Fotossíntese Transporte de protões e fotofosforilação em cloroplastos isolados Ana Filipa Sousa Miguel Peixoto Almeida Biologia Celular II Introdução Teórica A fotossíntese A vida na Terra depende da energia luminosa do Sol. Os organismos fotossintéticos – plantas, algas e alguns procariontes – conseguem captar essa energia e convertê-la em energia química. Esta fica armazenada em compostos orgânicos, formados a partir de substâncias minerais simples – CO2 e H2O. Esta é a equação global da fotossíntese: 6CO2 + 6H2O Æ C6H12O6 + 6O2 A fotossíntese Nas plantas, a fotossíntese ocorre nos cloroplastos, organelos grandes que se encontram sobretudo nas células das folhas. Estes são limitados por 2 membranas (interna e externa), que não contêm clorofila e não participam directamente na fotossíntese. No entanto, estes organelos possuem uma terceira membrana, que delimita compartimentos internos denominados tilacóides e contém os pigmentos fotossintéticos. É nesta membrana que ocorre a fotossíntese. A fotossíntese O cloroplasto membrana exterior membrana interior estroma intergrana tilacóide espaço intermembranar grana A fotossíntese A fotossíntese pode ser dividida em duas grandes fases: Fase dependente da luz Absorção de luz Transporte de e-, com redução do NADP+ a NADPH Formação de ATP Fase independente da luz Fixação de carbono (Ciclo de Calvin) A fotossíntese Absorção de luz Absorção de energia luminosa pelos pigmentos antena Energia é direccionada até às moléculas de clorofila a, no centro de reacção dos fotossistemas I e II (FS I e FS II) As clorofilas excitadas transferem um electrão para um aceitador primário de e(plastoquinona no FS II ou ferrodoxina no FS I) A fotossíntese Absorção de luz As clorofilas dos FS II oxidadas removem e- de moléculas de H2O (fotólise da água), libertando moléculas de O2. Lúmen do tilacóide Fotólise da água: H2O Æ ½ O2 + 2H+ + 2e- As clorofilas dos FS I oxidadas removem recebem os e- vindos da oxidação da clorofila do FS II, transportados através da cadeia de transportadores. estroma A fotossíntese Transporte de electrões Os e- provenientes do FS II, captados pela plastoquinona, são transferidos desta molécula e passam por uma cadeia transportadora de e-, até atingirem o FS I. Este transporte é acompanhado de uma transferência de H+ do estroma para o lúmen dos tilacóides. Forma-se assim um gradiente de pH na membrana dos tilacóides, em que o pH do lúmen é menor que o pH do estroma. Os e- provenientes do FS I, captados pela ferrodoxina, são transferidos para o NADP+, que se reduz a NADPH – o NADP+ é o aceitador final de e- desta cadeia. A fotossíntese Transporte de electrões A fotossíntese Formação de ATP Devido ao “excesso” de H+ no lúmen do tilacóide, estes movimentam-se a favor do seu gradiente de concentração (lúmen Æ estroma), através do canal protónico da ATPsintetase. Este movimento, associado ao gradiente eléctrico criado pelo movimento dos e-, cria um gradiente electroquímico de H+, isto é, uma força protonomotriz, que permite a síntese de ATP como resultado da corrente espontânea de H+ através do complexo da ATPsintetase. TEORIA QUIMIOSMÓTICA DE MITCHELL Gradiente de concentração de protões + Potencial eléctrico Força protonomotriz A fotossíntese Formação de ATP A fotossíntese Fixação de carbono O ATP e o NADPH formados nas etapas anteriores são utilizados na fixação do CO2 e na síntese de compostos orgânicos. As reacções que constituem esta etapa ocorrem no estroma dos cloroplastos e de uma forma cíclica – Ciclo de Calvin. A fotossíntese Esquema-síntese Objectivo do trabalho Objectivo do trabalho O objectivo deste trabalho prático consiste em demonstrar que a iluminação de tilacóides livres em solução (resultantes de cloroplastos osmoticamente rebentados) faz aumentar o pH do meio externo, de acordo com a Hipótese Quimiosmótica. Métodos A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Como pretendemos estudar reacções que ocorrem nos tilacóides, é necessário rebentar os cloroplastos para permitir que os tilacóides fiquem livres em solução. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Pesaram-se 20g de folhas de espinafres (sem nervura mediana) e rasgaram-se as folhas em pedaços pequenos. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Homogeneizaram-se as folhas em 40 mL de tampão de homogeneização frio (~ 4ºC), as quais foram mantidas em gelo. Teve-se o cuidado de não manter o homogeneizador ligado por mais de 5 seg. Passou-se o homogeneizado através de 8 camadas de gaze e espremeu-se de forma a sair todo o líquido, mantendo o filtrado em gelo. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Centrifugou-se o filtrado em tubos frios a 500 g durante 2 min. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Transferiu-se o sobrenadante para tubos frios e centrifugou-se a 6000 g durante 2 min. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Decantou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se o sedimento de cloroplastos em 25 mL de tampão de homogeneização. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Centrifugou-se a suspensão de cloroplastos a 6000 g durante 2 min. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Decantou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se o sedimento de cloroplastos em 4 mL de meio de isolamento frio. A – Isolamento de cloroplastos de Espinafre-da-Nova-Zelândia (Tetragonia expansa) Guardou-se a suspensão de cloroplastos em gelo, a qual foi agitada de cada vez que se retirou uma amostra. B – Determinação da concentração de clorofila e ajuste da concentração de membranas. Adicionou-se a 9,9 mL de acetona 80% (V/V) 0,1 mL de suspensão bem homogeneizada de cloroplastos. B – Determinação da concentração de clorofila e ajuste da concentração de membranas. Após aguardar 1 min., filtrou-se o extracto através de papel de filtro Whatman #1. B – Determinação da concentração de clorofila e ajuste da concentração de membranas. Transferiu-se o filtrado para uma cuvete de vidro e leu-se a absorvância a 652 nm, usando acetona a 80% como branco. Calculou-se a concentração de clorofila na suspensão de cloroplastos. Tendo em conta que esta foi diluída 100 vezes. B – Determinação da concentração de clorofila e ajuste da concentração de membranas. Diluir a suspensão de cloroplastos com meio de isolamento de modo a que a concentração final de clorofila seja de 150 μg mL-1 (cf). Para isso foram efectuados os seguintes cálculos: Cálculos A=εxcxl A = 0,121 ε = 34,5 mL.mg-1.cm-1 l = 1 cm c = A/(ε x l) = 0,121/(34,5 x 1) Ù c = 3,51 x 10-3 mg.mL-1 Cálculos Tendo em conta que a solução se encontra diluída – 100x: c = 3,51 x 10-3 x 100 Ù c = 351 μg.mL-1 Cálculos Vsuspensão cloroplastos = 10 mL ci x Vi = cf x Vf Ù 351 x 10 = 150 x Vf Ù Vf = 23,6 mL Temos de adicionar à solução inicial: V = 23,6 – 10 = 13,6 mL C – Medição do transporte de protões Manteve-se a temperatura do banho de água a 10ºC. Adicionou-se ao banho uma pequena quantidade de CuSO4, para absorver radiação de infra-vermelhos. C – Medição do transporte de protões No tubo que continha o eléctrodo de pH foram adicionados 20-30 mL de suspensão de cloroplastos. Colocaram-se as barras magnéticas. Com uma pipeta, aspirou-se suavemente a suspensão, para a homogeneizar bem. C – Medição do transporte de protões Ligou-se o agitador a baixa velocidade e confirmou-se que a barra magnética não afectava o eléctrodo. De seguida aumentou-se a velocidade do agitador, para conseguir boa homogeneização na vizinhança do eléctrodo. Ajustou-se lentamente o pH da mistura para 6 - 6,2. Esperou-se cerca de 1 min. para estabilizar a leitura de pH e leu-se o pH inicial. C – Medição do transporte de protões Ligou-se a fonte de luz e registou-se a variação de pH durante 1 min. Desligou-se a luz e registou-se o pH durante 1 min. Repetiram-se os dois últimos passos algumas vezes. Resultados Resultados Registo dos valores de pH na luz / obscuridade t/min pH luz pH obscuridade 0 1 2 3 4 5 6 7 8 6,00 6,07 6,13 6,13 6,13 6,14 6,13 6,09 6,10 6,10 - Resultados Gráfico da variação do pH com a luminosidade Discussão de Resultados Resultados Luz Æ Aumento de pH Obscuridade Æ Decréscimo de pH O que se passa nos cloroplastos? Vamos observar o que ocorre nos cloroplastos nas 3 fases referidas: Fase 1 Fase 2 Fase 3 > pH = pH < pH O que se passa nos cloroplastos? Na presença da luz: Fotólise da água origina e-, O2 e H+ [ H+ ] aumenta dentro dos tilacóides O que se passa nos cloroplastos? Os e- também produzidos durante a fotólise da água vão ser transportados pela cadeia transportadora de e-. Durante este processo há transferência de H+ do estroma para o tilacóide. Dá-se a redução do NADP+, com consumo de H+. pH aumenta (1) O que se passa nos cloroplastos? A ATPsintetase encontra um gradiente óptimo de actuação, começando a bombear H+ para o exterior, mas é compensada pelo processo descrito anteriormente. pH mantém-se (2) O que se passa nos cloroplastos? Na ausência da luz: Redução do NADP+ deixa de ocorrer Só a ATPsintetase actua O que se passa nos cloroplastos? H+ passa em grande quantidade para o exterior das membranas pH diminui (3) Conclusão Pela intervenção de vários processos, enquanto na presença de luz o pH da solução aumenta, na obscuridade o pH da solução diminui. Bibliografia Alberts, B., Johnson, A., Lewis, J., Raff, M., Roberts, K., and Walter, P. (2002). Molecular Biology of the Cell, 4th edition. Garland Pub. Inc., New York. Lodish, H., Berk, A., Matsudaira, P., Kaiser, C.A., Krieger, M., Scott, M.P., Zipursky, S. L., and Darnell, J. (2004). Molecular Cell Biology, 5th edition. W.H. Freeman and Company. http://www.iq.ufrj.br/~almenara/fotossintese.htm http://www.ufv.br/dbv/pgfvg/FOTO12.htm http://www.biocomputer.vilabol.uol.com.br/fotossintese.htm http://www.emc.maricopa.edu/faculty/farabee/BIOBK/BioBookPS.html http://photoscience.la.asu.edu/photosyn/education/photointro.html Ana Filipa Sousa Miguel Peixoto Almeida Biologia Celular II :: Junho de 2005 Trabalho disponível em: http://biodigital.com.sapo.pt/trabalhos.htm