A Doutrina Reformada Da Predestinação
i
- Introdução
♫
ii
- Testemunho da Doutrina
♫
iii
- Deus Tem Um Plano
♫
iv
- A Soberania de Deus
♫
v
- A Providência de Deus
♫
vi
- A Pré Ciência de Deus
♫
vii
- Apresentação de Sistemas
♫
viii
- As Escrituras são A Autoridade Final Pela Qual Os Sistemas Serão Julgados
ix
- Um Alerta Contra A Especulação Indevida
x
- Os Cinco Pontos do Calvinismo
xi
- Encarte: “Calvinismo versus Arminianismo”
xii
- Total Incapacidade
xiii
- Eleição Incondicional
xiv
- Reconciliação Limitada
xv
- Graça Eficaz
xvi
- A Perseverança Dos Santos
xvii
- Que É Fatalismo
xviii
- Que É Inconsistente Com O Livre Arbítrio E Com A Responsabilidade Moral do Homem
xix
- Que Faz Deus O Autor do Pecado
xx
- Que Desencoraja Todos Motivos Para Sacrifício
xxi
- Que Representa Deus Como Respeitador de Indivíduos, Ou Como Injustamente Parcial
xxii
- Que É Desfavorável À Boa Moralidade
xxiii
- Que Impossibilita Uma Sincera Oferta Do Evangelho Os Não Eleitos
xxiv
- Que Contradiz As Passagens Universais Das Escrituras
xxv
- Salvação Pela Graça
xxvi
- Garantia Pessoal De Que Alguém Está Entre Os Eleitos
xxvii - Predestinação No Mundo Físico
xxviii - Uma Comparação Com a Doutrina Maometana da Predestinação
xxix
- A Importância Prática Da Doutrina
xxx
- Calvinismo Na História
A Doutrina Reformada Da Predestinação
Por Loraine Boettner, D.D.a
 1932, por Loraine Boettner
Qualquer pessoa tem a liberdade para usar material deste livro com ou sem crédito. Na preparação deste
livro o autor recebeu ajuda de muitas fontes, algumas reconhecidas e muitas não. Ele acredita ser este
material um testemunho verdadeiro dos ensinos das Escrituras, e o seu desejo é multiplicar o seu uso, e
não restringi-lo.
Capítulo I
Introdução
O propósito deste livro não é estabelecer um novo sistema de pensamento teológico, mas dar um novo
testemunho ao grande sistema conhecido como a Fé Reformada ou Calvinismo, e mostrar que sem
nenhuma dúvida é o ensino da razão e da Bíblia.
A doutrina da Predestinação recebe comparativamente pouca atenção em nossos dias e é muito –
imperfeitamente – compreendida mesmo por aqueles que supostamente deveriam sustentá-la mais
lealmente. É uma doutrina, contudo, que faz parte do credo da maioria das igrejas evangélicas e que tem
tido uma influência notável em ambos, Igreja e Estado. Os regimentos de várias ramificações das Igrejas
Presbiteriana e Reformada na Europa e nos EUA são plenamente Calvinistas. As Igrejas Batista e
Congregacional, embora não tenham credos formulados, foram no princípio Calvinistas, se pudermos
julgar pelos escritos e ensinos dos teólogos que as representam. A grande igreja livre da Holanda e quase
todas as igrejas da Escócia são Calvinistas. A Igreja Estabelecida da Inglaterra e sua filha, a Igreja
Episcopal da América, têm um credo Calvinista nos “Trinta e nove Artigos”. Os Metodistas de
Whitefield em Gales até hoje mantêm o nome de “Metodistas Calvinistas”.
Entre os que advogaram esta doutrina no passado e os que ainda o fazem no presente, podemos encontrar
alguns dos maiores e mais sábios homens do mundo. Foi ensinado não somente por Calvino, mas por
Lutero, Zuínglio, Melancton (embora ele mais tarde se retratasse numa posição mais Semi-Pelagiana),
por Bullinger, Bucer e todos os grandes líderes da Reforma. Enquanto diferissem em alguns pontos, eles
concordavam com esta doutrina da Predestinação e ensinaram-na enfaticamente. O trabalho principal de
Lutero, “The bondage of de Will”, mostra que ele mergulhou na doutrina tão ardorosamente quanto
Calvino o fizera. Ele inclusive discorreu sobre ela mais apaixonadamente e percorreu-a mais profunda e
detalhadamente do que Calvino o fizera. E a Igreja Luterana hoje, a julgar pela “Fórmula de Concórdia”
sustenta a doutrina da Predestinação numa forma modificada. Os Puritanos na Inglaterra e aqueles que
no passado estabeleceram-se na América, tanto quanto os “Covenanters” na Escócia e os Huguenotes na
França, foram Calvinistas; e aqui pouco crédito para os historiadores em geral, por tão grande silêncio
haver sido mantido sobre tal fato. Esta fé também foi por algum tempo sustentada pela Igreja Católica
Romana, e em nenhuma ocasião foi repudiada abertamente por ela. A doutrina da Predestinação, de
Agostinho, colocou contra ele próprio todos aqueles elementos na Igreja que jogou-o contra cada homem
que subestimava a soberania de Deus. Ele os sobrepassou, e a doutrina da Predestinação adentrou à
crença da igreja Universal. A grande maioria dos credos históricos da Cristandade têm estabelecido as
doutrinas da Eleição, da Predestinação e da Perseverança final, como prontamente será visto por
qualquer um que proceda a um estudo profundo e minucioso estudo do assunto. Por outro lado, o
Arminianismo existiu por séculos somente como uma heresia nos arrebaldes da verdadeira religião, e de
fato não foi eleito como campeão pela igreja Cristã organizada até o ano de 1784, a qual época foi
incorporado ao sistema da doutrina da Igreja Metodista na Inglaterra. Os grandes teólogos da história,
Agostinho, Wycliffe, Lutero, Calvino, Zuínglio, Zanchius, Owen, Whitefield, Toplady, e em tempos
mais receintes Hodge, Dabney, Cunningham, Smith, Shedd, Warfield e Kuyper, abraçaram esta doutrina
e a ensinaram com entusiasmo. Que eles tenham sido luzes e ornamentos do mais alto tipo de
Cristianismo, será admitido por praticamente todos os Protestantes. Mais ainda, suas obras neste tão
importante tema nunca tiveram réplica. Então, também, quanto paramos para considerar que entre as
religiões não cristãs o Islamismo tem tantos milhões que crêem em alguma forma de Predestinação, que
a doutrina do Fatalismo tem sido de uma forma ou de outra sustentada em várias nações não convertidas
e que as filosofias mecanísticas e determinísticas têm exercido influência tão grande na Inglaterra,
Alemanha e América, vemos que pelo menos vale a pena estudar tal tipo de doutrina.
Desde a época da Reforma até mais ou menos duzentos anos atrás, estas doutrinas eram bravamente
trazidas à baila pela grande maioria dos ministros e mestres nas igrejas Protestantes, mas hoje em dia
encontramos a grande maioria sustentando e ensinando outros sistemas. É muito raro nos depararmos
com aqueles chamados “Calvinistas sem reserva”. Podemos muito apropriadamente aplicar às nossas
próprias igrejas as palavras de Toplady com relação à Igreja da Inglaterra: “Idos são os tempos em que as
doutrinas Calvinistas eram consideradas e defendidas como o Palladium de nossa Igreja Estabelecida;
pelos seus bispos e clero, pelas universidades e por todo o povo leigo. Foi, durante os reinados de
Eduardo VI, Rainha Elizabeth, Tiago I e a grande parte de Carlos I, tão difícil encontrar um clérigo que
não pregasse as doutrinas da Igreja da Inglaterra, como é agora difícil encontrar alguém que o faça.
Temos genericamente abandonado os princípios da Reforma, e “Ichabod” , ou ‘a glória se foi’, tem sito
escrito na maioria de nossos púlpitos e das portas de nossas igrejas, desde então.” 1
A tendência neste nossa era mais iluminada, é olharmos para o Calvinismo como um credo surrado e
obsoleto. No começo do seu esplêndido artigo “A Fé Reformada no Mundo Moderno”, o Professor F. E.
Hamilton diz, “Parece ser tacitamente assumido por um grande número de pessoas na Igreja
Presbiteriana atual que o Calvinismo cresceu demasiado nos círculos religiosos. Na verdade, um membro
comum de uma igreja, ou mesmo ministro do Evangelho, tendem a olhar para uma pessoa que declara
acreditar na Predestinação, com um misto de divertida tolerância. Parece-lhes incrível que ainda exista
tal curiosidade intelectual como um Calvinista real numa época de iluminismo como a presente. Quanto
a examinar seriamente os argumentos do Calvinismo, tal idéia nunca entra em suas cabeças. Considerase tão fora de questão como a Inquisição, ou como um mundo criado (“a partir da e pela vontade de uma
força maior”), e olha-se para isso como se fosse uma daquelas fantásticas linhas de raciocínio que os
homens tinham antes da idade da ciência moderna.” Por causa desta atitude atualmente tomada com
relação ao Calvinismo, e por causa da falta geral de informação com relação a estas doutrinas, reputamos
o tema deste livro como de suma importância.
Foi Calvino quem fermentou e trabalhou este sistema de pensamento teológico com tal ênfase e clareza
lógica que desde então tem sido referido pelo seu próprio nome. É claro que ele não originou o sistema,
mas simplesmente trabalhou com o que lhe pareceu ressaltar com brilho especial nas páginas das
Sagradas Escrituras. Agostinho havia ensinado o básico, o essencial do sistema mil anos antes do
nascimento de Calvino, e todo o corpo de líderes do movimento da Reforma ensinou o mesmo. Mas foi
Calvino, com seu profundo conhecimento das Esctirutas, seu destacado intelecto e gênio sistemático,
quem alinhou e defendeu estas verdades mais clara e habilmente do que alguém jamais houvera feito.
Nós nos referimos a este sistema de doutrina como “Calvinismo”, e aceitamos o termo “Calvinista”
como nosso emblema de honra; ainda que nomes sejam meras conveniências. “Nós podemos,”, diz
Warburton, “bem apropriadamente, e igualmente com toda razão, referirmo-nos à gravidade como
‘Newtonismo’, porque os princípios da gravidade foram primeiramente trabalhados e demonstrados pelo
grande filósofo Newton. Muito antes que Newton nascesse, a humanidade já convivia com os fatos da
gravidade. Tais fatos eram visíveis a qualquer um desde o primeiro dia da criação do mundo, tanto
quanto gravidade foi uma das leis que Deus ordenou e decretou para a organização e o equilíbrio do
universo. Mas os princípios da gravidade não eram totalmente conhecidos, e os efeitos do poder e da
influência da gravidade não eram totalmente conhecidos até que fossem ‘descobertos’ por Sir Isaac
Newton. Assim, também aconteceu com o que os homens denominam Calvinismo. Os princípios
inerentes ao Calvinismo têm existido por eras e eras antes que Calvino nascesse. Tais princípios de fato
têm estado visíveis como fatores patentes na história do mundo desde o tempo da criação do homem.
Mas tanto quanto foi Calvino quem primeiro formulou estes princípios em um sistema mais ou menos
completo, tal sistema, ou credo, como queira referir-se a tal, e consoantemente aqueles princípios que
são arrolados nele, vieram a ter o seu nome.” 2
Nos podemos ainda adicionar que os nomes
“Calvinista”, “Luterano”, “Puritano”, “Peregrino”, “Metodista”, “Batista” e ainda o nome “Cristão”,
foram originalmente apelidos. Mas a sua utilização veio a estabelecer a validade e o bom entendimento
dos seus significados.
O atributo que proporcionou tal força ao ensino de Calvino foi seu apego à Bíblia e à sua inspiração e
autoridade. Calvino foi mencionado como o mais proeminente teólogo bíblico de sua época. Até onde a
Bíblia o guiou ele foi; parando peremptoriamente onde quer que as respostas ou indicações na Bíblia
cessassem. Esta sua recusa em seguir mais adiante do que estivesse escrito, juntamente com sua pronta
aceitação do que a Bíblia ensinava, deu às suas declarações um ar de finalidade e positividade que
tornaram-no ofensivo aos seus críticos. Devido ao seu discernimento afiado e ao seu poder de raciocínio
lógico ele quase sempre era rotulado como um mero teólogo especulativo. Que ele tinha um gênio
especulativo de primeira grandeza, é claro, não pode ser negado; e na relevância pertinência de sua
análise lógica ele teve uma arma que o fez terrível para seus inimigos. Mas não era desses dons que ele
dependia primariamente enquanto formulando e desenvolvendo o seu sistema teológico.
O intelecto poderoso e ativo de Calvino levava-o a explorar o íntimo de cada objeto que tocasse. Foi
longe em suas investigações sobre Deus e o plano da redenção, penetrando em mistérios com os quais a
maioria dos homens raramente sonha, quando muito. Ele trouxe à luz um lado das Escrituras que até
então havia sempre estado em sombras e enfatizou aquelas verdades profundas que comparativamente
haviam escapado à atenção da igreja nos tempos que precederam a Reforma. Ele trouxe à luz doutrinas
do apóstolo Paulo que estavam no esquecimento, as colocou inteira e completamente no entendimento de
uma grande parte da Igreja Cristã.
Talvez esta doutrina da Predestinação tenha provocado uma grande tempestade de oposição, e sem
dúvida tem sido mais erroneamente interpretada e caricaturada, que qualquer outra doutrina das
Escrituras Sagradas. “Para dizer antes de outra coisa,” diz Warburton, “é como balançar a proverbial
bandeira vermelha na frente de um touro irado. Tal ato desperta as paixões mais ferozes de sua natureza,
e traz à tona uma torrente de abuso e calúnia. Mas, porque os homens têm lutado contra tal, ou porque
eles odeiem, ou talvez não compreendam, não há uma causa lógica ou razoável por que deveríamos
abandonar a doutrina ao léu, ou livrarmo-nos dela. A questão real, o ponto crucial não é ‘Como os
homens a recebem?’ mas, ‘Será que é verdadeira?’ ” 3
Um motivo pelo qual muita gente, até pessoas supostamente educadas, são tão rápidos em rejeitar a
doutrina da Predestinação é a pura ignorância do que realmente a doutrina é e o que a Bíblia ensina com
relação a ela. Esta ignorância não é de fato surpreendente quando considerando a quase mais completa
falta de treinamento Bíblico nos nossos dias. Um estudo meticuloso da Bíblia convenceria muitas
pessoas de que ela é um livro muito diferente do que assumem que seja. A tremenda influência que esta
doutrina tem exercido na história da Europa e da América deveria pelo menos qualificá-la a uma atenção
mais respeitosa. Além do mais, consideramos que de acordo com todas as leis da lógica e da razão,
nenhum indivíduo tem o direito de negar a verdade de uma doutrina sem primeiro haver estudado de
forma imparcial a evidência de ambos lados. Esta é uma doutrina que lida com algumas das mais
profundas verdades reveladas nas Escrituras e é certo que abundantemente beneficiará os Cristão que
minuciosamente a estudarem. Se alguém estiver disposto a rejeitá-la sem antes estudá-la cuidadosamente
seus preceitos, então não devemos nos esquecer que ela foi o cerne da firme convicção de multidões dos
mais sábios e melhores homens que já viveram, e que deve haver, portanto, fortes motivos favoráveis à
sua verdade.
Talvez algumas palavras de cuidado devessem ser dadas aqui, no sentido de que enquanto a doutrina da
Predestinação é uma verdade grande e abençoada das Escrituras e uma doutrina fundamental de várias
igrejas, ela não deve ser encarada como sendo o cerne e a substância da Fé Reformada. Como o Dr
Kuyper disse, “É um erro descobrir o caráter específico do Calvinismo na doutrina da Predestinação, ou
na autoridade da Bíblia. Para o Calvinismo tudo isso é conseqüência lógica, não o ponto de partida —as
folhagens testemunham a beleza e a riqueza do seu crescimento, mas não a raiz de onde brotou.” Se a
doutrina for separada da sua associação natural com outras verdades e exibida sozinha, o efeito é
exagerado. O sistema então estará distorcido e mal interpretado. Um testemunho de qualquer princípio,
para ser verdadeiro, deve apresentar (aquele princípio) em harmonia com todos os demais elementos dos
sistema do qual ele faz parte. A Confissão de Fé de Westminster é um testemunho equilibrado deste
sistema como um todo, e dá a devida proeminência àquelas doutrinas, tais como a da Trindade, a da
Divindade de Cristo, a da personalidade do Espírito Santo, a da Inspiração das Escrituras, a dos
Milagres, a da Reconciliação, a da Ressurreição, a da volta de Cristo, e assim por diante. Ademais, nós
não negamos que os Arminianos sustentam muitas verdades importantes. Mas nós sustentamos que uma
exposição completa e detalhada do sistema Cristão pode ser dada somente com base na verdade
apresentada pelo sistema Calvinista.
Na mente da maioria das pessoas a teoria da Predestinação e o Calvinismo são praticamente sinônimos.
Contudo, não deveria ser este o caso, e a identificação muito próxima dos dois sem dúvida contribuiu
grandemente para o preconceito de muitas pessoas contra o indubitavelmente tem contribuído muito para
o preconceito de muitas pessoas contra o sistema Calvinista. O mesmo é verdadeiro também com relação
a uma mui próxima identificação do Calvinismo e “Os Cinco Pontos”, como será mostrado adiante.
Enquanto a Predestinação e Os Cinco Pontos são elementos essenciais do Calvinismo, eles de forma
alguma constituem a sua íntegra.
A doutrina da Predestinação tem sido o tema de discussões infindáveis, muitas das quais, é preciso
admitir, ocorreram com o intuito de suavizar suas formas ou mesmo de explicá-la. “A consideração desta
grande doutrina,” diz Cunningham, “atinge os mais profundos e inacessíveis assuntos que podem ocupar
as mentes dos homens, — a natureza e os atributos, os propósitos e os atos do infinito e incompreensível
Jeová, — vista especialmente nos seus comportamentos quanto aos destinos eternos das Suas criaturas
inteligentes. A natureza peculiar do assunto certamente requer, com justa razão, que deva ser sempre
abordada com a mais profunda humildade, cautela e reverência, já que ela nos põe em contato, por um
lado, com um assunto tão terrível e avassalador quanto a eterna miséria de uma multidão inumerável de
nossos semelhantes. Muitos homens têm discutido o assunto nesse espírito, mas muitos também têm se
satisfeito com especulação muito presunçosa e irreverente sobre o tema. Não há provavelmente nenhum
outro assunto que tenha ocupado mais a atenção de homens inteligentes em qualquer época que a
doutrina da Predestinação. Ela tem sido exaustivamente discutida em todos os seus aspectos, filosófico,
teológico e prático; e se houver algum motivo de especulação com relação ao qual nós somos
assegurados em dizer que ela tem sido esmiuçada, é este.
“Pelo menos alguns dos tópicos arrolados sob o título geral foram discutidos por quase todos filósofos de
eminência tanto na antigüidade como nos tempos modernos. * * * Todos os argumentos que a maior
capacidade, genialidade e acuracidade podem elencar foram trazidos à baila na discussão deste tema, e as
dificuldades relacionadas ao mesmo nunca foram completamente eliminadas, e nós estamos bem seguros
em afirmar que elas nunca o serão, a menos que Deus nos revele mais amplamente ou nos dê
capacidades maiores, — embora, talvez, fosse mais correto dizer que, desde a própria natureza do caso,
um ser finito nunca possa compreende-la totalmente, desde que tal implicaria que aquele próprio ser
finito seria capaz de compreender totalmente a mente infinita.” 4
No desenvolvimento deste livro utilizou-se muito de outras obras, de forma que pudesse conter a nata e a
mais pura essência dos melhores escritores do tema. Consequentemente muitos dos argumentos aqui
encontrados são de homens muito superiores a este escritor. De fato, quando observando o conjunto, sou
inclinado a dizer com um celebrado escritor Francês, “Colhi um buquê de variadas flores dos jardins dos
homens, e nada é realmente meu, senão o fitilho que as mantém unidas.” Ainda assim muito é seu
próprio, especialmente no que refere-se à organização e arranjo dos materiais.
No decorrer deste livro, os termos “predestinação” e “préordenação” são usados como sinônimos exatos,
a escolha tendo sido determinada somente pelo gosto. Se desejar-se distinção, o termo “préordenação”
pode talvez ser melhor utilizado quando o sujeito em referência for um evento na história ou na natureza,
enquanto que o termo “predestinação” pode referir-se principalmente ao destino final das pessoas. As
cotações das Escrituras foram extraídas da “Versão Americana” da Bíblia, ao invés da “Versão King
James”, já que a primeira é mais acurada.
O autor deseja agradecer particularmente ao Dr. Samuel G. Craig, Editor da CHRISTIANITY TODAY,
ao Dr. Frank H. Stevenson, Presidente do Conselho Curador do Seminário Teológico Westminster, ao Dr
Cornelius Van Til, Professor de Apologética no Seminário Teológico Westminster, ao Dr. C. W. Hodge,
Professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Princeton, sob a supervisão de quem este
trabalho num formato muito mais curto foi originalmente preparado, e ao Rev. Henry Atherton,
Secretário Geral da União Soberana Graça, em Londres, Inglaterra, pela valiosa assistência.
Este livro, repetimos, é designado a apresentar e a defender a Fé Reformada, comumente conhecida
como Calvinismo. Ele não é direcionado contra nenhuma denominação em particular, mas contra o
Arminianismo em geral. O autor é Presbiteriano, mas ele está bem ciente do afastamento radical que
tropas de Presbiterianos têm feito do seu próprio credo. O livro é posto adiante com a esperança de que
aqueles que professam sustentar a Fé Reformada possam ter um melhor entendimento das grandes
verdades que são aqui tratadas e possam mais altamente valorizar sua herança; e que aqueles que não
têm conhecimento deste sistema, ou que se opõem ao mesmo, possam ser convencidos da sua verdade e
venham a amá-lo.
A questão que então se nos apresenta é esta: — Deus, desde toda a eternidade, pré-ordenou todas as
coisas que vieram e que virão a acontecer? Se sim, que evidência disto nós temos, e como pode o fato ser
consistente com o livre arbítrio das criaturas racionais e com a Suas próprias perfeições?
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 03 Outubro 2002
Tradução Livre:
A Doutrina Reformada Da Predestinação
Capítulo ii – Apresentação da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, que estabelece as crenças das Igrejas Presbiteriana e Reformada e a
qual é a mais perfeita expressão da Fé Reformada, lemos: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito
sábio e santo conselho da Sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece,
porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada
a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.” E mais adiante, “Ainda que
Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, Ele não decreta
coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais
condições.”
A doutrina da Predestinação representa os propósitos de Deus como absolutos e incondicionais,
independentes de toda a criação finita, e como originados somente no conselho eterno da Sua vontade.
Deus é visto como o grande e poderoso Rei que apontou o curso da natureza e quem direciona o curso da
história até os seus menores detalhes. Seu decreto é eterno, imutável, santo, sábio e soberano. Estende-se
não meramente ao curso do mundo físico mas a cada acontecimento na história humana desde a criação
até o juízo final, e inclui todas as atividades dos santos e anjos no céu e dos condenados e dos demônios
no inferno. Abrange todo escopo da existência das criaturas, através do tempo e da eternidade,
compreendendo imediatamente todas as coisas que já foram ou que virão a ser em suas causas,
condições, sucessões, e relações. Tudo fora do próprio Deus está incluso neste decreto todo abrangente, e
muito naturalmente, já que todas as demais coisas viventes devem a sua existência e a sua continuidade
em existência ao Seu poder criativo e sustentador. Possibilita controle providencial sob o qual todas as
coisas concorrem para o fim que Deus há determinado; e o objetivo é: “Um distante acontecimento
divino; Em direção do qual toda a criação se move.”
Desde que a criação finita em toda a sua extensão existe como um meio através do qual Deus manifesta a
Sua glória, e desde que ela é absolutamente dependente dEle, de si própria não poderia criar condição
alguma que limitasse ou abatesse a manifestação daquela glória. Desde toda a eternidade Deus
estabeleceu fazer justamente o que Ele está fazendo. Ele é o Regente soberano do universo, e “...e
segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa
deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”[Daniel 4:35]. Desde que o universo tem a sua origem em Deus e
depende dEle para a continuação da sua existência, deve, em toda parte e em todo momento, sujeitar-se
ao Seu controle para que nada aconteça contrário ao que Ele expressamente decreta ou permite. Assim o
propósito eterno é representado como um ato soberano de predestinação ou preordenação, e
incondicionado por qualquer fato subsequente ou mudança no tempo. Destarte é representada como
sendo a base da pré ciência divina de todos acontecimentos futuros, e não condicionada por aquela pré
ciência ou por qualquer coisa originada pelos mesmos acontecimentos.
Os teólogos reformados lógica e consistentemente aplicaram às esferas da criação e da providência
aqueles grandes princípios que foram mais tarde arrolados no Westminster Standards. Eles viram a mão
de Deus em cada acontecimento em toda a história da humanidade e em todos os prodígios da natureza
física, de modo que o mundo fosse a completa realização do ideal eterno no tempo. O mundo como um
todo e em todas as suas partes e movimentos e mudanças foi unificado em uma unidade pela atividade
governante, permeadora e harmonizadora vontade divina, e o seu propósito era manifestar a glória
divina. Enquanto a concepão deles era de uma divnia ordenação de todo o curso da história em todos os
detalhes, eles estavam especialmente preocupados com a relação entre aquela ordenação e a salvação do
homem. Calvino, teólogo sistemático e brilhante da Reforma, colocou o assunto assim: “Chamamos
Predestinação o decreto eterno de Deus, pelo qual Ele em Si mesmo determinou, o que Ele faria de cada
indivíduo da raça humana. Pois eles não são criados com um destino em comum, mas a vida eterna é pré
ordenada para alguns enquanto que a morte eterna pré ordenada para outros. Cada homem, portanto,
tendo sido criado para um ou outro daqueles destinos, dizemos que é predestinado seja para a vida ou
para a morte.” 1
Lutero era tão zeloso pela predestinação absoluta quanto Calvino, como vemos em seu comentário sobre
Romanos, onde ele escreveu: “Todas as coisas, o que quer que seja, provém de, e dependem do
apontamento divino; através do qual foi pré ordenado quem deveria receber a palavra da vida, e quem
deveria descrer dela,; quem deveria ser livrado dos seus pecados, e quem deveria permanecer neles; e
quem deveria ser justificado e quem deveria ser condenado.” E Melancton, seu amigo pessoal e
companheiro de trabalho, diz: “Todas as coisas acontecem de acordo com a divina predestinação; não
somente as obras que fazemos externamente; mas mesmo os nossos pensamentos interiores”; e
novamente, “Não há tal coisa como acaso, ou sorte; nem há nenhum caminho imediato para ganhar o
temor de Deus, e para colocar toda a nossa confiança nEle, que não seja cabalmente versado na doutrina
da Predestinação.”
“A ordem é a primeira lei do céu.” Do ponto de vista divino há uma linha intacta, contínua de ordem e de
progresso desde o princípio da criação até o final do mundo e a instalação do reino dos céus em toda a
sua glória. O propósito e plano divinos em nenhum momento é interrompido ou derrotado; aquilo que
muitas vezes nos parece ser derrota não o é realmente, mas somente aparenta sê-lo, porque a nossa
natureza finita e imperfeita não nos permite ver todas as partes no inteiro nem o inteiro em todas as suas
partes. Se num relance nós pudéssemos vislumbrar “o grandioso espetáculo do mundo natural e o drama
complexo da história humana,” veríamos então o mundo como uma unidade em harmonia manifestando
a perfeição gloriosa de Deus.
“Embora o mundo pareça estar girando a esmo,” diz Bishop, “e acontecimentos serem amontoados num
caos cego e rude desordem, ainda assim, Deus vê e conhece a concatenação de todas as causas e efeitos,
e tanto os governa que Ele faz perfeita harmonia daquilo tudo que parece confusões e desordens. É muito
necessário que devamos ter nossos corações bem estabelecidos na sólida e firme crença desta verdade,
que o que quer que venha a acontecer, seja bom ou mal, nós possamos olhar para a autoridade, para
Deus. Com respeito a Deus, não há nada casual nem contingência no mundo. Se um mestre deva enviar
um servo a um certo lugar e ordenar-lhe que permaneça lá até tal momento, e depois mandar um outro
servo ao mesmo lugar, o encontro desses dois é totalmente casual com relação a eles próprios, mas
ordenado e previsto pelo mestre que os enviou. As coisas acontecem inesperadamente para nós, mas não
para Deus. Ele prevê e Ele aponta todas as vicissitudes das coisas.” 2
O salmista exclamou, “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra!”[Salmo
8:9] e o escritor de Eclesiastes diz, “Tudo fez formoso em seu tempo...”[Eclesiastes 3:11]. Na visão que
o profeta Isaías teve, o serafim cantava, “...Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está
cheia da sua glória.”[Isaías 6:3].
Quando vemos a partir deste ponto de vista divino, cada
acontecimento no curso da vida humana em todas as eras e em todas as nações tem, não importa quão
insignificante possa parecer-nos, seu lugar exato no desenvolvimento do plano eterno. Tem relações com
as causas precedentes e exerce influência sempre crescente através dos seus efeitos, de maneira a estar
relacionada com todo o sistema de coisas e desempenha sua parte individual na manutenção do perfeito
equilíbrio desta ordem mundial. Muios exemplos podem ser dados para mostrar que acontecimentos da
maior importância têm muitas vezes dependido do que à época pareceu ser acontecimentos dos mais
fortuitos e triviais. A inter relação e conexão de acontecimentos é tal que se um destes fosse omitido ou
modificado, toda a seqüência seria também modificada ou simplesmente não aconteceria. Assim, a
certeza de que a administração divina apoia-se na pré ordenação de Deus estendida a todos
acontecimentos, sejam pequenos ou grandes. E, especificamente, nenhum acontecimento é pequeno
demais; cada um tem o seu lugar exato no plano divino, e alguns somente alguns são relativamente
maiores que outros. O curso da história, portanto, é infinitamente complexo, ainda assim uma unidade à
vista de Deus. Esta verdade, junto com a razão para tanto, é lindamente sumarizada no Catecismo
Menor, que diz que, “Os Decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o conselho da sua
vontade, pelo qual, para a sua própria glória, ele preordenou tudo o que acontece.”
O Dr Abraham Kuyper, da Holanda, que é reconhecido como um dos mas destacados teólogos
calvinistas nos anos recentes, dá-nos um pensamento valioso no seguinte parágrafo: “A determinação da
existência de todas as coisas a serem criadas, se uma flor vai ser uma camélia ou um copo-de-leite, se um
pássaro vai ser um rouxinol ou um corvo; se um animal vai ser um cervo ou um porco, e igualmente
entre os homens, a determinação de nossas próprias pessoas, se alguém vai nascer como um menino ou
menina, rico ou pobre, tolo ou inteligente, branco ou de cor, ou mesmo como Abel ou Caim, é a mais
tremenda predestinação concebível no céu ou na terra; e ainda vemo-la acontecer ante nossos próprios
olhos todos os dias, e nós mesmos somos sujeitos a ela em nossa inteira personalidade; durante toda a
nossa existência, nossa própria natureza, nossa posição na vida sendo inteiramente dependente dela. Esta
predestinação, que abrange a tudo e a todos, os Calvinistas a colocam não nas mãos do homem, e ainda
menos nas mãos de cegas forças da natureza, mas nas mãos de Deus Todo-Poderoso, soberano Criador e
Dono do céu e da terra; e é na ilustração do oleiro e do barro que a Bíblia tem exposto a nós esta eleição
que a tudo e todos domina, desde os tempos dos profetas. Eleição na criação, eleição na providência, e
também eleição para a vida eterna; eleição no reino da graça, tanto quanto no reino da natureza.” 3
Nós não podemos apreciar adequadamente esta ordem mundial até que a vejamos como um sistema
poderoso através do qual Deus está concretizando os Seus planos. O teísmo claro e consistente de
Calvino proporcionou-lhe um senso intenso da infinita majestade do Deus Todo-Poderoso, em cujas
mãos repousam todas as coisas, e fez dele um ‘predestinacionista’ de vulto. Em sua doutrina do
propósito eterno e incondicional do Deus onisciente e onipotente, ele encontrou o programa da história
da queda e da redenção da raça humana. Ele aventurou-se destemida mas reverentemente sobre a borda
daquele abismo de especulação onde todo o conhecimento humano perde-se em mistério e adoração.
A Fé Reformada, então, oferece-nos um grande Deus que é realmente o soberano Regente do Universo.
“Tal grande princípio,” diz Bayne, “é a contemplação do universo de Deus revelado em Cristo. Em todos
lugares, em todos tempos, de eternidade a eternidade, o Calvinismo vê a Deus.” Nossa era, que enfatiza a
democracia, não gosta de tal visão, e talvez nenhuma outra era tenha gostado menos. A tendência hoje é
exaltar o homem e dar a Deus somente uma parte muito limitada nos acontecimentos do mundo. Como o
Dr. A. A. Hodge disse, “A nova teologia, postulando a limitação da antiga, está descartando a pré
ordenação de Jeová como um artifício surrado das escolas, desacreditado pela cultura avançada do
presente. Esta não é a primeira vez que as corujas, confundindo as sombras de um eclipse passageiro
com a noite, prematuramente guincharam para as águias, convencidas de que o que lhes era invisível não
poderia possivelmente existir.” 4
Esta é, em geral, a concepção ampla da predestinação, como foi sustentada pelos grandes teólogos das
Igrejas Presbiteriana e Reformada.
A Pré Ordenação é mostrada de maneira explícita nas Escrituras.
Atos 4:27, 28 : “[27] Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus,
ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; [28]
para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse.”
Efésios 1:5 : “e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade,”
Efésios 1:11 : “nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o
propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade,”
Romanos 8:29, 30 : “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a
estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também
glorificou.”
I Coríntios 2:7 : “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus
preordenou antes dos séculos para nossa glória;”
Atos 2:23 : “a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes,
crucificando-o pelas mãos de iníquos;”
Atos 13:48 : “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos
quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”
Efésios 2:10 : “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes
preparou para que andássemos nelas.”
Romanos 9:23 : “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia,
que de antemão preparou para a glória,”
Salmo 139:16 : “Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os
dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles.”
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 04 Outubro 2002
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo viii
As Escrituras são a Autoridade Final Pela Qual os Sistemas Serão Julgados
Em todos assuntos polêmicos entre Cristãos as Escrituras são aceitas como o mais privilegiado foro para
dirimir quaisquer controvérsias. Historicamente elas têm sido a autoridade comum da Cristandade.
Cremos que elas contêm um sistema completo e harmonioso de doutrina; que todas as suas partes são
consistentes entre si, e que é nosso dever procurar tal consistência através de uma investigação cuidadosa
do significado de passagens em particular. 1
“A Palavra de Deus,” diz Warburtons, com relação a estas doutrinas, “é o tribunal maior e final ante o
qual elas devem ser trazidas, e pelo qual elas devem ser julgadas. E a verdade ou a falsidade de nossa
crença é medida pela correspondente concordância com, ou pela correspondente diversidade, da forma
de doutrina que é mostrada pela inerrante revelação que Deus nos tem dado através de sua Palavra
inspirada. É por este critério que o Calvinismo deve ser julgado. É por este critério que o Arminianismo
ou o Pelagianismo deve ser julgado. É por este critério, e somente por este critério, que qualquer forma
de crença, seja ela religiosa ou científica, deve ser julgada; e se não falarem de acordo com esta Palavra,
é porque não há luz nelas . . . Nos cremos na inspiração total, verbal da Palavra de Deus. Nós
sustentamo-la como sendo a única autoridade em todos os assuntos e concordamos que nenhuma
doutrina pode ser verdadeira, ou essencial, se não encontrar lugar nesta Palavra.” 2
É óbvio que a verdade ou a falsidade desta profunda doutrina da Predestinação pode ser decidida
somente por revelação divina. Nenhuma pessoa, agindo meramente por suas observações e julgamentos,
pode saber quais são os princípios básicos do plano que Deus está seguindo. Especulação filosófica e
todo o arrazoado abstrato devem ser mantidos suspensos até que tenhamos primeiro conhecido o
testemunho da Bíblia, — e quando o conhecermos, devemos humildemente submetermo-nos. Tomara
tivéssemos mais pessoas com aquele mesmo nobre caráter dos Bereanos, que procuravam nas Escrituras
diariamente, buscando conhecimento sobre todas as coisas.
Com relação a cada uma das doutrinas discutidas neste livre, apresentamos uma grande massa de
evidência Bíblica — evidência em ambos aspectos, direto e inferente — evidência que não pode ser
respondida ou explicada — evidência em muito superior em peso, extensão e explicitude, a qualquer que
possa ser arrolada em contrapartida. A Bíblia desdobra um esquema de redenção que é Calvinista do
princípio ao fim, e todas as doutrinas são ensinadas com clareza tão inescapável que a questão é aceita
por todos aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus. Estas doutrinas são estabelecidas da
maneira mais impressionante, e o modo não erudito, a naturalidade e simplicidade com que são
transmitidas fazem-nas ainda mais impressionantes. Se alguém nos perguntasse, “Existe alguma estrela
nos céus?”, nossa resposta seria, “Os céus estão cheios de estrelas”[Salmo 8:3, 4]. Ou novamente, “Há
peixes no mar?”, nossa resposta seria “O mar está cheio de peixes”[Salmo 104:25, 27]. Ou de novo, “Há
alguma árvore na floresta?”, nós ainda uma vez mais replicaríamos, “A floresta está cheia de árvores”. E
de maneira similar, se fôssemos inquiridos com a pergunta, “A doutrina da Predestinação está na
Bíblia?”, nossa resposta deveria ser, “A Bíblia está cheia dela, desde o Gênesis até o Apocalipse.”
Que doutrinas tais como a da Trindade, a da Divindade de Cristo, a da personalidade do Espírito Santo, a
da pecaminosidade do homem, e a da realidade de castigos futuros, são Bíblicas, não é negado nem por
aqueles que recusam-se a admiti-las como doutrinas verdadeiras. É comum para os racionalistas e os
assim chamados altos críticos admitir que os apóstolos creram e ensinaram as doutrinas evangélicas e
Calvinistas, e que com a aplicação direta das regras de exegese os seus testemunhos não admitem
qualquer outra interpretação; mas é claro, aquelas pessoas não se consideram passíveis de submissão à
autoridade de qualquer apóstolo. Por exemplo, eles referem-se à crença dos apóstolos nestas doutrinas,
como sendo “as noções erradas de uma era bruta e incivilizada.” Contudo, isto não diminui e valor dos
seus testemunhos, de que tais passagens Bíblicas, se criticamente interpretadas, não podem ter nenhum
outro significado. Mais ainda, preferiríamos dizer com os racionalistas que as Escrituras ensinam estas
doutrinas mas que as Escrituras não são autoridade para nós, do que professar a aceitação dos
ensinamentos deles enquanto inteligentemente evadindo a força do seu argumento.
Mostraremos agora que não há grande dificuldade — nem a necessidade de pressão ou de violência
indevida — para consistentemente interpretar com a nossa doutrina as passagens que são apresentadas
pelos Arminianos, enquanto que é impossível, sem a mais injustificável e não natural força e pressão,
reconciliar a doutrinas deles com as nossas passagens. Mais ainda, nossa doutrina não poderia ser
derrotada meramente por trazer-se à baila outras passagens que contradiriam aquelas passagens, pois
tanto, no máximo nos daria uma Bíblia contraditória consigo mesma.
À luz da exegese moderna, fica bem evidente que as objeções que são levantadas contra a Teologia
Reformada são mais emocionais ou filosóficas, do que exegéticas. E tivessem os homens se contentado
em interpretar a linguagem das Escrituras de acordo com os princípios reconhecidos de interpretação, a
fé dos Cristãos poderia ser muito mais harmoniosa. Nossos oponentes, diz Cunningham, são capazes de
“discutir com alguma plausibilidade somente quando estão lidando com passagens isoladas, ou classes
particulares de passagens, mas mantendo fora do escopo, ou relegando a posição de fundo, a massa geral
de evidências Bíblicas que versam sobre o tema como um todo. Quando temos uma visão conjunta de
todo o corpo dos ensinamentos Bíblicos, manifestamente entendidos a mostrar-nos a natureza, as causas
e conseqüências da morte de Cristo, tanto literal como figuradamente – vemo-los combinados entre si – e
razoavelmente compreendemos o que eles estão propostos a ensinar-nos, não há terreno propício para
dúvida quanto às conclusões gerais que deveríamos sentirmo-nos compelidos a adotar.” 3
Tanto quanto nos atermos ao princípio Reformado de que as Escrituras Sagradas têm de ser aceitas como
a única autoridade em matéria de doutrina Calvinista, o sistema se manterá como o único que
adequadamente versa sobre Deus, homem e redenção.
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 05 Outubro 2002
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo ix
Um Aviso Contra Especulação Indevida
Neste ponto, daremos algumas palavras de aviso contra a especulação indevida e a curiosidade em lidar
com esta nobre doutrina da Predestinação. Talvez não possamos fazer melhor que parafrasear as palavras
do próprio Calvino, que são encontradas na primeira seção deste tratado sobre este tema: “A discussão
da Predestinação – um tema em si mesmo intrincado – é feita muito complicada, e portanto perigosa,
pela curiosidade humana, a qual nenhuma barreira pode impedir de embrenhar-se em labirintos
proibidos, e de elevar-se para além de sua esfera, como se determinada a não deixar nenhum dos
segredos Divinos inexplorados ou intocados . . .Primeiro, então, deixemo-los recordar que quando
inquirem sobre a Predestinação, eles penetram nos mais recônditos recessos da sabedoria divina, onde o
intruso confiante e descuidado não obterá satisfação para a sua curiosidade . . . Pois nós sabemos que
quando tivermos excedido os limites da palavra, entraremos num curso errante e tedioso, no qual erros,
escorregões e quedas serão inevitáveis. Em primeiro lugar, então, tenhamos em mente que desejar
qualquer maior conhecimento da Predestinação do que nos foi revelado pela Palavra de Deus, indica tão
grande tolice quanto querer caminhar através de caminhos impossíveis, ou enxergar na escuridão. Nem
tenhamos vergonha de sermos ignorantes de algumas coisas relativas a um assunto no qual há uma
espécie de ignorância aprendida.” 1
Não estamos sob a obrigação de “explicar” estas verdades; estamos somente sob a obrigação de dizer o
que Deus tem revelado na Sua palavra, e vindicar estas verdades o mais longe possível de concepção
errada e de objeções. Na natureza do caso, tudo o que podemos conhecer acerca de tais profundas
verdades é o que ao Espírito aprouve revelar com relação a elas, estando confiantes de que o que quer
que Deus tenha revelado é indubitavelmente verdadeiro e deve ser crido embora talvez possamos não ser
capazes de sondar suas profundidades com a linha da nossa razão. Em nossa ignorância dos Seus
propósitos inter-relacionados, não estamos aptos a ser Seus conselheiros. “...quão profundos são os teus
pensamentos!”, disse o salmista [Salmo 92:5]. Tanto quanto possa o homem tentar atravessar o oceano a
nado, também compreender os juízos de Deus. O homem conhece muitíssimo pouco que o justifique-o
tentar explicar os mistérios da lei de Deus.
A importância do tema discutido deveria guiar-nos a proceder somente com a mais profunda reverência e
cautela. Enquanto é verdadeiro que mistérios devem ser lidados com cuidado, e enquanto especulações
inseguras e presunçosas com relação às coisas divinas devem ser evitadas, ainda se pregássemos o
Evangelho em toda a sua pureza e plenitude, devemos ser cuidadosos para não privar dos crentes o que
está declarado nas Escrituras acerca da Predestinação. Que algumas dessas verdades serão pervertidas e
abusadas pelos não devotos deve ser esperado. Não importa o quão corretamente seja ensinado na Bíblia,
as mentes não iluminadas consideram absurdo, por exemplo, que um Deus exista em três pessoas, ou que
Deus devesse saber de antemão o curso inteiro dos eventos e acontecimentos do mundo, uma vez que
Seu plano devesse incluir o destino de cada pessoa. E enquanto nós possamos conhecer sobre
Predestinação somente o tanto que a Deus pareça cabível revelar, é importante que o saibamos; caso
contrário tanto não teria sido a nós revelado. Para onde as Escrituras nos guiarem, podemos seguir em
segurança.
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 05 Outubro 2002
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo x
Os Cinco Pontos do Calvinismo
O sistema Calvinista enfatiza principalmente cinco doutrinas distintas. Estas são conhecidas
tecnicamente como “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, e são os pilares principais sobre os quais está
baseada a super estrutura. Neste capítulo nós examinaremos cada um destes pilares, oferecendo base
Bíblica e os argumentos racionais que as sustém. Consideraremos então as objeções que são comumente
apresentadas contra eles.
Como será mostrado, a Bíblia contém abundante material para o desenvolvimento de cada uma daquelas
doutrinas. Adicionalmente, não trata-se de doutrinas isoladas e independentes, mas são tão interrelacionadas que formam um sistema simples, harmonioso e consistente; e a forma como se completam
como componentes de um todo bem ordenado tem conquistado a admiração de pensadores de todos os
credos. Em se provando que somente uma delas é verdadeira todas as consequentemente também o
serão, como partes lógicas e necessárias de um sistema. Se provar-se que uma delas é falsa, todo o
sistema terá de ser abandonado. Encaixam-se perfeitamente uma na outra. São elos na grande cadeia de
causas; de onde nem mesmo uma delas poderia ser tirada sem comprometer e subverter todo o plano
Evangélico de salvação por intermédio de Cristo. Não se pode conceber que um arranjo desta magnitude
aconteça meramente por acaso, nem mesmo que seja possível; a menos que estas doutrinas sejam
verdadeiras.
Tenhamos em mente que neste livro não nos propomos a discutir em detalhes as outras doutrinas das
Escrituras que são aceitas pela Cristandade evangélica, mas sim apresentar e defender aquelas que são
peculiares ao sistema Calvinista. A menos que isto esteja claro, muito da força e beleza reais do
Calvinismo genérico estará perdido, e o então chamado “Cinco Pontos do Calvinismo”, --que
historicamente e na realidade são o oposto ao assim chamado “Cinco Pontos do Arminianismo”, -assumirá uma proeminência indevida no sistema. Deixemos então que o leitor guarde-se de assumir uma
identificação muito próxima dos Cinco Pontos com o sistema Calvinista, porquanto os Cinco Pontos
sejam elementos essenciais, o sistema na realidade inclui muito mais. Como escrito na Introdução, a
Confissão de Westminster é um testemunho equilibrado da Fé Reformada ou Calvinismo, e dá a devida
projeção às outras doutrinas Cristãs.
Os Cinco Pontos podem ser mais facilmente lembrados se forem associados com a palavra “T-U-L-I-P”,
representando cada uma das letras um dos Cinco Pontos {“T” = Total Inability (Depravação Total ou
Incapacidade Total); “U” = Unconditional Election (Eleição Incondicional); “L” = Limited Atonement
(Expiação Limitada); “I” = Irresistible [Efficacious] Grace (Graça Irresistível [ou Eficaz]), e “P” =
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 09 Outubro 2002
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo xi
Apêndice : “Calvinismo versus Arminianismo”
O material a seguir extraído de “Romanos: Uma Apresentação Interpretativa” [páginas 144 – 147]
escrito por David N. Steel e Curtis C. Thomas, contrasta os Cinco Pontos do Arminianismo com os
Cinco Pontos do Calvinismo, da maneira mais clara e concisa que já vimos em qualquer lugar. Também
pode ser encontrado no livreto, “Os Cinco Pontos do Calvinismo” [páginas 16 – 19]. Ambos livros
foram publicados pela “The Presbyterian and Reformed Publishing Co., Philadelphia (1963. Os senhores
Steele e Thomas foram pastores por vários anos de uma Igreja Batista do sul, em Little Rock, Arkansas.
OS "CINCO PONTOS" DO ARMINIANISMO
OS "CINCO PONTOS" DO CALVINISMO
1. Livre Arbítrio ou Capacidade Humana
1. Incapacidade Total ou Total Depravação
Embora a natureza humana tenha sido seriamente
afetada pela queda, o homem não foi deixado numa
condição de abandono espiritual. Deus capacita
graciosamente cada pecador a arrepender-se e crer,
mas Ele não interfere na liberdade humana. Cada
pecador possui livre arbítrio, e seu destino eterno
depende de como ele o utiliza. A liberdade do
homem consiste em sua capacidade de escolher o
bem ao invés do mal no que se refere a assuntos
espirituais; sua vontade não é escrava de sua
natureza pecadora. O pecador tem o poder de ou
cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado
ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador
perdido necessita da assistência do Espírito, mas
ele não tem de ser regenerado pelo Espírito antes
que possa crer, pois a fé é um ato do homem e
precede no novo nascimento. A Fé é presente que o
pecador dá para Deus; é a contribuição do homem
para a salvação.
Por causa da queda, o homem é incapaz por si
mesmo de crer no evangelho para a sua salvação. O
pecador está morto, surdo e cego para as coisas de
Deus; seu coração é injusto e desesperadamente
corrupto. Sua vontade não é livre, está unida à sua
natureza má, portanto ele não será – na realidade
ele não pode – escolher o bem ao invés do mal, no
aspecto espiritual. Consequentemente, é necessário
mais que a assistência do Espírito Santo para trazer
um pecador até Cristo – é necessário regeneração,
pela qual o Espírito Santo faz com que o pecador
viva e dá-lhe uma nova natureza. Fé não é algo com
que o homem contribui para a salvação, mas em si
mesma é parte do dom de Deus para a salvação – é
dádiva de Deus para o pecador, não um presente do
pecador para Deus.
2. Eleição Condicional
2. Eleição Incondicional
A escolha de Deus de certos indivíduos para a
salvação antes da fundação do mundo foi baseada
na sua visão antecipada de que eles poderiam
responder à sua chamada. Ele selecionou somente
aqueles que Ele sabia que creriam livremente no
Evangelho. Eleição portanto foi determinada por ou
condicionada ao que o homem faria. A fé que Deus
anteviu e na qual Ele baseou a Sua escolha não foi
dada ao pecador por Deus (ela não foi criada pelo
poder regenerador do Espírito Santo) mas resultou
somente da vontade do homem. Ela foi deixada
totalmente à escolha do homem, quanto a em quem
crer; e portanto quanto a quem deveria ser eleito
O fato de Deus escolher – antes da fundação do
mundo – certos indivíduos para a salvação, repousa
somente sobre a Sua soberana vontade. Sua
escolha, de certos pecadores em particular, não foi
baseada em nenhuma resposta ou obediência da
parte deles, tal como fé, arrependimento e etc. Ao
contrário, Deus concede a fé e o arrependimento a
cada indivíduo a quem Ele escolhe. Tais atos são o
resultado, não a causa da escolha de Deus. A
eleição portanto não foi determinada ou
condicionada por nenhuma qualidade virtuosa ou
ato antevisto do homem. Àqueles a quem Deus
soberanamente elegeu Ele traz através do poder do
para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele Espírito Santo à uma pronta aceitação de Cristo.
sabia, através da sua própria vontade, que Assim a escolha de Deus quanto ao pecador, é em
escolheriam a Cristo. Assim, o pecador escolhendo última instância a causa da salvação.
a Cristo; e não Cristo escolhendo o pecador, é em
última instância causa da salvação.
3. Redenção Universal ou Expiação Geral
3. Redenção Pessoal ou Expiação Limitada
A obra redentora de Cristo possibilitou a cada um
ser salvo, mas na realidade não assegurou a
salvação de ninguém. Embora Cristo morreu por
todos, somente aqueles que crêem nEle estão
salvos. A Sua morte possibilitou a Deus perdoar os
pecadores na condição de que eles cressem, mas na
realidade não colocou à parte o pecado de ninguém.
A Redenção de Cristo se torna efetiva somente se o
homem escolher aceitá-la.
A obra redentora de Cristo foi intencionada para
salvar os eleitos somente; e realmente assegurou a
sua salvação. Sua morte foi um pagamento
substitutivo das faltas do pecado no lugar de certos
pecadores em particular. Adicionalmente a colocar
de lado os pecados do Seu povo, a redenção de
Cristo assegurou tudo o que fosse necessário par a
sua salvação, incluindo a fé, que os une a Ele. O
dom da fé é infalívelmente dispensado pelo Espírito
Santo a todos por quem Cristo morreu, portando
assegurando a sua salvação.
4. A Resistência ao Espírito Santo é Possível
4. A Graça Eficaz; ou a Graça Irresistível
O Espírito Santo chama “internamente” a todos
aquels que são chamados “externamente” pelo
convite do Evangelho; Ele faz tudo o quanto Ele
pode para trazer cada pecador à salvação. Mas tanto
quanto o homem é livre, ele pode resistir com
sucesso à chamada do Espírito Santo. O Espírito
Santo não pode regererar o pecador até que este
creia; a fé (que é a contribuição do homem) precede
e faz possível o novo nascimento. Assim, o livre
arbítrio do homem limita o Espírito Santo na
aplicação, na efetivação da obra salvadora de
Cristo. O Espírito Santo somente pode trazer até
Cristo aqueles que permitam que Ele possa vir até
eles. Até que o pecador responda, o Espírito não
pode dar a vida. A graça de Deus, portanto, não é
invencível. Ela pode, e muitas encontra, resistência
por parte do homem; e é relegada por ele.
Adicionalmente à expansiva e geral chamada à
salvação, que é feita a todos que ouvem a palavra
do Evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos
um convite especial que inevitavelmente os traz à
salvação. O convite eterno (que é feito a todos sem
distinção) pode ser, e invariavelmente o é,
rejeitado; enquanto sempre resulte em conversão.
Por intermédio deste convite especial, o Espírito
Santo irrestivelmente traz os pecadores até Cristo.
Ele não é limitado na Sua obra de aplicar a
salvação à vontade do homem, nem é ele
dependente da cooperação do homem para o Seu
sucesso. O Espírito graciosamente faz com que o
pecador eleito coopere, arrependa-se e venha pronta
e livremente a Cristo. Graça de Deus. Portanto, é
invencível, nunca falha na salvação daqueles que
foram eleitos.
5. Caindo da Graça
5. Perseverança dos Santos
Aqueles que crêem e estão verdadeiramente salvos
não podem perder a sua salvação por haverem
falhado em manter a sua fé, etc. Todos Arminianos
não têm concordado neste ponto, alguns têm
sustentado que os crentes estão eternamente
seguros em Cristo – que uma vez que um pecador é
regenerado, ele não pode nunca perder-se.
Todos aqueles que são escolhidos por Deus,
redimidos por Cristo, e a quem a fé foi dada pelo
Espírito Santo estão salvos eternamente. Eles são
mantidos na fé pelo poder de Deus Onipotente e
assim perseverarão até o fim.
De Acordo com o Arminianismo:
De Acordo com o Calvinismo:
A Salvação é conseguida através dos esforços
conjuntos de Deus (que toma a iniciativa) e do
homem (que deve corresponder) – a resposta do
homem sendo o fator determinante. Deus
providenciou a salvação para todos, mas as suas
provisões vêm a ser efetivas somente para aqueles
que, através de seu livre arbítrio, “escolher” e
“decidir” a cooperar com Ele e aceitar a Sua Graça.
Neste ponto crucial, a vontade do homem tem uma
parte decisiva; assim o homem, não Deus,
determina quem será o recipiente do dom da
salvação.
A Salvação acontece através do poder supremo do
Deus Triúno. O Pai escolhe um povo, o Filho
morreu por eles, o Espírito Santo faz com que a
morte de Cristo seja efetiva em trazer os eleitos à fé
e ao arrependimento, destarte fazendo com que eles
prontamente obedeçam ao Evangelho. Todo o
processo (eleição, redenção e regeneração) é a obra
de Deus e ocorre somente através da sua graça.
Assim Deus, não o homem, determina quem será o
recipiente do dom da salvação.
REJEITADA
pelo Sínodo de Dort
REAFIRMADO
pelo Sínodo d eDort
Este foi o sistema constante da “Remonstância”
(embora os “cinco pontos” não estivessem
originalmente assim ordenados). Foi submetido
pelos Arminianos à Igreja da Holanda para adoção
em 1610, mas foi rejeitado pelo Sínodo de Dort em
1619, nas bases de que não era Bíblico.
Este sistema teológico foi reafirmado pelo Sínodo
de Dort em 1619 como a doutrina da salvação
contida nas Sagradas Escrituras. O sistema foi à
época formulado em “cinco pontos” (em resposta
aos “cinco pontos” submetidos pelos Arminianos) e
desde então tem sido conhecido como “os cinco
pontos do Calvinismo”.
Tradução livre = Eli Daniel Silva – [email protected]
Belo Horizonte, 09 Outubro 2002
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo xii
Depravação Total {Incapacidade Total}
1. Apresentação da Doutrina.
2. A Extensão e os Efeitos do Pecado Original. 3. Os Defeitos das
Virtudes Comuns do Homem.
4. A Queda do Homem. 5. O Princípio Representativo. 6.
A Bondade e a Severidade de Deus.
7. Provas nas Escrituras.
1. Apresentação da Doutrina
Na Confissão de Fé de Westminster, a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) é apresentada
como se segue: “O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade
quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural,
inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se
ou mesmo preparar-se para isso.” {Referências: Rm. 5:6 e 8:7-8; Jo 15:5; Rm. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5;
Col. 2:13; Jo 6:44, 65; I Co. 2:14; Tt 3:3-5.} 1
Paulo, Agostinho, e Calvino têm seus pontos de partida no fato de que toda a humanidade pecou em
Adão, e que todos os homens estão “sem desculpas”, conforme Romanos 2:1 [Portanto, és inescusável, ó
homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a
outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo.] Vez após outra Paulo nos diz que estamos mortos em
pecados e transgressões, alienados de Deus, e sem defesa. Ao escrever aos Cristãos de Éfeso, ele
lembrou-os que antes que haverem recebido o Evangelho, eles estavam “...naquele tempo sem Cristo,
separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem
Deus no mundo.”[Efésios 2:12]. Ali notamos a “ênfase de cinco partes”, à medida em que ele acumula
frase sobre frase, para reforçar esta verdade.
2. A Extensão e Os Efeitos do Pecado Original
A doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), que declara que os homens estão mortos no
pecado, não quer dizer que todos os homens são igualmente maus, nem que algum homem seja tão mau
quanto ele pudesse sê-lo, ou ainda que algum homem seja totalmente destituído de virtude, nem que a
natureza humana seja má em si mesma, ou que o espírito do homem seja inativo, e muito menos ainda
significa que o corpo esteja morto. O que significa na verdade é que desde a queda o homem permanece
sob a maldição do pecado, que ele agiu conforme princípios errados, e que ele é completamente incapaz
de amar a Deus ou de fazer o que seja para merecer salvação. Sua corrupção é extensa, mas não
necessariamente intensa.
É neste sentido que os homens, desde a queda, são “...totalmente indispostos, adversos a todo o bem e
inteiramente inclinados a todo o mal,...”[CFW, cap. VI, par. iv]. O homem possui uma tendência fixa do
mal contra Deus, e instintivamente e voluntariamente volta-se para o mal. Ele é um estrangeiro por
nascimento, e um pecador por escolha. A incapacidade (depravação) sob a qual ele se move não é
incapacidade de exercer poder de escolha, mas uma incapacidade de estar pronto a fazer escolhas santas.
E é esta fase que levou Lutero a declarar que “Livre arbítrio é um termo vazio, cuja realidade está
perdida. E uma liberdade perdida, de acordo com a minha gramática, não é liberdade.” 2 Em matérias
pertinentes à sua salvação, o homem ainda não regenerado, obstinado, não tem então liberdade para
escolher entre o bem e o mal, mas somente escolher entre mal maior ou menor, o que não é propriamente
livre arbítrio. O fato de o homem caído ainda ser capaz de certos atos moralmente bons em si próprios
não prova que ele possa agir para o mérito da salvação, pois seus motivos podem estar completamente
errados.
O homem é um agente livre mas ele não pode começar (originar, criar) o amor de Deus em seu coração.
Sua vontade é livre no sentido de que não seja controlada por nenhuma força fora de si próprio. Como o
pássaro com uma asa quebrada é “livre” para voar mas não é capaz de faze-lo, assim o homem natural é
livre para vir a amar a Deus, mas é incapaz. Como ele pode arrepender-se do seu pecado quando ele O
ama? Como ele pode vir a Deus quando ele O odeia? Esta é a incapacidade da vontade sob a qual o
homem vive. Jesus disse, “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais a as
trevas que a luz; porque as suas obras eram más.”[João 3:19]; e de novo, “Contudo, não quereis vir a
mim para terdes vida.”[João 5:40]. A ruína do homem está na sua própria e perversa vontade. Ele não
pode vir, porque ele não quer. Auxílio bastante é providenciado, se ele somente quisesse aceitá-lo. Paulo
nos diz, “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem
mesmo pode estar.”[Romanos 8:7].
Assumir que porque o homem tem a capacidade para amar ele então tem também capacidade para amar a
Deus, é tão sábio quanto assumir que a água, já que tem a capacidade de fluir, tem portanto a capacidade
de fluir morro acima; ou raciocinar que porque o homem tem o poder de não atirar-se precipício abaixo,
ele portanto tem igual poder para transportar-se desde o fundo do precipício até o topo.
O homem caído não vê nada desejável no “Aquele que é igualmente amável, o mais junto em dez mil.”
Ele pode admirar a Jesus como um homem, mas ele não quer ter nada a ver como Ele como Deus, e ele
resiste contra a santa influência do Espírito Santo, com todas as suas forças. Pecado e não retidão, tem
sido seu elemento natural, de maneira que ele não tem o desejo da salvação.
A natureza caída do homem cria uma mais obtusa cegueira, estupidez, e oposição relativa às coisas de
Deus. Sua vontade está sob o controle de uma compreensão obscura, a qual troca o doce pelo amargo, e
o amargo pelo doce, o bem pelo mal e o mal pelo bem. Tanto quanto refere-se à suas relações com Deus,
ele quer somente o que é mal, embora sua vontade seja livre. Espontaneidade e escravidão realmente
coexistem.
Em outras palavras, o homem caído é tão moralmente cego que uniformemente prefere e escolhe o mal
ao invés do bem, como o fazem os anjos caídos e os demônios. Quando o Cristão é completamente
santificado ele alcança um estado no qual ele uniformemente prefere e escolhe o bem, como fazem os
santos anjos. Ambos estados são consistentes com liberdade e responsabilidade de agentes morais. Ainda
quando o homem caído age assim uniformemente ele nunca é compelido a pecar, mas ele o faz
livremente e regozija-se em faze-lo. Suas disposições e desejos são tão inclinadas, e ele age sabendo e
desejando, desde a espontânea batida do seu coração. Esta tendência ou apetite natural pelo mal é
característica da natureza caída e corrompida do homem, de modo que Jó diz, ele “...bebe a iniqüidade
como água!”[15;16]
Nós lemos que “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura;
e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”[I Co 2:14]. Nós estamos perdidos
quanto a entender como alguém pode entender, tem uma vista plena desta passagem da Bíblia e ainda
assim enfrentar a doutrina da capacidade humana. O homem em seu estado natural não pode ao menos
ver o reino de Deus, muito menos adentrar nele. Uma pessoa inculta pode olhar para uma linda obra de
arte como um mero objeto, sem contudo poder apreciar a sua excelência. Ele pode ver figuras numa
equação matemática complexa, mas estas figuras terão nenhum significado para ele. Cavalos e bois
podem são capazes de enxergar o mesmo maravilhoso por do sol, ou qualquer outro fenômeno da
natureza que o homem vê, mas no entanto são cegos quanto à beleza artística dos mesmos. Assim é
quando o Evangelho da cruz é apresentado para aquela pessoa ainda não resgatada. Ela pode ter um
conhecimento intelectual dos fatos e das doutrinas da Bíblia, mas não terá todo o discernimento
espiritual da excelência daqueles fatos e doutrinas, e não encontrará nenhum contentamento ou alegria
neles. O mesmo Cristo é, para alguns, sem a forma ou a beleza e santidade para que O desejassem; para
outros, Ele é o Príncipe da vida e o Salvador do mundo, Deus manifesto na carne, a quem é impossível
não adorar, amar e obedecer.
Esta depravação total (incapacidade total), contudo, advém não meramente de uma natureza moral
pervertida, mas também da ignorância. Paulo escreveu que os gentios “...que não mais andeis como
também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento,
alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,”[Efésios
4:17,18]. E antes disso, havia escrito, “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem,
mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”[I Coríntios 1:18]. Quando ele escreveu das coisas que
“...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem
preparado para aqueles que o amam.” ele fez referência, não às glórias do estado celestial como
comumente suposto, mas às realidades espirituais nesta vida, as quais não podem ser vistas por uma
mente ainda não resgatada, como é plenamente apresentado no verso seguinte: “Mas Deus no-lo revelou
pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” [I
Coríntios 2:9,10]. Numa ocasião Jesus disse, “...Ninguém conhece o filho, senão o Pai; e ninguém
conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o filho o quiser revelar.”[Mateus 11:27]. Neste versículo
nós somos plenamente advertidos que o homem em sua natureza não resgatada, não iluminada, não
conhece a Deus em nenhum sentido que valha o nome, e que o Filho é soberano para escolher quem
deverá adentrar a este salvador conhecimento de Deus.
O homem caído tem falta do poder espiritual do discernimento. Sua razão ou compreensão é cega, e o
gosto e sentidos são pervertidos. E desde que este estado de memória é inato, como uma condição da
natureza do homem, está além do poder da vontade de muda-lo. Antes, controla ambos, as afeições e as
vontades. O efeito da regeneração é claramente ensinado na divina comissão que Paulo recebeu quando
de sua conversão, momento em que a ele foi dito que ele estaria sendo enviado aos gentios “para lhe
abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus,...”[Atos
26:18]
Jesus ensinou a mesma verdade sob um figuração diferente, quando ele disse aos Fariseus, “Qual a razão
por que não compreendeis a minha linguagem? È porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós
sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. ...”[João 8:43,44]. Eles não podiam
compreender, nem mesmo ouvir as Suas palavras em qualquer maneira inteligente. Para eles, as Suas
palavras eram somente tolices, loucuras; e eles O acusaram de estar possuído pelo demônio (vv 48, 52).
Somente os Seus discípulos podiam saber a verdade (vv 31,32); os fariseus eram crianças do Diabo (vv
42,44) e conservos do pecado (v 34), embora pensassem ser livres (v 33).
Em outra ocasião, Jesus ensinou que uma árvore boa não poderia dar frutos ruins, nem tampouco uma
árvore ruim poderia dar frutos bons. E que nesta similaridade árvores representam homens bons e maus,
o que significa senão que uma classe de homens é governada por um conjunto de princípios básico,
enquanto outra classe é governada por outro conjunto? Os frutos desses dois tipos de árvores são os atos,
palavras, pensamentos dos quais, se bons, procedem de uma boa natureza, enquanto que se ruins
procedem de uma natureza má. É impossível, então, proceder da mesma raiz frutos de diferentes tipos. E
é assim que negamos no homem a existência de um poder que possa agir de qualquer uma das formas,
no terreno lógico que ambos, virtude e vício não podem proceder da mesma condição moral do agente. E
afirmamos que as ações humanas que referem-se a Deus procedem tanto de uma condição moral que
necessariamente produz boas ações como de uma condição moral a qual produz necessariamente ações
más.
Na Epístola de Paulo aos Efésios, ele assim declara. Antes da manifestação do Espírito de Deus, cada
alma jaz morda em transgressões e pecados. Agora, será com certeza admitido que estar morto, e estar
morto no pecado, é evidência clara e positiva de que não há nem atitude nem poder suficientes para a
realização de nenhuma ação espiritual. Se um homem estivesse morto, no sentido físico e natural, estaria
imediatamente claro que não haveria qualquer possibilidade de tal homem ser capaz de performar
quaisquer ações físicas. Um cadáver não pode agir de qualquer forma que seja, e se alguém dissesse o
contrário, seria tomado como estando fora de si. Se um homem está morto espiritualmente, portanto, é
certo e igualmente evidente que ele não é capaz de performar quaisquer ações espirituais, e destarte a
doutrina da incapacidade moral do homem baseia-se em forte evidência Bíblica.” 3
“No princípio de que nenhuma coisa pura não pode proceder do que é impuro [Jó 14:4], todos que são
nascidos de mulher são declarados serem ‘abomináveis e corruptos’, aos quais somente a natureza iníqua
é atrativa [Jó 15:14-16]. De igual forma, para tornarem-se pecadores, os homens não esperam até a idade
da razão. Antes, eles são apóstatas desde o útero, e logo que nascem desviam-se, proferindo mentiras
[Salmo 58:3]; são até mesmo moldados em iniqüidade, e concebidos em pecado [Salmo 51:5]. A
propensão de seus corações é para o mal desde a sua infância [Gênesis 8:21], e é do coração que todas as
fontes da vida procedem [Provérbios 4:23, 20:11]. Atos de pecado são portanto a expressão do coração
natural, o qual é enganoso mais que todas as coisas e excedentemente corrupto [Jeremias 17:9].” 4
Ezequiel apresenta a mesma verdade em linguagem gráfica, e nos dá o quadro do bebê indefeso que
estava ainda banhado em seu próprio sangue e deixado para morrer, mas que o Senhor graciosamente
encontrou e cuidou dele [capítulo16].
Esta doutrina do pecado original supõe que os homens caídos têm o mesmo tipo e o mesmo grau de
liberdade para pecar sob a influência de uma natureza corrupta, como a têm o Diabo e os demônios; ou
que os santos anjos têm para agir corretamente sob a influência de uma natureza santa. Quer dizer,
homens e anjos agem conforme a suas naturezas. Como os santos e os anjos são confirmados em
santidade, -- ou seja, possuídos por uma natureza que é completamente inclinada à retidão e aversa ao
pecado, -- também a natureza do homem caído e de demônios é tal que eles não são capazes de um único
ato com motivos justos para de Deus. Daí a necessidade de que Deus soberanamente mude o caráter da
pessoa, em regeneração.
A cerimônia de circuncisão do bebê recém nascido de acordo com o Velho Testamento, e a da
purificação da mãe, foram concebidas para ensinar que o homem vem ao mundo em pecado desde que a
natureza do homem é corrupta na própria origem. Paulo escreveu esta verdade em uma outra e, se
possível, ainda mais forte em II Coríntios 4:3,4: “[3] Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, é
naqueles que se perdem que está encoberto, [4] nos quais o deus deste século {pelo qual ele refere-se ao
Diabo} cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da
glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” Resumindo, então, os homens caídos, sem a intervenção
do Espírito de Deus, estão sob o governo de satã. São por ele levados cativos, à sua vontade [II Timóteo
2:26]. Então, enquanto este “valente, totalmente armado” não for molestado pelo que é “mais forte que
ele” ele mantém seu reino em paz e seus cativos prontamente o obedecem. Mas quando o “mais forte que
ele” o derrotou, arrancou a sua armadura, e libertou uma parte dos seus cativos [Lucas 11:21, 22]. Agora
Deus exerce o direito de libertar aqueles que Ele deseja; e todos Cristãos nascidos de novo são pecadores
resgatados daquele reino.
A Bíblia declara que o homem caído é cativo, um escravo do pecado, e completamente incapaz de livrarse da servidão e da corrupção. Ele é incapaz de entender, e muito menos de fazer, as coisas de Deus. Há
o que pode ser chamado de “a liberdade da escravidão”, --um estado no qual o cativo é livre somente
para fazer a vontade de seu mestre, neste caso o pecado. Foi a isso que Jesus se referiu quando disse,
“...todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.”[João 8:34]
E sendo tal a profundeza da corrupção do homem, é completamente além de suas próprias forças livrarse dela. Sua única esperança de uma mudança de vida está portanto em uma mudança de coração,
mudança esta que lhe é oferecida pelo poder soberano e re-criador do Espírito Santo, que opera quando e
onde e como Lhe apraz. Da mesma forma que alguém pode tentar bombear água para fora de um barco
que afunda, sem contudo reparar o furo por onde entra a água, assim também regenerar um pecador sem
a mudança interior. Ou então, a um Etíope seria possível mudar sua pele, ou o leopardo suas pintas, se a
quem está acostumado a fazer o mal corrigir os seus próprios caminhos. Esta transferência da morte
espiritual para a vida espiritual chamamos “regeneração”. A ela a Bíblia se refere com vários termos:
“regeneração”, “vivificação”, “chamado das trevas para a luz”, “renovação”, “trocar um coração de
pedra por um coração de carne”, etc., operações estas que são exclusivamente obras do Espírito Santo.
Como resultado de tal mudança, o homem passa a enxergar a verdade e alegremente a aceita. Seus
instintos e impulsos íntimos são transferidos para o lado da lei, obediência à qual passa a ser a expressão
espontânea de sua natureza. É dito que a Regeneração é operada por aquele mesmo poder sobrenatural
que Deus operou em Cristo quanto O ressuscitou de entre os mortos [Efésios 1:18-20]. O homem não
possui o poder para sua própria regeneração, e até que ocorra aquela mudança interior, ele não pode ser
convencido da verdade do Evangelho por qualquer tipo de testemunho, de exemplo externo. “Se não
ouvirem a Moisés e os profetas, não serão persuadidos se alguém levantar de entre os mortos.”
3. OS DEVEITOS NAS VIRTUDES COMUNS DO HOMEM
O homem não regenerado pode, através de graça comum, amar a sua família, bem como ser um bom
cidadão. Ele pode doar um milhão de dólares para a construção de um hospital, mas não é capaz de dar
nem mesmo um copo d’água a um discípulo no nome de Jesus. Se alcoólatra, ele pode abster-se da
bebida por propósitos altruístas, mas não pode faze-lo como resultado de amor a Deus. Todas as suas
virtudes comuns ou boas obras têm um defeito fatal no qual seus motivos, que o motivam a faze-las, não
são para glorificar a Deus, -- um defeito tão vital que atira às sombras qualquer elemento de bondade do
homem. Não importa quão boas as obras possam ser em si mesmas, pois desde que o que as faz não
esteja em harmonia com Deus, nenhuma delas são espiritualmente aceitáveis. Além do mais, as boas
obras do não regenerado não tem fundações estáveis, pois sua natureza ainda não foi mudada: e tão
natural e certo quanto a porca lavada volta a revolver-se na lama, ele cedo ou tarde retornará aos seus
maus caminhos.
Na esfera moral, é regra que a moralidade do homem deve preceder a moralidade da ação. Alguém pode
falar em línguas de homens e de anjos; ainda assim se ele não tiver o princípio interior de amor para com
Deus, ele será como um címbalo, ou como o tocar de um sino. Ele poderá doar todos os seus bens para
os pobres, e poderá dar o seu próprio corpo para ser queimado; porém se a ele faltar aquele princípio
interior, não se lhe resultará em nada. Como seres humanos nós sabemos que uma ação rendida a nós
(qualquer que sejam os motivos altruístas) por alguém que no coração seja nosso inimigo, não merece
nosso amor aprovação. A explicação para o testemunho Bíblico de que “Sem fé é impossível agradar a
Deus” é esta, que a fé é a fundação, o alicerce de todas as demais virtudes, e nada é aceitável para Deus
se não fluir dos sentimentos certos.
Um ato moral deve ser julgado pelo padrão de amor a Deus, amor que é, como se fosse, a alma de todas
as demais virtudes, e o qual é derramado sobre nós somente por intermédio da graça. Agostinho não
negou a existência de outras virtudes, tais como moderação, honestidade, generosidade, que constituem
um certo mérito entre os homens; mas ele traçou uma linha de separação entre estas e as graças Cristãs
específicas (fé, amor e gratidão a Deus, etc.), as quais somente são boas no sentido estrito da palavra, e
as quais somente têm valor perante Deus. Esta distinção é plenamente ilustrada num exemplo dado por
W. D. Smith. Diz ele: “Num bando de piratas podemos encontrar muitas coisas que em si mesmas são
boas. Embora eles estejam em rebelião feroz contra as leis do governo, eles têm suas próprias leis e
regras, às quais obedecem estritamente. Encontramos entre eles coragem e fidelidade, com muitas outras
coisas que os recomendará como piratas. Eles também são capazes de fazer muitas coisas, que as leis do
governo exigem, mas elas não são feitas porque o governo as exigiu, mas em obediência às suas próprias
leis. Por exemplo, o governo requer honestidade e eles podem ser estritamente honestos, uns para com os
outros, em suas transações e na divisão de qualquer espólio. Mesmo assim, com relação ao governo e ao
princípio geral, sua vida toda é exemplo da mais feroz desonestidade. Agora, é certo, que enquanto eles
continuam em sua rebelião, não podem fazer nada que os recomende ao governo como cidadãos. Seu
primeiro passo deve ser desistir da rebelião, reconhecer sua obediência ao governo e procurar por
misericórdia. Então todos os homens, no seu estado natural, são rebeldes contra Deus, e mesmo que eles
possam fazer muitas coisas que a lei de Deus exige, e as quais os recomendará como homens, ainda nada
é feito, com referência a Deus e à Sua lei. Ao contrário, as regras da sociedade, respeito pela opinião
pública, interesse próprio, seu próprio caráter à vista do mundo, ou algum outro motivo sórdido ou
mundano, reinam supremamente; e Deus, a quem eles devem seus corações e suas vidas, é esquecido;
ou, se porventura pensam nEle, os Seus mandamentos são perfidamente rejeitados, Seus conselhos
desprezados, e o coração, obstinadamente rebelde, rejeita obedece-LO. Mas é certo que enquanto o
coração continua neste estado o homem é um rebelde contra Deus, e pode fazer nada que o recomende
para o Seu favor. O primeiro passo é desistir da rebelião, arrepender-se dos seus pecados, voltar-se para
Deus e suplicar por perdão e reconciliação através do Salvador. Por si mesmo o homem não está
preparado para fazer tudo isto, até que ele seja mudado. Ele ama os seus pecados, e continuará a amá-los,
até que o seu coração seja mudado.”
As boas ações dos homens não regenerados, continua Smith, “não são por si mesmas positivamente
pecaminosas, mas pecaminosas por defeito. Falta-lhes o princípio, que somente pode faze-las corretas à
vista de Deus. No caso dos piratas é fácil ver que todas as suas ações são faltas contra o governo.
Enquanto continuarem piratas, suas navegações, reparos e suprimentos do navio e mesmo seu comer e
beber, são todos crimes aos olhos do governo, como são também meros expedientes que os capacita a
seguir adiante em sua carreira de pirataria, e são partes de sua vida de rebelião. Assim também com
pecadores. Enquanto seus corações estiverem errados, denigrem tudo à vista de Deus, mesmo suas mais
ordinárias ocupações; pelo que é certo, a inequívoca linguagem de Deus diz, ‘... tal lâmpada dos ímpios é
pecado.’[Provérbos 21:4]”. 5
É esta a incapacidade que as Escrituras ensinam quando declaram que “e os que estão na carne não
podem agradar a Deus”[Romanos 8:8]; “...e tudo o que não provém da fé é pecado.”[Romanos 14:23] e
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus...”[Hebreus 11:6]. Portanto mesmo as virtudes do homem não
regenerado nada são senão como flores murchas. Foi por causa disso que Jesus disse aos Seus discípulos,
“Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis
no reino dos céus.”[Mateus 5:20]. E porque as virtudes do homem não regenerado são de sua própria
natureza, elas são consequentemente temporárias. Aquele que as possui é como a semente que cai em
solo pedregoso, que talvez germine prometendo boa safra, mas logo seca ao sol porque não tem raiz.
Acrescente-se também o que foi dito que a salvação é SOMENTE E ABSOLUTAMENTE FRUTO DA
GRAÇA, -- que Deus é livre, em consistência com as infinitas perfeições da Sua natureza, para salvar
nenhum, uns poucos ou todos, conforme o soberano bel prazer da sua vontade. Também acrescente-se
que a salvação não é baseada em nenhum mérito da criatura, e que depende de Deus, e não de homens,
que terão e que não terão a vida eterna. Deus age como soberano quando salva alguns e quando deixa
que outros recebam a justa recompensa pelos seus pecados. Pecadores são comparados a homens mortos,
ou mesmo a ossos secos em sua total falta de defesa. Nesta maneira são todos iguais. A escolha de
alguns para a vida eterna é algo tão soberano quanto foi o fato de Cristo haver passado por um cemitério
e levantado alguns e deixando outros; a razão para restaurar um à vida enquanto outro é deixado na
tumba pode ser encontrada somente em Sua santa vontade, e não nos mortos. Assim é que o
mandamento de que somos pré ordenados de acordo com o bel prazer da Sua vontade, e não conforme as
nossas próprias boas ações; e de forma que possamos ser santos, não porque somos santos [Efésios 1:41]
“como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante
dele em amor;”. “Desde que todos os homens igualmente mereceram somente a ira de Deus e renegaram
a dádiva de o Seu único Filho ter morrido no lugar de malfeitores, como a única maneira possível de
expiar as suas culpas, a mais estupenda exibição de favor imerecido e amor pessoal que o universo
jamais testemunhou.” 6
4. A QUEDA DO HOMEM
A queda da raça humana num estado de pecado e miséria é a base e a fundação do sistema da redenção
que é mostrado nas Escrituras, assim como também é a base do sistema que ensinamos. Somente os
Calvinistas parecem levar realmente a sério a doutrina da queda. Ainda assim, a Bíblia desde o início até
o fim declara que o homem está arruinado – totalmente arruinado – que ele está num estado de culpa e
depravação do qual ele é totalmente incapaz de livrar-se, e que Deus pode em justiça ter deixado-o a
perecer. No Velho Testamento a narrativa da queda é encontrada no terceiro capítulo de Gênesis;
enquanto que no Novo Testamento referências diretas são feitas a ela em Romanos 5:12-21; I Coríntios
15:22; II Coríntios 11:3; I Timóteo2:13,14 e etc. Embora o Novo Testamento enfatize literalmente não o
fato histórico da queda do homem, mas o fato ético que o homem está caído. Os escritores do Novo
Testamento interpretaram a queda literalmente e nela basearam a sua teologia. Para Paulo Adão foi tão
real como Cristo, a queda tão real quanto a expiação. Pode ser dito que os apóstolos estavam errados,
mas não pode negar-se que esta era a sua opinião.
O Dr A.A. Hodge nos deu uma ótima apresentação da doutrina da queda, o qual teremos o privilégio de
parafrasear: --“Do mesmo modo como uma provação justa não poderia, na natureza do caso, ser dada a
cada novo membro em pessoa, quando vem ao mundo como um bebê ainda não desenvolvido, Deus,
como guardião da raça (humana) e para o melhor do seu interesse, deu a todos os seus membros um
julgamento na pessoa de Adão, sob as circunstâncias mais favoráveis – fazendo o para aquela mesma
finalidade o representante e substituto pessoal de cada um dos seus descendentes naturais. Ele fez com
ele um pacto de obras e de vida, ou seja, Ele deu a ele para si próprio, e no nome de todos os que ele
representava, uma promessa de vida eterna, condicionada à perfeita obediência, quer dizer, a obras. A
obediência demandada era um teste específico por um período temporário, período o qual deveria
terminar, seja pela recompensa devida à obediência, ou a morte como conseqüência da desobediência. A
‘recompensa’ prometida era a vida eterna, que era uma graça incluindo muito mais do que havia sido
originalmente pactuado com Adão em sua criação, uma dádiva que teria elevado a raça humana a uma
condição de gozo e de santidade inquestionável para sempre. O ‘castigo’ ameaçado e executado era a
morte; ‘...; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.’[Gênesis 2:17]. A natureza da
morte ameaçada neste versículo pode ser determinada somente a partir de uma consideração de tudo o
que estava envolvido na maldição realmente imposta. Isto nós sabemos haver sido incluído no instante
em que foram retirados o favor divino e a intercomunicação espiritual dos quais a vida do homem
dependia. Daí a alienação e a maldição imposta por Deus; o senso de culpa e a corrupção da natureza,
conseqüentes transgressões reais, as misérias da vida, a dissolução do corpo, as dores do inferno.” 7
As conseqüências do pecado de Adão estão todas compreendidas sob o termo morte, no seu sentido mais
amplo. Paulo nos dá o mandamento sumário de que “... o salário do pecado é a morte”[Romanos 6:23].
O peso total da morte que foi imposta a Adão somente pode ser vislumbrado em se considerando todas
as conseqüências terríveis que o homem tem desde a queda. Primeiramente foi a morte espiritual, ou a
eterna separação de Deus, a qual foi imposta; e a morte física, ou a morte do corpo, que é um dos
primeiros frutos e conseqüência relativamente sem importância daquele castigo maior. Adão não morreu
fisicamente até 930 anos após a queda, mas ele morreu sim, espiritualmente, no mesmo instante em que
ele caiu no pecado. Ele morreu simplesmente como um peixe morre quando tirado da água, ou como
uma planta morre quando é arrancada do solo.
“Em geral nós abraçamos uma idéia muito errada de como Adão caiu .... Adão não foi tentado por Satã
de uma forma direta .... Eva foi tentada por Satã, que a enganou e a fez cair. Mas nós temos evidência
inspirada provando que Adão não foi enganado [I Timóteo 2:14]“E Adão não foi enganado, mas a
mulher, sendo enganada, caiu em transgressão;”. Ele foi pego não pelas vontades de Satã, mas o que ele
fez, ele o fez de livre, espontânea e deliberada vontade. E a consciência do que ele estava fazendo, com
uma perfeita compreensão das solenes conseqüências envolvidas, ele deliberadamente escolheu seguir a
sua mulher no seu ato de desobediência pecaminosa. Foi a vontade deliberada do pecado do homem que
constituiu o seu caráter hediondo. Tivesse ele sido atacado por Satã, e forçado a render-se como
resultado de um poder avassalador ser imposto contra ele, nós poderíamos tentar encontrar alguma
desculpa para a sua queda. Mas quando, com os olhos bem abertos, e com a mente perfeita e
inteiramente ciente da terrível natureza do seu ato, ele usou o seu livre arbítrio para responder ao clamor
da natureza em desafio ao Criador, nenhuma desculpa ele poderia dar para a sua queda. Seu ato, na
realidade, foi deliberado, rebelião desafiadora, e com isto ele abertamente transferiu a sua lealdade de
Deus para Satã.” 8
E não houvesse havido uma queda – uma queda aterradora? Quanto mais nós estudamos a natureza
humana como é manifesta no mundo ao nosso redor, mais fácil nos é crer nesta grande doutrina do
pecado original. Considere o mundo como um todo, cheio como está de assassinatos, roubos, bebedeiras,
guerras, lares destruídos, e crimes de toda a espécie. As milhares de formas geniais que o crime e o vício
assumiram nas mãos de praticantes contumazes são todos peças que nos contam uma estória
aterrorizante. Uma grande porção da raça humana hoje em dia, assim como nas eras passadas, é
abandonada para viver e morrer na escuridão do paganismo, sem esperanças desviados de Deus. O
modernismo e negação de todo tipo são incontroláveis atém mesmo na Igreja. Mesmo a assim chamada
imprensa religiosa, está fortemente tingida com descrença. Observe a aversão generalizada à oração, ao
estudo da Bíblia, ou a falar de assuntos espirituais. Não é o homem agora, como seu progenitor Adão,
fugindo da presença de Deus, não querendo comunicar-se com Ele, e com inimizade em seu coração,
para com o seu Criador? Certamente a natureza humana é radicalmente errada. Os jornais diários nos dão
conta de eventos, mesmo numa terra abençoada como a América, mostrando que o homem é pecador,
está perdido de Deus, e é norteado por princípios que não são santos. E a única e adequada explicação
para tudo isso é o castigo da morte, que foi alertado ao homem antes da queda; e agora encontra-se na
raça humana.
Nós vivemos num mundo perdido, um mundo que se deixado à sua própria vontade, degeneraria em sua
própria corrupção de eternidade a eternidade, -- um mundo recendendo a iniqüidade e blasfêmia. Os
efeitos da queda são tais que a vontade própria do homem tende somente afundar mais e mais no pecado
e na lascívia. De fato, Deus não permite que a raça humana venha a tornar-se tão corrupta o quanto
naturalmente seria se deixada à sua própria vontade. Ele põe em prática influências que restringem,
incitando os homens a amarem-se uns aos outros, a serem honestos, filantrópicos; e a preocuparem-se
com o bem estar de cada um. Se Deus assim não fizesse, se Ele não exercitasse essas influências, os
homens perniciosos se tornariam piores e piores, sobrepassando convenções e barreiras sociais, até que o
zênite da impunidade e da falta de lei e de ordem fosse alcançado, e a terra se tornasse então tão
inteiramente corrupta que os eleitos não mais poderiam nela viver.
5. O PRINCÍPIO DA REPRESENTATIVIDADE
É fácil entender como uma pessoa pode agir através de um representante. O povo de um estado age
através dos parlamentares que os representam na Legislatura. Se um país tem um bom presidente ou rei,
todo o povo partilhará os bons resultados de sua administração; se por outro lado tiver um mau
presidente ou rei, todos sofrerão as conseqüências. Num sentido muito real, pais atuam como
representantes, e num sentido mais amplo, decidem os destinos dos seus filhos. Se os pais forem sábios,
virtuosos, bons administradores do orçamento doméstico, as crianças colhem as bênçãos; mas se eles
forem indolentes e imorais as crianças sofre. De mil maneiras diferentes o bem estar de indivíduos está
condicionado aos atos e atitudes de outros, tão íntimo é o princípio da representatividade na nossa vida
humana. Assim, uma vez que na doutrina da Bíblia Adão era o cabeça oficial e representante do seu
povo, temos somente a aplicação de um princípio que vemos ativo em todos nós.
O Dr. Charles Hodge tratou o assunto com grande habilidade, na seguinte seção: -“O princípio da representatividade permeia toda a Bíblia. A imputação do pecado de Adão à posteridade
não é um fato isolado. É somente uma ilustração de um princípio geral que caracteriza as dispensações
de Deus deste o princípio do mundo. Deus declarou-Se a Si mesmo a Moisés, como o que visita a
iniqüidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta gerações {veja em Êxodo
34:6,7}....... A maldição proferida em Canaã caiu sobre a sua prosperidade. O fato de Esaú haver
vendido sua primogenitura, tirou a sua descendência do pacto da promessa. Os filhos de Moabe e de
Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre, porque seus ancestrais se opuseram aos
Israelitas quando eles saíram do Egito. No caso de Datã e de Abirão, como no de Acã, ‘suas esposas, e
seus filhos, e seus pequeninos pereceram pelos pecados dos seus pais.’ Deus disse a Eli, que a iniqüidade
da sua casa não deveria ser purgada para sempre com sacrifícios e oferendas. Para Davi foi dito, ‘Agora,
pois, a espada jamais se apartará da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o
heteu, para ser tua mulher.’[II Samuel 12:10]. Para o desobediente Geazi foi dito: "Portanto a lepra de
Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre."[II Reis 5:27]. A sina de Jeroboão e dos homens
da sua geração determinaram o destino das dez tribos para sempre. A imprecação dos Judeus quando
demandaram a crucificação de Cristo, ‘...O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.’[Mateus,
27:25], ainda pesa sobre o povo disperso de Israel ..... Este princípio corre através das Escrituras.
Quando Deus pactuou com Abraão, não foi somente para ele mesmo, mas também para a sua
posteridade. Ele tornaram-se ligados a todas as estipulações do pacto. Eles compartilharam das
promessas e dos alertas de castigo, e em centenas de casos o castigo da desobediência veio sobre aqueles
que nem tinham parte pessoal nas transgressões. Crianças sofreram igualmente com adultos nos
julgamentos. Fosse fome, peste, ou guerra, que viesse sobre o povo em conseqüência dos seus pecados
..... E os Judeus até hoje estão sofrendo o castigo pelos pecados dos seus pais, pela rejeição dAquele
sobre quem Moisés e os profetas falaram. O plano inteiro da rejeição baseia-se neste mesmo princípio.
Cristo é o representante do Seu povo, e nestas bases os seus pecados são imputados nEle e a Sua retidão
para eles ..... Nenhum homem que creia na Bíblia pode fechar seus olhos ao fato de que ela em todos
os lugares reconhece o caráter representativo dos pais, e que as dispensações de Deus têm desde o
começo sido encontradas no princípio de que as crianças sofrem pela iniqüidade dos seus pais. Esta é
uma das razões que os infiéis assinalam ao rejeitar a origem divina das Escrituras. Mas a infidelidade
não proporciona alívio. A história está tão cheia desta doutrina como está a Bíblia. O castigo do perverso
também envolve sua família na desgraça e na miséria. O perdulário e o alcoólatra trazem a pobreza e a
miséria sobre todos os que são conectados consigo. Não há nenhuma nação da terra hoje, cujas
condições de prosperidade ou de miséria não sejam em muito determinadas pela conduta dos seus
ancestrais .... A idéia da transferência de culpa ou de castigo vicário encontra-se verdadeiramente na
base de todas as ofertas expiatórias do Velho Testamento, e da grande expiação sob a nova dispensação.
Pecar, conforme a linguagem Bíblica, e carregar o castigo do pecado. A vítima (o animal sacrificado)
carregava em si o pecado daquele que oferecia o sacrifício. Mãos eram impostas sobre a cabeça do
animal antes do abate, para expressar a transferência de culpa. O animal devia ser livre de qualquer
defeito, de modo a ser mais aparente que o seu sangue era vertido não por suas próprias deficiências, mas
pelo pecado de outrem. Tudo isso era típico e simbólico .... E é isto que as Escrituras ensinam com
relação à expiação de Cristo. Ele levou sobre si os nossos pecados; Ele foi feito maldição por nós; Ele
sofreu o castigo da lei em nosso lugar. Tudo isto procede, faz sentido, tem valor no terreno em que os
pecados de um homem podem ser justamente, em casos adequados, imputados a outro.” 9
As Escrituras nos dizem que, “...pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos
pecadores,...”[Romanos 5:19], “...por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”[Romanos 5:12], “...assim
como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, ...”[Romanos 5:18]. É
como se Deus tivesse dito: Se o pecado entrar, deixemos que entre somente por um homem, de modo
que a retidão também possa entrar por um homem.
Adão foi feito não somente o pai, mas também o representante de toda a raça humana. E se nós
compreendermos corretamente a estreiteza da relação entre ele e eles nós entenderíamos finalmente a
justiça da transmissão do seu pecado a eles. O pecado de Adão é imputado aos seus descendentes na
mesma maneira que a retidão de Cristo é imputada àqueles que crêem nEle. Os descendentes de Adão
são, é claro, não mais pessoalmente culpados pelo pecado dele do que os remidos por Cristo são
pessoalmente merecedores da Sua retidão.
Sofrimento e morte são declarados serem a conseqüência do pecado, e a razão porque todos estão mortos
é que “todos pecaram”. Agora sabemos que muitos sofrem e morrem na infância, antes que tenham
cometido qualquer pecado. A lógica diz então que ou Deus é injusto em castigar o inocente, ou que
aquelas crianças são de alguma forma criaturas culpadas. E se culpadas, como teriam pecado? É
impossível explicar tal fato por qualquer outra suposição que não seja a que elas (as crianças) pecaram
em Adão (I Coríntios 15:22; Romanos 5:12, 18); e não poderiam haver pecado em Adão, a não ser pela
representatividade.
Mas enquanto nós não somos pessoalmente culpados do pecado de Adão, nós somos, não obstante,
passíveis de castigo por ele. “A culpa pelo pecado público de Adão,” diz o Dr A.A. Hodge, “é por um
ato judicial de Deus imediatamente debitada na conta de cada um dos seus descendentes a partir do
momento em que eles passam a existir, e antecedentemente a qualquer um dos seus próprios atos. Já que
todos os homens vêm ao mundo privados de todas aquelas influências do Espírito Santo, das quais
dependm a sua vida moral e espiritual dependem .... e com uma tendência anterior para o pecado
prevalecendo na natureza deles; tendência a qual é ela mesma da natureza do pecado, e portanto passível
de castigo. A natureza humana desde a queda mantém suas faculdades constitucionais de razão,
consciência e livre arbítrio, e assim o homem continua a ser um agente moral responsável. Ainda assim
ele está espiritualmente morto, e totalmente avesso e incapaz de livrar-se de qualquer desses pesos que
impedem o seu relacionamento com Deus, e totalmente incapaz de mudar suas próprias e maléficas
disposições ou tendências morais inatas, ou dispor-se a tal empreendimento, ou cooperar com o Espírito
Santo na efetivação de tal mudança.” 10
E para o mesmo efeito geral, o Dr. R. L. Dabney, o renomado teólogo da Igreja Presbiteriana do Sul, diz,
“A explicação apresentada pela doutrina da imputação é demandada por todos exceto os Pelaginaos e
Socinianos. O ser humano é uma raça espiritualmente morta e condenada. Veja Efésios 2:1-5 e
seguintes. Ele obviamente está sob uma maldição de alguma espécie, desde o início de sua vida.
Testemunha a depravação nativa das crianças, e sua herança de miséria e de morte. Agora, ou o homem
foi julgado e caiu em Adão, ou ele foi condenado sem um julgamento. Ou ele está sob a maldição (como
ela permanece nele desde o início da sua existência) pela culpa de Adão, ou por nenhuma culpa que seja.
Juiz que é honorável a Deus, uma doutrina que, embora mistério profundo, representa-O como
concedendo ao homem uma provação justa e mais favorável sobre sua cabeça; ou que faz com Deus
condene o homem sem julgamento, e mesmo antes que ele venha a existir.” 11
6. A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS
Uma pesquisa sobre a queda e os seus desdobramentos é um trabalho humiliante. Prova ao homem que
todas as suas alegações de bondade são infundadas, e mostra-lhe que sua única esperança está na
soberana graça de Deus Todo-Poderoso. A “graciosamente restaurada habilidade” de que os Arminianos
falam não é consistente com os fatos. As Sagradas Escrituras, a história e a experiência Cristã se
nenhuma forma avalizam tal como sendo uma visão favorável da condição moral do homem como o
sistema Arminiano ensina. Ao contrário, cada um deles nos proporciona um quadro pessimista de uma
corrupção horrível e de uma inclinação universal para o mal, a qual somente pode ser ultrapassada pela
intervenção da divina graça. O sistema Calvinista ensina uma queda muito mais profunda no pecado e
uma muito mais gloriosa manifestação da graça redentora. Dessas profundezas o Cristão é levado a
desprezar-se a si mesmo, largando-se incondicionalmente nos braços de Deus, e permanecer na graça
imerecida, somente a qual pode salva-lo.
Nós deveríamos ver a piedade de Deus e também a Sua severidade nas esferas espiritual e física. Em
toda a Bíblia, e especialmente nas palavras do próprio Cristo, os tormentos finais dos maus são descritas
de tal maneiras a mostrar-nos que são indescritivelmente horríveis. No Evangelho de Mateus somente,
vemos nas passagens 5:29,30; 7:19; 10:28; 11:21-24; 13:30,41,42,49,50; 18:8,9,34; 21:41; 24:51;
25:12,30,41; e 26:24. Certamente uma doutrina que recebeu tal ênfase dos lábios de Cristo, Ele mesmo,
não pode passar em silêncio, embora tão desagradável que possa ser. No próximo mundo os perversos,
com todas as barreiras removidas, mergulharão de cabeça no pecado, na blasfêmia e nas ofensas a Deus,
piorando e piorando enquanto afundam cada vez mais no buraco. Castigo sem fim é a recompensa de
pecado sem fim. Mais ainda, a glória de Deus é tanta enquanto Ele castiga o perverso, como é quando
Ele recompensa o justo. Muito da negligente indiferença para com o Cristianismo nos nossos dias é
devida à falha dos ministros Cristãos em enfatizar estas doutrinas que Cristo ensinou tão repeditamente.
No âmbito físico nós vemos a severidade de Deus em guerras, fome, enchentes, desastres, doenças,
sofrimentos, mortes, e crimes de toda espécie que avassalam tanto justos como injustos da mesma forma.
Tudo isso existe num mundo que está sob o completo controle de Deus, que é infinito nas Suas
perfeições.
“Considera pois a bondade e a severidade de Deus...”[Romanos 11:22]. O Naturalismo não faz justiça a
nenhum desses. O Arminianismo magnifica o primeiro mas nega o segundo. O Calvinismo é o único
sistema que faz justiça a ambos. Somente este sistema adequadamente estabelece os fatos com relação ao
eterno e infinito amor de Deus, que O levou a propiciar redenção para o Seu povo, mesmo com o grande
custo de mandar o Seu Filho unigênito para morrer numa cruz; e também com relação ao terrível abismo
que existe entre o homem pecador e o Deus santo. É verdade que “Deus é Amor”, mas juntamente com
esta verdade também há que ser colocada outra, que “...o nosso Deus é um fogo consumidor”[Hebreus
12:29]. Qualquer sistema teológico que omita ou que não enfatize alguma dessas verdades será um
sistema mutilado, não importa o quão plausível ele possa soar aos homens.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) do homem é terrivelmente pesada, severa,
proibitiva. Mas deve ser lembrado que nós não temos a liberdade para desenvolver um sistema teológico
que satisfaça a nossa vontade. Devemos considerar os fatos como os encontramos. Tais exibições do
verdadeiro estado da raça humana são, é claro, geralmente ofensivas ao homem não regenerado, e muitos
têm tentado encontrar um sistema de doutrinas que seja mais agradável á mente popular. O estado do
homem caído é tal que ele prontamente dá ouvidos a qualquer teoria que faça-o mesmo que parcialmente
independente de Deus; ele deseja ser o mestre do seu destino e o capitão da sua alma. O estado de
perdição e de ruína do pecador precisa ser constantemente mostrado a ele; pois até que a ele seja feito
sentir tal estado, ele nunca buscará ajuda, onde somente tal ajuda pode ser encontrada. Pobre homem!
Verdadeiramente carnal e com a alma sob o jugo do pecado, não somente sem nenhum poder mas
também sem inclinação para mover-se na direção de Deus; e o que é ainda mais terrível, numa presunção
real, blasfemosamente rival do Grande Jeová.
Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), ou do Pecado Original, foi tratada com alguma
extensão, de maneira a estabelecer a base fundamental sobre a qual encontra-se a doutrina da
Predestinação. Este lado do quadro é negro, na realidade muito negro; mas o suplemento é a glória de
Deus na redenção. Cada uma dessas verdades deve ser vista na sua verdadeira luz, antes que a outra
possa ser verdadeira e adequadamente apreciada.
7. PROVAS NAS ESCRITURAS
I Coríntios 2:14 : “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
Gênesis 2:17 : “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em
que dela comeres, certamente morrerás.”
Romanos 5:12 : “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”
II Coríntios 1:9 : “portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos
em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;”
Efésios 2:1-3 : “[1] Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, [2] nos quais
outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que
agora opera nos filhos de desobediência, [3] entre os quais todos nós também antes andávamos nos
desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da
ira, como também os demais.”
Efésios 2:12 : “estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos
pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.”
Jeremias 13:23 : “pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas? então podereis também
vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal.”
Salmo 51:5 : “Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concedeu minha mãe.”
João 3:3 : “Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus.”
Romanos 3:10-12 : “[10] como está escrito: Não há justo, nem sequer um. [11] Não há quem entenda;
não há quem busque a Deus. [12] Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem
faça o bem, não há nem um só.”
Jó 14:4 : “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.”
I Coríntios 1:18 : “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que
somos salvos, é o poder de Deus.”
Atos 13:41 : “Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma obra em vossos
dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.”
Provérbios 30:12 : “Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada da sua imundícia.”
João 5:21 : “Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a
quem ele quer.”
João 6:53 : “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do
homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.”
João 8:19 : “Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem
a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.”
Mateus 11:25 : “Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.”
II Coríntios 5:17 : “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis
que tudo se fez novo.”
João 14:16 : “[16]E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para
sempre.[17] a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.”
João 3:19 : “E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz,
porque as suas obras eram más.”
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 11 Outubro 2002
A Doutrina Reformada da Predestinação
Loraine Boettner
Capítulo XII
Expiação Limitada
ENUNCIADO DA DOUTRINA
A questão que nós discutiremos sobre o assunto da "Expiação Limitada" é: Cristo ofereceu a Si mesmo como sacrifício por
toda raça humana, por cada indivíduo sem distinção ou exceção; ou Sua morte teve especial referência aos eleitos ? Em
outras palavras, foi o sacrifício de Cristo meramente tencionado a fazer a salvação de todos homens possível, ou ela foi
pretendida a fazer certa a salvação daqueles que foram dados a Ele pelo Pai ? Os Arminianos sustentam que Cristo morreu da
mesma forma por todos homens, enquanto que os Calvinistas sustentam que na intenção e no secreto plano de Deus, Cristo
morreu somente pelos eleitos, e que Sua morte tem somente uma referência incidental para os outros até que eles sejam
participantes da graça comum. O sentido pode ser mais salientado claramente se nós usarmos a frase "Redenção Limitada" ao
invés de "Expiação Limitada." A Expiação é, com certeza, estritamente uma transação infinita; a limitação vem,
teologicamente, na aplicação dos benefícios da expiação, que é na redenção. Mas desde que a frase "Expiação Limitada" tem
sido bem estabelecida no uso teológico e seu significado é bem conhecido, nós continuaremos usando-o.
Concernente esta doutrina a Confissão de Westminster diz: ". . . Os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão,
são redimidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo Seu Espírito, que opera no tempo devido; são
justificados, adotados, santificados, e guardados pelo Seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum
outro que seja redimido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado, e salvo." 1
Poderá ser entendido de imediato que esta doutrina necessariamente segue a doutrina da eleição. Se desde a eternidade Deus
tem planejado salvar uma porção da raça humana e não outra, parece ser uma contradição dizer que Sua obra [salvadora] tem
igual referência a ambas porções, ou que Ele enviou Seu Filho para morrer por aqueles que Ele tem predestinado não salvar,
como verdadeiramente e no mesmo sentido que Ele foi enviado para morrer por aqueles que Ele tem escolhido para salvação.
Essas duas doutrinas [eleição e expiação limitadas] devem permanecer ou cair juntamente. Nós não podemos logicamente
aceitar uma e rejeitar a outra. Se Deus tem eleito alguns e não outros para vida eterna, então claramente o propósito primário
da obra de Cristo foi redimir os eleitos.
O INFINITO VALO DA EXPIAÇÃO DE CRISTO
Esta doutrina não significa que qualquer limite pode ser ficado para o valor ou poder da expiação que Cristo fez. O valor da
expiação depende de, e é medida pela dignidade da pessoa que a fez; e desde que Cristo sofreu como uma pessoa humana e
Divina, o valor de Seu sofrimento foi infinito. Os escritores da Escritura nos contam claramente que o "Senhor da glória" foi
crucificado (1 Coríntios 2:8); que homens ímpios "mataram o Príncipe da vida" (Atos 3:15); e que Deus "comprou" a Igreja
"com Seu próprio sangue" (Atos 20:28). A expiação, então, foi infinitamente meritória e poderia ter salvo cada membro da
raça humana, tivesse este sido o plano de Deus. Ela foi limitada somente no sentido que ela foi intentada para, e é aplicada
para pessoas particulares; em outras palavras, para aqueles que são realmente salvos.
Alguns mal-entendidos ocasionalmente se levantam aqui, por causa da falsa suposição de que os Calvinistas ensinam que
Cristo sofreu tanto por uma alma, e tanto por outra, e que Ele deveria ter sofrido mais se mais almas tivessem sido salvas.
Nós cremos, no entanto, que mesmo se muito menos dos da raça humana tivessem sido perdoados e salvos, uma expiação de
infinito valor deveria ter sido necessária para fazer segura para eles aquelas bênçãos; e mesmo que muito mais pessoas, ou
mesmo que todos homens tivessem sido perdoados e salvos, o sacrifício de Cristo teria sido amplamente suficiente como o
fundamento ou base da salvação deles.
Da mesma forma que é necessário que o sol emita tanto calor se somente uma planta deva crescer sobre a terra como se a terra
devesse ser coberta com vegetação, assim era necessário Cristo sofrer tanto quanto se somente uma alma devesse ser salva
como se um largo número ou mesmo toda humanidade devessem ser salvas. Visto que o pecador tem ofendido uma Pessoa de
infinita dignidade, e havia sido sentenciado para sofrer eternamente, nada exceto um sacrifício de infinito valor poderá expiálo. Ninguém supõe que, visto que o pecado de Adão foi o fundamento da condenação da raça, ele pecou tanto por um homem
e tanto por outro, e que poderia ter pecado mais se houvesse existido mais pecadores .Por que então eles devem fazer a
suposição com respeito ao sofrimento de Cristo ?
A EXPIAÇÃO É LIMITADA NO PROPÓSITO E APLICAÇÃO
Apesar do valor da expiação ter sido suficiente para salvar toda humanidade, ela foi eficiente para salvar somente os eleitos.
Ela está indiferentemente bem adaptada à salvação de um homem como de outro, assim fazendo a salvação de cada homem
objetivamente possível; todavia, por causa de dificuldades subjetivas, aparecendo por causa da inabilidade dos pecadores
para ver ou apreciar as coisas de Deus, somente aqueles [os eleitos] são salvos, os quais são regenerados e santificados pelo
Espírito Santo. A razão porque Deus não aplica esta graça a todos homem não tem sido revelada completamente. Quando a
expiação é feita universal, o seu valor inerente é destruído. Se ela é aplicada a todos os homens, e se alguns se perdem, a
conclusão é que isto faz a salvação objetivamente possível para todos os homens, porém que não salva realmente a
qualquer um.
Segundo a teoria Arminiana, a expiação tem simplesmente tornado possível para todos os homens o cooperar com a divina
graça e assim, salvar a si mesmos – se eles assim quiserem. Porém, conte-nos de um curado de enfermidade e todavia morto
de câncer, e a história será igualmente luminosa com a de um expiado do pecado, porém que pereceu através da incredulidade.
A natureza da expiação determina sua extensão. Se ela meramente fez a salvação possível, ela foi aplicada a todos os
homens. Se ela efetivamente assegura a salvação, ela teve referência somente aos eleitos. Como o Dr. Warfield disse: "As
coisas que tenho de escolher são entre uma expiação de alto valor, ou uma expiação de larga extensão. As duas coisas não
podem andar juntas". A obra de Cristo pode ser universalmente somente pela evaporação de sua substância.
Não deixemos haver mal-entendido neste ponto. O Arminiano limita a expiação tão certamente como o faz o Calvinista. O
Calvinista limita a extensão dela, ao dizer que ela não se aplica a todas pessoas (ainda que, como se tem demonstrado já, ele
creia que é eficaz para a salvação de uma larga proporção da raça humana); enquanto o Arminiano limita o poder dela,
porque ele diz que ela em si mesma, não salva realmente ninguém. O Calvinista a limita quantitativamente, mas não
qualitativamente; o Arminiano a limita qualitativamente, mas não quantitativamente. Para o Calvinista ela é como uma ponte
estreita que vai até o fim do caminho acima da correnteza; para o Arminiano ela é como uma grande e larga ponte que vai
somente até a metade do caminho. Na verdade, o Arminiano põe limitações mais severas na obra de Cristo do que o
Calvinista.
A OBRA DE CRISTO COMO UMA PERFEITA SATISFAÇÃO DA LEI
Se os benefícios da expiação são universais e ilimitados, ela deve ter sido o que os Arminanos a representam ter sido –
meramente um sacrifício para apagar a maldição que repousava sobre a raça humana através da queda de Adão, um mero
substituto da execução da lei que Deus em Sua soberania achou certo aceitar em lugar do que o pecador era obrigado a render,
e não uma perfeita satisfação que cumpriu as demandas da justiça. Significaria que Deus não mais demanda perfeita
obediência como Ele fez com Adão, porém que Ele agora oferece salvação em termos inferiores. Deus, então, tirará
obstáculos legais e aceitará tal fé e obediência evangélica que a pessoa com uma capacidade graciosamente restaurada pode
render se assim escolher, o Espírito Santo certamente ajudando em uma maneira geral. Dessa forma, a graça seria estendida
em que Deus oferece uma caminho fácil de salvação – Ele aceita cinqüenta cents de dólar, aparentemente, visto que o pecador
inválido não pode pagar mais.
Por outro lado, os Calvinistas sustentam que a lei de perfeita obediência que foi originalmente dada a Adão foi "permanente",
que Deus nunca tem feito qualquer coisa que conduziria a impressão que a lei era rígida demais em seus requerimentos, ou
severa demais em suas penalidades, ou que tampouco ela estivesse em necessidade de abolição ou derrogação. A Divina
justiça demanda que o pecador seja punido, em si mesmo ou em seu substituto. Nós sustentamos que Cristo atuou de uma
maneira estritamente substitutiva pelo Seu povo, que Ele fez uma completa satisfação pelos pecados deles, dessa forma
apagando a maldição de Adão e todos pecados temporais deles; e que pela Sua vida inocente, Ele perfeitamente guardou por
eles a lei que Adão quebrou, deste modo adquirindo para o Seu povo a recompensa da vida eterna. Nós cremos que o
requerimento para salvação agora como originalmente, é a perfeita obediência, que os méritos de Cristo são imputados a Seu
povo como o única fundamento da salvação deles, e que eles entram no céu vestidos somente com o manto de Sua perfeita
justiça e absolutamente destituídos de qualquer mérito propriamente deles. Assim graça, pura graça, é estendida não em se
reduzir os requerimentos para salvação, mas na substituição de Cristo pelo Seu povo. Ele tomou o lugar deles diante da lei, e
fez por eles o que eles não poderiam fazer por si mesmos. Este princípio Calvinista é adaptado em cada caminho para
impressionar sob nós a absoluta perfeição e imutável obrigação da lei que foi originalmente dada a Adão. Ela não foi
afrouxada ou desprezada, porém é apropriadamente honrada de forma que sua excelência é demonstrada. Em benefício
daqueles que são salvos, por quem Cristo atuou, e em benefício daqueles que são submetidos ao castigo eterno, a lei em sua
majestade se executa e se faz cumprir.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, ela compreenderia que milhões daqueles por quem Cristo morreu são no final
perdidos, e que a salvação é dessa forma nunca aplicada a muitos daqueles por quem ela foi adquirida. Que benefícios, por
exemplo, nós podemos apontar para as vidas dos pagãos e dizer que eles tem recebido da expiação ? Isto pode também
significar que os planos de Deus muitas vezes tem sido frustados e desmoronados pelas Suas criaturas e que, enquanto Ele
pode fazer de acordo com Sua vontade com os exército dos céus, Ele não faz assim entre os habitantes da terra.
"O pecado de Adão", disse Charles Hodge, "não fez a condenação de todos os homens meramente possível; ele foi o
fundamento da real condenação deles. Assim, a justiça de Cristo não fez a salvação dos homens meramente possível, ela
assegurou a real salvação daqueles por quem Ele morreu." O grande pregador Batista Charles H. Spurgeon disse: "Se Cristo
morreu por você, você nunca poderá perecer. Deus não irá punir duas vezes uma mesma coisa. Se Deus puniu a Cristo pelos
seus pecados, Ele não pode te punir. O pagamento da justiça de Deus não pode ser demandado duas vezes; primeiro, da mão
sangrenta do Salvador, e então da minha. Como pode Deus ser justo se Ele puniu Cristo, o substituto, e então o próprio
homem mais tarde"?
UM RESGATE
Cristo é dito ter sido um resgate para Seu povo: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a
sua vida em regaste de muitos", Mateus 20:28. Note, este verso não diz que Ele deu Sua vida em resgate de todos, mas por
muitos. A natureza de um resgate é tal que quando paga e aceita, ela automaticamente liberta as pessoas por quem ela foi
pretendida. De outra forma, ele não seria um verdadeiro resgate. A justiça demanda que aqueles por quem ela foi paga, sejam
livres de qualquer obrigação adicional. Se o sofrimento e morte de Cristo foi um resgate para todos os homens antes que
somente para os eleitos, então os méritos de Sua obra devem ser comunicados a todos igualmente e a penalidade do eterno
castigo não pode ser justamente infligido em alguém. Deus seria injusto se Ele exigisse essa penalidade duas vezes,
primeiramente do substituto e então das próprias pessoas. A conclusão é que a expiação de Cristo não estende a todos os
homens, mas que ela é limitada àqueles por quem Ele pagou a fiança ; isto é, àqueles que compõem Sua verdadeira Igreja.
O PROPÓSITO DIVINO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO
Se a morte de Cristo intencionou salvar a todos os homens, eles devem dizer que Deus ou foi incapaz ou indisposto em
realizar os Seus planos. Mas, desde que a obra de Deus é sempre eficiente, aqueles por quem a expiação foi feita e aqueles
que são realmente salvos devem ser as mesmas pessoas. Os Arminianos supõe que os propósitos de Deus são mutáveis, e que
Seus propósitos podem falhar. Em afirmar que Ele enviou Seu Filho para redimir todos os homens, mas que depois vendo que
tal plano poderia não ser executado, Ele "elegeu" aqueles que Ele previu que teriam fé e se arrependeriam, eles O
representam como querendo o que nunca ocorre, - como suspendendo Seus propósitos e planos sob a volições e ações de
criaturas que são totalmente dependentes dEle. Nenhum ser racional que tenha a sabedoria e poder para realizar seus planos,
pretende o que Ele nunca realiza ou adota planos para um fim que nunca será alcançado. Muito menos pode Deus, cujo poder
e sabedoria são infinitos, trabalhar desta maneira. Nós podemos descansar assegurados que se alguns homens se perdem,
Deus nunca tencionou sua salvação, e nunca desenvolve e colocou em operação meios determinados a efetuar este fim.
O próprio Jesus limitou o propósito de Sua morte quando Ele disse: "Dou a minha vida pelas ovelhas." Se, então, Ele deu Sua
vida pelas ovelhas, o caráter expiatório de Sua obra não foi universal. Em outra ocasião Ele disse aos Fariseus, "não sois das
minhas ovelhas;" e outra vez, "vós tendes por pai ao diabo." Irá alguém manter que Ele deu Sua vida por estes, vendo que Ele
tão explicitamente os excluiu ? O anjo que apareceu a José disse-lhe que o filho de Maria deveria ser chamado JESUS, porque
Sua missão no mundo era salvar Seu povo de seus pecados. Ele então não veio meramente para fazer a salvação possível,
mas para realmente salvar o Seu povo; e o que Ele veio fazer, podemos confiadamente esperar que Ele consumou.
Visto que a obra de Deus nunca é em vão, aqueles que são escolhidos por Deus, aqueles que são redimidos pelo Filho, e
aqueles que são santificados pelo Espírito Santo, - ou em outras palavras, eleição, redenção e santificação, - devem incluir as
mesmas pessoas. A doutrina Arminiana de uma expiação universal faz estes desiguais e através disso destroi a perfeita
harmonia dentro da Trindade. A redenção universal significa salvação universal.
Cristo declarou que os eleitos e os redimidos são as mesmas pessoas quando na oração intercessória Ele disse: "Eram teus, e
tu mos deste", e "Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas
coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado." (João 17:6,9,10). E outra vez, "Eu sou o bom Pastor, e
conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e
dou a minha vida pelas ovelhas." (João 10:14,15). O mesmo ensino é encontrado quando somos ordenados a "apascentar a
igreja de Deus, que Ele resgatou com seu próprio sangue." (Atos 20:28) Somos informados que "Cristo amou a Igreja, e a si
mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25); e que Ele deu Sua vida pelos Seus amigos. (João 15:13) Cristo morreu por Paulo
assim como por João, e não morreu por Faraó assim como não morreu por Judas, que eram bodes e não ovelhas. Nós não
podemos dizer que Sua morte foi intencionada a todos, a menos que digamos que Faraó, Judas, etc., eram das ovelhas,
amigos, e Igrejas de Cristo.
Além do mais, quando é dito que Cristo deu Sua vida por Sua Igreja, ou por Seu povo, nós encontramos impossível acreditar
que Ele Se Deu tanto quanto para os reprovados como para aqueles que Ele intencionou salvar. A humanidade é dividida em
duas classes e o que é distintamente afirmada de uma é implicitamente negada de outra. Em cada caso algo é dito daqueles
que pertencem a um grupo que não é verdadeiro daqueles que pertencem ao outro. Quando se diz que um homem trabalha e
sacrifica a saúde e força para suas crianças, através disso é negado que o motivo que o controla é meramente filantropia, ou
que o desígnio que tem em vista é o bem da sociedade. E quando é dito que Cristo morreu pelo Seu povo, é negado que Ele
morreu igualmente por todos os homens.
A EXCLUSÃO DOS NÃO-ELEITOS
Não era, então, um amor geral e indiscriminado do qual todos os homens eram igualmente os objetos, mas um peculiar,
misterioso, e infinito amor por Seus eleitos, que fez Deus enviar Seu Filho ao mundo para sofrer e morrer. Toda teoria que
negar esta grande e preciosa verdade, e que explicar este amor como benevolência meramente indiscriminada ou filantrópica,
a qual teve todos os homens por seus objetos, muitos dos quais são permitidos perecer, deve ser anti-Escriturística. Cristo não
morreu para uma multidão desordenada, mar por Seu povo, Sua noiva, Sua Igreja.
Um fazendeiro estima seu campo. Mas ninguém supõe que ele se importa igualmente por cada planta que cresce ali, pelas
"ervas daninhas" assim como pelo "trigo". O campo de Deus é o mundo, Mateus 13:38, e Ele o ama com um olho exclusivo
para sua "boa semente", as crianças do reino, e não as crianças do maligno. Não é todo da humanidade que é igualmente
amado de Deus e confusamente redimido por Cristo. Deus não é necessariamente comunicador de Sua bondade, como o sol
de sua luz, ou a árvore de sua sombra refrescante, que não escolhe seus objetos, mas serve a todos indiferentemente sem
variação ou distinção. Isto seria fazer Deus de não mais entendimento do que o sol, que brilha não onde lhe agrada, mas onde
deve. Ele é uma pessoa compreensiva, e tem um direito soberano de escolher Seus próprios objetos.
Em Gênesis lemos que Deus "colocou inimizade" entre a semente da mulher e a semente da serpente. Agora quem foram
significados por semente da mulher e semente da serpente ? No primeiro pensamento, podemos supor que a semente da
mulher significa a raça humana inteira descendente de Eva. Mas em Gálatas 3:16 Paulo usa este termo "semente", e o aplica a
Cristo como um indivíduo. "Não diz: E às sementes, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua semente, que é
Cristo."
Em uma investigação mais avançada, nós encontraremos também que a semente da serpente não significa descendentes
literais do Diabo, mas aqueles membros não-eleitos da raça humana, que participam de sua natureza pecaminosa. Jesus disse
de Seus inimigos: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (João 8:44). Paulo denunciou
Elimas, o encantador, como um filho do Diabo e um inimigo de toda justiça. Judas é até chamado de um diabo (João 6:70).
Então, a semente da mulher e a semente da serpente são cada uma parte da raça humana. Em outras partes das Escrituras,
encontramos que Cristo e Seu povo são "um", que Ele habita neles e é unido com eles assim como a videira e os ramos são
unidos. E desde que no extremo princípio Deus "colocou inimizade" entre estes dois grupos, é claro que Ele nunca amou
todos igualmente, nem intentou redimir a todos igualmente. A redenção universal e a sentença de Deus na serpente não podem
nunca andar juntas.
Há também um paralelo para ser observado entre o sumo sacerdote do antigo Israel e Cristo que é o nosso sumo sacerdote;
porque o primeiro, como sabemos, era um tipo do último. No grande dia da expiação, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios
pelos pecados das doze tribos de Israel. Ele intercedia por eles e por eles somente. Semelhantemente, Cristo não orou pelo
mundo, mas pelo Seu povo. A intercessão do sumo sacerdote assegurava para os Israelitas bênçãos das quais todos outros
povos estavam excluídos; e a intercessão de Cristo, que também é limitada porém de uma ordem muito maior, certamente
será eficaz em elevado sentido, porque Ele, o Pai sempre ouve. Além do mais, não é necessário que a misericórdia de Deus se
estenda a todos os homens sem exceção para que possa ser chamada verdadeiramente e propriamente infinita; porque todos
homens tomados juntos não constituíram uma multidão estritamente e propriamente infinita. As Escrituras claramente nos
ensina que o Diabo e os anjos caídos foram deixados fora de Seus benevolentes propósitos. Mas Sua misericórdia é infinita
nisso: ela resgata a grande multidão de Seus eleitos do indiscritível e eterno pecado e miséria para a indiscritível e eterna
bem-aventurança.
Enquanto os Arminianos sustentam que Cristo morreu igualmente por todos os homens e que Ele obteve suficiente graça para
capacitar todos os homens a arrepender-se, crer, e perseverar, se eles conseguem somente cooperar com ela, eles também
sustentam que aqueles que recusam a cooperar, deverão prestar contas e através de toda eternidade serem castigados mais
severamente do que se Cristo nunca tivesse morrido por eles de nenhuma maneira. Nós vemos que até aqui, na história da
raça humana, a larga proporção da população adulta tem falhado em cooperar e tem dessa forma sido permitido trazer para si
mesmos grande miséria do que se Cristo nunca tivesse vindo. Certamente, uma visão que permite a obra da redenção de Deus
ser lançada em semelhante falência, e que projeta tão pequena glória na expiação de Cristo, não pode ser verdadeira.
Vastamente, mais do amor e misericórdia de Deus pelo Seu povo é visto nas doutrinas Calvinistas da eleição incondicional e
expiação limitada do que é vista na doutrina Arminiana da eleição condicional e expiação ilimitada.
O ARGUMENTO DA PRESCIÊNCIA DE DEUS
O argumento da presciência de Deus é em si mesmo, suficiente para provar esta doutrina. Não é a mente de Deus infinita ?
Não são as suas percepções perfeitas ? Quem pode crer que Ele, como um débil mortal, poderia "disparar no comboio sem
perceber os pássaros individuais ?" Visto que Ele conhece antes aqueles que seriam salvos - e que a maioria dos Arminianos
evangélicos admitem que Deus tem uma presciência exata de todos eventos – Ele não teria enviado a Cristo intentando salvar
aqueles que Ele positivamente previu que se perderiam. Porque, como Calvino adverte, "Onde estaria a consistência de Deus
para Si mesmo, assim como Ele sabe que nunca sucederá?". Se um homem sabe que em uma sala há dez laranjas, sete das
quais são boas e três das quais são podres, ele não ira para a sala esperando adquirir dez unidades boas. Ou se é conhecido de
antemão que dentre um grupo de cinqüenta homens que foram convidados para um banquete, certo dez homens não virão, o
anfitrião não enviará convites esperando que aqueles dez assim como os outros o aceitem. Eles apenas enganam a si mesmos,
admitindo a presciência de Deus, dizendo que Cristo morreu por todos os homens; porque que isso senão atribuir estupidez a
Ele, cujos caminhos são perfeitos ? Representar a Deus como aspirando ardentemente acontecer o que Ele sabe que não
acontecerá, é representá-LO como agindo loucamente.
CERTOS BENEFÍCIOS QUE SE EXTENDEM A TODA HUMANIDADE EM GERAL
Em conclusão, permita ser dito que os Calvinistas não negam que a humildade em geral recebem alguns importantes benefícios da
expiação de Cristo. Os Calvinistas admitem que ela interrompe a punição que deveria Ter sido infligida sobre toda a raça humana
por causa do pecado de Adão; que ela forma uma base para a pregação do Evangelho e assim introduz muitas influências morais
no mundo e restringe muitas influências perversas. Paulo pode dizer ao povo pagão de Listra que Deus "não se deixou a si mesmo
sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os
vossos corações," Atos 14:17. Deus faz Seu sol brilhar sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e injustos. Muitas bênçãos
temporais se asseguram assim para todos os homens, ainda que estas não cheguem a ser suficientes para garantir a salvação.
Cunningham expressou a crença do Calvinista mui claramente no seguinte parágrafo: - "Não é negado pelos advogados da
redenção particular, ou da expiação limitada, que a humanidade em geral, até mesmos aqueles que no final das contas perecem,
desfrutam de algumas vantagens ou benefícios da morte de Cristo; e nenhuma posição que sustentam lhes requer negar isto. Eles
crêem que importantes benefícios se tem acrescentado à toda raça humana pela morte de Cristo, e que nestes benefícios aqueles
que são finalmente impenitentes e incrédulos participam. O que eles negam é isto: que Cristo intentou alcançar, ou procurou, para
todos homens aquelas bênçãos que são frutos próprios e peculiares de Sua morte, em seu caráter específico como uma expiação, que Ele procurou ou comprou redenção – perdão e reconciliação – para todos os homens. Muitas bênçãos fluem para a
humanidade amplamente pela morte de Cristo, colateralmente e incidentemente, na conseqüência da relação na qual os homens,
vistos coletivamente, permanecem unidos um ao outro. Todos estes benefícios foram certamente previstos por Deus, quando Ele
resolveu enviar Seu Filho ao mundo; eles [os benefícios] foram contemplados ou designados por Ele, em relação a como os
homens deveriam receber e gozá-los. Devem ser estimadas e recebidas como concedidas por Ele, e como deste modo desvelando
Sua glória, indicando Seu caráter, e realmente cumprindo Seus propósitos; e devem ser vistos como vindo aos homens através do
canal da mediação de Cristo, - de Seu sofrimento de morte." ." 2
Há, portanto, um certo sentido no qual Cristo morreu por todos, e não contestamos ao dogma Arminiano com uma negativa
desqualificada. Porém que mantemos que a morte de Cristo teve especial referência aos eleitos no que era eficaz para sua
salvação, e que os efeitos que são produzidos nos outros são somente incidentais [secundários] a este único grande propósito.
A Doutrina Reformada da Predestinação
Loraine Boettner
Capítulo XV
O que é Fatalismo
Muitos mal-entendidos se apresentam através da confusão da Doutrina Cristã da Predestinação com a
doutrina pagã do Fatalismo. Há, na realidade, somente um ponto de acordo entre as duas, o qual é, que
ambos assumem a absoluta certeza de todos eventos futuros. A essencial diferença entre eles é que o
Fatalismo não tem lugar para um Deus pessoal. A Predestinação sustenta que os eventos ocorrem porque um
Deus infinitamente sábio, poderoso e santo tem assim lhes apontado. O Fatalismo sustenta que todos eventos
ocorrem através de uma força cega, não-inteligente, não-moral que não pode ser distinguida por necessidade
física, e que nos carrega desamparadamente dentro de seu alcance como um poderoso rio carrega um pedaço
de madeira.
Predestinação ensina que desde a eternidade Deus tem tido um plano especial ou propósito o qual Ele está
trazendo a perfeição através desta ordem do mundo de eventos. Ela sustenta que todos Seus decretos são
determinações racionais fundamentadas em suficiente razão, e que Ele tem fixado um único grande objetivo
"para o qual toda a criação se move." Predestinação sustenta que os desígnios finais neste plano são
primeiro, a glória de Deus; e segundo, o bem de Seu povo. Por outro lado, o Fatalismo exclui a idéia de
causas finais. Ele arrebata as rédeas do império universal das mãos de infinita sabedoria e amor, e as dá às
mãos de uma necessidade cega. Ele atribui o curso da natureza e as experiências do gênero humano a uma
força desconhecida e irresistível, contra a qual é vão lutar e infantil amofinar-se.
De acordo com a doutrina da Predestinação, a liberdade e responsabilidade do homem são completamente
preservadas. No meio da certeza, Deus ordenou a liberdade humana. Porém, o Fatalismo não permite poder
de escolha, nem auto-determinação. Ele faz os atos dos homens serem totalmente fora de seu controle assim
como são as leis da natureza pessoal, energia abstrata; não tem nenhum lugar para as idéias morais, enquanto
que a Predestinação faz destas a regra de ação para Deus e o homem. O Fatalismo não tem lugar para e não
oferece nenhum incentivo para a religião, amor, misericórdia, santidade, justiça, ou sabedoria, enquanto que
a Predestinação dá a estes a base concebível mais forte. E finalmente, o Fatalismo conduz cepticismo e
desespero, enquanto que a Predestinação apresenta as glórias de Deus e de Seu reino em todo seu esplendor
e dá uma segurança que nada pode abalar.
A Predestinação, portanto, difere do Fatalismo tanto como os atos de um homem difere dos atos de uma
máquina, ou tanto como o amor infalível do Pai celestial difere da força da gravitação.
"Ela nos revela", diz Smith, "a gloriosa verdade que nossas vidas e nossos corações sensíveis estão
guardados, não nas rodas dentadas de ferro de um vasto e cruel Destino, nem no tear giratório de uma louca
Chance, mas nas todo-poderosas mãos de um infinitamente bom e sábio Deus". 1
Calvino enfaticamente repudiou a acusação que sua doutrina era Fatalista. "Fatal [destino]", disse ele, "é um
termo dado pelo Estóicos a sua doutrina de necessidade, que eles tinham formado como resultado de um
labirinto de raciocínios contraditórios; uma doutrina calculada para chamar o próprio Deus para ordenar, e
para fixar Suas leis segundo as quais trabalha. Predestinação eu defino ser, de acordo com as Sagradas
Escrituras, aquele livre e irrestrito conselho de Deus pelo qual Ele governa toda a humanidade, e todos os
homens e coisas, e também todas as partes e partículas do mundo por Sua infinita sabedoria e
incompreensível justiça". E outra vez,"...., tivesse você apenas estado disposto a olhar para meus livros,
haveria se convencido imediatamente quão ofensivo para mim é o profano termo fatal [destino]: e além
disso, você deve ter estudado que este mesmo termo abominável foi arremessado nos dentes de Agostinho
pelos seus oponentes." 2
Lutero disse que a doutrina do Fatalismo entre os pagãos é um prova de que "o conhecimento da
Predestinação e da Presciência de Deus, não foi menos abandonada do que a noção da própria divindade" 3 .
Na história da filosofia Materialista comprovou-se a si mesma essencialmente fatalística. O Panteísmo
também tem sido fortemente modificado com isto.
Nenhum homem pode ser um fatalista consistente. Porque para ser consistente, ele teria que considerar algo
como isto: "Se eu morrer hoje, não me fará nenhum bem comer, porque morrer de qualquer jeito. Nem
necessito comer se devo viver muitos anos todavia, porque viverei de qualquer jeito. Portanto, não mais
comerei". É desnecessário dizer que, se Deus predestinou que um homem viverá, Ele também pre-ordenou
que ele será guardado da loucura suicida de recusar comer.
"Esta doutrina", diz Hamilton, "é somente superficialmente semelhante ao "fatal" pagão. O Cristão não está
nas mãos de um determinismo frio e imutável, mas de um quente e amoroso Pai celestial, que nos amou e
deu Seu Filho para morrer por nós no Calvário ! O Cristão sabe que "todas as coisas contribuem juntamente
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito". O Cristão
pode confiar em Deus porque ele sabe que Ele é todo-sábio, amoroso, justo e santo. Ele vê o fim desde o
princípio, de modo que não há razão para nos apavorarmos quando as coisas parecem ir contra nós."
Portanto, somente uma pessoa que não examinou a doutrina da Predestinação, ou alguém que é
maliciosamente inclinado, irá imprudentemente declarar que ela é Fatalismo. Não há escusa para qualquer
um, que sabe o que Predestinação é e o que Fatalismo é, cometer este engano.
Visto que o universo é uma unidade sistematizada, devemos escolher entre o Fatalismo que elimina em
última instância mente e propósito, e esta bíblica doutrina da Predestinação, que sustenta que Deus criou
todas as coisas, que Sua providência estende a todas Suas obras, e que enquanto Ele mesmo é livre, também
providenciou que nós fossemos livres dentro dos limites de nossas naturezas. No lugar de nossa doutrina da
Predestinação ser idêntica com a doutrina pagã do Fatalismo, ela é seu absoluto oposto e somente
alternativa.
Tradução Livre:
“A Doutrina Reformada Da Predestinação” – Capítulo XIII
Eleição Incondicional
1. Apresentação da Doutrina
2. Prova da Bíblia
3. Prova da Razão
4. Fé e Boas Obras são os
Frutos e a Prova, não as Bases, da Eleição 5. Rejeição 6. Infralapsarianismo e Supralapsarianismo
7. Muitos são Escolhidos 8. Uma Raça ou Mundo Redimido 9. Vastidão da Multidão de Redimidos
10. O Mundo está Ficando Melhor 11. Salvação Infantil 12. Sumário
1. APRESENTAÇÃO DA DOUTRINA
A doutrina da Eleição deve ser encarada somente sob uma aplicação particular da doutrina geral da
Predestinação ou Pré Ordenação conforme relaciona-se com a salvação de pecadores; e desde que as
Escrituras estão preocupadas mais com a redenção de pecadores, esta parte da doutrina é naturalmente
colocada em um lugar de proeminência especial. Ela compartilha todos os elementos da doutrina geral; e
desde que é o ato de uma Pessoa moral infinita, é representada como sendo a determinação eterna,
absoluta, imutável efetiva da Sua vontade, dos objetos de Suas operações salvíficas. E nenhum aspecto
desta escolha eletiva é mais constantemente enfatizado do que o da sua absoluta soberania.
A Fé Reformada tem se apegado à existência de um decreto eterno, divino, o qual, antecedentemente a
qualquer diferença ou excelência nos próprios homens, separa a raça humana em duas porções e ordena
uma para a vida eterna e a outra para a morte eterna. Tanto quanto tal decreto é relacionado aos homens
e designa o conselho de Deus referente àqueles que tiveram uma chance supremamente favorável em
Adão para ganhar a salvação, mas que perderam tal chance. Como resultado da queda eles são culpados
e corruptos, seus motivos são errados e eles não podem operar a sua própria salvação. Eles perderam
todas causas ente a misericórdia de Deus, e podem simplesmente terem sido deixados para sofrer o
castigo da sua desobediência como todos os anjos caídos também o foram. Mas ao contrário, os
membros eleitos desta raça são resgatados deste estado de culpa e pecado e são trazidos a um estado de
santidade e bênçãos. Os não eleitos são simplesmente deixados em seu estado prévio de ruína, e estão
condenados pelos seus pecados. Eles não sofrem nenhum tipo de castigo não merecido, pois Deus está
tratando-os não meramente como homens, mas como pecadores.
A Confissão de Fé de Westminster apresenta a doutrina desta forma [Capítulo III – Dos Eternos
Decretos de Deus]: “Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns
anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.”[ Ref. I Tim.5:21;
Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.]
“Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente
designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.”
[Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19]
“Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade,
Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são
predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e
amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na
criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.”[Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9; I
Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.]
“Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da
sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se
caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu
Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder
por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,
eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.”[Ref. I Pedro 1:2; Ef. 1:4 e 2: 10; II
Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5; João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I
João 2:19.]
“Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia,
como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para
louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por
causa dos seus pecados.”[Ref. Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8.]”
É importante que tenhamos uma clara compreensão desta doutrina da Eleição divina, pois a nossa visão
relacionada a ela é o que determina a nossa visão de Deus, o homem, o mundo, e a redenção. Como
Calvino corretamente disse, “Nós nunca estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que
a nossa salvação provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados com
esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não adota todos
indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que recusa a outros. Ignorância
deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e diminui a real humildade.” 2 Calvino admite
que esta doutrina levantou questões muito perplexas nas mentes de alguns, pois, diz ele, “eles não
consideram nada mais irracional do que, da massa comum da raça humana, alguns deverial estar
predestinados à salvação; e outros à destruição.”
Os teólogos Reformados consistentemente aplicaram este princípio à experiência real do fenômeno
espiritual, o qual eles mesmos sentiram e viram nos outros ao seu redor. O propósito divino, ou
Predestinação, sozinho poderia explicar a distinção entre bem e mal, entre o santo e o pecador.
2. PROVA DA BÍBLIA
A primeira questão que devemos perguntarmo-nos então, é, “Encontramos esta doutrina ensinada nas
Sagradas Escrituras?” Voltemo-nos então para a Epístola de Paulo aos Efésios. Lá podemos ler: “[4]
como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante
dele em amor; [5] e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade,”[Efésios 1:4,5]. Na carta aos Romanos lemos que a corrente
dourada da redenção estende-se desde a eternidade já passada até a eternidade ainda porvir –– “Porque
os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e
aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.”[Romanos
8:29,30]. Pré-sabido, preordenados, chamados, justificados, glorificados, sempre com as mesmas pessoas
incluídas em cada grupo, e onde um desses fatores estiver presente, todos os demais estarão em
princípio, também presentes.
Paulo redigiu o versículo conjugando os verbos no tempo passado porque com Deus o propósito é em
princípio executado quando formado, tão certamente é o seu cumprimento. “Estes cinco elos dourados”,
diz o Dr. Warfield, “são todos unidos em uma corrente inquebrável, de modo que todos os que estão sob
a graciosa vista diferenciadora de Deus são carregados por Sua graça somente, passo a passo, até a
grande consumação da glorificação que completa a prometida conformidade à imagem do próprio Filho
de Deus. Veja, é a ‘eleição’ que faz tudo isso; a ‘quem Ele justificou, . . . . . eles também glorificou’.”
3
As Escrituras Sagradas representam a eleição como um acontecimento no passado, sem relacionamento
com o mérito pessoal, e totalmente soberana, –– “[11] (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem
tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não
por causa das obras, mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor. [13] Como
está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú.”[Romanos 9:11-13]. Agora, se a doutrina da eleição não for
verdadeira, podemos seguramente desafiar qualquer homem a dizer-nos o que o apóstolo Paulo quis
dizer com tal tipo de linguagem. “Nos é ilustrada a soberana aceitação de Isaque e a rejeição de Ismael, e
a escolha de Jacó e não a de Esaú antes mesmo dos seus nascimentos e portanto antes que tivessem
praticado qualquer bem ou mal; nos é explicitamente dito que no que tange à salvação não de um que
quer ou de outro que corre, mas de Deus que mostra misericórdia, e que Ele tem misericórdia para com
quem Ele quer e a quem Ele confirma; somos pertinentemente direcionados a observar em Cristo, o
oleiro que faz os vasos que procedem de Sua mão, um para cada finalidade que Ele aponta, para que Ele
possa operar a Sua vontade através deles. É seguro dizer que não se pode escolher linguagem melhor
adaptada para ensinar Predestinação no seu ápice.” 4
Mesmo se não tivéssemos quaisquer outros testemunhos inspirado que aqueles escritos por Paulo, tão
claros e precisos são aqueles mesmos que seríamos constrangidos a admitir que a doutrina da Eleição
encontra lugar na Bíblia. Em se olhando às referências Bíblicas na Confissão de Fé, vemos que a mesma
é abundantemente sustentada pela Bíblia. Se admitimos a inspiração da Bíblia; se admitimos que os
escritos dos profetas e apóstolos foram soprados pelo Espírito de Deus, e são assim infalíveis, então o
que lá encontrarmos será suficiente; e assim no testemunho irrefutável das Escrituras devemos
reconhecer que a Eleição, ou a Predestinação são uma verdade estabelecida, e que devemos receber se
tomamos posse do conselho de Deus. Cada Cristão deve crer em alguma forma de eleição; pois enquanto
as Escrituras deixam muitas coisas inexplicadas a respeito da doutrina da Eleição, elas deixam muito
claro o FATO de que houve uma eleição.
Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, “Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a
vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ...”[João 15:16], pelo que Ele fez primária a escolha de
Deus e a do homem somente secundária, como resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos,
contudo, em fazendo com que a salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça
proferida inverte esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não há
lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-vistas atitudes da
criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da criatura para as suas determinações.
Novamente a soberania desta escolha é claramente ensinada quando Paulo declara que Deus provou o
Seu amor para conosco pelo fato de haver Cristo morrido por nós enquanto éramos ainda pecadores
(Romanos 5:8), e que Cristo morreu pelos ímpios (Romanos 5:6). Aqui vemos que o Seu amor não foi
estendido até nós porque éramos bons, mas apesar do fato de que nós éramos maus. É Deus quem
escolhe a pessoa e faz com que ele se aproxime dEle (Salmo 65:4). O Arminianismo tira tal escolha das
mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Qualquer sistema teológico que substitua a eleição feita
pelo homem cai sob o ensino Bíblico deste assunto.
Nos dias mais negros da apostasia de Israel, como em qualquer outra época, foi este princípio de eleição
que fez diferença ente a raça humana e manteve seguro um remanescente. “Todavia deixarei em Israel
sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.” [I Reis 19:18].
Aqueles sete mil não permaneceram por sua própria força e poder; está expressamente dito que Deus
reservou-os para Si mesmo, que eles pudessem ser um remanescente.
É para o bem dos eleitos que Deus governa o curso de toda a história (Marcos 13:20 = “Se o Senhor não
abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou
aqueles dias.”). Ele são o “sal da terra”, e a “luz do mundo”; e até agora pelo menos na história do
mundo eles são os poucos através de quem os muitos são abençoados, –– Deus abençoa a casa de
Potifar para o bem de José; e dez justos teriam salvo a cidade de Sodoma. Sua eleição, é claro, inclui a
oportunidade de ouvir o Evangelho e receber os dons da graça, pois sem estes grandes meios o fim
grandioso que é a eleição não seria alcançado. Eles são, de fato, eleitos para tudo o que está incluído na
idéia de vida eterna.
À parte da eleição de indivíduos para a vida, tem havido o que poderíamos chamar de uma eleição
natural, ou a divina predestinação de nações e de comunidades a um conhecimento da verdadeira religião
e aos privilégios externos do Evangelho. Deus indubitavelmente escolhe algumas nações para receber
bênçãos temporais e espirituais maiores que outras. Esta forma de eleição sem sido bem ilustrada na
nação Judia, em certas nações e comunidades Européias, e na América. O contraste é violento, quando
comparamos estas com outras nações tais como China, Japão, Índia, etc.
Em todo o Velho Testamento, é repetidamente mostrado que os Judeus eram um povo escolhido. “De
todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; ...”[Amós 3:2]. “Não fez assim a nenhuma das
outras nações; ...”[Salmo 147:20]. “Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te
escolheu, a fim de lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a
terra.”[Deuteronômio 7:6]. Porém, é igualmente feito certo que Deus não encontrou nenhum mérito ou
dignidade nos próprios Judeus, que O fizessem escolhe-los em detrimento de outros povos. “[7] - O
Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os
outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo; [8] - mas, porque o Senhor vos amou,
e porque quis guardar o juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos
resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.”[Deuteronômio 7:7,8]. E de novo,
“Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua descendência depois deles,
isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se vê.”[Deuteronômio 10:15]. Nesta passagem é
cuidadosamente explicado, que Israel foi honrado com a escolha divina, em contraste com o tratamento
dispensado a todos os demais povos da terra, que a escolha proveio só e unicamente do amor imerecido
de Deus; e que não havia base nenhuma em Israel para tanto.
Quando Paulo foi proibido pelo Espírito Santo de pregar o Evangelho na província da Ásia, e lhe foi
dada a visão de um homem na Europa clamando através das águas, “Venha até a Macedônia e ajudenos”, uma seção do mundo foi soberanamente excluída dos privilégios do Evangelho, enquanto que a
outra seção os mesmos privilégios foram soberanamente dados. Tivesse a chamada divinamente
direcionada sido feita mais para a Índia, a Europa e a América poderiam ser hoje menos civilizadas que
os nativos do Tibete. Foi a escolha soberana de Deus que trouxe o Evangelho aos povos da Europa e
mais tarde da América, enquanto que os povos do leste, e norte, e sul foram deixados em trevas. Nós não
podemos assinalar razão alguma, por exemplo, por que deveriam ter sido escolhidos os povos da
semente de Abraão, e não a semente dos Egípcios ou dos Assírios; ou por que a Grã Bretanha e a
América, que à época do aparecimento de Cristo na Terra encontravam-se num estado de tão completa
ignorância, deveriam atualmente possuir tão abundantemente para si mesmas, e disseminarem tão
grandemente para outros, tão importantes privilégios espirituais. As diversificações relacionadas aos
privilégios religiosos em diferentes nações não podem ser atribuídas a nada mais que o prazer de Deus.
Uma terceira forma de eleição ensinada na Bíblia é a de indivíduos no sentido externo da graça, tais
como a audição e a leitura do Evangelho, associação com o povo de Deus, e compartilhar os benefícios
da civilização que floresceu onde esteve o Evangelho. Ninguém jamais teve a chance de dizer em que
época em particular na história do mundo, ou em que país, alguém teria nascido, se seria ou não um
membro da raça branca, ou alguma outra. Uma criança nasce com saúde, abundância, e honra num lugar
favorecido, num lar Cristão, e cresce com todas as bênçãos que acompanham a plenitude do Evangelho.
Uma outra criança nasce na pobreza e na desonra de pais separados e cheios de pecado, e destituída das
influências Cristãs. Todas estas coisas são soberanamente decididas por elas (as crianças). Certamente
nenhum insistiria que a criança favorecida tenha qualquer mérito que pudesse ser motivo para tal
diferença. Além do mais, não foi de Deus próprio a escolha da criação de seres humanos, à Sua própria
imagem, quando Ele poderia haver criado-nos gado, ou cavalos, ou cachorros? Ou quem permitiria aos
idiotas blasfemar contra Deus por sua condição de vida, como se a distinção fosse injusta? Todas estas
coisas são devidas à providência de Deus, que prevalece. “Os Arminianos têm batalhado para reconciliar
tudo isto, na verdade, com seus pontos de vista errôneos e defeituosos quanto a soberania Divina, e com
suas doutrinas não Bíblicas da graça universal e da redenção universal; mas eles usualmente não se
satisfazem com suas próprias tentativas de explicar, e têm comumente no mínimo admitido, que houve
mistérios neste assunto, os quais não poderiam ser explicados, e os quais devem ser resolvidos na
soberania de Deus e na inescrutabilidade dos Seus conselhos.” 5
Talvez nós possamos mencionar um quarto tipo de eleição, a de indivíduos com certas vocações, –– os
dons de talentos especiais que fazem com que uma pessoa venha a tornar-se um estadista, que outra
venha a ser um doutor, ou advogado, ou fazendeiro, ou músico, ou artesão; dons de beleza pessoal,
inteligência, disposição, etc. Estes quatro tipos de eleição são, em princípio, o mesmo. Os Arminianos
não têm dificuldade em admitir o segundo, o terceiro e o quarto tipo de eleição, enquanto que negam o
primeiro. Em cada instância Deus dá a alguns o que ele retém de outros. Tanto nossa experiência na vida
diária como condições amiúde no mundo nos mostram que as bênçãos dispensadas são soberanas e
incondicionais, sem qualquer relação com o mérito ou a ação por parte daqueles que são escolhidos. Se
somos altamente favorecidos, podemos somente ser gratos por Suas bênçãos; se não altamente
favorecidos, não temos razão nenhuma para reclamar. Por que precisamente este ou aquele é colocado
em circunstâncias que levam à fé salvadora, enquanto que outros não são também colocados, é de fato
um mistério. Não podemos explicar as obras da Providência; mas sabemos que o Juiz de toda a terra fará
o certo, e que quando nos ativermos ao perfeito conhecimento, veremos que ele tem razões suficientes
para todos os Seus atos.
Ademais, pode ser dito que em geral as condições exteriores que cercam o indivíduo determinam o seu
destino, –– pelo menos neste ponto, que aqueles de quem o Evangelho é suprimido não têm chance
alguma de salvação. Cunningham escreveu isto muito bem no seguinte parágrafo: –– “Há uma conexão
invariável estabelecida no governo de Deus sobre o mundo, entre o prazer de privilégios exteriores, ou
os meios da graça, por um lado; e fé e salvação por outro, nesse sentido e neste ponto, que a negação do
primeiro implica na negação do segundo. O significado de toda a Bíblia nos assegura que onde Deus, em
Sua soberania, deixa de proporcionar aos homens o prazer dos meios da graça, –– uma oportunidade de
familiarizarem-se com o único meio de salvação, –– Ele ao mesmo tempo, e através dos mesmos
métodos, em ordenação, retém deles a oportunidade e o poder de crerem e de serem salvos.” 6
Os Calvinistas mantêm que Deus lida não somente com a massa da raça humana, mas também com os
indivíduos que são realmente salvos, que Ele elegeu pessoas em particular para a vida eterna e para todos
os meios necessários para que aquela vida eterna seja alcançada. Eles admitem que algumas das
passagens nas quais a eleição é mencionada ensinam somente uma eleição de nações, ou uma eleição
para os privilégios externos, mas mantêm que muitas outras passagens ensinam exclusiva e somente uma
eleição de indivíduos para a vida eterna.
Há alguns, é claro, que negam ter havido algo como eleição. Segundo eles, a começar pelo próprio
vocábulo, como se fosse um espectro que de repente aparecesse das trevas, sem nunca antes ter sido
visto. Todavia, somente no Novo Testamento, as palavras ‘eklektos’, ‘ekloga’, e ‘eklego’; eleito, eleição,
escolhido, são encontrados quarenta e sete ou quarenta e oito vezes (referência para a lista completa é a
“Young’s Analytical Concordance). Outros aceitam o vocábulo mas tentam minimizar a importância do
assunto com explicações vagas. Eles professam crer em uma “eleição condicional”, baseada, como
supõem, numa fé prevista e na obediência evangélica dos seus objetos. Isto, é claro, destrói a eleição em
qualquer senso inteligível do termo, e a reduz a um mero reconhecimento ou profecia que em algum
tempo futuro algumas pessoas serão possuídas por aquelas qualidades. Se baseado na fé e obediência
evangélica, então, como tem sido cinicamente fraseado, Deus é cuidadoso ao escolher somente aqueles a
quem Ele prevê que se elegerão a si próprios. No sistema teológico Arminiano, a eleição é reduzida a um
mero vocábulo ou nome, do qual o uso somente tende a envolver o sujeito numa maior obscuridade e
confusão. Um mero reconhecimento que aquelas qualidades estarão presentes em algum tempo futuro é,
claro, algo falsamente chamado de “eleição”, ou simplesmente nenhuma eleição qualquer que seja. E
alguns Arminianos, consistentemente levando a cabo as suas próprias doutrinas que o ser humano pode
ou não aceitar, e se ele efetivamente aceitar ele pode cair novamente, identificam o tempo deste decreto
da eleição com a morte do crente, como se somente então a sua salvação viesse a ser certa.
A Eleição aplica-se não somente aos homens mas também e igualmente aos anjos, desde que eles
também fazem parte da criação de Deus e estão sob o Seu governo. Alguns destes são santos e felizes,
outros são cheios de pecado e miseráveis. As mesmas razões que levam-nos a crer numa predestinação
de homens também nos fazem crer numa predestinação de anjos. As Escrituras confirmam este ponto de
vista através de referências a “anjos eleitos”[I Timóteo 5:21], e “anjos santos” [Marcos 8:38], os quais
contrastam com “anjos maus” ou “demônios”. Lemos que Deus “... não poupou a anjos quando pecaram,
mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;”[II Pedro
2:4]; lemos também acerca do “... fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;”[Mateus 25:41]; e
de “... anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem
reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia”[Judas 6]; e da “... guerra no céu:
Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,”[Apocalipse
12:7]. Um estudo dessas passagens nos mostra que, conforme Dabney diz, “há dois tipos de espíritos,
nesta ordem; santos e pecadores – os anjos, servos de Cristo e os servos de Satã; que foram criados num
estado de santidade e de felicidade, e habitavam na região chamada Céu (a bondade e a santidade de
Deus são prova suficiente de que Ele não os criaria de outra forma); que os anjos maus volutariamente
perderam seu estado [de santidade e felicidade] ao pecarem, e foram excluídos para sempre do Céu e da
santidade; que aqueles que mantiveram seu estado [de santidade e felicidade] foram doravante eleitos por
Deus, e que o seu estado de santidade e beatitude é agora assegurado para sempre.” 7
Paulo não faz nenhuma tentativa de explicar como Deus pode ser justo ao mostrar misericórdia e passala a quem Ele quiser. Em resposta à pergunta do opositor, “Por que se queixa ele ainda?” (com aqueles a
quem Ele não estendeu a misericórdia salvadora), ele (Paulo) resolve a questão toda simplesmente
evocando a soberania de Deus, ao replicar, “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura
a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o oleiro poder sobre o
barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?”[vide
Romanos 9:19-21] (e note-se que Paulo aqui diz os vasos não são feitos de diferentes espécies ou tipos
de barro, mas que é “da mesma massa”, que Deus, o oleiro, faz um vaso para honra e outro para a
desonra.) Paulo não tira Deus do Seu trono e O coloca perante a nossa razão humana para ser
questionado e examinado. Estes Seus conselhos secretos, os quais mesmo aos anjos, que adoram com
tremor e desejo de conhecer, não são explicados; exceto que são ordenados a ser conforme o Seu próprio
prazer. E depois que Paulo assim afirma, ele como se colocando sua mão à frente, nos proíbe de ir
adiante. Fosse verdadeira a hipótese assumida pelos Arminianos, nominalmente, que a todos os homens
é dada suficiente graça e que cada um é recompensado ou punido, castigado conforme o seu próprio uso
ou abuso de tal graça, não teria havido nenhuma dificuldade a que fazer conta.
MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS
-- II Tessalonicenses 2:13 : “... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do
espírito e a fé na verdade,”
-- Mateus 24:24 : “porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e
prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”
-- Mateus 24:31 : “E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão
os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.”
-- Marcos 13:20 : “Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa
dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.” (quando da destruição de Jerusalém).
-- I Tessalonicenses 1:4 : “conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;”
-- Romanos 11:7 : “... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,”
-- I Timóteo 5:21 : “Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos ...”
-- Romanos 8:33 : “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;”
-- Romanos 11:5 : “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição
da graça.”
-- II Timóteo 2:10 : “... tudo suporto por amor dos eleitos.”
-- Tito 1:1 : “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus...”
-- I Pedro 1:1 : “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ...” (algumas traduções como “eleitos”
-- I Pedro 5:13 : “A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho Marcos.”
-- I Pedro 2:9 : “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para
que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;”
-- I Tessalonicenses 5:9 : “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação
por nosso Senhor Jesus Cristo,
-- Atos 13:48 : “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram
todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”
-- João 17:9 : “Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens
dado, porque são teus;”
-- João 6:37 : “Todo o que o Pai me dá virá a mim ...”
-- João 6:65 : “... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.”
-- João 13:18 : “Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ...”
-- João 15:16 : “Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ...”
-- Salmo 105:6 : “vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos.”
-- Romanos 9:23 : “... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,”
(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos 9:11-13, 8:29, 30 e
etc).
3. PROVAS DA RAZÃO
Se a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) ou Pecado Original for admitida, a doutrina da
Eleição Incondicional segue a mais inescapável lógica. Se, como as Escrituras e a experiência nos dizem,
todos os homens estão por natureza num estado de culpa e depravação do qual eles são totalmente
incapazes de livrarem-se a si mesmos e não têm nenhum direito, qualquer que seja, para que Deus os
resgate, segue-se então que se qualquer um for salvo Deus deve então escolher aqueles que deverão ser
objeto da Sua graça. O Seu amor para com os homens caídos expressa-se na escolha de uma multidão
inumerável deles para a salvação, e na provisão de um redentor, quem, agindo como seu cabeça e
representante, assumiu a sua culpa, sofreu o seu castigo, e ganhou para eles a salvação. É sempre ao
amor de Deus que a Bíblia atribui o decreto eletivo, e ela nunca se cansa de elevar nossos olhos do
decreto em si, para o motivo e razão que encontra-se por trás dele. A doutrina de que os homens são
salvos somente através do imerecido amor e da imerecida graça de Deus encontra sua honesta e completa
expressão somente nas doutrinas do Calvinismo.
Através da eleição de indivíduos o caráter verdadeiramente gracioso da salvação é mostrado de forma
mais clara. Aqueles que declaram que a salvação é inteiramente obra da graça de Deus, e todavia negam
a doutrina da eleição, adotam uma posição inconsistente. Os escritores inspirados utilizam-se de todos
meios para guiar-nos ao fato de que a eleição dos homens por Deus é uma eleição absolutamente
soberana, alicerçada unicamente no Seu amor que é imerecido pelo homem, e destinada a mostrar aos
homens e aos anjos a Sua graça e misericórdia salvadoras.
Como Juiz e Soberano, Deus tem a liberdade de lidar com um mundo de pecadores conforme o Seu
beneplácito. Ele tem todo o direito perdoar alguns e condenar outros; tem todo o direito de dar a Sua
graça salvadora a um e não dá-la a outro. Desde que todos pecaram estão destituídos da Sua glória, Ele é
livre para ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia. Não é pela vontade do homem, nem
pelas obras do homem, mas por Deus, que mostrou misericórdia, e o motivo pelo qual um é salvo, e a
razão pela qual um é salvo enquanto que outro não é, podem ser encontrados somente no beneplácito
dEle, que ordenou todas as coisas após o conselho da Sua própria vontade. É por esta razão que antes
que Deus criasse o mundo Ele escolheu todos aqueles a quem Ele daria gratuitamente a herança das
bênçãos eternas, e os escritores Bíblicos tomam cuidados especiais para dar a cada crente na enorme
multidão dos salvos a segurança de que desde toda a eternidade ele mesmo tem sido objeto peculiar da
escolha divina, e que ele somente agora está atingindo o alto destino preparado para ele desde a fundação
do mundo.
Esta doutrina da eleição eterna e incondicional tem algumas sido chamada algumas vezes de “o coração”
da Fé Reformada. Ela enfatiza a soberania e a graça de Deus na salvação, enquanto que o ponto de vista
Arminiano enfatiza a obra da fé e da obediência do homem, que decide aceitar a graça oferecida. No
sistema teológico Calvinista, é somente Deus quem escolhe aqueles que serão os herdeiros do céu,
aquels com quem Ele compartilhará as Suas riquezas na glória; enquanto que no sistema Arminiano é,
em última análise, o homem quem determina tanto, –– um princípio no qual, de alguma forma falta
humildade, para dizer o mínimo.
Pode ser questionado, “Por que Deus salva a alguns e a outros não?” Mas a resposta pertence aos Seus
conselhos secretos, somente. Precisamente por que este homem recebe a salvação, e aquele homem não a
recebe, quando nenhum dos dois merecia recebê-la, nós não sabemos. Que Deus ficou satisfeito em
estabelecer sobre nós a Sua graça eletiva, deve ser-nos para sempre um tema de adorável maravilha.
Certamente nada havia em nós, seja qualidade ou feito (obra), que pudesse atrair Sua atenção
favoravelmente ou faze-LO parcial a nós; pois estávamos mortos nos nossos delitos e pecados e filhos da
ira, como também os demais (vide Efésios 2:1-3). Podemos somente admirar, e maravilharmo-nos, e
exclamar em coro com Paulo, “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”[Romanos 11:33]. A
maravilha das maravilhas não é que Deus, nos Seus infinitos amor e justiça, não tenha elegido para a
salvação a todos desta raça culpada, mas que Ele tenha elegido a alguns. Quando consideramos, por um
lado, quão abominável é o pecado, junto com o merecimento de punição; e por outro lado, o que a
santidade é, junto com a perfeita aversão de Deus pelo pecado; a maravilha é como Deus poderia ter o
consentimento da Sua natureza santa para salvar um único pecador. Mais ainda, o motivo pelo qual Deus
não escolheu a todos para a vida eterna não foi porque Ele não desejasse salvar a todos, mas que por
razões as quais nós não conseguimos explicar totalmente, uma escolha universal teria sido inconsistente
com a Sua perfeita retidão.
Nem ninguém pode fazer objeção que este ponto de vista represente Deus agindo arbitrariamente e sem
razão. Postular tal seria afirmar mais do que qualquer homem sabe. As Suas razões, os Seus motivos
para salvar uns em particular enquanto deixando outros de lado não nos são revelados. “... e segundo a
sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra;”[Daniel 4:35]. Alguns são
preordenados como filhos, “... segundo o beneplácito de sua vontade”[Efésios 1:5]. Quando um
regimento é dizimado por insubordinação, o fato de cada décimo homem ser escolhido para a morte tem
suas razões, mas as razões não estão nos homens.
Indubitavelmente Deus tem os melhores motivos para escolher um e rejeitar outro, embora Ele não nos
tenha dito quais são.
"May not the Sov'reign Lord on high
Dispense His favors as He will;
Choose some to life, while others die,
And yet be just and gracious still?
“Não pode o Soberano Senhor nas alturas
Dispensar Seus favores como quiser;
Escolher alguns para a vida, enquanto outros morrem,
E todavia ainda ser justo e gracioso?
Shall man reply against the Lord,
And call his Maker's ways unjust?
The thunder whose dread word
Can crush a thousand worlds to dust.
Pode o homem replicar contra Deus,
E chamar os Seus caminhos de injustos?
O trovão cujo bramido
Pode transformar mil mundos em pó.
But, O my soul, if truths so bright
Should dazzle and confound thy sight,
'Yet still His written will obey,
And wait the great decisive day!"8
Mas minha alma, se a verdade tão brilhante
Ofusca e confunde tua visão,
Ainda assim, a Sua palavra obedecerás,
e o grande e decisivo dia aguardarás!” 8
4. FÉ E BOAS OBRAS SÃO OS FRUTOS E AS PROVAS, NÃO A BASE, DA ELEIÇÃO
Nem a predestinação em geral, ou a eleição daqueles que serão salvos, está baseada na previsão de Deus
de qualquer ação da criatura. Este princípio da Fé Reformada foi bem apresentado na Confissão de
Westminster, onde lemos: “Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as
circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como
coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.”[Capítulo III – ‘Dos Eternos Decretos de Deus’ –
parágrafo II (Referências At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.)] e
ainda, “Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de
uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança,
edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a
Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em
santificação, tenham no fim a vida eterna.”[Capítulo XVI – ‘Das Boas Obras’ – parágrafo II (Referências
Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim.
4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedr. 2:12, 15; Fil. 1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.)]; “O poder de
fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo.
A fim de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma influência
positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito;
contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer
dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça
de Deus que há neles.”[Capítulo XVI – ‘Das Boas Obras’ – parágrafo III (Referências João I5:4-6; Luc.
11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa. 64:7.)]
Fé prevista e boas obras não podem, então, nunca serem vistas como sendo a cauda da eleição Divina.
Elas são mais os frutos e a prova da mesma. Elas mostram que a pessoa foi escolhida e regenerada. Fazer
delas a base da eleição nos envolve novamente num pacto de obras, e coloca os propósitos de Deus no
sentido temporal, ao invés de eterno. Não seria pré-destinação, mas sim pós-destinação, uma inversão do
que a Bíblia apresenta, a qual faz a fé e a santidade serem o resultado, e não a causa da eleição
(conforme Efésios 1:4; João 15:16; Tito 3:5). A declaração de que nós fomos escolhidos em Cristo
“antes da fundação do mundo” exclui qualquer consideração de mérito nosso; pois no idioma Hebraico,
algo feito “antes da fundação do mundo” quer dizer “algo feito na eternidade”. E quando à declaração de
Paulo que “... não por causa das obras, mas por aquele que chama”, o Arminiano responde que trata-se
de obras futuras, ele simplesmente contradiz-se com as palavras do próprio apóstolo.
Que o decreto da eleição fosse de qualquer forma baseado na pré ciência é refutado por Paulo quando ele
diz que o propósito era “...para sermos santos...”[Efésios 1:4]. Ele insiste que a salvação é “não vem das
obras, para que ninguém se glorie.” Em II Timóteo 1:9 lemos que é Deus “que nos salvou, e chamou
com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça
que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,”. Os Calvinistas portanto sustentam que a
eleição precede, e não é baseada em nenhuma boa obra que a pessoa faça. A própria essência da doutrina
é que na obra da redenção Deus não é movido por nenhuma consideração de mérito ou de bondade da
parte dos objetos de sua misericórdia salvadora. “Que não é porque o homem corra, ou porque ele
intente, mas é de Deus, que demonstra misericórdia, que o pecador obtém a salvação, é a testemunha
confiável de toda a Bíblia, demandado tão reiteradamente e em conexões tão variadas que excluem a
possibilidade de que possa esconder-se por trás do ato da eleição qualquer consideração de caracteres,
atos ou circunstâncias previstos –– todos os quais aparecem como resultado da eleição.” 10
Preordenação em geral não pode apoiar-se na pré ciência; pois somente aquilo que é certo pode ser pré
sabido, e só o que é predeterminado pode ser certo. O Todo-Poderoso e Onipotente Rei do universo não
governa a Si próprio embasado numa pré ciência das coisas que podem graciosamente virem a acontecer.
Nas Escrituras Sagradas, a pré ciência divina é sempre considerada como dependente do propósito
divino, e Deus sabe somente porque Ele predeterminou. Seu conhecimento é somente a transcrição da
Sua vontade quanto ao que existirá no futuro; e o rumo que o mundo toma sob o Seu providencial
controle é somente a execução do Seu plano todo abrangente. Sua pré ciência do que ainda será, seja
relacionado ao mundo como um todo ou relacionado aos detalhes da vida de cada indivíduo, baseia-se no
Seu plano pré organizado (vide Jeremias ‘:5; Salmo 139:14-16; Jó 23:13, 14: 28:26, 27; Amós 3:7).
Voltemos agora a nossa atenção para uma passagem na Bíblia que é comumente mostrada como
ensinamento de que geralmente a eleição ou mesmo a pre-ordenação são baseadas na pré ciência. Em
Romanos 8:29, 30, lemos: “[29] Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos
que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que
justificou, a estes também glorificou.” A palavra “conhecer” é usada algumas vezes num sentido
diferente do que simplesmente ter uma percepção intelectual de algo mencionado. Ocasionalmente pode
significar que as pessoas “conhecidas” são os objetos especiais e peculiares do favor de Deus, como foi
escrito a respeito dos Judeus: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido ...”[Amós 3:2].
Paulo escreveu, “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.”[I Coríntios 8:3]. Jesus, está
escrito, “conhece” o Seu rebanho [João 10:14, 27]; e aos perversos Ele dirá, “... Nunca vos
conheci...”[Mateus 7:23]. No primeiro capítulo do livro dos Salmos, lemos: “...o Senhor conhece o
caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à ruína.”[Salmo 1:6]
Mais que uma percepção ou um reconhecimento mental estão envolvidos nestas passagens, pois Deus os
tem tanto do perverso como do justo. É um tipo de conhecimento, de ciência, que tem como objeto e está
conectado só com os eleitos, ou em outras palavras é o mesmo que amor, favor e aprovação. Aqueles em
Romanos 8:29 são pré conhecidos no sentido de que eles foram pré designados a serem os objetos
especiais do Seu favor. Tal é mostrado mais claramente em Romanos 11:2.5, onde lemos: “Deus não
rejeitou ao seu povo que antes conheceu.” (uma comparação é feita com a época de Elias, quando Deus
“separou para Si” os sete mil que não dobraram seus joelhos a Baal) e no verso [5] ele complementa:
“Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça.” Aqueles
que ‘antes foram conhecidos’ como no versículo [2] e aqueles que são segundo a eleição da graça são o
mesmo povo; assim é que eles foram pré conhecidos no sentido de haverem sido pré apontados, pré
designados para serem objetos dos Seus graciosos propósitos. Note especialmente que em Romanos 8:29
não diz que eles foram pré conhecidos como perpetradores de boas obras, mas que eles foram pré
conhecidos como indivíduos a quem Deus estenderia a graça da eleição. E seja notado também que se
Paulo tivesse aqui usado o termo “pré conhecer” no sentido de que a eleição estava baseada meramente
na pré ciência, sua afirmação seria contraditória com todas as demais passagens, que afirmam que a
eleição é segundo o beneplácito de Deus.
O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Isto faz com
que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às precárias vontades de homens apóstatas e
transforma eventos temporais em motivos para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou
um conjunto de seres soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é
assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o que é certo, mas
que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior, Deus é apresentado como tendo
evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido tão geralmente derrotado que já mandou
inumeravelmente mais pessoas para o inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos
como conclusão não somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus.
Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em Suas perfeições,
que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e quem realmente detém o governo sobre
todos os assuntos na vida dos homens.
A Bíblia e a experiência Cristã nos ensinam que a própria fé e o arrependimento através dos quais nós
somos salvos, são eles próprios dádivas de Deus. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto
não vem de vós, é dom de Deus;”[Efésios 2:8]. Os Cristãos em Acaia “... pela graça haviam crido.”[Atos
18:27]. Um homem não está salvo por crer em Cristo, ele crê em Cristo porque está salvo. Mesmo o
princípio da fé, a disposição para procurar salvação, é obra da graça dádiva de Deus. Paulo
costumeiramente diz que somos salvos “através”, “por meio” da fé (ou seja, como a causa instrumental),
mas nenhuma vez ele diz que somos salvos “por conta” da fé (como sendo a causa meritória). E no
mesmo sentido nós podemos dizer que os redimidos serão recompensados em proporção às suas boas
obras, mas não em razão delas. E de acordo com isto, Agostinho diz que “Os eleitos de Deus são
escolhidos por Ele para serem Seus filhos, de maneira que possam vir a crer, não porque Ele pré viu que
eles creriam.”
Quanto ao arrependimento, é igualmente declarado ser uma dádiva. “Ouvindo eles estas coisas,
apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o
arrependimento para a vida.”[Atos 11:18]; “sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador,
para dar a Israel o arreendimento e remissão de pecados;”[Atos 5:31]. Paulo criticou aqueles que não se
deram conta de que era a benignidade de Deus que os levou ao arrependimento [veja Romanos 2:4].
Jeremias clamou “... restaura-me, para que eu seja restaurado, pois tu és o Senhor meu Deus ......
arrependi-me; e depois que fui instruído,”[Jeremias 31:18, 19]. O que, por exemplo, tinha João Batista a
ver com o fato de estar “cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe”[Lucas 1:15] ? Jesus disse
aos Seus discípulos que para eles havia sido dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas que a
outros o mesmo não havia sido dado (veja Mateus 13:11). Basear a eleição em fé prevista é o mesmo que
dizer que nós somos ordenados para a vida eterna porque nós cremos, enquanto que as Escrituras
declaram o contrário: “...e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”[Atos 13:48]
Nossa salvação é “não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a Sua
misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo,”[Tito 3:5].
Nós somos encorajados a efetuar a nossa própria salvação com temor e tremor, pois é Deus quem operou
em nós tanto o querer como o efetuar da Sua boa vontade. E simplesmente porque Deus opera em nós, é
que buscamos desenvolver e efetuar a nossa própria salvação (vide Filipenses 2:12,13). O Salmista nos
diz que o povo do Senhor oferece-se voluntariamente no dia do Seu poder (vide Salmo 110:3). Assim é
que a conversão é uma dádiva peculiar e soberana de Deus. O pecador não tem poder para voltar-se a
Deus, mas é voltado ou renovado pela graça divina antes que ele possa fazer qualquer coisa
espiritualmente boa. De acordo com esta premissa Paulo nos ensina que o amor, o gozo, a paz, a
longanimidade, domínio próprio, etc., não são as bases meritórias da salvação, mas antes “os frutos do
Espírito,” (veja Gálatas 5:22, 23). O próprio Paulo foi escolhido de forma que viesse a conhecer e fazer a
vontade de Deus, não porque houvesse sido previsto que ele o faria (veja Atos 22:14, 15). Agostinho nos
diz que, “A graça de Deus não encontra homens para serem eleitos, mas faz com que sejam”; e
novamente, “A natureza da bondade Divina não é somente para abrir àqueles que batem, mas também
para faze-los bater e pedir.” Lutero expressou a mesma verdade quando disse, “Somente Deus pelo seu
Espírito opera em nós o mérito e a recompensa.” João nos diz que, “Nós amamos, porque ele nos amou
primeiro.”[I João 4:19]. Estas passagens ensinam-nos sem margem para erros que a fé e as boas obras
são os frutos da obra de Deus em nós. Não somos escolhidos porque somos bons, mas para que
possamos vir a tornarmo-nos bons.
Mas enquanto boas obras não são o terreno da salvação, elas são absolutamente essenciais para tanto,
como sendo os seus frutos e as suas evidências. Elas são produzidas pela fé tão naturalmente como as
uvas são produzidas pela parreira. E todavia não nos façam justos perante Deus, elas são tão ligadas à fé
que a verdadeira fé não pode ser encontrada sem elas. Nem podem as boas obras, no sentido estrito,
serem encontradas em lugar algum sem a fé. Nossa salvação não provém “de obras”, mas “para boas
obras” (veja Efésios 2:9, 10); e o Cristão genuinamente salvo ver-se-á em seu elemento natural somente
quando produzindo boas obras. Este é o mesmo princípio que Jesus estabeleceu quando Ele declarou que
o caráter de uma árvore é mostrado por seus frutos, e que uma boa árvore não pode dar frutos maus. As
boas obras são tão naturais para o Cristão quanto o é respirar; ele não respira para ter vida; ele respira
porque ele tem vida, e por esta mesma razão ele não pode evitar respirar. Boas obras são a sua glória, por
isso é que Jesus diz, “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.”[Mateus 5:16], a quem verdadeiramente todo o
crédito é devido.
A visão Calvinista é a única lógica, se aceitarmos a declaração Bíblica de que a salvação é pela graça.
Qualquer outra nos envolve num caos de pontos de vista sem saída, que são contraditórios às Escrituras.
Há, é claro, mistérios conectados com esta visão Calvinista, e certamente não é a visão que o homem
natural teria, tivesse ele sido chamado para sugerir um plano. Mas jogar fora a doutrina Bíblica da
Predestinação, simplesmente porque ela não se adequa aos nossos preconceitos e noções pré concebidas,
é agir tolamente. Faze-lo é colocar o Criador no banco dos réus no tribunal da razão humana, é negar a
sabedoria e a retidão dos Seus atos só porque não podemos sondá-Los, e então declarar que a Sua
revelação é falsa e enganosa.
“É uma atitude perigosa para os homens tomarem sobre si mesmos, ignorantemente, desvendar os
profundos mistérios de Deus com sua razão carnal, onde o grande apóstolo posta-se clamando em
assombro, ‘Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis
são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!’[Romanos 11:33]. Tivesse Paulo sido da
persuasão Arminiana, ele teria continuado, ‘Aqueles que estão eleitos são os que foram pré vistos
acreditar e perseverar’ ”11. E não haveria mistério algum, se a salvação fosse baseada naquelas palavras.
Então, temos um sistema teológico do qual todo discurso vanglorioso é excluído, e no qual salvação em
todos as suas partes é vista como o produto de pura graça, que resulta em boas obras, sem contudo estar
centrado nelas.
5. REJEIÇÃO
Proposição –– Comentários de Calvino, Lutero e Warfield –– Prova da Bíblia –– Baseada na Doutrina
do Pecado Original –– Nenhuma Injustiça é Imputada aos Não-Eleitos –– Estado de Ateísmo ––
Propósitos do Decreto da Rejeição –– Arminianos de Centro Atacam esta Doutrina –– Sem Nenhuma
Obrigação de Explicar todas Estas Coisas.
Logicamente, é claro que a doutrina da Predestinação absoluta sustenta que alguns são preordenados à
morte tão certamente quanto outros são preordenados à vida. Os termos “eleitos” e “eleição”
correspondem aos termos “não eleitos” e “rejeição”. Quando alguns são escolhidos outros não o são. Os
altos privilégios e o destino glorioso daqueles escolhidos não são compartilhados com os outros que não
o foram. Cremos que desde toda a eternidade Deus decidiu que parte da posteridade de Adão
permaneceria no seu pecado, e que o fator decisivo na vida de cada um é deve ser encontrado somente na
vontade de Deus. Como Mozley disse, a raça humana inteira, depois da queda, era uma “massa de
perdição”, e “pareceu bem a Deus em Sua soberana misericórdia resgatar alguns e deixar outros onde
encontravam-se; elevar alguns para a glória, dando-lhes tal graça quanto os qualificou para recebe-la,
abandonando o resto, de quem ele reteve aquela mesma graça, para o castigo eterno.” 12
A maior dificuldade com a doutrina da Eleição, claro, emerge com relação aos não salvos; e as Escrituras
não nos dão explicação detalhada para a condição e o estado deles. Uma vez que a missão de Jesus no
mundo foi salvar o mundo ao invés de julgá-lo, este aspecto do assunto é chamado menos à atenção.
Em todos os credos Reformados que chegam a lidar com a doutrina da Rejeição, o tema é tratado como
uma parte essencial da doutrina da Predestinação. A Confissão de Westminster, depois de apresentar a
doutrina da eleição, acrescenta: “Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele
concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas
criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e
ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.”[Capítulo III – Dos Eternos Decretos de
Deus – parágrafo VII (referências Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8)].” 13
Aqueles que adotam e sustentam a doutrina da Eleição mas negam a doutrina da Rejeição não podem
alegar consistência. Afirmar a primeira e ao mesmo tempo negar a segunda faz do decreto da
predestinação um decreto ilógico e sem qualquer simetria. O credo que apresenta a Eleição e no entanto
nega a Rejeição se parecerá como uma ave ferida tentando levantar vôo com somente uma asa. No
interesse de um “Calvinismo moderado” alguns tem-se inclinado a abandonar a doutrina da Rejeição, e
este termo (em si mesmo um termo muito inocente) tem sido usado como cunha para ataques injuriosos
contra o Calvinismo puro e simples. “Calvinismo Moderado” é sinônimo Calvinismo doente, e doença,
se não curada, é o princípio do fim.
Comentários de Calvino, Lutero, e Warfield
Calvino não hesitou em basear a rejeição dos perdidos, assim como a eleição dos salvos, no propósito
eterno de Deus. Temos já mencionado-o no sentido de que “nem todos homens são criados com um
destino similar mas a vida eterna é preordenada para alguns, e a danação eterna para outros. Cada
homem, portando, criado para um ou outro destes fins, dizemos, é predestinado seja para a vida ou para a
morte.” 14. Que a segunda alternativa levante problemas que não são fáceis de serem resolvidos, ele
prontamente admite, mas advoga tal como a única explicação inteligente e Bíblica dos fatos.
Lutero também, tão certamente quanto Calvino, atribui a perdição eterna dos perversos, assim como a
salvação eterna dos justos, ao plano de Deus. “Pode muito bem ofender a nossa natureza racional, que
Deus, de Sua própria e imparcial vontade, deixasse alguns homens entregues a si próprios, endurecesseos e os condenasse; mas Ele demonstra abundante e continuamente, que este é realmente o caso; quer
dizer, que a única razão pela qual alguns são salvos e outros perecem, procede da Sua vontade a salvação
de alguns e a perdição de outros, conforme o que escreveu Paulo, Ele ‘Portanto, tem misericórdia de
quem quer, e a quem quer endurece.’[Romanos 9:18] ” E de novo, “Pode parecer absurdo à sabedoria
humana que Deus devesse endurecer, cegar e entregar alguns homens a um senso corrupto; que Ele
primeiramente os deixasse à mercê do mal, e depois os condenasse por aquele mesmo mal; mas o crente,
o homem espiritual não vê absurdo em tudo isso; sabendo que Deus não seria um mínimo menos bom,
mesmo que Ele destruísse todos os homens.” Lutero segue, então, dizendo que isto não deve ser
compreendido como se Deus encontra homens bons, sábios, obedientes e os transforma em homens
maus, tolos e obtusos, mas que tais homens já são depravados e caídos e que aqueles homens que não
são regenerados, ao invés de tornarem-se melhores sob os comandos e as influências divinos, sua reação
é somente a de piorarem. Referindo-se aos capítulos IX, X e IX da Epístola de Paulo aos Romanos,
Lutero diz que “Absolutamente todas as coisas acontecem a partir da e dependem do comando Divino;
por onde foi préordenado quem deveria receber a palavra da vida e quem deveria não aceitá-la; quem
deveria ser livrado dos seus pecados e quem deveria ser endurecido neles, quem seria justificado e quem
seria condenado.” 15
“Os escritores Bíblicos,” diz o Dr. Warfield, “estão tão longe quanto possível de obscurecer a doutrina
da eleição por causa de quaisquer idéias ou proposições aparentemente desagradáveis que advém dela.
Ao contrário, eles expressamente separam tais idéias ou proposições as quais freqüentemente são assim
designadas, e as fazem uma porção do seus estudos explícitos. Sua doutrina da eleição, eles nos dizem
livremente, por exemplo, certamente envolve uma correspondente doutrina da preterição. O próprio
termo adotado no Novo Testamento assim o expressa –– eklegomai, que como Meyer diz com justiça
(Efésios 1:4), ‘sempre tem, e deve ter por uma necessidade lógica, uma referência a outros a quem os
eleitos, sem a ‘ekloga’, ainda pertenceriam’ –– encorpando uma declaração do fato que na sua eleição
outros são passados e deixados sem a dádiva da salvação; a apresentação inteira da doutrina é tal que ou
ela implica ou ela abertamente declara, na sua própria emergência, a remoção dos eleitos pela pura graça
de Deus, não só e meramente de um estado de condenação, mas também da companhia dos condenados
–– uma companhia em quem a graça de Deus não tem nenhum efeito salvador, e que são portanto
deixados sem esperança em seus pecados; e a positiva e justa condenação dos impenitentes por seus
pecados é explícita e repetidamente ensinada em acentuado contraste com a salvação gratuita dos eleitos
apesar dos seus pecados.” 16
E novamente ele diz: “A dificuldade que é sentida por alguns quanto a seguir o argumento do apóstolo
(vide Romanos 11 f), podemos suspeitar, tem raízes em parte num resumo do que lhes parece um
desígnio arbitrário de homens para destinos diversos sem qualquer consideração do seu merecimento.
Certamente Paulo afirma explicitamente tanto a soberania da rejeição quanto da eleição, –– se estas
idéias gêmeas forem, de fato, separáveis mesmo que seja em pensamento; se ele representar a Deus
como soberanamente amando a Jacó, ele igualmente O representará como soberanamente odiando a
Esaú; se declarar que Ele tem misericórdia de quem Ele quer, ele também declarará, igualmente, que Ele
endurece a quem Ele quer. Sem dúvida a dificuldade normalmente sentida é, em parte, conseqüência de
uma realização insuficiente da concepção fundamental de Paulo quanto ao estado do homem, em muito
como pecadores condenados perante um Deus irado. Ele apresenta Deus lidando com um mundo cheio
de pecadores, e a partir daquele mesmo mundo, a construção de um Reino de Graça. Não fossem todos
os homens pecadores, talvez ainda existisse uma eleição, tão soberana como agora, e em havendo uma
eleição, ainda haveria uma rejeição também soberana; mas a rejeição não seria uma rejeição para castigo,
para destruição, para morte eterna, mas para algum outro destino consoante com o estado daqueles não
eleitos, onde eles devessem ser deixados. Não é, de fato, porque os homens são pecadores que eles são
deixados ‘não eleitos’; a eleição é livre, e em assim sendo a rejeição também deve ser igualmente livre;
mas é somente porque os homens são pecadores que o que é deixado aos não eleitos é a destruição. E é
nesse universalismo de ruína, ao invés de em um universalismo de salvação, que Paulo realmente tem as
raízes da sua defesa da bondade e onipotência de Deus. Quando todos merecem a morte, é uma
maravilha de pura graça que alguém receba a vida; e quem poderia negar o direito dAquele que mostra
misericórdia tão miraculosa, de ter misericórdia de quem Ele quer, e endurecer a quem Ele quer?” 17
Prova das Escrituras
Esta é, admitidamente, uma doutrina desagradável. Ela não é ensinada com o propósito de ganhar o favor
dos homens, mas o é somente o pleno ensino das Escrituras e a contrapartida lógica da doutrina da
Eleição. Nós veremos que algumas passagem ensinam esta doutrina com uma clareza incontestável. Tais
passagens deveriam ser suficientes para qualquer um que aceite a Bíblia como a palavra de Deus. “O
Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal”[Provérbios 16:4]. A respeito de Cristo,
é dito quanto ao ímpio: “...Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na
palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados”[I Pedro 2:8]. “Porque se
introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo,
homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e
Senhor, Jesus Cristo.”[Judas 4]. “Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem
presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção”[II Pedro 2:12]. “Porque
Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à besta o
seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.”[Apocalipse 17:17]. Com relação à besta da visão
de João, é dito, “E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos
no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.”[Apocalipse 13:8]. E podemos ainda
contrastar estas passagens com os discípulos a quem Jesus disse: “Contudo, não vos alegreis porque se
vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.”[Lucas
10:20], e com o que Paulo disse aos seus colaboradores: “E peço também a ti, meu verdadeiro
companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros
meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida”[Filipenses 4:3]
Paulo declara que os “vasos da ira” que pelo Senhor foram “preparados para a destruição,” foram
“suportou com muita paciência” de modo que Ele pudesse “mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu
poder”; e estes vasos da ira contrastados com os “vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a
glória” de modo “que [Ele] também desse a conhecer as riquezas da sua glória”, naqueles mesmos vasos
{na Epístola aos Romanos, 9:22, 23}. Com relação aos ímpios, é dito que “Deus, por sua vez, os
entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm;”[Romanos 1:28]; e do
perverso, “a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do
justo juízo de Deus”[Romanos 2:5].
Com relação àqueles que perecem, Paulo diz que “...por isso Deus lhes envia a operação do erro, para
que creiam na mentira;”[II Tessalonicenses 2:11]. Eles são chamados a sustentarem tais coisas (erro,
mentira – n.t.) de um modo aparente, admirá-las e depois perecer nos seus pecados. Ouçam as palavras
de Paulo na sinagoga em Antioquia em Psídia: “...porque realizo uma obra em vossos dias, obra em que
de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.”[Atos 13:41]
O apóstolo João, depois de narrar que o povo ainda não cria, embora Jesus houvesse feito tantos sinais
na sua frente, acrescenta, “[39] Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: [40] Cegoulhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e
se convertam, e Eu os cure.”[João 12:39, 40].
O mandamento de Cristo aos perversos no julgamento final, “...Apartai- vos de mim, malditos, para o
fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;”[Mateus 25:41] é o decreto de rejeição mais forte
possível; e é o mesmo em princípio, seja comandado no tempo ou na eternidade. O que é certo para Deus
fazer no tempo, não é errado para que Ele inclua no Seu plano eternal.
Em uma ocasião, o próprio Jesus declarou: “...Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não
vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.”[João 9:39]. E em outra oportunidade, Ele disse, “...Graças
te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as
revelaste aos pequeninos.”[Mateus 11:25]. É difícil para nós aceitar que o Redentor adorável e o único
Salvador dos homens seja, para alguns, pedra de tropeço e rocha de ofensa; todavia é exatamente isto
que a Bíblia O declara ser. Mesmo antes do Seu nascimento, foi dito que Ele estava designado (ou seja,
apontado) para a queda, tanto quanto para o levantamento, de muitos em Israel {“E Simeão os abençoou,
e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em
Israel, e para ser alvo de contradição.”[Lucas 2:34]}. E quando, em sua oração de intercessão no jardim
do Getsêmane, Ele disse, “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens
dado...”[João 17:9] , os não eleitos foram repudiados com todas as palavras.
Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era porque a verdade
poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada. Deixemos a história sagrada falar por
si própria: “[10] E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
[11] Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não
lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo
que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo,
não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz...”[Mateus 13:10-14]:
“[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.
[10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não
veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado.”[Isaías
6:9, 10]
Nessas palavras podemos ver uma aplicação das próprias palavras de Jesus, “Não deis aos cães o que é
santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas...”[Mateus 7:6]. Ele que afirma que Cristo designado
para dar a Sua verdade salvadora para cada um contradiz em cheio ao próprio Cristo. Aos não eleitos, a
Bíblia é um livro selado; e somente aos verdadeiros Cristãos é “dado” ver e entender todas essas coisas.
Tão importante é esta verdade que o Espírito Santo se compraz em repetir por seis vezes no Novo
Testamento o escrito pelo profeta Isaías (compare em Mateus 13:14, 15 ; Marcos 4:12 ; Lucas 8:10 ;
João 12:40 ; Atos 28:27 , Romanos 11:9, 10). Paulo nos diz que pela graça a “eleição” recebeu salvação,
e que o resto foi endurecido; então acrescenta, “...Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não
verem, e ouvidos para não ouvirem...”[Romanos 11:8]. E mais adiante, lembra as palavras de Davi, para
o mesmo propósito: “[9] E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e
em retribuição; [10] escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as
costas.”[Romanos 11:9, 10].
Assim, com relação a alguns, as proclamações evangélicas foram designadas para ferir, e não para curar.
Esta mesma doutrina encontra expressão em muitas outras partes da Bíblia. Moisés disse às crianças de
Israel, “Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o Senhor teu Deus
lhe endurecera o espírito, e lhe fizera obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se
vê.”[Deuteronômio 2:30]. Referindo-se às tribos Canaatitas que marcharam contra Josué, está escrito,
“Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim
de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o
Senhor tinha ordenado a Moisés.”[Josué 11:20]. Hofni e Finéias, os filhos de eli, quando reprovados por
sua perversidade, “...eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir.”[I Samuel
2:25]. Embora o Faraó houvesse agido muito arrogante e perversamente para com os Israelitas, Paulo
não assinala nenhuma outra razão senão a que ele era um dos rejeitados cujas más ações seriam
sobrepassadas pelo bem: “Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o
meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra.”{[Romanos 9:17] – veja também em
[Êxodo 9:16 : “mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para
que o meu nome seja anunciado em toda a terra.”]}. Em todos os rejeitados há uma cegueira e um
obstinado endurecimento de coração; e quando de algum, como o Faraó por exemplo, é dito ter sido
endurecido por Deus, nós podemos estar certos de que eles já eram valorizados com tendo sido entregues
a Satã. Os corações dos perversos são, é claro, nunca endurecidos através de uma influência direta de
Deus –– Ele simplesmente permite que alguns homens sigam os impulsos de maldade que já estão nos
seus corações, de modo que, como resultado das suas próprias escolhas, eles se tornem mais e mais
“calejados” e obstinados. E enquanto é dito, por exemplo, que Deus endureceu o coração do Faraó,
também é dito que o Faraó endureceu o seu próprio coração (compare em Êxodo 8:15; 8:32, 9:34). Uma
descrição é dada a partir do ponto de vista divino, a outra é fornecida a partir do ponto de vista humano.
Em última instância Deus é responsável pelo endurecimento do coração, tanto quanto Ele é quem
permite que isto ocorra, e o escritor inspirado, em linguagem gráfica simplesmente diz que Deus o faz;
mas nunca devemos nós entender que Deus seja a causa imediata e eficiente.
Embora esta doutrina seja difícil, ela é, não obstante, Bíblica. E desde que ela é tão plenamente ensinada
nas Escrituras, nós não podemos assinalar nenhuma outra razão para a oposição que ela tem enfrentado,
a não ser a pura ignorância e o preconceito irracional com que as mentes dos homens têm sido cheias
quando eles se propõem a estudá-la. Quão aplicáveis aqui são as palavras de Rice: –– “Que felicidade
seria para a Igreja de Cristo e para o mundo, se os ministros Cristãos e o povo Cristão se contentassem
em serem discípulos, –– APRENDIZES; se, conscientes das suas faculdades limitadas, da sua
ignorância quanto às coisas divinas, e da sua inclinação para o erro através da sua depravação e do seu
preconceito, eles poderiam ser induzidos a sentarem-se aos pés de Jesus e aprender dEle. A Igreja tem
sido corrompida e amaldiçoada em quase todas as eras pela indevida confiança dos homens no seu
próprio poder de raciocínio. Eles têm se proposto a pronunciarem-se sobre a racionabilidade ou a
irracionabilidade de doutrinas infinitamente acima da sua razão, as quais são necessariamente matéria de
pura revelação. Na sua presunção eles têm tentado compreender ‘as profundezas de Deus’ e têm
interpretado as Escrituras, não conforme o seu sentido óbvio, mas conforme as decisões da razão finita.”
E ele diz novamente, “Ninguém nunca estudou as obras da Natureza ou o Livro do Apocalipse sem
encontrar-se rodeado por todos os lados por dificuldades, por enigmas que ele não poderia solucionar. O
filósofo é obrigado a satisfazer-se com fatos; e o teólogo deve contentar-se com as declarações de
Deus.”18
É estranho afirmar que, muitos daqueles que insistem que quando o povo passa a estudar a doutrina da
Trindade eles devem colocar de lado quaisquer noções pré concebidas e apoiar-se somente na razão
humana, sem ajuda, para decidir o que pode e o que não pode ser verdade acerca de Deus, e quem insiste
que as Escrituras devem ser aceitas aqui como guia autoritativo e inquestionável, não estão na realidade
dispostos a seguir aqueles regras no estudo da doutrina da predestinação.
A doutrina da rejeição é Baseada na Doutrina do Pecado Original; Nenhuma Injustiça é Feita aos Não
Eleitos.
É óbvio que esta parte da doutrina da Predestinação, que afirma que Deus tem, por um decreto eterno e
soberano, escolhido uma porção da espécie humana para a salvação, enquanto deixando a outra porção
destinada a destruição, nos atinge como sendo oposta às nossas idéias comuns de justiça, e assim precisa
de defesa. A defesa da doutrina da Rejeição encontra-se na predecessora doutrina do Pecado Original ou
da Depravação Total (Incapacidade Total). Este decreto encontra toda a raça humana caída. Ninguém
tem qualquer direito à graça de Deus. Mas ao invés de deixar todos à sua justa punição, Deus
gratuitamente confere felicidade imerecida para aquela porção da espécie humana, –– um ato de pura
misericórdia e graça ao qual ninguém pode opor-se, –– enquanto a outra porção é simplesmente deixada
de lado. Nenhuma miséria imerecida é direcionada sobre aquele grupo. Assim, ninguém tem qualquer
direito de opor-se a esta parte do decreto. Se o decreto lida simplesmente com homens inocentes, seria
injusto assinalar uma porção para a condenação; mas desde que ele lida com homens num estado
particular, estado o qual é de culpa e de pecado, ele portanto não é injusto. “A concepção do mundo
como um mundo que encontra-se no mal e portanto já julgado (veja João 3:18), de forma que sobre
aqueles que não são removidos do mal do mundo a ira de Deus não é derramada, mas simplesmente
sobre eles ela permanece (veja João 3:36; confirme com I João 3;14); é fundamental para esta
apresentação. É por outro lado, portanto, que Jesus a Si próprio Se representa como tendo vindo não ára
condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (veja em João 3:17 ; 8:12 ; 9:5 ; 12:47 ,
confirme com João 4:42); e tudo o quanto Ele faz, tendo por motivo a introdução da vida no mundo (veja
João 6:33, 51); o mesmo mundo já condenado não precisa de mais condenação, precisa de salvação.” 19
O homem culpado perdeu os seus direitos e cai sob a vontade de Deus. A soberania absoluta de Deus
agora entra em cena e quando Ele em alguns casos demonstra misericórdia, não podemos opor-nos à sua
justiça em outros, a não ser que estejamos questionando o Seu governo do universo. Visto sob este
prisma, o decreto da Predestinação encontra na raça humana uma massa de perdição e permite que
somente uma parte dela permaneça em tal estado. Quando todos, antecedentemente mereceram castigo,
não era injusto para alguns serem antecedentemente consignados a tanto; caso contrário a execução de
uma justa sentença seria injusta.
Quando o Arminiano diz que fé e obras constituem as bases da eleição nós discordamos,” diz Clark.
“mas se ele disser que crença prevista e desobediência constituem a base da rejeição nós assentimos
bastante prontamente. Um homem não é salvo com base nas suas virtudes mas ele é condenado com base
no seu pecado. Como Calvinistas convictos nós insistimos que enquanto alguns homens são salvos de
sua descrença e desobediência, nas quais todos encontram-se envolvidos, e outros não o são, é ainda a
pecaminosidade do pecador que constitui a base da sua rejeição. A eleição e a rejeição procedem de
diferentes bases; uma é a graça de Deus, a outra é o pecado do homem. É uma caricatura do Calvinismo
dizer que porque Deus elege um homem para a salvação independentemente de seu caráter ou
merecimentos, que portanto Ele eleja outro homem para a danação independentemente de seu caráter ou
merecimentos.” 20
Esta rejeição ou “deixar de lado os não eleitos” não é fundamentada meramente numa previsão da sua
continuidade no pecado; pois se a fé tivesse sido uma causa própria, rejeição teria sido a sina de todos os
homens, pois todos foram pré vistos como pecadores. Nem poderia ser dito que aqueles que foram
“deixados de lado” fossem em todo caso piores pecadores que aqueles trazidos à vida eterna. As
Escrituras sempre atribuem a fé e o arrependimento ao beneplácito de Deus e a operação especialmente
graciosa do Seu Espírito. Aqueles que concebem a raça humana como inocente e merecedora da salvação
ficam escandalizados, naturalmente, quando a qualquer parte da raça seja antecedentemente consignado
o castigo. Mas quando a doutrina do Pecado Original, que é ensinada tão clara e repetidamente na Bíblia,
é vista e analisada em seu escopo adequado, as objeções à predestinação desaparecem e a condenação
dos perversos parece nada mais que natural. Assim, a salvação procede somente do Senhor, e a danação
procede inteiramente de nós. Os homens perecem por não virem a Cristo; todavia se eles tiverem a
vontade de vir, é o Bem que opera tal vontade neles. A Graça, a graça que elege, promove ambas coisas,
desperta a vontade e a mantém firme; e à graça seja todo o louvor.
Ademais, num mundo cheio de pecado e rebeldia, ninguém vale a pena ser salvo, por si mesmo. Deus
graciosamente escolheu alguns quando ele poderia ter passado ao largo por todos, como ele fez com os
anjos caídos (veja em II Pedro 2:4 ; Judas 6). Ele levou tudo sobre si para prover a redenção através da
qual o Seu povo é salvo. A expiação, portanto, é Sua propriedade; e Ele certamente pode, como Ele
muito certamente o fará, qualquer coisa que seja da Sua vontade, através da Sua própria Graça, dada para
um e negada a outro, conforme melhor Lhe convenha. Deve ser notado que o fato de a não dispensação
da Sua graça ao não eleito não se constitui a causa do perecer, tanto como a ausência do médico ao lado
do enfermo é a ocasião, não a causa eficiente, da sua morte. “À vista de um Deus infinitamente bom e
misericordioso,” diz o Dr. Charles Hodge, “era necessário que alguns integrantes da rebelde raça humana
devessem sofrer o castigo pela lei que todos em conjunto haviam quebrado. É uma prerrogativa de Deus
determinar quais serão vasos de misericórdia e quais serão deixados à justa recompensa do seus
pecados.” 21
Desde que o homem levou-se a si mesmo até este estado de pecado, a sua condenação é justa, e cada
demanda por justiça resultaria no seu castigo. A consciência nos diz que o homem perece justamente,
desde que ele decida seguir a Satã ao invés de seguir a Deus. “mas não quereis vir a mim para terdes
vida!”[João 5:40]. E neste sentido a palavras do Prof. F. E. Hamilton é muito apropriada: “Tudo o que
Deus faz é deixá-lo só (o não regenerado) e permitir que ele trilhe o seu próprio caminho sem
interferência. É da sua natureza ser mau, e Deus simplesmente pré ordenou deixar que aquela natureza
permanecesse sem modificação. O quadro muitas vezes pintado por oponentes do Calvinismo, de um
Deus cruel que recusa-Se a salvar aqueles que de há muito deveriam ser salvos, é uma caricatura
grotesca. Deus salva todos quantos queiram ser salvos, mas ninguém cuja natureza não seja modificada
quer ser salvo.” Aqueles que estão perdidos, perdidos estão porque eles deliberadamente escolheram
caminhar na senda do pecado; e isto será mesmo o inferno dos infernos, que os homens tenham destruído
a si próprios.
Muita gente discute se a salvação é um direito inato do homem. E esquecidos do fato de que o homem
perdeu a sua supremamente favorável chance em Adão, eles nos dizem que Deus seria injusto se ele não
desse a todos os seres culpados uma oportunidade para serem salvos. Com relação à idéia de que a
salvação é dada em retribuição a algo feito pela pessoa, Lutero diz, “Mas suponhamos, eu lhes rogo, que
Deus devesse ser tal, que tivesse respeito para com o mérito naqueles que estão danados. Não
deveríamos nós, semelhantemente, também requerer e acreditar que Ele também devesse ter respeito
para com aqueles que serão salvos? Pois se vamos seguir a razão, é igualmente injusto, que os que não
merecem devessem ser coroados, tanto quanto que os que merecem devessem ser condenados.” 22
Ninguém com idéias próprias acerca de Deus supõe que Ele de repente faça algo sobre o que Ele não
tenha pensado antes. Uma vez que os Seus propósitos são eternos, o que Ele faz no tempo é o que Ele
propôs-Se a fazer desde a eternidade. Aqueles a quem Ele salva são aqueles a quem Ele propôs-Se a
salvar desde a eternidade, e aqueles a quem Ele deixa a perecer são aqueles a quem Ele propôs-Se deixar
desde a eternidade. Se é justo para Deus fazer uma determinada coisa no tempo, também é, pela paridade
do argumento, justo para Ele resolver sobre determinado assunto e decretar como tal desde a eternidade,
pois o princípio da ação é o mesmo em ambos casos. E se nós somos justificados em dizer que desde
toda a eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua misericórdia ao perdoar a vasta multidão de
pecadores, por que algumas pessoas objetam tão estressadamente quando dizemos que desde toda a
eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua justiça ao castigar outros pecadores?
Assim é que, se é justo para Deus reter-Se de salvar algumas pessoas depois que elas nascem, foi
também justo para Ele formar aquele propósito antes que elas nascessem, ou na eternidade. E desde que
a vontade determinante de Deus é onipotente, ela não pode ser obstruída ou anulada. Em sendo verdade,
segue-se que Ele nunca antes, nem mesmo agora, quis ou quer que cada indivíduo da raça humana seja
salvo. Se Ele assim quisesse, nenhuma só alma, nunca, poderia ou teria se perdido, “...Pois, quem resiste
à sua vontade?”[Romanos 9:19]. Se Ele quisesse que ninguém se perdesse, Ele teria certamente dado
para todos os homens aqueles meios efetivos de salvação, sem os quais não podem tê-la. Agora, Deus
poderia dar aqueles meios tão facilmente para toda a humanidade, como para somente alguns, mas a
experiência prova que Ele não o faz. Assim é que, logicamente, não é nenhum propósito secreto de Deus
ou um decreto da Sua vontade que todos devam ser salvos. De fato, as duas verdades, que o que Deus faz
Ele o faz desde a eternidade, e que somente uma parte da raça humana é salva, são suficientes para
completar as doutrinas da Eleição e da Rejeição.
O Estado dos Ateus
O fato de que, na obra providencial de Deus, alguns homens são deixados sem o Evangelho e os outros
meios da graça, virtualmente envolve o princípio estabelecido na doutrina Calvinista da Predestinação.
Nós vemos que em todas as épocas a grande parte da humanidade tem sido deixada destituída dos meios
externos da graça. Por séculos os Judeus, cujo número era pequeno, foram o único povo a quem aprouve
a Deus revelar-Se de maneira especial. Jesus restingiu o Seu ministério público quase que
exclusivamente a eles e proibiu os Seus discípulos de andarem no meio de outros até passado o dia de
Pentecostes (veja Mateus 10:5, 6; 28:19; Marcos 16:15; Atos 1:4). Multidões foram deixadas sem a
oportunidade de ouvir o Evangelho, e consequentemente morreram em seus pecados. Se Deus tivesse a
intenção de salvá-los, indubitavelmente Ele teria enviado a eles os meios de salvação. Se Ele tivesse
escolhido cristianizar a Índia e a China há mil anos atrás, Ele mais que certamente poderia ter atingido o
Seu propósito. Ao contrário, eles permaneceram em densas trevas e descrença. Para o estado passado e
presente do mundo, com todo o seu pecado, miséria e morte, não pode haver outra explicação senão
aquela que é dada na Bíblia, –– nominalmente, que a raça caiu em Adão e que em misericórdia Deus
soberanamente escolheu trazer uma multidão inumerável à salvação através de uma redenção que Ele
pessoalmente providenciou. É uma visão pervertida e desonrosa de Deus, imaginá-lo lutando e
batalhando com homens desobedientes, fazendo o Seu melhor para converte-los, mas incapaz de atingir
o Seu propósito.
Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, nominalmente, que Cristo morreu por todos os homens e que os
benefícios da Sua morte são realmente aplicados a todos homens, seria de se esperar que Deus tivesse
provisionado para que o Evangelho fosse comunicado a todos os homens. O problema com os ateus, com
aqueles povos que vivem e morrem sem o Evangelho, tem sido sempre um problema muito difícil para
os Arminianos, que insistem que todos os homens têm graça suficiente se eles simplesmente quiserem
fazer uso dela. Poucos negarão que a salvação está condicionada à pessoa que ouve e que aceita o
Evangelho. A Igreja Cristã tem praticamente sido unânime ao declarar que os ateus como uma classe
estão perdidos. Que isto seja um ensinamento claro na Bíblia, nós podemos facilmente mostrar: –––
“E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens,
em que devamos ser salvos.”[Atos 4:12]. “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também
perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.”[Romanos 2:12]. “Porque ninguém
pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.”[I Coríntios 3:11]. “Eu
sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem
mim nada podeis fazer.”[João 15:5]. “...Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai,
senão por mim.”[João 14:6]. “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho
não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”[João 3:36]. “Quem tem o Filho tem a vida;
quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.”[I João 5:12]. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a
ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.”[João 17:3]. “Ora, sem fé é
impossível agradar a Deus ...”[Hebreus 11:6].
“[13] Porque: Todo aquele que invocar o nome do
Senhor será salvo. [14] Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de
quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?”[Romanos 10:13, 14] (ou, em outras
palavras, como podem os ateus possivelmente serem salvos quando eles nunca sequer ouviram falar de
Cristo, que é o único caminho para a salvação?). “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos.”[João 6:53]. Quando aquele que vigia vê o perigo se aproximando mas não avisa, não alerta o
povo e eles morrem na sua iniqüidade, {“Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não
falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue
eu o requererei da tua mão.”[Ezequiel 33:8]} –– verdade, seremos responsabilizados se não falarmos, se
não avisarmos, todavia isto não muda a sorte do povo. Jesus declarou que mesmo os Samaritanos que
tinham privilégios muito mais altos que as nações fora da Palestina, adoravam o que não conheciam, e
que a salvação vinha dos Judeus. Veja também o primeiro e o segundo capítulos da Epístola de Paulo aos
Romanos. As Escrituras, então, são plenas em declarar que sob condições ordinárias, normais, aqueles
que não têm a Cristo e o Evangelho estão perdidos.
E de acordo com isto, a Confissão de Fé de Westminster, depois de declarar que aqueles que rejeitam a
Cristo não podem ser salvos, acrescenta: “...muito menos poderão ser salvos por qualquer outro meio os
que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz
da natureza e com a lei da religião que professam ...” [parte da seção IV, Capítulo X, = referências
Bíblicas: Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5; João 6:64-66, e 8:24;
At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8; I Cor. 16:22].
Na verdade, a crença de que os ateus, aqueles que vivem sem o Evangelho estão perdidos tem sido um
dos mais fortes argumentos a favor da missões estrangeiras. Se crermos que as suas próprias religiões
têm luz e verdade suficientes para salvá-los, a importância de pregar o Evangelho a eles é então
diminuída consideravelmente. Nossa atitude quanto às missões estrangeiras é muito grandemente
determinada pela resposta que damos àquela questão.
Não negamos que Deus pode salvar até mesmo alguns dos ateus adultos se Ele escolher fazê-lo, pois o
Seu Espírito opera quando e onde e como Lhe apraz, com ou sem meios. Se qualquer um dos tais é
salvo, contudo, é por um milagre de pura graça. Certamente o método normal de Deus é reunir, separar
os Seus eleitos da parte evangelizada da humanidade, embora devemos admitir a possibilidade de,
através de um método extraordinário, alguns dos Seus eleitos possam ser reunidos, separados da parte
não evangelizada. (A sina, o destino daqueles que morrem na infância em terras pagãs é tema a ser
discutido sob o tópico “Salvação Infantil”, mais adiante).
É irracional supor que povos podem apropriar-se de alguma coisa da qual não sabem nada. Isto pode ser
facilmente visto tanto quanto os ateus (os povos ainda não alcançados) são deixados de lado no que se
refere a muitos prazeres, a alegrias e oportunidades relacionados com este mundo; e segundo o mesmo
princípio, seria de se esperar que fossem também deixados de lado também no próximo. Aqueles que são
providencialmente colocados nas trevas pagãs da China setentrional não podem aceitar a Cristo como
Salvador mais do que podem aceitar o rádio, o avião ou o sistema Copérnico de astronomia, coisas a
respeito das quais são totalmente ignorantes. Quando Deus coloca pessoas em tais condições, podemos
estar certos de que Ele não tem intenção de que elas sejam salvas, mais do que ele teria intenção que o
solo ao norte da Sibéria, que permanece congelado durante o ano inteiro, devesse produzir grãos de trigo.
Tivesse Ele querido o contrário, Ele teria suprido os meios que levassem ao fim determinado. Há
também multidões nas terras nominalmente Cristãs, a quem o Evangelho nunca foi apresentado de
qualquer forma adequada, que não têm nem mesmo as condições externas para a salvação, sem
mencionar o estado de indefesa dos seus corações.
É claro que isto não significa que todos os perdidos sofrerão o mesmo grau de castigo. Nós cremos que a
partir de um ‘ponto zero’ em comum haverá todos graus de recompensas bem como todos os graus de
punições; e que a recompensa ou o castigo de uma pessoa serão, até determinada extensão, baseados na
oportunidade que ela tenha tido neste mundo. Jesus Ele próprio declarou que no dia do julgamento, seria
mais tolerável para a cidade pagã de Sodoma que para aquelas cidades da Palestina, que ouviram a Sua
mensagem mas a rejeitaram (veja em Lucas 10:12-14); e ele concluiu a parábola dos servos fiéis e infiéis
com as palavras: “[47] O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme
a sua vontade, será castigado com muitos açoites; [48] mas o que não a soube, e fez coisas que
mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe
requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”[Lucas 12:47, 48]. Então, enquanto os
ateus, os pagãos (enfim, povos não alcançados pelo Evangelho) estão perdidos, eles deverão sofrer
relativamente menos que aqueles que ouviram o Evangelho e o rejeitaram.
Assim, com relação a esta questão das raças pagãs, os Arminianos estão, em muito, envolvidos em
dificuldades que subvertem seu sistema por completo, dificuldades das quais eles nunca foram capazes
de safarem-se. Eles admitem que somente em Cristo há salvação; todavia eles vêm que multidões
morrem sem sequer haverem ouvido falar de Cristo ou do Evangelho. Ao sustentar que graça suficiente
ou oportunidade devem ser proporcionadas a cada homem antes que ele seja condenado, muitos deles
têm sido levados a postular uma provação futura, –– isto contudo não é o que a Bíblia advoga, mas é
contrário às Sagradas Escrituras. Como Cunningham diz, “os Calvinistas têm sempre tido como um forte
argumento contra as doutrinas Arminiadas da graça universal e da redenção universal, e em favor dos
seus próprios pontos de vista dos soberanos propósitos de Deus; que, ponto pacífico, tão grande a porção
da raça humana que tem sido sempre deixada em completa ignorância da misericórdia de Deus, e do
caminho da salvação revelado no Evangelho; nem, em tais circunstâncias como, para todas as
aparências, atirar obstáculos insuperáveis no seu caminho para alcançar aquele conhecimento de Deus e
de Jesus Cristo, que é a vida eterna.” 23
Somente no Calvinismo, com a sua doutrina da culpa e da corrupção de toda a humanidade através da
queda, e sua doutrina da graça através da qual alguns são soberanamente resgatados e trazidos à salvação
enquanto outros são deixados de lado, é que encontramos uma explicação adequada para o fenômeno do
mundo pagão, do mundo ainda não alcançado pelo Evangelho.
Propósitos do Decreto da Rejeição
A condenação dos não eleitos é primariamente designada a fornecer uma exibição eterna, diante dos
homens e dos anjos, da animosidade, do ódio de Deus com relação ao pecado, ou, em outras palavras, é
uma manifestação eterna da justiça de Deus. (Deve ser recordado que a justiça de Deus tão certamente
demanda o castigo do pecado, como demanda a recompensa da retidão.) Este decreto mostra um dos
atributos divinos o qual, se separado daquele decreto, nunca seria apreciado adequadamente. A salvação
de alguns através de um redentor destina-se a demonstrar os atributos do amor, da misericórdia e da
santidade. Os atributos da sabedoria, do poder e da soberania são demonstrados no tratamento
dispensado a ambos grupos. Assim é que a verdade do testemunho das Escrituras que, “O Senhor fez
tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.”[Provérbios 16:4]; como também o testemunho de
Paulo que este arranjo estava intencionado por um lado “para que também desse a conhecer as riquezas
da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória.” por outro lado para
“mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira,
preparados para a perdição”[Romanos 9:23, 22]
Este decreto da rejeição também serve para subordinar propósitos relacionados com os eleitos; pois, ao
observar a rejeição e o estado final dos maus, (1) eles aprendem que eles também teriam sofrido, não
tivesse a graça agido em seu cuidado; e eles entendem mais profundamente as riquezas do amor divino
que os levantou do pecado e os trouxe para a vida eterna, enquanto outros não mais culpados um de
valor menor que eles foram deixados para a destruição eterna. (2) Provê um motivo muito poderoso para
estarem gratos por haverem recebido tão altas bênçãos. (3) São levados a uma confiança mais profunda
no Pai celeste que supre todas as suas necessidades nesta vida e na próxima. (4) A consciência do que
eles têm recebido resulta na razão mais forte possível para que eles amem seu Pai celeste, e vivam vidas
tão puras quanto possível. (5) Leva-os a um maior horror ao pecado. (6) Leva-os a caminharem mais
próximos com Deus e uns com os outros, especialmente com aqueles herdeiros escolhidos do reino dos
céus. (7) Quanto ao argumento da soberana rejeição dos Judeus, Paulo aniquila na fonte qualquer
acusação de que eles foram deixados de fora sem razão. “Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de
modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os
incitar à emulação.”[Romanos 11:11]. Assim, vemos que a rejeição por Deus, dos Judeus, teve um
propósito muito sábio e definitivo; ou seja, que a salvação pudesse ser dada aos Gentios, e de maneira tal
que reagiria para a salvação dos próprios Judeus. Historicamente, vemos que a Igreja Cristã tem sido
quase que exclusivamente uma Igreja Gentia. Mas em cada era os Judeus têm sido convertidos ao
Cristianismo, e cremos que com o passar do tempo, números muito maiores serão “provocados ao
ciúme” (‘incitados à emulação’) e feitos com que se voltem a Deus. Vários versos no décimo primeiro
capítulo da Epístola aos Romanos indicam que números consideráveis serão convertidos e que eles serão
extremamente zelosos pela retidão.
O Ataque Arminiano Central a Esta Doutrina
A doutrina da Rejeição é a que os Arminianos mais gostam de atacar. Eles costumeiramente a isolam e
enfatizam-na como se ela fosse a essência e a substância do Calvinismo, enquanto que as outras
doutrinas tais como a da Soberania de Deus, o puramente gracioso caráter da Eleição, a Perseverança dos
santos, etc., as quais tanta glória dão a Deus, são deixadas de lado com pouco ou nenhum comentário.
No Sínodo de Dort, os Arminianos insistiram em primeiro discutir o tema da Rejeição, e reclamaram
como se fosse um grande sofrimento quando o Sínodo recusou-se a faze-lo. Até hoje, eles tem
geralmente buscado esta mesma política. Seu objetivo é claro, pois eles sabem quão fácil é deturpar esta
doutrina, bem como apresentá-la sob ótica tal que incitará preconceitos nos sentimentos dos homens
contra ela. Eles usualmente distorcem os pontos de vista que são sustentados pelos Calvinistas, fazendo
em seguida todas as alegações que podem contra a doutrina; eles argumentam que desde que não pode
haver tal coisa como a Rejeição, tampouco pode haver coisa alguma como a Eleição. A ênfase injusta
nesta doutrina indica qualquer coisa menos uma busca pela verdade, sincera e sem preconceitos. Quiçá
eles tornassem-se para o lado positivo do sistema; quiçá eles argumentassem e considerassem a grande
quantidade de evidências que foram coletadas em favor desse sistema teológico.
Por outro lado, Calvinistas freqüentemente apresentam primeiro a evidência em favor da doutrina da
Eleição e então, tendo estabelecido esta, eles mostram que o que eles sustentam com relação à doutrina
da Rejeição ocorre naturalmente. Eles, de fato, não interpretam a segunda como sendo dependente da
primeira exatamente pelas provas que ela apresenta. Eles crêem que ela é sustentada por provas
independentes, nas Escrituras; eles todavia crêem que se o que eles sustentam com relação à doutrina da
Eleição é provadamente verdadeiro, então o que eles sustentam com relação à doutrina da Rejeição
seguirá a lógica necessária. Uma vez que as Escrituras nos dão mais informação acerca do que Deus faz
ao produzir fé e arrependimento naqueles que estão salvos do que elas nos dão com relação ao Seu
procedimento com relação àqueles que continuam impenitentes e descrentes, a razão demanda que
investiguemos primeiro a doutrina da Eleição, e depois consideremos a doutrina da Rejeição. Esta última
consideração nos mostra a injustiça interior dos Arminianos em dar tal proeminência à doutrina da
Rejeição. Como já dito anteriormente, esta é admitidamente uma doutrina desagradável. Os Calvinistas
não se retraem de discuti-la; ainda que naturalmente, por causa do seu caráter terrível, eles não
encontrem satisfação em argumentar a respeito dela. Eles também compreendem que aqui os homens
devem ser particularmente cuidadosos para não serem tentados a serem mais sábios do que o que está
escrito, uma vez que muitos são inclinados a fazerem o que lhes apetece em presunçosas especulações
acerca de assuntos os quais estão muito elevados para eles.
Sem Nenhuma Obrigação de Explicar Todas Estas Coisas
Deve ser relembrado que estamos sob nenhuma obrigação de explicar todos os mistérios relacionados
com estas doutrinas. Estamos somente sob a obrigação de estabelecer o que as Escrituras Sagradas
ensinam com relação a elas, e vindicar tal ensinamento tanto quanto possível, desde as objeções que são
alegadas contra as mesmas. O “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.”[Mateus 11:26, Lucas
10:21], foi, para o nosso Senhor, um testemunho cabal e em si mesmo suficiente da Sua onipotência,
face a todas diversas interações com os homens. A resposta única e suficiente que Paulo dá aos
argumentadores vãos que penetrariam mais fundo nestes mistérios é que eles são resolvidos pela
sabedoria e soberania divinas. Aqui, as palavras de Toplady são apropriadas de uma maneira especial:
“Não digam, portanto, como os opositores dessas doutrinas o fizeram nos dias de Paulo: ‘Por que Deus
acha falta no ímpio? Pois quem é capaz de resistir à Sua vontade? Se Ele, O único que pode converte-lo,
não o faz, que razão há para culpar a eles, que perecem, sabendo ser impossível resistir à vontade do
Onipotente?’ Satisfaçam-se com a resposta de Paulo, ‘Ó homem, quem és tu para replicar contra Deus?’.
O apóstolo centraliza todo o tema, inteiramente, na absoluta soberania de Deus. É ali que ele o deposita;
e é ali que deve permanecer.” 24
O homem não pode mensurar a justiça de Deus através da sua própria compreensão; e a nossa modéstia
deveria ser tal que quando os motivos para alguma das obras de Deus nos for encoberto, nós não
obstante creiamos que Ele é justo. Se qualquer um pensar que esta doutrina representa a Deus com um
Deus injusto, será somente porque ele não se dá conta do que é a doutrina Bíblica do Pecado Original,
nem a que ele está comprometido, por intermédio dela. Deixe que ele pense sobre a existência de um
motivo doentio, real, antecedente ao pecado real; e a condenação lhe parecerá justa e natural. Dado o
primeiro passo, o segundo não apresentará realmente nenhuma dificuldade.
É difícil compreendermos que muitos daqueles bem à nossa volta (em alguns casos nossos amigos
chegados e mesmo parentes) estão provavelmente preordenados ao castigo eterno; e tanto quanto nos
damos conta disso ficamos inclinados a nutrir certa simpatia por eles. Todavia, quando vista à luz da
eternidade essa nossa simpatia pelos perdidos provará ter sido um sentimento não merecido e mal
colocado. Aqueles que estão fatalmente perdidos serão então vistos como eles realmente são, inimigos
de Deus, inimigos de toda a justiça, e amantes do pecado, sem qualquer desejo de salvação ou da
presença do Senhor. Podemos ainda acrescentar que, desde que Deus é perfeitamente justo, ninguém será
mandado para o inferno exceto aqueles que para lá merecem ir; e quando virmos seus reais caracteres,
estaremos satisfeitos com o que Deus fez.
A bem da verdade, os Arminianos não se safam de nenhuma dificuldade neste ponto. Pois desde que eles
admitem que Deus tem o pré conhecimento de todas as coisas eles devem explicar por que Ele cria
aqueles que ele ante vê que viverão vidas pecaminosas, rejeitarão o Evangelho, morrerão impenitentes, e
sofrerão eternamente no inferno. Os Arminianos realmente têm um problema mais difícil do que os
Calvinistas agora; pois os Calvinistas mantém que aqueles a quem Deus assim cria, sabendo que estarão
perdidos, são os não eleitos que voluntariamente escolhem o pecado e em cujo merecido castigo Deus
determina a manifestação da Sua justiça, enquanto que os Arminianos devem dizer que Deus
deliberadamente cria aqueles a quem ele ante vê que serão criaturas pobres, tão miseráveis que sem
serventia para qualquer bom propósito trarão a destruição sobre si mesmos e passarão a eternidade no
inferno, apesar do fato de que o Próprio Deus sinceramente deseja traze-los para o paraíso, e que Deus se
entristecerá para sempre ao ver que eles estão onde Ele não desejava que estivessem. Será que isto não
representa Deus como se agindo muito tolamente, ao trazer sobre Si próprio tal dissatisfação e sobre
algumas de Suas criaturas miséria tal, enquanto Ele poderia, pelo menos, não havê-las criado, já que Ele
mesmo anteviu que estariam perdidas?
Talvez existam alguns que, ao ouvirem sobre a doutrina da Predestinação, colocar-se-ão no grupo dos
rejeitados; e estarão inclinados a mergulhar fundo no pecado, com a desculpa de que já estão perdidos,
de qualquer forma. Mas faze-lo é o mesmo que envenenar-se, é atirar-se de volta à Idade das Pedras.
Ninguém tem o direito de julgar-se rejeitado nesta vida, e daí viver em desespero; pois a desobediência
final (o único infalível sinal de rejeição) não pode ser descoberto até o momento da morte. Nenhuma
pessoa não convertida nesta vida sabe ao certo se Deus não irá convertê-la e salvá-la, muito embora ela
esteja ciente de que tal mudança ainda não aconteceu. Assim, ela não tem o direito de numerar-se, de
colocar-se em definitivo no grupo dos não eleitos. Deus não nos disse quem entre os não convertidos ele
ainda tem o propósito de regenerar e salvar. Se qualquer homem sente e ouve os gemidos angustiantes da
sua consciência, estes podem muito bem ser os próprios meios que Deus está usando para chamá-lo.
Utilizamos um espaço considerável para a discussão da doutrina da Rejeição, porque tem sido
impedimento e bloqueio à compreensão para muitos daqueles que rejeitam o sistema teológico
Calvinista. Nós cremos que se esta doutrina puder ser provada Bíblica e razoável, as demais partes do
sistema serão prontamente aceitas.
6. INFRALAPSARIANISMO E SUPRALAPSARIANISMO
Entre aqueles que a si mesmos chamam-se Calvinistas tem freqüentemente havido diferenças de opinião
sobre a ordem dos eventos no plano Divino. A questão aqui é a seguinte, Quando os decretos de eleição
e de rejeição vieram a existir os homens eram considerados como caídos ou como não caídos? Os
objetos desses decretos foram contemplados como membros de uma massa corrupta e pecadora, ou
foram contemplados meramente como homens a quem Deus criaria? De acordo com o ponto de vista do
“infralapsarianismo” a ordem dos eventos foi a seguinte: Deus propôs (1) criar; (2) permitir a queda; (3)
eleger dessa massa de homens caídos uma multidão para a vida eterna e bênçãos; e deixar outros, como
Ele deixou o Diabo e os anjos caídos, para sofrer o justo castigo por seus pecados; (4) dar o Seu Filho,
Jesus Cristo, para a redenção dos eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar aos eleitos a redenção
que havia sido comprada por Cristo. De acordo com o ponto de vista “supralapsariano” a ordem dos
eventos foi a seguinte: (1) eleger alguns homens ‘criáveis’ (isto é, homens que seriam criados) para a
vida e condenar outros para a destruição; (2) criar; (3) permitir a queda; (4) enviar Cristo para redimir os
eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar tal redenção aos eleitos. A questão agora é quanto a se a
eleição precede a queda.
Um dos principais motivos no esquema “supralapsariano” é enfatizar a idéia da discriminação e forçar
esta idéia. No veio da natureza do caso, esta idéia não pode ser consistentemente levada a efeito, por
exemplo, na criação, e especialmente na queda. Não foram meramente alguns dos membros da raça
humana que foram objetos do decreto da criação, mas toda a espécie humana, e isto com a mesma
natureza. E não foi meramente a alguns homens, mas toda a raça, a quem foi permitida a queda. O
“supralapsarianismo” vai em frente até o extremo, de um lado, como o faz o “universalismo”, de outro.
Somente o esquema “infralapsariano” é em si consistente com outros fatos.
Com relação a esta diferença, o Dr. Warfield escreve: “O mero colocar da questão parece trazer consigo
a resposta. Pois o que está em questão é o tratamento real dispensado aos homens, que é igual para
ambas classes; aqueles que são eleitos e aqueles que são deixados de lado, condicionados em pecado.
Não se pode falar de salvação mais do que de rejeição sem postular o pecado. O pecado é
necessariamente precedente em pensamento. Na realidade, não até a idéia abstrata da percepção, mas ao
instante concreto da percepção, que está em questão; a percepção relacionada a um destino, que envolve
ou salvação ou castigo. Deve haver pecado em intenção, para fundamentar um decreto de salvação, tão
verdadeiramente quanto um decreto de punição. Não se pode falar de um decreto referente à salvação e
castigo, que seja discriminatório entre homens, portanto; sem postular a intenção dos homens como
pecadores, de acordo com a lógica original do decreto.” 25
E no mesmo sentido o Dr. Charles Hodge diz: “É um princípio Bíblico claramente revelado, que onde
não há pecado não há condenação ... Ele teve misericórdia para um e não para com outro, conforme a
Sua própria vontade, porque todos são igualmente pecadores e culpados . . . Em todo lugar, como em
Romanos 1:24, 26, 28, a rejeição é declarada ser judicial, baseada na pecaminosidade do que é rejeitado.
De outra forma não seria uma manifestação da justiça de Deus.” 26
Não está em harmonia com as idéias de Deus conforme mostradas na Bíblia, que homens inocentes,
homens que não são contemplados como pecadores, estivessem pré ordenados para a miséria e morte
eternas. Não se deveria estudar o decreto relacionado com os salvos e os perdidos baseado somente em
soberania abstrata. Deus é verdadeiramente soberano, mas esta soberania não é exercida de maneira
arbitrária. Antes, é uma soberania exercida em harmonia com os Seus outros atributos, especialmente a
Sua justiça, a Sua santidade e a Sua sabedoria. Deus não peca; e nesse respeito Ele é limitado, embora
fosse mais acurado falar da sua incapacidade de pecar como sendo uma perfeição. Há, é claro, mistério
relacionado com qualquer um dos sistemas, mas o sistema “Supralapsariano” parece ir além do mistério,
e na contradição.
As Escrituras Sagradas são praticamente “infralapsarianas”, –– os Cristãos são ditos terem escolhidos
“do” mundo (veja em João 15:19 = “Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque
não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”); o oleiro tem o
direito sobre o barro (veja em Romanos 9:21 = “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma
massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?”); e os eleitos e não eleitos são
reputados com estando originalmente num estado comum de miséria. Sofrer e morrer estão
uniformemente representados como os salários do pecado. O esquema “infralapsariano” naturalmente a
si mesmo relaciona-se com as nossas idéias de justiça e de misericórdia, e ao menos é isento da objeção
Arminiana de que Deus simplesmente cria alguns homens para danação. Agostinho e a grande maioria
daqueles que têm sustentado a doutrina da eleição desde a sua promulgação foram e são
“infralapsarianos”, –– quer dizer, eles crêem que foi da massa de homens caídos que alguns foram
eleitos para a vida eterna, enquanto que outros foram sentenciados à morte eterna em razão dos seus
pecados. Não há nenhuma confissão Reformada que ensine o ponto de vista “supralapsariano”; mas por
outro lado, um número considerável ensina abertamente a visão “infralapsariana”, que assim emerge
como a forma típica do Calvinismo. Até os dias de hoje é provavelmente dizer que não mais que um
Calvinista dentre cem sustenta a visão “supralapsariana”. Nós somos Calvinistas o bastante, mas não
somos “altos Calvinistas”. O termo “alto Calvinista” aplica-se àquele que sustenta a visão
“supralapsariana”.
É sem dúvida verdadeiro que a escolha soberana de Deus está disseminada em qualquer dos sistemas e a
salvação como um todo é obra de Deus. Os oponentes usualmente enfatizam o sistema
“supralapsariano”, por ser o que, sem explicação, é mais provável de vir a conflitar com os sentimentos e
as impressões naturais do homem. Também é verdadeiro que há algumas coisas que não podem ser
formatadas no tempo, –– que estes eventos não estão na mente Divina como encontram-se na nossa
mente, por uma sucessão de atos, um após outro, mas que por um único ato Deus ordenou, todas essas
coisas de uma só vez. Na mente Divina o plano é uno, cada parte do qual constituída com referência a
um estado de fatos, os quais intencionados por Deus, como sendo resultados das outras partes. Todos
esses decretos são eternos. Eles têm uma relação lógica, mas não cronológica. Todavia, de maneira a
podermos raciocinar inteligentemente sobre eles, devemos ter nossos pensamentos numa certa ordem.
Nós, muito naturalmente, temos a opinião de que a dádiva de Cristo, em santificação e em glorificação,
foi posterior aos decretos da criação e da queda.
Com relação ao ensinamento da Confissão de Westminster, o Dr. Charles Hodge faz o seguinte
comentário: “Twiss, presidente oficial daquele corpo venerável (a Assembléia de Westminster), era um
“supralapsariano” zeloso; a grande maioria de seus membros, contudo, estavam do outro lado. Os
símbolos daquela Assembléia, enquanto claramente implicando numa visão “infralapsariana”, foram
todavia tão emoldurados de maneira a evitar qualquer ofensa àqueles que adotaram a teoria
“supralapsariana”. Na ‘Confissão de Westminster’, é dito que Deus apontou os eleitos para a vida eterna,
e o restante da espécie humana, a Deus pareceu bem, conforme o inescrutável conselho da Sua própria
vontade, através do qual Ele estende ou retrai a misericórdia conforme Lhe apraz, para a glória do Seu
soberano poder sobre as Suas criaturas, deixar de lado, e ordená-los à desonra e à ira pelo seu pecado,
para o louvor da Sua gloriosa justiça: Neste ponto é ensinado que aqueles a quem Deus deixa de lado são
‘o resto da espécie humana; não o restante de ideais ou homens possíveis, mas o restante daqueles seres
humanos que constituem a espécie humana, ou a raça humana. Em segundo lugar, a passagem cotada
mostra e ensina que os não eleitos são deixados de lado e ordenados à ira ‘pelo seu pecado’. Isto implica
que eles foram contemplados como cheios de pecado antes desta pré ordenação para julgamento. A visão
“infralapsariana” é assumida ainda mais obviamente na resposta às questões 19ª e 20ª no ‘Pequeno
Catecismo’. Ali é ensinado que toda a humanidade perdeu comunicação com Deus quando da queda, e
que está desde então sob a Sua ira e maldição, e que Deus, do Seu próprio beneplácito elegeu alguns
(alguns daqueles sob a Sua ira e maldição), para a vida eterna. Tal tem sido a doutrina da grande massa
de Agostinianos, desde o tempo de Agostinho até os dias de hoje.” 27
7. MUITOS SÃO ESCOLHIDOS
Quando a doutrina da Eleição é mencionada muita gente imediatamente assume que ela significa que a
grande maioria da humanidade estará perdida. Mas por que alguém deveria chegar a tal conclusão? Deus
é livre, na eleição, para escolher tantos quantos Lhe aprouver, e nós cremos que Ele, que é infinitamente
misericordioso e benevolente e santo escolherá a grande maioria para a vida. Não há uma boa razão pela
qual Ele devesse limitar-se a uns poucos somente. Nos é dito que Cristo terá a preeminência em todas as
coisas, e nós não cremos que ao Diabo será permitido emergir vitorioso, mesmo em números.
O nosso posicionamento neste respeito foi mui habilmente apresentado pelo Dr. W. G. T. Shedd nas
seguintes palavras: “Note-se que a questão ‘quantos estão eleitos e quantos estão rejeitados’, não tem
nada a ver com a questão ‘se Deus pode eleger ou rejeitar pecadores’. Se estiver intrinsecamente correto
para Ele eleger ou não eleger, salvar ou não salvar aqueles ‘agentes morais livres’ que, por sua própria
falta atiraram-se no pecado e na ruína, números não são importantes para estabelecer-se estatística
correta. E se estiver intrinsecamente errado, números não são importantes para estabelecer-se estatística
errada. Nem tampouco há qualquer necessidade de que o número dos eleitos seja pequeno, e
consequentemente o de não eleitos seja grande, ou vice versa. A eleição e a não eleição, assim como os
números dos eleitos e dos não eleitos são ambos um assunto da soberania e decisão opcional. Ao mesmo
tempo, alivia a solenidade e o horror que pairam sobre o decreto da rejeição, ao lembrar que as Escrituras
Sagradas ensinam que o número dos eleitos é muito maior que o dos não eleitos. O reino do Redentor
neste mundo caído é sempre descrito como muito maior e grandioso que o de Satã. A operação da graça
na terra é uniformemente representada como mais poderosa que a do pecado. ‘Onde abunda o pecado, a
graça superabundou.’ E o número final dos redimidos é dito ser um ‘número o qual nenhum homem
pode contar,’ mas o (número) dos perdidos não é tão magnificado e enfatizado.” 28
Há, no entanto, uma prática muito comum entre os escritores Arminianos, de representar os Calvinistas
como tendendo a consignar à miséria eterna uma grande parte da raça humana, que eles admitiriam às
glórias do céu. É uma mera caricatura do Calvinismo, representá-lo como se baseado no princípio que os
salvos serão somente um punhado, ou uns poucos arrancados das chamas. Quando os Calvinistas
insistem na doutrina da Eleição, sua ênfase reside no fato de que Deus lida pessoalmente com cada alma
individual, ao invés de simplesmente lidar com a humanidade como um todo; e é algo totalmente à parte
da proporção relativa que deve existir entre os salvos e os perdidos. Em resposta àqueles que são
inclinados a dizer, “De acordo com esta doutrina somente Deus pode salvar a alma; haverá poucos
salvos,” responder que a sua ponderação poderia muito bem ser, “Uma vez que somente Deus pode criar
estrelas, pode haver somente poucas estrelas.” A objeção não é muito bem aceita. A doutrina da Eleição
em si mesma não nos diz nada a respeito do que deverá ser a proporcionalidade no final. O único limite
estabelecido é o de que nem todos serão salvos.
Tanto quanto diz respeito aos princípios de soberania e de eleição pessoal, não há razão por que um
Calvinista não deva sustentar que todos os homens serão finalmente salvos; e alguns Calvinistas têm na
verdade sustentado este ponto de vista. “O Calvinismo”, escreveu W. P. Patterson, da Universidade de
Edinburgh, “é o único sistema teológico que contém princípios –– nas suas doutrinas da eleição e da
graça irresistível –– que poderia dar credibilidade à uma teoria de salvação universal.” E o Dr. S. G.
Craig, Editor da revista ‘Cristianismo Hoje’, e um dos mais destacados homens na Igreja Presbiteriana
da atualidade, diz que “Sem dúvida que muitos Calvinistas, assim como muitos não Calvinistas, têm, em
obediência aos supostos ensinamentos das Escrituras, sustentado que poucos serão salvos, mas não há
nenhuma boa razão pela qual os Calvinistas não possão crer que os salvos serão, em última instância, a
imensa maioria da raça humana. De qualquer forma, os nossos mais importantes teólogos –– Charles
Hodge, Robert L. Dabney, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield –– assim têm se manifestado.”
Como citado por Peterson, o Calvinismo, com a sua ênfase na relação pessoal e íntima entre Deus e cada
alma individualmente, é o único sistema teológico que ofereceria uma base para o universalismo, não
fosse tal ponto de vista contraditório com as Sagradas Escrituras. E em contrasto com isto, não deveria
então o Arminiano admitir que, comparativamente de acordo com os seus princípios, somente alguns
poucos seriam realmente salvos? Ele deve admitir que na história humana, uma grande proporção de
adultos, mesmo em paragens nominalmente Cristãs, no exercício do seu “livre arbítrio” com uma
“habilidade graciosamente restaurada” têm morrido sem aceitar a Cristo. E a menos que Deus esteja
trazendo o mundo para um destino já apontado, que bases existem para supor-se que, tanto quanto a
natureza humana permanecer como está, a situação seria materialmente diferente, mesmo que o mundo
durasse ainda hum bilhão de anos?
8. UM MUNDO OU UMA RAÇA REDIMIDA
Uma vez que foi o mundo, ou a raça humana, que caiu em Adão, foi também o mundo, ou a raça humana
que foi redimida por Cristo. Isto, contudo, não significa que cada indivíduo será salvo, mas que a raça
como raça será salva. Deus Jeová não é uma mera deidade tribal, mas é “O Deus de toda a terra”; e a
salvação que Ele teve em mente não pode estar limitada a um pequeno e seleto grupo, ou a poucos
favorecidos. O Evangelho não foi meramente um ‘jornaleco’ para umas poucas vilas e cidades na
Palestina, mas foi uma mensagem mundial; e o testemunho abundante e constante da Bíblia é que o reino
de Deus encherá a terra, “...o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades
da terra.”[Zacarias 9:10]
No começo, no Antigo Testamento, temos a promessa de que “...a glória do Senhor encherá toda a
terra,”[Números 14:21]; e Isaías repete a promessa de que toda a carne verá a glória de Jeová [veja em
Isaías 40:5: “A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o
disse.”]. Israel foi chamado de ‘luz para os Gentios’ [“Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para
restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das
nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.”(Isaías 49:6)] e ‘para a salvação da terra’
[“porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação
até os confins da terra.”(Atos 13:47)]. Joel declarou abertamente que nos dias de bênção vindouros, o
Espírito então dado somente a Israel seria derramado sobre toda a terra. “Acontecerá depois que
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne...”[Joel 2:28]; e Pedro aplicou a profecia ao derramamento
que iniciou-se no Pentecostes [“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel”(Atos 2:16)].
Ezequiel nos dá o retrato do fluxo crescente de águas curadoras que vertem de sob a soleira do templo,
águas que estavam primeiro à altura dos tornozelos, depois dos joelhos, então dos quadris e em seguida
um grande rio, águas que não se podiam atravessar {“(1) Depois disso me fez voltar à entrada do templo;
e eis que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava
para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar. (2) Então me levou
para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora até a porta
exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam umas águas pelo lado meridional. (3) Saindo o
homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas
águas, águas que me davam pelos artelhos. (4) De novo mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas
que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam
pelos lombos. (5) Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar; pois as águas tinham
crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se podia passar a vau.”[Ezequiel 47:1-5]}. A
interpretação de Daniel para o sonho do Rei Nabucodonosor nos ensina a mesma verdade. O rei viu uma
grande imagem, com várias partes em ouro, prata, bronze, ferro e barro. Então ele viu uma pedra cortada
ser cortada sem o auxílio de mãos, pedra esta que feriu a estátua de modo que o ouro, a prata, o bronze, o
ferro e o barro foram esmiuçados e levados pelo vento sem que se pudesse deles achar qualquer vestígio.
Estes vários elementos representavam os grandes impérios do mundo, que seriam despedaçados e
completamente varridos, enquanto que a pedra cortada sem o auxílio de mãos representava um reino
espiritual que o Próprio Deus estabeleceria e que se tornaria uma grande montanha e encheria toda a
terra. “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem
passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá
para sempre.”[Daniel 2:44]. À luz do Novo Testamento, vemos que este reino era aquele que Cristo
estabeleceu. Na visão que Daniel teve, a besta guerreou com os santos e prevaleceu, ainda, por um
tempo, –– mas, até que “...chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.”[Daniel 7:22].
Jeremias transmitiu a promessa de que o tempo vem quando “...não ensinarão mais cada um a seu
próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o
menor deles até o maior, diz o Senhor...”[Jeremias 31:34]. O salmista escreveu “Pede-me, e eu te darei
as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão”[Salmo 2:8]. O último livro do Antigo
Testamento contém a promessa que “Mas desde o nascente do sol até o poente é grande entre as nações o
meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é
grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos.”[Malaquias 1:11]
Encontramos no Novo Testamento o mesmo ensino. Quando o Senhor finalmente mandar chuvas de
bênçãos espirituais para o Seu povo, “o resto dos homens” e “todos os Gentios” “busquem ao Senhor”
(veja em Atos 15:17). “E Ele (Cristo) é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos,
mas também pelos de todo o mundo.”[I João 2:2]. E ainda, “(16) Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna. (17) Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por ele.”[João 3:16, 17]. E depois, “...o Pai enviou seu Filho como Salvador do
mundo.”[I João 4:14] ; “...Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”[João 1:29] ; “...nós
mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.”[João 4:24] ; “...Eu
sou a luz do mundo...”[João 8:12] ; “...Eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.”[João
12:47] ; “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim.”[João 12:32] ; “...Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo...”[II Coríntios 5:19]. Acerca do reino dos céus, é dito ser
“...semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo
levedado.”[Mateus 13:33]
No décimo primeiro capítulo da Carta de Paulo aos Romanos, ele escreve que a aceitação do Evangelho
pelos Judeus será como “vida dentre os mortos” em suas bênçãos espirituais para o mundo. Através da
sua queda o Evangelho foi dado aos Gentios – “Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua
diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” . . . . “Porque, se a sua rejeição é a
reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?”. O domínio
universal e completo de Cristo é ensinado novamente, quando somos ditos que Ele está sentado à direita
de Deus Pai até que todos os inimigos tenham sido postos sob os Seus pés.
Assim, forte ênfase é aplicada na universalidade da obra redentora de Cristo, e nos é ensinado que nossos
olhos ainda verão um mundo Cristianizado. E, desde que nada é mencionado com relação a quanto
tempo a terra continuará a existir após aquele objetivo ter sido alcançado, possivelmente podemos
esperar uma “era dourada” de prosperidade espiritual, continuadamente por séculos, ou mesmo milênios,
durante qual tempo o Cristianismo triunfará em toda a terra, e durante qual tempo uma grande proporção
mesmo de adultos será salva. Parece que o número dos redimidos será multiplicado até que em muito
ultrapasse o número dos perdidos.
Não podemos, é claro, fixar nem mesmo uma data aproximada para o fim do mundo. Em vários lugares
na Bíblia nos é dito que Cristo voltará no fim desta presente ordem mundial, que a Sua vinda será
pessoal, visível, e em grande poder e glória, que a ressurreição geral e o julgamento geral então terão
lugar; e que o céu e o inferno então virão a existir em sua plenitude. Mas também tem sido
expressamente revelado que o temo da vinda do nosso Senhor permanece “entre as coisas secretas que
pertencem ao Senhor nosso Deus.” “Pois quanto àquele dia ninguém sabe, nem mesmo os anjos no céu
nem o Filho, mas somente o Pai,” disse Jesus antes da Sua crucificação; e depois da Sua ressurreição Ele
disse, “A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria
autoridade.”[Atos 1:7]. Portanto, aqueles que atrevem-se a vaticinar quando será o fim do mundo,
simplesmente falam sem conhecimento. À vista do fato de que já transcorreram 2.000 anos desde que
Cristo veio ao mundo pela primeira vez, pode ser, tanto quanto sabemos e conhecemos, que outros 2.000
anos transcorrerão até que ele retorne, –– talvez muito mais tempo, talvez muito menos que isso.
Neste aspecto, o Dr. S. G. Craig disse: “Sabemos que certos eventos, tais como a pregação do Evangelho
entre todas as nações (veja em Mateus 24:14), a conversão dos Judeus (veja em Romanos 11:25-27), a
queda de ‘todo domínio e toda autoridade e poder’ que sejam opositores de Cristo (veja em I Coríntios
15:24); ocorrerão antes do retorno do nosso Senhor. Parece claro, portanto, que enquanto o tempo do
retorno do nosso Senhor não é conhecido, ainda assim tal fato permanece um tanto quanto distante no
futuro. Quanto mais ainda no futuro, não temos como saber. Sem dúvida, se os eventos moverem-se tão
lentamente no futuro como moveram-se no passado, a vinda do nosso Senhor dar-se-á num futuro
distante. Mas tendo em vista, contudo, que acontecimentos movem-se muito mais rapidamente que os
que já se passaram, tanto quanto o que antigamente demorava séculos para ser conseguido, para ser
alcançado, atualmente é alcançado, conseguido somente em poucos anos; é possível que o retorno de
Cristo esteja para ocorrer então num futuro comparativamente próximo. Se futuro próximo ou remoto
como medido na escala humana, podemos estar certos de que acontecerá num futuro próximo, conforme
medido pela escala de Deus, para quem mil anos são como um dia somente. Contudo, nas presentes
condições, parece haver pouco ou nada nas Escrituras Sagradas que garanta a noção de que Jesus
retornará dentro do período de vida desta geração.” 29
O mundo talvez ainda seja jovem. Certamente Deus não nos deu nenhuma exibição do que ele pode fazer
com um mundo verdadeiramente convertido à retidão e justiça. O que temos visto parece ser somente o
estágio preliminar, uma vitória temporária do diabo, cuja obra será completamente derrotada. A obra de
Deus estende-se através dos séculos. Mesmo os milênios são insignificantes para Aquele que habita a
eternidade. Quando associamos nossa teologia com nossa astronomia, vemos que Deus opera em uma
incrivelmente vasta escala. Ele criou e estabeleceu milhões, mesmo bilhões talvez, de flamejantes sóis
em todo o universo, –– algo como dez milhões já foram catalogados. Os astrônomos nos contam, por
exemplo, que a terra encontra-se a 92.000.000 milhas (algo em torno de 147.200.000 Km – n.t.) de
distância do sol e que a luz, viajando à velocidade de 300.000 Km por segundo leva somente oito
minutos para atravessar aquela distância. Eles vão além, ao dizer que a estrela fixa mais próxima
encontra-se tão longe que são necessários quatro anos para que a luz dela chegue até nós; que o brilho, a
luz da estrela polar que hoje vemos esteve a caminho durante 450 anos. À vista do que a ciência moderna
revela, podemos perceber que o período de tempo durante o qual o homem tem vivido na terra é
comparativamente insignificante. Para a raça humana, Deus pode ter reservado desenvolvimentos tais
que poderão ser assombrosos, –– desenvolvimentos dos quais não podemos sequer remotamente
sonhar.
9. A VASTA MULTIDÃO DOS REDIMIDOS
O decreto do amor de Deus, que elege e que predestina, embora discriminativo e particular, é, não
obstante, muito extensivo. “...vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações,
tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com
palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao
Cordeiro...”[Apocalipse 7:9, 10]. Deus o Pai elegeu milhões incontáveis da raça humana para a salvação
e gozo eternos. Apenas que proporção da família humana Ele incluiu em Seu propósito de misericórdia,
nós não sabemos; mas, à vista dos dias futuros de prosperidade que estão prometidos à Igreja, pode-se
inferir que a maior parte deles serão eventualmente encontrados entre o número dos Seus eleitos.
No capítulo dezenove do Livro do Apocalipse escrito pelo apóstolo João, está relatada uma visão que
mostra em termos figurativos a luta entre as forças do bem e do mal, no mundo. Com relação àquela
descrição, o Dr. Warfield diz: “A seção abre-se com uma visão da vitória da Palavra de Deus, o Rei dos
Reis e Senhor dos Senhores sobre todos os Seus inimigos. Nós O vemos chegar do céu em um corcel de
guerra, seguido pelos exércitos do céu; as aves que voam no céu são convocadas para a festa de
cadáveres que será preparada para elas; os exércitos do inimigo –– os animais e os reis da terra –– estão
reunidos contra Ele e são totalmente destruídos; e todas as aves se fartaram da sua carne (Ap 19:11-21).
Temos aqui um retrato vívido de uma vitória completa, uma conquista por inteiro; e o cenário de guerra
e batalha é usado para dar vida a tal retrato. Este é o símbolo. O que está simbolizado é obviamente a
vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes de perversos. Somente um único traço deste
significado é proporcionado pela linguagem descritiva, mas é o bastante. Em duas ocasiões somos
cuidadosamente informados que a através da qual a vitória é conquistada procede da boca do
conquistador (versículos 15 e 21). Não devemos pensar, enquanto lemos, num combate manual ou numa
guerra literal, portanto; a conquista é alcançada pela palavra falada –– em resumo, pela pregação do
Evangelho. Ou seja, temos diante de nós uma figura da carreira vitoriosa do Evangelho de Cristo no
mundo. Todo imaginativo da batalha ferrenha e seus detalhes sangrentos são mostrados para dar-nos a
impressão exata de quão completa é a vitória. O Evangelho de Cristo vai conquistar a terra; Ele vencerá
a todos os Seus inimigos.” 30
Para nós que vivemos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, é dado a conhecer o palco da batalha.
Não nos é dito, contudo, quanto tempo levará até que seja coroada com a vitória, ou quanto tempo o
mundo convertido esperará a vinda do Senhor. Hoje vivemos num período que é relativamente dourado
se comparado com o primeiro século da era Cristã, e este progresso deve perdurar até que aqueles que
viverem nesta terra presenciem um cumprimento prático da oração, “Venha o Teu reino, seja feira a Tua
vontade assim na terra como no Céu.” Quando temos uma visão mais ampla da maneira graciosa de
Deus lidar com o mundo pecador, vemos também que Ele não distribuiu a graça da Sua eleição com a
mão fechada, mas que o Seu propósito foi o da restauração do mundo todo para Si.
A promessa foi feita a Abraão que a sua posteridade seria uma vasta multidão, –– “que deveras te
abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na
praia do mar ...”[Gênesis 22:17]; “Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se
alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência.”[Gênesis 13:16]. E no
Novo Testamento descobrimos que esta promessa refere-se não meramente aos Judeus como um povo
separado, mas que aqueles que são Cristãos estão no mais alto conceito de verdadeiros “filhos de
Abraão”. “Sabeis, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”; e de novo, “E, se sois de Cristo,
também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.”[Gálatas 3:7, 29].
Isaías declarou que a vontade de Jeová prosperaria nas mãos do Messias, que Ele veria o trabalho penoso
de Sua alma e ficaria satisfeito. E em vista do que Ele sofreu no Calvário nós sabemos que Ele não seria
facilmente satisfeito.
A idéia de que o número dos salvos em muito superará o dos perdidos também é mostrado nos contrastes
encontrados na linguagem das Escrituras. O Céu é uniformemente retratado como o próximo mundo,
como um grande reino, um país, uma cidade, enquanto que por outro lado o inferno é uniformemente
representado como um lugar comparativamente pequeno, uma prisão, um lago (de fogo e enxofre), uma
vala (funda, talvez, mas estreita), (vide Lucas 20:35; I Timóteo 6:17; Apocalipse 21:1, Mateus 5:3;
Hebreus 11:16; I Pedro 3:19; Apocalipse 19:20; 20:10, 14, 15; 21:8-27). Quando os anjos e os santos são
mencionados na Bíblia, é dito estarem em hostes, miríades, uma multidão inumerável, dez mil vezes dez
mil e milhares de milhares mais; mas tais figuras de linguagem não são nunca usadas com relação aos
perdidos, e por contraste o seu número parece ser relativamente insignificante (Lucas 2:13; Isaías 6:3;
Apocalipse 5:11). “O círculo da eleição de Deus,” diz Shedd, “é um grande círculo dos céus e não o de
uma moenda. O reino de Satã é insignificante em contraste com o reino de Cristo. Na imensa amplidão
do domínio de Deus, o bem é a regra, e o mal é a exceção. O pecado é um ponto na brancura da
eternidade; uma mancha no sol. O inferno é somente um canto do universo.”
A julgar por estas considerações então parece (se pudermos arriscar um palpite) que o número daqueles
que são salvos pode eventualmente ser de proporção tal para o número daqueles que estão perdidos
como o número de cidadãos livres em nossas comunidades hoje em dia tem para com o número daqueles
que estão em prisões e penitenciárias; ou que a companhia dos salvos pode ser comparada às árvores que
crescem e florescem, enquanto que os perdidos comparam-se aos ramos e gravetos que são cortados fora
e que queimam nas fogueiras. Quem mesmo entre os não Calvinistas não gostaria que isto fosse
verdade?
Mas, pode ser questionado, será que os versículos, “...estreita é a porta, e apertado, o caminho que
conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela,” e, “...muitos são chamados, mas poucos,
escolhidos.” [Mateus 7:14; 22:14] ensinam que muitos mais são perdidos do que salvos? Nós cremos que
tais versículos intencionavam serem compreendidos num sentido temporal, como descrevendo as
condições que Jesus e os Seus discípulos encontraram na Palestina em sua época. A grande maioria das
pessoas ao seu redor não estavam trilhando caminhos de justiça e retidão, e as palavras são proferidas
muito mais do ponto de vista do momento do que do ponto de vista do Dia do Julgamento ainda distante.
Nessas palavras é nos apresentado um quadro que era verdadeiro para a vida como eles a viam, e que
descreveria, naquele sentido, o mundo como tem sido mesmo até os dias de hoje. “Mas”, pergunda o Dr.
Warfield, “à medida em que os anos e os séculos passam, será que nunca poderá ser –– ou será que não
é para ser –– que a proporção seguindo “os dois caminhos” se reverta?”
Aqueles versículos também têm a incumbência de ensinar-nos que o caminho da salvação é de
dificuldade e de sacrifício, e que é nossa tarefa ater-nos a ele com diligência e com persistência.
Ninguém deve assumir que a sua salvação como ponto pacífico. Aqueles que adentram ao reino dos céus
assim o fazem através de muitas tribulações; daí o comando, “...Esforçai-vos por entrar pela porta
estreita...”[Lucas 13:24]. A escolha na vida é representada como uma escolha entre duas estradas, uma
larga, bem pavimentada e fácil de trafegar, mas que conduz à destruição. A outra é estreita e difícil, e
conduz à vida. “Não há mais razão para supor que tal similitude ensina-nos que os salvos serão em
menor número que os perdidos, do que supor que a parábola das Dez Virgens [Mateus 25:1 e
subsequentes] nos ensina que os números de ambos, salvos e perdidos, serão precisamente iguais, e há
muito menos razão para supor que tal similitude mostra que os salvos serão em menor número
comparativamente aos perdidos do que supor que a parábola do Joio [Mateus 13:24 e subsequentes]
ensina-nos que os perdidos serão de número inconsiderável quando comparados com os salvos –– pois
tal é, verdadeiramente, uma parte importante do ensinamento daquela parábola.” 31. E nós podemos
acrescentar que não há mais razão para supor que a referência aos dois caminhos ensina que o número
dos salvos será menor que o número dos perdidos do que para supor que a parábola da ovelha perdida
ensina que somente um dentre uma centena será perdido e ainda assim será eventualmente resgatado, o
que seria verdadeiramente caso de absoluto ‘restauracionismo’.
10. O MUNDO ESTÁ MELHORANDO
A redenção do mundo é um processo longo e vagaroso, estendendo-se pelos séculos, todavia certamente
aproximando-se de um objetivo já apontado. Vivemos dia de vitória crescente e testemunhamos a
conquista tomar lugar.
Há períodos de prosperidade espiritual e períodos de depressão; todavia há progresso em geral. Olhando
para os dois mil anos passados desde que Cristo veio ao mundo, podemos ver que tem havido progresso
maravilhoso. Este curso será completado, e antes que Cristo venha novamente nós veremos um mundo
Cristianizado. Isto não quer dizer que todo o pecado será erradicado –– sempre haverá algum joio no
meio do trigo até a hora da colheita, e mesmo os justos, enquanto permanecerem neste mundo, algumas
vezes cairão vítimas do pecado e da tentação. Mas isto significa que como hoje vemos alguns grupos e
comunidades Cristãos, também eventualmente veremos um mundo Cristão.
“A verdadeira forma de julgar o mundo é comparar seu presente com a condição passada e notar em qual
direção ele se move. Estará indo para trás ou para frente, piorando ou melhorando? Pode estar envolto
num lusco-fusco, mas será a luz do anoitecer ou do raiar do dia? Estarão as sombras se aprofundando
como numa noite sem estrelas ou estarão elas dissipando-se ante o nascer do sol? .... Um vislumbre do
mundo como ele é hoje comparado ao que era a dez ou vinte séculos atrás nos mostra que passou por um
grande arco e que move-se em direção da manhã.” 32
Hoje em dia há muito mais riqueza consagrada ao serviço da Igreja que nunca dantes; e, apesar da triste
tendência ao Modernismo em muitos lugares, cremos que há hoje muito mais atividade evangelística e
missionária realmente honesta que jamais se tenha tido notícia. O número de Escolas Bíblicas, colégios
Cristãos, e seminários nos quais a Bíblia é sistematicamente estudada está crescendo muito mais
rapidamente que a própria população. No último ano mais de 11.000.000 exemplares ou porções da
Bíblia foram distribuídos em vários idiomas somente pela Sociedade Bíblica Americana, seja no seu
próprio país como no estrangeiro –– um fato que significa que a Bíblia está sendo propagada como
nunca antes.
A Igreja Cristã tem feito grande progresso em muitas partes do mundo, e especialmente durante os
últimos dois ou três séculos ela desenvolveu milhares e milhares de igrejas individuais e tem sido uma
influência benéfica poderosa na vida de milhões de pessoas. Através dela foram fundadas inúmeras
escolas e hospitais. Sob a sua influência benigna, o serviço social e a ética cultural avançaram
grandemente no mundo todo, e os padrões morais das nações são hoje em dia muito mais elevados que
quando a Igreja foi primeiramente estabelecida.
“A Igreja já penetrou em cada continente e estabeleceu-se em cada ilha e estende seus estandartes através
da linha do equador e de um polo ao outro. Ela é hoje em dia a maior organização na terra, é “o”
empreendimento no mundo. E os resultados não são desalentadores. No nosso país ( * ) a Cristandade
tem crescido no mínimo cinco vezes mais rápido que a população. Cem anos atrás havia um Cristão
professo em cada quinze habitantes, ao passo em que hoje há um em cada três, e isso excluindo-se
crianças, um em dois. Ao redor do mundo os resultados são impressionantes. No ano de 1500 AD havia
no mundo todo 100 milhões de Cristãos nominais; no ano de 1800 seu número era de 200 milhões; e as
últimas estatísticas mostram que, de uma população total de 1.646.491.000 pessoas ( * * ) cerca de
564.510.000 ( * * ) são Cristãos nominais, ou seja, aproximadamente um terço da população total da
terra. O Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos anteriores.” 33 (*=
nos EUA ; **= à época em que o presente trabalho foi escrito/publicado nota do tradutor)
A afirmação de que o Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos
anteriores parece ser aproximadamente correta. De acordo com as estatísticas, em 1950, o Cristianismo
tem um número consideravelmente maior de adeptos que o total combinado de qualquer outras duas
religiões do mundo. Estes números mostram que há aproximadamente 640.000.000 de Cristãos,
300.000.000 de Confuncionistas (incluindo os Taoístas), 230.000.000 de Hinduístas, 220.000.000 de
Maometanos, 150.000.000 de Budistas, 125.000.000 de Animistas, 20.000.000 de Shintoístas e
15.000.000 de Judeus (e enquanto muitos dos que arrolados como Cristãos o sejam só “nominalmente”,
a proporção de Cristãos verdadeiros é provavelmente tão grande ou maior que a proporção de qualquer
outra das religiões pagãs). Todas essas outras religiões, com exceção do Maometanismo, são muito mais
antigas que o Cristianismo. Ademais, só o Cristianismo é capaz de crescer e florescer sob a civilização
moderna, enquanto todas as demais religiões cedo desintegram-se quando expostas à sua brilhante luz.
Somente no último século é que as missões internacionais realmente vieram a existir. Uma vez que elas
foram desenvolvidas recentemente, com grandes organizações eclesiásticas na retaguarda, elas estão em
posição de desenvolver um trabalho de evangelismo em países ateus, tal como nunca antes o mundo
pode testemunhar. É seguro dizer que a geração presente vivendo na Índia, na Coréia e no Japão tem tido
maiores chances na religião, na sociedade e no governo do que ocorreu nos dois mil anos anteriores. E
quando contrastamos o rápido desenvolvimento do Cristianismo nos anos recentes com a rápida
desintegração que está ocorrendo com todas as demais religiões do mundo, parece bastante claro que o
Cristianismo é a futura religião mundial. À luz desses fatos nós encaramos o futuro confiantes de que o
melhor ainda está por vir.
11. SALVAÇÃO INFANTIL
Muitos teólogos Calvinistas têm sustentado que aqueles que morrem durante a infância estão salvos. As
Escrituras Sagradas parecem ensinar bastante claramente que os filhos de crentes são salvos; mas elas
praticamente silenciam quanto aos filhos dos ateus. A Confissão de Westminster não faz nenhum
julgamento quanto aos filhos de ateus que morrem antes de chegarem à idade da razão. Onde a Bíblia
silencia, a Confissão de Westiminster também preserva o silêncio. Nossos destacados teólogos, contudo,
cientes do fato de que “as doces misericórdias de Deus estão sobre toda as Suas obras,” e dependendo
em Sua misericórdia ser dispensada tão amplamente quanto possível, têm entretido uma esperança
caridosa de que desde aqueles infantes não tenham eles próprios cometido nenhum pecado real, sua
herança de pecado seria perdoada e eles seriam salvos na totalidade dos princípios evangélicos.
Esta é, por exemplo, a posição sustentada por Charles Hodge, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield. Com
relação àqueles que morrem durante a infância, o Dr. Warfield diz que “Seu destino é determinado não
importa a sua escolha, por um decreto incondicional de Deus, cuja execução não é suspensa por nenhum
ato deles próprios; e a sua salvação é assedurada por uma aplicação incondicional da graça de Cristo para
com as suas almas, através da operação imediata e irresistível do Espírito Santo, anterior e sem qualquer
relação com qualquer ação proveniente da sua própria vontade . . . E se a morte durante a infância
depende da providência de Deus, é seguramente Deus em Sua providência que seleciona a vasta
multidão a participar da Sua salvação incondicional . . . Isto é dizer nada menos que eles foram
incondicionalmente predestinados para a salvação desde a fundação do mundo. Se somente uma única
criança, ainda fora da idade da responsabilidade, que morrer durante a infância for salva, todo o princípio
Arminiano é contestado. Se todos os infantes que morrerem forem salvos, não somente a maioria dos
salvos, mas indubitavelmente a maioria da raça humana destarte, veio a existir através de uma maneira
que não a Arminiana.” 34
Certamente não há nada no sistema teológico Calvinista que nos preveniria de crer nisto; e até que seja
provado que Deus não poderia predestinar para a vida eterna todos aqueles a quem Lhe aprouvesse
chamar durante a infância, nós podemos aceitar este ponto de vista.
Os Calvinistas, é claro, sustentam que a doutrina do pecado original aplica-se tanto às crianças como aos
adultos. Como todos os demais filhos de Adão, os infantes são verdadeiramente culpados por causa do
pecado da raça e podem justamente serem castigados por isso. A sua “salvação” é real. Ela é possível
somente através da graça de Cristo e é tão imerecida como é a salvação de adultos. Ao invés de
minimizar o demérito e o castigo que lhes é devido em decorrência do pecado original, o Calvinismo
magnifica a misericórdia de Deus na sua salvação. A sua salvação significa algo, pois é a remissão de
almas culpadas do tormento eterno. E é custosa, pois foi paga pelo sofrimento de Cristo na crus. Aqueles
que assumem outra visão do pecado original, a saber, que não é propriamente pecado e que não merece
castigo eterno, fazem com que o mal do que as crianças são “salvas” seja muito pequeno e
consequentemente o amor e a gratidão que eles devem a Deus pequeno também.
A doutrina da salvação infantil encontra um lugar lógico no sistema Calvinista; pois a redenção da alma
é assim infalivelmente determinada, sem nada a ver com qualquer fé, arrependimento ou boas obras, seja
real ou prevista. Não encontra, contudo, um lugar lógico no Arminianismo ou em qualquer outro sistema
teológico. Ademais, seria como se um sistema como o Arminianismo, que detém a salvação num ato
pessoal de escolha racional, logicamente demandasse que, ou outro período de provação devesse ser
concedido àqueles que morrem durante a infância, de maneira que o seu destino pudesse ser afixado; ou
que eles devessem ser aniquilados.
Com relação a esta questão, o Dr. S. G. Craig escreveu: “Assumimos que nenhuma doutrina da salvação
infantil é Cristã se ela não professar que os infantes são membros perdidos de uma raça perdida, para
quem não há salvação a não ser em Cristo. Deve ser óbvio para todos, portanto, que a doutrina de que
todos os que morrem durante a infância são salvos não se encaixa com as linhas de pensamento Católico
Romano ou Anglo-Católico, com os seus ensinamentos de uma regeneração batismal; já que claramente
a maioria daqueles que morreram durante a infância não haviam ainda sido batizados. Também é óbvio
que a linha de pensamento Luterana não prevê lugar para a noção de que todos quantos morrem durante
a infância estão salvos por causa da necessidade que tal fato implicitamente anexa aos métodos da graça,
especialmente a Palavra e os Sacramentos. Se a graça está somente nos meios da graça –– no caso dos
infantes no batismo –– parece claro que a maioria daqueles que morreram durante a infância não foram
recipientes da graça. Parece igualmente claro que o Arminiano não tem o direito de acreditar na salvação
de todos quantos morrem durante a infância; de fato, não é assim tão claro que ele tenha qualquer direito
de acreditar na salvação de qualquer um que tenha morrido durante a infância. Pois de acordo com os
Arminianos, mesmo os Arminianos evangélicos, Deus em Sua graça meramente proveu os homens com
uma oportunidade para a salvação. Não parece, contudo, que uma mera oportunidade para a salvação
possa ser de qualquer valia para aqueles que morrem na infância.” 35
Embora rejeitando a doutrina da regeneração batismal, e esvaziando o batismo dos não eleitos, o
Calvinismo, por outro lado, estende a graça salvadora muito além das fronteiras da Igreja visível. Se é
verdade que todos quantos morrem na infância, tanto em terras pagãs quanto em nações Cristãs, são
salvos, então mais da metade da raça humana até hoje está entre os salvos. Ademais, pode ser dito que
desde que os Calvinistas assumem que a fé salvadora em Cristo é o único requerimento para a salvação
da parte dos adultos, eles nunca poderiam fazer com que o fato de ser membro na Igreja externa de
Cristo seja um requerimento ou uma garantia de salvação. Eles crêem que muitos adultos que não têm
nenhuma conexão com a Igreja externa são, contudo, salvos. Cada Cristão consistente submeterá, é
claro, a si mesmo ao batismo, de acordo com o mandamento pleno da Bíblia e se tornará um membro da
Igreja externa; todavia muitos outros, seja por causa da fraqueza de sua fé ou porque eles não tenham a
oportunidade, não cumprirão tal mandamento.
Tem sido constantemente acusado que a Confissão de Fé de Westminster, ao declarar que “Infantes
eleitos, morrendo durante a infância, são regenerados e salvos por Cristo” (Capítulo X, seção III),
implica que não há infantes não eleitos, que, morrendo durante a infância estão perdidos, e que a Igreja
Presbiteriana tem ensinado que alguns que morrem durante a infância estão perdidos. Com relação a isto,
o Dr. Craig diz: “A história da frase ‘Infantes eleitos que morrem durante a infância’ deixa claro que o
contraste implícito não era entre ‘infantes eleitos que morrem durante a infância’ e ‘infantes não eleitos
que morrem durante a infância’, mas sim entre ‘infantes eleitos morrem durante a infância’ e ‘infantes
eleitos que vivem e crescem’.” Contudo, de maneira a salvaguardar de qualquer mal entendido, seguido
por inamistosas controvérsias, a Igreja Presbiteriana nos EUA adotou em 1903 uma Declaração de
Posicionamento que diz o seguinte: “Com referência ao Capítulo X, Seção III, da Confissão de Fé, o
conteúdo não deve ser considerado como ensinamento de que qualquer um que morra durante a infância
esteja perdido. Cremos que todos quantos morrem durante a infância estão inclusos na eleição da graça, e
estão regenerados e salvos por Cristo através do Espírito, que opera quando e onde e como Lhe apraz.”
Com relação a esta Declaração de Posicionamento, o Dr. Craig diz: “É óbvio que a Declaração de
Posicionamento vai além do ensinado no Capítulo X, Seção III da Confissão de Fé, tanto quanto
positivamente declara que todos quantos morrem na infância estão salvos. Alguns detêm que a
Declaração de Posicionamento vai além da Bíblia ao ensinar que todos aqueles que morrem durante a
infância estão salvos; mas, seja como for, torna impossível para qualquer pessoa ao menos
plausivelmente manter que os Presbiterianos ensinam que há crianças não eleitas que morrem durante a
infância. Sem dúvida, tem havido indivíduos Presbiterianos que sustentam que alguns daqueles que
morrem na infância estão perdidos; mas tal nunca foi o ensinamento oficial da Igreja Presbiteriana e
como o tema agora se apresenta, tal posição é contradita pelo credo da Igreja.” 36
Algumas vezes tem sido taxado que Calvino ensinou a danação real de alguns daqueles que morrem na
infância. Um exame cuidadoso dos seus escritos, contudo, não sustenta tal acusação. Ele explicitamente
ensinou que alguns dos eleitos morrem na infância e que eles são salvos como infantes. Ele também
ensinou que houveram infantes rejeitados, pois ele sustentava que tanto a rejeição como a eleição são
eternas, e que os não eleitos vêem à vida rejeitados. Mas em nenhum lugar ele ensinou que os rejeitados
que morrem enquanto infantes estão perdidos. Ele é claro rejeitou o ponto de vista Pelagiano que negava
o pecado original e fundamentava a salvação daqueles que morrem na infância na suposta inocência e
falta de pecado. Os pontos de vista Calvinistas a esse respeito têm sido investigados minuciosamente
pelo Dr. R. A. Webb e as suas descobertas são resumidas no seguinte parágrafo: “Calvino ensina que os
rejeitados ‘procuram’ –– (suas próprias palavras) –– ‘procuram’ sua própria destruição; e eles
procuram a sua destruição com os seus próprios atos pessoais e conscientes de ‘impiedade’, de
‘perversidade,’ e ‘rebeldia’. Agora, crianças rejeitadas, embora a culpa do pecado original e sob a
condenação, não podem, enquanto crianças, portanto ‘procurar’ a sua própria destruição através de atos
pessoais de impiedade, perversidade e rebeldia. Eles deveriam, portanto, viver até os anos de
responsabilidade moral de maneira a perpetrar atos de impiedade, perversidade e rebeldia, os quais
Calvino define como o modelo através do qual eles procuram a sua própria destruição. Portanto,
enquanto Calvino ensina que há infantes rejeitados, e que aqueles estarão finalmente perdidos, ele em
lugar algum ensina que eles estarão perdidos como infantes, e enquanto eles são infantes; mas, ao
contrário, ele declara que todos os rejeitados ‘procuram’ a sua própria rejeição com atos pessoais de
impiedade, perversidade e rebeldia. Consequentemente, seu próprio raciocínio o compele a sustentar (de
maneira a ser consistente consigo mesmo), que nenhuma criança rejeitada pode morrer durante a
infância, mas todos que assim o são devem viver até a idade de responsabilidade moral, e traduzir o
pecado original para pecado real.” 37
Em nenhum dos escritos de Calvino ele diz, seja diretamente ou através de inferência boa e necessária,
que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido. Muitas das passagens que são
mencionadas por oponentes para provar este ponto são meramente asserções da sua doutrina bem
conhecida do pecado original, na qual ele ensina a culpa universal e a depravação de toda a raça. Muitas
delas estão em altamente controversas seções onde ele discute outras doutrinas, e onde ele fala sem
restrições, mas quando consideradas no contexto o significado fica invariavelmente em dúvida. Calvino
simplesmente diz de todos os infantes o que Davi especificamente disse dele próprio: “Eu nasci na
iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”[Salmo 51:5]; ou o que Paulo disse, “...em Adão,
todos morrem...” ou ainda, que todos são “...por natureza, filhos da ira...”[Efésios 2:3].
Acreditamos haver mostrado que a doutrina da eleição é Bíblica em cada aspecto e um ditado pleno de
bom senso. Aqueles que se opõem a esta doutrina assim o fazem seja porque não entendem ou porque
não consideram a majestade e a santidade de Deus, ou a corrupção e a culpa de sua própria natureza.
Eles esquecem-se de que se colocam ante o seu Criador não como quem justamente pode reclamar a Sua
misericórdia, mas como criminosos condenados que somente merecem castigo. Ademais, eles querem
ser independentes para efetuar o seu próprio esquema de salvação, ao invés de aceitar o plano de Deus, o
qual é pela graça. Esta doutrina da eleição não se harmonizará com qualquer pacto de obras, nem com
um pacto híbrido de obras e graça; mas é a única saída plausível de um pacto de pura graça.
12. SUMÁRIO DA DOUTRINA REFORMADA DA ELEIÇÃO
A Eleição é ato livre e soberano de Deus, através do qual Ele determina quem será feito herdeiro do céu.
O decreto da eleição foi feito na eternidade.
O decreto da eleição contempla a raça humana como já caída.
Os eleitos são trazidos de um estado de pecado para um estado de bênçãos e de gozo.
A eleição é pessoal e determina que indivíduos em particular serão salvos.
A eleição inclui tanto meios como fins, –– eleição para a vida eterna inclui a eleição para uma vida justa
neste mundo.
O decreto eleitor é feito efetivo pela obra eficiente do Espírito Santo, que opera quando, e onde, e como
Lhe apraz.
A graça de Deus inclinaria todos os homens ao bem, se não fosse resistida.
O decreto eleitor deixa aqueles que não são eleitos –– outros que sofrem as justas conseqüências do seu
pecado.
A alguns homens é permitido seguir o mal, que eles livremente escolhem, para a sua própria destruição.
Deus, em Sua soberania, poderia regenerar a todos homens, se Ele assim escolhesse.
O Juiz de toda a terra exercerá direito, e estenderá a Sua graça salvadora até multidões não merecedoras.
A eleição não está baseada em fé prevista ou em boas obras, mas somente no soberano beneplácito de
Deus.
Muito maior é a porção da raça humana que foi eleita para a vida.
Todos quantos morrem durante a infância estão entre os eleitos.
Tem também havido uma eleição de indivíduos e de nações para os favores e privilégios temporais e
externos –– uma eleição que não contempla a salvação.
A doutrina da eleição é repetidamente ensinada e enfatizada em toda a Bíblia.
Tradução livre: Eli Daniel da Silva [email protected]
Belo Horizonte, 25 Outubro 2002
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A Doutrina Reformada Da Predestinação i