INTERPRETAÇÕES CALIGRÁFICAS DAS CANÇÕES
um projeto de
KLEITON & KLEDIR
curador
financiamento
produção
apoio culturall
patrocínio
Luís Augusto Fischer
DO QUE SÃO FEITAS
AS ALMÔNDEGAS
Luís Augusto Fischer
Fora do eixo Rio – São Paulo. Longe demais das capitais. Me perguntaram se eu sou gaúcho, está na cara, repare o meu jeito. Estética do
frio. Amigo, boleie a perna, puxe um banco e vá sentando: foi bom
você ter chegado, eu tinha que lhe falar – um gaúcho apaixonado
precisa desabafar.
Ah, não sei se o senhor sabe, mas ter nascido longe custa. Custa
quando se permanece nesse longe, e custa mais ainda se a gente
quiser sair desse longe. Ou melhor, corrijo: se a gente quiser continuar nesse longe mas com direito a sair dele, e vice-versa, se quiser
sair para viver em outra parte, noutra lonjura, lá no centro dos acontecimentos, mas com direito de voltar ao longe original.
Qual longe? Quão longe? Assunto que podemos ir conversando.
Boleie a perna, vamos tomar um mate. Estamos num bar do Bom
Fim, em Porto Alegre. Ou estamos na praia de Ipanema, Rio de
Janeiro. Ou estamos num bar da Vila Madalena, São Paulo. Estamos
onde calhar, não importa: aceite um mate.
O assunto aqui é um novo capítulo na vida de uma já calejada
dupla de artistas, cantores e compositores, cancionistas para dizer
de modo simples e direto. Seus nomes, o senhor já viu na capa,
não preciso repetir. Mas digo que são irmãos de sangue, nascidos
de mesmo pai e mesma mãe, na mesma cidade – longe pra burro.
Pelotas, cidade cosmopolita ao sul do Rio Grande do Sul. Tão ao sul
que quase não dá para ser mais sul, porque em seguida já vem o
Uruguai, acabou o Brasil.
A história é longa mas pode ser sumariada assim: música em
casa, gosto apurado com aulas de instrumentos, convivência com
tango platino e samba brasileiro, mais folclore gauchesco falando
de campos e gados, mas tudo isso modulado pelos anos 60 – que
se traduz em rock’n’roll estrangeiro e brasileiro, ácido ou romântico, bossa nova, MPB, tropicalismo, black music norte-americana e
brasileira, modalidades nascidas em contextos diversos mas todas,
rigorosamente todas, conversando entre si e gerando coisas inesperadas e sensacionais.
Aí os dois irmãos, junto com amigos, em meados dos anos 70, em
Porto Alegre – capital do estado, mas ainda longe demais –, resolvem
acreditar que o bololô sonoro dava pé, agradava e abria caminhos.
Ajudaram a inventar um grupo com o críptico nome de Almôndegas.
O senhor sabe, eu sei, almôndegas se fazem de mistura. Tem carne
moída, tem temperos, tem farinha, e se der liga vai pra frigideira ou
o forno. Dizendo de outro modo: tem carne, mas não é churrasco;
tem tempero, mas não é forte como se usa na Bahia; tem farinha,
mas não é um pão, daqueles que compõem o clássico café da
manhã brasileiro.
É uma mistura, mas já é outra coisa. Síntese, é o que é.
Isso tudo faz tanto tempo... Já dá até para contar a história assim,
rapidinho. Mas o que importa é que estamos falando de um processo longo, um verdadeiro movimento da história cultural, daque-
les clássicos em que, a cada momento, os protagonistas não tinham
a menor clareza sobre o que ia dar e o que não ia dar certo, e portanto não tinham certeza da correção e da precisão de cada tiro que
precisavam dar a cada tanto.
Mas deu certo, da maneira como as coisas dão certo – meio almôndega, que olhando de longe não tem lá uma cara tão atraente, mas
provando é satisfação garantida. (Parêntese: um dos dois, ponhamos
o nome, o Kledir, é vegetariano, e em homenagem justa a ele devemos lembrar que existe almôndega sem carne. Olha aí, Kledir.)
O certo que deu foi os dois irmãos – o já nomeado Kledir mais
o Kleiton, o do violino, do cabelo crespo, entendeu? – saíram pelo
mundo brasileiro a cantar, fazendo sucessos com fado, sátira,
lirismo, saudade do sul, refrães pregnantes, e um bom humor muito
raro, um astral de amizade e gentileza que, pensando bem, representa um naco do melhor que o país tem, de sul a norte.
Quantos anos se passaram desde então? Meu Deus, meu deus,
muito tempo. Décadas!
No meio delas, ocorreram casamentos, filhos, viagens, temporadas em que a dupla se separou, mais shows e discos. Morreu
o elepê, veio o cedê, que também se foi dando lugar ao inefável,
agora o devedê que convive com outros elepês e cedês, mais a
rede mundial – e tudo isso alimentado por canções que alimentavam a vida, como sempre ocorre quando a coisa é boa, a mistura
dá certo. Almôndega.
Não é querer forçar a conta ou dar relevo ao que não tem, mas
2014 representa quarenta anos de arte para os dois. Eu sei, o senhor
olha pra eles e não diz, mas são sim quarenta anos de, como se diz,
estrada. O endereço habitual dos dois, cada qual com sua família e
tal, é Rio de Janeiro, mas eles andam para cima e para baixo, para
o oeste e de volta ao leste na geografia do Brasil. E nunca param de
lembrar que tudo nasceu longe demais das capitais. Nunca renegam
esse pertencimento e nunca deixaram de se entregar ao mundo,
numa dialética que, preste atenção, é rara, para gaúchos.
Confira comigo no replay. Ao longo do tempo, artistas nascidos
no Rio Grande do Sul ou bem permaneciam aqui e eram reconhecidos como gaúchos, ou iam para outra parte (Rio de Janeiro, quase
sempre) e perdiam o título de gaúchos. Isso, claro, vista a coisa pela
lente de quem ficava no Rio Grande do Sul.
Mas havia uma contrapartida maluca, compondo um tipo particular de torcicolo cultural: os que ficavam, ao mesmo tempo em que
eram vistos como da casa, não tinham passado pela dura prova
de ir lá, no centro cultural do país, e vencer, ser reconhecido como
brasileiro, como um dos grandes; na mão oposta, os que tinham ido
embora e dado certo por lá, mesmo sem ganhar o carinho dos ressentidos que aqui ficavam, ostentavam a aura dos vencedores.
Ponhamos nomes na conversa. Do primeiro time, os ficantes,
Mário Quintana, Teixeirinha, Vasco Prado, Nelson Coelho de Castro,
Bebeto Alves, Nei Lisboa – todos eles artistas de obra de primeira
em seus respectivos campos e públicos, todos eles sem o carimbo
dos “grandes centros”, vistos quase como gente da família mas com
histórias complicadas de rejeição ou insucesso junto ao mundo
externo. Do segundo time, os partintes, Augusto Meyer, Raul Bopp,
Carlos Nejar, Elis Regina – idem, todos muito bons no que faziam (e
fazem), ostentando o tal carimbo, com histórias de sucesso “lá fora”
para contar, mas vistos como gente que renegou o pago.
Certo, nada é tão restrito assim, e casos como o de Erico Verissimo
e Iberê Camargo, celebrados dentro e fora dos limites da província,
estão aí para comprovar. Talvez se possa dizer o mesmo acerca de
Lupicínio. Para eles há apreciadores em toda parte.
É possível, até provável, que essa esquizofrenia cultural tenha acabado nos tempos atuais, ou ao menos tenha esmaecido fortemente.
Escritores das novas gerações tendem a viver essa tensão de modo
bem mais leve, tendo antes de si os exemplos bem-sucedidos dos
mais experientes Luis Fernando Verissimo e Moacyr Scliar, Lya Luft,
Caio Fernando Abreu e João Gilberto Noll; especialmente cancionistas mais recentes experimentam um à-vontade notável no trânsito
entre cá e lá. Humberto Gessinger e os Engenheiros do Hawaii, cujo
primeiro disco se chamava “Longe demais das capitais”. As bandas
Cachorro Grande e Bidê ou Balde. Adriana Calcanhoto. Antônio
Villeroy. Vitor Ramil.
Parágrafo para esse último. Irmão mais novo da mesma família em
que brotaram Kleiton e Kledir, Vitor não apenas viveu esse processo
como formulou um conhecido ensaio sobre ele, a partir da manchete
que inventou e que fez carreira – a “Estética do Frio”. Vivendo no Rio
na época e experimentando já um relativo sucesso, fruto de seu trabalho e talento, mas inegavelmente caminhando pelas picadas abertas pelos irmãos mais velhos, Vitor se deu conta de que não tinha
sentido nem cabimento renegar o Sul, sua arte e suas contingências,
para tornar-se outra coisa, que um provinciano pensa como oposta à
condição provincial. (Essa outra coisa é ser brasileiro.)
Kleiton e Kledir, esse é o nosso ponto. Mais um mate?
Estavam postos em relativo sossego os dois irmãos,desfrutando
de uma carreira que funciona em toda parte, cantando e recantando
Maria Fumaça, Navega coração, Deu pra ti, Fonte da saudade, Vira
virou, Paixão, Nem pensar, tantos sucessos acumulados nas ditas
quatro décadas de carreira ao lado de novas composições, sem
contar os projetos paralelos de um e de outro, sempre acesos e
criativos – Kleiton fazendo um mestrado em Música em Paris, Kledir
publicando livros, para só citar dois exemplos –, quando foram mais
uma vez mordidos pela inquietação, essa mosca insaciável que atormenta os artistas – e os leva para adiante.
Mosca que se apresenta sob várias formas e cores, a inquietação que
os mordeu conduziu-os a um território que, bem pesadas as coisas,
tem com o mundo da canção uma relação de estranheza e intimidade,
muito parecida com aquela que há entre o Rio Grande do Sul isolado e
o Brasil como um todo – conduziu-os ao território da literatura.
O senhor pergunta se são mesmo territórios distintos, o da
canção e o da criação literária? Tem profunda razão de ser a dúvida.
Compartilho dela.
Dependendo da distância que se toma para observar o fenômeno,
a canção faz parte do reino da literatura, ou ao menos é vizinho.
Ambos são artes da palavra, e por aí a literatura e a canção são aparentadas também do teatro, da ópera, da tirinha, das histórias em
quadrinhos, tudo isso e mais alguma coisa.
Mas não dá pra esquecer que, a despeito dessa afinidade, a canção é
simultaneamente uma arte dos sons e ritmos. Ela só existe na medida
em que é as duas coisas, equilibra uma na outra, a outra na uma, e
vai levando. (A imagem do equilíbro foi formulada por um excelente
pensador da canção, Luiz Tatit, por sinal também cancionista.)
Kleiton e Kledir se propuseram uma nova viagem, dentro desse
território das artes da palavra, ou então, se quisermos, entre duas
províncias desse território, a província da canção e a da literatura
de livro. Resolveram inventar um percurso novo: não se tratava de
pedir letras, poemas, trechos prontos de texto, para escritores e,
então, compor melodia, inventar harmonia, propor instrumentos
para acompanhar. O que passou pela cabeça dos irmãos era convidar escritores de livros para compor canções junto com eles.
Nada óbvio, como se vê.
Uma coisa é o carinha pegar um poema, um trecho de texto, e
brincar com ele, tentando encontrar aquele equilíbrio entre letra
e melodia. Nem era o caso oposto, oferecer uma melodia para os
escritores inventarem alguma letra que ali coubesse, que ali se equilibrasse. Essas duas modalidades de composição de canções funcionam, e há casos muito bem sucedidos, no Brasil e fora dele.
Mas era outra onda, outro caminho. Os irmãos queriam se acercar
de escritores, especificamente escritores gaúchos – pela afinidade
óbvia, mas também por outro motivo, que adiante explico –, para
compor com eles. O tempo todo, desde o começo, ao lado de cada
um dos escritores convidados.
Corte para uma cena concreta. Certo dia, meados de 2013, recebo
um recado do Vitor Ramil: o Kledir queria conversar comigo, para
um projeto. Sim, claro, passa meus contatos para ele. E tu sabes o
que é, de que se trata? Não, o Vitor não sabia.
Alguns dias mais tarde, era o inverno ainda, recebo o honroso
telefonema anunciado. O Kledir queria uma conversa ao vivo, tinha
uma ideia e queria saber se eu topava ajudar. Claro que sim, respondi. E marcamos uma conversa para o mesmo dia; por facilidade
geral, numa área de alimentação de um shopping.
E lá, enquanto o Kledir comia uma massa (sem carne, que ele não
come, já contei), comecei a saber das intenções. Queriam, ele e o
Kleiton, que eu os ajudasse na conversa inicial com alguns escritores do Rio Grande do Sul – queriam fazer um disco, que seria um
dvd e um show e uma turnê, sabe-se lá mais o quê, nesse novo
projeto que se abria.
Fiz as perguntas que me ocorreram (iam pedir poemas aos escritores? iam levar melodias para eles?), mas mais que tudo saudei a
ideia. Ali estava algo realmente original, no mundo das artes da palavra. Mundo que tem já no Brasil uma história respeitável, tanto na
canção quanto nas várias modalidades de literatura de livro, mundo
no qual, portanto, não se produzem novidades assim no mais.
Aqui explico o outro motivo da força dessa ideia. Mas preciso de
um tempo para botar de pé a explicação. Mais um mate?
Ali está a literatura, no sentido tradicional dessa palavra: os livros,
os romances, os leitores, os poemas, etc. Desse lado, o Rio Grande
do Sul tem experiência forte e, em termos brasileiros e sul-americanos, bastante profunda. Sem ir muito longe na descrição, veja-se
que no estado gaúcho floresceram escritores de excelente qualidade, como Simões Lopes Neto e Erico Verissimo, mas mais que
isso costuma existir uma forte ligação entre os escritores, grandes
ou não, e o público leitor.
Espera, não é óbvio isso: não é toda parte, cá na América do Sul, e
particularmente cá no Brasil, que conta com um circuito forte, estável e em constante renovação, em matéria de produção e leitura de
autores do próprio estado, da própria região. Por que isso?
Literatura, no Rio Grande do Sul, rima com sonho de autonomia:
subproduto culto da desejada e derrotada República do Piratini, a
cultura letrada entre nós se encarregou de veicular uma variedade de
interpretações desse sonho, dessa utopia, que tendo morrido na vida
real ganhou a força dos desejos reprimidos, para o bem e para o mal.
Rima também com outros fatores. Terra de governos republicanos de certa radicalidade, a palavra escrita tem prestígio na escola.
Região fria, é propícia para o recolhimento que dá ensejo à leitura e
à reflexão. Província que acolheu imigrantes europeus que prestigiavam a leitura e a escrita, o Rio Grande do Sul vê no escritor, assim
como no professor, uma figura de relevo público.
Assim, quando Kleiton e Kledir pensaram em se aproximar de
escritores com o generoso projeto, estavam fazendo um gesto de
reconhecimento dessa antiga força.
Mas tem o outro lado. Compor uma canção, tenho convicção disto,
implica encontrar o ponto de mediação entre a fala e o canto (estou
seguindo os passos do argumento de Luiz Tatit, acima citado). Sem
esse ponto, a canção pode existir, claro, mas ela não terá a força
da melhor tradição cancional brasileira. Foi justamente o encontro
dessa mediação que permitiu a existência de Noel Rosa, de Lupicínio
Rodrigues, de Chico Buarque, de Caetano Veloso, de Paulinho da Viola:
a gente ouve o que eles compuseram e sabe, intimamente, que ali
alguém está cantando uma fala, alguém extraiu da fala familiar alguns
elementos-chave, estabilizou-os e, com isso, permitiu que todo mundo
reconheça nesse canto a dicção, ou melhor, a entoação da vida.
Por isso é que a canção é tão mais significativa quanto mais bem
faz essa ponte entre a vida e a arte, entre a arte e a vida.
Sendo isso uma verdade geral, como creio, segue-se uma dúvida,
antes de voltar ao relato acima suspenso: a fala gaúcha, ou as falas
gaúchas, encontraram já seus compositores ideais, tanto quanto,
digamos, Noel Rosa encontrou para a fala classe-média carioca,
Adoniram Barbosa idem para a fala de pobre paulistano?
A resposta nos encaminha para o começo desta já longa conversa:
para a fala gaúcha moderna urbana, que envolve algo do mundo
rural e do folclore mas já é posterior à Bossa Nova, quem primeiro encontrou o ponto de mediação foram os Almôndegas, e em
seguida a dupla Kleiton e Kledir.
A nova ideia deles, assim, trazia desde sempre uma força por
assim dizer histórica das mais expressivas. Tinha tudo para dar certo.
Minha participação na história, assim, foi bastante simples e em
todos os momentos muito agradável. Eles tinham um conjunto de
escritores já em mente, e eu propus uns nomes de alguns outros, de
vez em quando apresentando gente que os dois desconheciam pessoalmente mas de quem conheciam algo da obra. Listei traços da
personalidade literária de uma série de escritores, pensando em abrangência: gente mais velha, gente mais nova; gente de escrita mais convencional, gente de ousadia formal; gente dedicada apenas ao mundo
urbano contemporâneo, gente que frequenta temas do passado rural.
(Ah, sim, esqueci de dizer: na hora zero da conversa toda, o Kledir
contou que esse projeto tinha a ver com uma bela história do passado: desde os anos 70, Caio Fernando Abreu e Kledir mantiveram
uma boa amizade, que se complementou com uma parceria, envolvendo em seguida o Kleiton, numa canção que leva o nome de
“Lixo e purpurina”. Isso andou por conversas e cartas, por anos, e é
a raiz de todo o projeto, agora completado. Foi esse caso que deu ao
Kledir a certeza de que escritores de prosa poderiam ser excelentes
parceiros em canções. A única pena é que o Caio não está mais aqui
para ouvir e curtir.)
Minhas sugestões, então, passaram a ser um acréscimo a essa
pedra angular, a parceria com o Caio.
E assim foi. Fiz contatos iniciais apresentando a ideia aos escritores. Quase todos aceitaram de primeira, mesmo quando reticentes.
Em outras palavras, alguns me responderam usando um argumento forte para terem resistência – como é que um escritor, no fim
das contas um solitário, um praticante de uma arte fria, tramada e
depois lida em esfera sempre individual e isolada, poderia se meter
na composição de canções, para palco, para a estridência da performance, para o âmbito público que ela respira?
O Kleiton e o Kledir, com a humildade dos sábios, entraram
em campo, feito esse primeiro contato e estabelecida a hipótese
de parceria.
E o que aconteceu?
Bem – um último mate, agora? –, o resultado está aqui, neste trabalho, que honra uma longa tradição, aliás, duas, a da literatura e a da
canção, inventando uma síntese nova. Os dois irmãos conversaram,
perguntaram, propuseram, ofereceram seu comprovado talento para
uma aliança toda nova, toda promissora, toda bela. E saiu cada coisa...
Luis Fernando Verissimo, Leticia Wierzschowski, Martha Medeiros,
Lourenço Cazarré, Daniel Galera, Fabrício Carpinejar, Claudia Tajes,
Alcy Cheuiche, Paulo Scott, mais o Caio F., todos e cada um com
Kleiton e Kledir.
O mundo entra em novos eixos, se espalha em nova geografia,
quando a arte funciona. Nova síntese, almôndega inédita.
Olha aí. Escuta aí. •
Coisa de Netuno em Libra
Kleiton & Kledir
Porto Alegre, anos 70. Caio Fernando Abreu lançando seus primeiros
livros. Nós, Kleiton & Kledir, gravando nossos primeiros discos com
Almôndegas. Foi nessa época que, entusiasmados, começamos a
conversar sobre a ideia de fazer uma música em parceria. A vida nos
levou para lugares diferentes, distantes, mas sempre que nos encontrávamos o assunto era o mesmo: “E a nossa música?”
Anos 90. Caio estava lançando Ovelhas Negras e um dos
textos do livro falava exatamente sobre o tema que queríamos
retratar. Era o toque que faltava. Começamos a esboçar a melodia e Caio se dedicou a reescrever a ideia em forma de letra de
música. Fomos trocando figurinhas e finalmente nasceu a canção
que tínhamos passado mais de 20 anos tentando fazer. Lixo e
Purpurina fala da nossa geração, nós os que nascemos com um
trânsito de Netuno no signo de Libra. Uma geração que detonou
com todos os tabus de comportamento e sonhou com um mundo
de paz e amor.
Caio foi embora e por muito tempo guardamos a música com carinho, sem saber muito bem o que fazer com ela.
A ideia que surgiu foi este projeto. Com o auxílio luxuoso de Luís
Augusto Fischer na curadoria, convidamos escritores contemporâneos - gaúchos como nós - e propusemos a eles o desafio de repetir
a experiência do Caio: escrever versos para uma canção. O resultado
é surpreendente. E original. Gente da palavra escrita escrevendo
palavras para serem ouvidas.
O processo foi mais ou menos o mesmo para todos. Um primeiro
encontro para entender o gosto musical do escritor. A partir dessa
referência, procuramos criar uma música que refletisse isso e enviamos para que escrevesse uma letra. Em geral, na medida em que
foram chegando os textos, foi preciso fazer um trabalho de lapidação para poder encaixar as letras na melodia, segundo as regras
da canção popular: métrica, prosódia e rima. Processo delicado,
pois tínhamos consciência de que estávamos mexendo com pedras
preciosas.
Surgiram temas variados, personagens raros, histórias únicas.
Martha Medeiros, que já foi diagnosticada como portadora de felicidade crônica, escreveu sobre tomar a iniciativa e determinou: “É
hoje que eu sou feliz!”. Claudia Tajes imaginou uma história de amor
com começo, meio e fim que durava apenas uma noite. Fabrício
Carpinejar inventou um personagem atrapalhado, sufocado por
tanta felicidade, cansado de ser feliz.
Alcy Cheuiche escreveu versos escancarados em que um pai
abençoa a relação de amor de sua filha com outra mulher. Leticia
Wierzchowski enxergou seu reflexo no próprio filho, através da
paixão comum pela natação. Retratos originais das famílias do
nosso tempo.
Lourenço Cazarré, pelotense como nós, trouxe à tona lembranças
de infância com mistérios, fantasmas, loucos de rua e molecagens
sem fim. Histórias que certamente caberiam dentro do “bule monstro” que ficava pendurado na fachada de uma loja, na esquina da
Sete com a Andrade Neves.
Paulo Scott escreveu sobre um cara que tenta estabelecer as bases
de um novo relacionamento, com os encontros e desencontros que
fazem parte do dia a dia. Sua paixão pelo hip-hop transbordou os
limites dos versos cantados e surgiu também um texto falado, próprio do “ritmo e poesia”.
Com Daniel Galera foi um pouco diferente. Partimos de alguns
esboços musicais que ele havia criado e inventamos uma melodia
para um deles, Ventotto Spazzolini da Denti. O título em italiano
remetia a um antigo conto que ele havia escrito, em que um casal
briga por causa de uma escova de dentes. Na letra, por fim, entrelaçando ainda mais os universos de música e literatura, Galera
reconta a história da briga do casal, agora ambientada no verão
escaldante de 2014 em Porto Alegre.
Luis Fernando Verissimo, por sua vez, entrou por um olho mágico
e descobriu que há um outro mundo por trás desse que se vê. Uma
viagem lírica, uma revelação, um olhar poético e iluminado sobre as
entrelinhas da natureza humana.
Alguns autores sugeriram musicarmos poesias que já estavam
prontas, mas insistimos com a ideia de que deveriam escrever
“palavras para serem ouvidas”. Foi um enorme desafio. Como diz
Verissimo em seu depoimento, escrever “letra de música é outra
coisa”. Somos agradecidos a todos pela coragem e generosidade de
aceitarem participar dessa aventura. A contribuição que trouxeram é
inestimável.
São escritores que dominam com talento a prosa de ficção e abriram mão da segurança para participar de um vôo no escuro, sem
rede. Ou melhor, uma rede frágil sustentada por dois guris do interior do Rio Grande que sempre gostaram de ler e cantar.
Compor com estes autores que tanto admiramos foi um privilégio.
Estamos muito felizes. Caio deve estar sorrindo. •
lixo e purpurina CAIO FERNANDO ABREU
felizes para sempre CLAUDIA TAJES
olho mágico LUIS FERNANDO VERiSSIMO
piscina LETICIA WIERZCHOWSKI
vinte e oito escovas de dente DANIEL GALERA
pingos nos is MARTHA MEDEIROS
lado a lado alcy cheuiche
cansado de ser feliz fabrício carpinejar
gabriel meave méxico
volnei matté brasil
cláudio gil brasil
alexandre salomon brasil
Roberto de Vicq de Cumptich estados unidos
fiz com giz | juliana zarattini + marina rosso brasil
alejandro paul argentina
jaime de albarracín peru
mistérios do bule monstro lourenço cazarré
joão brandão portugal
rochas paulo scott
guilherme menga brasil
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Caio Fernando Abreu
arte Gabriel Meave
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Claudia Tajes
arte Volnei Matté
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Luis Fernando Verissimo
arte Cláudio Gil
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Leticia Wierzchowski
o tempo em mim
é sempre assim
renasce ao sol
a água em ti
das manhãs
renova em mim
braços e mãos
nas manhãs
arte Alexandre Salomon
eu sou jovem outra vez
quando te olho me vejo em ti
a água e o tempo fluindo em mim
outra vez
eu sou jovem outra vez
eu inocente vencendo em ti
a vida inteira fluindo em mim
outra vez
e na água, na água, na água
que dança entre os dedos eu sei que vou
e na água, na água, na água
o teu riso revela o que eu sei que sou
e na água, na água, na água
que dança em teu corpo eu sei que vou
e na água, na água, na água
o teu brilho reflete e eu sei quem sou
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Daniel Galera
arte Roberto de Vicq de Cumptich
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Martha Medeiros
arte Fiz com Giz
Juliana Zarattini + Marina Rosso
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Alcy Cheuiche
arte Alejandro Paul
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Fabrício Carpinejar
arte Jaime de Albarracín
arte João Brandão
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Lourenço Cazarré
Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Paulo Scott
arte Guilherme Menga
Caio Fernando Abreu
Luis Fernando Verissimo
Letra de música não é prosa nem poesia, é outra coisa. Não me
perguntem que outra coisa é essa, passei muito tempo depois
que o Kledir me pediu uma letra tentando descobrir como se
fazia. Consegui, finalmente, mas não sei o que fiz. A experiência
só aumentou minha admiração pela dupla K&K e outros letristas
como o Vinicius, o Chico, o Aldir Blanc, o Caetano e outros
mestres da outra coisa. Poesia pode ser musicada, claro. Em
Nova York vi um espetáculo extraordinário, a cantora e atriz
Audra McDonald interpretando Billie Holiday e cantando, entre
outras músicas, numa imitação perfeita, “Strange fruit”, canção
que nasceu como um poema de protesto contra o racismo no
Claudia Tajes
Sul dos Estados Unidos, inspirado na imagem de corpos de
negros linchados pendendo de árvores como frutos estranhos.
Vou falar não só pelos gaúchos, mas também pelos demais
Há outros exemplos de poemas que viraram música, mas acho
povos: é difícil encontrar um vivente que não tenha alguma
que a tese se sustenta. Letra é outra coisa.
ligação com a música dos ilustríssimos Kleiton & Kledir. Pode
ser pelo começo inesquecível nos Almôndegas (nome de banda
sensacional), pode ser porque, depois que saíram em carreira
Leticia Wierzchowski
Mas sempre admirei o poder de passar uma ideia, um sentimento,
com uma letra de música. A precisão cirúrgica de provocar uma
solo, ou melhor, duplamente solo, os dois nunca mais pararam
de criar sucessos. Importante: não sucessos vazios, desses com
Os desafinados também têm um coração
emoção em poucos minutos, e o que deve ser a energia de gerar
melodia pobre e letra indigente - como virou moda pelo mundo
Se tivessem me perguntado qual dom eu gostaria de ter, lá na
uma emoção coletiva, vendo as pessoas cantarem em coro uma
-, mas música de verdade, trabalhada na letra e na harmonia,
grande repartição das almas ainda não-encarnadas, eu teria dito
música - nós, escritores, escrevemos na solidão, esperamos
coisa cada vez mais rara de se ouvir.
que gostaria de saber cantar.
meses, talvez anos, que o livro seja publicado, e depois dá-lhe
Por essas e muitas outras, o convite para participar do projeto
Durante a adolescência, flertei com a música e, por fim, ganhei um
solidão de novo, enquanto o leitor, lá na sua casa inimaginada, lê
“Com todas as letras” foi uma grande honra. Nunca cometi
violão dos meus pais. Fiz uns dois anos de aulas, mas o problema
o nosso livro e experimenta as suas próprias emoções. Tudo exige
uma poesia, nada sei de prosódia, minhas rimas são capengas.
todo era que, quando chegava em casa, ao tocar para minha plateia
muito tempo, e muita solidão. E não vou mentir que desgosto...
Tudo isso, claro, até o texto cair nas mãos do Kleiton e do
ansiosa, ninguém reconhecia a música. O professor era um hábil
Mas então os guris do K&K vieram com esta ideia de fazer
Kledir e virar uma delicadeza para escutar. O processo todo foi
diversionista, enganando-me quanto à minha total falta de ouvido
música com escritor. Eles vieram com a sua alegria - não existe
bem complicado. Rabiscada a letra, era preciso experimentar,
e ao meu desafinamento atroz. Aquele mundo charmoso do "um
baixo astral com esses dois - e foram pacientes com os meus
construir, tentar. E dê-lhe desencontros. Quando K&K estavam
banquinho e um violão" não era mesmo pra mim, e aposentei o
medos, com a minha timidez escorregadia e com as minhas
em Porto Alegre, eu sumia. No fim das contas, os e-mails e
instrumento que, anos depois, virou fetiche dos meus filhos pequenos.
pequenas e inúmeras bobagens - e então, dessas paciências
telefonemas acabaram substituindo as tardes que deveríamos
Depois, comecei a escrever, enveredando pela vida de
todas, mais um pouco de cloro e tardes de sol, outro tanto de
ter passado juntos e ao vivo. Pela generosa paciência e pela fina
personagens ficcionais com muito mais afinação do que pelas
humor e de boas conversas, pois mate não teve, já que sou uma
parceria, meus mais sinceros aplausos. E de pé. cordas do meu violão esquecido no quartinho de guardados.
gaúcha de araque, foi que nasceu Piscina.
O que é que eu posso te dizer? E, antes de levantar-me para
Martha Medeiros
escrever a sequência, vi nitidamente o quadro Mademoiselle
Gachet, um dos últimos pintados por Van Gogh; só que, em
Outros músicos já adaptaram poemas meus, porém num
lugar de uma jovem, enxerguei duas naquele jardim. O que
processo que nunca exigiu grande envolvimento: eu cedia os
aconteceu, a seguir, é de total responsabilidade do talento
versos e eles voltavam com a canção pronta.
geminado dos meus queridos irmãos.
Mas com a dupla dinâmica K&K, logo vi que não seria essa
moleza: eles me fizeram colocar a mão na massa, pediram
Fabrício Carpinejar
referências dos meus sons preferidos, me estimularam
a palpitar à vontade durante a adaptação da letra. Moça
Daniel Galera
Pouca gente sabe, até porque não faço questão de comentar, mas
tentei ser músico antes de escrever. Tinha catorze anos quando
comecei a ter aulas de violão clássico e popular, e minha ambição,
além de tocar em rodinhas nas viagem de colégio, era compor. Até
aprendi a tocar direitinho, mas esbarrei numa dificuldade enorme,
e finalmente intransponível, para escrever letras para as minhas
músicas. A canção, como a poesia, não estava a meu alcance.
Algum tempo depois encontrei minha vocação na prosa de ficção e
segui tocando violão apenas como hobby, até esquecer o assunto.
Por isso o convite para compor uma canção em parceria com o
Kleiton e o Kledir me pareceu não apenas uma ideia estimulante,
Quando fui convidado para compor com Kleiton e Kledir,
obediente, segui todas as instruções e acabei recebendo, em
fingi que não era nada. Juro, tratei como se não fosse nada.
troca, momentos que costumam ser incluídos na série “me
Para evitar colapso nervoso. Fiz de conta que não era a dupla
belisca”. Entre eles, audições privadas em pleno sofá da minha
que fez meu coração nos anos 80, quando era adolescente, e
sala. Os guris cantaram, compuseram e se divertiram com
a farra da criação. Show privado. Foi quando a escritora aqui
abandonou o papel de coautora e voltou a ser apenas a fã de
sempre, aquela que escutava no rádio sucessos como “Deu pra
ti” e “Nem pensar” e que nem em sonhos imaginava que um
dia iria partilhar dessa intimidade, virando amiga dos caras.
Pois virei, viramos e outras histórias virão. Este é apenas o
primeiro entre muitos pingos nos “is” que espalharemos por aí.
que me inspirou a escrever descaradamente de Porto Alegre
Alcy Cheuiche
convite para correr com um amigo ou para tomar uma cerva
Nossa canção nasceu após algumas horas de um encontro
num bar qualquer. Algo singelo. Eu evitei transmitir o meu
memorável. Foi aqui onde moro, na parte alta de Porto Alegre,
contentamento de piá. Forjei voz de adulto, sério e espaçado,
onde um dia giraram os moinhos de vento, que recebi a visita
imitando desinteresse. Falseei de tão emocionado. Agüentei
dos irmãos Kleiton e Kledir. A missão: sintonizarmos nosso
bonito até criar a letra com eles. Daí foi um deus me acuda, um
processo criativo, antes de colocar esse mecanismo misterioso
deus dará, a admiração virou amizade, dei vexame, falei o que
em funcionamento.
não devia e me emocionei como nunca imaginei. Sem compromisso com nenhum tema, começamos falando da
mas uma chance de aprendizado. Eles souberam adaptar o
grande exposição dos quadros de Van Gogh no Museu d’Orsay (eu
método de trabalho aos meus potenciais e limitações.
chegara havia poucos dias de Paris) e saboreamos nossa admiração
Como ponto de partida, aproveitamos uma pequena
pelo pintor. Depois, contei da minha chegada à França, como jovem
composição instrumental que gravei no computador em 2003 e o
estudante, exatamente no dia em que Edith Piaf morreu. Trocamos
tema de um dos meus primeiros contos publicados, "Intimidade".
opiniões sobre ela, sua voz e interpretação incomparáveis, e os
Rascunhei os primeiros versos, incorporando elementos novos
grandes cantores que revelou: Charles Aznavour e Yves Montand.
que situavam a situação vivida pelo casal de personagens no
Kleiton recordou uma linda canção que compôs em Paris. Kledir
escaldante e pós-apocalíptico verão porto-alegrense de 2014. A
juntou em palavras todas aquelas imagens que nos encantam,
letra foi retrabalhada várias vezes. Nos encontros presenciais,
abrindo o caminho que iríamos percorrer. Depois, fizemos um selfie
desdobramos os acordes e melodias iniciais em algo novo e mais
para registrar a alegria de estarmos juntos, e eles me deixaram com
complexo, moldado pelo cativante estilo sonoro da dupla.
a missão de escrever a letra...
Escutar as primeiras versões foi como conhecer um fragmento
perdido de um caminho que eu próprio, sozinho, não pude seguir.
e jamais disfarçar o "tu" gritado. Tratei como se fosse um
Na madrugada do dia seguinte, me acordei com os dois
primeiros versos que nasciam: Se tu gostas dela, minha bela /
Paulo Scott
Quando decidi publicar um livro de poemas no início deste século,
cedendo a uma oferta de um amigo editor de Porto Alegre, não
imaginava que os desdobramentos mais imediatos e palpáveis
daquela escolha seriam me tornar próximo de sujeitos cuja obra
eu admirava. Na esteira dessa fortuna, e sem que eu jamais
pudesse prever, surgiu o convite para compor uma canção com
Kleiton & Kledir; da série de tardes em que trabalhamos na
criação dessa música, às vezes no estúdio caseiro de um ou do
outro, tenho certeza, surgiu uma amizade.
Ao lado do cinema e das histórias em quadrinho, a música
sempre foi um elemento de grande impacto na balança que
repercute na minha maneira de pensar e selecionar o que vale
a pena dizer, escrever. Tento, na medida do possível, me manter
coerente em relação às suposições e aspirações mais ingênuas e
desmesuradas da minha adolescência; havia um olhar, um modo,
Lourenço Cazarré
Kleiton, Paulo Scott e Kledir
(sentido horário, a partir da esq.)
Dunga, Dudu Trentin, Marco Vasconcellos,
Christiaan Oyens, Kleiton e Kledir
uma curiosidade, que até hoje eu me esforço bastante para não
perder, embora a perda (sem retorno) seja inevitável.
Para quem comprou seu primeiro toca-discos aos 37 anos, a
pedido dos filhos, o convite foi um espanto.
As músicas de Kleiton & Kledir estavam no molde das coisas que
eu considerava, e ainda considero, mais geniais, das referências com
Música, eu?
as quais tento dialogar até hoje. Ter a chance de conviver com eles,
Uma letra - explicou Kledir.
com a sua genialidade foi sorte grande. Às vezes minha preocupação
Passada a perplexidade, lembrei-me de uns poemas (na verdade,
era única e exclusivamente não atrapalhar, ficar meio de lado
prosa rimada) que andava rabiscando para um livro que contava
deixando os dois pensarem, criarem, trabalharem, aproveitando o
com um poeta (cordelista) entre seus principais personagens.
tanto que eu pudesse a oportunidade do testemunho.
Mandei-os para o Rio de Janeiro.
Tens jeito para a redondilha maior – constatou o sempre gentil
e generoso Kledir.
Veio-me então a ideia de transcrever em versos de sete sílabas
Adriana Calcanhotto
Branca Ramil
Kleiton e o violino
Penso que chegamos a uma música que carrega muito da
minha inquietação e da estranheza que é um pouco a marca
do que eu escrevo. Não há como agradecer a generosidade
João Schmidt
desses dois caras, que também são escritores de mão cheia, que
trechos de uns contos pelotenses. Meti o machado nuns causos
conseguiram perceber aonde eu imaginava chegar e montaram o
enfeitiçados e arranjei umas dezenas de versos, que remeti aos
caminho para que isso pudesse acontecer. A música é muito mais
irmãos. Descartados uns versos, polidos outros, chegamos ao
deles, a genialidade é deles, mas como é concerto, suponho que
esqueleto poético que recebeu uma primorosa vestimenta (meio
não seja arrogância demasiada da minha parte, é minha também. Só
portenha) do multi-instrumentista e sonhador Kleiton. Foi por aí,
posso dizer: obrigado. Que as músicas deste disco virem sua cabeça
mais ou menos.
como a obra inteira desses dois até hoje faz com a minha.
Kledir e o cuatro venezolano
calígrafos
Alejandro Paul
Guilherme Menga
Nasceu em Buenos Aires em 1972. Membro fundador do projeto Sudtipos, o primeiro
Iniciou sua carreira profissional como designer trabalhando principalmente com internet
coletivo tipográfico da Argentina. Sua carreira como diretor de arte em estúdios de design
em startups e empresas de tecnologia. Em 2007 seu interesse por tipografia o levou à
de prestígio levou-o a lidar com marcas de consumo de massa. Com a fundação da Sudtipos
pesquisa e estudo da caligrafia. Em 2008 fez seu primeiro curso com Andréa Branco em
em 2002, Ale concentrou seus esforços na criação de tipografias e “lettering” para agências
São Paulo, além de cursos com Cláudio Gil, Ale Paul, Luca Barcellona e outros. Desde
e venda comercial. Conferencista em numerosos congressos, foi publicado em livros e
2013 vem se dedicando exclusivamente às letras, desenvolvendo seu trabalho com
revistas internacionais de destaque. Premiado com 4 prêmios do Type Directors Club of NY
lettering e caligrafia em projetos de identidade visual, publicidade, editorial e artísticos
(BurguesScript, Adios Script, Poem Script, Hipster Script). O concurso organizado em 2011
sob encomenda. pela ATypI “Letter2” selecionou Piel Script como uma das tipografias mais representativas
www.guimenga.com | www.instagram.com/guimenga
da década. Membro da Alliance Graphique Internationale e da delegação argentina da ATypI.
www.sudtipos.com | www.behance.net/alepaul
Jaime de Albarracín
Nasceu em Lima, Peru, em 1944. Calígrafo, designer gráfico, diretor de arte, artista, professor,
Alexandre Salomon
escritor e ilustrador. Sua obra caligráfica encontra-se representada em museus da Venezuela
Doutorando em Design pela ESDI, Alexandre Salomon é Mestre em Design pelo Centro
e Rússia. Realizou exposições em países como Venezuela, México, Bélgica, Rússia e Ucrânia.
Universitário do SENAC de São Paulo, na área de Comunicação e Cognição com a dissertação
Foi publicado nos EUA, México, Peru, Argentina, Espanha, Alemanha, Hong Kong e Rússia.
Tipografia Arquitetônica Nominativa Carioca. É Bacharel em Desenho Industrial pelo Centro
Ministrou conferências e oficinas no Peru, República Dominicana e Venezuela. Atualmente
Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (2006) e Bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia
é ativo na pesquisa e prática de caligrafia tradicional e contemporânea usando mídia digital,
Universidade Católica de Campinas (1996). Alexandre Salomon tem 20 anos de experiência nas
assim como tinta, papel e caneta.
áreas criativas nos campo do Design Gráfico e da Comunicação. Além disso participou de projetos
www.caligrafiaenperu.blogspot.com | www.behance.net/jaimedealbarracin
editoriais e de identidade visual e na produção criativa de marcas e de manuais de marcas.
www.facebook.com/jaime.dealbarracin
www.salomondesign.com | www.behance.net/alexandresalomon
João Brandão
Cláudio Gil
Designer gráfico e diretor de arte. Versátil, vai da complexidade do UI design para web
Artista, professor e calígrafo, nasceu no estado do Rio de Janeiro em Setembro de 1968.
ou aplicativos mobile, ao design editorial e caligrafia. Professor assistente da faculdade
Atualmente vive na cidade do Rio de Janeiro e é mestrando em História do Design na ESDI/
de Arquitetura da Universidade de Lisboa (UL), diretor do curso, mestre em Design de
UERJ (Escola Superior de Design Industrial / Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
Comunicação. Membro do CIAUD, Centro de Pesquisa de Arquitetura, Planejamento e
www.lagrafia.blogspot.com.br | www.behance.net/claudiogil
Design. PhD em Design pela Universidade Técnica de Lisboa (UTL). Diretor do mestrado
em Design Gráfico do Instituto Politécnico Castelo Branco e membro da APD (Associação
Fiz com Giz | Juliana Zarattini + Marina Rosso
Portuguesa de Designers).
Fiz com Giz é o projeto paralelo das designers Juliana Zarattini e Marina Rosso, que
www.joaobrandao.net
encontraram no giz a possibilidade de explorar suas habilidades manuais. Desde 2013, as
duas fazem projetos de composições tipográficas para os mais diversos tipos de cliente, que
Roberto de Vicq de Cumptich
vêem no trabalho handmade uma maneira de deixar o ambiente de restaurantes, cafés e lojas
Roberto de Vicq de Cumptich nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, graduou-se em Graphic Design
mais intimista e único. Além do giz, a descoberta de novos materiais tem desafiado as duas
e mudou-se para Nova York a fim de fazer seu Mestrado no Pratt Institute. Hoje tem seu próprio
a transferirem o estilo de seu trabalho para novos suportes.
escritório de design em Nova York, especializado em design editorial, restaurantes e branding.
www.fizcomgiz.com | www.instagram.com/fizcomgiz | [email protected]
Dá palestras sobre tipografia e design e é autor de vários livros sobre seu próprio trabalho
gráfico. Seu livro mais recente To All Men of Letters and People of Substance, foi selecionado
Gabriel Meave
como um dos 50 melhores pela AIGA (American Institute of Graphic Arts) em 2008. Já
É designer gráfico e tipográfico, ilustrador e calígrafo. Nasceu e é radicado na Cidade do
recebeu vários prêmios e menções do Art Directors Club, AIGA, D&AD, Communication Arts,
México, onde trabalha no seu estúdio e sua foundry KTF. Meave já projetou tipografias para
Eye, Graphis, How, Print, Type Directors Club e dois Webby Awards. É Vice Presidente do
empresas nacionais tais como Telcel, o diário financeiro El Economista, Jumex e armázens
Type Directors Club, foi juíz do anual de tipografia Communication Arts em 2014 e presidente
El Palacio de Hierro, e também a fonte institucional do governo federal do México. Suas
da competição de tipografia do TDC em janeiro de 2015. Dará uma palestra na Brand New
fontes originais Arcana e Organica são distribuidas por Adobe Systems. Já fez trabalhos de
Conference em setembro de 2015 em Nova York.
design, lettering e ilustracão para cerveja Corona, P&G, McMillan, Pearson Education, FCE
www.devicq.com
e para diversas publicações, livros, agências, editoras e estúdios de design. Meave ensina
caligrafia e tipografia em diversas universidades e já deu workshops e palestras no México e
Volnei matté
em outros países. Recebeu cinco prêmios pelo Type Directors Club de Nova York e três pela
Professor e designer gráfico em Santa Maria, RS, Brasil. Trabalha com foco em tipografia,
ATypI; e já teve muitas fontes seleccionadas para as bienais Tipos Latinos 2006, 2008, 2010 e
caligrafia e design editorial, e suas aplicações em materiais impressos e digitais. Ensina
2012. Phaidon Books, no seu livro Area_2 (2009) incluiu Meave como um dos cem designers
tipografia, caligrafia, produção gráfica e design editorial no Curso de Desenho Industrial da
emergentes mais importantes do mundo hoje.
Universidade Federal de Santa Maria.
www.meave.org | www.behance.net/gmmeave
www.flickr.com/volneimatte
um projeto de KLEITON & KLEDIR
Agradecimentos
Marcos Eizerik / PFC, pessoal da CUB, Gráfica Centhury, Francisco
curador Luís Augusto Fischer
Velnecker / Mão Santa, Luis Augusto Krause e Adriana Franciosi
direção de produção Branca Ramil
produção executiva João Schmidt
parceiros de K&K
captação Kleiton Ramil
PFC - Propaganda Futebol Clube www.propagandafutebolclube.com.br
produção administrativa Beatriz Araújo
CUB www.cub.rs
assistente de produção Fabiana Costa
Lunetterie www.lunetterie.com.br
assist. de produção administrativa Juliana Silva
Dominus Luthier www.dominusluthier.com.br
livro idealizado por Marcos Eizerik
Up Rights www.up-rights.com
CD / LP
www.kleitonekledir.com.br
produzidos por Christiaan Oyens
discografia, história, fotos, vídeos, letras e cifras + hot site Com Todas as Letras
concepção musical Christiaan Oyens + Kleiton & Kledir
arranjos vocais Kleiton Ramil
contato para shows / management
gravado por Fabricio Matos / Toca do Bandido, Rio de Janeiro
Ramil e Uma Produções
assistente de gravação Leo Ribeiro
+55(21) 2542 8304 / 2542 5956
gravações adicionais Dunga / Quase 9 e Christiaan
[email protected]
Oyens / Spelunca, Rio de Janeiro
Tiago Becker / Soma, Porto Alegre
mixado por Alvaro Alencar / Musa NY, Nova York
masterizado por Ezio Filho no Audiolume / RJ
TODAS AS MÚSICAS EDITADAS EM PANDORGA (Universal MGB)
Gravado e mixado em novembro/dezembro 2014
documentário / DVD
direção e roteiro Gustavo Fogaça
produção Santa Transmedia
direção de fotografia, montagem e finalização Leo Coutinho
operadores de Câmera Dudu Chamon, Érico Cazarré, Leo Coutinho,
Gustavo Fogaça, Julia Maria Ferreira, Mastrangelo Reino, Samir Barcelos
Projeto gráfico
direção de arte Felipe Taborda
caligrafias Cláudio Gil
design Augusto Erthal
assistente de design Talita Garcia
fotos arquivo K&K
exceto
Rodrigo Lopes (Kleiton & Kledir pág. 7)
Adriana Franciosi (Caio Fernando Abreu, pág. 51)
Dunga (selfie, pág. 57)
uma realização Biscoito Fino 2015
direção geral Kati Almeida Braga
direção artística Olivia Hime
gerência de produção Karolina Ávila
coordenação de produção Diego Lara
assistente de produção Jullie Steffanine
Lixo e purpurina
cd
BR4PA1500011 lp
BR-4PA-15-00001 Pingos nos is
3:36
cd
BR4PA1500016 lp
BR-4PA-15-00006 (Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Caio Fernando Abreu)
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Martha Medeiros)
participação especial Adriana Calcanhotto * voz
Kleiton violino, voz e coro
Kledir violão e voz
Dudu Trentin fender rhodes
Marco Vasconcellos guitarras
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria, coral sitar e percussão
Kleiton violão, voz e coro
Kledir voz
Christiaan Oyens percussão e guitarra
Felizes para sempre
cd
BR4PA1500012 lp
BR-4PA-15-00002 Lado a lado
3:07
Kleiton cuatro, violino, voz e coro
Kledir voz
Dudu Trentin piano acústico
Marco Vasconcellos guitarras
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria e percussão
cd
BR4PA1500013 lp
BR-4PA-15-00003 BR4PA1500014 lp
BR-4PA-15-00004 4:06
3:48
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Leticia Wierzchowski)
Kleiton violão, voz e coro.
Kledir voz
Dudu Trentin fender rhodes
Marco Vasconcellos guitarras
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria, percussão e mellotron
Vinte e oito escovas de dentes
cd
BR4PA1500015 lp
BR-4PA-15-00005 BR-4PA-15-00007 3:50
Kleiton violão, violino, voz e coro
Kledir voz
Dudu Trentin fender rhodes
Marco Vasconcellos guitarras
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria, percussão e piano acústico
cd
BR4PA1500018 lp
BR-4PA-15-00008 5:00
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Fabrício Carpinejar)
participação especial Luis Fernando Verissimo saxofone
Kleiton voz
Kledir voz
Dudu Trentin piano acústico
Marco Vasconcellos violão
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria e percussão
cd
lp
Cansado de ser feliz
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Luis Fernando Verissimo)
Piscina
BR4PA1500017 (Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Alcy Cheuiche)
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Claudia Tajes)
Olho Mágico
cd
2:47
4:03
Kleiton voz e coro
Kledir voz
Dudu Trentin fender rhodes e piano acústico
Marco Vasconcellos violão e guitarras
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria e percussão
Mistérios do Bule Monstro
Brincando na Praça dos Enforcados
BR4PA1500019
BR-4PA-15-00009 4:23 v (Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Lourenço Cazarré)
cd
lp
Kleiton violão voz e coro
Kledir cuatro e voz
Christiaan Oyens percussão e mellotron
Rochas
cd
BR4PA1500020 lp
BR-4PA-15-00010 5:25
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Paulo Scott)
participação especial Paulo Scott fala
Kleiton violino e voz
Kledir voz
Dudu Trentin fender rhodes
Dunga baixo
Christiaan Oyens bateria e teclados
(Kleiton Ramil / Kledir Ramil / Daniel Galera)
participação especial Daniel Galera guitarra e violão
Kleiton violão, violino, voz e coro
Kledir voz
Christiaan Oyens guitarra
tempo total 40:29
* Adriana Calcanhotto gentilmente cedida por Sony Music
CAIO FERNANDO ABREU | CLAUDIA TAJES | LUIS FERNANDO VERiSSIMO
LETICIA WIERZCHOWSKI | DANIEL GALERA | MARTHA MEDEIROS | alcy cheuiche
fabrício carpinejar | lourenço cazarré | paulo scott | adriana calcanhotto
participação especial
dedicado a
CAIO
FERNANDO
ABREU
Augusto Fischer CD/LP produzidos por Christiaan Oyens DVD documentário dirigido por Gustavo Fogaça Direção de Produção Branca Ramil
financiamento
curador Luís
apoio culturall
& KLEDIR
patrocínio
um projeto de KLEITON
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Fazer - Kleiton & Kledir