XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA
ZOOTEC 2015
Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia
Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015
Resposta Fotossintética à Luz de Espécies Arbustivas da Caatinga Sob Três Níveis de Adubação
Fosfatada1
Photosynthetic Response to the Light of Caatinga Shrubs Species under Three Levels of Phosphorus
Fertilization
Renann Afonso de Oliveira2, Márcio Vieira da Cunha3, Mércia Virginia Ferreira dos Santos3, Evaristo Jorge
Oliveira de Souza4, Mário de Andrade Lira3, Alexandre Carneiro Leão de Mello3
1
Parte da dissertação do primeiro autor, financiada pela CNPq
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – UFRPE, Recife PE, Brasil. Bolsista CAPES email: [email protected]
3
Professor(a) do Departamento de Zootecnia - UFRPE, Recife-PE, Brasil. Bolsista de produtividade do
CNPq.
4
Professor da Unidade Acadêmica de Serra Talhada - UFRPE, Recife-PE, Brasil.
2
Resumo: O objetivo deste trabalho foi estudar a fotossíntese líquida em folhas de Feijão-Bravo (Capparis
flexuosa L.) e Mororó (Bauhinia cheilantha Steud Bong), sob três níveis de adubação fosfatada (0, 50 e 100
kg de P2O5/ha/ano), em função de níveis crescentes de radiação fotossinteticamente ativa (0, 300, 600 e 1600
μmol de fótons m2/s). O experimento ocorreu na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da UFRPE, em área
de Caatinga manipulada. A fotossíntese líquida foi avaliada por meio de um que equipamento portátil
analisador de trocas gasosas por infravermelho. Foram avaliadas folhas expandidas de quatro plantas de cada
espécie em cada nível de adubação. Os tratamentos foram casualizados em blocos, com quatro repetições. A
resposta fotossintética à níveis crescentes de RFA foi diferente entre as espécies estudadas. A adubação
fosfatada proporcionou maiores taxas fotossintéticas nas folhas de Feijão-Bravo. O Mororó apresentou
saturação luminosa próxima entre 300 e 400 μmol de fótons m-2 s-1 enquanto que o Feijão-Bravo não
apresentou saturação até o nível de 1300 µmol de fotóns/m2/s.
Palavras–chave: Feijão-Bravo, Mororó, radiação fotossinteticamente ativa
Abstract: The objective of this work was to study the net photosynthesis in Feijao-Bravo (Capparis flexuosa
L.) and Mororó (Bauhinia cheilantha Steud Bong) leaves, under three levels of phosphorus fertilization (0, 50
and 100 kg P2O5 ha-1 year-1), in function of increasing levels of photosynthetically active radiation-PAR (0,
300, 600 and 1600 micromol photons m-2 s-1). The experiment was carried out in the Academic Unit of Serra
Talhada, UFRPE, in Caatinga manipulated. Net photosynthesis was evaluated by means of a portable
analyzer that of infrared gas analyzer. Expanded leaves were evaluated of each species at each level of
fertilization. The treatments were randomized in blocks, with four replications. Photosynthetic response to
increasing levels of PAR was different between species. The phosphorus fertilization provided higher
photosynthetic rates in Feijão-Bravo leaves. The Mororó presented light saturation point between 300 and
400 micromol m-2 s-1 while the bean-Bravo did not show saturation up to the level of 1300 micromol photons
m-2 s-1.
Keywords: Feijão-bravo, Mororó, photosynthetically active radiation
Introdução
Muitas espécies da Caatinga com potencial forrageiro são importantes fontes de alimento para os
rebanhos (Guim et al., 2004). Na constituição florística desse bioma encontram-se diversas espécies
forrageiras, destacando-se o Feijão Bravo (Capparis flexuosa L.), que é uma espécie de porte arbustivoarbóreo com folhas perenes, e o Mororó (Bauhinia cheilantha Steud Bong) pertencente à família Fabaceae e
a subfamília Cercideae, também uma espécie de porte arbustivo-arbóreo, caducifólia (Souza & Lorenzi,
2005).
Os solos desta região, de um modo geral, apresentam-se rasos e com baixa disponibilidade de fósforo.
O fósforo é um elemento mineral essencial para o desenvolvimento radicular e rebrota das plantas. Sua
deficiência limita a capacidade produtiva das plantas forrageiras (Moreira et al., 2002). Pouco se conhece o
efeito da adubação fosfatada sobre a fotossíntese líquida de plantas forrageiras da Caatinga. Assim, este
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trabalho teve por objetivo verificar o efeito da adubação fosfatada sobre a resposta fotossintética de duas
espécies forrageiras nativas da Caatinga a níveis crescentes de radiação fotossinteticamente ativa.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, da Universidade Federal Rural
de Pernambuco, localizada na Fazenda Saco, numa área de Caatinga diferida e enriquecida com capim-buffel
e capim-corrente. A área experimental possui 7.200 m2 (90 x 80 metros), dividida em doze piquetes de 584
m2 (20 m x 29,2 m). Dentro de cada piquete há três áreas de exclusão de 25 m2 (5 m x 5 m), nas quais foram
aplicados os tratamentos experimentais. Foi avaliado o efeito de três níveis de adubação fosfatada (0, 50 e
100 kg de P2O5/ha/ano) sobre a resposta fotossintética à luz de plantas de Mororó (Bauhinia cheilantha Steud
Bong) e Feijão-Bravo. (Capparis flexuosa L.).
A adubação fosfatada foi feita em março de 2013 e 2014, utilizando superfosfato simples. O solo da
área experimental antes da adubação possuía as seguintes características: 86,50 ± 24,50 mg dm -3 de P; 8,72 ±
1,79 cmolc dm-3 de Ca; 1,60 ± 0,86 cmolc dm-3 de Mg; 0,04 ± 0 cmolc dm-3 de Na; 0,65 ± 0,06 cmolc dm-3 de
K; 0,00 ± 0 cmolc dm-3 de Al; 1,89 ± 0,34 cmolc dm-3 de H e 4,47 ± 0,16% de matéria orgânica.
As intensidades luminosas foram simuladas por meio de um equipamento portátil analisador de trocas
gasosas por infravermelho (LI-6400, LI-COR, Lincoln, Nebrasca - EUA). As folhas foram submetidas às
seguintes radiações fotossinteticamente ativas: 0, 300, 600 e 1600 μmol de fótons/m2/s. Foram avaliadas três
folhas/planta e quatro plantas/espécie em cada tratamento e nível de radiação entre 13 e 15 horas P.M., em
junho de 2014. Selecionaram-se as folhas mais jovens completamente expandidas na altura de 1,5 m do solo.
A variável mensurada foi fotossíntese líquida, em μmol de CO2/m2/s.
Os tratamentos foram casualizados em blocos, com quatro repetições. As análises de regressão da
fotossíntese líquida em função dos níveis de radiação fotossinteticamente ativa em cada nível de adubação
fosfatada para as espécies separadamente foi realizado por meio do software SigmaPlot para Windows,
versão 12.0, a 5% de probabilidade.
14
Fotossíntese líquida (µmol de CO2/m2/s)
Fotossíntese líquida (µmol de CO2/m2/s)
Resultados e Discussão
Os dados da fotossíntese líquida em função de níveis crescentes de radiação fotossinteticamente ativa
(RFA) se ajustaram significativamente (P<0,05) a um modelo exponencial y = a(1-e(-bx)). Os coeficientes de
determinação (r2) ficaram acima de 0,90. A resposta fotossintética à níveis crescentes de RFA foi diferente
entre as espécies estudadas. Verificou-se que o Mororó apresentou saturação luminosa próxima entre 300 e
400 μmol de fótons m-2 s-1 enquanto que o Feijão-Bravo não apresentou saturação até o nível de 1300 µmol
de fotóns/m2/s (Figura 1).
12
0 kg de P2O5/ha/ano
10
50 kg de P2O5/ha/ano
8
100 kg de P2O5/ha/ano
6
4
2
0
0
-2
200
400
600
800
1000 1200
1400
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12
10
8
50 kg de P2O5/ha/ano
4
100 kg de P2O5/ha/ano
2
0
1600
Radiação fotossintéticamente ativa (µmol/m2/s)
0 kg de P2O5/ha/ano
6
0
-2
200
400
600
800
1000
1200
Radiação fotossintéticamente ativa
1400
1600
(µmol/m2/s)
Figura 1. Fotossíntese líquida em folhas de Mororó, à esquerda, e Feijão-Bravo, a direita, em função de
intensidades luminosas crescentes em três níveis de adubação fosfatada, em Caatinga manipulada, Serra
Talhada – PE.
O Mororó é uma leguminosa e, portanto apresenta metabolismo fotossintético C3. Normalmente,
plantas C3 possuem ponto de saturação luminosa menor que plantas de metabolismo fotossintético C 4 devido
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principalmente a ocorrência da fotorrespiração. Ao atingir o ponto de saturação da luz, aumentos no fluxo
fotônico não afetam mais as taxas fotossintéticas, indicando que outros fatores que não a luz incidente está
limitando a fotossíntese (Taiz & Zeiger, 2004).
Outro aspecto importante é que o Feijão-Bravo apresentou maior fotossíntese líquida que o Mororó, a
medida que os níveis de RFA aumentaram (Figura 1). Em relação a adubação fosfatada, apenas no FeijãoBravo, foi verificado que quanto maior o nível de RFA e maior a adubação fosfatada, maior foi também a
resposta fotossintética. De acordo com Shubhra et al. (2004), a disponibilidade de fósforo afeta diretamente a
ativação de algumas enzimas do ciclo de Calvin-Benson da fotossíntese, tais como a ribulose-1,5-bisfosfato
carboxilase/oxigenase, conhecida como Rubisco. Além disso, o fósforo está diretamente ligado a
transferência de energia por meio do ATP.
Diferenças morfofisiológicas na adaptação das espécies estudadas ao ambiente semiárido podem
explicar o comportamento em relação à adubação fosfatada. Enquanto o Feijão-Bravo permanece com folhas
verdes durante todo ano, o Mororó perde suas folhas à medida que a disponibilidade de água diminuiu no
solo. Assim, possivelmente, mesmo com maior aporte de fósforo, a planta de Mororó está dispondo de
estratégias para sobreviver ao déficit hídrico, das quais a principal é a caducifolia. Como a fotossíntese ocorre
nas folhas, não houve efeito da adubação fosfatada sobre a fotossíntese liquida nas folhas desta espécie.
Segundo Larcher (2000), a capacidade fotossintética é uma característica intrínseca de cada espécie vegetal,
sendo que as trocas gasosas mudam durante o ciclo do desenvolvimento do indivíduo e dependem do curso
anual e até mesmo do curso diário das flutuações ambientais (luz, temperatura, etc.) em torno do vegetal.
Conclusões
A adubação fosfatada proporcionou maiores taxas fotossintética nas folhas de Feijão-Bravo. O
Mororó apresentou saturação luminosa próxima entre 300 e 400 μmol de fótons m-2 s-1 enquanto que o
Feijão-Bravo não apresentou saturação até o nível de 1300 µmol de fotóns/m2/s.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa e pela bolsa de produtividade aos professores Márcio Vieira
da Cunha, Mércia Virginia Ferreira dos Santos e Mário de Andrade Lira.
Literatura citada
GUIM, A.; PIMENTA FILHO, E.C.; SOUSA, M.F.; SILVA, M.M.C. Padrão de Fermentação e Composição
Químico-Bromatológica de Silagens de Jitirana Lisa (Ipomoea glabra Choisy) e Jitirana Peluda
(Jacquemontia asarifolia L. B. Smith) Frescas e Emurchecidas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.6,
p.2214-2223 (Supl. 3), 2004.
LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. São Carlos, São Paulo. Editora Rima, 2000. 531p.
MOREIRA, A.; MALAVOLTA, E.; MORAES, L.A.C. Eficiência de fontes e doses de fósforo na alfafa e
centrosema cultivadas em Latossolo Amarelo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.37, p.1459-1466, 2002.
SOUZA, V.C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: Guia ilustrativo para identificação das famílias de
Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, Nova Odessa,
SP, p. 607, 2005.
SHUBHRA; DAYAL, J.; GOSWAMI, C. L.; MUNJAL, R. Influence of phosphorus application on water
relations, biochemical parameters and gum content in cluster bean under water deficit. Biologia Plantarum,
v.48, n.3, p. 445-448, 2004.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3.ed. Porto Alegre: Artmed, p. 613, 2004.
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