Questões sobre Doutrina
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4
A Divindade e a Preexistência Eterna de Cristo
PERGUNTA 4
Os adventistas do sétimo dia são frequentemente acusados de negar a
divindade real e a eterna preexistência de Cristo, o Verbo Eterno. É
exata esta asserção? É aceita entre os adventistas a crença na
Trindade? Dêem, por favor, os fundamentos bíblicos de suas crenças.
I. CRENTES NA DIVINDADE DE CRISTO E NA TRINDADE
Nossa crença na deidade e eterna preexistência de Cristo, a segunda
pessoa da Divindade, consta de nossas "Crenças Fundamentais dos
Adventistas do Sétimo Dia", que são anualmente reproduzidas em nosso
anuário oficial (Yearbook), e também em nosso autorizado Manual da
Igreja (ed. 1951, p. 29-36).1 Além disso, os que são batizados na Igreja
Adventista subscrevem um sumário de crenças doutrinárias impresso no
Certificado de Batismo, cujo artigo segundo declara:
―Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e eterno Filho de
Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça
por meio da fé nEle.‖2
Antes do batismo, o candidato assina esta declaração como uma
afirmação de sua crença. E no Apêndice A encontra-se uma compilação
de declarações sobre a divindade e a eterna preexistência de Cristo, bem
como Sua posição na Divindade, feitas por uma de nossas escritoras
mais representativas, Ellen G. White.
A respeito do lugar de Cristo na Divindade, cremos que Ele é a
segunda pessoa na Trindade celestial - composta do Pai, Filho e Espírito
Santo, unidos não somente na Divindade, mas nas providências da
redenção. Uma série de breves declarações sobre a Trindade consta
também do Apêndice A, "O Lugar de Cristo na Divindade", claramente
Questões sobre Doutrina
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apresentando (1) que Cristo é um com o Pai Eterno, um em natureza,
igual em poder e autoridade, Deus no mais alto sentido, eterno e
existente por Si mesmo, com vida original, não emprestada, não
derivada; e (2) que Cristo existiu desde toda a eternidade, distinto do Pai
mas unido a Ele, possuindo a mesma glória e todos os atributos divinos.
Os adventistas do sétimo dia baseiam sua crença na Trindade nas
declarações das Sagradas Escrituras mais do que num credo histórico. O
segundo artigo das Crenças Fundamentais é explícito:
―A Divindade, ou Trindade, consiste do Pai Eterno, Ser pessoal,
espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e
amor; do Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai Eterno, por quem todas as
coisas foram criadas e por quem se realizará a salvação dos remidos; do
Espírito Santo, terceira pessoa da Divindade, o grande poder regenerador
na obra da redenção (Mt 28:19).‖3
Outra declaração autorizada consta do "Sumário de Crenças
Doutrinárias" no Certificado de Batismo:
"1. O Deus vivo e verdadeiro, primeira pessoa da Divindade, é
nosso Pai celestial, e Ele, por meio de Seu Filho, Cristo Jesus, criou
todas as coisas (Mt 28:18, 19; 1Co 8:5,6; Ef 3:9; Jr 10:10-12; Hb 1:1-3;
At 17:22-29; Cl 1:16-18).
"2. Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e o eterno Filho de
Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça
por meio da fé nEle (Mt 28:18, 19; Jo 3:16; Mq 5:2; Mt 1:21; 2:5, 6; At
4:12; 1Jo 5:11, 12; Ef 1:9-15; 2:4-8; Rm 3:23-26).
"3. O Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, é o representante
de Cristo na Terra, e conduz os pecadores ao arrependimento e à
obediência a todas as reivindicações divinas (Mt 28:18, 19; Jo 14:26;
15:26; 16:7-15; Rm 8:1-10; Ef 4:30)."4
II. BASES BÍBLICAS PARA A CRENÇA NA DIVINDADE DE CRISTO
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A divindade de nosso Senhor Jesus Cristo se firma, pelo menos, em
sete linhas distintas de evidências, as quais, tomadas em conjunto,
estabelecem plenamente Sua divindade:
1. Reconhecimento do Título "Filho de Deus" Pelo Próprio
Cristo. Enquanto esteve entre os homens, o próprio Cristo reconheceu
ser o Filho de Deus (Mt 27:41-43;Jo 5:23; 9:35-37; 10:36; 17:1).
Confirmou o testemunho de outros de que era o Filho de Deus (Mt
16:15-17; Jo 1:32-34,48,49; 11:27). E inúmeras outras declarações
atestam o fato de que Ele era o que Se declarava ser: o Filho de Deus
(Mt 3:16, 17; Jo 19:7; 20:30, 31; At 9:20; Rm 1:1-4; 2Co 1:19; Hb 4:14;
2Pe 1:16, 17).
Cristo empregou o título "Filho de Deus" sem a menor reserva, e
com a maior liberdade e franqueza. Este é o único título que abrange, de
maneira mais explícita, Sua relação original com o Pai.
2. Aplicação a Jesus Cristo de uma Porção de Nomes e Títulos
que se Restringem à Divindade. No Antigo Testamento, cerca de 70
nomes e títulos são atribuídos a Jesus Cristo, e no Novo Testamento mais
170. Os que são exclusivamente restritos à Divindade incluem "Deus"
(Jo l:l); "Deus conosco" (Mt 1:23); "o grande Deus" (Tt 2:13); "Deus
bendito eternamente" (Rm 9:5); "Filho de Deus" (40 vezes); "Filho
unigênito" (cinco vezes); "o primeiro e o último" (Ap 1:17); "Alfa e
Omega" (Ap 22:13); "o princípio e o fim" (Ap 22:13); "o Santo" (At
3:14); "Senhor" (empregado constantemente); "Senhor de todos" (At
10:36); "Senhor da glória" (1Co 2:8); "Rei da glória" (SI 24:8-10);
"Maravilhoso" (Is 9:6); "Pai da eternidade" (Is 9:6); "Palavra de Deus"
(Ap 19:13); "Verbo" (Jo 1:1); "Emanuel" (Mt 1:23); "Mediador" (1Tm
2:5); e "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Ap 19:16).
3. Imputação a Cristo de Atributos que Pertencem Exclusivamente à Divindade. Estes incluem onipotência (Mt 28:18), onisciência
(Mt 9:4), onipresença (Mt 18:20), imutabilidade (Hb 13:8) - aparecendo
também em vários outros textos.
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4. Atribuição a Cristo de Funções e Prerrogativas Exclusivas da
Divindade. Estas compreendem a criação do Universo (Jo 1:1-3);
preservação do Universo (Hb 1:3); direito e poder de perdoar pecados
(Mc 2:5-12); direito e poder de julgar todos os homens (At 17:31);
autoridade e poder de ressuscitar mortos (Jo 5:28, 29); de transformar
nosso corpo (Fp 3:21); de conceder a imortalidade (1Co 15:52,53).
5. A Aplicação do "Eu Sou" do Antigo Testamento a Jesus
Cristo no Novo Testamento. Quando Cristo disse aos judeus: "Antes
que Abraão existisse, Eu sou" (Jo 8:58), Ele estava reclamando
divindade, e Seus ouvintes reconheceram as implicações de Suas
palavras, pois apanharam "pedras para atirar nEle" - castigo judaico para
grandes blasfêmias. Certamente, Ele empregou as palavras de Deus no
Antigo Testamento "EU SOU O QUE SOU" (Ex 3:14), desde a antiguidade
reconhecidas como símbolo da divindade, aplicando a Si mesmo o
atributo de existência própria.
6. Identificação do Jeová do Antigo Testamento com Jesus no
Novo Testamento. No Antigo Testamento existem vários textos que
contêm o nome Jeová e que foram aplicados a Jesus Cristo pelos
escritores do Novo Testamento.
A palavra "Senhor" (Yahweh) no Salmo 102:22, e nos versículos
25-28 correlatos, é aplicada a Jesus em Hebreus 1:10-12. O mesmo nome
divino (Yahweh) aparece em Habacuque 2:2, 3, e é aplicado a Cristo em
Hebreus 10:37.
Três outras vezes em que tanto Yahweh como Elohim se aplicam a
nosso Senhor são vistas nas seguintes passagens: Em Jeremias 31:31
Yahweh é empregado, e é retendo como a obra de Cristo em Hebreus,
capítulos 8 e 10. A referência a Yahweh em Ageu 2:6 é também
messiânica, e aplica-se à obra de Jesus em Hebreus 12:26. O nome divino Elohim em Salmo 45:6, 7 aplica-se ao Filho de Deus em Hebreus 1:8,
9.
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7. O Nome do Filho Posto em Plena Igualdade com o Pai no
Novo Testamento. Isso aparece na bênção apostólica (2Co 13:14), na
fórmula batismal (Mt 28:19) e em outros textos em que Seus nomes se
acham unidos.
8. Jesus Cristo É Proclamado sem Pecado Através de Toda a
Sua Vida Entre os Homens. Isso estava claramente predito no Antigo
Testamento (Sl 45:7; Is 53:9; Jr 23:5; Zc 9:9). E acha-se expressamente
declarado no Novo Testamento — como "o Santo de Deus" (Mc 1:24),
"Ente Santo" (Lc 1:35), "Santo Servo Jesus" (At 4:27), "nenhum mal
fez" (Lc 23:41), "nEle não há injustiça" (Jo 7:18), "o Santo e o Justo" (At
3:14), "não conheceu pecado" (2Co 5:21), "sem mácula" (1Pe 1:19),
"sem defeito" (1Pe 1:19),"não cometeu pecado" (1Pe 2:22), "separado
dos pecadores" (Hb 7:26).
9. Culto Divino e Orações a Jesus, os Quais São Devidos
Unicamente a Deus. Há muitas passagens em que Jesus Cristo, como
Deus e Criador, sem hesitação, aceitou culto que Lhe prestaram com
temor e reverência os próprios anjos e homens piedosos, como criaturas
(Ap 19:10; At 10:25, 26). A prerrogativa de divindade foi assumida e
declarada inúmeras vezes através de toda a vida de Jesus no Novo
Testamento (Mt 14:33; 28:9, 17).
10. O Conhecimento de Cristo Quanto à Sua Pessoa Divina e
Sua Missão. Aos 12 anos de idade, Ele reconheceu a Deus como Seu Pai
(Lc 2:41-52). Aos 30, este conhecimento de Sua missão divina foi
revelado em Seu batismo (Mt 3:13-17). Ele aparece também no registro
da tentação (Mt 4:1-11), no chamado dos 12 e dos 70 e nas reivindicações do Sermão do Monte (Mt 5-7).
11. A Convergência das Múltiplas Especificações Proféticas do
Antigo Testamento Como Cumpridas em Jesus Cristo Constitui a
Prova Culminante. Muitas predições separadas, específicas e
pormenorizadas apontam com precisão para Ele como o único que
deveria vir de Deus (como em Isaías 7:14; 9:6).
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Referências:
1. As Declarações das Crenças Fundamentais, revisadas em 1980 e ampliadas
em 2005, continuam a ser publicadas na sua inteireza tanto no Yearbook da Igreja
Adventista do Sétimo Dia quanto no Manual da Igreja.
2. O melhor sumário deste ponto na declaração batismal atual (2002) é o artigo
1 do Certificado de Batismo, que diz: "Creio que existe um só Deus: Pai, Filho e
Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-e ternas."
3. A declaração de 1980 sobre a Trindade é como segue: "Há um só Deus: Pai,
Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-eternas. Deus é imortal,
onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da
compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-rcvelação. É para
sempre digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação (Dt 6:4: Mt
28:19; 2Co 13:14; Ef 4:4-6; 1Pe 1:2; 1Tm l:17; Ap 14:7)."
4. Em 2002, esses itens no Certificado de Batismo afirmavam:
"3. O Eterno Pai é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda
a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se e grande em
constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes manifestados no Filho e no
Espírito Santo também constituem revelações do Pai (Gn l:l;Ap4:ll; 1Co 15:28; Jo
3:16; 1Jo 4:8; 1Tm 1:17; Êx 34:6, 7;Jo 14:9).
"4. O Filho Eterno encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas
todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e
julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se também
verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu
da virgem Maria.Viveu e experimentou a tentação como ser humano, mas
exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus milagres manifestou
o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu
voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre
os mortos e ascendeu para ministrar em nosso favor no santuário celestial. Virá outra
vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas
(Jo 1:1-3, 14; Co 1:15-19; Jo 10;30; 14:9; Rm 6:23: 2Co 5:17-19;Jo 5:22; Lc 1:35;
Fp 2:5-11; Hb 2:9-18; 1Co 15:3,4; Hb 8:1,2; Jo 14:1-3).
"5. O Espírito Eterno desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na
Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de
poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram
sensíveis são por Ele renovados e transformados à imagem de Deus. Enviado pelo
Questões sobre Doutrina
84
Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à
igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a
em toda a verdade (Gn 1:1, 2; Lc l:35; 4:18; At 10:38; 2Pe 1:21; 2Co 3:18; Ef 4:11,
12; At 1:8; Jo 14:16-18,26; 15:26, 27; 16:7-13)."
5. A igualdade de Cristo com Deus o Pai é demonstrada de muitas maneiras no
Novo Testamento:
• A honra do Filho é a honra do Pai (Jo 5:23).
• Ver a Cristo é ver a Deus (Jo 14:7-9).
• Conhecer Cristo é conhecer o Pai (Jo 14:7).
• Crer em Jesus é crer em Deus (Jo 12:44).
• Cristo faz as mesmas coisas que o Pai faz (Jo 5:19).
• Cristo ressuscita os mortos como o faz o Pai (Jo 5:21).
• Cristo tem vida em Si mesmo como o Pai (Jo 5:26).
Questões sobre Doutrina
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5
A Divindade de Cristo e os Membros da Igreja
PERGUNTA 5
Se um unitariano ou ariano (que rejeita a trindade da Divindade e
nega a divindade de Cristo) buscasse ser admitido na Igreja
Adventista, o pastor adventista do sétimo dia o batizaria e o admitiria
na coletividade de membros?
É possível uma pessoa permanecer como membro fiel se recusar-se
sistematicamente a se submeter à autoridade da igreja quanto à
doutrina histórica da divindade de Jesus Cristo?
Embora a primeira pergunta pareça tocar em um problema de
elevada importância, é todavia hipotética - pela simples razão de que um
unitariano ou ariano confesso não procura ser membro de uma igreja
confessadamente trinitariana, enquanto sustentar suas velhas ideias
quanto à Divindade. Uma enquete entre vários pastores de muita experiência ligados à liderança de nossa obra denominacional revela que
nenhum pastor deste grande grupo religioso jamais recebeu tal
solicitação.1
Os pastores adventistas são solicitados a instruir rigorosamente
todos os candidatos a membro da igreja que se preparam para o batismo.
Esse período de instrução prossegue geralmente por alguns meses. Se o
candidato persistir em manter opiniões erróneas concernentes a nosso
Senhor e Salvador, o único que pode salvar o pecador, então apenas um
caminho pode ser tomado: o pretendente terá que ouvir com franqueza
que está totalmente despreparado para o batismo, e não poderá ser
recebido como membro de nossa irmandade. Será aconselhado a estudar
mais até que compreenda e aceite plenamente a divindade de Jesus
Cristo e Seu poder redentor. Não podemos permitir que se torne membro
Questões sobre Doutrina
86
quem nega o que cremos, e creia o que negamos, porque jamais
poderemos coexistir em harmonia. Contendas e desintegração seriam o
resultado.
Além disso, a Igreja Adventista do Sétimo Dia adota um Certificado de Batismo que é dado ao candidato por ocasião do seu batismo. Ele
apresenta um sumário das crenças dos adventistas do sétimo dia. Após o
artigo 1, que trata da Trindade, o segundo artigo declara:
"2. Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e o eterno Filho de
Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça
por meio da fénEle (Mt 28:18,19; Jo 3:16; Mq 5:2; Mt 1:21; 2:5,6; At
4:12; 1Jo 5:11, 12; Ef 1:9-15; 2:4-8; Rm 3:23-26)."2
A seguir, na página 4, se encontra o "Voto Batismal"3 do candidato,
com treze precisas declarações a serem feitas afirmativamente antes de
ser ministrado o batismo, sendo após assinado e datado o certificado. A
primeira destas declarações refere-se à nossa crença em Deus o Pai,
Deus o Filho e o Espírito Santo. Na segunda da lista de declarações,
lemos:
"2. Aceita a morte de Jesus Cristo no Calvário como sacrifício pelos
pecados e crê que, pela fé em Seu sangue derramado, os homens são
salvos do pecado e de sua penalidade?"4
Este é o procedimento preparatório para o batismo na fé adventista.
Que este Certificado de Batismo é autorizado e de uso constante na
igreja, é visto pela sua inclusão em nosso Manual da Igreja oficial.
Parece-nos, portanto, que há muito menos probabilidade de alguém que
mantenha posição ariana ou unitariana entrar na Igreja Adventista do que
em outra comunhão protestante.
A segunda pergunta, como a primeira, é em grande parte hipotética.
Nossa posição pode ser vista nas instruções oficiais para a Igreja
Adventista do Sétimo Dia, o Manual da Igreja, que abrange deveres,
responsabilidades e procedimento nos relacionamentos eclesiásticos.
Esse livro foi aprovado e editado pela Associação Geral em sessão
Questões sobre Doutrina
87
regular. Com relação à autoridade e responsabilidade da igreja nestes
assuntos, lemos às páginas 218 e 219 (edição de 1951):
―O Redentor do mundo conferiu grande poder à Sua igreja. Ele
declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus
membros. [...] Deus considera Seu povo um corpo responsável pelos
pecados que existam em seus membros. Se os dirigentes da igreja
negligenciam a obra de buscar diligentemente até descobrir os pecados
que atraem o desagrado de Deus sobre o corpo, tornam-se responsáveis
por esses pecados. [...] Caso haja erros evidentes entre Seu povo, e os
servos de Deus os passem adiante, indiferentes a isso, estão, por assim
dizer, apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados,
incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos
como responsáveis pelos pecados do culpado.‖5
Na página 224, sob o título "Razões Para a Disciplina dos
Membros", encontram-se listados doze motivos definidos, que podem
servir de base para a remoção de um membro. Diz o primeiro:
"1. Negação da fé nos princípios fundamentais do evangelho e nas
doutrinas básicas da igreja, ou o ensino de doutrinas contrárias a eles."6
Estes "fundamentos do evangelho", ou "crenças fundamentais", se
encontram às páginas 29-36 do Manual da Igreja.7 O segundo, terceiro,
quarto e quinto destes fundamentos tratam da doutrina de Deus,
realçando nossa crença na Trindade, na onipotência, onisciência e eterna
existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Citamos:
"2. A Divindade, ou Trindade, consiste no Pai Eterno, Ser pessoal,
espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e
amor; no Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai Eterno, por quem todas as
coisas foram criadas e por quem se realizará a salvação dos remidos; no
Espírito Santo, terceira pessoa da Divindade, o grande poder regenerador
na obra da redenção (Mt 28:19).
"3. Jesus Cristo é verdadeiramente Deus, sendo da mesma natureza
e essência que o Pai Eterno. Conservando Sua natureza divina, tomou
Questões sobre Doutrina
88
sobre Si a natureza da família humana, vivendo na Terra como homem;
exemplificou em Sua vida, como nosso modelo, os princípios da justiça;
testificou Sua filiação divina por muitos poderosos milagres; morreu na
cruz por nossos pecados; foi ressuscitado dos mortos; e ascendeu para
junto do Pai, onde vive para sempre para fazer intercessão por nós (Jo
1:1; 14; Hb 2:9-18; 8:1, 2; 4:14-16; 7:25)."8
A quarta destas "crenças fundamentais" realça a natureza de nossa
salvação:
"4.Toda pessoa, para obter salvação, tem que passar pela
experiência do novo nascimento. Isso compreende a inteira
transformação da vida e do caráter pelo poder recriador de Deus
mediante a fé no Senhor Jesus Cristo (Jo 3:16; Mt 18:3; At 2:37-39)."9
A salvação, então, vem unicamente pela "fé no Senhor Jesus
Cristo". Portanto, quem se recusa a reconhecer a divindade de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo não pode compreender nem experimentar
esse poder recriador em sua plenitude. Não apenas está desqualificado
para integrar a irmandade por sua própria descrença, mas na realidade
está fora do corpo místico de Cristo: a Igreja. E nada mais resta à igreja
fazer senão reconhecer esta separação devido à descrença, e agir em
harmonia com as instruções constantes no Manual da Igreja. A seção
das razões para remoção de um membro diz:
"Persistente negativa quanto a reconhecer a autoridade da igreja
devidamente constituída, ou por não querer submeter-se à ordem e à
disciplina da igreja."10
Embora se reconheça a autoridade da igreja em agir num caso
desses, a remoção de membro jamais se deve processar com precipitação, mas somente depois de muito conselho, oração e esforço no sentido
de recuperar o faltoso. Em geral, na realidade, a pessoa que perde a fé
nos fundamentos do evangelho se encontra de tal maneira em
desarmonia com seus irmãos que se afasta voluntariamente, ou sua
conduta é tal que a igreja precisa tomar medidas.
Questões sobre Doutrina
89
A doutrina histórica da divindade de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo é crença primordial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
A BASE HISTÓRICA DE UM MAL-ENTENDIDO11
Os adventistas do sétimo dia têm sido frequentemente malentendidos quanto à sua crença relativa à divindade de Cristo e à
natureza da Divindade. As razões desse mal-entendido residem, de certo
modo, em questões de definição e fundo histórico.
No movimento interdenominacional milerita, ao qual pertenceram
os adventistas do sétimo dia, havia alguns dirigentes que eram membros
da denominação conhecida como "cristãos". Esse grupo proclamava não
possuir credo algum, mas valer-se exclusivamente da Bíblia, reeditando
a revolta arminiana do princípio do século 19 contra o calvinismo
eclesiástico-político dominante na Nova Inglaterra, e no qual o assentimento à Confissão de Westminster era fator sine qua non. No seu zelo de
rejeitar tudo que não estivesse na Bíblia, os "cristãos" foram traídos pela
excessiva literalidade na interpretação da Divindade em termos de
relacionamentos humanos sugeridos pelas palavras "Filho", "Pai" e
"Unigênito", ou seja, para uma tendência de desacreditar a palavra nãobíblica "Trindade" e sustentar que o Filho devia ter tido um princípio em
passado remoto. (Contudo, esse povo, a despeito de ser chamado ariano,
achava-se no pólo oposto ao dos arianos liberais e humanísticos que se
tornaram unitarianos, e cujas opiniões sobre Cristo O representavam
como mero homem.)
Alguns desses "cristãos" valorizavam mais a Bíblia como guia e
formadora do caráter do que a afiliação a determinada igreja. Por isso,
inclinaram-se a ouvir com simpatia a pregação revivalista de Guilherme
Miller na década de 1840 e acolheram bem os mileritas quando outras
igrejas lhes fechavam as portas. Contudo, no movimento milerita, a
especulação sobre a natureza da Divindade não desempenhou papel
importante.
Questões sobre Doutrina
90
Os primeiros adventistas do sétimo dia haviam sido mileritas,
provindos de várias denominações, e entre eles havia dois pregadores
"cristãos" e possivelmente também alguns membros leigos. A proporção
deles em nossa primitiva coletividade religiosa é desconhecida. Seus
parcos descendentes não influíram no pensamento de nossos membros,
nem a compreensão que tinham da Divindade se tornou parte de nossa
mensagem essencial para o mundo. Hoje, provavelmente, uma ínfima
parte de nossos membros talvez tenha apenas ouvido de alguma
controvérsia quanto a Cristo ter tido um princípio nas épocas imensuráveis do passado. E mesmo os pouquíssimos denominados "arianos" que
estiveram entre nós — embora errados em sua teologia especulativa em
torno da natureza das relações da Divindade — foram, como seus irmãos
mais ortodoxos, isentos de qualquer pensamento de diminuir a glória e
soberania de Jesus como Criador, Redentor, Salvador e Advogado.
Nosso povo sempre creu na divindade e preexistência de Cristo, a
maioria certamente ignorando qualquer divergência quanto aos exatos
relacionamentos da Divindade.Tampouco nossa pregação pública
discutiu a cristologia, mas pôs ênfase na mensagem distintiva da volta do
Senhor. Temos, contudo, declarações de Ellen G. White de pelo menos
1870 e 1880 sobre a divindade de Cristo e Sua unidade e igualdade com
Deus. A partir de 1890, ela expressou-se com crescente frequência e
firmeza no intuito de corrigir opiniões erradas mantidas por alguns como a noção literal de que Cristo como "Filho Unigênito" tivera, em
épocas remotas do passado, um princípio.
Por que, desde o princípio, ela não se expressou com mais energia?
Sem dúvida, pela mesma razão que aconselhava contra a busca de
controvérsia teológica com irmãos respeitáveis, embora errados, tendo
em vista a unidade nos principais aspectos da mensagem do iminente
retorno de Cristo. Todos se sentiam chamados por Deus para proclamar
essa mensagem ao mundo. Sua advertência, em suma, era: não importa
Questões sobre Doutrina
91
quão certos estejam, não agitem o assunto no tempo presente porque
causará desunião.
Nossa tolerância de algumas poucas teorias variáveis possivelmente
não foi um preço excessivamente elevado pago para nos livrar de
dogmatismos de credos e controvérsias, e manter a unidade de espírito e
esforço em nossa tarefa mundial.
Referências
l. A posição de auto-segurança provida pelos autores de Questões Sobre
Doutrina neste parágrafo não é mais tão óbvia como foi em meados da década de
1950. Enquanto ainda se supõe que um ministro adventista do sétimo dia não
batizaria uma pessoa que estivesse em desacordo com aquelas quatro crenças
fundamentais da denominação que tratam das pessoas da Trindade, também é
verdade que a denominação, nos anos finais do século 20 e início do 21, presenciou o
ressurgimento de um antitrinitarianismo e semi-arianismo sobre a base de que os
pioneiros fundadores da denominação sustentavam essas concepções. No início do
século 21, o assunto foi se tornando causador de divisão no adventismo em muitas
partes do mundo. No entanto, deve ser observado que o movimento atual é predominantemente dissidente e leigo. A posição oficial da denominação e a vasta maioria de
seus clérigos e leigos são firmemente trinitarianas.
2. Atualmente, essa declaração não é mais impressa no Certificado de Batismo.
Contudo, ela ainda é parte do "Sumário das Crenças Doutrinárias" provido para a
instrução dos candidatos ao batismo. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, ela é
encontrada na página 218. Note-se que a primeira crença mencionada no Manual é
sobre Deus Pai, e não sobre a Trindade.
3. A igreja no Brasil atualmente não adota este certificado de 4 páginas, mas
um certificado com o voto batismal no verso e um local para assinatura de
compromisso do membro (nota do tradutor).
4. A redação do voto batismal mudou do formato de perguntas para o de
afirmação. O atual compromisso a ser assinado diz:
"2. Aceito a morte de Jesus Cristo no Calvário como o sacrifício expiatório
pelos meus pecados e creio que pela graça de Deus, mediante a fé em Seu sangue
derramado, sou salvo do pecado e de sua penalida-de."
5. Esta declaração ainda é encontrada no Manual da Igreja (edição de 2005, p.
188-189). Contudo, deve ser notado que a citação no livro Questões Sobre Doutrina
Questões sobre Doutrina
92
encobre o fato de que este parágrafo é, na verdade, constituído de três citações
distintas de Ellen White.
6. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, esta declaração é encontrada na
página 194.
7. Como observado previamente, a declaração das Crenças Funda-mentais de
1980 tem 27 artigos. Na edição revisada de 2005 os artigos são 28. Esta declaração é
impressa na íntegra em cada edição do Year-book e do Manual da Igreja Adventista
do Sétimo Dia. A reprodução completa da declaração das 22 Crenças Fundamentais
de 1931, das 27 de 1980 e das 28 de 2005 é encontrada nesta edição do livro
Questões Sobre Doutrina no material introdutório classificado como "Crenças
Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia".
8. Na declaração das Crenças Fundamentais de 2005, estas declarações sobre
as Pessoas da Trindade consistem de quatro artigos. Citamos:
"2. A Trindade - Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de
três Pessoas co-eternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e
sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido
por meio de Sua auto-revelação. É para sempre digno de culto, adoração e serviço
por parte de toda a criação (Dt 6:4; Mt 28:19; 2Co 13:13; Ef 4:4-6; 1Pe 1:2; 1Tm
l:17; Ap 14:7).
"3. O Pai - Deus, o Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o
Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em
irar-Se e grande em constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes
manifestados no Filho e no Espírito Santo também constituem revelações do Pai (Gn
1:1; Ap 4:1 1; 1Co 15:28; Jo 3:16; 1Jo 4:8; 1Tm 1:17; Êx 34:6, 7; Jo 14:9).
"4. O Filho - Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio
dEle ioram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação
da humanidade e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele
tornou-Se também verdadeiramente homem,Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Mana.Viveu e experimentou a tentação como ser
humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus
milagres manifestou o poder de Deus e provou que era o Messias prometido por
Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar,
foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar em nosso favor no
santuário celestial. Virá outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a
restauração de todas as coisas (Jo 1:1 -3,14; Cl 1:15-19; Jo 10:30; 14:9; Rm 6:23;
Questões sobre Doutrina
93
2Co 5:17-19; Jo 5:22; Lc 1:35; Fp 2:5-11; Hb 2:9-18; 1Co 15:3,4; Hb 8:l,2; Jo 14:13).
"5. O Espírito Santo - Deus, o Espírito Eterno, desempenhou uma parte ativa
com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das
Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e
os que se mostram sensíveis são por Ele renovados e transformados á imagem de
Deus. Enviado pelo Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede
dons espirituais à igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as
Escrituras, guia-a em toda a verdade (Gn 1:1,2; Lc l:35; 4:18; At 10:38; 2Pe 1:21;
2Co 3:18; Ef 4:11, 12; At 1:8; Jo 14:16-18,26; 15:26,27; 16:7-13)."
9. A natureza da salvação é refletida na crença número 10 da declaração das
Crenças Fundamentais de 2005. Ela diz:
"10. A Experiência da Salvação — Em infinito amor e misericórdia, Deus fez
com que Cristo, que não conheceu pecado. Se tornasse pecado por nós, para que nEle
fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa
necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade. arrependemo-nos de nossas
transgressões e temos fé em Jesus como Senhor e Cristo, como substituto e exemplo.
Esta fé que aceita a salvação advém do divino poder da Palavra e é o dom da graça
de Deus. Por meio de Cristo, somos justificados, adotados como filhos e filhas de
Deus, e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e
somos santificados; o Espírito renova nossa mente, escreve a lei de Deus, a lei de
amor. em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma vida santa.
Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza
da salvação agora e no juízo (2Co 5:17 21; Jo 3:16; Gl 1:4; 4:4-7; Tt 3:3-7; Jo 16:8;
Gl 3:13,14; 1Pe 2:21,22: Rm 10:17; Lc 17:5; Mc 9:23, 24; Ef 2:5-10; Rm 3:21-26: Cl
1:13. 14; Rm 8:14-17; Gl 3:26; Jo 3:3-8; 1Pe 1:23; Rm 12:2; Hb 8:7-12; Ez 36:2527; 2Pe 1:3,4; Rm 8:1-4; 5:6-10)."
10. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, esta declaração é encontrada na
página 195, como artigo número 9.
11. Esta é uma das seções mais problemáticas do livro Questões Sobre
Doutrina. Para começar, a declaração final da página 49 [da edição de 1957], que
admite "teorias diversas" no adventismo sobre a Trindade e tópicos relacionados,
parece contradizer a primeira metade do capítulo, que enfatiza uma negação da
variação. A verdade é que tem sempre havido alguma diversidade de pontos de vista
nos tópicos durante o século e meio de adventismo, embora os dissidentes da posição
Questões sobre Doutrina
94
oficial trinitariana da denominação foram extremamente poucos desde os anos de
1950 até o início da década de 1990.
A declaração mais problemática nessa seção é encontrada na página 48 [edição
de 1957], onde os autores de Questões Sobre Doutrina afirmam que "nosso povo
sempre creu na divindade e preexistência de Cristo". Enquanto é verdade que os
primeiros adventistas criam em alguma forma de preexistência de Cristo, também é
verdade que muitos deles acreditavam que Ele não possuía eternidade no passado, e
uns poucos, como Uriah Smith, criam que Cristo era um ser criado. Assim, muitos
adventistas antes da década de 1890 eram antitrinitarianos e semi-arianos. Isto é,
eram opostos à doutrina da Trindade e à plena divindade de Cristo.
Como resultado, a declaração feita na página 46 da edição original de Questões
Sobre Doutrina de que os "adventistas do sétimo dia têm sido frequentemente malentendidos quanto à sua crença relativa à divindade de Cristo e à natureza da
Divindade" é falsa no sentido histórico. A verdade é que muitos dos primeiros
adventistas não eram ortodoxos quanto à Divindade. Tiago White, José Bates,
J.N.Andrews. Uriah Smith, Ellet J.Waggoner e outros líderes estavam entre esse
número. A posição deles era bem conhecida na maior parte da comunidade
protestante. Dessa maneira, poderia ser argumentado que a denominação havia sido
compreendida em vez de mal-entendida nessas discussões em relação à Trindade.
Nesse ponto, os autores de Questões Sobre Doutrina podem não estar tão em
falta como a discussão acima parece indicar. Eles mesmos podiam ter estado em
verdadeira ignorância da ampla extensão do antitrinitarianismo e semi-arianismo
entre os pioneiros adventistas. Afinal, a primeira pesquisa histórica significativa
sobre o tópico foi completada em 1963, vários anos depois da publicação do livro
Questões Sobre Doutrina (ver Erwin R. Gane, "The Arian or Anti-Trinitarian Views
Presented in Seventh-day Adventist Literature and the Ellen G. White Answer", tese
de M. A., Andrews University, 1963; Russell Holt, "The Doctrine of theTrinity in the
Seventh-day Adventist Denomination: Its Rejection and Acceptance", monografia,
Andrews University, 1969).
Do lado menos favorável da questão em "falta" entre os autores de Questões
Sobre Doutrina está o fato de que tão tarde quanto 1971, em seu Movement of
Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1971, ver especialmente as páginas
269-299), LeRoy Edwin Froom, um dos principais autores de Questões Sobre
Doutrina, ainda estava se recusando a reconhecer a grande profundidade do
problema antitrinitari-ano entre a liderança pioneira adventista e o contínuo semiarianismo nos escritos de E. J.Waggoner na década de 1890.
Questões sobre Doutrina
95
Em seu desejo de ganhar a aceitação dos evangélicos, é possível que Froom e
os outros autores de Questões Sobre Doutrina tenham achado difícil lidar com os
problemas histórico-teológicos denominacio-nais em sua própria mente, quanto mais
em publicações. Enquanto os acordos e mal-entendidos dos autores do livro em
relação à posição histórica da denominação sobre a natureza de Cristo e a Divindade
eram problemáticos, a conduta seguida na abordagem da natureza humana de Cristo
foi ainda muito mais.
Os pontos válidos na discussão do tópico da posição histórica do adventismo
sobre a Divindade em Questões Sobre Doutrina são que (1) é verdade que a
"especulação sobre a natureza da Divindade não desempenhou parte importante" no
movimento milerita, (2) a Conexão Cristã (da qual José Bates e Tiago White vieram
para o adventismo) era um movimento amplamente antitrinitariano, (3) em meados
dos anos de 1950, era indubitavelmente verdade que "provavelmente apenas uma
minúscula porção de nossa membresia sequer já tivesse ouvido de qualquer discussão
quanto a se Cristo alguma vez teve um começo nas eras imensuráveis do passado", e
(4) foi Ellen White que finalmente direcionou a denominação para o estudo da Bíblia
que conclusivamente conduziu à afirmação da Trindade, à plena divindade de Cristo
e à personalidade do Espírito Santo.
Ellen White foi uma das poucas pessoas entre os líderes pioneiros adventistas
que não era agressivamente antitrinitariana. Conquanto isso seja verdade, também é
fato que suas antigas declarações não são claras quanto ao que ela cria. Mas, depois
da assembleia da Associação Geral de 1888, com sua ênfase em Cristo e a salvação
nEle, ela se tornou explicitamente clara sobre o ponto de vista trinitariano. Isso foi
especialmente verdadeiro em seu livro O Desejado de Todas as Nacões (1898), onde
escreveu que "em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada" (p. 530).
Essa e outras declarações provaram ser bem controvertidas e impeliram os eruditos
adventistas a se voltarem para a Bíblia, onde chegaram à compreensão mais plena
dos tópicos relacionados à Divindade. (Para uma abordagem mais extensa do ponto
de vista histórico dos adventistas do sétimo dia sobre a Trindade, ver Woodrow
Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve, A Trindade [Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2003], p. 207-249; George R. Knight. Em Busca de Identidade: O
Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia [Tatuí: Casa Publicadora
Brasileira, 2005], p. 112-120, 157-160, 203, 16-18, 31. Para a mudança de
compreensão sobre a Trindade em Ellen White, ver George R. Knight, "Adventists
and Change", Ministry, outubro de 1993, p. 10-15.)
Questões sobre Doutrina
96
6
A Encarnação e o "Filho do Homem"
PERGUNTA 6
Que entendem os adventistas pelo uso que Cristo fez do título "Fílho
do homem"? E o que vocês consideram ter sido o propósito básico da
Encarnação?
A Palavra Inspirada e o Verbo Encarnado, ou o Verbo feito carne,
são pilares gêmeos na fé dos adventistas do sétimo dia, em comum com
todos os cristãos fieis.Toda nossa esperança de salvação repousa sobre
estas duas imutáveis provisões de Deus. Na verdade, consideramos a
encarnação de Cristo o fato mais assombroso, em si mesmo e nas suas
consequências, na história do homem, e chave de todas as providências
redentoras de Deus. Tudo antes da encarnação conduziu a ela; e tudo que
se segue depois procede dela. Isso envolve todo o evangelho e é
absolutamente essencial à fé cristã. Esta união da Divindade com a
humanidade - do Infinito com o finito, do Criador com a criatura, a fim
de que a Divindade pudesse ser revelada na humanidade - está além de
nossa compreensão humana. Por meio dessa provisão, Cristo uniu em
Sua própria Pessoa o Céu e a Terra, Deus e o homem.
Além disso, por ocasião de Sua encarnação, Cristo Se tornou o que
não era antes. Tomou sobre Si a forma corpórea humana, e aceitou as
limitações da vida corpórea humana, como o modo de viver enquanto
esteve na Terra entre os homens. Dessa maneira, a Divindade ligou-Se
com a humanidade numa única Pessoa, quando Ele Se tornou um e único
Deus-homem. Isso é básico em nossa fé. A morte expiatória vicária de
Cristo na cruz foi a consequência inevitável desta provisão original.
Quando Cristo Se identificou com a raça humana, através da
encarnação, o eterno Verbo de Deus entrou numa relação terrena de
Questões sobre Doutrina
97
tempo. Daí em diante, porém, desde que o Filho de Deus Se tornou
homem, não cessou de ser homem. Adotou a natureza humana e, ao
voltar a Seu Pai, não somente levou consigo a humanidade que assumira
pela encarnação, como reteve para sempre Sua perfeita natureza humana
— identificando-Se eternamente com a raça que redimira. Isso tem sido
expresso de forma clara por uma de nossas mais preeminentes escritoras,
Ellen G.White:"Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à
humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por
toda a eternidade" (O Desejado de Todas as Sacões, p. 25).
I. O FILHO DE DEUS SE TORNA FILHO DO HOMEM
Pela encarnação, a majestade e glória do Verbo Eterno, o Criador e
Senhor do Universo, ficaram veladas (Jo 1:1-3). E aconteceu então que o
Filho de Deus Se tornou Filho do homem — expressão usada mais de
oitenta vezes no Novo Testamento.Tomando sobre Si a humanidade,
tornou-Se um com a raça humana para que pudesse revelar a paternidade
de Deus à raça pecadora e remir a humanidade perdida. Por ocasião da
Sua encarnação, tornou-Se carne. Teve fome, teve sede, sentiu cansaço.
Necessitou de alimento e repouso, e restaurou-Se pelo sono. Partilhou a
sorte do homem, carecendo de simpatia e necessitando de assistência
divina. Contudo, sempre permaneceu o inculpável Filho de Deus.
Ele jornadeou na Terra, foi tentado e provado, foi tomado pelos
sentimentos de nossas enfermidades humanas; contudo, viveu uma vida
totalmente livre de pecado. Sua humanidade foi genuína e verdadeira,
passando pelos vários estágios do crescimento, como qualquer outro
membro da raça humana. Esteve sujeito a José e Maria, e foi um
adorador na sinagoga e no templo. Chorou sobre a culpada cidade de
Jerusalém e na sepultura de uma pessoa amada. Expressou Sua
dependência de Deus em oração. Contudo, todo o tempo reteve Sua
divindade — um e único Deus-homem. Foi o segundo Adão, que veio na
"semelhança" da carne humana pecaminosa (Rm 8:3); porém, sem
Questões sobre Doutrina
98
mancha de suas propensões e paixões pecaminosas (ver também o
Apêndice B).1
A primeira vez que aparece o título "Filho do homem" no Novo
Testamento é aplicado a Jesus como um peregrino sem lar. sem mesmo
um lugar onde pender a cabeça (Mt 8:20); e a última vez, como um Rei
glorificado, prestes a vir (Ap 14:14). Foi na qualidade de Filho do
homem que veio para salvar os perdidos (Lc 19:10). Como Filho do
homem atribuia-Se autoridade para perdoar pecados (Mt 9:1-8). Como
Filho do homem semeou a semente da verdade (Mt 13:37), foi traído (Mt
17:22; Lc 22:48), foi crucificado (Mt 26:2), ressurgiu dos mortos (Mc
9:9) e ascendeu ao Céu (Jo 6:62).
De idêntica maneira, como Filho do homem está agora no Céu (At
7:56) e cuida de Sua igreja na Terra (Ap 1:12, 13. 20). Além disso, é
como Filho do homem que Ele voltará nas nuvens do céu (Mt 24:30;
25:31). E como Filho do homem executará o juízo (Jo 5:27) e receberá
Seu reino (Dn 7:13, 14). Este é o registro inspirado acerca de Seu papel
como Filho do homem.
II - MIRACULOSA UNIÃO DO DIVINO COM O HUMANO
Cristo Jesus nosso Senhor era uma união miraculosa da natureza
divina com nossa natureza humana. Era o Filho do homem enquanto
esteve aqui na carne, mas era também o Filho de Deus. O mistério da
encarnação é claramente e definitivamente expresso nas Escrituras
Sagradas.
"Grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na
carne" (1Tm 3:16). "Deus estava em Cristo" (2Co 5:19). "OVerbo Se fez
carne e habitou entre nós" (Jo 1:14).
Que maravilhosa verdade! Ela foi referida por Ellen G.White como
segue:
"Ele vestiu Sua divindade com a humanidade. Durante todo o
tempo foi Deus, mas não apareceu como Deus.Velou as demonstrações
Questões sobre Doutrina
99
de Divindade que impunham a veneração e exigiam a admiração do
Universo de Deus. Foi Deus enquanto esteve na Terra; porém, Se
desvestiu da forma de Deus e, em seu lugar, assumiu a forma de um
homem. Andou na Terra como homem. Tornou-Se pobre para que por
meio de Sua pobreza pudéssemos tornar-nos ricos. Pôs de lado Sua
glória e majestade. Era Deus, mas as glórias pertinentes a Deus, Ele por
algum tempo as renunciou" (Review and Herald, 5 de julho de 1887).
"Quanto mais pensarmos acerca da vinda de Cristo como um bebê
na Terra, tanto mais maravilhoso isso nos afigura. Como pode ser que a
criancinha indefesa na manjedoura de Belém fosse ainda o divino Filho
de Deus? Embora não possamos compreender isso, podemos crer que
Aquele que fez os mundos tornou-Se um frágil bebê por nossa causa.
Embora mais elevado do que qualquer dos anjos, embora tão grande
como o Pai no trono do Céu, Ele Se tornou um conosco. Nele, Deus e
homem se tornaram um, e é nesse fato que encontramos a esperança para
a nossa raça caída. Contemplando a Cristo na carne, contemplamos a
F)eus em humanidade, e vemos nEle o fulgor da glória divina, a expressa
imagem de Deus, o Pai (The Youth's Instructor, 21 de novembro de
1895).
"O Criador dos mundos. Aquele em quem habitava corporalmente a
plenitude da Divindade. Se manifestou no indefeso bebê na manjedoura.
Muito mais elevado do que qualquer dos anjos, igual ao Pai em
dignidade e glória, e, contudo, revestido da humanidade! A divindade e a
humanidade combinaram-se misteriosamente, e o homem e Deus se
tornaram um. E nessa união que encontramos a esperança de nossa raça
decaída. Contemplando a Cristo em humanidade, contemplamos a Deus,
e vemos nEle o brilho de Sua glória, a expressa imagem de Sua pessoa"
(Signs of the Times, 30 de julho de 1896).
Em ambas as naturezas, a divina e a humana, Ele foi perfeito; foi
sem pecado. Não há a menor dúvida de que isso é verdade quanto à Sua
natureza divina. Quanto à Sua humanidade é também verdade. Em Seu
Questões sobre Doutrina
100
desafio aos fariseus de Seus dias. Ele disse:"Quem dentre vós Me
convence de pecado?" (Jo 8:46). O apóstolo dos gentios declarou que Ele
"não conheceu pecado" (2Co 5:21); que Ele era "santo, inculpável, sem
mácula, separado dos pecadores" (Hb 7:26). Pedro pôde testificar que
Ele "não cometeu pecado" (1Pe 2:22); e João, o amado, nos assegura que
"nEle não existe pecado" (1Jo 3:5). Não apenas os Seus amigos
realçaram-Lhe a natureza sem pecado; também Seus inimigos o fizeram.
Pilatos foi forçado a confessar não ter encontrado nEle nenhuma culpa
(Lc 23:14). A esposa de Pilatos avisara o marido para que não entrasse
na questão desse justo (Mt 27:19). Os próprios demónios foram
compelidos a reconhecer-Lhe a filiação divina e consequentemente Sua
divindade. Quando lhes foi ordenado que saíssem do homem a quem
deixaram possesso, retrucaram: "Que temos nós contigo, ó Filho de
Deus!" (Mt 8:29). O evangelho de Marcos registra "o Santo de Deus"
(Mc 1:24).
Escreveu Ellen G. White: Ele tomou "a natureza, mas não a
pecaminosidade do homem" (Signs of the Times, 29 de maio de 1901).
"Não devemos ter nenhuma dúvida em relação ã perfeita
impecabilidade da natureza humana de Cristo" (The SDA Bible
Commentary, v. 5, p. 1131).
Por que tomou Cristo a natureza humana? Isso foi dito com
propriedade como segue:
"Pondo de lado Suas vestes e coroa reais, Cristo vestiu Sua
divindade com a humanidade, para que os seres humanos pudessem
erguer-se de sua degradação e ser colocados em posição de
superioridade. Cristo não podia ter vindo à Terra com a glória que
possuía nas cortes celestiais. Seres humanos pecadores não suportariam
vê-Lo. Ele velou Sua divindade com a roupagem da humanidade; porém,
não Se desfez de Sua divindade. Salvador divino-humano, Ele veio para
colocar-Se à frente dos seres caídos, e compartilhar na experiência deles
desde a meninice até a varonilidade. Para que os seres humanos
Questões sobre Doutrina
101
pudessem participar da natureza divina, Ele veio à Terra, e viveu em
perfeita obediência." (Ellen G. White, Review and Herald, 15 de junho
de 1905, itálicos acrescentados).
"Cristo tomou sobre Si a humanidade, a fim de alcançar a
humanidade. [...] Eram necessários tanto o divino como o humano para
trazer salvação ao mundo." (O Desejado de Todas as Nações, p. 296).
"Revestindo-Se da humanidade, Cristo veio para ser um com ela e
ao mesmo tempo revelar nosso Pai celestial a seres humanos
pecaminosos. Em tudo Se fez semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se
carne, assim como somos. Tinha fome, sede, fadiga. Era sustentado pelo
alimento e refrigerado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens, e
todavia era o irrepreensível Filho de Deus. Era peregrino e forasteiro na
Terra — estava no mundo, mas não era do mundo; tentado e provado
como o são hoje em dia homens e mulheres, mas vivendo, não obstante,
vida isenta de pecado." (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 286).
De novo acentuamos que, em Sua natureza humana, Cristo foi
perfeito e sem pecado.
A este respeito, algo de importância vital deve ser considerado.
Aquele que é sem pecado, nosso bendito Senhor, voluntariamente tomou
sobre Si a carga e penalidade de nossos pecados. Este foi um ato que se
efetivou em pleno consenso e cooperação com Deus, o Pai.
Deus "fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos" (Is 53:6).
"Quando der Ele a Sua alma como oferta pelo pecado" (v. 10).
Contudo, isso se constituiu ato voluntário de nosso bendito
Salvador, pois lemos:
"As iniquidades deles levará sobre Si" (v. 11).
"Derramou a Sua alma na morte" (v. 12).
"Carregando Ele mesmo em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos
pecados" (1Pe 2:24).
"Como membro da família humana, era mortal; mas, como Deus,
era a fonte da vida do mundo. Podia, em Sua pessoa divina, haver detido
Questões sobre Doutrina
102
continuamente as investidas da morte, e haver-Se recusado a ficar sob
seu domínio; porém, Ele depôs voluntariamente a vida, para que, assim
fazendo, pudesse dar vida e trazer à luz a imortalidade. [...] Que
humilhação! Causou espanto aos anjos. A língua jamais a pode
descrever; não a pode abranger a imaginação. O Verbo eterno consentiu
em fazer-Se carne. Deus tornou-Se homem! Maravilhosa humildade!"
(Ellen G. White, Review and Herald, 5 de julho de 1887, itálicos
acrescentados).
Somente o impecável Filho de Deus podia ser nosso substituto.
Nosso impecável Redentor fez isso. Tomou sobre Si os pecados do
mundo inteiro, mas, ao fazê-lo, não houve nEle a mais leve mancha de
corrupção. A Bíblia Sagrada, contudo, diz que Deus "O fez pecado por
nós" (2Co 5:21). Essa expressão paulina tem desconcertado teólogos
durante séculos, mas, por mais que signifique, certamente não quer dizer
que nosso imaculado Senhor Se tornou um pecador. O texto declara que
Ele foi feito "[como] pecado". Portanto, deve significar que Ele tomou
nosso lugar, que morreu em nosso lugar, que "foi contado com os
transgressores" (Is 53:12) e que tomou o fardo e a penalidade que nos
cabiam.
Todos os fiéis cristãos reconhecem este ato redentor de Jesus na
cruz do Calvário. Sobre este fato há abundância de testemunho
escriturístico.
Os escritos de Ellen G.White acham-se inteiramente em harmonia
com os textos bíblicos a respeito do assunto.
"O Filho de Deus suportou a ira de Deus contra o pecado. Todos os
pecados acumulados do mundo foram lançados sobre o Portador de
pecado, Aquele que era inocente, o único Ser que podia ser a propiciação
pelo pecado, porque Ele próprio fora obediente. Ele era um com Deus.
Sobre Ele não havia sequer uma mancha de corrupção'' (Signs of the
limes, 9 de dezembro de 1897, itálicos acrescentados).
Questões sobre Doutrina
103
"Como um conosco, cumpria-Lhe suportar o fardo de nossa culpa e
aflição. O Inocente devia sentir a vergonha do pecado. O amigo da paz
tinha que habitar entre a luta, a verdade com a mentira, a pureza com a
vileza. Todo pecado, toda discórdia, toda contamiuadora concupiscência trazida pela transgressão, Lhe era uma tortura para o espirito. [...]
Sobre Aquele que abrira mão de Sua glória, e aceitara a fraqueza da
humanidade, devia repousar a redenção do mundo" (O Desejado de
Todas as Nações, p. 111, itálicos acrescentados).
"O peso dos pecados do mundo oprimia-Lhe a alma, e Seu
semblante expressou angústia indescritível, uma aflição tão profunda
que o homem caído jamais concebera. Sentira a torrente arrasadora da
desgraça que inundara o mundo. Compreendera a força do apetite
acariciado e paixões não santificadas que dominavam o mundo" (Review
and Herald, 4 de agosto de 1874).
"Justiça completa foi feita na expiação. Em lugar do pecador, o
imaculado Filho de Deus recebera a penalidade, e o pecador ficou livre
ao receber a Cristo e apegar-se a Ele como seu Salvador pessoal. Embora
culpado, é considerado inocente. Cristo cumpriu todas as reivindicações
exigidas pela justiça" (The Youth’s Instructor, 25 de abril de 1901,
itálicos acrescentados).
"Sem culpa, Ele suportou a punição da culpa. Inocente, contudo Se
ofereceu como substituto do transgressor. A culpa de cada pecado pesou
sobre a divina alma do Redentor do mundo" (Sígns of the Times, 5 de
dezembro de 1892, itálicos acrescentados).
Tudo isso Ele suportou vicariamente. Tudo isso tomou sobre Sua
alma inocente e levou na cruz cruel.
Há outro aspecto dessa questão que necessita ser realçado: é o fato
de Jesus não apenas ter sido portador das "iniquidades de todos nós",
mas tomar e levar algo mais, algo intimamente relacionado com nossos
pecados.
Questões sobre Doutrina
104
"Certamente, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades" (Is 53:4).
Era "Homem de dores e que sabe o que é padecer" (v. 3).
Assim Mateus se refere a esta passagem:
"Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as
nossas doenças" (Mt 8:17).
A versão de Weymouth assim declara: "Ele tomou sobre Si nossas
fraquezas e levou o tardo de nossas doenças."
Uma outra tradução inglesa, a Twentieth Century, diz:
"Ele tomou nossas enfermidades sobre Si e levou a carga das nossas
doenças."
Enquanto Ele levava (grego phero, Septuaginta) nossas iniquidades
(Is 53:11), também levava (grego anaphero) nossas debilidades (Mt
8:17,Weymouth).
Observemos o que está implicado nisso. Notemos as palavras
empregadas para expressar o pensamento tanto em Isaías 53 como em
Mateus 8. Ele levou nossas dores, nossos sofrimentos, nossas
enfermidades ou moléstias. As palavras originais também se traduzem
por moléstias, fraquezas, debilidades.
Sobre isso notemos o seguinte nos escritos de Ellen G.White:
"Ele esteve sujeito às enfermidades e fraquezas que cercam o
homem ‗para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta
Isaías: Ele tomou nossas enfermidades e carregou com as nossas
doenças‘. Ele foi tocado pelo sentimento de nossas enfermidades, e em
todos os pontos foi tentado como o somos. E, contudo, ‘não conheceu
pecado’. Era o Cordeiro ‗sem culpa e sem mancha‘. [...] Não devemos
ter dúvidas quanto a perfeita impecaminosidade da natureza humana de
Cristo" (Signs of the Times, 9 de junho de 1898, itálicos acrescentados).
"Ele não Se contaminava com a corrupção, era um estranho ao
pecado, e contudo orava, e isto muitas vezes com forte clamor e
lágrimas. Orava por Seus discípulos e por Si mesmo, assim Se
identificando com nossas necessidades, com nossas fraquezas e filhas,
Questões sobre Doutrina
105
tão comuns à humanidade. Era um poderoso solicitador, não possuindo
as paixões de nossa natureza humana caída, mas rodeado das mesmas
enfermidades, tentado em todos os pontos como nós o somos. Jesus
suportou sofrimentos que requeriam ajuda e sustento da parte de Seu
Pai" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 508-509, itálicos acrescentados).
"Ele é irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas
paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal. Jesus
suportou lutas e torturas íntimas, em um mundo de pecado. Sua
humanidade tornava a oração necessidade e privilégio. Reivindicava
todo o mais forte apoio divino e o conforto que o Pai estava pronto a
conceder-Lhe - a Ele que, em beneficio do homem, havia deixado as
alegrias do Céu, preferindo morar em um mundo frio e ingrato" (ibid., p.
202, itálicos acrescentados).
Tanto do registro de Isaías como do de Mateus, dificilmente se pode
interpretar que Jesus tivesse ficado doente ou que tivesse experimentado
as fragilidades de que a raça caída é herdeira. Mas Ele suportou tudo
isso. Não se daria que Ele suportasse isso também vicariamente,2 da
mesma forma como suportou os pecados de todo o mundo?
Essas fraquezas, fragilidades, enfermidades e deficiências são
coisas que nós, devido à nossa natureza pecaminosa e caída, temos que
suportar. Para nós, elas são naturais e inerentes; porém, quando Ele as
suportou, não as tomou como alguma coisa que Lhe era inata, mas
suportou-as como nosso substituto. Observamos de novo que Cristo
suportou tudo isso vicariamente, da mesma forma como vicariamente
levou as iniquidades de todos nós.
É nesse sentido que todos devemos entender os escritos de Ellen G.
White ao referir-se, de quando em quando, à natureza humana
pecaminosa, caída e arruinada. Lemos que Jesus tomou "nossa natureza"
(O Desejado de Todas as Nações, p. 25); "tomou sobre Si a natureza
humana" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1128); "tomou sobre Sua
Questões sobre Doutrina
106
natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza" (Medicina e
Salvação, p. 181); tomou "nossa natureza caída" (Special Instruction
Relating to the Review and Herald Office, p. 13, 26 de maio de 1896);
tomou "a natureza do homem em sua condição caída" (Signs of the
Times, 9 de junho de 1898).
Todas essas declarações são convincentes e taxativas, mas
certamente nenhuma tem o propósito de dar sentido àquelas que
circulam em contrário ao que a mesma escritora apresentou em outros
lugares de suas obras. Notemos o contexto em que são empregadas essas
expressões.
Ele tomou "a natureza do homem, mas não a sua pecaminosidade"
(Signs of the Times, 29 de maio de 1901).
Ele tomou "a natureza do homem em sua condição caída, mas [...]
de maneira nenhuma participou de seus pecados" (The SDA Bible
Commentary, v. 5, p. 1131).
"Ele é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas
paixões" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 202).
Assim, "Se identificando com nossas necessidades, com nossas
fraquezas e falhas, [...] era um poderoso solicitador, não possuindo as
paixões de nossa natureza humana, caída" (Testemunhos Para a Igreja,
v. 2, p. 508, 509, itálicos acrescentados).
"Não devemos ter dúvidas quanto à perfeita impecaminosidade da
natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131,
itálicos acrescentados).
O Filho de Deus "tornou-Se como um de nós, exceto no pecado"
(TheYouth's Iustructor, 20 de outubro de 1886, itálicos acrescentados).
"Não havia nEle a menor mancha de corrupção" (Signs of the
Times, 9 de dezembro de 1897, itálicos acrescentados).
Deve-se notar nas declarações citadas que, embora a escritora
mencione que Jesus tomou nossa natureza, Ele próprio não era pecador,
mas sem pecado.
Questões sobre Doutrina
107
O que quer que Jesus haja tomado, não era intrinsecamente ou
inerentemente Seu. O fato de Ele haver tomado o fardo de nossas
fraquezas e filhas herdadas, mesmo depois de quatro mil anos de
enfermidades e degenerescência acumuladas (O Desejado de Todas as
Nações, p. 49, 117), não manchou, nem em mínimo grau, Sua natureza
humana. "Ele tomou sobre Sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa
natureza" (Medicina e Salvação, p.l81)."Não devemos ter nenhuma
dúvida acerca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de
Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131).
"Ele voluntariamente assumiu a natureza humana. Foi um ato
espontâneo, por Seu próprio consentimento" (Review and Herald, 5 de
julho de 1887).
Sujeitou-Se "voluntariamente Se submetendo a todas as condições
humilhantes da natureza humana" (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p.
458),"assumindo a forma de servo" (Fp 2:7). Tomou sobre Si "a
descendência de Abraão" (Hb 2:16) para que fosse feito "pecado por
nós" (2Co 5:21) e para que Se tornasse em todas as coisas "semelhante
aos irmãos" (Hb 2:17).
Tudo que Jesus tomou, tudo que suportou, quer fossem o fardo e a
penalidade de nossas iniquidades, ou as doenças e fragilidades de nossa
natureza humana - tudo foi tomado e suportado vicariamente. Assim
como o suportar vicariamente os pecados de todo o mundo não maculou
Sua alma perfeita e sem pecado, tampouco o suportar as doenças e
fragilidades de nossa natureza caída O manchou sequer em mínimo grau
com a corruptora influência do pecado.
Lembremo-nos sempre de que nosso bendito Senhor era sem
pecado. "Não devemos ter nenhuma dúvida acerca da perfeita ausência
de pecado na natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary,
v. 5, p. 1131).
"Ao tratarmos da humanidade de Cristo, necessitamos cuidar
energicamente de cada afirmação, para que nossas palavras não venham
Questões sobre Doutrina
108
a ser tomadas para significarem mais do que implicam, e assim
perdermos de vista ou obscurecermos as claras percepções de Sua
humanidade combinada com a divindade. Seu nascimento foi um
milagre de Deus. [...] 'O Santo, que de ti [Maria] há de nascer, será
chamado Filho de Deus.' [...] Nunca, de modo algum, deixemos a mais
leve impressão na mente humana de que uma mancha de corrupção ou
inclinação para ela havia em Cristo, ou que Ele, de algum modo, cedeu à
corrupção. Ele foi tentado em todos os pontos como o homem, contudo é
chamado 'o Santo'. Este é um mistério não desvendado aos mortais:
Cristo poder ser tentado em todos os pontos como o somos, mas ficar
sem pecado. A encarnação de Cristo sempre tem sido e continuará a ser
mistério. Aquilo que foi revelado é para nós e nossos filhos; contudo,
cada ser humano se precavenha de tornar Cristo totalmente humano,
como um de nós; pois isso é impossível" (The SDA Bible Commentary,
v. 5, p. 1128, 1129).
Que Salvador maravilhoso é Jesus, nosso Senhor!
III. PODIA CRISTO TER PECADO?
Esta questão vital apresenta diversidade de opiniões na igreja cristã
em geral. Alguns julgam que era impossível Jesus pecar; outros, que era
possível. Associamo-nos aos últimos em nossa maneira de compreender
o assunto e, assim como em muitos outros aspectos da doutrina cristã,
eminentes eruditos da igreja através dos séculos têm-se expressado de
maneira muito semelhante à nossa. Nossa posição sobre isto foi bem
definida por Ellen G.White:
"Muitos sustentam que era impossível Cristo ser vencido pela
tentação. Neste caso, não teria sido colocado na posição de Adão; não
poderia haver obtido a vitória que aquele deixara de ganhar. Se
tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve
Cristo, então Ele não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso
Salvador Se revestiu da humanidade com todas as contingências da
Questões sobre Doutrina
109
mesma. Tomou a natureza humana com a possibilidade de ceder a
tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Ele não tenha
sofrido. [...] Cristo venceu em favor do homem pela resistência à mais
severa prova" (O Desejado de Todas as Nações, p. 117).
É evidente que, no passado, teólogos respeitados sustentaram a
mesma ideia. Notemos o que se segue:
"Se Ele tivesse sido dotado, desde o princípio, de absoluta
impecabilidade, ou da impossibilidade de pecar, não poderia ter sido
verdadeiramente homem, nem nosso modelo. Sua santidade, em vez de
ser um ato adquirido por Si mesmo e um mérito inerente, seria um dom
acidental ou exterior, e Sua tentação uma exibição irreal. Tendo sido
verdadeiramente humano, Cristo deve ter sido um agente moral livre e
responsável: liberdade implica a faculdade de escolha entre o bem e o
mal, e a faculdade de desobedecer ou obedecer à lei de Deus (Philip
Schaff, The Person of Christ, p. 35, 36).
"Se deve ser passada por alto a verdade [...] de que a força da
tentação era suficientemente forte para criar a consciência de uma luta,
então todo o percurso da prova moral pela qual Jesus passou na Terra se
degenera de uma vez em mera exibição teatral. [...] Em nosso tempo essa
ideia docetista não tem aceitação. Teólogos de todas as escolas
concordam que as forças do mal, contra as quais o Filho do homem
travou tão admirável combate, não eram sombras, mas inimigos reais e
poderosos" (Alexander B. Bruce, The Humiliation of Christ, p. 268).
"Sempre que atribuímos a Jesus, na maneira devida e no sentido das
Escrituras, todos os elementos morais do homem, não devemos separar
deles a liberdade que é a taculdade de escolher entre o bem e o mal; e
por essa razão devemos admitir como compreensível que Ele pudesse em
alguma ocasião ter sido influenciado a um desvio da vontade de Deus. A
menos que isso seja admitido, a história da tentação, por melhor que
possa ser explicada, não teria significado algum; e ficaria sem sentido
Questões sobre Doutrina
110
esta expressão que encontramos na epístola aos Hebreus: 'Ele foi tentado
em todos os pontos como nós'."
"Como Jesus era completamente homem, essa suscetibilidade e essa
possibilidade devem supor-se ter coexistido nEle. Se não coexistissem
dessa forma, Ele teria deixado de ser um exemplo de perfeita moralidade
humana" (Karl Ullmann, An Apologetic View on the Sinless Character of
Jesus [1841], p. 11).
"Não devemos entender pela expressão [impecaminosidade de
Jesus] uma impossibilidade absoluta de pecar, mas unicamente o fato
real de não pecar. O que está contido em uma natureza racional e livre,
inseparável deste fato, é a mais elevada perfeição moral e santidade"
(ibid., p. 13).
IV. O PROPÓSITO DA ENCARNAÇÃO
Quanto ao propósito da encarnação de Cristo, a resposta aparece
nos textos que apoiam os seguintes seis pontos, que resumem as razões
de Sua vinda à Terra em forma humana.
l.Veio para revelar Deus ao mundo (Jo 1:14, 18; 3:1-36; 17:6. 26:
1Jo 1:2; 4:9).
2. Veio para unir Deus e o homem (Jo 1:51; comparar com Gn
28:12; Mt 1:23; 1Pe 3:18).
3.Veio para identificar-Se com o homem pelo nome. E chamado o
"Filho do homem" 77 vezes nos Evangelhos (como em Lucas 19:10).
4.Veio para levar os pecados da humanidade (Is 53:6,11; Jo 1:29;
1Pe 2:24; 1Jo 3:5).
5.Veio para morrer em nosso lugar (Is 53:5-10; Mt 26:28; At 20:28;
Rm 4:25; 5:6-10; 1Co 15:3; Gl 1:4; 1Tm 2:6; Hb 2:9; 1Pe 1:18, 19; 2:24;
3:18).
6.Veio para destruir o diabo e suas obras (Jo 12:31; 16:33; Hb 2:14;
1Jo 3:8).
Questões sobre Doutrina
111
V. UM MISTÉRIO INSONDÁVEL
Ao considerarmos assunto de tal transcendência e importância vital
como a encarnação de Cristo, temos sempre que nos lembrar de que há
muitos aspectos que não podemos penetrar. Mesmo quando captamos
um vislumbre de verdade, a linguagem humana é inteiramente
inadequada para expressar as maravilhas e belezas do mistério
incomparável e inimitável da encarnação de Jesus Cristo. Ellen G.White
escreveu:
"Ao contemplarmos a encarnação de Cristo em humanidade,
ficamos pasmados diante de um mistério insondável, que a mente
humana não pode compreender. Quanto mais refletimos sobre ela, tanto
mais assombrosa ela parece" (Signs of the Times, 30 de julho de 1896).
Ainda que isso seja verdadeiro, há, graças a Deus, certos aspectos
da verdade que têm sido revelados. E o que se tornou conhecido na
Palavra de Deus é para nosso estudo. A mesma autora escreveu o
seguinte sobre este ponto:
"Quando queremos estudar um problema profundo, fixemos nossa
mente na coisa mais maravilhosa que ocorreu na Terra ou no Céu - a
encarnação do Filho de Deus" (Manuscrito 76, 1903).
Referências
1. Para uma discussão mais completa sobre este tópico, ver as páginas 277-278;
437-445 do livro. [Pergunta 33, ítem IX; Apêndice B].
2. As páginas 59-62 da edição de 1957 estabelecem a posição bastante curiosa
de que Cristo tomou a natureza humana vicariamente de maneira idêntica à que
carregou o pecado humano vicariamente. Isto é, de acordo com o livro Questões
Sobre Doutrina, em Sua encarnação, Cristo realmente não tomou as enfermidades e
as fraquezas humanas como sendo Suas de maneira inata, mas apenas em sentido
vicário ou substitumte.
Essa posição certamente não é exposta no Novo Testamento nem foi sustentada
por Ellen White. No Desejado de Todas as Nações, ela declara que "Jesus aceitou a
humanidade quando a raça tinha sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado.
Questões sobre Doutrina
112
Como qualquer filho de Adão Ele aceitou os resultados da operação da grande lei de
hereditariedade" (p. 49).
E mais: "Por quatro mil anos a raça tinha estado decrescendo em força física,
em poder mental, e em dignidade moral; e Cristo tomou sobre Si as enfermidades da
humanidade degenerada" (p. 117, itálicos acrescentados).
Dessa maneira, de acordo com Ellen White, na encarnação Cristo de fato, em
vez de vicariamente, tomou sobre Si a "nossa natureza pecaminosa" (Review and
Herald, 15 de dezembro de 1896, p. 789). Ou, conforme ela diz em citação
semelhante, "Ele tomou sobre Si mesmo a natureza humana caída e sofredora,
degradada e contaminada pelo pecado" (TheYouth’s Instructor, 20 de dezembro de
1900, p.394). Como resultado, Cristo encarnou em um corpo que estava sujeito à
fadiga, à dor e á morte. Tornou-Se um com a humanidade de maneira que "é um
irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões" (Testemunhos
Para a Igreja, v. 2, p. 202).
As razões pelas quais os autores de Questões Sobre Doutrina apresentam o
argumento de que Cristo tomou a natureza humana "vicariamente" serão examinadas
em nossa nota principal sobre a natureza humana de Cristo relacionada ao Apêndice
B (ver também a Introdução Histórica e Teológica à Edição Anotada).
Questões sobre Doutrina
113
7
A Ressurreição Corpórea de Cristo
PERGUNTA 7
Qual é a posição adventista do sétimo dia sobre a ressurreição física
ou corpórea de Cristo?
Nós, adventistas do sétimo dia, cremos na ressurreição física ou
corpórea de Jesus Cristo tão certamente como cremos em Sua morte
expiatória no Calvário. Esta é uma doutrina primordial da fé cristã, pois
o cristianismo repousa no fato indisputável de que Cristo ressurgiu dos
mortos (1Co 15:17).
A ressurreição de Cristo não deve ser entendida apenas no sentido
espiritual. Ele, de fato, ressurgiu dos mortos. Aquele que saiu da tumba
era o mesmo Jesus que vivera em carne. Ressurgiu num corpo
glorificado, mas real — tão real que as mulheres que foram ao sepulcro e
os discípulos O viram (Mt 28:17; Mc 16:9,12,14). Os dois discípulos a
caminho de Emaús conversaram com Ele (Lc 24). Ele mesmo disse aos
discípulos: "Vede as Minhas mãos e os Meus pés" (Lc 24:39). Tinha
carne e ossos (v. 39). Comeu com eles (v. 43).
Tomé tinha motivos para crer que se tratava do mesmo Jesus, pois
fora desafiado: "Põe aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; chega
também a tua mão e põe-na no Meu lado" (Jo 20:27). Realmente, era o
próprio Salvador. Não era um espírito, um fantasma. Era o real divino
Filho de Deus que ressurgira da sepultura.
A ressurreição de nosso Senhor Jesus constituiu parte vital da
mensagem da igreja primitiva. Ao pregarem, os apóstolos pregavam
Cristo, o Messias que Se levantara dos mortos. Anunciavam "em Jesus, a
ressurreição dentre os mortos" (At 4:2); "davam testemunho da
Questões sobre Doutrina
114
ressurreição do Senhor Jesus" (v. 33); Paulo lhes anunciava "a Jesus e a
ressurreição" (At 17:18).
A ressurreição de Jesus Cristo é de vital importância no grande
plano divino da salvação. A própria morte de Jesus, sublime como foi,
seria de nenhuma valia se não houvesse Sua ressurreição dos mortos. O
grande apóstolo dos gentios torna isso claro no seu vibrante testemunho
do Cristo vivo. Naquele maravilhoso capítulo sobre a ressurreição, em
sua mensagem à igreja de Corinto, vemos o lugar essencial que este
grande acontecimento ocupa no propósito de Deus. Notemos qual seria a
situação se Cristo não houvesse ressuscitado dos mortos:
1. Não haveria benefício algum da pregação do evangelho: "E, se
Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação" (1Co 15:14).
2. Não haveria perdão dos pecados:"E, se Cristo não ressuscitou,
[...] ainda permaneceis nos vossos pecados" (v. 17). 3. Não haveria
propósito na crença em Jesus: "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa
fé" (v. 17).
4. Não haveria ressurreição geral dos mortos: "Ora, se é corrente
pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmaram
alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?" (v. 12).
5. Não haveria esperança nenhuma além da sepultura:"E, se Cristo
não ressuscitou, [...] os que dormiram em Cristo pereceram" (v. 17, 18).
Esta é uma mensagem de poder, pois é pelo poder de Sua
ressurreição que vivemos a vida cristã, e Sua vida é vivida na vida de
todo o crente.
Os que são sepultados com Cristo no batismo são representados
como ressuscitando com Ele, em Sua ressurreição (Rm 6:5, 8, 11; Ef 2:4,
5; Cl 2:12, 13). Como consequência dessa união com Cristo, nova vida é
comunicada ao crente (Rm 6:4; 2Co 4:10,11; Cl 3:10). O poder da
ressurreição.de Cristo fica desta forma à disposição dele (Ef 1:19. 20; Fp
3:10; Hb 7:16).
Questões sobre Doutrina
115
Outrora estávamos mortos nos pecados; agora estamos vivos em
Cristo. Fomos crucificados com Cristo; agora Cristo vive em nós (Gl
2:20). Nossa experiência pessoal deste avivamento da alma, desta açào
liberadora do Espírito de vida, constitui testemunha interior e a prova
suprema da realidade da ressurreição.
Acima de tudo, a ressurreição de nosso Senhor é a certeza de que
nós, igualmente, seremos ressuscitados por ocasião de Sua segunda
vinda (1Co 15:20, 23).
A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO
Muitas evidências deste surpreendente acontecimento foram dadas
aos cristãos primitivos. Houve, pelo menos, dez aparições de Jesus
depois de Sua ressurreição: (1) a Maria Madalena (Mc 16:9;Jo 20:1417); (2) às mulheres no caminho para que dissessem aos discípulos que
Cristo havia ressuscitado (Mt 28:9); (3) a Pedro (Lc 24:34); (4) aos dois
discípulos na estrada de Emaús (Mc 16:12; Lc 24:15,31); (5) aos
discípulos reunidos na noite do dia da ressurreição (Mc 16:14; Lc 24:36;
Jo 20:19); (6) aos discípulos reunidos uma semana depois (Jo 20:26-29);
(7) aos discípulos no Mar da Galileia (Jo 21:1-22); (8) aos onze num
monte na Galileia, estando presentes quinhentos irmãos (Mt 28:16; Mc
16:7; 1Co 15:6); (9) a Tiago (1Co 15:7); (10) aos onze discípulos por
ocasião da ascensão (Mc 16:19; Lc 24:50-52; At 1:4-12).
A.T. Robertson assim comenta a reunião com os 500 discípulos:
―O vigor deste testemunho reside no fato de que a maioria (hoi
pleios) deles estava ainda viva quando Paulo escreveu esta Epístola, [...]
não mais de 25 anos depois da ressurreição de Cristo‖ (Word Pictures in
the NewTestament, 1931, v. 4. p. 188).
Além do testemunho dos apóstolos e das mulheres, há o testemunho
do conselho judaico (Mt 28:11-15), e também das autoridades romanas,
de acordo com os primeiros escritores da igreja. Pilatos tomou
conhecimento dos fatos e os registrou em seu relatório regular ao
Questões sobre Doutrina
116
imperador. Eusébio, bispo do 4 o século e historiador eclesiástico,
escreveu:
―E quando a maravilhosa ressurreição e ascensão de nosso Salvador
já tinham sido propaladas em toda a parte, consoante antigo costume
prevalecente entre os governadores das províncias de relatarem ao
imperador as novidades que nelas ocorriam, a fim de que nada lhe
pudesse escapar, Pôncio Pilatos informou a Tibério dos relatórios que
eram divulgados em toda a Palestina concernentes à ressurreição de
nosso Salvador Jesus Cristo. Ele também deu um relato de outras
maravilhas que ouvira a respeito dEle e como, depois de Sua morte,
tendo ressuscitado, era agora crido por muitos como sendo um deus.‖
―Que Pilatos fizera relatório oficial a Tibério é confirmado por
Tertuliano (Apol. 21), e em si mesmo é perfeitamente provável. Justino
Mártir (Apol. 1:35, 48) menciona um Atos de Pilatos, bem conhecido em
seus dias, mas o suposto Atos de Pilatos que ainda existe em várias
formas é espúrio, e pertence a um período bem posterior. É fantasioso e
curioso (Nicene and Post-Nicene Fathers, segunda série. v. 1, p. 105).‖1
O povo devia estar ciente do fato, pois, por ocasião da ressurreição
houve um terremoto e muitos santos ressuscitaram. Eles eram antítipo,
pelo menos em parte, do molho movido que era oferecido nos dias
antigos. Diz o registro: "Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de
santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros, depois da
ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos"
(Mt 27:52. 53).
Comentando essa experiência, Ellen G.White escreveu:
Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de
cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e,
ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. [...] Agora deviam ser
testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. [...] Esses entraram
na cidade e apareceram a muitos, declarando: Cristo ressurgiu dos
Questões sobre Doutrina
117
mortos, e nós ressurgimos com Ele. Assim foi imortalizada a sagrada
verdade da ressurreição (O Desejado de Todas as Nações, p. 786).
Referência
l. A estrutura um tanto confusa dos dois parágrafos acima reproduz
o original, onde o segundo parágrafo é uma nota de rodapé do primeiro.
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4 A Divindade e a Preexistência Eterna de Cristo