Questões sobre Doutrina 78 4 A Divindade e a Preexistência Eterna de Cristo PERGUNTA 4 Os adventistas do sétimo dia são frequentemente acusados de negar a divindade real e a eterna preexistência de Cristo, o Verbo Eterno. É exata esta asserção? É aceita entre os adventistas a crença na Trindade? Dêem, por favor, os fundamentos bíblicos de suas crenças. I. CRENTES NA DIVINDADE DE CRISTO E NA TRINDADE Nossa crença na deidade e eterna preexistência de Cristo, a segunda pessoa da Divindade, consta de nossas "Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia", que são anualmente reproduzidas em nosso anuário oficial (Yearbook), e também em nosso autorizado Manual da Igreja (ed. 1951, p. 29-36).1 Além disso, os que são batizados na Igreja Adventista subscrevem um sumário de crenças doutrinárias impresso no Certificado de Batismo, cujo artigo segundo declara: ―Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e eterno Filho de Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça por meio da fé nEle.‖2 Antes do batismo, o candidato assina esta declaração como uma afirmação de sua crença. E no Apêndice A encontra-se uma compilação de declarações sobre a divindade e a eterna preexistência de Cristo, bem como Sua posição na Divindade, feitas por uma de nossas escritoras mais representativas, Ellen G. White. A respeito do lugar de Cristo na Divindade, cremos que Ele é a segunda pessoa na Trindade celestial - composta do Pai, Filho e Espírito Santo, unidos não somente na Divindade, mas nas providências da redenção. Uma série de breves declarações sobre a Trindade consta também do Apêndice A, "O Lugar de Cristo na Divindade", claramente Questões sobre Doutrina 79 apresentando (1) que Cristo é um com o Pai Eterno, um em natureza, igual em poder e autoridade, Deus no mais alto sentido, eterno e existente por Si mesmo, com vida original, não emprestada, não derivada; e (2) que Cristo existiu desde toda a eternidade, distinto do Pai mas unido a Ele, possuindo a mesma glória e todos os atributos divinos. Os adventistas do sétimo dia baseiam sua crença na Trindade nas declarações das Sagradas Escrituras mais do que num credo histórico. O segundo artigo das Crenças Fundamentais é explícito: ―A Divindade, ou Trindade, consiste do Pai Eterno, Ser pessoal, espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e amor; do Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai Eterno, por quem todas as coisas foram criadas e por quem se realizará a salvação dos remidos; do Espírito Santo, terceira pessoa da Divindade, o grande poder regenerador na obra da redenção (Mt 28:19).‖3 Outra declaração autorizada consta do "Sumário de Crenças Doutrinárias" no Certificado de Batismo: "1. O Deus vivo e verdadeiro, primeira pessoa da Divindade, é nosso Pai celestial, e Ele, por meio de Seu Filho, Cristo Jesus, criou todas as coisas (Mt 28:18, 19; 1Co 8:5,6; Ef 3:9; Jr 10:10-12; Hb 1:1-3; At 17:22-29; Cl 1:16-18). "2. Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e o eterno Filho de Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça por meio da fé nEle (Mt 28:18, 19; Jo 3:16; Mq 5:2; Mt 1:21; 2:5, 6; At 4:12; 1Jo 5:11, 12; Ef 1:9-15; 2:4-8; Rm 3:23-26). "3. O Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, é o representante de Cristo na Terra, e conduz os pecadores ao arrependimento e à obediência a todas as reivindicações divinas (Mt 28:18, 19; Jo 14:26; 15:26; 16:7-15; Rm 8:1-10; Ef 4:30)."4 II. BASES BÍBLICAS PARA A CRENÇA NA DIVINDADE DE CRISTO Questões sobre Doutrina 80 A divindade de nosso Senhor Jesus Cristo se firma, pelo menos, em sete linhas distintas de evidências, as quais, tomadas em conjunto, estabelecem plenamente Sua divindade: 1. Reconhecimento do Título "Filho de Deus" Pelo Próprio Cristo. Enquanto esteve entre os homens, o próprio Cristo reconheceu ser o Filho de Deus (Mt 27:41-43;Jo 5:23; 9:35-37; 10:36; 17:1). Confirmou o testemunho de outros de que era o Filho de Deus (Mt 16:15-17; Jo 1:32-34,48,49; 11:27). E inúmeras outras declarações atestam o fato de que Ele era o que Se declarava ser: o Filho de Deus (Mt 3:16, 17; Jo 19:7; 20:30, 31; At 9:20; Rm 1:1-4; 2Co 1:19; Hb 4:14; 2Pe 1:16, 17). Cristo empregou o título "Filho de Deus" sem a menor reserva, e com a maior liberdade e franqueza. Este é o único título que abrange, de maneira mais explícita, Sua relação original com o Pai. 2. Aplicação a Jesus Cristo de uma Porção de Nomes e Títulos que se Restringem à Divindade. No Antigo Testamento, cerca de 70 nomes e títulos são atribuídos a Jesus Cristo, e no Novo Testamento mais 170. Os que são exclusivamente restritos à Divindade incluem "Deus" (Jo l:l); "Deus conosco" (Mt 1:23); "o grande Deus" (Tt 2:13); "Deus bendito eternamente" (Rm 9:5); "Filho de Deus" (40 vezes); "Filho unigênito" (cinco vezes); "o primeiro e o último" (Ap 1:17); "Alfa e Omega" (Ap 22:13); "o princípio e o fim" (Ap 22:13); "o Santo" (At 3:14); "Senhor" (empregado constantemente); "Senhor de todos" (At 10:36); "Senhor da glória" (1Co 2:8); "Rei da glória" (SI 24:8-10); "Maravilhoso" (Is 9:6); "Pai da eternidade" (Is 9:6); "Palavra de Deus" (Ap 19:13); "Verbo" (Jo 1:1); "Emanuel" (Mt 1:23); "Mediador" (1Tm 2:5); e "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Ap 19:16). 3. Imputação a Cristo de Atributos que Pertencem Exclusivamente à Divindade. Estes incluem onipotência (Mt 28:18), onisciência (Mt 9:4), onipresença (Mt 18:20), imutabilidade (Hb 13:8) - aparecendo também em vários outros textos. Questões sobre Doutrina 81 4. Atribuição a Cristo de Funções e Prerrogativas Exclusivas da Divindade. Estas compreendem a criação do Universo (Jo 1:1-3); preservação do Universo (Hb 1:3); direito e poder de perdoar pecados (Mc 2:5-12); direito e poder de julgar todos os homens (At 17:31); autoridade e poder de ressuscitar mortos (Jo 5:28, 29); de transformar nosso corpo (Fp 3:21); de conceder a imortalidade (1Co 15:52,53). 5. A Aplicação do "Eu Sou" do Antigo Testamento a Jesus Cristo no Novo Testamento. Quando Cristo disse aos judeus: "Antes que Abraão existisse, Eu sou" (Jo 8:58), Ele estava reclamando divindade, e Seus ouvintes reconheceram as implicações de Suas palavras, pois apanharam "pedras para atirar nEle" - castigo judaico para grandes blasfêmias. Certamente, Ele empregou as palavras de Deus no Antigo Testamento "EU SOU O QUE SOU" (Ex 3:14), desde a antiguidade reconhecidas como símbolo da divindade, aplicando a Si mesmo o atributo de existência própria. 6. Identificação do Jeová do Antigo Testamento com Jesus no Novo Testamento. No Antigo Testamento existem vários textos que contêm o nome Jeová e que foram aplicados a Jesus Cristo pelos escritores do Novo Testamento. A palavra "Senhor" (Yahweh) no Salmo 102:22, e nos versículos 25-28 correlatos, é aplicada a Jesus em Hebreus 1:10-12. O mesmo nome divino (Yahweh) aparece em Habacuque 2:2, 3, e é aplicado a Cristo em Hebreus 10:37. Três outras vezes em que tanto Yahweh como Elohim se aplicam a nosso Senhor são vistas nas seguintes passagens: Em Jeremias 31:31 Yahweh é empregado, e é retendo como a obra de Cristo em Hebreus, capítulos 8 e 10. A referência a Yahweh em Ageu 2:6 é também messiânica, e aplica-se à obra de Jesus em Hebreus 12:26. O nome divino Elohim em Salmo 45:6, 7 aplica-se ao Filho de Deus em Hebreus 1:8, 9. Questões sobre Doutrina 82 7. O Nome do Filho Posto em Plena Igualdade com o Pai no Novo Testamento. Isso aparece na bênção apostólica (2Co 13:14), na fórmula batismal (Mt 28:19) e em outros textos em que Seus nomes se acham unidos. 8. Jesus Cristo É Proclamado sem Pecado Através de Toda a Sua Vida Entre os Homens. Isso estava claramente predito no Antigo Testamento (Sl 45:7; Is 53:9; Jr 23:5; Zc 9:9). E acha-se expressamente declarado no Novo Testamento — como "o Santo de Deus" (Mc 1:24), "Ente Santo" (Lc 1:35), "Santo Servo Jesus" (At 4:27), "nenhum mal fez" (Lc 23:41), "nEle não há injustiça" (Jo 7:18), "o Santo e o Justo" (At 3:14), "não conheceu pecado" (2Co 5:21), "sem mácula" (1Pe 1:19), "sem defeito" (1Pe 1:19),"não cometeu pecado" (1Pe 2:22), "separado dos pecadores" (Hb 7:26). 9. Culto Divino e Orações a Jesus, os Quais São Devidos Unicamente a Deus. Há muitas passagens em que Jesus Cristo, como Deus e Criador, sem hesitação, aceitou culto que Lhe prestaram com temor e reverência os próprios anjos e homens piedosos, como criaturas (Ap 19:10; At 10:25, 26). A prerrogativa de divindade foi assumida e declarada inúmeras vezes através de toda a vida de Jesus no Novo Testamento (Mt 14:33; 28:9, 17). 10. O Conhecimento de Cristo Quanto à Sua Pessoa Divina e Sua Missão. Aos 12 anos de idade, Ele reconheceu a Deus como Seu Pai (Lc 2:41-52). Aos 30, este conhecimento de Sua missão divina foi revelado em Seu batismo (Mt 3:13-17). Ele aparece também no registro da tentação (Mt 4:1-11), no chamado dos 12 e dos 70 e nas reivindicações do Sermão do Monte (Mt 5-7). 11. A Convergência das Múltiplas Especificações Proféticas do Antigo Testamento Como Cumpridas em Jesus Cristo Constitui a Prova Culminante. Muitas predições separadas, específicas e pormenorizadas apontam com precisão para Ele como o único que deveria vir de Deus (como em Isaías 7:14; 9:6). Questões sobre Doutrina 83 Referências: 1. As Declarações das Crenças Fundamentais, revisadas em 1980 e ampliadas em 2005, continuam a ser publicadas na sua inteireza tanto no Yearbook da Igreja Adventista do Sétimo Dia quanto no Manual da Igreja. 2. O melhor sumário deste ponto na declaração batismal atual (2002) é o artigo 1 do Certificado de Batismo, que diz: "Creio que existe um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-e ternas." 3. A declaração de 1980 sobre a Trindade é como segue: "Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-eternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-rcvelação. É para sempre digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação (Dt 6:4: Mt 28:19; 2Co 13:14; Ef 4:4-6; 1Pe 1:2; 1Tm l:17; Ap 14:7)." 4. Em 2002, esses itens no Certificado de Batismo afirmavam: "3. O Eterno Pai é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se e grande em constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes manifestados no Filho e no Espírito Santo também constituem revelações do Pai (Gn l:l;Ap4:ll; 1Co 15:28; Jo 3:16; 1Jo 4:8; 1Tm 1:17; Êx 34:6, 7;Jo 14:9). "4. O Filho Eterno encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se também verdadeiramente homem, Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria.Viveu e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar em nosso favor no santuário celestial. Virá outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas (Jo 1:1-3, 14; Co 1:15-19; Jo 10;30; 14:9; Rm 6:23: 2Co 5:17-19;Jo 5:22; Lc 1:35; Fp 2:5-11; Hb 2:9-18; 1Co 15:3,4; Hb 8:1,2; Jo 14:1-3). "5. O Espírito Eterno desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram sensíveis são por Ele renovados e transformados à imagem de Deus. Enviado pelo Questões sobre Doutrina 84 Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade (Gn 1:1, 2; Lc l:35; 4:18; At 10:38; 2Pe 1:21; 2Co 3:18; Ef 4:11, 12; At 1:8; Jo 14:16-18,26; 15:26, 27; 16:7-13)." 5. A igualdade de Cristo com Deus o Pai é demonstrada de muitas maneiras no Novo Testamento: • A honra do Filho é a honra do Pai (Jo 5:23). • Ver a Cristo é ver a Deus (Jo 14:7-9). • Conhecer Cristo é conhecer o Pai (Jo 14:7). • Crer em Jesus é crer em Deus (Jo 12:44). • Cristo faz as mesmas coisas que o Pai faz (Jo 5:19). • Cristo ressuscita os mortos como o faz o Pai (Jo 5:21). • Cristo tem vida em Si mesmo como o Pai (Jo 5:26). Questões sobre Doutrina 85 5 A Divindade de Cristo e os Membros da Igreja PERGUNTA 5 Se um unitariano ou ariano (que rejeita a trindade da Divindade e nega a divindade de Cristo) buscasse ser admitido na Igreja Adventista, o pastor adventista do sétimo dia o batizaria e o admitiria na coletividade de membros? É possível uma pessoa permanecer como membro fiel se recusar-se sistematicamente a se submeter à autoridade da igreja quanto à doutrina histórica da divindade de Jesus Cristo? Embora a primeira pergunta pareça tocar em um problema de elevada importância, é todavia hipotética - pela simples razão de que um unitariano ou ariano confesso não procura ser membro de uma igreja confessadamente trinitariana, enquanto sustentar suas velhas ideias quanto à Divindade. Uma enquete entre vários pastores de muita experiência ligados à liderança de nossa obra denominacional revela que nenhum pastor deste grande grupo religioso jamais recebeu tal solicitação.1 Os pastores adventistas são solicitados a instruir rigorosamente todos os candidatos a membro da igreja que se preparam para o batismo. Esse período de instrução prossegue geralmente por alguns meses. Se o candidato persistir em manter opiniões erróneas concernentes a nosso Senhor e Salvador, o único que pode salvar o pecador, então apenas um caminho pode ser tomado: o pretendente terá que ouvir com franqueza que está totalmente despreparado para o batismo, e não poderá ser recebido como membro de nossa irmandade. Será aconselhado a estudar mais até que compreenda e aceite plenamente a divindade de Jesus Cristo e Seu poder redentor. Não podemos permitir que se torne membro Questões sobre Doutrina 86 quem nega o que cremos, e creia o que negamos, porque jamais poderemos coexistir em harmonia. Contendas e desintegração seriam o resultado. Além disso, a Igreja Adventista do Sétimo Dia adota um Certificado de Batismo que é dado ao candidato por ocasião do seu batismo. Ele apresenta um sumário das crenças dos adventistas do sétimo dia. Após o artigo 1, que trata da Trindade, o segundo artigo declara: "2. Jesus Cristo, a segunda pessoa da Divindade e o eterno Filho de Deus, é o único Salvador do pecado; e a salvação do homem é pela graça por meio da fénEle (Mt 28:18,19; Jo 3:16; Mq 5:2; Mt 1:21; 2:5,6; At 4:12; 1Jo 5:11, 12; Ef 1:9-15; 2:4-8; Rm 3:23-26)."2 A seguir, na página 4, se encontra o "Voto Batismal"3 do candidato, com treze precisas declarações a serem feitas afirmativamente antes de ser ministrado o batismo, sendo após assinado e datado o certificado. A primeira destas declarações refere-se à nossa crença em Deus o Pai, Deus o Filho e o Espírito Santo. Na segunda da lista de declarações, lemos: "2. Aceita a morte de Jesus Cristo no Calvário como sacrifício pelos pecados e crê que, pela fé em Seu sangue derramado, os homens são salvos do pecado e de sua penalidade?"4 Este é o procedimento preparatório para o batismo na fé adventista. Que este Certificado de Batismo é autorizado e de uso constante na igreja, é visto pela sua inclusão em nosso Manual da Igreja oficial. Parece-nos, portanto, que há muito menos probabilidade de alguém que mantenha posição ariana ou unitariana entrar na Igreja Adventista do que em outra comunhão protestante. A segunda pergunta, como a primeira, é em grande parte hipotética. Nossa posição pode ser vista nas instruções oficiais para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, o Manual da Igreja, que abrange deveres, responsabilidades e procedimento nos relacionamentos eclesiásticos. Esse livro foi aprovado e editado pela Associação Geral em sessão Questões sobre Doutrina 87 regular. Com relação à autoridade e responsabilidade da igreja nestes assuntos, lemos às páginas 218 e 219 (edição de 1951): ―O Redentor do mundo conferiu grande poder à Sua igreja. Ele declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus membros. [...] Deus considera Seu povo um corpo responsável pelos pecados que existam em seus membros. Se os dirigentes da igreja negligenciam a obra de buscar diligentemente até descobrir os pecados que atraem o desagrado de Deus sobre o corpo, tornam-se responsáveis por esses pecados. [...] Caso haja erros evidentes entre Seu povo, e os servos de Deus os passem adiante, indiferentes a isso, estão, por assim dizer, apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado.‖5 Na página 224, sob o título "Razões Para a Disciplina dos Membros", encontram-se listados doze motivos definidos, que podem servir de base para a remoção de um membro. Diz o primeiro: "1. Negação da fé nos princípios fundamentais do evangelho e nas doutrinas básicas da igreja, ou o ensino de doutrinas contrárias a eles."6 Estes "fundamentos do evangelho", ou "crenças fundamentais", se encontram às páginas 29-36 do Manual da Igreja.7 O segundo, terceiro, quarto e quinto destes fundamentos tratam da doutrina de Deus, realçando nossa crença na Trindade, na onipotência, onisciência e eterna existência do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Citamos: "2. A Divindade, ou Trindade, consiste no Pai Eterno, Ser pessoal, espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e amor; no Senhor Jesus Cristo, Filho do Pai Eterno, por quem todas as coisas foram criadas e por quem se realizará a salvação dos remidos; no Espírito Santo, terceira pessoa da Divindade, o grande poder regenerador na obra da redenção (Mt 28:19). "3. Jesus Cristo é verdadeiramente Deus, sendo da mesma natureza e essência que o Pai Eterno. Conservando Sua natureza divina, tomou Questões sobre Doutrina 88 sobre Si a natureza da família humana, vivendo na Terra como homem; exemplificou em Sua vida, como nosso modelo, os princípios da justiça; testificou Sua filiação divina por muitos poderosos milagres; morreu na cruz por nossos pecados; foi ressuscitado dos mortos; e ascendeu para junto do Pai, onde vive para sempre para fazer intercessão por nós (Jo 1:1; 14; Hb 2:9-18; 8:1, 2; 4:14-16; 7:25)."8 A quarta destas "crenças fundamentais" realça a natureza de nossa salvação: "4.Toda pessoa, para obter salvação, tem que passar pela experiência do novo nascimento. Isso compreende a inteira transformação da vida e do caráter pelo poder recriador de Deus mediante a fé no Senhor Jesus Cristo (Jo 3:16; Mt 18:3; At 2:37-39)."9 A salvação, então, vem unicamente pela "fé no Senhor Jesus Cristo". Portanto, quem se recusa a reconhecer a divindade de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo não pode compreender nem experimentar esse poder recriador em sua plenitude. Não apenas está desqualificado para integrar a irmandade por sua própria descrença, mas na realidade está fora do corpo místico de Cristo: a Igreja. E nada mais resta à igreja fazer senão reconhecer esta separação devido à descrença, e agir em harmonia com as instruções constantes no Manual da Igreja. A seção das razões para remoção de um membro diz: "Persistente negativa quanto a reconhecer a autoridade da igreja devidamente constituída, ou por não querer submeter-se à ordem e à disciplina da igreja."10 Embora se reconheça a autoridade da igreja em agir num caso desses, a remoção de membro jamais se deve processar com precipitação, mas somente depois de muito conselho, oração e esforço no sentido de recuperar o faltoso. Em geral, na realidade, a pessoa que perde a fé nos fundamentos do evangelho se encontra de tal maneira em desarmonia com seus irmãos que se afasta voluntariamente, ou sua conduta é tal que a igreja precisa tomar medidas. Questões sobre Doutrina 89 A doutrina histórica da divindade de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é crença primordial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A BASE HISTÓRICA DE UM MAL-ENTENDIDO11 Os adventistas do sétimo dia têm sido frequentemente malentendidos quanto à sua crença relativa à divindade de Cristo e à natureza da Divindade. As razões desse mal-entendido residem, de certo modo, em questões de definição e fundo histórico. No movimento interdenominacional milerita, ao qual pertenceram os adventistas do sétimo dia, havia alguns dirigentes que eram membros da denominação conhecida como "cristãos". Esse grupo proclamava não possuir credo algum, mas valer-se exclusivamente da Bíblia, reeditando a revolta arminiana do princípio do século 19 contra o calvinismo eclesiástico-político dominante na Nova Inglaterra, e no qual o assentimento à Confissão de Westminster era fator sine qua non. No seu zelo de rejeitar tudo que não estivesse na Bíblia, os "cristãos" foram traídos pela excessiva literalidade na interpretação da Divindade em termos de relacionamentos humanos sugeridos pelas palavras "Filho", "Pai" e "Unigênito", ou seja, para uma tendência de desacreditar a palavra nãobíblica "Trindade" e sustentar que o Filho devia ter tido um princípio em passado remoto. (Contudo, esse povo, a despeito de ser chamado ariano, achava-se no pólo oposto ao dos arianos liberais e humanísticos que se tornaram unitarianos, e cujas opiniões sobre Cristo O representavam como mero homem.) Alguns desses "cristãos" valorizavam mais a Bíblia como guia e formadora do caráter do que a afiliação a determinada igreja. Por isso, inclinaram-se a ouvir com simpatia a pregação revivalista de Guilherme Miller na década de 1840 e acolheram bem os mileritas quando outras igrejas lhes fechavam as portas. Contudo, no movimento milerita, a especulação sobre a natureza da Divindade não desempenhou papel importante. Questões sobre Doutrina 90 Os primeiros adventistas do sétimo dia haviam sido mileritas, provindos de várias denominações, e entre eles havia dois pregadores "cristãos" e possivelmente também alguns membros leigos. A proporção deles em nossa primitiva coletividade religiosa é desconhecida. Seus parcos descendentes não influíram no pensamento de nossos membros, nem a compreensão que tinham da Divindade se tornou parte de nossa mensagem essencial para o mundo. Hoje, provavelmente, uma ínfima parte de nossos membros talvez tenha apenas ouvido de alguma controvérsia quanto a Cristo ter tido um princípio nas épocas imensuráveis do passado. E mesmo os pouquíssimos denominados "arianos" que estiveram entre nós — embora errados em sua teologia especulativa em torno da natureza das relações da Divindade — foram, como seus irmãos mais ortodoxos, isentos de qualquer pensamento de diminuir a glória e soberania de Jesus como Criador, Redentor, Salvador e Advogado. Nosso povo sempre creu na divindade e preexistência de Cristo, a maioria certamente ignorando qualquer divergência quanto aos exatos relacionamentos da Divindade.Tampouco nossa pregação pública discutiu a cristologia, mas pôs ênfase na mensagem distintiva da volta do Senhor. Temos, contudo, declarações de Ellen G. White de pelo menos 1870 e 1880 sobre a divindade de Cristo e Sua unidade e igualdade com Deus. A partir de 1890, ela expressou-se com crescente frequência e firmeza no intuito de corrigir opiniões erradas mantidas por alguns como a noção literal de que Cristo como "Filho Unigênito" tivera, em épocas remotas do passado, um princípio. Por que, desde o princípio, ela não se expressou com mais energia? Sem dúvida, pela mesma razão que aconselhava contra a busca de controvérsia teológica com irmãos respeitáveis, embora errados, tendo em vista a unidade nos principais aspectos da mensagem do iminente retorno de Cristo. Todos se sentiam chamados por Deus para proclamar essa mensagem ao mundo. Sua advertência, em suma, era: não importa Questões sobre Doutrina 91 quão certos estejam, não agitem o assunto no tempo presente porque causará desunião. Nossa tolerância de algumas poucas teorias variáveis possivelmente não foi um preço excessivamente elevado pago para nos livrar de dogmatismos de credos e controvérsias, e manter a unidade de espírito e esforço em nossa tarefa mundial. Referências l. A posição de auto-segurança provida pelos autores de Questões Sobre Doutrina neste parágrafo não é mais tão óbvia como foi em meados da década de 1950. Enquanto ainda se supõe que um ministro adventista do sétimo dia não batizaria uma pessoa que estivesse em desacordo com aquelas quatro crenças fundamentais da denominação que tratam das pessoas da Trindade, também é verdade que a denominação, nos anos finais do século 20 e início do 21, presenciou o ressurgimento de um antitrinitarianismo e semi-arianismo sobre a base de que os pioneiros fundadores da denominação sustentavam essas concepções. No início do século 21, o assunto foi se tornando causador de divisão no adventismo em muitas partes do mundo. No entanto, deve ser observado que o movimento atual é predominantemente dissidente e leigo. A posição oficial da denominação e a vasta maioria de seus clérigos e leigos são firmemente trinitarianas. 2. Atualmente, essa declaração não é mais impressa no Certificado de Batismo. Contudo, ela ainda é parte do "Sumário das Crenças Doutrinárias" provido para a instrução dos candidatos ao batismo. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, ela é encontrada na página 218. Note-se que a primeira crença mencionada no Manual é sobre Deus Pai, e não sobre a Trindade. 3. A igreja no Brasil atualmente não adota este certificado de 4 páginas, mas um certificado com o voto batismal no verso e um local para assinatura de compromisso do membro (nota do tradutor). 4. A redação do voto batismal mudou do formato de perguntas para o de afirmação. O atual compromisso a ser assinado diz: "2. Aceito a morte de Jesus Cristo no Calvário como o sacrifício expiatório pelos meus pecados e creio que pela graça de Deus, mediante a fé em Seu sangue derramado, sou salvo do pecado e de sua penalida-de." 5. Esta declaração ainda é encontrada no Manual da Igreja (edição de 2005, p. 188-189). Contudo, deve ser notado que a citação no livro Questões Sobre Doutrina Questões sobre Doutrina 92 encobre o fato de que este parágrafo é, na verdade, constituído de três citações distintas de Ellen White. 6. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, esta declaração é encontrada na página 194. 7. Como observado previamente, a declaração das Crenças Funda-mentais de 1980 tem 27 artigos. Na edição revisada de 2005 os artigos são 28. Esta declaração é impressa na íntegra em cada edição do Year-book e do Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. A reprodução completa da declaração das 22 Crenças Fundamentais de 1931, das 27 de 1980 e das 28 de 2005 é encontrada nesta edição do livro Questões Sobre Doutrina no material introdutório classificado como "Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia". 8. Na declaração das Crenças Fundamentais de 2005, estas declarações sobre as Pessoas da Trindade consistem de quatro artigos. Citamos: "2. A Trindade - Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas co-eternas. Deus é imortal, onipotente, onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido por meio de Sua auto-revelação. É para sempre digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação (Dt 6:4; Mt 28:19; 2Co 13:13; Ef 4:4-6; 1Pe 1:2; 1Tm l:17; Ap 14:7). "3. O Pai - Deus, o Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo, compassivo e clemente, tardio em irar-Se e grande em constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes manifestados no Filho e no Espírito Santo também constituem revelações do Pai (Gn 1:1; Ap 4:1 1; 1Co 15:28; Jo 3:16; 1Jo 4:8; 1Tm 1:17; Êx 34:6, 7; Jo 14:9). "4. O Filho - Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle ioram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se também verdadeiramente homem,Jesus, o Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Mana.Viveu e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus. Por Seus milagres manifestou o poder de Deus e provou que era o Messias prometido por Deus. Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos e ascendeu para ministrar em nosso favor no santuário celestial. Virá outra vez, em glória, para o livramento final de Seu povo e a restauração de todas as coisas (Jo 1:1 -3,14; Cl 1:15-19; Jo 10:30; 14:9; Rm 6:23; Questões sobre Doutrina 93 2Co 5:17-19; Jo 5:22; Lc 1:35; Fp 2:5-11; Hb 2:9-18; 1Co 15:3,4; Hb 8:l,2; Jo 14:13). "5. O Espírito Santo - Deus, o Espírito Eterno, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção. Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os que se mostram sensíveis são por Ele renovados e transformados á imagem de Deus. Enviado pelo Pai e pelo Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à igreja, a habilita a dar testemunho de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade (Gn 1:1,2; Lc l:35; 4:18; At 10:38; 2Pe 1:21; 2Co 3:18; Ef 4:11, 12; At 1:8; Jo 14:16-18,26; 15:26,27; 16:7-13)." 9. A natureza da salvação é refletida na crença número 10 da declaração das Crenças Fundamentais de 2005. Ela diz: "10. A Experiência da Salvação — Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado. Se tornasse pecado por nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa necessidade, reconhecemos nossa pecaminosidade. arrependemo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como Senhor e Cristo, como substituto e exemplo. Esta fé que aceita a salvação advém do divino poder da Palavra e é o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo, somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus, e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados; o Espírito renova nossa mente, escreve a lei de Deus, a lei de amor. em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma vida santa. Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza da salvação agora e no juízo (2Co 5:17 21; Jo 3:16; Gl 1:4; 4:4-7; Tt 3:3-7; Jo 16:8; Gl 3:13,14; 1Pe 2:21,22: Rm 10:17; Lc 17:5; Mc 9:23, 24; Ef 2:5-10; Rm 3:21-26: Cl 1:13. 14; Rm 8:14-17; Gl 3:26; Jo 3:3-8; 1Pe 1:23; Rm 12:2; Hb 8:7-12; Ez 36:2527; 2Pe 1:3,4; Rm 8:1-4; 5:6-10)." 10. Na edição de 2005 do Manual da Igreja, esta declaração é encontrada na página 195, como artigo número 9. 11. Esta é uma das seções mais problemáticas do livro Questões Sobre Doutrina. Para começar, a declaração final da página 49 [da edição de 1957], que admite "teorias diversas" no adventismo sobre a Trindade e tópicos relacionados, parece contradizer a primeira metade do capítulo, que enfatiza uma negação da variação. A verdade é que tem sempre havido alguma diversidade de pontos de vista nos tópicos durante o século e meio de adventismo, embora os dissidentes da posição Questões sobre Doutrina 94 oficial trinitariana da denominação foram extremamente poucos desde os anos de 1950 até o início da década de 1990. A declaração mais problemática nessa seção é encontrada na página 48 [edição de 1957], onde os autores de Questões Sobre Doutrina afirmam que "nosso povo sempre creu na divindade e preexistência de Cristo". Enquanto é verdade que os primeiros adventistas criam em alguma forma de preexistência de Cristo, também é verdade que muitos deles acreditavam que Ele não possuía eternidade no passado, e uns poucos, como Uriah Smith, criam que Cristo era um ser criado. Assim, muitos adventistas antes da década de 1890 eram antitrinitarianos e semi-arianos. Isto é, eram opostos à doutrina da Trindade e à plena divindade de Cristo. Como resultado, a declaração feita na página 46 da edição original de Questões Sobre Doutrina de que os "adventistas do sétimo dia têm sido frequentemente malentendidos quanto à sua crença relativa à divindade de Cristo e à natureza da Divindade" é falsa no sentido histórico. A verdade é que muitos dos primeiros adventistas não eram ortodoxos quanto à Divindade. Tiago White, José Bates, J.N.Andrews. Uriah Smith, Ellet J.Waggoner e outros líderes estavam entre esse número. A posição deles era bem conhecida na maior parte da comunidade protestante. Dessa maneira, poderia ser argumentado que a denominação havia sido compreendida em vez de mal-entendida nessas discussões em relação à Trindade. Nesse ponto, os autores de Questões Sobre Doutrina podem não estar tão em falta como a discussão acima parece indicar. Eles mesmos podiam ter estado em verdadeira ignorância da ampla extensão do antitrinitarianismo e semi-arianismo entre os pioneiros adventistas. Afinal, a primeira pesquisa histórica significativa sobre o tópico foi completada em 1963, vários anos depois da publicação do livro Questões Sobre Doutrina (ver Erwin R. Gane, "The Arian or Anti-Trinitarian Views Presented in Seventh-day Adventist Literature and the Ellen G. White Answer", tese de M. A., Andrews University, 1963; Russell Holt, "The Doctrine of theTrinity in the Seventh-day Adventist Denomination: Its Rejection and Acceptance", monografia, Andrews University, 1969). Do lado menos favorável da questão em "falta" entre os autores de Questões Sobre Doutrina está o fato de que tão tarde quanto 1971, em seu Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald, 1971, ver especialmente as páginas 269-299), LeRoy Edwin Froom, um dos principais autores de Questões Sobre Doutrina, ainda estava se recusando a reconhecer a grande profundidade do problema antitrinitari-ano entre a liderança pioneira adventista e o contínuo semiarianismo nos escritos de E. J.Waggoner na década de 1890. Questões sobre Doutrina 95 Em seu desejo de ganhar a aceitação dos evangélicos, é possível que Froom e os outros autores de Questões Sobre Doutrina tenham achado difícil lidar com os problemas histórico-teológicos denominacio-nais em sua própria mente, quanto mais em publicações. Enquanto os acordos e mal-entendidos dos autores do livro em relação à posição histórica da denominação sobre a natureza de Cristo e a Divindade eram problemáticos, a conduta seguida na abordagem da natureza humana de Cristo foi ainda muito mais. Os pontos válidos na discussão do tópico da posição histórica do adventismo sobre a Divindade em Questões Sobre Doutrina são que (1) é verdade que a "especulação sobre a natureza da Divindade não desempenhou parte importante" no movimento milerita, (2) a Conexão Cristã (da qual José Bates e Tiago White vieram para o adventismo) era um movimento amplamente antitrinitariano, (3) em meados dos anos de 1950, era indubitavelmente verdade que "provavelmente apenas uma minúscula porção de nossa membresia sequer já tivesse ouvido de qualquer discussão quanto a se Cristo alguma vez teve um começo nas eras imensuráveis do passado", e (4) foi Ellen White que finalmente direcionou a denominação para o estudo da Bíblia que conclusivamente conduziu à afirmação da Trindade, à plena divindade de Cristo e à personalidade do Espírito Santo. Ellen White foi uma das poucas pessoas entre os líderes pioneiros adventistas que não era agressivamente antitrinitariana. Conquanto isso seja verdade, também é fato que suas antigas declarações não são claras quanto ao que ela cria. Mas, depois da assembleia da Associação Geral de 1888, com sua ênfase em Cristo e a salvação nEle, ela se tornou explicitamente clara sobre o ponto de vista trinitariano. Isso foi especialmente verdadeiro em seu livro O Desejado de Todas as Nacões (1898), onde escreveu que "em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada" (p. 530). Essa e outras declarações provaram ser bem controvertidas e impeliram os eruditos adventistas a se voltarem para a Bíblia, onde chegaram à compreensão mais plena dos tópicos relacionados à Divindade. (Para uma abordagem mais extensa do ponto de vista histórico dos adventistas do sétimo dia sobre a Trindade, ver Woodrow Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve, A Trindade [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003], p. 207-249; George R. Knight. Em Busca de Identidade: O Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas do Sétimo Dia [Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2005], p. 112-120, 157-160, 203, 16-18, 31. Para a mudança de compreensão sobre a Trindade em Ellen White, ver George R. Knight, "Adventists and Change", Ministry, outubro de 1993, p. 10-15.) Questões sobre Doutrina 96 6 A Encarnação e o "Filho do Homem" PERGUNTA 6 Que entendem os adventistas pelo uso que Cristo fez do título "Fílho do homem"? E o que vocês consideram ter sido o propósito básico da Encarnação? A Palavra Inspirada e o Verbo Encarnado, ou o Verbo feito carne, são pilares gêmeos na fé dos adventistas do sétimo dia, em comum com todos os cristãos fieis.Toda nossa esperança de salvação repousa sobre estas duas imutáveis provisões de Deus. Na verdade, consideramos a encarnação de Cristo o fato mais assombroso, em si mesmo e nas suas consequências, na história do homem, e chave de todas as providências redentoras de Deus. Tudo antes da encarnação conduziu a ela; e tudo que se segue depois procede dela. Isso envolve todo o evangelho e é absolutamente essencial à fé cristã. Esta união da Divindade com a humanidade - do Infinito com o finito, do Criador com a criatura, a fim de que a Divindade pudesse ser revelada na humanidade - está além de nossa compreensão humana. Por meio dessa provisão, Cristo uniu em Sua própria Pessoa o Céu e a Terra, Deus e o homem. Além disso, por ocasião de Sua encarnação, Cristo Se tornou o que não era antes. Tomou sobre Si a forma corpórea humana, e aceitou as limitações da vida corpórea humana, como o modo de viver enquanto esteve na Terra entre os homens. Dessa maneira, a Divindade ligou-Se com a humanidade numa única Pessoa, quando Ele Se tornou um e único Deus-homem. Isso é básico em nossa fé. A morte expiatória vicária de Cristo na cruz foi a consequência inevitável desta provisão original. Quando Cristo Se identificou com a raça humana, através da encarnação, o eterno Verbo de Deus entrou numa relação terrena de Questões sobre Doutrina 97 tempo. Daí em diante, porém, desde que o Filho de Deus Se tornou homem, não cessou de ser homem. Adotou a natureza humana e, ao voltar a Seu Pai, não somente levou consigo a humanidade que assumira pela encarnação, como reteve para sempre Sua perfeita natureza humana — identificando-Se eternamente com a raça que redimira. Isso tem sido expresso de forma clara por uma de nossas mais preeminentes escritoras, Ellen G.White:"Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade" (O Desejado de Todas as Sacões, p. 25). I. O FILHO DE DEUS SE TORNA FILHO DO HOMEM Pela encarnação, a majestade e glória do Verbo Eterno, o Criador e Senhor do Universo, ficaram veladas (Jo 1:1-3). E aconteceu então que o Filho de Deus Se tornou Filho do homem — expressão usada mais de oitenta vezes no Novo Testamento.Tomando sobre Si a humanidade, tornou-Se um com a raça humana para que pudesse revelar a paternidade de Deus à raça pecadora e remir a humanidade perdida. Por ocasião da Sua encarnação, tornou-Se carne. Teve fome, teve sede, sentiu cansaço. Necessitou de alimento e repouso, e restaurou-Se pelo sono. Partilhou a sorte do homem, carecendo de simpatia e necessitando de assistência divina. Contudo, sempre permaneceu o inculpável Filho de Deus. Ele jornadeou na Terra, foi tentado e provado, foi tomado pelos sentimentos de nossas enfermidades humanas; contudo, viveu uma vida totalmente livre de pecado. Sua humanidade foi genuína e verdadeira, passando pelos vários estágios do crescimento, como qualquer outro membro da raça humana. Esteve sujeito a José e Maria, e foi um adorador na sinagoga e no templo. Chorou sobre a culpada cidade de Jerusalém e na sepultura de uma pessoa amada. Expressou Sua dependência de Deus em oração. Contudo, todo o tempo reteve Sua divindade — um e único Deus-homem. Foi o segundo Adão, que veio na "semelhança" da carne humana pecaminosa (Rm 8:3); porém, sem Questões sobre Doutrina 98 mancha de suas propensões e paixões pecaminosas (ver também o Apêndice B).1 A primeira vez que aparece o título "Filho do homem" no Novo Testamento é aplicado a Jesus como um peregrino sem lar. sem mesmo um lugar onde pender a cabeça (Mt 8:20); e a última vez, como um Rei glorificado, prestes a vir (Ap 14:14). Foi na qualidade de Filho do homem que veio para salvar os perdidos (Lc 19:10). Como Filho do homem atribuia-Se autoridade para perdoar pecados (Mt 9:1-8). Como Filho do homem semeou a semente da verdade (Mt 13:37), foi traído (Mt 17:22; Lc 22:48), foi crucificado (Mt 26:2), ressurgiu dos mortos (Mc 9:9) e ascendeu ao Céu (Jo 6:62). De idêntica maneira, como Filho do homem está agora no Céu (At 7:56) e cuida de Sua igreja na Terra (Ap 1:12, 13. 20). Além disso, é como Filho do homem que Ele voltará nas nuvens do céu (Mt 24:30; 25:31). E como Filho do homem executará o juízo (Jo 5:27) e receberá Seu reino (Dn 7:13, 14). Este é o registro inspirado acerca de Seu papel como Filho do homem. II - MIRACULOSA UNIÃO DO DIVINO COM O HUMANO Cristo Jesus nosso Senhor era uma união miraculosa da natureza divina com nossa natureza humana. Era o Filho do homem enquanto esteve aqui na carne, mas era também o Filho de Deus. O mistério da encarnação é claramente e definitivamente expresso nas Escrituras Sagradas. "Grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne" (1Tm 3:16). "Deus estava em Cristo" (2Co 5:19). "OVerbo Se fez carne e habitou entre nós" (Jo 1:14). Que maravilhosa verdade! Ela foi referida por Ellen G.White como segue: "Ele vestiu Sua divindade com a humanidade. Durante todo o tempo foi Deus, mas não apareceu como Deus.Velou as demonstrações Questões sobre Doutrina 99 de Divindade que impunham a veneração e exigiam a admiração do Universo de Deus. Foi Deus enquanto esteve na Terra; porém, Se desvestiu da forma de Deus e, em seu lugar, assumiu a forma de um homem. Andou na Terra como homem. Tornou-Se pobre para que por meio de Sua pobreza pudéssemos tornar-nos ricos. Pôs de lado Sua glória e majestade. Era Deus, mas as glórias pertinentes a Deus, Ele por algum tempo as renunciou" (Review and Herald, 5 de julho de 1887). "Quanto mais pensarmos acerca da vinda de Cristo como um bebê na Terra, tanto mais maravilhoso isso nos afigura. Como pode ser que a criancinha indefesa na manjedoura de Belém fosse ainda o divino Filho de Deus? Embora não possamos compreender isso, podemos crer que Aquele que fez os mundos tornou-Se um frágil bebê por nossa causa. Embora mais elevado do que qualquer dos anjos, embora tão grande como o Pai no trono do Céu, Ele Se tornou um conosco. Nele, Deus e homem se tornaram um, e é nesse fato que encontramos a esperança para a nossa raça caída. Contemplando a Cristo na carne, contemplamos a F)eus em humanidade, e vemos nEle o fulgor da glória divina, a expressa imagem de Deus, o Pai (The Youth's Instructor, 21 de novembro de 1895). "O Criador dos mundos. Aquele em quem habitava corporalmente a plenitude da Divindade. Se manifestou no indefeso bebê na manjedoura. Muito mais elevado do que qualquer dos anjos, igual ao Pai em dignidade e glória, e, contudo, revestido da humanidade! A divindade e a humanidade combinaram-se misteriosamente, e o homem e Deus se tornaram um. E nessa união que encontramos a esperança de nossa raça decaída. Contemplando a Cristo em humanidade, contemplamos a Deus, e vemos nEle o brilho de Sua glória, a expressa imagem de Sua pessoa" (Signs of the Times, 30 de julho de 1896). Em ambas as naturezas, a divina e a humana, Ele foi perfeito; foi sem pecado. Não há a menor dúvida de que isso é verdade quanto à Sua natureza divina. Quanto à Sua humanidade é também verdade. Em Seu Questões sobre Doutrina 100 desafio aos fariseus de Seus dias. Ele disse:"Quem dentre vós Me convence de pecado?" (Jo 8:46). O apóstolo dos gentios declarou que Ele "não conheceu pecado" (2Co 5:21); que Ele era "santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores" (Hb 7:26). Pedro pôde testificar que Ele "não cometeu pecado" (1Pe 2:22); e João, o amado, nos assegura que "nEle não existe pecado" (1Jo 3:5). Não apenas os Seus amigos realçaram-Lhe a natureza sem pecado; também Seus inimigos o fizeram. Pilatos foi forçado a confessar não ter encontrado nEle nenhuma culpa (Lc 23:14). A esposa de Pilatos avisara o marido para que não entrasse na questão desse justo (Mt 27:19). Os próprios demónios foram compelidos a reconhecer-Lhe a filiação divina e consequentemente Sua divindade. Quando lhes foi ordenado que saíssem do homem a quem deixaram possesso, retrucaram: "Que temos nós contigo, ó Filho de Deus!" (Mt 8:29). O evangelho de Marcos registra "o Santo de Deus" (Mc 1:24). Escreveu Ellen G. White: Ele tomou "a natureza, mas não a pecaminosidade do homem" (Signs of the Times, 29 de maio de 1901). "Não devemos ter nenhuma dúvida em relação ã perfeita impecabilidade da natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131). Por que tomou Cristo a natureza humana? Isso foi dito com propriedade como segue: "Pondo de lado Suas vestes e coroa reais, Cristo vestiu Sua divindade com a humanidade, para que os seres humanos pudessem erguer-se de sua degradação e ser colocados em posição de superioridade. Cristo não podia ter vindo à Terra com a glória que possuía nas cortes celestiais. Seres humanos pecadores não suportariam vê-Lo. Ele velou Sua divindade com a roupagem da humanidade; porém, não Se desfez de Sua divindade. Salvador divino-humano, Ele veio para colocar-Se à frente dos seres caídos, e compartilhar na experiência deles desde a meninice até a varonilidade. Para que os seres humanos Questões sobre Doutrina 101 pudessem participar da natureza divina, Ele veio à Terra, e viveu em perfeita obediência." (Ellen G. White, Review and Herald, 15 de junho de 1905, itálicos acrescentados). "Cristo tomou sobre Si a humanidade, a fim de alcançar a humanidade. [...] Eram necessários tanto o divino como o humano para trazer salvação ao mundo." (O Desejado de Todas as Nações, p. 296). "Revestindo-Se da humanidade, Cristo veio para ser um com ela e ao mesmo tempo revelar nosso Pai celestial a seres humanos pecaminosos. Em tudo Se fez semelhante a Seus irmãos. Tornou-Se carne, assim como somos. Tinha fome, sede, fadiga. Era sustentado pelo alimento e refrigerado pelo sono. Partilhou da sorte dos homens, e todavia era o irrepreensível Filho de Deus. Era peregrino e forasteiro na Terra — estava no mundo, mas não era do mundo; tentado e provado como o são hoje em dia homens e mulheres, mas vivendo, não obstante, vida isenta de pecado." (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 286). De novo acentuamos que, em Sua natureza humana, Cristo foi perfeito e sem pecado. A este respeito, algo de importância vital deve ser considerado. Aquele que é sem pecado, nosso bendito Senhor, voluntariamente tomou sobre Si a carga e penalidade de nossos pecados. Este foi um ato que se efetivou em pleno consenso e cooperação com Deus, o Pai. Deus "fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos" (Is 53:6). "Quando der Ele a Sua alma como oferta pelo pecado" (v. 10). Contudo, isso se constituiu ato voluntário de nosso bendito Salvador, pois lemos: "As iniquidades deles levará sobre Si" (v. 11). "Derramou a Sua alma na morte" (v. 12). "Carregando Ele mesmo em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados" (1Pe 2:24). "Como membro da família humana, era mortal; mas, como Deus, era a fonte da vida do mundo. Podia, em Sua pessoa divina, haver detido Questões sobre Doutrina 102 continuamente as investidas da morte, e haver-Se recusado a ficar sob seu domínio; porém, Ele depôs voluntariamente a vida, para que, assim fazendo, pudesse dar vida e trazer à luz a imortalidade. [...] Que humilhação! Causou espanto aos anjos. A língua jamais a pode descrever; não a pode abranger a imaginação. O Verbo eterno consentiu em fazer-Se carne. Deus tornou-Se homem! Maravilhosa humildade!" (Ellen G. White, Review and Herald, 5 de julho de 1887, itálicos acrescentados). Somente o impecável Filho de Deus podia ser nosso substituto. Nosso impecável Redentor fez isso. Tomou sobre Si os pecados do mundo inteiro, mas, ao fazê-lo, não houve nEle a mais leve mancha de corrupção. A Bíblia Sagrada, contudo, diz que Deus "O fez pecado por nós" (2Co 5:21). Essa expressão paulina tem desconcertado teólogos durante séculos, mas, por mais que signifique, certamente não quer dizer que nosso imaculado Senhor Se tornou um pecador. O texto declara que Ele foi feito "[como] pecado". Portanto, deve significar que Ele tomou nosso lugar, que morreu em nosso lugar, que "foi contado com os transgressores" (Is 53:12) e que tomou o fardo e a penalidade que nos cabiam. Todos os fiéis cristãos reconhecem este ato redentor de Jesus na cruz do Calvário. Sobre este fato há abundância de testemunho escriturístico. Os escritos de Ellen G.White acham-se inteiramente em harmonia com os textos bíblicos a respeito do assunto. "O Filho de Deus suportou a ira de Deus contra o pecado. Todos os pecados acumulados do mundo foram lançados sobre o Portador de pecado, Aquele que era inocente, o único Ser que podia ser a propiciação pelo pecado, porque Ele próprio fora obediente. Ele era um com Deus. Sobre Ele não havia sequer uma mancha de corrupção'' (Signs of the limes, 9 de dezembro de 1897, itálicos acrescentados). Questões sobre Doutrina 103 "Como um conosco, cumpria-Lhe suportar o fardo de nossa culpa e aflição. O Inocente devia sentir a vergonha do pecado. O amigo da paz tinha que habitar entre a luta, a verdade com a mentira, a pureza com a vileza. Todo pecado, toda discórdia, toda contamiuadora concupiscência trazida pela transgressão, Lhe era uma tortura para o espirito. [...] Sobre Aquele que abrira mão de Sua glória, e aceitara a fraqueza da humanidade, devia repousar a redenção do mundo" (O Desejado de Todas as Nações, p. 111, itálicos acrescentados). "O peso dos pecados do mundo oprimia-Lhe a alma, e Seu semblante expressou angústia indescritível, uma aflição tão profunda que o homem caído jamais concebera. Sentira a torrente arrasadora da desgraça que inundara o mundo. Compreendera a força do apetite acariciado e paixões não santificadas que dominavam o mundo" (Review and Herald, 4 de agosto de 1874). "Justiça completa foi feita na expiação. Em lugar do pecador, o imaculado Filho de Deus recebera a penalidade, e o pecador ficou livre ao receber a Cristo e apegar-se a Ele como seu Salvador pessoal. Embora culpado, é considerado inocente. Cristo cumpriu todas as reivindicações exigidas pela justiça" (The Youth’s Instructor, 25 de abril de 1901, itálicos acrescentados). "Sem culpa, Ele suportou a punição da culpa. Inocente, contudo Se ofereceu como substituto do transgressor. A culpa de cada pecado pesou sobre a divina alma do Redentor do mundo" (Sígns of the Times, 5 de dezembro de 1892, itálicos acrescentados). Tudo isso Ele suportou vicariamente. Tudo isso tomou sobre Sua alma inocente e levou na cruz cruel. Há outro aspecto dessa questão que necessita ser realçado: é o fato de Jesus não apenas ter sido portador das "iniquidades de todos nós", mas tomar e levar algo mais, algo intimamente relacionado com nossos pecados. Questões sobre Doutrina 104 "Certamente, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades" (Is 53:4). Era "Homem de dores e que sabe o que é padecer" (v. 3). Assim Mateus se refere a esta passagem: "Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças" (Mt 8:17). A versão de Weymouth assim declara: "Ele tomou sobre Si nossas fraquezas e levou o tardo de nossas doenças." Uma outra tradução inglesa, a Twentieth Century, diz: "Ele tomou nossas enfermidades sobre Si e levou a carga das nossas doenças." Enquanto Ele levava (grego phero, Septuaginta) nossas iniquidades (Is 53:11), também levava (grego anaphero) nossas debilidades (Mt 8:17,Weymouth). Observemos o que está implicado nisso. Notemos as palavras empregadas para expressar o pensamento tanto em Isaías 53 como em Mateus 8. Ele levou nossas dores, nossos sofrimentos, nossas enfermidades ou moléstias. As palavras originais também se traduzem por moléstias, fraquezas, debilidades. Sobre isso notemos o seguinte nos escritos de Ellen G.White: "Ele esteve sujeito às enfermidades e fraquezas que cercam o homem ‗para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele tomou nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças‘. Ele foi tocado pelo sentimento de nossas enfermidades, e em todos os pontos foi tentado como o somos. E, contudo, ‘não conheceu pecado’. Era o Cordeiro ‗sem culpa e sem mancha‘. [...] Não devemos ter dúvidas quanto a perfeita impecaminosidade da natureza humana de Cristo" (Signs of the Times, 9 de junho de 1898, itálicos acrescentados). "Ele não Se contaminava com a corrupção, era um estranho ao pecado, e contudo orava, e isto muitas vezes com forte clamor e lágrimas. Orava por Seus discípulos e por Si mesmo, assim Se identificando com nossas necessidades, com nossas fraquezas e filhas, Questões sobre Doutrina 105 tão comuns à humanidade. Era um poderoso solicitador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída, mas rodeado das mesmas enfermidades, tentado em todos os pontos como nós o somos. Jesus suportou sofrimentos que requeriam ajuda e sustento da parte de Seu Pai" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 508-509, itálicos acrescentados). "Ele é irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal. Jesus suportou lutas e torturas íntimas, em um mundo de pecado. Sua humanidade tornava a oração necessidade e privilégio. Reivindicava todo o mais forte apoio divino e o conforto que o Pai estava pronto a conceder-Lhe - a Ele que, em beneficio do homem, havia deixado as alegrias do Céu, preferindo morar em um mundo frio e ingrato" (ibid., p. 202, itálicos acrescentados). Tanto do registro de Isaías como do de Mateus, dificilmente se pode interpretar que Jesus tivesse ficado doente ou que tivesse experimentado as fragilidades de que a raça caída é herdeira. Mas Ele suportou tudo isso. Não se daria que Ele suportasse isso também vicariamente,2 da mesma forma como suportou os pecados de todo o mundo? Essas fraquezas, fragilidades, enfermidades e deficiências são coisas que nós, devido à nossa natureza pecaminosa e caída, temos que suportar. Para nós, elas são naturais e inerentes; porém, quando Ele as suportou, não as tomou como alguma coisa que Lhe era inata, mas suportou-as como nosso substituto. Observamos de novo que Cristo suportou tudo isso vicariamente, da mesma forma como vicariamente levou as iniquidades de todos nós. É nesse sentido que todos devemos entender os escritos de Ellen G. White ao referir-se, de quando em quando, à natureza humana pecaminosa, caída e arruinada. Lemos que Jesus tomou "nossa natureza" (O Desejado de Todas as Nações, p. 25); "tomou sobre Si a natureza humana" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1128); "tomou sobre Sua Questões sobre Doutrina 106 natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza" (Medicina e Salvação, p. 181); tomou "nossa natureza caída" (Special Instruction Relating to the Review and Herald Office, p. 13, 26 de maio de 1896); tomou "a natureza do homem em sua condição caída" (Signs of the Times, 9 de junho de 1898). Todas essas declarações são convincentes e taxativas, mas certamente nenhuma tem o propósito de dar sentido àquelas que circulam em contrário ao que a mesma escritora apresentou em outros lugares de suas obras. Notemos o contexto em que são empregadas essas expressões. Ele tomou "a natureza do homem, mas não a sua pecaminosidade" (Signs of the Times, 29 de maio de 1901). Ele tomou "a natureza do homem em sua condição caída, mas [...] de maneira nenhuma participou de seus pecados" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131). "Ele é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 202). Assim, "Se identificando com nossas necessidades, com nossas fraquezas e falhas, [...] era um poderoso solicitador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana, caída" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 508, 509, itálicos acrescentados). "Não devemos ter dúvidas quanto à perfeita impecaminosidade da natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131, itálicos acrescentados). O Filho de Deus "tornou-Se como um de nós, exceto no pecado" (TheYouth's Iustructor, 20 de outubro de 1886, itálicos acrescentados). "Não havia nEle a menor mancha de corrupção" (Signs of the Times, 9 de dezembro de 1897, itálicos acrescentados). Deve-se notar nas declarações citadas que, embora a escritora mencione que Jesus tomou nossa natureza, Ele próprio não era pecador, mas sem pecado. Questões sobre Doutrina 107 O que quer que Jesus haja tomado, não era intrinsecamente ou inerentemente Seu. O fato de Ele haver tomado o fardo de nossas fraquezas e filhas herdadas, mesmo depois de quatro mil anos de enfermidades e degenerescência acumuladas (O Desejado de Todas as Nações, p. 49, 117), não manchou, nem em mínimo grau, Sua natureza humana. "Ele tomou sobre Sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza" (Medicina e Salvação, p.l81)."Não devemos ter nenhuma dúvida acerca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131). "Ele voluntariamente assumiu a natureza humana. Foi um ato espontâneo, por Seu próprio consentimento" (Review and Herald, 5 de julho de 1887). Sujeitou-Se "voluntariamente Se submetendo a todas as condições humilhantes da natureza humana" (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 458),"assumindo a forma de servo" (Fp 2:7). Tomou sobre Si "a descendência de Abraão" (Hb 2:16) para que fosse feito "pecado por nós" (2Co 5:21) e para que Se tornasse em todas as coisas "semelhante aos irmãos" (Hb 2:17). Tudo que Jesus tomou, tudo que suportou, quer fossem o fardo e a penalidade de nossas iniquidades, ou as doenças e fragilidades de nossa natureza humana - tudo foi tomado e suportado vicariamente. Assim como o suportar vicariamente os pecados de todo o mundo não maculou Sua alma perfeita e sem pecado, tampouco o suportar as doenças e fragilidades de nossa natureza caída O manchou sequer em mínimo grau com a corruptora influência do pecado. Lembremo-nos sempre de que nosso bendito Senhor era sem pecado. "Não devemos ter nenhuma dúvida acerca da perfeita ausência de pecado na natureza humana de Cristo" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1131). "Ao tratarmos da humanidade de Cristo, necessitamos cuidar energicamente de cada afirmação, para que nossas palavras não venham Questões sobre Doutrina 108 a ser tomadas para significarem mais do que implicam, e assim perdermos de vista ou obscurecermos as claras percepções de Sua humanidade combinada com a divindade. Seu nascimento foi um milagre de Deus. [...] 'O Santo, que de ti [Maria] há de nascer, será chamado Filho de Deus.' [...] Nunca, de modo algum, deixemos a mais leve impressão na mente humana de que uma mancha de corrupção ou inclinação para ela havia em Cristo, ou que Ele, de algum modo, cedeu à corrupção. Ele foi tentado em todos os pontos como o homem, contudo é chamado 'o Santo'. Este é um mistério não desvendado aos mortais: Cristo poder ser tentado em todos os pontos como o somos, mas ficar sem pecado. A encarnação de Cristo sempre tem sido e continuará a ser mistério. Aquilo que foi revelado é para nós e nossos filhos; contudo, cada ser humano se precavenha de tornar Cristo totalmente humano, como um de nós; pois isso é impossível" (The SDA Bible Commentary, v. 5, p. 1128, 1129). Que Salvador maravilhoso é Jesus, nosso Senhor! III. PODIA CRISTO TER PECADO? Esta questão vital apresenta diversidade de opiniões na igreja cristã em geral. Alguns julgam que era impossível Jesus pecar; outros, que era possível. Associamo-nos aos últimos em nossa maneira de compreender o assunto e, assim como em muitos outros aspectos da doutrina cristã, eminentes eruditos da igreja através dos séculos têm-se expressado de maneira muito semelhante à nossa. Nossa posição sobre isto foi bem definida por Ellen G.White: "Muitos sustentam que era impossível Cristo ser vencido pela tentação. Neste caso, não teria sido colocado na posição de Adão; não poderia haver obtido a vitória que aquele deixara de ganhar. Se tivéssemos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, então Ele não estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanidade com todas as contingências da Questões sobre Doutrina 109 mesma. Tomou a natureza humana com a possibilidade de ceder a tentação. Não temos que suportar coisa nenhuma que Ele não tenha sofrido. [...] Cristo venceu em favor do homem pela resistência à mais severa prova" (O Desejado de Todas as Nações, p. 117). É evidente que, no passado, teólogos respeitados sustentaram a mesma ideia. Notemos o que se segue: "Se Ele tivesse sido dotado, desde o princípio, de absoluta impecabilidade, ou da impossibilidade de pecar, não poderia ter sido verdadeiramente homem, nem nosso modelo. Sua santidade, em vez de ser um ato adquirido por Si mesmo e um mérito inerente, seria um dom acidental ou exterior, e Sua tentação uma exibição irreal. Tendo sido verdadeiramente humano, Cristo deve ter sido um agente moral livre e responsável: liberdade implica a faculdade de escolha entre o bem e o mal, e a faculdade de desobedecer ou obedecer à lei de Deus (Philip Schaff, The Person of Christ, p. 35, 36). "Se deve ser passada por alto a verdade [...] de que a força da tentação era suficientemente forte para criar a consciência de uma luta, então todo o percurso da prova moral pela qual Jesus passou na Terra se degenera de uma vez em mera exibição teatral. [...] Em nosso tempo essa ideia docetista não tem aceitação. Teólogos de todas as escolas concordam que as forças do mal, contra as quais o Filho do homem travou tão admirável combate, não eram sombras, mas inimigos reais e poderosos" (Alexander B. Bruce, The Humiliation of Christ, p. 268). "Sempre que atribuímos a Jesus, na maneira devida e no sentido das Escrituras, todos os elementos morais do homem, não devemos separar deles a liberdade que é a taculdade de escolher entre o bem e o mal; e por essa razão devemos admitir como compreensível que Ele pudesse em alguma ocasião ter sido influenciado a um desvio da vontade de Deus. A menos que isso seja admitido, a história da tentação, por melhor que possa ser explicada, não teria significado algum; e ficaria sem sentido Questões sobre Doutrina 110 esta expressão que encontramos na epístola aos Hebreus: 'Ele foi tentado em todos os pontos como nós'." "Como Jesus era completamente homem, essa suscetibilidade e essa possibilidade devem supor-se ter coexistido nEle. Se não coexistissem dessa forma, Ele teria deixado de ser um exemplo de perfeita moralidade humana" (Karl Ullmann, An Apologetic View on the Sinless Character of Jesus [1841], p. 11). "Não devemos entender pela expressão [impecaminosidade de Jesus] uma impossibilidade absoluta de pecar, mas unicamente o fato real de não pecar. O que está contido em uma natureza racional e livre, inseparável deste fato, é a mais elevada perfeição moral e santidade" (ibid., p. 13). IV. O PROPÓSITO DA ENCARNAÇÃO Quanto ao propósito da encarnação de Cristo, a resposta aparece nos textos que apoiam os seguintes seis pontos, que resumem as razões de Sua vinda à Terra em forma humana. l.Veio para revelar Deus ao mundo (Jo 1:14, 18; 3:1-36; 17:6. 26: 1Jo 1:2; 4:9). 2. Veio para unir Deus e o homem (Jo 1:51; comparar com Gn 28:12; Mt 1:23; 1Pe 3:18). 3.Veio para identificar-Se com o homem pelo nome. E chamado o "Filho do homem" 77 vezes nos Evangelhos (como em Lucas 19:10). 4.Veio para levar os pecados da humanidade (Is 53:6,11; Jo 1:29; 1Pe 2:24; 1Jo 3:5). 5.Veio para morrer em nosso lugar (Is 53:5-10; Mt 26:28; At 20:28; Rm 4:25; 5:6-10; 1Co 15:3; Gl 1:4; 1Tm 2:6; Hb 2:9; 1Pe 1:18, 19; 2:24; 3:18). 6.Veio para destruir o diabo e suas obras (Jo 12:31; 16:33; Hb 2:14; 1Jo 3:8). Questões sobre Doutrina 111 V. UM MISTÉRIO INSONDÁVEL Ao considerarmos assunto de tal transcendência e importância vital como a encarnação de Cristo, temos sempre que nos lembrar de que há muitos aspectos que não podemos penetrar. Mesmo quando captamos um vislumbre de verdade, a linguagem humana é inteiramente inadequada para expressar as maravilhas e belezas do mistério incomparável e inimitável da encarnação de Jesus Cristo. Ellen G.White escreveu: "Ao contemplarmos a encarnação de Cristo em humanidade, ficamos pasmados diante de um mistério insondável, que a mente humana não pode compreender. Quanto mais refletimos sobre ela, tanto mais assombrosa ela parece" (Signs of the Times, 30 de julho de 1896). Ainda que isso seja verdadeiro, há, graças a Deus, certos aspectos da verdade que têm sido revelados. E o que se tornou conhecido na Palavra de Deus é para nosso estudo. A mesma autora escreveu o seguinte sobre este ponto: "Quando queremos estudar um problema profundo, fixemos nossa mente na coisa mais maravilhosa que ocorreu na Terra ou no Céu - a encarnação do Filho de Deus" (Manuscrito 76, 1903). Referências 1. Para uma discussão mais completa sobre este tópico, ver as páginas 277-278; 437-445 do livro. [Pergunta 33, ítem IX; Apêndice B]. 2. As páginas 59-62 da edição de 1957 estabelecem a posição bastante curiosa de que Cristo tomou a natureza humana vicariamente de maneira idêntica à que carregou o pecado humano vicariamente. Isto é, de acordo com o livro Questões Sobre Doutrina, em Sua encarnação, Cristo realmente não tomou as enfermidades e as fraquezas humanas como sendo Suas de maneira inata, mas apenas em sentido vicário ou substitumte. Essa posição certamente não é exposta no Novo Testamento nem foi sustentada por Ellen White. No Desejado de Todas as Nações, ela declara que "Jesus aceitou a humanidade quando a raça tinha sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Questões sobre Doutrina 112 Como qualquer filho de Adão Ele aceitou os resultados da operação da grande lei de hereditariedade" (p. 49). E mais: "Por quatro mil anos a raça tinha estado decrescendo em força física, em poder mental, e em dignidade moral; e Cristo tomou sobre Si as enfermidades da humanidade degenerada" (p. 117, itálicos acrescentados). Dessa maneira, de acordo com Ellen White, na encarnação Cristo de fato, em vez de vicariamente, tomou sobre Si a "nossa natureza pecaminosa" (Review and Herald, 15 de dezembro de 1896, p. 789). Ou, conforme ela diz em citação semelhante, "Ele tomou sobre Si mesmo a natureza humana caída e sofredora, degradada e contaminada pelo pecado" (TheYouth’s Instructor, 20 de dezembro de 1900, p.394). Como resultado, Cristo encarnou em um corpo que estava sujeito à fadiga, à dor e á morte. Tornou-Se um com a humanidade de maneira que "é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões" (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 202). As razões pelas quais os autores de Questões Sobre Doutrina apresentam o argumento de que Cristo tomou a natureza humana "vicariamente" serão examinadas em nossa nota principal sobre a natureza humana de Cristo relacionada ao Apêndice B (ver também a Introdução Histórica e Teológica à Edição Anotada). Questões sobre Doutrina 113 7 A Ressurreição Corpórea de Cristo PERGUNTA 7 Qual é a posição adventista do sétimo dia sobre a ressurreição física ou corpórea de Cristo? Nós, adventistas do sétimo dia, cremos na ressurreição física ou corpórea de Jesus Cristo tão certamente como cremos em Sua morte expiatória no Calvário. Esta é uma doutrina primordial da fé cristã, pois o cristianismo repousa no fato indisputável de que Cristo ressurgiu dos mortos (1Co 15:17). A ressurreição de Cristo não deve ser entendida apenas no sentido espiritual. Ele, de fato, ressurgiu dos mortos. Aquele que saiu da tumba era o mesmo Jesus que vivera em carne. Ressurgiu num corpo glorificado, mas real — tão real que as mulheres que foram ao sepulcro e os discípulos O viram (Mt 28:17; Mc 16:9,12,14). Os dois discípulos a caminho de Emaús conversaram com Ele (Lc 24). Ele mesmo disse aos discípulos: "Vede as Minhas mãos e os Meus pés" (Lc 24:39). Tinha carne e ossos (v. 39). Comeu com eles (v. 43). Tomé tinha motivos para crer que se tratava do mesmo Jesus, pois fora desafiado: "Põe aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; chega também a tua mão e põe-na no Meu lado" (Jo 20:27). Realmente, era o próprio Salvador. Não era um espírito, um fantasma. Era o real divino Filho de Deus que ressurgira da sepultura. A ressurreição de nosso Senhor Jesus constituiu parte vital da mensagem da igreja primitiva. Ao pregarem, os apóstolos pregavam Cristo, o Messias que Se levantara dos mortos. Anunciavam "em Jesus, a ressurreição dentre os mortos" (At 4:2); "davam testemunho da Questões sobre Doutrina 114 ressurreição do Senhor Jesus" (v. 33); Paulo lhes anunciava "a Jesus e a ressurreição" (At 17:18). A ressurreição de Jesus Cristo é de vital importância no grande plano divino da salvação. A própria morte de Jesus, sublime como foi, seria de nenhuma valia se não houvesse Sua ressurreição dos mortos. O grande apóstolo dos gentios torna isso claro no seu vibrante testemunho do Cristo vivo. Naquele maravilhoso capítulo sobre a ressurreição, em sua mensagem à igreja de Corinto, vemos o lugar essencial que este grande acontecimento ocupa no propósito de Deus. Notemos qual seria a situação se Cristo não houvesse ressuscitado dos mortos: 1. Não haveria benefício algum da pregação do evangelho: "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação" (1Co 15:14). 2. Não haveria perdão dos pecados:"E, se Cristo não ressuscitou, [...] ainda permaneceis nos vossos pecados" (v. 17). 3. Não haveria propósito na crença em Jesus: "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé" (v. 17). 4. Não haveria ressurreição geral dos mortos: "Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmaram alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?" (v. 12). 5. Não haveria esperança nenhuma além da sepultura:"E, se Cristo não ressuscitou, [...] os que dormiram em Cristo pereceram" (v. 17, 18). Esta é uma mensagem de poder, pois é pelo poder de Sua ressurreição que vivemos a vida cristã, e Sua vida é vivida na vida de todo o crente. Os que são sepultados com Cristo no batismo são representados como ressuscitando com Ele, em Sua ressurreição (Rm 6:5, 8, 11; Ef 2:4, 5; Cl 2:12, 13). Como consequência dessa união com Cristo, nova vida é comunicada ao crente (Rm 6:4; 2Co 4:10,11; Cl 3:10). O poder da ressurreição.de Cristo fica desta forma à disposição dele (Ef 1:19. 20; Fp 3:10; Hb 7:16). Questões sobre Doutrina 115 Outrora estávamos mortos nos pecados; agora estamos vivos em Cristo. Fomos crucificados com Cristo; agora Cristo vive em nós (Gl 2:20). Nossa experiência pessoal deste avivamento da alma, desta açào liberadora do Espírito de vida, constitui testemunha interior e a prova suprema da realidade da ressurreição. Acima de tudo, a ressurreição de nosso Senhor é a certeza de que nós, igualmente, seremos ressuscitados por ocasião de Sua segunda vinda (1Co 15:20, 23). A HISTORICIDADE DA RESSURREIÇÃO Muitas evidências deste surpreendente acontecimento foram dadas aos cristãos primitivos. Houve, pelo menos, dez aparições de Jesus depois de Sua ressurreição: (1) a Maria Madalena (Mc 16:9;Jo 20:1417); (2) às mulheres no caminho para que dissessem aos discípulos que Cristo havia ressuscitado (Mt 28:9); (3) a Pedro (Lc 24:34); (4) aos dois discípulos na estrada de Emaús (Mc 16:12; Lc 24:15,31); (5) aos discípulos reunidos na noite do dia da ressurreição (Mc 16:14; Lc 24:36; Jo 20:19); (6) aos discípulos reunidos uma semana depois (Jo 20:26-29); (7) aos discípulos no Mar da Galileia (Jo 21:1-22); (8) aos onze num monte na Galileia, estando presentes quinhentos irmãos (Mt 28:16; Mc 16:7; 1Co 15:6); (9) a Tiago (1Co 15:7); (10) aos onze discípulos por ocasião da ascensão (Mc 16:19; Lc 24:50-52; At 1:4-12). A.T. Robertson assim comenta a reunião com os 500 discípulos: ―O vigor deste testemunho reside no fato de que a maioria (hoi pleios) deles estava ainda viva quando Paulo escreveu esta Epístola, [...] não mais de 25 anos depois da ressurreição de Cristo‖ (Word Pictures in the NewTestament, 1931, v. 4. p. 188). Além do testemunho dos apóstolos e das mulheres, há o testemunho do conselho judaico (Mt 28:11-15), e também das autoridades romanas, de acordo com os primeiros escritores da igreja. Pilatos tomou conhecimento dos fatos e os registrou em seu relatório regular ao Questões sobre Doutrina 116 imperador. Eusébio, bispo do 4 o século e historiador eclesiástico, escreveu: ―E quando a maravilhosa ressurreição e ascensão de nosso Salvador já tinham sido propaladas em toda a parte, consoante antigo costume prevalecente entre os governadores das províncias de relatarem ao imperador as novidades que nelas ocorriam, a fim de que nada lhe pudesse escapar, Pôncio Pilatos informou a Tibério dos relatórios que eram divulgados em toda a Palestina concernentes à ressurreição de nosso Salvador Jesus Cristo. Ele também deu um relato de outras maravilhas que ouvira a respeito dEle e como, depois de Sua morte, tendo ressuscitado, era agora crido por muitos como sendo um deus.‖ ―Que Pilatos fizera relatório oficial a Tibério é confirmado por Tertuliano (Apol. 21), e em si mesmo é perfeitamente provável. Justino Mártir (Apol. 1:35, 48) menciona um Atos de Pilatos, bem conhecido em seus dias, mas o suposto Atos de Pilatos que ainda existe em várias formas é espúrio, e pertence a um período bem posterior. É fantasioso e curioso (Nicene and Post-Nicene Fathers, segunda série. v. 1, p. 105).‖1 O povo devia estar ciente do fato, pois, por ocasião da ressurreição houve um terremoto e muitos santos ressuscitaram. Eles eram antítipo, pelo menos em parte, do molho movido que era oferecido nos dias antigos. Diz o registro: "Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos" (Mt 27:52. 53). Comentando essa experiência, Ellen G.White escreveu: Quando Cristo ressurgiu, trouxe do sepulcro uma multidão de cativos. O terremoto, por ocasião de Sua morte, abrira-lhes o sepulcro e, ao ressuscitar Ele, ressurgiram juntamente. [...] Agora deviam ser testemunhas dAquele que os ressuscitara dos mortos. [...] Esses entraram na cidade e apareceram a muitos, declarando: Cristo ressurgiu dos Questões sobre Doutrina 117 mortos, e nós ressurgimos com Ele. Assim foi imortalizada a sagrada verdade da ressurreição (O Desejado de Todas as Nações, p. 786). Referência l. A estrutura um tanto confusa dos dois parágrafos acima reproduz o original, onde o segundo parágrafo é uma nota de rodapé do primeiro.