VARIEDADES
CORREIO DO POVO
DOMINGO, 7 de dezembro de 2003 — 19
EDUARDO CONILL
Corte Real
O Espaço Corte Real
movimenta a noite de
terça, dia 9, com grande coquetel de final de
ano beneficiando o Instituto Ênio – Um Pequeno Desejo. Estarão em
exposição e venda beneficente arranjos florais montados pelos
nomes de proa da decoração em flores da cidade, todos feitos aproveitando trabalhos indígenas, e o resultado é
surpreendentemente
lindo. A noite contará
também com pequeno
leilão de peças selecionadas especialmente
para a ocasião, o que já
prevê muita disputa.
Tese
PA I N E L
DIVULGAÇÃO / CP
Ana Sondermann Espíndola é uma craque como pessoa, como profissional e, agora, mostrou que também é craque na faculdade que está concluindo. Sua monografia
de graduação no curso de Publicidade e Propaganda da PUC-RS obteve grau 9,6. A formatura será em 22 de janeiro com a família
e dia 29 com os amigos.
Laura faz show neste domingo, às 19h
Finocchiaro de volta
com toda a alma
Depois de 23 anos de carreira, a
cantora e compositora Laura Finnocchiaro está lançando, neste domingo, 19h, no Santander Cultural
(Sete de Setembro, 1028), seu novo
CD, “Oi”, pelo seu selo, Sorte. Em
parceria com a Trama, Laura vai
lançar seus trabalhos, a partir de
agora, com sua própria marca. “O
próprio João Marcello Bôscoli me
disse que, com minha carreira, o
melhor seria essa alternativa”, comenta a gaúcha, que viveu intensas
mudanças nesses tempos. “Tive um
processo de transformação e amadurecimento desde a morte de minha irmã, em 1993”, comenta.
Laura já trilhou várias estradas,
entre elas a da TV Colosso, que lhe
deu ânimo no momento certo, e a
trilha sonora do reality show “Casa
dos artistas”, em 2001, que, junto
com a descoberta do budismo, lhe
deu, entre outras coisas, a noção do
poder transformador da música. Depois de “estourar” no Rock in Rio, virar parceira de Cazuza e enveredar
pelos mantras dos monges tibetanos, praticou os ensinamentos cantando para crianças com câncer.
Seu novo trabalho, “Oi”, sintetiza,
mas não simplifica, esse caminho
percorrido. Romantismo, doçura,
preocupação com o mundo e a vontade de dançar estão ali, nas novas e
antigas parcerias. Entre elas, Tom
Zé, os parceiros constantes, a letrista Leca Machado e Franco Junior,
além de Caio Fernando Abreu.
Maria Cristina Schild, Mauro Cunha e Elisa Schild
Ceres Linck dos Santos
Kinder
Aniversários
Vale qualquer esforço visitar a árvore de Natal armada no terceiro andar da Mega Store Manlec, na esquina
da Dr. Flores com a Otávio Rocha. Trabalho de cunho
beneficente, idealizado por Atílio Manzoli Júnior, a árvore é inteiramente enfeitada com artesanato das crianças atendidas pela Kinder Centro de Deficiências Múltiplas. É claro que tudo contou com o apoio integral de
Bárbara Fischinger e Irmgard Harbich, líderes da Kinder, e mais as professoras de arte, para a produção de
200 adornos. A Manlec fará doação à Kinder.
É hoje, em Pelotas, a grande festa do aniversário de casório de Myriam e Luis Carlos
Pacheco dos Santos. Aqui em Porto Alegre, o
incensado médico Luiz Roberto Marczyk comemora aniversário. Amanhã será a vez dos
brindes e abraços em torno do empresário
Jorge Gerdau Johannpeter. No dia 11, quinta-feira, as comemorações de Dalinha Azambuja Nobre e Maria Éster Caleffi com os muitos amigos.
FOTOS ABELARDO MARQUES
Vanessa Magalhães entre Carlo e Sandro Zanette
Paulo Moreira de Oliveira e Cristine Bressiane
JUREMIR MACHADO
E-mail:[email protected]
DA
S I LVA
E-mail:[email protected]
Sabiá
utro dia, um sabiá pousou em minha janela, no coração de Porto Alegre, e me fez
sentir uma enorme saudade de Palomas. Eu
estava escutando, embora fosse de manhã,
“Eine kleine nachtmusik” (pequena música de
noite), de Mozart. Parei tudo. Contemplei o
pássaro e me lembrei das crônicas ornitológicas de Rubem Braga. Bom pós-moderno por
falta de causa ou de tempo, cancelei Mozart e
pus no computador um CD de “Os Serranos”.
Ouvi “Sanga” com os olhos molhados e o peito
galopando: “Ainda sou menino/Bombachita
parda/de passar a vida/a jogar pedritas no
cristal fulgindo...”
Incrível como aquele belo pássaro me fez
passar num instante de fashion a popular. Na
verdade, mesmo ouvindo Mozart, quase no fim
daquela faixa, já me preparando para colocar
Rachmaninov (concerto para piano nO 2 e rapsódia sobre um tema de Paganini), eu estava
pensando naquela propaganda da Ana Paulo
Arósio com fundo musical de Roberto Carlos:
“Como vai você?/Eu preciso saber da sua vida/Peço a alguém para me contar sobre o seu
dia...” Toda a minha vida eu jurei que era “peça a alguém para me contar sobre o seu dia...”
Muda tudo. Troca-se uma fina psicologia por
uma letra de Roberto Carlos. É uma questão
de hermenêutica. No primeiro caso, tem-se a
O
tradicional dor-de-cotovelo; no segundo, uma
intrincada filosofia das relações. O que pensaria o sabiá melômano do ecletismo estético do
seu DJ matinal? Em Palomas, há um cronista
oral que me fascina com as suas histórias.
Gumercindo é um cético, talvez um cínico,
certamente um praticante de algo que ele
mesmo nunca imaginou: o niilismo irônico
pós-moderno.
Um
Nietzsche palomense
com mais autenticidade, nenhum talento para a escrita (analfabeto)
e sem marcas de sífilis.
Em vez de Wagner, curte Gildo de Freitas, da
última fase, acústica.
Acho que isso foi decisivo em sua concepção telúrica de mundo. Tem os pés no chão. Vive
descalço. É cheio de frases: “Não vá. Venha”.
Confesso que ainda não captei o sentido
transcendental dessa sua máxima mínima.
Anda sempre num burro de nome Poder. Poder empaca. Guma bate no Poder. Bate sem
parar no Poder. É uma sina. Quando Poder
morre, nunca antes de oito anos, Guma arran-
ja outro burro e o batiza de Poder. “Nunca fique amigo dos poderosos”, repete. Os poderosos são o “Seu” Pitoco, o pequeno estancieiro
do povoado (duas quadras de campo), a quem
se refere como o “tierrateniente”, e o cabo Zeca, comandante do destacamento, tratado de
ARTE SID MONZA “marechal das vacas”.
Um dia, Guma tomou
um coice do Poder. Estatelou-se. Riu: “Não
disse. Nunca se deve
confiar no Poder”. Nos
seus instantes de reflexão, Guma ensina:
“Chega mais rápido
quem não vai”. O povo
fica boquiaberto com
tanta sabedoria. Guma
adora os sabiás, que
considera sabidos e sabentos, distinção, para
ele, crucial: “O sabido vai. O sabento volta. O
sabiá vai e volta. Se for”.
Quando falam de carreiras (de cavalo), Guma medita sobre sabiás e ditos populares:
“Sabia que o sabiá sabia assobiar? Sabia nada. Sabiá sabido e sabento sibila. O resto venta. No vazio”. Cheguei a pensar que Guma era
um duplo de Guimarães Rosa ou de Diógenes.
Nada. Guma é bem mais simples. Como ele
mesmo diz, “Guma é Guma. Espelhado. Não
vai nem vem. Está”. Vilma, a louca, achava
que Guma era doido. Guma, o cético, duvidava da loucura de Vilma. Nada deixa Guma
mais irritado, afora as teimosias e disparates
do Poder, que uma língua enrolada: “Língua
que corcoveia, não sabe. Pode. Língua boa riacha”. Uma tarde, já adolescente, eu disse para
Guma: “Me vou”. Deu uma paulada nas ancas
do Poder, olhou-me de cima a baixo e resmungou: “Tá ficado. Pau torto. Esse não sai daqui.
Mesmo indo. Quem mais vai, mais fica”. Ficou
lá, batendo no Poder. Guma não acredita na
história nem na morte: “O homem é um só.
Vai um, vem outro. É sempre o mesmo. Água
de rio”.
Pratica a filosofia do garrão e não perde
atualidade: “Mudança de capataz econômico,
no Brasil, é mais ortodoxa que substituição do
Parreira. É troca de zaino por lobuno”. O sabiá
olhou-me de soslaio. Olhar de vadio. Preferia
Mozart. Coisa de especialista. Guma tem ouvido musical. Escuta os pássaros, os zurros do
Poder e a noite chegando. Conhece o tempo de
ouvido. “Não olhe o pássaro. Olhe o vôo do
pássaro. Só o vôo volta”, diz. Acho que Guma
tem mesmo é algo de Mario Quintana: “Eles
passarão/Eu passarinho”. Tico-tico.
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Finocchiaro de volta com toda a alma EDUARDO