O oR EDUCAÇÃO 2012 Contamos consigo. Conte connosco. Novas perspetivas de ensino e de aprendizagem das Ciências Naturais Autoras do projeto Viva a Terra! Ciências Naturais, 7.° ano Lucinda Motta e Maria dos Anjos Viana CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 1 1/12/12 4:38 PM O Em conversa com... Professora Doutora Clara Vasconcelos Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Janeiro de 2012 Q1: O manual escolar sofreu modificações substanciais ao longo do tempo, desde a intenção da sua conceção ao próprio design. Como foi ocorrendo essa modificação nos manuais de Ciências Naturais? A criação de manuais escolares foi destinada ao apoio das atividades de ensino e de aprendizagem de uma determinada época e estes são, por isso, reflexo das conceções científicas dominantes nos respetivos períodos de elaboração. Por outro lado, são, também, reflexos de mudanças de conceções na Educação em Ciência e do interesse em ensinar determinados temas científicos. Há manuais que refletiram o uso abusivo da memória e do poder magistral ou, no caso das Ciências Naturais, chegaram mesmo a assumir a defesa de visões catastróficas para explicar a evolução da Terra e dos seres vivos, veiculando visões criacionistas. Sabemos, também, que as equipas que redigem os manuais escolares foram modificando a sua constituição ao longo dos anos. Se em Portugal, no início (segunda metade e final do século XIX), os manuais escolares eram sobretudo elaborados por professores universitários, com o Estado Novo eles tenderam a ser escritos por professores dos liceus e, na atualidade, sabemos que as equipas tendem a ser mistas, isto é, a incorporarem professores do ensino universitário e do ensino secundário e 3.° ciclo do ensino básico. Por outro lado, a validação dos manuais, antes ou mesmo após publicação, não é uma preocupação atual, embora as medidas tomadas para a sua concretização sejam diferentes e estejam muito relacionadas com questões economicistas. A preocupação enciclopedista e de divulgação científica, que predominou, por exemplo, na série de 237 pequenos livros que constituiu a Biblioteca do Povo e das escolas no final do século XIX (começou a ser publicada em 1881 e até 1913), foi diminuindo, não só porque as preocupações didáticas o impuseram mas porque o avanço tecnológico também permitiu uma maior preocupação com o design e a incorporação de esquemas, imagens e fotografias, que, para além de mais apelativas e auxiliares da compreensão do texto científico, permitiam aos alunos uma aprendizagem significativa e, por isso, mais efetiva e consequente. 2 CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 2 Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano 1/12/12 4:38 PM EDUCAÇÃO 2012 Contamos consigo. Conte connosco. Embora com modificações ao longo de séculos, fortemente condicionadas por questões sociopolíticas, os manuais escolares são sempre testemunhos de paradigmas científicos e educacionais. Q2: Pode falar-nos um pouco da perspetiva histórica do ensino das Ciências nas escolas? O ensino das Ciências sempre teve uma preocupação em ensinar aos alunos a metodologia de investigação científica. Embora ao longo dos séculos as metodologias a que recorreu tenham sido diversas e quase sempre com êxitos, é possível identificar também fracassos que levaram a sucessivas reformas curriculares, sempre na expectativa de melhorar o sucesso dos alunos. Somente na segunda metade do século XIX, por influência de cientistas europeus e americanos, que promoveram a valorização da Ciência, passou o ensino das Ciências a integrar os currículos escolares. Assumia-se, na época, que o seu ensino contribuiria para o desenvolvimento intelectual dos alunos, através da realização de observações empíricas e de generalizações indutivas. Os alunos trabalhavam em laboratórios, descobrindo, muitas vezes autonomamente, e gastando imenso tempo, ou verificando e confirmando factos científicos e princípios laboratoriais. No início do século XX, deixa de haver uma preocupação centrada no desenvolvimento intelectual do aluno, apoiada no desenvolvimento de um raciocínio indutivo, para passar a ser dada mais atenção ao valor social da Ciência. Os alunos deveriam crescer de forma a ser cidadãos intervenientes numa sociedade democrática, participando na sua construção. O TP era a grande tendência educacional, porque motivava os alunos e porque poderiam abordar problemas sociocientíficos. A partir dos anos 50, a Ciência tornara-se importante para a segurança nacional (aumentar o número de cientistas, desenvolver líderes políticos competentes que promovessem o desenvolvimento científico, sensibilizar o público para que apoiassem a investigação científica). A reforma curricular, que começa em alguns países europeus e americanos nos anos 50, e que chega aos anos 70, tem como preocupação central preparar os alunos para serem cientistas e conseguir um público sensibilizado para as Ciências. Os alunos aprendiam por realização das descobertas (a investigação científica), aprendendo a tirar conclusões do observado e a concluir após experimentação. Eram conduzidos a entender a natureza da Ciência e a aprender o conhecimento científico a partir das evidências da sua descoberta. Podiam, também, aprender analisando historicamente a produção de um conhecimento científico (como foram feitas as observações, como se concluiu; analisavam documentos históricos produzidos pelos cientistas para compreenderem a lógica da descoberta...). Esta metodologia ficou conhecida entre nós por Aprendizagem por Descoberta, sendo desenvolvida apenas a Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 3 3 1/12/12 4:38 PM O partir da década de 70. Contudo, o método científico era extremamente linear e disciplinar, ao invés de visto como um método a aplicar a uma variedade de problemas científicos e sociais. Servia apenas para o ensino de conteúdos específicos, aumentado a dificuldade conceptual dos cursos de Ciências, que se tornavam inacessíveis a alguns alunos. Nos Estados Unidos e em outros países europeus, no início dos anos 70, o ensino das Ciências começa a revelar outras preocupações. Assim, deve preparar alunos para serem cidadãos efetivamente intervenientes no mundo, isto é, deve promover-se a literacia científica. O aluno deve saber Ciência para resolver problemas pessoais e sociais. Capacidades inerentes à atividade científica, como recolha de dados, interpretação e comunicação de resultados, desenvolviam-se investigando problemas científicos socialmente relevantes. O ensino das Ciências deve revelar uma Ciência prática e utilitária, capaz de responder a problemas quotidianos. A partir dos anos 80 e na atualidade, dois documentos internacionais reorientam e valorizam a eficiência do ensino das Ciências por investigação: o Projecto 2061 – Science for all Americans (American Association for the Advancemente of Science, 1989), que tentou obter um consenso sobre o que os alunos deveriam saber para serem cientificamente literatos; e o Nacional Science Education Standards (National Research Council, 1996), que refere a investigação como o processo pelo qual os alunos questionam e investigam fenómenos, atividades que lhes permitem adquirir e compreender conceitos e construir uma visão correta da produção científica, desenvolvendo o intelecto e sabendo como proceder para resolver problemas quotidianos. Q3: Os professores que terminam a sua formação inicial, na atualidade, referem-se a uma metodologia de aprendizagem baseada na resolução de problemas. Em que consiste e de que forma pode ser integrada no ensino das Ciências? A Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas (Problem Based Learning) teve a sua implementação em 1969, na Educação em Medicina, na Universidade de McMaster (Canadá). Pretendia-se que, em pequenos grupos e sem aulas expositivas ou orientação tutorial prévias, os alunos se envolvessem na resolução de um problema. Esta mudança radical na Educação Médica teve impacto no ensino mundial da medicina e permitiu abandonar a transmissão de factos e promover uma aprendizagem ativa que implicava a participação dos alunos na aprendizagem de novos conteúdos científicos. Apesar de ainda não muito incorporada na Educação em Ciências e no ensino das Ciências, embora projetos de investigação estejam em desenvolvimento na Universidade do Minho, com a colaboração da Universidade do Porto e da Universidade de Coimbra, já foi incorporada em Portugal, na Educação em Medicina, em algumas universidades. A metodologia procura, essencialmente, a partilha da aprendizagem com os seus pares, sendo o trabalho desenvolvido em pequenos grupos de cerca de quatro elementos. 4 CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 4 Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano 1/12/12 4:38 PM EDUCAÇÃO 2012 Contamos consigo. Conte connosco. O professor, facilitador do processo, é responsável pela aprendizagem grupal tutorada, que promove a aceleração cognitiva, a autonomia e a autorregulação da aprendizagem. A construção partilhada dos saberes permite o efetivo desenvolvimento de conhecimentos e capacidades que se traduzirá em alunos autónomos e capazes de aprender ao longo da vida. Ao propor a aprendizagem valorizando os conhecimentos prévios e baseando a aprendizagem nas relações dos alunos com a realidade, com os saberes do dia a dia, a aprendizagem apoia-se em problemas com significado para o aluno (por isso reais, do seu quotidiano ou de um futuro imaginável). Apela-se ao pluralismo estratégico de atividades e de recursos didáticos, nomeadamente permitindo integrar estratégias com as quais os professores estão habituados a trabalhar com sucesso. Q4: Como a metodologia da ABRP e as orientações curriculares internacionais podem estar presentes nos manuais escolares de Ciências Naturais? Em primeiro lugar, importa referir que os manuais escolares devem ser elaborados em conformidade com os programas e orientações curriculares de cada país, tendo que refletir sempre os conteúdos e metas científicos que estejam preconizados em documentos oficiais. Porém, tratando-se de um manual e não de um livro científico, as preocupações educacionais devem também estar refletidas, até porque deve constituir-se como um recurso quase que suficiente para os alunos estudarem (nem todos os professores elaboram outros documentos de estudo; nem todos os alunos têm possibilidade de aceder a outras fontes de informação). Tal como referi na questão anterior, o pluralismo estratégico e de recursos didáticos, elaborados de acordo com as recomendações internacionais da investigação em Educação em Ciências, potenciarão uma aprendizagem científica com sucesso, que estimule a autonomia e a autorregulação das aprendizagens. De uma forma mais objetiva, o ensino das Ciências deve envolver trabalho prático, desde o de papel e lápis ao laboratorial, experimental e de campo. A presença de atividades que envolvam a história da Ciência, problemas e o questionamento (com questões de nível cognitivo superior – analisar, avaliar...), a resolução de problemas tutorada pelo professor com a aprendizagem de novos conteúdos, os mapas de conceitos como forma de avaliação, os V de Gowin a acompanhar atividades práticas e algumas formas de autoavaliação serão bons indicadores de um manual que procura o sucesso escolar. Outras atividades mais dirigidas para a aprendizagem dos métodos de investigação científica e da natureza da Ciência, tal como preconizado internacionalmente por alguns autores, serão incorporadas se os programas nacionais quiserem refletir explicitamente essas preocupações. Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 5 5 1/12/12 4:38 PM O Avaliação diagnóstico 1 Estrutura interna da Terra 1 Os vulcões e os sismos são testemunhos da dinâmica interna da Terra. 3 2 Movimentos no manto. Métodos para estudar o interior da Terra. 1.1.Como imaginas o interior da Terra? 1.2.De que modo os vulcões e os sismos ajudam os cientistas a estudar o interior da Terra? 1.3.O que representam as setas, na figura 2? 1.4.A litosfera é a camada superficial da Terra e é sólida. Qual será o estado físico da camada que se encontra por baixo da litosfera? Justifica. 1.5.Com base na figura 3, dá exemplos de duas ciências que contribuem para o estudo da estrutura interna da Terra. 6 CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 6 Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano 1/12/12 4:38 PM EDUCAÇÃO 2012 Contamos consigo. Conte connosco. 2 Modelos do interior da Terra ), 5 Os antigos babilónios e egípcios desenharam modelos da Terra plana fixa através de raízes num oceano enorme. 6 /$ $Ë62'()2*2 3$5 6 Ë 2'(2&($12 5$ 3$ 72&20(6 (1 75 ( $0 0 7(55$ 68%081'2 4 3,/$5(6'$7(55$ Edmund Halley (1656‑1742). Halley foi um dos mais importantes astrónomos do seu tempo. Durante vários anos estudou os movimentos da Lua e publicou um importante tratado, chamado Astronomiae Cometicae Synopsis (“Sinopse sobre Astronomia dos cometas”). Halley previu que o cometa de 1682 retornaria em dezembro de 1758. Quando a sua previsão se confirmou, em 25 de dezembro de 1758, o cometa passou a ser conhecido como “cometa de Halley”. Em 1692, Edmund Halley propôs um modelo no qual a Terra era constituída por uma casca com núcleos concêntricos. Para que a sua teoria se adequasse à sua visão religiosa, Halley imaginou que, se Deus povoou cada parte da superfície terrestre com seres vivos, deveria também ter feito o mesmo com os núcleos internos. Como estes seres vivos necessitariam de luz para viver, a atmosfera interior deveria ser luminosa. Essa atmosfera luminosa, ao escapar para a atmosfera superior pela crosta mais fina do Polo Norte, seria responsável pela aurora boreal. Entrada do Norte Centr od eg rav id 5 2&($12 35,025',$/ e ad Entrada do Sul 2.1.O que pensas do modelo da Terra na antiga Babilónia? 2.2.O modelo de Halley corresponde ao modelo atual? Justifica a tua resposta com dados da página 144. 2.3.Desenha o interior da Terra segundo a tua imaginação. Faz a legenda. 2.4.Relaciona a evolução da Ciência e da Tecnologia com o conhecimento do interior da Terra. Viva a Terra!, Ciências Naturais – 7.° Ano CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 7 7 1/12/12 4:38 PM O OBRIGADO CESCMC1112_VT7_20113373_3P.indd 8 1/12/12 4:38 PM