil PÁGINA El desarrollo de actividades de modelización matemática aparece mencionado como recomendación en documentos curriculares nacionales, en particular de Argentina. Entretanto, los modos de entender tales recomendaciones pueden ser variados y en el montaje de escenarios de modelización activa en la escuela surgen tensiones y desafíos para los profesores. En este panel voy a referirme a algunas de esas tensiones y desafíos a partir de la investigación que estamos desarrollando, que se focaliza en el desarrollo profesional de profesores en escenarios de modelización. Experiencias desarrolladas tanto con estudiantes de graduación, futuros profesores de matemática, como con profesores que implementaron proyectos de modelización en sus aulas, serán presentadas y analizadas. 221 RESUMEN